ARTIGO
ORIGINAL
Cognição
prejudicada de idosos em instituições de longa permanência pública de São Paulo
Gerson Scherrer Júnior*, Marineusa
Simão**, Kleyton Góes Passos***, Rita de Cássia Ernandes, M.Sc.****, Angélica
Castilho Alonso, D.Sc.*****, Angélica Gonçalves da
Silva Belasco, D.Sc.******
*Doutorando
pela Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP, Escola Paulista de
Enfermagem/EPE, **Graduada em Enfermagem, ***Doutorando pela Universidade
Federal de São Paulo/UNIFESP, Escola Paulista de Enfermagem/EPE, São Paulo/SP,
****Mestre em Ciências do envelhecimento pela Universidade São Judas/USJT,
*****Programa de Doutorada da Universidade de São Paulo/USP, ****** Professor
Adjunto da Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo
(EPE/UNIFESP
Recebido em 5 de março
de 2018; aceito em 25 de junho de 2019.
Correspondência: Gerson Scherrer Júnior, Rua Augusta, 561/46, Bairro
Consolação,01305-000 São Paulo SP, E-mail: gscherrer@ig.com.br; Marineusa Simão: enfmarysimao@gmail.com; Kleyton Góes Passos: kleyton.ufac@gmail.com; Rita de Cássia
Ernandes: ernandes_rc@terra.com.br; Angélica Castilho
Alonso: angelicacastilho@msn.com; Angélica Gonçalves da Silva Belasco: abelasco@unifesp.br
Resumo
Introdução: O envelhecimento
populacional desencadeia perdas na capacidade funcional, entre elas as
cognitivas, que merecem atenção por comprometer a qualidade de vida dos idosos
institucionalizados. Objetivo:
Caracterizar o perfil dos idosos residentes em instituições de longa
permanência pública de São Paulo com perda cognitiva. Métodos: Estudo quantitativo, transversal e descritivo, com 154
idosos residentes em quatro instituições nas zonas norte, sul, leste e oeste da
cidade de São Paulo. As instituições estão inseridas no seio da comunidade e
acolhem idosos em situação de vulnerabilidade social. A coleta aconteceu
durante os meses de agosto a dezembro de 2016. As informações sociais,
culturais e epidemiológicas foram transcritas dos prontuários, também avaliado
o estado mental, o grau de dependência e o risco de desnutrição. Resultados: 62,4% apresentavam cognição
prejudicada, desses prevaleceu o sexo feminino 36,4%, a faixa etária de 70 a 79
anos 28%, solteiros 35,8% e analfabetos 28%, sem queda 46,1%, entre dois a
quatro anos de institucionalização 23,5%, totalmente dependentes 29,9% e risco
para desnutrição 54%. Conclusão: Os
idosos com perda cognitiva são do sexo feminino, com idade avançada, solteiros
ou viúvos, com baixa escolaridade, sem queda, entre dois a quatro anos de
institucionalização, com dependência e risco de desnutrição.
Palavras-chave: instituição de longa
permanência para idosos, cognição, Enfermagem.
Abstract
Cognitive
impairment of older adults in public long-term care institutions of São Paulo
Introduction:
The aging of the population triggers losses in functional capacity, among them
the cognitive ones, which deserve attention because they compromise the quality
of life of the institutionalized elderly. Objective:
To characterize the profile of the elderly living in public long-term care
institutions of São Paulo with cognitive loss. Methods: A quantitative, transversal and descriptive study, with
154 elderly people living in four institutions in the north, south, east and
west of the city of São Paulo. The institutions are part of the community and
host elderly people in situations of social vulnerability. The collection took
place during the months of July to December 2016. Social, cultural and
epidemiological information were transcribed from the medical records, as well
as the mental state, the degree of dependence and the risk of malnutrition. Results: 62.4% had impaired cognition,
of these 36.4% of the women prevailed, 70 to 79 years of age 28%, unmarried
35.8% and illiterate 28%, without falls 46.1%. Two to four years of
institutionalization 23.5%, totally dependent 29.9% and risk for malnutrition
54%. Conclusion: The elderly with
cognitive impairment are female, elderly, single or widowed, with low
schooling, without falls, between two to four years of institutionalization,
with dependence and risk of malnutrition.
Key-words: homes for the
aged, cognition, Nursing.
Resumen
Deterioro cognitivo de personas mayores en residencias
públicas de larga duración de São Paulo
Introducción: El envejecimiento poblacional, desencadena pérdidas en la capacidad
funcional, entre ellas las
cognitivas, que merecen atención
por comprometer la calidad
de vida de los mayores
institucionalizados. Objetivo: Caracterizar el perfil
de personas mayores residentes en
residencias públicas de larga duración
de São Paulo con pérdida
cognitiva. Material y métodos: Estudio cuantitativo, transversal y descriptivo,
con 154 adultos mayores
residentes en cuatro instituciones en las zonas norte, sur, este y oeste de la ciudad de São Paulo. Las instituciones están insertas en el seno de la
comunidad y acogen a mayores en situación
de vulnerabilidad social. La recolección
ocurrió durante los meses
de agosto a diciembre de 2016. Las
informaciones sociales, culturales y epidemiológicas fueron
transcritas de los prontuarios,
también evaluado el estado mental, el grado de dependencia y el riesgo de desnutrición. El 62,4% presentaba deterioro cognitivo, de éstos
prevaleció el sexo femenino 36,4%, grupo de edad de
70 a 79 años 28%, solteros
35,8% y analfabetos 28%, sin caídas 46,1%, entre dos
a cuatro años de institucionalización el 23,5%,
totalmente dependiente 29,9% y riesgo
para desnutrición 54%. Conclusión:
Los adultos mayores con
deterioro cognitivo son del
sexo femenino, con edad avanzada, solteros o viudos, con baja escolaridad, sin caída, entre dos a cuatro años de institucionalización, con dependencia y riesgo de desnutrición.
Palabras-clave: institución de larga permanencia
para ancianos, cognición, Enfermería.
A ascensão da população
idosa é um processo inexorável e que acontece de uma maneira rápida,
considerado um fenômeno universal, de uma forma geral acompanhado de uma
evolução na qualidade de vida, decorrente de melhoria nas oportunidades de
trabalho, nas condições sanitárias, ambientais de moradia, na educação, e na
alimentação, além do melhor acesso aos serviços de saúde [1].
À medida que o
organismo envelhece ocorre diminuição das funções fisiológicas naturais ou
patológicas, consequentemente perdas da capacidade funcional, que tem relação
com o comprometimento das habilidades físicas e cognitivas, repercutindo tanto
nas atividades básicas da vida diária como nas instrumentais, comprometendo a
autonomia, a independência, a saúde e a qualidade de vida [2].
Os transtornos
cognitivos são causas de morbidade na população idosa em todo o mundo, em
especial nos países em desenvolvimento, os quais representam, atualmente, 58%
da carga de demência do mundo, com projeções para 71% até 2050 [3].
Entende-se por cognição
todos os aspectos que envolvem o funcionamento mental, como por exemplo:
habilidades para expressar sentimentos, pensamentos, percepções, lembranças e
raciocinar, além das estruturas complexas que envolvem o pensamento e a
capacidade de produzir e fornecer respostas aos estímulos externos [4]. É a
capacidade que o indivíduo tem para perceber algo, tendo visão de construção e
execução, relacionada às lembranças e ao pensamento, cujas habilidades a pessoa
tem para sentir, pensar e recordar [5].
O déficit cognitivo
pode manifestar-se durante o processo de envelhecimento e relacionar-se com as
próprias perdas biológicas inerentes ao tempo, à cultura do indivíduo, local de
moradia, escolaridade e renda [6].
As manifestações
clínicas mais observadas no envelhecimento são esquecimentos de fatos recentes,
dificuldade de efetuar cálculos, mudanças no estado de atenção, diminuição da
concentração e do raciocínio, além da lentificação de atividades motoras com
redução de habilidades motoras finas [7]. As que mais acometem os idosos são: a
atenção, a concentração e o raciocínio indutivo, dificultando o armazenamento
de diversas informações, bem como relembrá-las, como, por exemplo: nome de
pessoas conhecidas, tomar um remédio no horário correto, o local que deixaram
alguns objetos pessoais, dentre outros [4].
Com o crescente
envelhecimento da população os transtornos cognitivos tornaram-se mais
prevalentes e, consequentemente, a família do idoso apresenta uma sobrecarga
física, emocional e financeira para cuidar do idoso em sua residência.
Surgindo, assim, a necessidade de cuidados específicos, e o aumento pela
demanda de instituição de longa permanência para idosos (ILPI) [8].
A ILPI é considerada um
local de moradia, sendo um ambiente desestimulador, onde a inatividade e o
descanso são comuns, ocasionando desocupação e conservação na dificuldade das
funções de um órgão, diminuindo a interação com o meio social e sua perda de
contatos. Isso leva às incapacidades como a diminuição da mobilidade e da
energia do idoso; ao isolamento social, relacionado a um ambiente restrito,
alterando a identidade, a autoestima e a liberdade, ocasionando solidão, que
desencadeiam fatores de riscos para o declínio cognitivo [9].
Uma das dimensões mais
relevantes da cognição do idoso diz respeito à compreensão dos efeitos da
inserção dele no contexto institucional [10]. A avaliação do comprometimento
funcional, em idosos institucionalizados, é um excelente marcador para o
envelhecimento, pois estão relacionados à dependência e ao maior risco de
quedas. É uma ferramenta importante na detecção precoce de sinais e sintomas
relacionados à perda cognitiva e fundamental para o planejamento dos cuidados
em saúde dos idosos no âmbito das instituições de longa permanência para idosos
(ILPI). Nesse contexto, a equipe de saúde deve avaliar sistematicamente as
alterações cognitivas nos idosos, com especial atenção para a influência de
fatores associados neste processo [11].
Estudos mostram que é
possível a diminuição da taxa de degradação dos aspectos cognitivos por meio de
programas de estimulação, uma vez que mesmo com o envelhecimento ainda existe
plasticidade cerebral suficiente. O desenvolvimento de atividade ocupacional e
lazer em horários livres, nas instituições, aumentam a participação social dos
idosos e sua autoestima. O equilíbrio entre a manutenção do desempenho
cognitivo e da capacidade funcional é mantido, garantindo que o idoso participe
de atividades em seu cotidiano, conservando sua qualidade de vida e
proporcionando o bem-estar, através do controle de seu ambiente e de si mesmo
como o desenvolvimento da sua competência [9].
Destaca-se que a
identificação precoce do declínio cognitivo possibilita que estratégias de
prevenção e/ou tratamento sejam implementadas de maneira individualizada,
possibilitando manter os idosos mais ativos, melhorando a qualidade de vida e
um ganho considerável para a instituição.
Com o panorama nacional
de crescimento do percentual de idosos, com perdas da capacidade funcional
natural ou patológica, entre elas a cognição, declínio da autonomia e
independência, dificuldade da família em manter os cuidados do idoso no
domicílio e, consequentemente, aumento da necessidade de cuidados
especializados pelas ILPI. Surgiu assim, a questão norteadora desta pesquisa:
qual o perfil dos idosos residentes em instituições de longa permanência
pública de São Paulo com perda cognitiva?
Contudo, o presente
estudo tem por objetivo caracterizar o perfil dos idosos residentes em
instituições de longa permanência pública de São Paulo com perda cognitiva.
Trata-se de estudo
transversal, quantitativo e descritivo, realizado em quatro ILPI de caráter
pública, localizadas na cidade de São Paulo.
A coleta de dados
aconteceu entre os meses de agosto a dezembro de 2016 com 154 idosos de ambos
os sexos que residiam nas instituições, que estão localizadas nos distritos do
Butantã (zona oeste), Itaim Paulista (Zona Leste), Casa Verde (zona norte) e Campo
Limpo (zona Sul) da cidade de São Paulo. Estas instituições estão inseridas no
seio da comunidade, apresentam estrutura física adaptada para características
residenciais, tem o objetivo de acolher pessoas idosas com idade igual ou
superior a 60 anos, com diferentes necessidades e graus de dependência, que não
dispõem de condições para permanecer na família, ou que estão com vínculos
familiares fragilizados ou rompidos, em situação de negligência familiar ou
institucional, sofrendo abusos, maus tratos e outras formas de violência, assim
como aqueles que apresentam perda da capacidade de autocuidado.
As informações sociais,
culturais e epidemiológicas foram coletadas diretamente dos prontuários e
transcritas para um questionário elaborado pelos próprios autores.
Com
a finalidade de
aferir o estado cognitivo, foi usado o teste de rastreio denominado
Mini Exame
do Estado Mental (MEEM). Esse é um instrumento de rastreio,
contendo questões
agrupadas em sete categorias que avaliam os seguintes domínios:
orientação
temporal (5 pontos), orientação espacial (5 pontos),
memória imediata e de
evocação (3 pontos), atenção e
cálculo (5 pontos), recordação das três
palavras
(3 pontos), linguagem (8 pontos) e capacidade construtiva visual (1
ponto). O
escore do MEEM pode variar de um mínimo de zero ponto, o qual
indica o maior
grau de comprometimento cognitivo dos indivíduos, até um
total máximo de 30
pontos, que, por sua vez, corresponde a melhor capacidade cognitiva. O
MEEM não
serve para diagnóstico, mas serve para indicar que
funções devem ser melhor
investigadas [12]. É um dos poucos testes validados e adaptados
para a
população brasileira [13]. As notas de corte utilizadas
foram: 17 para os
analfabetos; 22 para idosos com escolaridade entre um e quatro anos; 24
para os
com escolaridade entre cinco e oito anos; e 26 para os que tinham nove
anos de
estudos ou mais [14].
Para avaliar o grau de
dependência para realização das ABVD dos idosos, utilizou-se o Índice de Katz,
que avalia a capacidade funcional do idoso na execução de atividades que
permitam cuidar de si próprio e viver independente em seu meio, classificando o
seu grau de dependência. A escala divide-se em seis categorias que inclui
banho, vestir-se, higiene pessoal, transferência, continência e alimentação. As
alternativas de resposta a cada um desses seis itens são: dependente e
independente, sendo atribuído a cada resposta zero e um ponto respectivamente.
O resultado pode ir de zero a seis pontos, e os idosos serão englobados em três
categorias distintas: 0 a 2 pontos: dependente; 3 a 4 pontos: parcialmente
dependente; 5 a 6 pontos: independentes. No Brasil, é amplamente usado em
estudos gerontológicos e sua adaptação transcultural
foi conduzida por Lino et al. [15].
Para avaliar o risco de
desnutrição, foi utilizado o instrumento Mini Avaliação Nutricional Short-Form (MNA®-SF), composto pela avaliação da ingestão
alimentar e perda de peso nos últimos três meses, mobilidade, ocorrência de
estresse psicológico ou doença aguda recente, alterações neuropsicológicas
(demência ou depressão) e o índice de massa corpórea (IMC). O escore máximo da
triagem é de 14 pontos e pontuações ≤ 11 sugerem desnutrição [16].
Foram avaliados todos
os moradores das quatro ILPI, o que não exigiu critérios de inclusão e/ou
exclusão. Aqueles idosos com dificuldades e incapacidade para responder às
perguntas, durante a abordagem pelo entrevistador, foram auxiliados nas
respostas por um cuidador, diretamente envolvidos nos cuidados diários da
pessoa idosa.
Os dados foram
armazenados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
24.0 for Windows® e apresentados por meio de valores absolutos, porcentagens e
em tabelas.
O projeto foi submetido
à Secretaria Municipal de Assistência Social (SMADS) da cidade de São Paulo,
que encaminhou para o Centro de Referência Especializado de Assistência Social
– CREAS (Butantã, Campo Limpo, São Matheus, Casa Verde e Itaim Paulista), que
após apreciação do projeto redigiu um parecer de aprovação para realização da
Pesquisa. Assim, o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo pelo Parecer Consubstanciado n°
1600/2016 em 31 de julho de 2016.
A coleta de dados
aconteceu após autorização dos sujeitos entrevistados, por meio do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, respeitando a Resolução do Conselho Nacional
de Saúde nº 466 de 12 de dezembro de 2012.
A Tabela I apresenta o
perfil de idosos com cognição preservada e prejudicada. Predominou idosos com
cognição prejudicada, sexo feminino, faixa etária de 70 a 79 anos, solteiros e
analfabetos.
Tabela I - Perfil cognitivo em relação ao sexo, idade, estado civil e escolaridade
de idosos residentes em instituições de longa permanência públicas na cidade de
São Paulo.
Na tabela II
constatamos que o comprometimento cognitivo prevaleceu nos idosos que
apresentaram baixa frequência de queda, com maior tempo de moradia nas ILPI,
algum grau de dependência e pior estado nutricional.
Tabela II - Perfil cognitivo em relação à queda, tempo de moradia, grau de
dependência e estado nutricional de idosos residentes em instituições de longa
permanência públicas na cidade de São Paulo.
Os principais achados
do presente estudo são que os idosos com perda cognitiva são do sexo feminino,
com idade avançada, solteiros ou viúvos, analfabetos, que não apresentaram
quedas, com maior tempo de moradia na ILPI, com risco de desnutrição e
independência prejudicada.
Neste estudo mais da
metade dos idosos (62,4%) apresentaram prejuízo cognitivo, já idosos
institucionalizados em Huelva (Espanha) apresentaram uma frequência menor (47%)
[17]. No Reino Unido, um estudo de coorte longitudinal de 180 dias com 227
residentes em onze ILPI, concluiu que a prevalência de comprometimento
cognitivo foi 75% [18]. Outro estudo conduzido em São Paulo, com idosos
institucionalizados constatou que 100% dos avaliados apresentaram déficits
cognitivos [19]. O isolamento social, a falta de estímulo intelectual e físico
que ocorrem nas ILPI podem ser fatores importantes no desenvolvimento e no
agravamento cognitivo [20].
A perda de cognição foi
prevalente em mulheres, semelhante a estudo realizado em Brasília-DF [7].
Divergente em estudo conduzido na cidade de Marília (SP), em ILPI, no qual não
foi encontrada diferença significativa em termos de comprometimento cognitivo
entre homens e mulheres [21]. A feminização da população mundial se deve a
diferentes fatores, tais como: menor consumo de álcool e tabaco, maior procura
por serviços de saúde ao longo do curso de vida, menor exposição a fatores de
risco de natureza ocupacional e a saída da mulher para o mercado de trabalho
[22]. No entanto, as mulheres viverão com mais doenças crônicas, solidão,
dependência, perda autonomia e consequentemente comprometimento cognitivo [23].
Constatou-se no
presente estudo que a maioria dos idosos institucionalizados com perda
cognitiva concentrava-se na faixa etária de 70 a 79 anos, situação igual
encontrada em nove ILPI de Recife/PE [24]. Na Espanha, estudo, com 100 idosos
institucionalizados, concluiu que a idade está associada negativamente com a
deterioração cognitiva [25].
Em Cartagena, pesquisa
realizada com 192 idosos, com idade de 83 anos ou mais, dos quais 80%
apresentavam algum comprometimento cognitivo, foi identificado que o
funcionamento cognitivo dos idosos mostrou associação com a idade cronológica,
ou seja, a idade avançada foi considerada fator de risco para a incapacidade
cognitiva moderada ou severa [26].
Quando comparado a
perda cognitiva dos idosos, com nível de escolaridade, o presente estudo
conclui que quanto menor o nível de instrução, maior o fator de risco para
déficit cognitivo, congruente com estudo em Fortaleza/CE [27] e no Estado do
Maranhão [28], e discrepante no distrito federal, em que 62,5% dos idosos com
prejuízo cognitivo tinham o ensino médio [7]. Em pesquisa sobre o desempenho
cognitivo com idosos institucionalizados, verificaram que os indivíduos com
alta escolaridade (8 a 15 anos) obtiveram melhor desempenho nas avaliações de
linguagem [29]. A escolaridade pode influenciar a capacidade cognitiva dos
indivíduos, ou seja, a falta de escolaridade tem influência no desenvolvimento
de distúrbios cognitivos, a escolarização pode ser considerada como um fator de
proteção [21].
A idade e a
escolaridade são fatores que estão relacionados diretamente com o
comprometimento cognitivo. Quanto maior o nível de escolaridade, mais difícil
será o desenvolvimento de quadros demenciais; consequentemente, indivíduos com
baixa escolaridade apresentam maior predisposição a desenvolver quadro
demencial [24, 30-31].
A predominância de
idosos solteiros e viúvos institucionalizados com comprometimento cognitivo,
neste estudo, sugere que o estado civil interfere no comportamento cognitivo.
Achados de outras investigações também identificam que idosos sem companheiros
(viúvos e solteiros) estão mais sujeitos a perda cognitiva e a
institucionalização [32-33].
As mudanças nos
arranjos familiares (separações, pessoas que não se casam e/ou que nunca
tiveram filhos) suscitam declínio no apoio familiar e que podem interferir no
desempenho cognitivo [3]. No município de Ibicuí/BA, foram avaliados 310 idosos
e a prevalência de declínio cognitivo foi observada entre os idosos que vivem
sem companheiro (24,7%) e os que moram sozinhos (20,1%) [34].
A queda pode trazer
sérias consequências a saúde e qualidade de vida da pessoa idosa. Nas quatro ILPIs a prevalência de queda foi de 26,6%, desses 16,2%
apresentavam comprometimento cognitivo. Em estudo conduzido em Juiz de Fora/MG,
com 454 idosos (60 anos ou mais), de ambos os sexos e não institucionalizados,
constataram que idosos com comprometimento cognitivo apresentaram maior
frequência de quedas, quando comparados com a população idosa em geral [35].
Na Alemanha, os
principais fatores de risco para ocorrência de queda, em idosos
institucionalizados, estavam associados à mobilidade limitada, ao
comprometimento cognitivo, ao histórico de quedas e à incontinência urinária
[36]. Os fatores de risco relacionados ao número aumentado de quedas podem ser
classificados em dois tipos, os fatores predisponentes do indivíduo
(intrínsecos), como: a idade, a condição clínica, os distúrbios de marcha e
equilíbrio, o declínio cognitivo e a diminuição da acuidade visual; e os
fatores ambientais (extrínsecos), como: a iluminação insuficiente, os degraus
inadequados, a ausência de barras de apoio em corredores e banheiros, as
superfícies molhadas, entre outros [37].
Neste estudo,
observamos que a proporção de idosos com comprometimento cognitivo, quando comparado
ao tempo de institucionalização, a predominância do evento nos residentes foi
entre dois e quatro anos. Em outro estudo, foi observado que a proporção de
idosos com prejuízo cognitivo foi maior nos que residiam na ILPI há mais de
cinco anos [24].
Os idosos com
dependência total para Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD) apresentaram
alta prevalência de comprometimento cognitivo, resultado similar observado em
outro trabalho, no qual as perdas nas habilidades físicas causam declínio
cognitivo [19]. O comprometimento cognitivo gera danos à capacidade funcional
para as ABVD, implicando perda na independência e autonomia, achado este
constatado em Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, com 326 idosos de ambos os
sexos, onde 90,6% dos idosos com dependência apresentavam cognição prejudicada
[38].
Os idosos destas
instituições foram institucionalizados pelo fato de viverem em vulnerabilidade
social, declaram não gostar do ambiente e não ter liberdade para sair. A grande
maioria viveu como morador em situação de rua e baixo desenvolvimento
intelectual, talvez seja esse um dos motivos do alto índice de declínio
cognitivo, pois a institucionalização mostra relação com a incapacidade
funcional em idosos que foram institucionalizados por motivo de ausência de
cuidador informal na comunidade [39].
Idosos
institucionalizados por vontade própria apresentaram um maior nível de
independência funcional em relação aos idosos que foram institucionalizados por
vontade familiar e aqueles idosos que não têm família e opção de moradia. Esse
achado pressupõe que os idosos que foram institucionalizados por opção própria
também apresentavam melhor estado funcional, pois a cognição e a funcionalidade
estão diretamente ligadas [40].
A conscientização sobre
o aumento da desnutrição nos idosos institucionalizados fica evidenciada, neste
estudo, em que 78,7% dos idosos apresentaram risco de desnutrição, desses 54%
apresentavam comprometimento cognitivo. Esta evidencia foi constatada em uma
população de idosos estudada em Beirute, Líbano, em três ILPI, a análise
multivariada mostrou que a função cognitiva tem relação direta com o estado
nutricional dos adultos mais velhos [41]. Outra constatação, de um estudo
Europeu, é que a desnutrição ainda prevalece e está associada à deterioração da
cognição, em idosos moradores de ILPI [42]. Um estudo com 1.248 residentes de
ILPI em Taiwan, do sexo masculino, com idade igual ou superior a 65 anos,
constatou que a desnutrição entre idosos residentes em ILPI foi associada a multimorbidades, maior complexidade de atendimento e foi
preditiva para mortalidade e declínio cognitivo [43].
Os idosos pesquisados
apresentam situação econômica desfavorável, e estudos afirmam que baixo padrão
econômico é fator de comprometimento cognitivo, seja em países desenvolvidos
[44] ou subdesenvolvidos [45]. Compreende-se que a condição financeira
desfavorável pode afetar significativamente o estilo de vida do idoso e
comprometer o seu desempenho cognitivo a medida que dificulta o acesso a alimentação
adequada, serviços de saúde, medicamentos e prática de exercícios físicos [46].
Com este estudo
averiguamos que os idosos residentes em instituições de longa permanência
pública de São Paulo com perda cognitiva são do sexo feminino, com idade
avançada, solteiros ou viúvos, com baixa escolaridade, baixa frequência de
queda, entre dois a quatro anos de institucionalização, com risco de
desnutrição e com dependência para realização das atividades básicas da vida
diária.
Conhecer os idosos com
cognição prejudicada e entender os principais fatores que são desencadeantes
para o declínio cognitivo é de extrema relevância para prevenção e promoção da
saúde da pessoa idosa