ARTIGO ORIGINAL
Câncer de mama e
fatores de risco em familiares de mulheres mastectomizadas
Clarissa Maria Cardoso
Guimarães*, Samara Campos Mendes Silva**, Jael Rúbia Figueiredo França, D.Sc.***, Smalyanna Sgren da Costa Andrade****, Karen Krystine
Gonçalves de Brito*****, Cíntia Bezerra Almeida Costa, D.Sc.******
*Enfermeira graduada na
Universidade Federal da Paraíba, Enfermeira Assistencial no Hospital Geral Dr.
Antônio Hilário Gouveia, Taperoá/PB,** Enfermeira graduada na Universidade
Federal da Paraíba, ***Enfermeira, Professora do Departamento de Enfermagem
Saúde Pública e Psiquiatria da Universidade Federal da Paraíba, ****Enfermeira,
Professora da Faculdade de Enfermagem Nova Esperança, *****Enfermeira,
Ambulatório de feridas da Policlínica Benjamim Maranhão, Bayeux/PB,
******Enfermeira, Professora do Departamento de Enfermagem Saúde Pública e
Psiquiatria da Universidade Federal da Paraíba
Recebido em 28 de
fevereiro de 2020; aceito em 9 de novembro de 2020.
Correspondência: Smalyanna
Sgren da Costa Andrade, Rua Irani Almeida de Menezes,
1007 Funcionários II, 58078-010 João Pessoa PB
Clarissa Maria Cardoso
Guimarães: clarissamguimaraes@hotmail.com
Samara Campos Mendes
Silva: samaracamposm@gmail.com
Jael Rúbia Figueiredo
França: jaelrubia@gmail.com
Smalyanna Sgren
da Costa Andrade: smalyanna@hotmail.com
Karen Krystine Gonçalves de Brito: karen_krystine@hotmail.com
Cintia Bezerra Almeida
Costa: cintiabez@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: O câncer de mama
atinge mulheres no Brasil e no mundo, principalmente aquelas inseridas nos
fatores de risco. Objetivo: Identificar o perfil dos familiares
acompanhantes de mulheres submetidas à mastectomia e averiguar o conhecimento
sobre os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama. Métodos:
Estudo transversal com abordagem quantitativa realizado com 152 familiares do
sexo feminino e de primeiro grau de mulheres mastectomizadas em tratamento no
hospital de referência para câncer em João Pessoa/PB. Aplicou-se formulário
estruturado contendo questões objetivas de variáveis sociodemográficas,
história reprodutiva, história familiar e conhecimento sobre os fatores de
risco para o câncer de mama. Resultados: Prevaleceram mulheres de idade
inferior a 35 anos, com ensino médio completo, maioria casada e etnia parda. O
sedentarismo, uso de contraceptivo e grau de parentesco foram apontados como
fatores de risco inerentes ao surgimento do câncer de mama. Houve conhecimento
satisfatório sobre elementos importantes ao desenvolvimento da neoplasia
mamária entre as participantes. Conclusão: Espera-se que os resultados
possam subsidiar ações para a redução do risco de desenvolvimento da doença
entre os familiares de mulheres mastectomizadas.
Palavras-chave: neoplasias da mama,
fatores de risco, Enfermagem.
Abstract
Breast cancer and risk factors in families of mastectomized
women
Introduction: Breast cancer affects women in Brazil and worldwide, especially those
who meet the risk factors. Objective: To identify the profile of the
accompanying relatives of women who underwent mastectomy, and to assess
knowledge on risk factors for the development of breast cancer. Methods:
A cross-sectional study with a quantitative approach performed with 152 female
and first-degree relatives of mastectomized women
undergoing treatment at the reference hospital for cancer in João Pessoa/PB,
Brazil. A structured survey form containing objective questions of
sociodemographic variables, reproductive history, family history, and knowledge
about the risk factors for breast cancer was applied. Results: Women
under the age of 35 prevailed, with full secondary education, married majority,
and brown people. A sedentary lifestyle, contraceptive use, and degree of
kinship were identified as risk factors inherent to the appearance of breast
cancer. There was satisfactory knowledge about important elements to the development
of breast neoplasia among the participants. Conclusion: It is hoped that the
results will subsidize actions to reduce the risk of developing the disease
among the relatives of mastectomized women.
Keywords: breast neoplasms, risk factors, Nursing.
Resumen
Cáncer de la mama y factores de riesgo en familias de mujeres mastectomizadas
Introducción: El cáncer de mama alcanza a mujeres en Brasil
y en el mundo, especialmente aquellas con factores de riesgo. Objetivo: Identificar el perfil de los familiares acompañantes de mujeres sometidas
a mastectomía y averiguar el
conocimiento a respecto de los factores de riesgo para el desarrollo de cáncer de mama. Métodos:
Estudio transversal con abordaje cuantitativo realizado con 152 familiares de sexo femenino
y de primer grado de mujeres mastectomizadas en tratamiento en el hospital de referencia para el cáncer en Joao Pessoa/PB. Fueron aplicados cuestionarios estructurados conteniendo
preguntas objetivas de variables sociodemográficas, historia reproductiva, historia familiar y conocimiento
sobre factores de riesgo
para el cáncer de mama. Resultados:
Prevalecieron mujeres
menores de 35 años, con nivel secundario completo, mayoría casada y de etnia mestiza.
El sedentarismo, uso de anticoncepcionales y grado de
parentesco fueron señalados
como factores de riesgo inherentes al surgimiento de cáncer de mama. Hubo conocimiento satisfactorio sobre
elementos importantes del desarrollo
de la neoplasia mamaria entre las
participantes. Conclusión: Se espera que los resultados puedan subsidiar acciones para la reducción del riesgo
de desarrollo de la enfermedad entre los familiares
de mujeres mastectomizadas.
Palabras-clave: neoplasias de la mama, factores de riesgo, Enfermería.
O câncer de mama
resulta da multiplicação de células alteradas que são capazes de invadir outros
órgãos. Sua etiologia é desconhecida e não há uma causa única, porém, a
inter-relação entre um ou mais fatores pode facilitar o desenvolvimento da
doença [1].
No cenário mundial e
brasileiro, o câncer de mama é considerado a maior causa de morte por câncer
nas mulheres, destacando-se como uma das Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNT) mais prevalentes na população feminina, devido à elevada incidência e
mortalidade, representando um problema de saúde pública. A maior parte dos
casos ocorre em países desenvolvidos e em desenvolvimento [2].
Segundo o Instituto
Nacional do Câncer (INCA), a estimativa para o biênio 2018-2019 é que ocorram
cerca de 59.700 novos casos, ou, especificamente 56,33 casos para 100 mil
mulheres. De acordo com o Ministério da Saúde, tem-se observado um crescente
aumento do câncer de mama na população feminina da região Nordeste [3]. Nesse
contexto, a Região Nordeste apresentará cerca de 11.860 novos casos, sendo 880
destes na Paraíba e 240 na capital do Estado, equivalendo às taxas brutas de
42,32/100.000 e 57,41/100.000, respectivamente [4].
O contraste entre as
mudanças sociodemográficas atuais, o acesso e a disponibilidade aos serviços de
saúde e informações indicam um crescimento contínuo da incidência por câncer de
mama feminina na última década [5], enfatizando a relação dos níveis
socioeconômicos e os estilos de vida em ambientes urbanizados.
Ao
processo de transição
demográfica no Brasil, referente às
condições socioeconômicas e de saúde, a
industrialização e consequente urbanização,
mecanização da produção e
globalização dos hábitos não
saudáveis propiciaram uma alteração na
pirâmide
etária, indicando uma maior carga de adultos-idosos e
modificações no quadro de
prioridades do setor saúde. Logo, a exposição cada
vez maior a fatores
relacionados ao estilo de vida e ao ambiente aumentam os riscos de
desenvolvimento do câncer de mama na população
brasileira [2].
Não obstante, a
história do câncer de mama em parentes de primeiro grau (mãe, irmãos e/ou
filhos), associado a outros fatores de risco, propiciam um ambiente favorável
ao desenvolvimento da doença, classificando a mulher na categoria de alto risco
[1].
Diversos fatores são
relacionados ao risco de desenvolvimento do câncer de mama, os quais se
destacam os agentes hormonais, ambientais e hereditários. De acordo com estudos
da Fundação Susan G. Komen for the
Cure entre 2009 e 2010, as mutações de genes herdadas, incluindo as
mutações no BRCA1 e BRCA2, são responsáveis por cerca de 5 a 10% de todos os
casos da doença [6].
Logo, os principais
fatores de risco incluem as variáveis não-modificáveis, como idade, histórico
familiar, obesidade pós-menopausa, exposição prolongada a estrógenos endógenos
e a radiações ionizantes; e variáveis modificáveis, como a nuliparidade,
Terapia de Reposição Hormonal (TRH), uso de contraceptivo hormonal associados a
um estilo de vida marcado por uma má alimentação, sedentarismo, tabagismo e/ou
alcoolismo [7].
O câncer apresenta
elevada visibilidade nos meios de comunicação e na sociedade quando comparado a
outros tipos de enfermidades, portanto, é de fundamental importância
intensificar as medidas de promoção da saúde e a geração de conhecimentos sobre
os fatores de risco do câncer de mama aos familiares de mulheres
mastectomizadas.
A relevância deste
trabalho se pauta na possibilidade de demonstrar o perfil descritivo entre o
risco individual decorrente da presença de antecedentes familiares da doença,
com fatores externos que possam ocasionar alterações celulares, resgatando
também a compreensão das participantes sobre elementos que influenciam o
desenvolvimento da neoplasia mamária.
Mediante o exposto,
questiona-se: a caracterização das participantes aponta algum risco para o
desenvolvimento do câncer de mama? Os saberes quanto aos fatores de risco para
a doença são satisfatórios? Assim, objetivou-se identificar o perfil dos
familiares acompanhantes de mulheres submetidas à mastectomia e averiguar o
conhecimento sobre os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de
mama.
Trata-se de estudo
descritivo transversal de abordagem quantitativa realizado no Hospital Napoleão
Laureano, em João Pessoa/PB, referência para o tratamento de câncer no estado.
A população foi
composta por mulheres que atenderam aos seguintes critérios de inclusão:
familiares do sexo feminino e de primeiro grau de mulheres mastectomizadas em tratamento
no referido hospital, maiores de 18 anos.
A amostra por
conveniência, por critério temporal de coleta dos dados (90 dias), foi
constituída de 152 mulheres. A coleta ocorreu entre fevereiro e maio de 2017,
aplicando-se formulário estruturado com perguntas objetivas sobre aspectos
sociodemográficos, estilo de vida, características reprodutivas, antecedentes
familiares de câncer de mama e questões de conhecimento sobre a doença.
Os dados foram
analisados no Statistical Package for Social Sciences
(SPSS), versão 20.0, através de estatística descritiva, por meio de frequência
absoluta e relativa. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB) através do CAAE 62413116.7.0000.5188, além de autorização do Hospital
Napoleão Laureano e das mulheres convidadas a participar de forma voluntária,
respeitando os aspectos éticos da Resolução 466/2012 [8].
Na tabela I, observa-se
o perfil das mulheres quanto à idade, etnia, estado civil, religião,
escolaridade, ocupação, renda mensal e zona domiciliar.
Tabela I - Distribuição
sociodemográfica das participantes da pesquisa. João Pessoa/PB, Brasil, 2018.
(n =152).
Fonte: Pesquisa Direta,
2018.
Os fatores de risco
relacionados aos aspectos reprodutivos podem ser visualizados na Tabela II.
Tabela II - Distribuição das
variáveis reprodutivas das participantes da pesquisa. João Pessoa/PB, Brasil,
2018. (n=152).
Fonte: Pesquisa Direta,
2018.
Na tabela III estão
distribuídos o Índice de Massa Corporal (IMC), realização de atividade física,
consumo de açúcar/gordura, etilismo e tabagismo.
Tabela III - Índice de Massa
Corporal (IMC) e variáveis de estilo de vida das participantes da pesquisa.
João Pessoa/PB, Brasil, 2018. (n=152).
Fonte: Pesquisa Direta,
2018.
Adiante, observa-se o
conhecimento das mulheres em relação ao parentesco, consumo de açúcar, gordura
e realização de atividade física como elementos facilitadores do câncer de mama
(Tabela IV).
Tabela IV - Distribuição das
variáveis de conhecimento das participantes da pesquisa. João Pessoa/PB,
Brasil, 2018. (n=152).
Fonte: Pesquisa Direta,
2018.
O perfil
sociodemográfico indicou maioria das participantes com idade menor que 35 anos,
parda, da zona urbana, católica e ensino médio completo. Quanto ao fator
socioeconômico, exerciam ocupação remunerada, com renda familiar mensal de 1 a
3 salários mínimos. Importa mencionar que grande parte das entrevistadas não
realiza atividade remunerada, com dedicação exclusiva ao familiar enfermo
(Tabela I).
Dentre os fatores de
risco estabelecidos para o câncer de mama, alguns não são passíveis de intervenção,
como idade, fatores genéticos e reprodutivos - no caso, a menarca e menopausa.
Todavia, fatores relacionados ao estilo de vida e comportamentos são
considerados modificáveis, favorecendo a redução do risco de desenvolvimento da
doença por meio da adoção de ações preventivas.
O padrão de mortalidade
por câncer de mama apresenta altas taxas em mulheres na faixa etária entre 35 e
50 anos de idade, considerando também as suas condições reprodutivas. Dados
apontam que a incidência do câncer em mulheres jovens aumenta, gradativamente,
ao longo dos anos [9]. Embora a faixa etária acima dos 35 anos seja prioritária
à detecção e controle de mulheres com parentesco de primeiro grau, ressalta-se
que estratégias de prevenção devam iniciar precocemente, como ação de redução
de riscos.
Os dados do Grupo
Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama indicaram que a maioria das pessoas
acometidas por câncer de mama é de cor branca [10]. Nos Estados Unidos, a
incidência apresenta maiores proporções nessa população, apesar da taxa
mortalidade concentrar-se entre mulheres afro-americanas [11]. No Brasil,
grande parte da população se autodeclara parda [12], corroborando os dados da
maior prevalência na população parda, contrariando os perfis supracitados.
Acredita-se que a miscigenação nacional pode explicar este resultado.
A escolaridade é
apontada como fator de risco para diversos tipos de cânceres, pois a
vulnerabilidade social perpassa por acesso, disponibilidade e compreensão da
informação em saúde [11].
As variáveis
socioeconômicas são consideradas fatores condicionantes de desigualdades nos
registros de câncer em âmbito nacional e internacional [13]. Neste sentido, a
pobreza é entendida como a falta de acesso aos bens, serviços e direitos na
sociedade [14].
Alterações nos genes
BRCA1 e BRCA2 também possuem influência no aumento do risco de desenvolver
câncer de mama e ovário. Um estudo dos fatores de risco modificáveis do câncer
de mama em portadores de mutação desses genes identificou a idade tardia de
nascimento do primeiro filho como um possível elemento modificador desse risco
[15].
Idade, histórico
familiar de primeiro grau, menarca precoce, menopausa tardia, gravidez tardia e
nuliparidade, além de fatores externos e passíveis de
intervenções, como ingestão regular de álcool, tabagismo, dieta calórica,
sedentarismo, uso de contraceptivos orais e terapia de reposição hormonal
(TRH), são elementos de destaque ao câncer de mama dentre os órgãos
governamentais [16].
Quanto à história
reprodutiva, predominaram as que tiveram a menarca aos 12 anos ou mais,
gestaram a partir dos 18 aos 23 anos e amamentaram em período superior a seis
meses. Ademais, evidenciou-se que muitas já fizeram uso de anticoncepcionais
por mais de um ano, e uma parcela das entrevistadas não se encontrava em
climatério, enquanto a minoria tinha iniciado com idade superior a 50 anos,
relatando ainda o uso de Terapia de Reposição Hormonal (TRH) para o tratamento
dos sintomas da menopausa (Tabela II).
A exposição prolongada
a estrogênios endógenos e exógenos são fatores de risco relevantes ao câncer de
mama [17], ao passo que menarca precoce e menopausa tardia geram efeitos
condicionados pela longa exposição hormonal [18]. Assim, a menarca precoce
aumenta o tempo de multiplicação das células do tecido mamário, enquanto a
menopausa tardia alonga a quantidade de ciclos ovulatórios,
o que intensifica a atuação hormonal e favorece o crescimento dos cânceres
positivos aos receptores hormonais [19].
Portanto, o uso de
hormônios sintéticos deve ser cauteloso, atendendo a demandas específicas em
saúde, considerando os efeitos prejudiciais em longo prazo.
O estilo de vida
apontou a normalidade do IMC apesar de maioria sedentária. Entretanto, houve
maior ingestão semanal de gordura e açúcar, assim como conhecimento
satisfatório sobre fatores de risco modificáveis ao câncer de mama. A
ocorrência do uso de tabaco e do consumo de álcool foi infrequente, ao
contrário do sedentarismo, identificado em 54,6% da amostra (Tabela III).
A escassez de
conhecimento da população sobre conteúdos relevantes à saúde deve ser o estopim
para o planejamento e implantação de ações voltadas às lacunas do saber e
prática de bons hábitos de vida [20].
No presente estudo, a
maioria das mulheres tiveram filhos em faixa etária de 18-23 anos, com tempo de
amamentação superior aos seis meses. Variáveis reprodutivas como a nuliparidade e a gravidez após os 30 anos de idade atuam
como coadjuvantes no aumento do risco de câncer de mama, devido ao aumento no
tempo de exposição ao estímulo estrogênico. Ao passo que a amamentação possui
efeito protetor ao câncer de mama, por diminuição do estímulo hormonal [17],
além de reduzir o sobrepeso da lactante [21].
Fatores exógenos ou
modificáveis como tabagismo, sedentarismo e hábitos alimentares aumentam as
chances de desenvolvimento da doença devido à exposição aos agentes
carcinogênicos [22]. Apesar do fumo ser apontado como fator de risco para o
desenvolvimento de vários tipos de cânceres, mais estudos são necessários para
elucidação da sua influência direta à neoplasia mamária [23].
O excesso de peso e a
obesidade correspondem à acumulação anormal de gordura corporal, apresentando
risco à saúde. Para predizer isso, há uma medida internacional, o Índice de
Massa Corporal (IMC), que avalia o nível de gordura de cada pessoa e expõe
valores de 25,0 a 29,9 para excesso de peso e acima de 30 para obesidade, em
adultos [24]. Quando avaliadas por categorias de IMC, o maior percentual
apontou peso adequado. Contudo, ao observar o somatório das frequências acima
do peso ideal, houve maior prevalência de mulheres com sobrepeso e obesidade.
Além disso, grande parte das mulheres afirmou não realizar atividade física,
elemento diretamente ligado à manutenção do peso.
A obesidade e o
sobrepeso estão associados a diversos tipos de câncer, inclusive o de mama,
sendo fatores de vulnerabilidade pelo fato dos
hormônios femininos terem como principal matéria-prima a transformação da
gordura em colesterol [25,26]. A atividade física, por sua vez, diminui a
quantidade dos hormônios femininos, e, aliada a uma alimentação adequada podem
adiar o desenvolvimento da doença [20].
Dessa forma, atividade
física e dieta são ferramentas importantes no controle do peso e regulação de
hormônios contribuindo para o equilíbrio do metabolismo e redução do risco para
o surgimento da doença [25]. Todavia, acredita-se que o contexto regional e
sobrecargas diárias das mulheres entrevistadas retardam o processo de autocuidado
e adoção de estilo de vida equilibrado, devido às demandas externas e rotina de
responsabilidades domésticas e profissionais.
Observou-se que a
maioria das entrevistadas possui conhecimento favorável sobre o câncer de mama,
relacionado à influência de fatores de risco como o histórico familiar,
alimentação rica em açúcar e gordura e realização de atividade física (Tabela
IV). Entretanto, o saber não implica diretamente na prática do autocuidado, o
qual inclui deveres individuais aprendidos ao longo da vida, imbricado em
aparatos sociais importantes na prevenção de doenças, estimulados através da
educação em saúde.
Embora o conhecimento
interfira na prática, ele nem sempre é elemento direto da adoção de novos
hábitos, tornando necessária uma intervenção mais eficaz e compatível com o
meio e modo de vida das pessoas, capaz de mobilizar mudanças e adesão a um
programa de prevenção.
É
preciso diferenciar a
detecção precoce das ações de
prevenção primária, que têm por objetivo
evitar a
ocorrência da doença, apesar das duas serem voltadas para
a redução da
exposição aos fatores de risco. Contudo, a maioria das
entrevistadas relatou
dificuldade em seguir um estilo de vida saudável devido à
rotina estressante,
dividida entre cuidados com o lar e familiar enfermo, além do
trabalho.
Nos
últimos anos,
estudos evidenciaram uma possível relação entre o
aumento dos níveis de
estrogênio por indução do álcool, que atua
sobre o fator de crescimento e
sinalização do estrogênio, levando ao aumento da
ação do hormônio na condução
da doença [27]. Ademais, o etanol é responsável
pela expressão de um gene
causador do câncer, o BRAF, responsivo ao álcool e aos
estrógenos, havendo,
assim, uma relação dose-efeito (quanto maior o consumo,
maior o risco de desenvolver
câncer de mama) [27].
A caracterização
sociodemográfica, reprodutiva e de hábitos de vida apontaram sedentarismo e uso
de contraceptivo como fatores de risco inerentes ao surgimento do câncer de
mama entre parentes de primeiro grau das mulheres mastectomizadas. Embora seja
a segunda maior prevalência, as participantes apresentaram peso acima do
esperado. Houve conhecimento satisfatório sobre elementos importantes ao
desenvolvimento desta neoplasia entre as participantes.
A multifatorialidade
da doença impõe a ampliação de estratégias voltadas às mulheres, seja na
atenção primária ou nos serviços de saúde especializados. Desse modo, a
educação em saúde direcionada a estes elementos é uma alternativa interessante
para modificação de hábitos inadequados que favoreçam a doença e melhor
seletividade de mulheres que fazem uso de anticoncepcionais orais.
É preciso sensibilizar
a sociedade quanto aos riscos expostos, o que tornam necessárias intervenções
mais resolutivas e de maior visibilidade, por meio de melhorias nas políticas e
programas nacionais de saúde.
A limitação do estudo
consiste na escolha de apenas um ambiente voltado ao cuidado de mulheres
acometidas pela doença no município. Acredita-se que a ampliação dos locais de
estudo, como hospitais que realizam cirurgias de mastectomia e organizações não
governamentais de apoio à mulher mastectomizada, possa deixar os dados mais
robustos, passíveis de associações estatísticas.