ARTIGO
ORIGINAL
Conhecimentos,
atitudes e práticas sobre cirurgia segura entre profissionais do bloco
operatório
Emanuela Batista
Ferreira e Pereira, D.Sc.*, Priscilla Renata do
Nascimento Gomes Brito**, Ranna Carinny
Gonçalves Ferreira**, Fernanda da Mata Vasconcelos Silva***, Vânia Chagas da
Costa, M.Sc.****, Marília Perrelli
Valença, D.Sc.*****
*Enfermeira,
Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG)
da Universidade de Pernambuco (UPE), Recife/PE, **Acadêmica de Enfermagem pela
Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG) da Universidade de
Pernambuco (UPE), Recife/PE, ***Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem pela Universidade de
Pernambuco, Recife/PE, ****Enfermeira, Professora Assistente da Faculdade de
Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG) da Universidade de Pernambuco
(UPE), Recife/PE, *****Enfermeira, Professora Assistente da Faculdade de
Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG) da Universidade de Pernambuco
(UPE), Recife/PE
Recebido em 26 de março
de 2019; aceito 3 de abril de 2019.
Correspondência: Emanuela Batista
Ferreira e Pereira, Rua Arnóbio Marquês, 310 Santo
Amaro 50100-130 Recife PE
Emanuela Batista
Ferreira e Pereira: emanuela.pereira@upe.br
Priscilla Renata do
Nascimento Gomes Brito: priscillarenata12@gmail.com
Ranna Carinny
Gonçalves Ferreira: carinny97@gmail.com
Fernanda da Mata
Vasconcelos Silva: nandadamata34@gmail.com
Vânia Chagas da Costa:
vania.costa@upe.br
Marília Perrelli Valença: marilia.perrelli@upe.br
Resumo
Introdução: A temática da
cirurgia segura é relevante para a prevenção de erros relacionados à
assistência à saúde e deve ser sempre valorizada e motivo de atenção dos
profissionais do bloco operatório. Objetivo:
Identificar o conhecimento, atitudes e práticas da equipe multidisciplinar do
bloco operatório sobre cirurgia segura baseada no uso da lista de verificação. Métodos: Trata-se de um estudo
transversal, de característica descritiva, desenvolvido a partir do inquérito
denominado CAP (Conhecimentos, Atitudes e Práticas em saúde), com análise
quantitativa dos dados. A amostra foi composta por 117 profissionais, entre
médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, que atuam no bloco operatório de
três hospitais da cidade de Recife/PE. Os dados foram coletados por meio de um
formulário semiestruturado. Resultados:
O conhecimento, atitudes e práticas dos profissionais foram semelhantes nos
três hospitais estudados, que apresentaram bons resultados, apesar do hospital
C apresentar resultados inferiores aos hospitais A e B. Conclusão: Os profissionais dos hospitais analisados
apresentaram-se de forma positiva quanto à compreensão e importância da
cirurgia segura, porém observou-se uma omissão por parte de alguns
profissionais do nível técnico quanto a algumas questões sobre o protocolo,
apresentando a necessidade de uma capacitação profissional e abrangência do
conhecimento sobre o tema.
Palavras-chave: segurança do
paciente, prática profissional, centros cirúrgicos, conhecimento.
Abstract
Knowledge,
attitudes and practices on safe surgery among professionals of the surgical
block
Introduction:
The theme of safe surgery is relevant to the prevention of errors related to
health care and should always be valued and reason of attention of professionals
of the surgery block. Objective: To
identify the knowledge, attitudes and practices of the multidisciplinary team
of surgery block about safe surgery based on the use of the checklist. Methods: This was a cross-sectional and
descriptive study, developed from the investigation called CAP (Knowledge,
Attitudes and Practices in health), with quantitative analysis of data. The
sample was composed of 117 professionals, including physicians, nurses and
nursing technicians working in the block period of 3 hospitals in the city of
Recife/PE. Data were collected through a semi-structured form. Results: The knowledge, attitudes and
practices of professionals were similar among the three hospitals investigated.
It showed good results, in spite of the hospital C presents inferior results to
hospitals A and B. Conclusion: The
professionals of the hospitals analyzed presented positively regarding the
understanding and the importance of safe surgery; however, there was an
omission on the part of some professionals of technical level regarding some
questions about the protocol, showing the need for professional training and
breadth of knowledge on the subject.
Key-words: patient
safety, professional practice, surgical centers, knowledge.
Resumen
Conocimientos, actitudes
y prácticas acerca de la cirugía segura entre los profesionales del bloque quirúrgico
Introducción: El tema de la cirugía segura es relevante para la
prevención de errores
relacionados con el cuidado
de la salud y siempre debe ser valorada y
motivo de atención de profesionales
del bloque quirúrgico. Objetivo: Identificar los conocimientos, actitudes y prácticas del equipo multidisciplinario de
bloque quirúrgico acerca de la
cirugía segura basada en la utilización
de la lista. Métodos: Este fue
un estudio transversal, descriptivo, característicos de la
investigación desarrollada llamado CAP (Conocimientos, actitudes y Prácticas en salud), con
el análisis cuantitativo de los datos. La muestra se compone de 117 profesionales,
entre ellos médicos, enfermeras
y técnicos que trabajan en el período de bloqueo de tres hospitales en la ciudad
de Recife/PE. Los datos fueron
recolectados a través de un
formulario semi-estructurado.
Resultados: Los conocimientos,
actitudes y prácticas de los profesionales fueron similares entre los tres hospitales investigados, que
mostró buenos resultados, a
pesar de que el hospital C presenta resultados
inferiores a los hospitales
A y B. Conclusión:
Los profesionales de los hospitales analizados presentaron positivamente con respecto a la comprensión
y la importancia de la seguridad de la cirugía, sin
embargo, hubo una omisión
por parte de algunos profesionales
de nivel técnico acerca de algunas
preguntas en el protocolo,
mostrando la necesidad de la formación profesional
y la amplitud de los conocimientos acerca de este
tema.
Palabras-clave: seguridad
del paciente, práctica profesional, centros quirúrgicos,
conocimiento.
Na
atenção à saúde, a
segurança do paciente surge como uma regra básica para um
cuidado de qualidade.
De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC)
n°. 36 de 22 de julho de
2013 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), Segurança do
Paciente é “a redução, a um mínimo
aceitável, do risco de dano desnecessário
associado à atenção à saúde”
[1]. A essência para a segurança está voltada para
uma assistência livre de danos, mas é cada vez mais
constante a ocorrência de
erros relacionados ao cuidado prestado aos pacientes [2].
No que diz respeito à
segurança da assistência cirúrgica, trata-se de uma prática que foi
aperfeiçoada, concomitante ao aumento da realização de tratamentos complexos na
área da saúde. Porém, esses avanços aumentaram também as possibilidades de
ocorrência de erros que podem resultar em dano para o paciente, levando à
incapacidade ou morte [2,3].
As falhas na segurança
cirúrgica são reconhecidas como um problema de saúde pública. Nos países em
desenvolvimento, a deficiência no sistema é agravada pela infraestrutura e
equipamentos em situação precária, falhas na administração das organizações e
no controle de infecções, assim como inadequações nas capacitações e
treinamento de pessoal [4].
Tendo em vista a
importância da cirurgia segura, e sua relevância para a prevenção de erros
relacionados à assistência à saúde, esta
sempre deve
ser valorizada e motivo de atenção dos profissionais do
centro cirúrgico. O
conhecimento, as atitudes e práticas (CAP) relacionadas a esses
profissionais
permitem a compreensão do perfil de atuação de
cada um neste setor como papel
determinante, pois atuam nas ações de
promoção, proteção e
recuperação de saúde
dos pacientes cirúrgicos e devem garantir a segurança do
paciente, reduzindo
riscos e danos desnecessários, evitando a ocorrência de
incidentes e eventos
adversos [5].
O inquérito CAP é um
método de avaliação formativa que mapeia certa população e analisa a elaboração
de possíveis intervenções. Consiste na mensuração dos conhecimentos da
população estudada, das crenças e opiniões, que seriam as atitudes; e como as
pessoas atuam, ou seja, a prática sobre um tema pré-determinado [6].
Este estudo
justifica-se devido à necessidade de investigação sobre o tema, a fim de que as
instituições de saúde e os profissionais de assistência à saúde tenham
conhecimento da importância da utilização de protocolos e da prestação de
cuidado seguro e humanizado, garantindo excelência dos resultados.
O objetivo do estudo é
identificar o conhecimento, atitudes e práticas da equipe multidisciplinar do
bloco operatório sobre o protocolo de cirurgia segura baseado no uso da lista
de verificação.
Trata-se de um estudo
transversal, de característica descritiva, desenvolvido a partir do inquérito
CAP com análise quantitativa dos dados. O estudo investigou o conhecimento,
atitudes e práticas da equipe multidisciplinar relacionada à cirurgia segura.
O estudo foi
desenvolvido nos blocos operatórios de três hospitais de referência na cidade
do Recife/PE, voltados tanto para a assistência como na formação de recursos
humanos em saúde, em nível de graduação, pós-graduação e de pesquisa.
A amostra foi do tipo
não probabilística, com amostragem por adesão, constituída de 117
profissionais. Para o cálculo amostral, constituiu-se o conhecimento destes
profissionais acerca do protocolo de cirurgia segura, avaliando seu
conhecimento por meio de questões na Escala de Likert
e perguntas abertas. Os critérios de inclusão foram os profissionais de saúde
(médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem) do bloco operatório com no
mínimo 3 meses de atuação.
Os dados dos
participantes do estudo foram coletados usando um questionário semiestruturado autoadministrado distribuído como cópias impressas pelas
pesquisadoras. O período de coleta foi de outubro a novembro de 2018. A coleta
de dados ocorreu diariamente, com abordagem do profissional no bloco operatório
ou nas salas em comum (vestiários, copas, descanso etc),
sendo explicado o objetivo do estudo e fornecido o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) para que o questionário fosse preenchido anonimamente. As
respostas dos participantes do estudo foram tratadas confidencialmente. Um teste
piloto foi realizado em um dos hospitais inicialmente para garantir a
praticidade e validade em questões e interpretação das respostas. Após esta
etapa, algumas perguntas de difícil compreensão tiveram que ser revisadas para
maior clareza ou excluídas conforme apropriado.
Os dados foram
analisados descritivamente através de frequências absolutas e percentuais para
as variáveis categóricas e das medidas: média, desvio padrão, mediana e
percentis para as variáveis numéricas. Para avaliar diferença entre hospitais
ou associação entre duas variáveis categóricas foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson ou o teste Exato de Fisher quando a
condição para utilização do teste Qui-quadrado não
foi verificada e para a comparação entre categorias em relação a variáveis
numéricas foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis. A
escolha do teste de Kruskal-Wallis foi devido à
ausência de normalidade dos dados em pelo menos uma das categorias e a
verificação da normalidade foi através do teste de Shapiro-Wilk.
A margem de erro utilizada na decisão dos testes estatísticos foi de 5%. Os
dados foram digitados na planilha EXCEL e o programa utilizado para obtenção
dos cálculos estatísticos foi o IBM SPSS na versão 23 [7,8].
A pesquisa foi
registrada na Plataforma Brasil e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
Instituição, com o CAAE número 93386918.2.0000.5207.
Em relação à
característica da amostra, o menor percentual de participação correspondeu aos
participantes que atuavam no hospital B com 25,6% e os percentuais dos que
atuavam no hospital A e hospital C variaram de 36,8% a 37,6%; a maioria (58,1%)
era do sexo feminino. A idade dos pesquisados variou de 24 a 72 anos, teve
média de 39,68 anos, desvio padrão de 11,14 anos e mediana de 39 anos; a média
e mediana do tempo de formação foram 13,92 e 11 anos e a variabilidade foi
elevada (desvio padrão superior à metade da média correspondente); em relação
ao tempo de atuação, as estatísticas foram 10,16 e 6,00 anos e a variabilidade
foi bem elevada (desvio padrão superior à média). O maior percentual (49,6%) de
pesquisados eram médicos, seguida de técnicos de enfermagem (34,2%) e o (16,2%)
restante de enfermeiros; a maioria (71,8%) possuía alguma especialização, desse
valor 67,5% tinham curso Especialização/Residência e 4,3% tinha curso de
Doutorado (Tabela I).
Tabela I – Característica da amostra. Recife, 2018.
(*) Diferença
significativa a 5% ;(1) Através do teste Exato de Fisher; (2) Através do teste Qui-quadrado de Pearson.
A tabela II descreve a
avaliação das variáveis sobre o CAP das etapas antes da indução anestésica. Em
relação ao conhecimento sobre o protocolo da cirurgia, é possível observar que
a maioria expressiva (94,9%) afirmou conhecer o protocolo de cirurgia segura.
Analisando tal questão entre os hospitais, houve diferença significativa (p
< 0,05) sobre os que afirmaram conhecer o protocolo de cirurgia segura,
sendo entre os profissionais do hospital C (88,6%) e variando de 96,7% a 100%
nos outros dois serviços. Com exceção de dois participantes, todos os demais
(98,3%) citaram haver alguma forma de identificação do paciente. Sobre o número
de elementos identificadores na pulseira de identificação do paciente, os
valores mais frequentes foram: 4, 3 e 2 elementos com 36,8%, 35,0% e 18,8%
respectivamente. Questionados se há preocupação com a retirada de adornos, a
maioria (68,4%) respondeu “Sempre”, sendo mais elevado entre os participantes
do hospital B (93,3%) seguido do hospital A (74,4%) e hospital C (45,5%).
Ainda
sobre a tabela
II, na questão “Há checagem do consentimento
informado?”, o percentual que
responderam “Sempre” foi menor no grupo do Hospital C
(40,9%) e variou de 66,7%
a 76,7%, enquanto o percentual dos que responderam “Muitas
vezes” foi pequeno
entre os participantes do hospital A (14,3%), seguido no grupo do
hospital B
(20,0%) e 29,5% no hospital C, o percentual dos que responderam
“Raramente
acontece” foi menor entre os participantes do hospital B (3,3%),
variou de
18,2% a 19,0% nos outros dois hospitais e o percentual que respondeu
“Nunca”
teve 11,4% entre os profissionais do Hospital C e foi nulo nos outros
dois hospitais.
Na questão “Há demarcação do
sítio cirúrgico quando aplicado?” as respostas
mais prevalentes foram “Sempre”, “Muitas vezes”
e “Raramente” foram citadas por
43,5%, 22,6% e 21,7% respectivamente. Sobre a questão de qual
profissional que
geralmente realiza o procedimento, o percentual que respondeu ser o
“Cirurgião/STAFF” foi mais elevado entre os
participantes do hospital A
(75,0%), seguido do Hospital B (55,6%) e menos elevado no grupo do
Hospital C
(43,2%), enquanto que o percentual dos que responderam
“Residente” foi mais
elevado no grupo do Hospital C (32,4%) variando de 11,1% a 15,0% nas
outras
duas categorias.
Tabela II – Avaliação das variáveis sobre o CAP das etapas antes da indução
anestésica. Recife, 2018.
(*) Diferença significativa
a 5%; (1) Através do teste Exato de Fisher; (2) Através do teste Qui-quadrado de Pearson.
A
tabela III demonstra
a avaliação das variáveis sobre o CAP das etapas
antes da incisão cirúrgica. Em
relação à questão “Há algum
tipo de confirmação dos dados do paciente e o local
da incisão antes da cirurgia?”, a resposta
“Sempre” foi citada pela maioria do
grupo (63,2%), seguida de “Muitas vezes” (17,1%) e o
restante respondeu
“Raramente” (11,1%) e “Nunca” (8,5%). Sobre a
padronização de profilaxia
antimicrobiana no serviço, o percentual que citou
“Sempre” foi mais elevado no
grupo do Hospital B (90,0%), seguido do Hospital A (67,4%) e foi menos
elevado
no Hospital C (48,8%) enquanto que o percentual dos que responderam
“Muitas
vezes” foi menos elevado no Hospital B (10,0%), mais elevado no
Hospital C
(39,5%) e foi 20,9% no Hospital A. Sobre a checagem da validade da
esterilização dos instrumentais, as respostas mais
prevalentes foram: “Sempre”
(72,6%) e “Muitas vezes” (17,9%). A maioria respondeu que
“Sempre” (70,9%) há
checagem de equipamentos da sala operatória, sendo o percentual
mais elevado no
grupo do hospital B (90%), seguido do hospital A (74,4%) e hospital C
(54,5%),
enquanto que o percentual dos que responderam “Muitas
vezes” foi menos elevado
no Hospital B (10,0%) e variou de 20,9% a 38,6% nos outros dois
hospitais.
Quanto à questão “Há checagem das imagens
essenciais e dos exames relacionadas
à cirurgia?”, as respostas sempre e muitas vezes foram
citadas por 72,4% e
24,1% respectivamente.
Tabela
III – Avaliação das variáveis sobre o CAP das
etapas antes da incisão cirúrgica. Recife, 2018.
(*) Diferença
significativa a 5%; (1) Através do teste Exato de Fisher; (2) Através do teste Qui-quadrado de Pearson.
A
tabela IV evidencia a
avaliação das variáveis sobre o CAP nas etapas
antes do paciente sair da sala
de operação. Na questão “Há contagem
de instrumentais cirúrgicos?” as respostas
“Sempre” e “Muitas vezes” no total foram 69,2%
e 22,2% respectivamente, no qual
o percentual que citou “Sempre” foi mais elevado no grupo
do hospital B (93,3%)
e variou de 58,1 a 63,6% nos outros dois hospitais. A maioria (89,7%)
respondeu
“Sempre” na questão “A
identificação das amostras patológicas é
realizada?”.
Tabela IV – Avaliação das variáveis sobre o CAP das etapas antes do paciente sair
da sala de operação. Recife, 2018.
(*) Diferença
significativa a 5%; (1) Através do teste Exato de Fisher; (2) Através do teste Qui-quadrado de Pearson.
Em uma análise
comparativa dos 117 profissionais que participaram da pesquisa, houve
predominância do sexo feminino nos três hospitais locais de estudo. Essa
prerrogativa pode ser explicada devido à escassez do sexo masculino na equipe
de enfermagem, sendo uma profissão que ainda predomina o sexo feminino, e ao
constante crescimento de mulheres exercendo a medicina no país [9,10].
De acordo com o
Ministério da Saúde, para assegurar que todos os pacientes sejam corretamente
identificados, é necessário usar, pelo menos, dois identificadores em pulseira
branca, colocada no membro superior direito. Analisando as respostas dos
questionados, observou-se uma desinformação do hospital B e C por parte de
alguns profissionais, que asseguraram que haveria de 0 a 1 elemento
identificador na pulseira, fato que vai de desencontro aos protocolos de
segurança do paciente [11].
De modo geral, os três
hospitais avaliaram de forma positiva a retirada de adornos, trazendo um
percentual elevado da prática de diminuição do risco de infecção, do
conhecimento dos protocolos e, consequentemente, de uma cirurgia mais segura
[12].
De acordo com a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), ao se paramentar, o profissional que
participar do procedimento cirúrgico deve remover todos os adornos, antes de
iniciar a degermação ou a antissepsia cirúrgica das
mãos [13]. Na pesquisa, o hospital C, que tem uma média de 700 cirurgias por
mês [14], trouxe uma porcentagem elevada de respostas negativas quanto à
retirada dos objetos pessoais. Este fato é importante, devido ao alto risco de
infecções associadas à quantidade elevada de cirurgias, que muitas vezes são de
urgência; trazendo uma preocupação com o conhecimento, as atitudes e a prática
destes profissionais acerca dos protocolos de segurança do paciente.
Outra questão trata-se
da demarcação do sítio cirúrgico. Esta demarcação é fundamental em casos de
lateralidade (distinção entre direita e esquerda), estruturas múltiplas (dedos
das mãos e dos pés, costelas) e níveis múltiplos (coluna vertebral). Os
hospitais A e C possuem como principal especialização cirurgias gerais,
traumatológicas e ortopédicas, que demandam uma demarcação de lateralidade como
forma de prevenir erros. O hospital B, por outro lado, por se tratar de um
hospital cardiológico, a demarcação não é tão utilizada podendo explicar a
considerável negação da demarcação [15].
Dessa forma, é
importante que o checklist seja adaptado ao contexto local e possa abranger o
máximo de informações possíveis, havendo clareza e praticidade no preenchimento
[16]. A demarcação de lateralidade é realizada pelo médico membro da equipe, no
pré-operatório, com a autorização do paciente, confirmando o local da
intervenção. De acordo com os profissionais questionados, o médico
(Cirurgião/STAFF) é o principal demarcador, porém delegam aos residentes
médicos esta função por algumas vezes. Nos Hospitais A e C, alguns
profissionais citaram o técnico de enfermagem/circulante como demarcador, e os
hospitais B e C elencaram o enfermeiro, mostrando desconhecimento do protocolo
de cirurgia segura por parte de alguns profissionais [15].
A confirmação dos dados
trata-se de um processo imprescindível na prevenção de possíveis erros. Sua
verificação deve ser realizada, sempre que possível, com o próprio paciente,
acordado e consciente, através da etiquetagem e identificação do paciente
durante o processo de consentimento, devendo incluir todos os membros da equipe
que estão envolvidos na assistência ao paciente [4]. Nos hospitais estudados,
houve uma quantidade de profissionais que não acreditavam que esta prática
fosse realizada de forma efetiva em seu local de trabalho.
A padronização de
profilaxia antimicrobiana teve resultado positivo, sendo realizada nos três
hospitais, porém com menor frequência nos hospitais B e C. A profilaxia
antimicrobiana é indicada quando há riscos elevados de infecção, como em
pacientes idosos, imunodeprimidos e cirurgias de alta complexidade, devendo ser
realizada durante os últimos 60 minutos antes da incisão da pele. É importante
salientar que há outras medidas para prevenção de infecções cirúrgicas que
complementam o emprego do antibiótico durante a profilaxia, como o preparo
pré-operatório adequado e a realização de técnicas cirúrgicas assépticas
[4,17].
O manual da Organização
Mundial de Saúde retrata a importância da identificação dos itens na sala
operatória, devendo cada serviço especificar quando e qual profissional será
responsável por essas checagens. No estudo em questão, a maioria dos
entrevistados respondeu que há a verificação tanto dos instrumentais quanto dos
equipamentos da sala operatória. Porém, uma quantidade significativa do
hospital C relatou que essa prática não acontece com frequência, evidenciando o
descumprimento do que está previsto no manual [4].
Quanto à utilização da
checagem de imagens essenciais e dos exames relacionadas à cirurgia,
verificou-se em sua maioria que é uma prática realizada nos hospitais
pesquisados. O uso de exames de imagem é crucial para garantir o planejamento
adequado e a condução de muitas cirurgias, incluindo procedimentos ortopédicos,
da coluna e torácicos, e também ressecções de tumores [4].
Outro critério
importante é a realização da identificação das amostras patológicas, que a
maioria dos entrevistados respondeu que é algo que sempre acontece, havendo
apenas uma resposta indicando uma possibilidade de ser uma prática que não é
realizada. A identificação das amostras feita de maneira incorreta pode ser um
problema grave para o paciente por se tratar de um procedimento essencial no
seu tratamento. A identificação deve ser realizada por um profissional da equipe
de enfermagem que confirmará a etiquetagem correta de qualquer amostra
patológica obtida durante o procedimento, com o nome do paciente e descrição da
amostra [4,15].
O conhecimento,
atitudes e práticas (CAP) sobre o protocolo de cirurgia segura e sobre a
utilização da lista de verificação observados nos resultados desta pesquisa,
podem ser considerados equivalentes nos três hospitais, visto que a maioria das
respostas foi semelhante. Avaliar o CAP dos profissionais que atuam no Bloco
Operatório é um pré-requisito para implementar estratégias de prevenção e o
monitoramento de riscos associados à prática cirúrgica. As atitudes de cada
profissional estão diretamente ligadas à cultura da instituição da qual fazem
parte [18].
O estudo propiciou
avaliar o conhecimento dos profissionais e suas atitudes diante do protocolo de
cirurgia segura e do checklist, de forma a considerar sua opinião a respeito do
tema. Como visto no estudo, a maioria dos profissionais questionados conhece o
protocolo de cirurgia segura e considera sua aplicação algo importante para o
melhor funcionamento da assistência ao paciente.
Porém, foi observado
que a maioria dos técnicos de enfermagem dos três hospitais era omisso quando
se tratava do questionário, marcando “sempre” por diversas situações, diferente
dos profissionais médicos e enfermeiros, que mostravam uma base de conhecimento
maior sobre o tema, apesar de alguns não responderem de maneira satisfatória. O
que pode ser questionado é se esta não participação/omissão está atrelada à
falta de conhecimento ou receio por não conhecer meios de pesquisa, esta feita basicamente por profissionais do nível superior.
O número reduzido de estudos sobre o tema também foi um empecilho na elaboração
da discussão. Faz-se necessário um maior aprofundamento sobre esta problemática a fim de uma melhor discussão sobre o
tema.
Parcerias com o Núcleo
de Segurança do Paciente (NSP) e com a Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH) da instituição de estudo são consideradas boas estratégias
para aprimorar conhecimentos e sanar dúvidas sobre a segurança do paciente.