ARTIGO ORIGINAL
Envelhecer cantando:
música como possibilidade para promover a saúde do idoso
Jeane Barros de Souza, D.Sc.*, Juliana Praxedes Campagnoni**, Ricardo Demeneck
Reinaldo***, Ângela Urio****, Simone dos Santos
Pereira Barbosa*****, Emanuelly Luize
Martins*****, Ivonete Terezinha S. Buss Heidemann, D.Sc.******, Kátia Lilian Sedrez Celich, D.Sc.*******
*Enfermeira, Professora
Adjunta da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó/SC,
**Enfermeira, Especialista em Saúde da Família e Enfermagem do Trabalho,
Professora Substituta da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS),
Chapecó/SC, ***Acadêmico de Enfermagem, Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS), Chapecó/SC, ****Enfermeira, Residente em Obstetrícia, Hospital
Universitário, Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD),
*****Acadêmica de Enfermagem, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS),
Chapecó/SC, ******Enfermeira, Professora Associada do Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Florianópolis/ SC,
*******Enfermeira, Professora Adjunta da Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS), Chapecó/SC
Recebido em 9 de junho
de 2019; aceito em 6 de novembro de 2019.
Correspondência: Ângela Urio, Rua Kesayoshi Anze, 361/03, Altos do Indáia 79823-663 Dourados MS
Jeane Barros de Souza:
jeanebarros18@gmail.com
Juliana Praxedes Campagnoni:
ju_campagnoni@hotmail.com
Ricardo Demeneck Reinaldo: ricardodemeneck@gmail.com
Ângela Urio: ange.urio@hotmail.com
Simone dos Santos
Pereira Barbosa: mone.96@hotmail.com
Emanuelly Luize
Martins: emanuelly__martins@hotmail.com
Ivonete Terezinha S.
Buss Heidemann: ivoneteheideman@gmail.com.br
Kátia Lilian Sedrez Celich:
katia.celich@uffs.edu.br
Resumo
Introdução: O envelhecimento
compreende muito além da elevação da faixa etária, sendo considerado um estágio
de mudanças no estilo de vida, tornando-se necessário promover a saúde dos
idosos. Objetivo: Compreender as percepções dos idosos, que praticam o
canto coral, sobre a utilização da música para promover a saúde na terceira
idade. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo com abordagem
qualitativa. Contou-se com a participação de 15 idosos, integrantes de um coral
catarinense. A coleta dos dados ocorreu em setembro de 2018, por meio do grupo
focal. Os dados foram transcritos e posteriormente organizados e analisados
conforme análise de conteúdo. Resultados: Os idosos conceituam saúde
para além da ausência de doença, relacionando com qualidade de vida, bem-estar
físico, mental, social e espiritual. Para os idosos, a música possibilita
interação social, bem-estar, aprendizado, desenvolvimento da memória e desperta
emoções. Conclusão: Ficou evidente que a utilização da música, por meio
do canto coral, é capaz de promover a saúde da população idosa de forma lúdica,
prazerosa, podendo ser também empregada para outros públicos da comunidade por
ser uma atividade de baixo custo.
Palavras-chave: envelhecimento,
música, promoção da saúde, saúde do idoso.
Abstract
Aging singing: music as a possibility to promote the health of the
elderly
Introduction: Aging goes well beyond raising the age group, and is considered a
stage of lifestyle changes, making it necessary to promote the health of the
elderly. Objective: To understand the perceptions of the elderly, who
practice choral singing, on the use of music to promote health in the elderly. Methods:
This is a descriptive study with a qualitative approach. It was attended by 15
elderly people, members of a Santa Catarina choir. Data collection took place
in September 2018, through the focus group. The data were transcribed and later
organized and analyzed according to content analysis. Results: The
elderly conceptualize health beyond the absence of disease, relating to quality
of life, physical, mental, social and spiritual well-being. For the elderly,
music enables social interaction, well-being, learning, memory development and
arouses emotions. Conclusion: It was evident that the use of music,
through choral singing, is able to promote the health of the elderly population
in a playful and pleasurable way, and it can also be used for other community
audiences as it is a low cost activity.
Keywords: aging, music, health promotion, health of the elderly.
Resumen
Envejecer cantando: música como posibilidad para promover la salud del anciano
Introducción: El envejecimiento comprende mucho más allá de la elevación del
grupo de edad, siendo
considerado una etapa de cambios en
el estilo de vida, haciéndose
necesario promover la salud de los ancianos.
Objetivo: Comprender las
percepciones de los ancianos,
que practican el canto
coral, sobre la utilización
de la música para promover la
salud en la tercera edad.
Métodos: Se trata de un estudio
descriptivo con enfoque cualitativo. Se contó con la participación
de 15 ancianos, integrantes de un
coral de Santa Catarina. La recolección de datos ocurrió en
septiembre de 2018, a través del
grupo focal. Los datos fueron
transcritos y posteriormente organizados y analizados
conforme análisis de contenido.
Resultados: Los ancianos conceptúan
salud más allá de la ausencia de enfermedad, relacionando con calidad de vida, bienestar
físico, mental, social y espiritual. Para los ancianos, la música posibilita interacción social, bienestar, aprendizaje, desarrollo de la memoria y despierta emociones. Conclusión:
Es evidente que la utilización
de la música, por medio del canto coral, es capaz de promover la
salud de la población anciana de forma
lúdica, placentera, pudiendo
ser también empleada para otros públicos de la comunidad por ser una actividad
de bajo costo.
Palabras-clave: envejecimiento, música, promoción
de la salud, salud del anciano.
O envelhecimento traz
consigo importantes alterações estruturais nas relações sociais e algumas
limitações que naturalmente decorrem deste processo. No Brasil, o índice de
crescimento da população idosa é considerado o maior dentre as faixas etárias,
pois segundo projeções demográficas do IBGE, de 2010 até 2025, haverá um
aumento de 19,6 milhões para 66,6 milhões, caracterizando crescimento de 239,0%
deste público [1]. O envelhecimento compreende muito além da elevação etária
populacional, sendo considerado um estágio em que ocorrem significativas
alterações no estilo de vida dos indivíduos e de sua estrutura familiar,
suscitando a necessidade de discussões acerca de políticas públicas eficazes
para a garantia dos direitos básicos e da intensificação do acesso à saúde,
lazer, educação e serviços públicos acessíveis para o envelhecer saudável,
necessitando ampliar ações para promover a saúde deste público.
A promoção da saúde vai
além do repasse de informações do profissional para o indivíduo, pois procura
incentivar e facilitar as ações, ampliando a participação das pessoas no controle
do processo saúde-doença, por meio de sua atuação sobre os fatores
condicionantes que podem afetar sua saúde e, consequentemente, sua qualidade de
vida [2], principalmente no envelhecimento, em que ocorre o aumento de riscos
para o desenvolvimento de vulnerabilidade de natureza biológica ou individual,
socioeconômica e psicossocial [3].
Existem diversas
possibilidades para promover a saúde dos idosos, sendo uma delas a utilização
da música, que pode ser empregada como ferramenta de humanização aliada ao
cuidado de enfermagem pela aproximação e exercício de comunicação e expressão
individual ou coletiva, sendo eficiente na diminuição dos níveis de ansiedade,
podendo proporcionar conforto por meio do estímulo das lembranças e reafirmação
de laços afetivos sociais [4].
A música é uma arte e
pode ser expressa de diversas maneiras, sendo que a prática do canto coral é
uma alternativa de utilizá-la, o que possibilita o desenvolvimento e superação
das limitações que naturalmente decorrem do processo de envelhecimento,
oportunizando também momentos de lazer, de maior sociabilidade, o despertar de
emoções, desinibição e proporciona o trabalho em equipe, promovendo evolução
nas capacidades de organização e sincronia, diversão e autoconfiança dos membros
participantes da atividade [5]. Nesta perspectiva, despontou a questão
problema: Quais as percepções dos idosos, que praticam o canto coral, sobre a
utilização da música para promover a saúde na terceira idade?
Esta temática revela a
importância do uso de terapias alternativas na promoção da saúde, especialmente
na atuação do profissional enfermeiro no acompanhamento dos idosos, tendo em
vista que a velhice não deve ser considerada o fim da vida, mas ser apreciada
como um ciclo com características e valores singulares e que merece atenção dos
profissionais da saúde, na utilização de tecnologias criativas que proporcionem
resultados benéficos para este público crescente no Brasil. Assim, tem-se por
objetivo compreender as percepções dos idosos, que praticam o canto coral,
sobre a utilização da música para promover a saúde na terceira idade.
Este artigo provém de
um projeto de pesquisa matricial de uma universidade pública do sul do país.
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, contando com a
participação de 15 idosos que praticavam o canto coral, em um município do
litoral catarinense, com idade entre 63 e 81 anos, sendo 10 mulheres e 5
homens. É importante destacar que neste coral havia aproximadamente 72
coralistas, sendo 23 componentes com idade acima de 60 anos.
Em um dia previamente
agendado, no segundo semestre de 2018, contando com o apoio da equipe
organizadora do coral, os idosos foram convidados a participar de uma reunião,
no próprio local e horário habitual de ensaio, para facilitar o comparecimento
de todos. Nesta reunião, os pesquisadores esclareceram os objetivos e a
metodologia da pesquisa, e os idosos assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), aceitando participar voluntariamente do estudo e juntos
verificaram um melhor local e horário para realizar a coleta dos dados. Os
participantes foram esclarecidos sobre a utilização das imagens e gravações no
decorrer da pesquisa, autorizando o uso através da assinatura do TCLE.
Os idosos optaram em
realizar a coleta dos dados na mesma semana e no mesmo local, após o horário de
ensaio do coral. Os critérios de inclusão para participar da pesquisa
contemplaram os coralistas idosos com idade igual ou superior a 60 anos e como
critérios de exclusão, foram desconsiderados os idosos que não participavam
regularmente dos ensaios e apresentações. Como o número de idosos que atendia
os critérios de inclusão e exclusão era superior a 15, foi realizado um
sorteio, porque todos demonstraram interesse e disposição em integrar o estudo.
Para garantir o sigilo
e o anonimato, optou-se em denominar os participantes da pesquisa por nomes de
cantores famosos do passado, que entoaram músicas que marcaram suas trajetórias
de vida. A pesquisa seguiu os preceitos da Resolução do Conselho Nacional de
Saúde/MS nº 466/12, e só iniciou a coleta dos dados, após aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa de uma Universidade Federal do sul do Brasil, com
Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) número
84776718.7.0000.5564, com parecer número 2.717.236.
Dentre os métodos para
a coleta dos dados, foi utilizado o grupo focal (GF), que se constitui de um
grupo de pessoas em que o tipo de discussão é caracterizado pelo diálogo e obtenção
de dados a partir das sessões grupais, compartilhando um traço comum por meio
do relato de experiências, ocorrendo no próprio espaço de realização das
atividades do coral, por ser de fácil acesso aos participantes, sendo um lugar
tranquilo e livre de interrupções [6].
No dia proposto para a
coleta dos dados, os pesquisadores se apresentaram e esclareceram as dúvidas,
um deles atuou como coordenador com o objetivo de facilitar os debates, e os
outros observaram e auxiliaram no preparo e motivação dos idosos, nas gravações
e nas anotações no decorrer do GF. Para tanto, primeiramente foi apresentado um
vídeo com um coral cantando, a fim de motivar o início das discussões. A partir
de então, utilizou-se um guia de temas, favorecendo a condução do trabalho
grupal ao encontro dos objetivos da pesquisa, contando com temáticas que
abordavam sobre o conceito de saúde, os benefícios da música e do canto coral e
as possibilidades para se promover a saúde.
Após
a realização do
GF, todas as falas foram transcritas, organizadas e analisadas, de
acordo com a
análise de conteúdo, sendo um conjunto de técnicas
de análise das comunicações,
com intuito de obter-se, por procedimentos sistemáticos e
objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens, a
inferência de conhecimentos relativos às
condições de
produção/recepção (variáveis
inferidas) das informações [7].
A primeira etapa
constituiu-se da pré-análise, onde foi realizada a
leitura flutuante dos dados obtidos nas entrevistas, escolhendo documentos para
a constituição dos dados para serem submetidos aos procedimentos analíticos. No
segundo momento, realizou-se a exploração do material de análise, com a
organização dos dados [7], surgindo assim três categorias: “O que é saúde para
os idosos”, “Os efeitos da música na vida dos idosos” e “A importância do canto
coral na terceira idade”, que serão apresentadas e discutidas em conjunto.
A partir da declaração
de Alma-Ata, na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários da Saúde, em
1978, a saúde passou a ser considerada um conjunto de fatores que englobam o
bem-estar biopsicossocial, e não simplesmente a ausência de doença ou
enfermidade, como um direito fundamental para todos os indivíduos. Os idosos,
ao serem questionados sobre a definição de saúde, trouxeram a percepção para
além da ausência de doenças:
Saúde
é o bem-estar físico, emocional e espiritual. Quando estou bem nesses três
sentidos, eu estou em perfeita saúde. (Aracy de Almeida).
Saúde
é um estado de bem-estar da alma e do corpo. (Agnaldo Timóteo).
Saúde
é ocupar a mente com coisas saudáveis, também, uma boa leitura ou lazer, ter
qualidade de vida. (Dalva de Oliveira).
A percepção das pessoas
idosas sobre saúde extrapola as antigas concepções do modelo biomédico,
ultrapassando a definição de ausência de doença, relacionando com qualidade de
vida, bem-estar físico e mental [8]. Além disso, os idosos destacaram a
importância da saúde espiritual, que tem o potencial de trazer serenidade e
felicidade autêntica aos humanos [9].
Os idosos ainda
ressaltaram que a atividade física e alimentação adequada fazem parte da sua
concepção de saúde:
[…]
para que tenhamos uma saúde boa, nós somos responsáveis pelas nossas escolhas, nas
práticas saudáveis do nosso dia a dia requer uma boa alimentação, prática de
exercícios físicos… (Ângela Maria).
O exercício físico é
capaz de promover a saúde e melhorar a qualidade de vida dos idosos, além de
reduzir a utilização de serviços de saúde [10]. E uma alimentação balanceada em
macro e micronutrientes com a finalidade de evitar desequilíbrios nutricionais
na terceira idade, demonstra ter, também, capacidade de melhorar a qualidade de
vida e longevidade [11].
Visto de outro prisma,
a terceira idade vislumbra a independência como o objetivo de sua condição de
saúde. O envelhecer saudável é associado a busca pelo equilíbrio e a manutenção
da autonomia [12]. O conceito de saúde, interligado a independência, também foi
observado neste estudo:
Saúde
é poder ser totalmente independente em suas atividades… (Carmen Miranda).
[…]
o indivíduo, a pessoa que não tem saúde, ele tem uma vida muito limitada para
viajar, para trabalhar, depende de outras pessoas [...] (Raul Gil).
A saúde é percebida
como um item definidor da qualidade de vida para os idosos, sendo
correlacionada com as atividades de lazer desenvolvidas. O lazer pode estar
relacionado as práticas de atividades físicas, bem como ao convívio social e
também aquelas atividades realizadas solitariamente como caminhada,
hidroginástica, danças, artesanatos, passeios, leitura, conversar com amigos e
ouvir música [13], a qual está relacionada a maior tendência de satisfação
entre os idosos por favorecer o relacionamento entre as pessoas, fazendo com
que interajam com o meio [14].
Nessa perspectiva,
faz-se um liame entre saúde e música, sendo percebida como algo benéfico,
conforme os relatos dos idosos:
A
música melhora a saúde nas suas maneiras e meios: cantando, ouvindo, dançando…
(Carmen Miranda).
[...]
a música pode melhorar a saúde das pessoas, porque a música é como se fosse uma
dose de remédio para a alma e corpo. (Agnaldo Timóteo).
Com
a música metade do tratamento de saúde está feito. (Elizeth Cardoso).
Constata-se, ainda, que
a música pode ser utilizada como instrumento para promover e reabilitar a saúde
de outros indivíduos:
Creio
que a música pode melhorar a saúde das pessoas, sim, pela mensagem que
transmitimos do conteúdo da letra, ritmo e pela expressão de quem canta. [...]
A música cura… (Nelson Gonçalves).
Eu
acho que faz muito bem cantar para uma pessoa doente [...] Muitas vezes, eu fui
fazer uma visita a um doente e cantando uma música nós vimos que a pessoa fica
mais feliz, mais animada, mais esperançosa. (Adoniran Barbosa).
[…]
a música pode ajudar e muito as pessoas. A gente vê nesses hospitais quando as
pessoas recebem alguém que canta como elas ficam felizes, como elas se animam…
se sentem amadas. (Aracy de Almeida).
De fato, o uso da
música traz resultados como o bem-estar físico e emocional, tais como:
diminuição de dores, náuseas, insônia, tensão emocional, e, consequentemente,
melhora na recuperação do bom-humor, relaxamento e bem-estar geral [15]. Além
dessa perspectiva, a música, como recurso subjetivo do indivíduo, causa
expressões/impressões de ideias, sentimentos, valores; instiga a comunicação
interna (consigo mesmo) e com os outros; traz gratificação pessoal e
autorrealização, sendo também um recurso de organização e reconstrução dos
pensamentos e saberes [16]. Esses sentimentos e percepções subjetivas também
foram citados pelos idosos:
A música nos alivia,
ela nos torna leve em todas as circunstâncias da vida. [...] Se estou triste
ela me consola, se estou alegre ela me torna leve, se estou preocupada me ajuda
pensar melhor, se preciso de palavras ou inspiração ela me traz… [...] (Dalva
de Oliveira).
A
música te faz sentir saudade… [...] a música me ajuda a tocar o barco para
frente, a continuar vivendo. (Aracy de Almeida).
A
música nos embala, nos envia para outros lugares, outros momentos… [...] A
música faz com que esqueça as coisas desagradáveis… (Carmen Miranda).
Eu
creio que a música é uma coisa muito importante na vida do indivíduo, porque
quem canta está alegre... (Moacyr Franco).
Cantar
realmente faz bem para a alma, faz bem para o intelecto… (Adoniran Barbosa).
Sentimentos positivos
surgem à medida que as músicas são introduzidas nos contextos, lembrando que a
nostalgia é um sentimento muito presente na vida do idoso, que utiliza
experiências passadas para reviver sentimentos positivos acionados por
encontros com músicas, e, assim, resgatam e compartilham emoções com os outros
[17]. Desta maneira, ao se permitir sentir pela musicalidade, o indivíduo
percebe-se mais tranquilo, com sensações de bem-estar emocional, contribuindo
para a promoção da sua saúde mental [15].
Ademais, ao analisar a
música inserida em um contexto grupal, sob a perspectiva de diversão e de
sentimentos, o encontro musical dos ensaios do coral ultrapassa o ato de apenas
apreciação, desperta também motivação hedônica, ou seja, remete ao prazer, à
felicidade que se tem ao ser experienciado [17], como observado nas seguintes
falas com relação à importância do canto coral na terceira idade:
Cantar
no coral faz bem para mim… é muito importante cantar no coral… foi para mim um
privilégio, poder usar este talento, cantar, que é uma terapia na minha vida.
(Cauby Peixoto).
[...]
participar do coral é uma realização pessoal, sinto-me muito feliz. (Dalva de
Oliveira).
[...]
então, nesse horário do ensaio do coral, o melhor local para mim é no ensaio do
coral, eu não vejo outro lugar para estar neste momento. (Adoniran Barbosa).
O canto é considerado
uma habilidade humana de complexa atividade cerebral, pois combina além da
fala, a linguagem e vários componentes musicais e acústicos [18]. Portanto, o
aprendizado musical, social e prático dos ensaios do coral permite, do ponto de
vista cognitivo, o desenvolvimento da aprendizagem sobre cantos, músicas,
desenvolvimento da memória, relações interpessoais e sobre a vida [17], como
observa-se nos relatos a seguir:
A
música me faz ter disciplina, a disciplina exige um pouco de estudo… Me faz ter mais dedicação. Está me ensinando a prestar
mais atenção. (Moacyr Franco).
Participar
do coral tem me ajudado na memória, porque preciso decorar as letras e isso é
muito bom. (Agnaldo Timóteo).
Ao escutar uma música,
o córtex auditivo lida com volume e tom, melodia, ritmo e harmonia e, além
disso, propicia os efeitos globais sobre afeto, memória, comportamento ou
atividades metabólicas [19]. Nesse contexto, fica evidente que a utilização da
música pelos idosos é importante, pois influencia no estímulo da sua memória e
no seu cognitivo.
Percebe-se, também, que
os benefícios da música por meio do canto coral vão para além da percepção
individual, sendo necessária a construção e convivência em grupo, o que requer
cotidianamente ser repensada em relação às diferenças individuais, a fim de
buscar por um equilíbrio e crescimento pessoal, contribuindo para o
fortalecimento de vínculos comunitários [16]. O espaço de sociabilidade que
converge dos ensaios do coral ressalta a importância da música para a
construção de relacionamentos, inclusive solidificando-os [17].
Nesse sentido, os
relatos a seguir mostram o quão importante são os momentos de ensaio do coral
para construção de um convívio social, desenvolvimento de amizades e
compartilhamento de sentimentos:
É
muito importante porque no coral a gente tem amigos, a gente desenvolve ali a
amizade, a socialização, brinca, ri, aprende as novas músicas. (Nelson
Gonçalves).
É
no ensaio do coral que a gente pode falar descontraído, que podemos
compartilhar as coisas e nos alegrar… a gente tem a comunhão com as pessoas, têm
a confraternização dos ensaios, as alegrias dos encontros. (Adoniran Barbosa).
[…]
no momento em que participamos do coral, é
extremamente relevante, pelas amizades, pelo convívio, pelo ajudar o outro que
às vezes chega triste, pelo compartilhar das nossas tristezas e das alegrias,
juntos. (Elza Soares).
À vista disso, o canto
coral influencia na vida de seus participantes: gera reminiscências, constrói
autoestima, contribui na qualidade de vida, proporciona prazer e satisfação
pessoal, resgata a identidade, desenvolve memória e o convívio social [5].
De fato, a música é
capaz de proporcionar diversos benefícios para a saúde e, quando utilizada por
meio do canto coral, é uma alternativa que permite a construção de novas
perspectivas de vivências e de interesses, corroborando a promoção da qualidade
de vida dos idosos [20], podendo ser uma interessante ferramenta de utilização
para a Enfermagem e demais profissionais da saúde.
A terceira idade, por
vezes, é confundida com doença e dependência, e a música pode ser uma aliada no
processo de ressignificação do envelhecimento, pois como ficou perceptível no
estudo, com o contato musical o idoso tem possibilidade de alcançar uma melhor
interação social, bem-estar geral, qualidade de vida, promovendo a sua saúde de
forma lúdica e prazerosa.
Ficou evidente que a
utilização da música, por meio do canto coral, é capaz de atuar na remodelação
do convívio social, na reconstrução subjetiva de significados e, ainda, ser
objeto de promoção da saúde para a população idosa, contribuindo na sua
qualidade de vida. Diante do exposto, torna-se importante a constituição da
parceria interdisciplinar e intersetorial para que a música seja empregada como
instrumento para promover a saúde dos idosos.
Sugere-se que os
profissionais da Enfermagem e demais profissionais da saúde utilizem-se da
música na assistência prestada aos idosos, bem como no atendimento aos demais
públicos, por ser uma atividade possível de ser empregada para diversas idades
e de baixo custo. Cabe a Enfermagem buscar possibilidades na comunidade e fazer
parcerias para atuar com a música na assistência aos idosos, bem como em
realizar pesquisas e compartilhar os resultados, a fim de qualificar o cuidado
com evidências científicas.
Fonte de financiamento
Universidade Federal da
Fronteira Sul