ARTIGO ORIGINAL
Incidência de infecção
de sítio cirúrgico em um hospital do interior de Rondônia
Pâmella Polastry
Braga Amaral*, Aline de Souza Coelho**, Thaís Araújo da Silva***, Daiany
Cristina Gil Glioli Custódio****, Orlete
Donato de Oliveira Miranda*****
*Enfermeira, Centro
Universitário São Lucas Educacional, **Enfermeira, Centro Universitário São
Lucas Educacional, Residente em Saúde da Família e da Comunidade,
***Enfermeira, Faculdade Panamericana de Ji-Paraná,
****Enfermeira, Centro Universitário São Lucas Educacional, Residente em
Urgência e Emergência, *****Enfermeira, Centro Universitário Luterano de
Ji-Paraná, Mestranda em Promoção da Saúde Desenvolvimento Humano e Sociedade /
ULBRA/RS Especialista em Gestão Hospitalar, Universidade Paulista, Especialista
em Qualidade e Segurança no cuidado ao Paciente, Instituto Sírio Libanês
Recebido em 8 de julho
de 2019; aceito em 16 de junho de 2020.
Correspondência: Aline de Souza
Coelho, Afonso Juca de Oliveira, 4689, Jardim Eldorado, 76987-092 Vilhena RO
Aline de Souza Coelho:
alinecoelho1994@gmail.com
Pâmella Polastry
Braga Amaral: pamellapolastry@gmail.com
Daiany Cristina Gil Glioli Custódio: daianycgcustodio@gmail.com
Thaís Araújo:
siatharaujo@gmail.com
Orlete Donato de Oliveira
Miranda: orletedonato@gmail.com
Resumo
As Infecções de Sítio
Cirúrgico caracterizam-se como complicações decorrentes de procedimentos que se
apresentam sempre no período pós-operatório mediato, podendo acometer tecidos,
órgão ou cavidades. O objetivo do presente estudo foi determinar a incidência
de infecção do sítio cirúrgico em um hospital municipal do interior de
Rondônia. Trata-se de um estudo quantitativo, transversal, exploratório e
descritivo, realizado com 106 pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos
eletivos, no período de agosto de 2017 a março de 2018, em uma instituição
pública do interior de Rondônia, por meio da aplicação de questionários,
levantamento de dados de prontuário e monitorização durante o oitavo e
trigésimo dia de pós-operatório, por meio de contato telefônico. A incidência
de infecção na amostra foi 7,5%; sendo os fatores de risco, etilismo, doenças
crônicas e tabagismo; todos apresentaram correlação positiva fraca à correlação
de Pearson, com exceção da escolaridade que apresentou correlação negativa
fraca. A taxa de incidência determinada por este estudo encontra-se acima do
recomendado pelas autoridades sanitárias, fazendo-se urgente a promoção de
medidas objetivando melhorar o controle de infecção e a segurança do paciente.
Palavras-chave: procedimento
cirúrgico, fatores de risco, infecção, incidência.
Abstract
Incidence of surgical site infection in a hospital in the interior of
Rondônia
Surgical
Site Infections are characterized as complications arising from procedures that
always present in the mid postoperative period, and can affect tissues, organs
or cavities. The objective of the present study was to determine the incidence
of surgical site infection in a municipal hospital in the interior of Rondônia.
This is a quantitative, transversal, exploratory and descriptive study carried
out with 106 patients submitted to elective surgical procedures, between August
2017 and March 2018, at a public institution in the interior of Rondônia, using
questionnaires, survey data collection and monitoring during the eighth and
thirtieth postoperative day, through telephone contact. The incidence of
infection in the sample was 7.5%; being the risk factors, alcoholism, chronic
diseases and smoking; all showed a weak positive correlation, with Pearson’s
correlation, except for the schooling that presented weak negative correlation.
The incidence rate determined by this study is above the recommendation by
health authorities, and it is urgent to promote measures aimed at improving
infection control and patient safety.
Keywords: surgical procedure, risk factors, infection, incidence.
Resumen
Incidencia de infección
quirúrgica en un hospital en el interior de Rondônia
Las infecciones del sitio quirúrgico
se caracterizan como complicaciones
resultantes de procedimientos que siempre
están presentes en el período postoperatorio mediato
y pueden afectar tejidos, órganos o cavidades. El
objetivo del presente estudio
fue determinar la incidencia de infección del sitio quirúrgico
en un hospital municipal en el interior de Rondônia. Este
es un estudio cuantitativo, transversal, exploratorio
y descriptivo, realizado con
106 pacientes sometidos a procedimientos quirúrgicos electivos, desde
agosto de 2017 hasta marzo de 2018, en una institución pública en el interior de Rondônia,
mediante la aplicación de cuestionarios, recopilación de datos de registros médicos y monitoreo
durante el octavo y
trigésimo día postoperatorio,
por contacto telefónico. La incidencia de infección en la
muestra fue del 7,5%; siendo los factores de riesgo, alcoholismo, enfermedades crónicas y tabaquismo; todos mostraron una correlación
positiva débil, a la correlación
de Pearson, a excepción de la
educación, que presentó una
correlación negativa débil. La tasa
de incidencia determinada por este estudio es superior a la recomendada por las
autoridades sanitarias, por lo
que es urgente promover medidas destinadas a mejorar el control de infecciones y la seguridad del
paciente.
Palabras-clave: procedimiento
quirúrgico, factores de riesgo, infección, incidencia.
O desenvolvimento de
infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), constantemente é abordado
como causa de morbimortalidade, e causam inúmeros impactos relacionados à
evolução dos pacientes submetidos a algum procedimento cirúrgico,
independentemente do objetivo da abordagem, podendo ser curativa, diagnóstica
ou preventiva [1].
As Infecções de Sítio
Cirúrgico (ISC) caracterizam-se como complicações decorrentes de procedimentos
que se apresentam sempre no período pós-operatório mediato, podendo acometer
tecidos, órgãos ou cavidades que foram abordados durante o procedimento. No
Brasil, permanecem dentre as infecções mais prevalentes em meio às IRAS [2].
Existem determinados
fatores que são identificados como de risco para o seu desencadeamento, dentre
estes fatores estão os intrínsecos relacionados ao paciente, e extrínsecos que
compreendem fatores relacionados ao procedimento cirúrgico e a abordagem
realizada [3].
Dentre todos os
procedimentos cirúrgicos que ocorrem no Brasil, cerca de 11% das cirurgias
realizadas são afetadas pela ISC. Este número pode variar na presença de
determinados fatores como o tipo de procedimento e a condição imune do
paciente. Frequentemente, essas são apontadas como a causa principal de
complicações pós-operatórias [4].
A enfermagem contribui
no controle destas, por meio de profissionais dotados de olhar crítico,
promovendo ações de controle para diminuição de sua propagação. Através da
educação continuada, os enfermeiros realizam ações que visam repassar
orientações e informações que veem a contribuir com a diminuição de tal
incidência [5].
O número de cirurgias
eletivas no Brasil vem aumentando gradualmente, sendo representado por um
crescimento de 11,7% no período de dois anos, passando de 2.120.580
procedimentos realizados em 2012 para 2.370.039 no ano de 2014. Em 2015 o
Ministério da Saúde disponibilizou cerca de R$ 143,2 milhões aos estados e
municípios para o emprego na realização de procedimentos cirúrgicos eletivos no
Sistema Único de Saúde (SUS). Para o estado de Rondônia, o valor encaminhado
foi de R$ 626.991,89 [6]. Em 2017, o valor liberado saltou para 250 milhões
distribuídos entre estados e munícipios [7].
Uma maior demanda de
procedimentos cirúrgicos sugere um aumento de possíveis pacientes com
complicações relacionados aos mesmos, dentre elas a ISC, que ocorre
frequentemente nas unidades hospitalares. Segundo a ANVISA, de todas as
infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), 14% a 16% do total
trata-se de ISC, ocupando a terceira posição em relação a todas as outras
infecções que afetam os serviços de saúde [8].
A identificação da
incidência de infeção e dos fatores de risco envolvidos no surgimento de
infecções de sítio cirúrgico possibilita cooperar com a diminuição de casos de
ISC, pois por meio das modificações nas ações tanto dos profissionais como dos
pacientes, por meio de ações de educação em saúde, pode resultar na diminuição
da incidência destes casos.
O objetivo geral do
presente estudo foi determinar a incidência de infecção do sítio cirúrgico em
um hospital municipal do interior de Rondônia.
Trata-se de um estudo
quantitativo, transversal, exploratório e descritivo de 106 pacientes
submetidos a procedimentos cirúrgicos eletivos, realizados durante o período de
agosto de 2017 a março de 2018, no hospital municipal de Ji-Paraná/RO. Os
critérios de inclusão foram pacientes submetidos à procedimentos cirúrgicos
eletivos, ambos os sexos, que aceitaram disponibilizar contato telefônico. Os
critérios de exclusão foram pacientes submetidos a procedimentos de urgência e
emergência, ou que não possuíam condições de autorizar a pesquisa, devido ao efeito
de drogas, que impossibilitassem respostas coerentes à entrevista,
procedimentos cirúrgicos classificados como infectados, reabordagem
cirúrgica e pacientes sob efeito de drogas,
O instrumento utilizado
para coleta de dados constituiu em um questionário adaptado do artigo do autor
Aguiar et al. [3]: “Fatores associados à infecção de sítio cirúrgico em um
hospital na Amazônia ocidental brasileira”. O questionário foi composto de
investigação de dados sociodemográficos, e questões relacionadas aos momentos
pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório.
Além do questionário,
foi realizada coleta de dados do prontuário para complementar as respostas dos
pacientes e de seus acompanhantes. Após esta etapa, já na alta do paciente, foi
estabelecido contato telefônico, no oitavo e trigésimo dia de pós-operatório, e
os pesquisados foram questionados a respeito de retornos hospitalares e
presença de sinais flogísticos.
O contato realizado
visava investigar a presença de alterações na ferida operatória (FO),
descrevendo suas características, e a necessidade de retorno hospitalar,
perante alguma alteração na mesma.
O presente estudo
cumpriu os preceitos éticos legais da pesquisa em seres humanos, sendo
submetido à previa apreciação ética conforme resolução 466/12 do Ministério da
Saúde. O trabalho foi aprovado através do parecer 2.195.12. Os pesquisados
foram devidamente esclarecidos em relação aos objetivos da pesquisa e
manifestaram seu consentimento por meio da assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).
Os dados coletados
foram tabulados e calculados seguindo a orientação do cálculo de incidência da
ANVISA, utilizado para determinar a taxa de incidência, analisados por método
de estatística descritiva simples e realizado correlação de Pearson.
Este estudo identificou
uma incidência de ISC de 7,5% na amostra, sendo 5,3 % entre os pesquisados do
sexo feminino e de 2,1% entre os pesquisados do sexo masculino. O perfil dos
pacientes está disposto na Tabela I.
Tabela I - Perfil
socioeconômico dos pacientes selecionados.
Fonte: Própria
Além de um breve
perfil, a pesquisa também buscou elencar outros fatores intrínsecos que podem
estar relacionados ao surgimento de ISC, para isso foram abordados tais fatores
dispostos na tabela II.
Tabela II - Presença de
fatores intrínsecos.
Fonte: Própria
Os pacientes que
relataram alguma doença crônica representam 34%, e a doença mais relatada foi a
hipertensão arterial (25%), seguida de doença renal (7%) e diabetes mellitus
(5%), fibromialgia (1%), anemia (1%), alergia crônica (1%), cefaleia crônica
(1%), hipercolesterolemia (1%), sinusite (1%), Alzheimer (1%).
Em relação aos
procedimentos pré-operatórios, 86% dos pesquisados realizaram tricotomia, 99%
tomaram banho e 100% dos pacientes permaneceram em jejum pelo menos 8 horas
antes do procedimento.
Referente à internação
pré-operatória, 95% dos pacientes foram internados no mesmo dia que foram
submetidos ao procedimento, os outros 5% permaneceram internados até dois dias
antes da cirurgia.
Todos procedimentos
cirúrgicos realizados e selecionados durante o período da pesquisa, estão
distribuídos na tabela III.
Tabela III - Classificação dos
procedimentos cirúrgicos selecionados para pesquisa.
Fonte: Própria
Referente à
classificação da American Society Anestesiologist
(ASA), foram classificados como ASA I (71%), ASA II (26%) e ASA III apenas 3%.
No pós-operatório 22%
dos pesquisados fizeram uso de sonda vesical de demora (SVD) e 15% precisaram
usar drenos tubulares ou laminares. Antibioticoprofilaxia
no pós-operatório foi detectado em 98% das prescrições.
O contato telefônico
com os pacientes no oitavo e trigésimo dia revelaram que 16% alegaram ter
retornado para realizar a retirada dos pontos, 14% afirmaram ter retornado
devido a alguma intercorrência. Quando questionados em relação aos sinais flogísticos, 17% referiram algum sinal. Já no trigésimo
dia, quando restabelecido contato, 9% ainda relataram queixas relacionadas ao
procedimento cirúrgico, sendo nesses clientes no retorno hospitalar
identificado infecção cirúrgica em 7,5% dos casos.
Os dados levantados
foram analisados estatisticamente através da correlação de Person. Os fatores
correlacionados neste método foram dispostos na tabela IV.
Tabela IV - Variáveis
aplicadas conforme a correlação de Pearson.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2018.
A incidência de
infecção foi de 7,5%, resultado inferior à média nacional (11%) [4] e superior
a outro estudo realizado na região (3,6%) [3]. Observa-se ainda que a procura
feminina foi superior à masculina, justificada em estudos os quais revelam que
homens procuram com menor frequência atendimento, deste modo, é mais frequente
a presença de mulheres nos locais designados ao cuidado da saúde do que homens
[9].
Em relação às idades
acometidas pela ISC, a faixa etária mais acometida 40-59 (63%), sendo o valor
mais significativo. Em estudo anterior aponta o processo de senescência como
fator que contribui com aumento de chances de complicações relacionadas ao ato
cirúrgico, principalmente os pacientes com idade superior a 60 anos. São as
mudanças fisiológicas caraterísticas deste processo que contribui com um risco
mais elevado [10].
As idades extremas não
foram as mais acometidas, porém a maior faixa etária afetada foi composta por
pessoas que estão aproximando-se da terceira idade, sugerindo assim que o
processo de senescência contribui com o surgimento de tal.
Seguindo com os dados
demográficos também foram analisadas as condições de moradia e escolaridade dos
indivíduos. Dentro do grupo que apresentou ISC não houve pacientes com
escolaridade maior que o ensino fundamental completo, a maioria (50%) não
completou o ensino fundamental. Os dados relatados condizem com a literatura,
uma vez que ela aponta que a baixa escolaridade, assim como níveis de condições
socioeconômicas não favoráveis tornam o paciente mais suscetível [3].
A amostra atingida pela
ISC se encaixa neste perfil de baixa escolaridade, sendo sugerível que estes
tenham maior suscetibilidade a ISC. Quando analisado estatisticamente a
variável escolaridade, encontrou-se uma correlação inversa muito fraca, que
significa quanto mais baixa a escolaridade dos indivíduos, maior o risco de
desenvolver ISC, porém, como foi uma correlação muito fraca, este elemento não
é determinante para o seu desencadeamento.
Quanto aos maus hábitos
de vida dentro do grupo que apresentou ISC, 38% dos pacientes eram etilistas e
13% eram tabagistas. Estudo anterior realizado em um hospital geral em
Fortaleza, ao analisar estas variáveis, identificaram associações
significativas, sendo representada em percentuais elevados dentro do grupo que
desenvolveu ISC, chegando a 69% em relação ao tabagismo e 35% relacionado ao
etilismo [11].
Desta forma, estes
fatores não apresentaram números tão significativos como na pesquisa anterior,
este acontecimento pode ser atribuído aos poucos pacientes que referiram tais
hábitos. Quando analisado estatisticamente, o tabagismo não possuiu valor
significativo, não estando relacionado ao surgimento de ISC.
E quanto ao etilismo
aplicado à correlação de Pearson, o resultado mostra uma correlação muito
fraca, ou seja, este hábito por si só não é capaz de resultar num processo de
ISC, porém, se relacionado a outros fatores pode ter alguma influência.
O
tabaco aumenta o
risco de infecção do sítio cirúrgico,
retarda o processo de cicatrização e
ainda tem a capacidade de aumentar as deiscências de sutura.
Sendo essenciais
orientações em relação à
suspensão do fumo no período pré-operatório
[12].
No estudo dos que
adquiriram infeções do sítio cirúrgico, 75% eram portadores de doenças
crônicas. A presença de doenças crônicas é apontada como um fator de risco para
o desencadeamento de ISC. Estudos recentes apontam a relação de doenças
sistêmicas com o surgimento de ISC no pós-operatório [13]. Esta informação
condiz com os dados encontrados e descritos em pesquisa anterior, que a maioria
dos pacientes acometidos de ISC eram portadores de alguma doença crônica.
Quando aplicada a correlação de Pearson, esta variável apresentou-se com uma
correlação fraca, ou seja, ela exerce relação com desencadeamento de ISC quando
associada a outros fatores.
Dos pacientes que
possuíam doenças crônicas dentro do grupo atingido, 50% eram pacientes
hipertensos. Quando analisado de forma proporcional, visando à amostra total
entre pacientes portadores de doenças crônicas e os não portadores de doenças
crônicas, observou-se que pacientes saudáveis representaram apenas 2,7% dos que
desenvolveram ISC enquanto pacientes que possuíam doenças crônicas apareceram
com 17,6%.
A hipertensão, além de
poder levar estes pacientes a outras morbidades, também retarda o processo de
cicatrização, favorecendo o surgimento de ISC [14]. Desta forma, os dados
relacionados a esta variável condizem com a pesquisa anterior, sugerindo que
este seja um fator que caminha concomitante com o surgimento de ISC.
Estaticamente analisada, a hipertensão arterial referiu uma correlação muito
fraca com o desencadeamento de ISC, desta forma, não sendo um fator
determinante para a mesma.
Durante a pesquisa,
também foram avaliadas medidas realizadas no período pré-operatório como o
banho e a tricotomia. Todos os pacientes pertencentes ao grupo acometidos
alegaram ter realizado banho pré-operatório.
Estudos indicam que o
banho pré-operatório pode ser uma intervenção eficiente no combate às infecções
do sítio cirúrgico, porém é indicado que ocorram dois banhos sequenciais
utilizando clorexidina 4%, para que tal medida siga eficiente [15]. Esta
intervenção não foi seguida à risca pelos pacientes que compuseram a amostra,
pois estes realizaram banho de aspersão comum. Diante destas informações, os
pacientes não se tornaram menos suscetíveis a ISC.
Todos os pacientes com
ISC relataram ter realizado tricotomia no local do procedimento, as tricotomias
relatadas pelos pacientes foram realizadas em domicílio. A tricotomia é
considerada um fator de risco para o surgimento da mesma por ocasionar
possíveis escoriações, deixando uma porta de entrada para infecção na ferida
cirúrgica, sendo indicada que haja inspeção da pele para identificar presenças
de sinais flogísticos ocasionados no momento da
tricotomia [16].
Diante destes dados
sugere-se que, ao realizar a medida de tricotomia, os pacientes colaborem de
forma inconsequente com o surgimento de ISC por serem leigos em relação a tal
medida.
Em relação ao potencial
de contaminação, dentre os pacientes afetados, 75% realizaram procedimentos
potencialmente contaminados. Quanto mais limpos os procedimentos cirúrgicos,
menos as chances de ocorrerem complicações como as infecções de sítio cirúrgico
[17].
Os resultados apontam
que esta variável está em conformidade com a referência anteriormente citada,
já que dentre os pacientes acometidos, a maioria realizou procedimentos
classificados como potencialmente contaminados, sendo sugerível que
procedimentos como estes sejam mais suscetíveis a complicações como a ISC.
Destes, 38% dos casos de ISC foram advindos do procedimento de histerectomia,
classificado como um procedimento potencialmente contaminado.
A realização de
histerectomias é frequente, uma vez que este é o procedimento ginecológico mais
realizado em todo o mundo, mesmo com os avanços tecnológicos e o surgimento de
técnicas menos invasivas e que ofertem menos riscos as pacientes, ainda é
extremante utilizada [18]. Deste modo, os resultados obtidos mostram que a
histerectomia é um procedimento muito realizado, uma vez que a maior parte da
amostra realizou este procedimento, o que pode se atribuir ao fato do mesmo ter sido o mais atingido pela ISC.
Dentre este grupo de
pacientes que desenvolveram ISC, 25% fizeram uso de dreno. O uso de dreno
representa um fator de risco, sendo caracterizado como uma porta de entrada de
microrganismos [19]. Portanto, esta variável não teve tal relevância como vista
em pesquisa anterior, neste estudo, a razão para este dado não ter sido tão
relevante pode estar relacionada a pouca quantidade da amostra que fizeram o
uso de dreno.
Outro fator avaliado foi
uso de SVD, exatos 25% dos pacientes que compõe este grupo também fizeram o uso
deste dispositivo para eliminação vesical. De acordo com publicação anterior,
este procedimento caracteriza-se como invasivo, sendo desta forma um fator de
risco para complicações cirúrgicas, dentre elas a ISC [20].
Variável esta que não
obteve grandes percentuais dentro do grupo de pacientes afetados, assim como o
dreno. Este fato pode ser atribuído a pouca quantidade de pacientes que fizeram
o uso de SVD.
Dentre os pacientes com
ISC, também foram avaliados de acordo com a classificação de ASA, considerado
um fator de risco, e 75% foram classificados como ASA II, representando a
maioria da amostra dos pacientes atingidos. Estudo antecedente afirma que o
desenvolvimento de IRAS ocorre com maior frequência em pacientes mais
debilitados, sendo considerada como um fator de risco para as
mesmas [21].
Diante destas
informações, os resultados relatados seguem os subsídios encontrados dentro da
referência anterior, logo pacientes classificados como ASA II representaram a
maioria dos pacientes afetados.
Alusivo ao uso de
profilaxia antimicrobiana, todos os pacientes que desenvolveram infecção na
ferida cirúrgica fizeram uso de antibiótico durante o pós-operatório. Estudo
anterior cita que, para uma defesa eficaz, a profilaxia antimicrobiana deve
ocorrer dentro do pré-operatório, exceto em cirurgias limpas e no período
pós-operatório nas primeiras 24 horas, sendo uma medida eficaz que visa
prevenir o desenvolvimento de ISC [22].
Levando esta informação
em consideração, os pacientes não cumpriram as recomendações profiláticas
antimicrobianas adequadas, tornando-se mais aptos para adquirirem ISC, já que
não havia relatos de administração profiláticas no pré-operatório. É importante
ressaltar que além destes fatores já citados, existem outros fatores tanto
extrínsecos como intrínsecos que podem comprometer a eficácia das medidas
profiláticas e terapêuticas.
Sobre o retorno
hospitalar, dentre os indivíduos atingidos, a maioria (88%) relatou ter
retornado à unidade de saúde devido a algum evento relacionado à ferida
cirúrgica. Em estudos anteriores, a evidência de diagnóstico de ISC está
relacionada à necessidade de retorno [23]. Desta forma, os resultados relatados
coincidem com o estudo anterior, uma vez que a maior porcentagem dos pacientes
que desenvolveram ISC retornaram à unidade referindo algum evento adverso na
ferida cirúrgica, propondo que o fato de retorno hospitalar pode estar
associado àqueles pacientes que desenvolveram ISC.
Ao aplicar esta
variável na correlação, observa-se que a mesma
apresenta uma correlação muito fraca, não sendo um fator determinante para o
desenvolvimento de ISC, porém na presença de outros fatores pode possuir certa
influência.
A incidência de
infecção resultante da pesquisa foi de 7,5%, utilizando o cálculo de incidência
da ANVISA, sendo um percentual alto em comparação com o resultado encontrado na
pesquisa utilizada como base, elaborada por Aguiar et al. [3], intitulada como
“Fatores associados à infecção de sítio cirúrgico em um hospital na Amazônia
ocidental brasileira”, sendo que nesta a prevalência foi de 3,68%.
Diante destes
resultados, algumas características presentes na amostra apresentaram variáveis
com maior incidência dentro do grupo que desenvolveu ISC, dentre estas
variáveis encontra-se sexo feminino, baixa escolaridade, portadores de doenças
crônicas com destaque para HAS, e pacientes classificados como ASA II.
A execução das medidas
realizadas no período pré-operatório como a tricotomia e o banho de forma
equivocada foram fatores presentes nos pacientes que desenvolveram ISC. Dentre
outros elementos analisados relacionados diretamente aos procedimentos
realizados, as histerectomias e os procedimentos potencialmente contaminados
também se destacaram como fatores de incidência nos pacientes que desenvolveram
ISC.
Com os resultados
levantados foi possível identificar fatores que podem estar associados e que
podem contribuir com o desenvolvimento de ISC, sendo estes tanto de vertentes
intrínsecas como extrínsecas. Deste modo, os profissionais da área da saúde
precisam ser informados sobre estes fatores de risco para estarem alerta, sendo
possível a formulação de cuidados e orientações que possam contribuir com a
diminuição da incidência de ISC.
O resultado da pesquisa
também contribui com os bancos de dados, sendo útil para profissionais da
saúde, acadêmicos e para a população que tem acesso a
informação. Contribui com estudos anteriores e abre portas para próximos
estudos relacionados a esta temática, correspondendo como material de
embasamento teórico para futuras pesquisas.
Durante o trajeto da
pesquisa houve condições que limitaram sua realização, como a perda de contato
de pacientes no momento do contato telefônico, pacientes em zona rurais com o
difícil acesso a rede telefônica, cancelamento de cirurgias eletivas, pacientes
que não compareceram para a realização dos procedimentos. Entretanto os
pacientes participantes foram satisfatórios para efetivação do estudo.