ARTIGO ORIGINAL
Diagnósticos de
enfermagem relacionados aos distúrbios do sono em idosos em serviço geriátrico
Sanni Moraes de Oliveira*, Wiliana Aparecida Alves de Brito Fernandes, M.Sc.*, Maria das Graças Melo Fernandes, D.Sc.*
*Enfermeira,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB
Recebido em 30 de março
de 2019; aceito em 7 de agosto de 2020.
Correspondência: Sanni
Moraes de Oliveira, Rua Bancário Lourenço Vieira de Souza, 41 Bancários
58051-570 João Pessoa PB
Sanni Moraes de Oliveira:
sannidsm@gmail.com
Wiliana Aparecida Alves de
Brito Fernandes: wiliana_alves@hotmail.com
Maria das Graças Melo
Fernandes: gracaafernandes@hotmail.com
Resumo
Objetivo: Identificar e
caracterizar os Diagnósticos de Enfermagem referentes aos distúrbios do sono em
idosos atendidos em um ambulatório geriátrico. Métodos: Trata-se de um
estudo quantitativo, do tipo descritivo, transversal, realizado em um hospital
universitário, com amostra de 211 idosos, utilizando-se os Diagnósticos de
Enfermagem relacionados aos distúrbios do sono da NANDA-I. Resultados:
83,4% dos idosos investigados apresentaram indicadores clínicos referentes aos
Diagnósticos de Enfermagem de distúrbios do sono: Padrão do Sono Prejudicado,
Insônia e Privação do Sono. A Insônia foi o Diagnóstico de Enfermagem mais
prevalente, sendo as principais características definidoras: a dificuldade para
iniciar e manter o sono e o despertar precoce. Conclusão: Os achados
demonstram a prevalência significativa dos Diagnósticos de Enfermagem relativos
aos distúrbios do sono entre as pessoas idosas. Com vistas à promoção de um
sono e repouso adequado a essa população, salienta-se que é imprescindível o
enfermeiro proceder com o Processo de Enfermagem buscando identificar os
problemas reais e/ou potenciais, promovendo intervenções que garantam a
qualidade do sono para esta população.
Palavras-chave: cuidados de
enfermagem, idoso; diagnósticos de enfermagem, transtornos do sono-vigília.
Abstract
Nursing diagnoses related to sleep disorders in elderly people in
geriatric service
Objective: To identify and characterize the Nursing Diagnoses related to sleep
disorders in the elderly treated at a geriatric outpatient clinic. Methods:
This is a quantitative, descriptive, cross-sectional study, carried out in a
university hospital, with a sample of 211 elderly people, using the Nursing
Diagnoses related to NANDA-I sleep disorders. Results: 83.4% of the
elderly investigated had clinical indicators regarding the Nursing Diagnosis of
sleep disorders: Impaired Sleep Pattern, Insomnia and Sleep Deprivation.
Insomnia was the most prevalent Nursing Diagnosis, with the main defining
characteristics: the difficulty to start and maintain sleep and early
awakening. Conclusion: The findings demonstrate the significant
prevalence of Nursing Diagnoses related to sleep disorders among the elderly.
With a view to promoting adequate sleep and rest for this population, it is
emphasized that it is essential for nurses to proceed with the Nursing Process,
seeking to identify real and / or potential problems, promoting interventions
that guarantee the quality of sleep for this population.
Keywords: nursing care, aged, nursing diagnosis, sleep wake disorders.
Resumen
Diagnósticos de enfermería relacionados con alteraciones del sueño en personas mayores en servicio
geriátrico
Objetivo: Identificar y
caracterizar los Diagnósticos de Enfermería
relacionados con trastornos
del sueño en ancianos atendidos en un ambulatorio
geriátrico. Métodos: Este es un estudio cuantitativo, de tipo descriptivo, transversal, realizado en
un hospital universitario, con una muestra de 211 ancianos, utilizando los
diagnósticos de enfermería relacionados con los trastornos
del sueño de NANDA-I. Resultados:
El 83,4% de los ancianos
investigados presentaba indicadores clínicos
relacionados con los
Diagnósticos de Enfermería de trastornos
del sueño: Patrón de sueño deteriorado, Insomnio y Privación del sueño. El insomnio
fue el diagnóstico de enfermería más común
predominante, siendo las principales características definitorias:
la dificultad para iniciar
y mantener el sueño y el despertar temprano. Conclusión: Los hallazgos demuestran prevalencia significativa de Diagnósticos de Enfermería relacionados con trastornos del sueño entre los ancianos. Con el
fin de promover sueño y
descanso adecuados para esta población,
se enfatiza que es fundamental que el enfermero proceda con el Proceso de Enfermería,
buscando identificar problemas reales y / o potenciales, promoviendo
intervenciones que garanticen la
calidad del sueño de esta población.
Palabras-clave: atención
de enfermería, anciano,
diagnósticos de enfermería, trastornos
del sueño-vigilia.
O envelhecimento se
constitui como um processo natural do curso de vida do ser humano, sendo
determinado por diversos fatores multidimensionais e complexos que implicam em
modificações fisiológicas e causam declínio da homeostasia corporal, aumento da
vulnerabilidade às morbidades e comprometimento da saúde do idoso com
consequências físicas, mentais ou sociais [1].
Dentre as principais
preocupações relacionadas à longevidade estão as ocorrências de condições
crônicas, quedas, incapacidade funcional, alterações no sistema nervoso,
cardiovascular e musculoesquelético. Além destes, suscita em demandas de
cuidados específicos e ressaltam-se as modificações no padrão do sono e suas
repercussões negativas para o organismo [2].
O sono por ser uma necessidade
fisiológica e apresentar funções restaurativas no organismo e de otimização da
energia favorece o equilíbrio das condições físicas e mentais. Com o passar dos
anos, as alterações inerentes a senescência trazem repercussões no ciclo do
sono-vigília tornando-o mais superficial e fragmentado e, portanto, com menor
eficiência e pior qualidade. A qualidade do sono é de fundamental importância
para prevenção e recuperação de doenças. Uma vez que essa esteja prejudicada
poderá desencadear déficits cognitivos, de memória e concentração,
desequilíbrio emocional e danos nas funções imunes e inflamatórias com aumento
significativo do risco de quedas e culminam para uma diminuição da qualidade de
vida, aumento dos índices de morbimortalidade e elevados custos para os
serviços de saúde [3].
Na pessoa idosa,
algumas mudanças fisiológicas ocasionam alterações no padrão do sono,
geralmente torna-se mais superficial e com despertares frequentes, reduzindo a
sensação de descanso, o que acarreta sonolência e cochilos diurnos [2].
Considerando isso, é
imprescindível, por parte do enfermeiro, a identificação da qualidade do sono e
de possíveis distúrbios relacionados a esse fenômeno, a fim de promover
estratégias que visem a preservação e um melhor padrão habitual do sono, por
conseguinte, subsidiar a melhora clínica do idoso, refletindo na busca pela
integralidade do cuidado a essa parcela da população [3].
Tendo em vista tais
necessidades, a North American Nursing Diagnosis Association
(NANDA-I, 2015-2017) propõe Diagnósticos de Enfermagem (DE) que podem ser
identificados pelo enfermeiro no manejo de pacientes com tais distúrbios, os
quais estão locados no Domínio 4, que concerne ao sono/repouso, a partir da
coleta de dados e julgamento clínico, os quais são: “Insônia”; “Padrão do sono
prejudicado” e; “Privação do sono” [4].
Diante disso, a NANDA-I
apresenta o Diagnósticos de Enfermagem “Insônia” definindo-o como “distúrbio na
qualidade e quantidade do sono que prejudica o desempenho normal das funções da
vida diária” [4:384). Quanto ao “Padrão do sono prejudicado” define-o como
“Despertares com tempo limitado em razão de fatores externos” [4:387]. E
“Privação do Sono” como “Períodos prolongados sem suspensão sustentada natural
e periódica do estado de consciência relativa que proporciona o descanso”
[4:389].
A taxonomia da NANDA-I
elenca também as características definidoras dos problemas e os fatores
relacionados ou determinantes do evento, o que constitui uma ferramenta
importante para a sua identificação e abordagem terapêutica e de cuidado. A
despeito disso, há lacunas importantes na produção do conhecimento científico
relativo aos problemas de sono nos idosos no campo da Enfermagem.
Considerando essa
perspectiva a relevância deste estudo se configura dada a sua potencialidade de
gerar informações empíricas importantes relativas aos diferentes aspectos
inerentes aos distúrbios do sono em pessoas idosas. Ressalta-se que a
identificação dos DE e a implementação de intervenções específicas podem
auxiliar os enfermeiros no cuidado à população idosa com má qualidade do sono
nos diferentes cenários de prática de atenção à saúde, promovendo,
especialmente, melhora em sua qualidade de vida
Ante a problemática em
tela, surgiram os seguintes questionamentos: Qual a prevalência dos
Diagnósticos de Enfermagem da NANDA-I relativos aos distúrbios do sono entre
esses idosos? Quais os indicadores empíricos dos diagnósticos evidenciados
pelos idosos atendidos no referido ambulatório? Quais os fatores relacionados
ou determinantes dos Diagnósticos de Enfermagem entre esses idosos? Ressalta-se
que respostas para essas questões poderão contribuir para o maior conhecimento
da Enfermagem acerca desta problemática e para uma melhor assistência diante
das necessidades específicas da pessoa idosa com problemas na qualidade de
sono.
Para a obtenção de
respostas para essas questões, foram delimitados para o estudo os seguintes
objetivos: Identificar e caracterizar os DE referentes aos distúrbios do sono
em idosos atendidos em um ambulatório geriátrico.
Trata-se de estudo com
abordagem quantitativa, do tipo descritivo, transversal, desenvolvido em um
hospital no município de João Pessoa/PB. A população estudada foi compreendida
por pessoas idosas atendidas no ambulatório de Geriatria do referido serviço.
Para a seleção dos
idosos investigados, foi levantado junto ao serviço o quantitativo de consultas
entre os meses de janeiro de 2017 a junho do mesmo ano, totalizando 664 idosos
atendidos. O cálculo do tamanho da amostra se deu a partir da fórmula para
populações finitas, levando em consideração o nível de confiança de 95% (Z∞=1,96), o erro amostral
de 5%. A determinação da amostra foi do tipo selecionada por conveniência, de
forma consecutiva, obtendo-se o quantitativo de 211 entrevistados.
A técnica de amostragem
foi não-probabilística, por conveniência. Participaram do estudo pessoas com
sessenta anos ou mais, de ambos os sexos. Os critérios de inclusão foram:
pessoas idosas vinculadas ao serviço de geriatria; pessoas idosas aguardando
atendimento; os critérios de exclusão foram: Idosos que apresentavam limitações
graves para compreensão dos questionamentos e aqueles que não apresentavam
condições clínicas para responder as perguntas.
A
coleta de dados foi
realizada no período de novembro de 2017 a maio de 2018,
mediante entrevista
subsidiada por instrumento estruturado, contemplando questões
relativas à
caracterização sociodemográfica (sexo, idade,
estado civil e renda); e questões
dicotômicas abarcando as características definidoras e os
fatores relacionados
dos DE “Insônia”, “Padrão do Sono
prejudicado” e “Privação do Sono” da
taxonomia NANDA- I, clínico (classificação
2015-2017), com vistas a facilitar o
raciocínio diagnóstico: 1) Análise e
síntese dos dados; 2) Estabelecimento dos
diagnósticos propriamente ditos [4].
Os dados foram
digitados em planilha no Software Microsoft Excel e posteriormente importados
ao Statistical Package
for the Social Sciences
(SPSS), Versão 20.0. A análise dos dados foi efetivada numa abordagem
quantitativa por meio da estatística descritiva de natureza univariada
para todas as variáveis, incluindo medidas de frequência. E análise bivariada
entre as características definidoras dos diagnósticos investigados e as
variáveis sociodemográficas, entre as características definidoras/fatores
relacionados e sexo, atribuindo um valor de p < 0,05 para ser considerado
como estatisticamente significante (teste bicaudal). O Teste de Qui-Quadrado e o Teste Exato de Fisher foram utilizados
para verificar a associação de variáveis categóricas.
Para melhor análise foi
aplicado o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburg
(PSQI). O instrumento contempla sete componentes, os quais somados conferem a pontuação
global do PSQI, entre 0 e 21. Pontuações de 0-4 indicam boa qualidade do sono,
de 5-10 indicam qualidade ruim e acima de 10 indicam distúrbio do sono.
Cabe destacar que
durante todo o processo da pesquisa, especialmente na fase da coleta de informações
empíricas, foram observados os aspectos éticos que normatizam a pesquisa
envolvendo seres humanos especialmente o sigilo e a confidencialidade das
informações, dispostos na Resolução 466/2012 do CNS/MS/BRASIL, aprovado pelo
Comitê de Ética que referenda a instituição, tendo como número de CAE
56053116.8.00005183 e do parecer 508.880.
Dentre os 211 idosos
pesquisados, verificou-se que a maioria pertencia ao sexo feminino, 122
(57,8%), na faixa etária predominante de 60 a 69 anos, 140 (66,4%) e 129
(61,1%) eram casados. Ademais, a maioria, 88 (41,7%) possuía renda familiar de
2 a 3 salários (Tabela I).
Tabela I – Distribuição das
variáveis sociodemográficas das pessoas idosas atendidas em serviço de saúde
geriátrico, João Pessoa/PB, 2018. (n = 211).
Com relação aos
distúrbios do sono, houve a prevalência de 176 idosos (83,4%), os quais
referiram algum problema, dentre os quais, 142 (67,3%) foram identificados com
o DE “Insônia”, 97 (46,0%) apresentaram “Privação de Sono” e 83 (39,3%)
“Distúrbios no padrão do sono” (Tabela II).
Tabela II – Diagnósticos de
Enfermagem relativos a distúrbios do sono em idosos atendidos em um ambulatório
de geriatria de um hospital universitário em João Pessoa/PB, 2015-2016 (n=211).
*A soma perfaz um valor
superior a amostra em decorrência de um mesmo idoso apresentar mais de um fator
relacionado.
Em relação ao DE
“Insônia”, presente nos idosos investigados, verificou-se que os mesmos
evidenciavam um ou mais sintomas ou características definidoras, especialmente:
dificuldade para manter o sono 74 (20,2%), acordar cedo demais 69 (18,8%),
dificuldade para iniciar o sono 49 (13,3%) e alteração no humor 29 (7,9%). No
tocante aos fatores relacionados à Insônia, 88 (26,8%) idosos evidenciaram a
ansiedade como principal fator, bem como 73 (22,2%) corresponderam a cochilos
frequentes durante o dia, 36 (10,9%) a estressores, 30 (9,1%) a desconforto
físico, 25 (7,6%) e 23 (7,0%) devido à depressão, conforme descritos na Tabela
III.
Tabela III – Distribuição das
características definidoras e fatores relacionados do Diagnóstico de Enfermagem
Insônia em pessoas idosas atendidas em serviço de saúde geriátrico, João
Pessoa/PB, 2018. (n = 142).
*Teste de Qui-quadrado de Pearson p n/s
Verificou-se que o DE
“Padrão do sono prejudicado” tem como sua principal característica definidora
alteração do padrão de sono com frequência de 88 (23,3%), em seguida a
dificuldade para iniciar o sono com 31 (19,0%), dificuldade de funcionamento
diário 29 (17,8%), despertar não intencional 27 (16,6%). Quanto aos fatores
relacionados do diagnóstico supracitado, identificou-se que 41 (39,4%) dos
idosos relataram padrão de sono não restaurador, em seguida por barreira
ambiental com 33 (31,7%), interrupção causada pelo parceiro de sono 14 (13,5%),
privacidade insuficiente 9 (8,7%) e, por último, imobilização 7 (6,7%),
expostos na Tabela IV.
Tabela IV – Distribuição das
características definidoras e fatores relacionados do Diagnóstico de Enfermagem
“Padrão do sono prejudicado” em pessoas idosas atendidas em serviço de saúde
geriátrico, João Pessoa/PB, 2018. (n = 83).
*Teste de Qui-quadrado de Pearson p n/s; **Teste Exato de Fisher p
n/s
No tocante ao DE
“Privação do Sono”, os resultados evidenciaram a ansiedade como característica
definidora mais relevante, perfazendo o total de 72 (31,6%) dos entrevistados,
seguido por mal-estar, correspondendo a 25 (11,0%) e sonolência com 22 (9,6%).
Em relação aos fatores relacionados da “Privação de Sono”, encontrou-se o
padrão do sono não restaurador com 32 (22,4%), pesadelos com 26 (18,2%),
desconforto prolongado e mudanças de estágios de sono relacionadas ao
envelhecimento ambos com 20 (14,0%). No Teste de Qui-Quadrado
apenas o fator relacionado: Padrão do sono não restaurador mostrou
significâncias estatística (p = 0,012), conforme exposto a seguir na Tabela V.
Tabela V – Distribuição das
características definidoras e fatores relacionados do Diagnóstico de
Enfermagem: Privação do Sono em pessoas idosas atendidas em serviço de saúde
geriátrico, João Pessoa/PB, 2018. (n = 97).
*Teste de Qui-quadrado de Pearson
Com a aplicação do Teste
Qui-quadrado entre as variáveis sociodemográficas e
as características definidoras dos diagnósticos investigados, verificou-se que
a renda familiar estava associada principalmente a presença de: alterações no
padrão do sono (p < 0,001); cochilos frequentes durante o dia (p <
0,001); alteração na concentração (p = 0,001); insatisfação do sono (p = 0,001)
e privação do sono (p = 0,002).
Com vistas a
complementar a análise, utilizando-se do Teste de Exato de Fisher, verificou-se
uma associação significativa entre renda familiar e qualidade do sono (p-valor
=0,042). As demais características sociodemográficas não apresentaram
associação com as variáveis investigadas no presente estudo. Para análise desse
resultado, realizou-se a tabulação cruzada da renda familiar com o Índice de
Qualidade do Sono de Pittsburg (PSQI), o qual
demonstra que a porcentagem total de 59,3% dos idosos que recebem de 1 a 3
salários mínimos apresentam uma má qualidade do sono, conforme Tabela VI.
Tabela VI – Tabulação cruzada
da renda familiar com o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburg
(PSQI) de pessoas idosas atendidas em serviço de saúde geriátrico, João
Pessoa/PB, 2018. (n = 211).
*SM = Salário Mínimo
(R$954,00/2018)
No presente estudo, a
faixa etária predominante foi entre 60 e 69 anos, havendo uma diminuição
gradativa de indivíduos nas faixas subsequentes, especialmente a partir dos 80
anos e a maioria dos investigados era casada. Além da expectativa de vida, tal
aspecto aponta a maior participação de idosos jovens em atendimento
ambulatorial, uma vez que estes geralmente apresentam menores limitações
físicas em relação aos mais idosos para frequentarem consultas de rotina [5].
Observou-se que a
maioria das pessoas idosas nesta pesquisa foi do sexo feminino, demonstrando
não somente a realidade da atual transição demográfica brasileira, denominada
de feminização da velhice, como também a maior expectativa de vida entre as
mulheres. A participação feminina nas pesquisas com idosos em ambulatório
geriátrico pode ser explicada pelo fato de que as mulheres procuram com maior
frequência os serviços de saúde ao longo do seu ciclo vital, ante os problemas
de saúde que as acometem [6].
A tratar-se dos
distúrbios do sono relacionado ao sexo feminino, cabe observar também que as
mulheres apresentam maiores alterações neste sentido, pois a tarefa de cuidar é
exercida predominante por elas ao longo das suas vidas, dispensando apoio
principalmente aos parceiros, bem como outros membros da família [7,8].
O estudo permitiu
identificar maior prevalência de DE relacionados aos
distúrbios do sono/repouso em pessoas idosas de baixa renda familiar. Esta
associação pode despertar uma maior compreensão dos problemas do sono evidenciados
neste tipo de comunidade, em situação do nível socioeconômico desfavorável e
maior vulnerabilidade social, para que permita ao enfermeiro estabelecer bases
para intervenções orientadas para diversos grupos sociais e que sejam adaptadas
a realidade do contexto no qual essa pessoa idosa esteja inserida. Neste
sentido, deve-se considerar ambiente de dormir inadequado, referente à
iluminação, ruídos e temperatura, os quais ocasionam prejuízo em horas de sono
por noite, portanto, sono de menor qualidade [9].
Os resultados desta
investigação identificaram a prevalência preponderante do DE “Insônia” frente
aos demais diagnósticos. As suas características definidoras evidenciadas
corroboram os aspectos observados em demais estudos compreendendo principalmente
a dificuldade para manter o sono, acordar cedo demais, dificuldade para iniciar
o sono, padrão de sono não restaurador e redução na qualidade de vida [10].
Convém destacar que
outras características definidoras autorreferidas foram expressas pelos idosos,
a exemplo de: sono não restaurador, redução na qualidade de vida, insatisfação
com o sono, alteração no afeto, no humor e na concentração, estado de saúde
comprometido e energia insuficiente. Tais características corroboram outros
estudos e são responsáveis por grande insatisfação, além de prejudicar a saúde
física, cognitiva e a qualidade de vida, principalmente, quando esses problemas
estão associados às doenças, implicando negativamente na saúde das pessoas,
especialmente das idosas [11].
Estudos mostram que a
privação do sono em homens saudáveis, durante apenas cinco noites se mostrou
suficiente para causar disfunção endotelial venosa e distúrbios do controle
autonômico cardiovascular, com aumento significativo na atividade simpática e
prejuízo na variabilidade da pressão arterial [3]. Os indicadores clínicos dos
DE de distúrbios do sono que produzem consequências
no dia seguinte, podem desencadear a privação de sono e prejuízo de sua
capacidade de manter a vigília durante o dia. A fragmentação do sono noturno, o
aumento da latência para início do sono e a redução de sua duração ocasionada
pela dificuldade de se manter dormindo podem ocasionar um aumento da sonolência
diurna excessiva [12,13].
Além disso, os cochilos
diurnos de longa duração podem ter impacto negativo sobre a qualidade do sono
noturno e estar associado a consequências negativas para a saúde, tais como
doença cardiovascular, aumento do risco de quedas e de déficits cognitivos
[12].
No entanto, torna-se
difícil determinar a direção da relação causal entre o cochilo e a perturbação
do sono noturno, a qual pode variar entre os indivíduos. Algumas pessoas podem
dormir mais durante o dia para compensar uma privação do sono noturno, enquanto
outros podem cochilar por outros motivos (por exemplo, inatividade) e, como
resultado, desenvolvem dificuldades com o sono noturno [13].
As alterações nos
padrões de sono e os sintomas de insônia presentes no envelhecimento podem
advir das condições crônicas como de outros distúrbios prevalentes nessa faixa
etária, em especial, a depressão, os problemas urinários e neurológicos, a
exemplo da doença de Parkinson e o acidente vascular encefálico. Além disso,
modificações no cotidiano frequentemente ligadas ao envelhecimento, trazidas
pela aposentadoria e a viuvez, podem contribuir para essas alterações também
[10].
Salienta-se que o
desconforto físico e a má qualidade do sono em idosos muitas vezes podem estar
relacionadas à dor, em especial naqueles afetados por condições crônicas de saúde
com quadro álgico importante, como artrite e câncer. Porém, a relação entre
problemas do sono e dor se configura de forma complexa, quando os sintomas
podem constituir causa ou consequência um do outro. Sustenta-se, então, a má
qualidade do sono do idoso como natural do envelhecimento, e subestima-se a
associação entre a dor e o sono prejudicado [10].
A prática de atividade
física regular, de acordo com alguns autores, pode ser utilizada como uma
intervenção não farmacológica que visa a promoção da qualidade do sono.
Atribui-se a melhora observada, ao fato do sono
constituir-se numa função biológica voltada para a conservação de energias e a
reposição do desgaste tissular cotidiano, as quais aumentam com a prática de
exercícios físicos, reduzindo os sintomas de insônia [3]. No entanto, tem-se
observado que o tempo destinado às atividades físicas diminui com o passar dos
anos, em decorrência das alterações fisiológicas próprias do envelhecimento, da
presença de comorbidades e do declínio nas habilidades cognitivas e funcionais.
Assim, observa-se que alguns idosos optam por atividades que exigem menor ou
nenhum esforço físico, possivelmente por possuírem alguma limitação na sua
capacidade funcional [14].
Outro fator relacionado
aos DE de distúrbios do sono identificado neste
estudo, e que merece destaque, compreende o uso de agentes farmacológicos
utilizados pelo idoso. Determinadas classes de medicamentos podem vir a induzir
o idoso ao sono, como por exemplo, drogas sedativo-hipnóticas, anti-histamínicos,
antidepressivos, e agonistas dopaminérgicos, ocasionando alteração no padrão do
sono, contribuindo para a sonolência excessiva diurna. Já as medicações
cardiovasculares, neurológicas, psiquiátricas e gastrointestinais também podem
estimular excessivamente o idoso, dificultando o início do sono. Destarte, a
prescrição de medicamentos a idosos deve ser monitorada, pois alguns
medicamentos podem prejudicar a marcha e a cognição desses indivíduos, como
também podem causar sonolência e indisposição [14,15].
O profissional de
enfermagem possui um importante papel ante as percepções e vivências do
paciente, dos seus familiares ou cuidadores. Neste contexto, é fundamental que
reconheça a importância da qualidade do sono para as pessoas idosas, para manutenção
e recuperação da saúde e qualidade de vida. E durante a assistência, muitas
vezes é possível verificar os fatores ambientais e físicos em que estes se
inserem, que podem ser intrínsecos do paciente ou extrínsecos, dentre os quais
aspectos relacionados a senescência ou senilidade referentes a condição clínica
e terapêutica estabelecida, tais como: dor crônica, náuseas, dispneia, apneia
do sono, via aérea obstruída, dor/desconforto e frequência urinária, como
também fatores psicológicos de ansiedade, angústia, medo ou preocupação. Além
disso, fatores extrínsecos relacionados ao ambiente também podem interferir na
qualidade do sono de modo fisiológico, os fatores socioeconômicos, espirituais,
culturais, recursos disponíveis, condições de higiene, segurança e dinâmica
familiar [2,3].
Deste modo, orientações
à população acerca da qualidade do sono são relevantes, e intervenções de
educação em saúde sobre a temática demandam investimento de esforços dos
profissionais envolvidos com a saúde pública. Portanto, a enfermagem, como
atividade exercida neste âmbito, deve buscar cada vez mais comprometimento em
prestar assistência e programar medidas terapêuticas a fim de melhorar as
alterações no sono dos idosos, considerando o processo de perdas próprias do envelhecimento
e as possibilidades de manutenção do seu estado de saúde.
Ressalta-se, ainda, a
construção e a consolidação do saber próprio da enfermagem para se desenvolver,
à medida que utiliza a pesquisa como instrumento do conhecimento teórico-prático.
Portanto, a informação recolhida permite intervir de forma mais direcionada e a
inferência de DE subsidia sua prática na
integralidade no cuidado e no contexto dos transtornos do sono [4,15].
Dado o exposto, as
estratégias que podem ser utilizadas para auxiliar ou minimizar as
consequências desse problema potencial, devem desconstruir a crença de que a
forma mais eficaz de melhorar a qualidade do sono é com intervenção
farmacológica. Medidas simples e de baixo custo podem ser oferecidas através de
educação em saúde que vise estimular o autocuidado, independência e autonomia
por parte dos idosos, conduzindo orientações relativas às medidas de higiene do
sono, favorecidas por tecnologias que viabilizem a disseminação de informações
e aprendizagem significativas, como hipermídias, jogos, álbuns seriados e
cartilhas [16,17].
A higiene do sono se
trata da mudança de comportamentos e adequação do ambiente, a fim de favorecer
melhoria no sono, sem necessidade de medicamentos. As condutas que integram a
higiene do sono perpassam pela alimentação leve antes de deitar,
o preparo do corpo e do ambiente para deitar (redução de estímulos sonoros,
visuais e luminosos, manutenção de temperatura) e a rotina estabelecida para
dormir [18].
Outra forma de estimular
o sono é incentivar a prática de atividades físicas, a fim de possibilitar o
idoso a ser fisicamente ativo e evitar a sonolência diurna. As estratégias de
inserção em grupos que desenvolvam atividades visando o restabelecimento de uma
rotina na vida do idoso podem contribuir para melhoria do padrão de sono, por
meio da regulação do ciclo circadiano. Contudo, a escolha dessas atividades
deve ser feita pelos próprios idosos, com o intuito de possibilitar a adesão à
sua prática, proporcionando ocupação do tempo livre por uma ação prazerosa e
saudável [3].
Outra medida que pode
ser considerada é utilização de tampões de ouvidos, máscara de olhos,
relaxamento muscular, treinamento de postura e relaxamento, produção sonora.
Ainda assim, a música demonstrou-se como um forte aliado para melhoria do
padrão de sono, por reduzir ou controlar o estresse e promover o conforto ao
atenuar a resposta neuroendócrina do estresse, com consequente diminuição da
frequência cardíaca, pressão arterial e frequência respiratória [18-21].
De acordo com a Nursing Intervention Classification, as intervenções de enfermagem podem
incluir: orientar o idoso a registrar o padrão do sono e quantidade de horas
dormidas; Identificar e reduzir estressores ambientais; Orientar as mudanças no
estilo de vida; Conversar com o paciente e a família sobre técnicas que
melhorem o sono (medidas de conforto, massagem, posicionamento e toque
afetivo); Ensinar ao paciente técnica de relaxamento ou outras formas não
farmacológicas de indução do sono; Encorajar uma rotina durante a noite
facilitando a transição do estado de alerta ao estado de sono; Reduzir os
ruídos evitando luminosidade e sons eletrônicos; Estabelecer rotinas
previsíveis para promover os ciclos regulares de sono/vigília; Auxiliar o
paciente a limitar o sono durante o dia oferecendo atividades que promovam o
estado de vigília, conforme apropriado; Explicar a importância do sono
adequado; Determinar os efeitos dos medicamentos do paciente sobre o padrão do
sono; Orientar adaptação do ambiente (p. ex., iluminação, ruído, temperatura,
colchão e cama) para promover o sono; Monitorar a ingestão de alimentos e as
bebidas na hora de dormir em busca de itens que facilitem o sono ou interfiram
nele; Iniciar/implementar medidas de conforto, como: Oferecer folhetos com
informações sobre técnicas para melhorar o sono [22].
Os achados neste estudo
identificaram a alta prevalência dos DE referentes aos distúrbios do sono,
principalmente a insônia, comprometendo o início e a manutenção do ciclo
circadiano, evidenciando a presença da ansiedade e a sonolência diurna.
Considera-se o papel da
enfermagem de suma importância para o levantamento dos principais problemas
referente ao sono e repouso entre as pessoas idosas, para que o processo de
enfermagem possa ser implementado visando garantir a individualização e a
integralidade do cuidado, favorecendo o autocuidado, a independência e
autonomia por parte dos idosos.
Sugere-se a realização
de estudos científicos que analisem os DE e seus determinantes, bem como
analisem a eficácia das intervenções de enfermagem na melhoria da qualidade do
sono de pessoas idosas e espera-se que esforços sejam direcionados nos diversos
âmbitos de atenção à saúde para o atendimento das reais necessidades das
pessoas idosas, com ações que diminuam ou previnam os problemas relacionadas ao
sono e repouso, tendo em vista a sua importância para qualidade de vida.