ARTIGO
ORIGINAL
Perfil
social-profissional de enfermeiros e médicos da Atenção Primária à Saúde de uma
microrregião geográfica
Lais Soares Santos*, Tassiana Elena de Souza (In memoriam)**,
Carla Elisia Souza**, Mickaela
Cunha Monteiro**, Mara Rúbia Maciel Cardoso Prado***, Pedro Paulo do Prado
Júnior***, Lilian Fernandes Arial Ayres***, Camila Mendes dos Passos****
*Graduanda
em Enfermagem pelo Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM), Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa/MG, **Enfermeira pelo Departamento de Medicina e
Enfermagem (DEM), Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG, ***Professor (a)
do Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM), Universidade Federal de Viçosa,
Viçosa/MG, ****Professor do Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM),
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG, Doutoranda em Enfermagem pela
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte/MG
Recebido em 28 de
janeiro de 2019; aceito em 22 de maio de 2019.
Correspondência: Camila Mendes dos
Passos, Departamento de Medicina e Enfermagem, Universidade Federal de Viçosa,
Av. Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário 36570-900 Viçosa MG
Camila Mendes dos
Passos: camilampassos@yahoo.com.br
Lais Soares Santos:
lais.s.soares@ufv.br
Carla Elisia Souza: souza.carlaelisia@gmail.com
Mickaela Cunha Monteiro:
mickaelacunham@gmail.com
Mara Rúbia Maciel
Cardoso Prado: mara.prado@ufv.br
Pedro Paulo do Prado
Júnior: pedro.prado@ufv.br
Lilian Fernandes Arial
Ayres: liliayresenf@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: Profissionais de
saúde de nível superior são protagonistas das ações pactuadas na Atenção
Primária à Saúde, imprimindo e determinando diferentes direções no processo de
trabalho em saúde. Enfermeiros e médicos, atuando em equipe, são atores centrais
no processo de trabalho em saúde em nível primário. Objetivo:
Identificar o perfil social-profissional de enfermeiros e
médicos da Atenção Primária à
Saúde de uma microrregião geográfica no estado de
Minas Gerais, considerando a sua atuação no
pré-natal de baixo risco. Métodos: Estudo transversal,
quantitativo e de caráter censitário, realizado com 135 enfermeiros e médicos
que atuam na Atenção Primária à Saúde da microrregião geográfica. Os dados
foram coletados por entrevista estruturada. Medidas de frequência absoluta e
relativa foram utilizadas para descrição da população. O teste qui-quadrado de Pearson foi utilizado para verificar a
diferença no perfil sócio profissional entre os profissionais. Considerou-se
nível de significância de p < 0,05. Resultados:
Participaram do estudo 74 enfermeiros (54,8%) e 61 médicos (45,2%). Os
profissionais de saúde investigados foram predominantemente jovens, mulheres,
pós-graduados, com pouco tempo de experiência profissional e de atuação na
unidade de trabalho. Conclusão: Os
enfermeiros e médicos possuem perfil social-profissional semelhante, com
diferença principalmente na instituição de graduação (pública e privada).
Palavras-chave: atenção primária à
saúde, saúde da família, pessoal de saúde.
Abstract
Social-professional
profile of nurses and doctors in the primary health care network in a
geographic micro-region
Introduction:
Graduated health professionals are protagonists of the actions agreed in the
Primary Attention to Health, determining different directions in the work
process in health. Nurses and physicians, acting as a team, are central actors
in the health work process at the primary level. Objective: To identify the social-professional profile of primary
health care nurses and doctors in a geographic micro-region in the state of
Minas Gerais, considering its performance in low risk prenatal care. Methods: A cross-sectional, quantitative
and census-based study was carried out with 135 nurses and physicians working
at the primary health care in the geographic micro-region. Data were
collected by structured interviews. Absolute and relative frequency
measurements were used to describe the population. Pearson's chi-square test
was used to verify the difference in the socio-professional profile
among the professionals. A significance level of p < 0.05 was considered. Results: 74 nurses (54.8%) and 61
physicians (45.2%) participated in the study. The health professionals
investigated were predominantly young, female, post-graduate, with little time
of professional and work unit experience. Conclusion:
Nurses and physicians have similar social-professional profile, with a
difference mainly in the undergraduate institution (public and private).
Key-words: primary health
care, family health, health personnel.
Resumen
Perfil social-profesional de enfermeros y médicos en la red de atención primaria de salud en una micro-región geográfica
Introducción: Los profesionales
de salud de nivel superior son protagonistas de las acciones pactadas en la Atención
Primaria a la Salud, imprimiendo y determinando diferentes direcciones
en el proceso
de trabajo en salud. Enfermeros y médicos, actuando en equipo, son actores centrales
en el proceso
de trabajo en salud a nivel primario.
Objetivo: Identificar el perfil social-profesional de enfermeros y médicos de la Atención Primaria a la Salud de una microrregión
geográfica en el estado de
Minas Gerais, considerando su actuación
en el prenatal
de bajo riesgo. Métodos:
Estudio transversal, cuantitativo
y de carácter censitario, realizado con 135 enfermeros y médicos que actúan en la
Atención Primaria a la Salud de la microrregión
geográfica. Los datos fueron
recolectados por una entrevista estructurada.
Se utilizaron medidas de frecuencia
absoluta y relativa para la descripción
de la población. La prueba qui-cuadrada de Pearson fue utilizada para verificar la
diferencia en el perfil
socio profesional entre los
profesionales. Se consideró
un nivel de significancia de p < 0,05. Resultados: Participaron del estudio 74 enfermeros (54,8%) y 61 médicos (45,2%). Los profesionales de salud
investigados fueron predominantemente jóvenes, mujeres, postgraduados, con poco tiempo de experiencia profesional y de actuación en la unidad
de trabajo. Conclusión: Se concluyó que los enfermeros y médicos poseen perfil social-profesional semejante, con diferencia
principalmente en la institución de graduación
(pública y privada).
Palabras-clave: atención
primaria a la salud, salud de la familia,
personal de salud.
A atenção à saúde
gratuita e de qualidade são um dos principais desafios do Sistema Único de
Saúde (SUS) brasileiro. Esse sistema está pautado nos princípios da
integralidade, universalidade, equidade, regionalização, hierarquização e participação
social [1]. Para tanto, é primordial a ampliação do acesso e a qualificação da
Atenção Primária à Saúde (APS), orientadora da rede de serviços de saúde [2]. A
APS possui caráter resolutivo frente a maior parte das demandas e necessidade
de saúde da população, podendo impactar direta ou indiretamente nos
determinantes e condicionantes de saúde das populações por meio da
integralização do cuidado [3].
O
desenvolvimento de
uma atenção integral pautada em ações de
promoção, proteção e
recuperação pode
ser alcançado por meio de um modelo assistencial organizado em
rede e por uma
estratégia que prioriza a assistência voltada para a
família e o indivíduo,
entendendo-o como parte de uma sociedade [3]. A Estratégia
Saúde da Família
(ESF) torna-se um importante instrumento capaz de interferir na
lógica da
oferta a partir da demanda, promovendo maior acesso, mudança do
modelo
assistencial e garantindo qualidade ao SUS [4,5]. Sobretudo,
mudanças na APS
são necessárias, principalmente no modo de operar os
processos de trabalho em
saúde, transformando a dinâmica de trabalho
médico-centrado em trabalho
multiprofissional [6]. A equipe mínima de saúde, formada
por enfermeiro,
médico, auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de
saúde, ocupa lugar de
destaque na organização das práticas de
saúde e no desenvolvimento das ações em
consonância com este modelo proposto [2].
Os profissionais de
saúde de nível superior assumem caráter de protagonismo diante das ações
pactuadas, imprimindo e determinando diferentes direções técnicas, éticas e
políticas no processo de trabalho em saúde. É preciso reconhecer, portanto, a
importância do perfil de enfermeiros e médicos que atuam na APS [7]. Cabe ao
profissional vivenciar a realidade da comunidade com mais frequência e agir
nesse território, considerando o indivíduo como sujeito social [8]. Desse modo,
o conhecimento teórico é capaz de transformar as condições de saúde do sujeito,
por meio do trabalho multiprofissional e ações de enfoques familiares, com
perspectivas generalistas [8].
A APS requer
profissionais de saúde com saberes ampliados, que possuem habilidades e
competências técnicas, que desenvolvam também além das dimensões políticas, a
gestão do trabalho em saúde, assumindo a gestão do seu próprio trabalho [9].
Profissionais que buscam conhecimento, aprimoramento, entendendo que a
população está em intensa evolução, e as tecnologias para o cuidado estão cada
vez mais aprimoradas e prontas para serem utilizadas [9].
Enfermeiros e médicos
da família assumem, por vezes, um papel de generalistas, cabendo a eles
considerar as diversidades dos indivíduos, das famílias e dos ambientes em que
vivem que por sua vez determinam sua saúde [10]. Entretanto, esses
profissionais também são habilitados e atuam em ações específicas como a
assistência ao pré-natal de baixo risco [11]. O cuidado pré-natal é uma das
atividades primordiais no cenário da APS por se ater ao trabalho
multiprofissional e em equipe, que quando qualificado é capaz de melhorar
indicadores de saúde infantil e maternos [12].
Frente ao exposto,
emergiu o interesse para realização do estudo. Considerando a importância dos
profissionais de saúde, enfermeiros e médicos da APS, atuando no trabalho em
equipe, enquanto atores centrais no processo de trabalho em saúde em nível
primário. E, além disso, por se desconhecer o perfil desses profissionais no
cenário investigado, bem como a qualificação desses profissionais em relação à
assistência primária à saúde. Nesse contexto, objetivou-se identificar o perfil
social-profissional de enfermeiros e médicos da atenção primária à saúde de uma
microrregião geográfica no estado de Minas Gerais, considerando a sua atuação
no pré-natal de baixo risco. Acredita-se que o perfil desses profissionais seja
semelhante entre si, porém com diferenças entre perfis de profissionais de
saúde, em outros cenários já conhecidos, que atuam em regiões metropolitanas.
A investigação é
derivada de um estudo mais abrangente intitulado “Conhecimentos, atitudes e
prática de enfermeiros e médicos sobre a assistência pré-natal de baixo risco
nos municípios da microrregião Viçosa/MG”. Trata-se de um estudo transversal,
descritivo, de abordagem quantitativa e de caráter censitário.
O estudo foi realizado
na microrregião geográfica de Viçosa, situada na região da Zona da Mata do
Estado de Minas Gerais (MG), formada por 20 municípios, sendo eles: Alto Rio
Doce, Amparo da Serra, Araponga, Brás Pires, Cajuri,
Canaã, Cipotânea, Coimbra, Ervália, Lamim, Paula
Cândido, Pedra do Anta, Piranga, Porto Firme, Presidente Bernardes, Rio Espera,
São Miguel do Anta, Senhora de Oliveira, Teixeiras e
Viçosa [13].
A população de estudo
foi composta por profissionais enfermeiros e médicos, que compõem todas as 83
equipes de ESF dos municípios da microrregião Viçosa/MG. A escolha destes
profissionais se justifica pela recomendação do Ministério da Saúde, na qual as
equipes de saúde da família são formadas obrigatoriamente por esses dois
profissionais de nível superior, enfermeiro e médico, adicionado a outros
profissionais de nível médio como auxiliar de enfermagem e agente comunitário
de saúde (ACS) [14]. Essa população foi estimada por meio do número mínimo de
profissionais médicos e enfermeiros previstos a partir do quantitativo de
equipes de Saúde da Família. Para tanto, previu-se a participação de 163
participantes de pesquisa, destes 83 enfermeiros e 80 médicos.
A coleta de dados
ocorreu no período de 23 de maio de 2016 a 15 de agosto de 2016. As entrevistas
foram realizadas com o auxílio de um questionário estruturado, autoaplicável,
com duração média de 60 minutos. Em sua maioria, foram previamente agendadas,
respeitando o melhor horário e localidade para o participante da pesquisa.
Antes do início de cada aplicação, realizava-se a leitura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para compreensão dos objetivos e
procedimentos do estudo e assinatura do mesmo. Durante essa etapa, também foram
incluídos no estudo, residentes de medicina e de enfermagem que atuavam nas
unidades participantes no período da coleta de dados. Ao final, foram excluídos
14 profissionais por se encontrarem no período de férias ou de licença ou não
serem localizados no dia da coleta. Outros 20 participantes, por se recusarem
participar do estudo. A população final entrevistada foi constituída por 74
enfermeiros, 55 médicos e 06 residentes de medicina. Somados totalizou-se uma
amostra de 135 profissionais, o equivalente a 82,82% da população esperada.
Antecedendo a fase de
coleta dos dados, fez-se a construção do questionário, que abrangeu duas etapas
sequenciais. A primeira delas consistiu na elaboração do instrumento
baseando-se nas recomendações, diretrizes e fundamentos teóricos a partir de
livros-textos clássicos sobre a temática, além de manuais e protocolos oficiais
do Ministério da Saúde [15,16]. As perguntas que compuseram o instrumento
abordaram as características sociais e profissionais, bem como os
conhecimentos, atitudes e práticas na linha de cuidado da assistência
pré-natal.
A segunda etapa
fundamentou-se na validação de aparência e conteúdo do questionário, a qual foi
realizada por três pareceristas com expertise sobre a temática, docentes do
curso de Enfermagem de três instituições de ensino superior federal de Minas
Gerais. As assertivas do instrumento foram pontuadas de acordo com o grau de
importância: 0 - desnecessário, 1 - regular, 2 - bom, 3 - ótimo. Ao final, as
questões que obtiveram pontuação menor que cinco foram retiradas do
instrumento, sendo consideradas irrelevantes para o estudo. Neste processo
foram excluídas 02 questões do instrumento completo.
Neste estudo foram
consideradas e utilizadas apenas as questões referentes à caracterização social
e profissional dos participantes. Para a análise dos dados, construiu-se um
banco de dados no programa Excel, versão 2013, no qual foi realizada a entrada
dupla com posterior análise de erros e inconsistências. O banco foi exportado
para o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão
22.0, onde foi realizada a organização, recodificação e análise. Procedeu-se a
análise descritiva da população de estudo. Para as variáveis contínuas usou-se
o teste Kolmogorov-Smirnov para testar a normalidade
dos dados. Após isso, decidiu-se apresentar como medida de tendência central, a
mediana e a amplitude interquartil (25-75) como medida de dispersão. Para as
variáveis categóricas utilizaram-se medidas de frequência absoluta e relativa
para descrição das mesmas. O teste Qui-quadrado de
Pearson foi utilizado para verificar a diferença no perfil sócio-profissional
entre médicos e enfermeiros. Para todas as análises foi considerado nível de
significância de p < 0,05 na verificação de diferenças entre os grupos.
Por se tratar de
pesquisa envolvendo seres humanos, o estudo foi submetido e aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Viçosa (CEP/UFV) em 15
de fevereiro de 2016, apresentando parecer nº 1.408.471.
Participaram do estudo
135 profissionais de saúde, sendo 74 enfermeiros (54,8%) e 61 médicos (45,2%)
(Tabela I). Quase a totalidade deles (97%) atua em equipes de saúde da família
na rede de APS dos municípios participantes. Esses profissionais possuem uma
mediana de idade de 31 anos (27,0-39,25), de tempo de experiência profissional
de 5 anos (2,0-9,0) e de tempo de atuação na unidade de apenas 2 anos
(0,5-4,0).
Identificou-se que os
enfermeiros possuem em sua maioria idade de até 30 anos (40,6%), são do sexo
feminino (83,8%), estudaram em escola privada (73,0%), possuem pós-graduação
(62,2%), experiência profissional de 1 ano a 6 anos (50,7%) e atuam de 1 a 4
anos na ESF (43,1%). Em relação à capacitação sobre pré-natal, 52,7% referiram
nunca ter realizado, embora 68,9% dos enfermeiros classificaram o conhecimento
sobre assistência pré-natal como “bom”. Mais da metade deles (57,5%) alegam uma
boa capacidade de realização da consulta, porém em torno de 45% realizam poucas
vezes ou nunca esse tipo de atendimento (Tabela I).
Em relação ao
profissional médico, 50% possuem idade de até 30 anos, 50,8% são do sexo
feminino, 53,3% se formaram em instituições públicas e 55,7% informaram ter
pós-graduação, 43,1% possuem de 1 a 6 anos de experiência profissional e 50,8%
trabalham há apenas um ano ou menos na ESF. Em relação à assistência pré-natal,
67,2% afirmam nunca ter realizado capacitação, se autoavaliaram
com “boa” capacidade de realizar a consulta e com “bom” conhecimento sobre a
temática (assistência pré-natal). Metade dos profissionais médicos sempre
realiza o atendimento (Tabela I).
Conforme
apontado na
Tabela I, na análise do perfil social e profissional dos
enfermeiros e médicos
há diferença entre os grupos com significância
estatística (p<0,05) em
relação à idade, à
instituição de graduação, ao tempo de
atuação na ESF, à
classificação da capacidade de realizar o
pré-natal e à frequência da
realização das consultas.
Tabela I – Distribuição do número de enfermeiros e médicos de acordo com as
características sociais e profissionais. Microrregião geográfica de Minas
Gerais, 2016.
*Estatisticamente
significante (1) Teste Qui-quadrado
A predominância do sexo
feminino em ambas as profissões corrobora demais estudos [17-20].
No que diz respeito aos
enfermeiros, reafirma a história e a trajetória da profissão, embora tenha sido
observado um aumento do quantitativo masculino nos últimos anos nesta categoria
[21]. Em relação aos médicos, as mulheres também representaram a maioria,
entretanto houve uma diferença pequena entre o sexo masculino e feminino,
contrapondo demais estudos, nos quais as mulheres obtiveram uma maior
representatividade na população em estudo [19, 21,22].
A crescente feminização
dos profissionais da área da saúde pode estar relacionada ao papel tradicional
da mulher na história que discorre a respeito da relação de gênero com o dom de
cuidar, de educar e de servir [23].
Houve
um predomínio de
jovens, com faixa etária de até 30 anos, sendo condizente
com outros estudos. O
fato pode estar relacionado ao aumento dos cursos de
graduação e de vagas,
principalmente em instituições particulares nos
últimos anos [20,21,24]. Este fenômeno
pode também estar associado ao grande número de
profissionais formados em
instituições privadas de ensino superior. Na enfermagem,
a abertura de novos
cursos entre os anos de 2004 e 2012 contribui com cerca de 70% da
formação
destes profissionais em instituições privadas [19,25]. A
prevalência de
enfermeiros e médicos pós-graduados reafirma resultados
de outros estudos, os
quais demonstram uma tendência de atualização e
qualificação por meio de cursos
de especialização na área da saúde [26].
Além disso, a qualificação da
formação
de recursos humanos na área da saúde, incentivada pelo
Ministério da Saúde, tem
sido essencial para a transformação das práticas
em saúde e para fortalecer as
políticas públicas em saúde [23].
Médicos
e enfermeiros
com menor tempo de experiência profissional também foi
evidenciado em outras
pesquisas com cenários parecidos [8,19,24]. Jovens profissionais
são cada vez
mais observados na ESF, o que se justifica pela cobertura crescente
desta
estratégia, resultando em aumento de vagas de emprego [27]
associado às
mudanças curriculares dos cursos da saúde, com
disciplinas e estágios voltados
para a consolidação do SUS [19] e da
Atenção Primária à Saúde [28] e
salários
competitivos no mercado e com valorização profissional
[29].
O
pouco tempo de
atuação dos profissionais nas unidades de APS, nos leva a
pensar na alta
rotatividade dos mesmos, prejudicando diretamente o vínculo com
a comunidade e
a continuidade das ações em saúde. Diversos
são os fatores associados a isto:
condições de trabalho, não
capacitação, presença de residentes na rede, meios
de contratação, busca para qualificação da
mão de obra, transferência para
outra ESF ou outro estabelecimento de saúde e afastamentos
[19,20,26,30]. Vale
ressaltar que devido à alta rotatividade observada, tornam-se
necessárias
estratégias promovidas pelas gestões locais que
predisponha de recursos de
educação permanente. Talvez, isso minimize, por exemplo,
o prejuízo nas ações
em saúde de promoção da saúde,
prevenção de agravos, detecção e
tratamentos
precoces e reabilitação. Problemas na assistência
pré-natal podem ser
visualizados até os anos recentes no Brasil, com a
persistência de
desigualdades regionais e sociais no cuidado prestado [31]. Problemas
como
toxoplasmose gestacional e fetal [32], sífilis gestacional e
congênita [33] e
preenchimento inadequado do cartão [34] são frequentes.
De acordo com os
resultados, a consulta de pré-natal não faz parte da rotina da maioria dos
enfermeiros, ao contrário dos médicos. Esses resultados corroboram um estudo
realizado em todo o Brasil, no qual 75,6% das consultas de pré-natal eram
realizadas apenas pelos médicos [35]. Isso nos leva a pensar que estratégias de
gestão, organização e planejamento dos serviços locais possam ter influência
nos indicadores e na qualidade dos serviços prestados, não sendo somente
responsabilidade individual do profissional.
Menos da metade de
enfermeiros e médicos relatou a realização de capacitação sobre pré-natal.
Algumas reflexões tornam-se necessárias como, por exemplo, repensar a qualidade
da capacitação e as estratégias que são utilizadas durante esse processo de
educação. Sugere-se que as capacitações teórico-práticas sejam contínuas e que
haja a criação de protocolos. Com isso, espera-se uma melhora da interação
entre médicos e enfermeiros, colaborando para a realização de consultas
alternadas, em conformidade com a recomendação do MS [15,36,37].
Cabe registrar, ainda,
que o estudo apresentou a limitação de não conseguir captar a totalidade dos
profissionais presentes no cenário estudo, apesar de se tratar de um estudo
censitário, obtendo uma taxa de resposta acima de 80%. Além disso, a utilização
de questionário estruturado para a coleta de dados teve algumas limitações,
como foi o caso da perda de participantes de pesquisa. Os profissionais
entrevistados precisavam estar motivados para responder ao questionário, já que
o mesmo era longo e demandava um pouco de tempo (em torno de 60 minutos) e
concentração. Registra-se, também, que o modo de organizar as respostas das
questões (escala de Likert) pode ter simplificado em
excesso algum conteúdo que exigiria respostas mais complexas para uma maior
compreensão da problemática.
Concluiu-se que os
profissionais de saúde, enfermeiros e médicos, que atuam na rede de atenção
primária à saúde de uma microrregião de Minas Gerais, são predominantemente
jovens, do sexo feminino, pós-graduados, com pouco tempo de experiência profissional
e de atuação na unidade de trabalho, não capacitados para a realização do
pré-natal. Além disso, esses profissionais se auto-avaliaram
com bom conhecimento e boa capacidade para realizar o pré-natal.
Novos e complementares
estudos serão necessários para entender o impacto de diferentes perfis
social-profissional de enfermeiros e médicos no processo de trabalho em saúde,
sobretudo na Atenção Primária à Saúde e no cuidado pré-natal.
À Tassiana
Elena de Souza (in memoriam), por tudo, especialmente pelo empenho, amizade,
afeto, companhia e aprendizado diário!