REVISÃO
O estilo de vida dos
estudantes de enfermagem pelo mundo
Ana
Luisa de Souza Carvalho*, Geilsa
Soraia Cavalcanti Valente, D.Sc.**
*Enfermeira, Mestranda
do Programa de Pós-Graduação em ciências do cuidado em Saúde, Escola de
Enfermagem Aurora de Afonso Costa, Universidade Federal Fluminense, Bolsista da
Coordenação de Apoio a Pesquisa no Ensino Superior – CAPES, **Enfermeira,
Professora Associado I do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e
Administração da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, Universidade
Federal Fluminense, RJ
Recebido
em 21 de janeiro de 2019; aceito em 19 de setembro de 2019.
Correspondência: Ana Luisa de Souza Carvalho, Rua Dr. Celestino, 74, sala 41,
Centro, Niteroi
Ana
Luisa de Souza Carvalho: analuiisa16@hotmail.com
Geilsa Soraia Cavalcanti Valente:
geilsavalente@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: Frente à importância
da enfermagem e a constante formação de acadêmicos na área, é relevante
observar a propriedade e domínio deles sobre bons hábitos de promoção da saúde
e prevenção de doenças ensinados nas Universidades. Objetivo: Conhecer os estilos de vida dos estudantes de enfermagem
nos diferentes lugares do mundo. Métodos:
Revisão integrativa realizada na Medline e Scopus, com artigos em inglês e português, publicados entre
início de 2013 e setembro de 2018. Os descritores foram "estudantes de
enfermagem" AND "estilo de vida". Resultados: Encontraram-se 79 artigos na Scopus
e 164 na Medline e, após a implementação dos
critérios, foram usados 13 e 2 artigos respectivamente para composição da
revisão. Conclusão: Há déficits nos domínios
Meio Ambiente e Psicológico da vida do acadêmico, que culminam em problemas de
saúde mental e física. Aspectos institucionais como altas cobranças e falta de
espaços benéficos ao aluno têm impacto neste resultado. A instituição precisa
assumir o papel de corresponsável pela saúde desta população, criando e
implementando estratégias de promoção a saúde, facilitando a adesão a um estilo
de vida melhor.
Palavras-chave: estudantes de
enfermagem, estilo de vida, comportamentos relacionados com a saúde.
Abstract
The life style
of nursing students around the world
Introduction: Facing
the importance of nursing and
the constant training of academics in the area, it is
relevant to observe their ownership and mastery of
good habits of health promotion
and prevention of diseases taught
in universities. Aim: To
know the lifestyles of nursing
students in different parts of the
world. Methods:
Integrative review carried
out in Medline and Scopus, with articles
in English and Portuguese, published between early 2013 and September 2018. The descriptors were "nursing students" and "lifestyle". Results: 79 articles were found
in Scopus and 164 in Medline, and after
the implementation of the criteria,
13 and 2 articles were used respectively
for review composition. Conclusion: There
are deficits in the Environment and Psychology domains of the academic
life, which culminate in mental and physical health problems. Institutional aspects such as high charges and lack of
beneficial spaces for the student have an
impact on this result. The institution needs to assume the role of co-responsible
for the health of this population,
creating and implementing health promotion strategies, facilitating adherence to a better lifestyle.
Key-words: nursing
student, life style, health behavior.
Resumen
Estilo de vida de estudiantes de enfermería por el mundo
Introducción: Frente a la importancia de la enfermería y la constante formación de
académicos en el área, es
relevante observar la propiedad
y dominio de ellos sobre buenos hábitos de promoción de la salud y prevención
de enfermedades enseñadas en las Universidades. Objetivo: Conocer
los estilos de vida de los estudiantes de enfermería en los diferentes lugares del mundo. Métodos:
Revisión integradora realizada en
Medline y Scopus, con artículos en inglés y portugués, publicada
entre principios de 2013 y septiembre
de 2018. Los descriptores fueron
"estudiantes de enfermería"
y "estilo de vida". Resultados:
Se encontraron 79 artículos en
Scopus y 164 en Medline, y después de la implementación de los criterios, se usaron 13 y 2 artículos respectivamente para la composición de la revisión. Conclusión: Hay
déficit los campos medio
ambiente y psicológico de la vida del
académico, que culminan en
problemas de salud mental y física. Los aspectos institucionales como altas cobranzas
y falta de espacios benéficos al alumno
tienen impacto en este
resultado. La institución necesita
asumir el papel de corresponsable por la salud de esta población, creando e implementando estrategias
de promoción a la salud, facilitando la adhesión a un estilo de vida mejor.
Palabras-clave: estudiantes de enfermería, estilo de vida, conductas
relacionadas con la salud.
O estilo de vida é um conjunto de estruturas
mediadoras que refletem uma totalidade de atividades, atitudes e valores
sociais [1]. Os estilos de vida causam grande impacto na morbidade, bem-estar,
qualidade de vida, mortalidade e são os principais responsáveis por doenças
crônicas [2]. Desta forma, pode-se afirmar que o estilo de vida é fundamental
para a manutenção da saúde individual e coletiva.
Os acadêmicos de enfermagem vivenciam em média
cinco anos de graduação e, neste caminhar, o estudante lida com um ambiente
diferente daquele em que esteve por toda a vida, podendo percebê-lo como ameaça
ou desafio, e ser induzido a estresse e tensão, podendo levá-lo a alterações
comportamentais e no estilo de vida [3].
Ao
reconhecer a importância da enfermagem, e
saber que a cada ano se formam acadêmicos cujo dever é
fazer e saber fazer
cuidado em saúde, o primeiro ponto a observar é se estes
acadêmicos apreenderam
e têm propriedade e domínio sobre hábitos de
promoção à saúde e prevenção
de
doenças, ensinados nas Universidades. Portanto, este estudo
objetivou: conhecer
os estilos de vida dos estudantes de enfermagem nos diferentes lugares
do
mundo, a fim de responder à pergunta: Como é o estilo de
vida dos estudantes de
enfermagem pelo mundo?
Trata-se de uma revisão de literatura realizada
nas bases de dados Medline via Pubmed
e Scopus via Portal CAPES. Os critérios de inclusão
foram artigos em inglês e português, com recorte temporal de início de 2013 a
setembro de 2018. Os descritores utilizados foram estudantes de enfermagem e
estilo de vida, em inglês nursing student e life style, através do operador booleano AND.
Na Scopus, foram
encontrados 79 artigos, estando 20 dentro dos critérios de inclusão
estabelecidos anteriormente, para a leitura. Na Pubmed,
foram encontrados 164 artigos, sendo 22 dentro dos critérios de inclusão e 15
repetidos da Scopus, restando 7 para a leitura,
conforme fluxograma de busca (Figura 1)
Figura 1 - Fluxograma de busca.
Foram lidos os 27 artigos remanescentes e deles
foram utilizados 14 para a composição do estado da arte, conforme o quadro
sinóptico seguinte (Quadro I).
Quadro I – Artigos selecionados.
Em um estudo que objetivou avaliar os estilos
de vida de estudantes de enfermagem do primeiro ano de duas universidades (uma
na Espanha e outra na Colômbia), através do Questionário Estilo de Vida
Fantástico, obteve como resultado populações semelhantes entre as
Universidades, sem diferenças significativas na média de idade, sexo e estado
civil. Observou-se que 73% dos estudantes da Espanha e 63,4% dos alunos da
Colômbia tinham estilos de vida bons ou fantásticos. Quanto ao estilo de vida
ruim, os alunos da Colômbia dobram a porcentagem em relação aos espanhóis [4].
Em pormenores, encontraram-se diferenças
significativas no domínio Família e amigos, no qual os espanhóis recebem mais
apoio do que os colombianos; Álcool e outras substâncias apontam que os
colombianos evitam dirigir após beber álcool mais do que os espanhóis; na
Introspecção, os colombianos pensam mais positivo do que os espanhóis; Outros
comportamentos apontam o uso de cinto de segurança mais utilizado por
espanhóis. Em outros domínios, apesar de não mostrar diferenças significativas
entre as universidades, sugerem atenção aos dados, visto que os estudantes de
enfermagem são em sua maioria jovens e por isso alguns comportamentos ainda
podem ser modificados até a vida adulta [4].
Com o objetivo de determinar a relação entre
comportamentos de promoção da saúde e características demográficas dos
estudantes de enfermagem no Teerã em 2013, observou-se que os estudantes
casados tinham mais comportamentos promotores de saúde quando comparados aos
solteiros, e à medida que os alunos avançavam na graduação, a responsabilidade
pela saúde aumentava e o gerenciamento do estresse era reduzido [5].
Os enfermeiros são vistos como profissionais
cujo curso superior os educou quanto aos fundamentos de estilos de vida
saudável e como prestadores de serviços de saúde que, por não realizarem as
atividades necessárias para um estilo de vida saudável, acabam por comprometer
seu desempenho enquanto prestador de serviços voltados para a saúde. Frente a
esta contradição, o ponto chave é por que motivo a não adesão dos estudantes de
enfermagem aos comportamentos de promoção a saúde e estilo de vida saudável
[5].
Ao analisar a qualidade de vida de estudantes
de graduação em enfermagem no estado do Piauí - Brasil, os domínios Físico e
Relações Sociais obtêm melhores resultados e, por outro lado, os domínios
Psicológicos e Meio Ambiente encontraram-se mais prejudicados, presumivelmente
devido às dificuldades encontradas durante a graduação. O número de filhos foi
a única variável estudada que interferiu estatística e negativamente no
desempenho dos acadêmicos [6].
Ao ponderar os aspectos relacionados ao estilo
de vida dos graduandos, como carga horária extensa, relação professor-aluno,
falta de espaços de acolhimento e lazer, pouco tempo de sono/repouso, hábitos
alimentares inadequados, inatividade física, ansiedade/angústia constante pela
cobrança do desempenho acadêmico, entre outros, nota-se que o ambiente
universitário pode não promover ou prejudicar a qualidade de vida,
principalmente dos acadêmicos de Enfermagem, que têm experiências ímpares
relacionadas às condições precárias de trabalho, ao contato com indivíduos
doentes e à realização de procedimentos podem ser mais impactantes [6].
Ao determinar a prevalência de sonolência
diurna em estudantes de Enfermagem e os fatores associados a ele, na Turquia,
nota-se a alta sonolência diurna na adolescência, e, portanto, um padrão de
sono irregular é experimentado por muitos estudantes. Devido aos intensivos e
cansativos programas de educação dos profissionais de saúde, os alunos
sacrificam horas de sono, a provar-se pelo tempo médio de sono de estudantes de
enfermagem, de 12h durante a semana e 14h por fim de semana. Os que mais
sofreram de sonolência diurna foram: casados; consumidores de chá ou café, autorrelato insucesso acadêmico; aqueles que usavam
internet durante a manhã; alunos que não têm quarto próprio ou que o dividem
com alguém [7].
Ao tratar da prevalência de depressão, ansiedade
e sintomas de estresse entre estudantes de bacharel em enfermagem, em Hong
Kong, foram identificados dentre tantos (idade, período do curso, etc.), os
fatores de estilo de vida, que surgem como contribuintes expressivos para o
déficit na saúde mental destes estudantes, a citar a falta de exercício, de
lazer e de descanso, dietas desequilibradas e falta de tempo sozinho [8].
Com o objetivo de investigar o conhecimento
sobre doença cardiovascular e seus fatores de risco entre universitários de
Enfermagem na Turquia, com ênfase na compreensão da doença cardiovascular como
a principal causa de mortalidade e morbidade, atestou-se que os estudantes de
Enfermagem possuem alto conhecimento sobre doenças cardiovasculares, apesar de
haver lacunas, como acerca dos fatores de risco modificáveis e prevenção.
Apesar disto, os estudantes de Enfermagem não praticam o que sabem. Em teoria e
prática, as fragilidades são alimentação desbalanceada e a ausência da prática
regular de exercício, mas a maioria tinha Índice de Massa Corporal e
circunferência de cintura adequada e não fumava [9].
Ao examinar o estilo de vida e sua relação com
sofrimento psíquico e enfrentamento entre estudantes do ensino superior em uma
universidade da Irlanda, acharam-se múltiplos fatores de riscos comportamentais
em alunos de nível superior e suas altas taxas, como: 93% consumiam álcool e
17,3% eram tabagistas; 26,3% referiram dieta insalubre ou insegura; 26,0% eram
sedentários. Ademais, 41,9% relataram intenso sofrimento psicológico, sendo as
mulheres e estudantes de Enfermagem mais estressados quando comparados aos
homens e seus colegas de formação [10].
Quanto à prevalência de uso de medicamentos
isentos de prescrição médica entre estudantes de Enfermagem e às
características sociodemográficas, o uso de medicamentos de venda livre é
significativamente alto entre as mulheres, principalmente aquelas com idade
avançada, cujo uso dos medicamentos associa-se à finalidade de aliviar pequenos
problemas psicológicos; outro grupo que faz uso destes fármacos são estudantes
que residem em áreas rurais, a fim de tratar doenças de pele [11].
Ao examinar o impacto de fatores
sociodemográficos e comportamentos relacionados à saúde de mães sobre os
comportamentos de saúde de suas filhas estudantes de bacharelado em Enfermagem,
revela-se a cultura como fator contribuinte para comportamentos de saúde, pois
dentre as estudantes de enfermagem, aquelas que frequentavam o primeiro ano da
faculdade, com maiores níveis de percepção de saúde e cujas mães tinham
melhores comportamentos de saúde, tinham mais chances de ter melhores hábitos
de saúde [12].
Com base em pesquisas consultadas, a transição
para a faculdade é como um gerador de efeitos negativos nas escolhas de estilo
de vida, culminando em sedentarismo, obesidade e estresse. Apesar de supor que
o conhecimento e habilidades adquiridos nos cursos da saúde induzam os alunos a
adotarem bons comportamentos e estilos de vida, o estado de saúde destes
profissionais pode ser inferior ao da população geral [13].
Visando analisar os estressores comuns aos
estudantes e enfermeiros e a importância da prática do autocuidado para
combater o estresse e promover a saúde, conclui-se que apesar de enfermeiros
serem ensinados a cuidar dos outros, muitas vezes relutam em tomar o tempo
necessário para o autocuidado ou têm dificuldade em encontrar atividades que
correspondam aos seus interesses e sejam facilmente assimilados em suas vidas,
podendo melhorar sua qualidade de vida [14].
Destacam-se ainda diferenças consideráveis
quando comparados dados em outros países, e isto se deve às diferentes culturas
e modelos educacionais dos estudantes de enfermagem pelo mundo. Neste sentido,
alguns autores julgam a carga horária de aulas na graduação em Enfermagem no
Brasil muito elevada, o que, para eles, pode impossibilitar a adoção de estilo
de vida saudável [7].
Portanto, sugerem-se mudanças no estilo de vida
destes sujeitos a fim de harmonizar a vida pessoal e estudantil e assegurar seu
bem-estar, além de poder contar com os serviços de saúde do campus para
promover a saúde de seus acadêmicos através de estratégias efetivas [8]. Posto
isto, é essencial que as instituições universitárias de Enfermagem fomentem e
executem projetos de intervenções educativas voltados para melhoria dos
comportamentos prejudiciais à saúde. As universidades devem não só formar
profissionais, mas promover saúde e bem-estar daqueles que pertencem a ela,
atentando-se aos hábitos nocivos identificados [4].
Na determinação da correlação entre estilo de
vida e desempenho acadêmico em estudantes de Enfermagem, assim como em outros
estudos análogos, o ensino sobre estilo de vida saudável pode melhorar o
desempenho dos acadêmicos, isto é, ao integrar no currículo das universidades a
Educação em saúde voltada para promoção de estilo de vida saudável, haverá o
aumento na eficiência e eficácia dos alunos ao realizarem seu papel no
desenvolvimento da sociedade [14].
Apesar de algumas hipóteses provisórias sobre
as causas de comportamentos pouco saudáveis de estudantes, o motivo ainda não
está claro, mas deve ser esclarecido. Um ponto a ser trabalhado é a construção
de um currículo que incorpore cursos de promoção da saúde baseados em
evidências com ênfase na nutrição e exercícios físicos regulares e adequados,
que encoraje bons comportamentos e a promoção de estilo de vida saudável entre
os estudantes de enfermagem, tornando-os assim modelos positivos e melhorando a
efetividade de seus aconselhamentos aos pacientes [9].
Diversos autores salientam a importância da
atuação das universidades para a melhoria dos estilos de vida, saúde e
qualidade de vida dos graduandos. Assim, deve haver iniciativas de educação em
saúde nos campi da área de saúde, incluindo disponibilidade de serviços de
aconselhamento, de psicologia, de orientação de pares e esquemas financeiros
para reduzir a necessidade de os alunos trabalharem a tempo inteiro [10];
desenvolver intervenções para criar ou aprimorar comportamentos saudáveis e
diminuir condutas perigosas à saúde [15].
Neste contexto, sugerem-se estratégias para a
prática de atividade física, de conversa sobre alimentação saudável, de estudo,
e disponibilidade de psicólogos, assistente social, enfermeiro e outros, para
melhorar a qualidade de vida dos acadêmicos [6]; além da recomendação de
programas de educação em saúde focados na atividade física regular e mudanças
positivas nos hábitos alimentares [14].
Em um estudo, Delphi que explorou a expectativa
de que os enfermeiros devem ser modelos para comportamentos saudáveis,
concluiu-se que o modelo ideal era aquele que lutou contra comportamentos não
saudáveis e obteve êxito em sua jornada. Entretanto, a mudança comportamental
era bem mais complexa do que simplesmente imitar o exemplo ali exposto, sendo
inútil e irrealista o modelo saudável conceituado na orientação política e
profissional, além de polemizar o quanto a escolha e os comportamentos dos
indivíduos podem ser ditados por entidades profissionais ou empregadores, modo
de regimento este, rejeitado pelos empregados. Ademais, para o estilo de vida
saudável dos empregados, estes devem assumir sua responsabilidade e os
empregadores devem estar preparados para melhor apoiá-los a atender a tal
expectativa. [16].
Ao avaliar a efetividade de um módulo de saúde
e bem-estar na saúde de estudantes de Enfermagem na Irlanda, onde um grupo
recebeu como intervenção a introdução de um programa educacional e o outro
grupo não a recebeu, foi concluído que a intervenção aumentou os níveis de atividade
física a curto prazo; ambos os grupos tiveram aumento no peso e IMC, mas o
grupo controle teve um aumento acentuado; houve melhora na saúde mental do
grupo que recebeu a intervenção. É preocupante que as mudanças significativas
tenham sido a curto prazo sem conseguirem sustentá-las, e que tenha havido até
então poucas e limitadas tentativas de intervenções direcionadas voltadas para
a população de estudantes universitários em outros estudos [13].
Em meio às intervenções comportamentais de
saúde específicas, há a forte recomendação de implementar as habilidades de
gerenciamento do estresse como parte obrigatória de todos os currículos de
graduação, inclusive de Enfermagem, no primeiro ano para o reconhecimento da
natureza estressante deste ciclo, para garantir a saúde de nossos futuros
profissionais [13].
Os
atuais acadêmicos de enfermagem serão os
enfermeiros de amanhã e, por isso, devem comportar-se de forma a
promover a
própria saúde, para que acrescido de seus conhecimentos,
estejam aptos para sua
função de cuidar do próximo. O enfermeiro é
primordial na construção e execução
de estratégias de promoção a saúde,
bem-estar e qualidade de vida, visto que
tais atividades fazem parte dos ofícios da Enfermagem.
Então, o período de
graduação é o momento de alcance destes objetivos,
pois há indivíduos
competentes para tal, e porque as universidades em saúde
são espaços de
formação profissional com inúmeras oportunidades
para promover o
desenvolvimento do potencial máximo de saúde de seus
alunos [15].
Ademais, não há uma definição consensual para
Qualidade de Vida que a explique em sua totalidade por abarcar perspectivas
individuais de cada um e por isso a universidade deve empenhar-se a conhecer as
necessidades dos seus alunos e buscar implantar estratégias de promoção à saúde
e qualidade de vida [6]. Dentre o que se espera das instituições de ensino,
destaca-se mais pesquisas que busquem determinar a causalidade dos estilos de
vida precários, principalmente sedentarismo e maus hábitos alimentares [9],
além de intervenções de promoção à saúde de forma ampla, visando melhorar
múltiplos comportamentos ao invés de um único [10].
As pesquisas acerca da Qualidade de Vida (QV)
dos estudantes universitários tiveram início na década de 1980, e o interesse
na temática vem aumentando significativamente apesar de não haver ênfase no
estudo para os graduandos de Enfermagem [6]. Possivelmente, o crescente
interesse se dê pela associação de fatores estressantes externos que interfiram
na qualidade de vida dos estudantes durante a formação acadêmica. Realizar este
tema de pesquisa nas faculdades de saúde por todo o mundo facilitaria a
elaboração de melhores estratégias para melhorar o estilo de vida de seus
alunos [4].
É possível evidenciar o quanto o estilo de vida
de estudantes da Colômbia, na América Latina, mostra-se inferior quando
comparado à Espanha, na Europa [4]. Este fato pode mostrar a relação de
processos históricos e construção de políticas nacionais de saúde de cada país
com o seus impactos e desenvolvimento do estilo de vida da população, tendo em
vista que a Colômbia foi colônia espanhola até 1810. É possível ratificar o
exposto, ao abordar a saúde enquanto produto das formas de organização social,
a citar acesso à educação, emprego, renda, etc., as quais podem gerar grandes
desigualdades nos níveis de vida [17].
Estudos evidenciam que conforme avançam no
curso de graduação e se casam, os indivíduos aderem a melhores hábitos de vida,
aprendendo a gerir estresse, responsabilizando-se por si e, consequentemente,
melhorando o desempenho na profissão [5]. Isto mostra, sob uma visão micro,
como o tempo ajuda a aperfeiçoar a rotina de um grupo, assim como a visão macro
acerca dos comportamentos de uma população e a construção de seu estilo de vida
a partir de aspectos históricos, a longo prazo.
Em estudo realizado no estado do Piauí, Brasil,
observou-se que os domínios Psicológico e Meio Ambiente foram os mais
prejudicados, e é possível associá-los ao recente e ainda não amplamente
discutido e implementado conceito de Escola Promotoras de Saúde [6], que surgiu
na década de 80 com três componentes fundamentais e inter-relacionados: a
educação para saúde com enfoque integral baseado nas necessidades dos
estudantes durante seu desenvolvimento escolar; criação e preservação de
ambiente e entorno saudáveis estendendo-se do aspecto físico até psicossociais;
provisão de serviços de saúde integral [18].
O domínio Psicológico tem estreita relação com
alguns estudos, como o que se refere à sonolência diurna [7]; a prevalência de
depressão, ansiedade e sintomas de estresse [8]; o estilo de vida e sua relação
com sofrimento psíquico e enfrentamento entre estudantes do ensino superior
[10]; aos estressores comuns aos estudantes e enfermeiros e o autocuidado.
Foram citados variados fatores de risco, mas se observaram dois fatores comuns:
o sedentarismo e a dieta inadequada [19].
Todos os objetos dos estudos citados podem
culminar em fadiga, descrita como "uma sensação opressiva e sustentada de
exaustão e de capacidade diminuída para realizar trabalho físico e mental no
nível habitual" [20], que pode ser atribuída a vários hábitos ou rotinas,
como falta ou excesso de exercício, maus hábitos alimentares, abuso de álcool e
drogas, algumas doenças e medicamentos, baixa qualidade do sono e estresse
[21].
Neste contexto, depreende-se que as causas da
fadiga em estudantes de graduação são: 44% relacionadas às características do
curso como carga horária alta, excesso de disciplinas, avaliações e aulas
exaustivas; 31,2% atribuída à sobrecarga diária e falta de tempo para realizar
suas atividades, o que somam mais de 75% das queixas. Os outros 25% estão
listados da seguinte forma: distúrbios de sono (26,4%); distância entre casa e
faculdade e condições de transporte (22,2%); desgastes emocionais (19,6%);
problemas de saúde ou financeiros, inadequação alimentar, esforço físico, falta
de atividade física e dormir demais (9%); falta de lazer e descanso (6,3%); atividades
extracurriculares ou aquelas sem relação com a formação profissional (5,8%);
relacionamento interpessoal conflituoso (5,3%) e mudança de rotina (2,6%) [22].
Os estudantes de Enfermagem possuem alto
conhecimento sobre doenças cardiovasculares, mas não praticam o que sabem [9].
O discurso fica mais eloquente ao saber que os riscos a
saúde resultam não somente da informação do indivíduo, mas também da vontade
pessoal, oportunidades e barreiras sociais [23].
Nesse contexto, conclui-se que o estilo de vida
é o principal responsável pelas doenças crônicas, e tem grande impacto sobre a
morbidade, mortalidade, bem-estar e qualidade de vida da população [24]. A
promoção da saúde, e consequentemente as Escolas Promotoras de Saúde, não pode
ser responsabilidade exclusiva do setor de saúde, mas resultado do esforço
intersetorial e interdisciplinar, contando com instituições de saúde e de
educação, cuja população envolvida possa atuar juntamente, por meio de ações
críticas e reflexões sobre temas pertinentes a saúde da comunidade, para
melhorar sua qualidade de vida [18].
O presente estudo oferece uma visão global do
estilo de vida de graduandos em enfermagem em alguns lugares do mundo, captando
publicações de diferentes países e continentes. De forma geral, é possível
perceber déficits em alguns domínios da vida do acadêmico que culminam em
problemas de saúde mental como estresse, ansiedade e depressão; patologias como
obesidade e doenças crônicas não transmissíveis; e outros inconvenientes como
sonolência diurna e adesão a medicamentos de venda livre.
Algumas questões relacionadas à instituição têm
impacto negativo na saúde e qualidade de vida do estudante, como a alta carga
horária demandada, cobranças intensas e falta de espaços voltados para o
acolhimento e lazer. Assim, a instituição de ensino deve assumir seu papel de
corresponsável pela saúde de quem nela se insere, criando e implementando
estratégias de promoção a saúde de forma holística, intersetorial, equitativa,
a partir de estudos que apontem suas deficiências, a contar com a participação
social, numa cogestão bidirecional, tendo em vista que o estudante também pode
contribuir com a promoção da sua saúde e dos seus pares.
Os recortes de idiomas e bases de dados apresentam-se
como limitação do estudo e, para aprofundamento da temática, sugerem-se que
novos estudos sejam feitos frente à ampliação do número de bases de dados e
idiomas.
Agradecimento a Coordenação de Apoio à Pesquisa
no Ensino Superior (CAPES), pelo financiamento e concessão de bolsa de
Mestrado.