ARTIGO
ORIGINAL
Estadiamento
do câncer de colo uterino em um hospital de referência
Fernanda Furtado da
Cunha, M.Sc.*, Maria da Conceição Nascimento
Pinheiro, D.Sc.**, Anderson Roberto de Sales
Corrêa***
*Enfermeira
assistente da Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (HUJBB),
**Professora titular do Núcleo de Medicina Tropical/UFPA, ***Especialista em
Enfermagem Oncológica
Recebido em 7 de maio
de 2018; aceito em 1 de maio de 2019.
Correspondência: Fernanda Furtado da
Cunha, Tv. Dr. Enéas Pinheiro, 1700/903, 66095-105 Belém PA, E-mail:
furtadof@yahoo.com.br; Maria da Conceição Nascimento Pinheiro: mconci@ufpa.br;
Anderson Roberto de Sales Corrêa: anderson.sales13@gmail.com
Resumo
Introdução: O câncer de colo do
útero apresenta um dos mais altos potenciais de cura quando diagnosticado e
tratado em estágios iniciais ou fases precursoras. O objetivo deste estudo foi
avaliar o estadiamento clínico do câncer de colo uterino na época do diagnóstico,
em um hospital de referência para câncer no Estado do Pará no período de 2001 a
2010. Métodos: Trata-se de um estudo
observacional, retrospectivo, descritivo e analítico. A população alvo da
pesquisa envolveu mulheres com diagnóstico de câncer de colo do útero constante
no Registro Hospitalar de Câncer. As variáveis utilizadas incluíram: idade,
ocupação, procedência, grau de instrução, diagnóstico histopatológico,
estadiamento, local do tumor primário e desfecho. Resultados: As mulheres chegaram à unidade de referência com
estadiamentos clínicos avançados (IIB e IIIB), com o carcinoma invasor
contribuindo com a maioria dos casos. Os estadiamentos mais frequentes foram
IIB, IIIB e IB. Apesar das campanhas de incentivo à prevenção, a ocorrência do
câncer de colo uterino no estádio invasor ainda é muito alta, em detrimento dos
casos de carcinoma in situ, os quais foram menos frequentes. Conclusão: As mulheres chegaram à
unidade de referência em estágios avançados do câncer, principalmente nos
estadiamentos IIB e IIIB. O carcinoma invasor é o tipo mais frequente
contribuindo com 81,4% e o adenocarcinoma invasor com 7,1% do total das lesões
malignas do colo. A maior parte das mulheres era maior de 40 anos de idade, de
baixa escolaridade e oriundas da região metropolitana de Belém.
Palavras-chave: neoplasias do colo do
útero, prevenção & controle, estadiamento de neoplasias, papillomaviridae.
Abstract
Staging
of uterine cervical cancer in a reference hospital
Introduction:
Cervical cancer presents one of the highest potentials of cure when diagnosed
and treated in early stages or precursor stages. The objective of this study
was to evaluate the clinical staging of cervical cancer at the time of
diagnosis in a reference hospital for cancer in the State of Pará from 2001 to
2010. Methods: This is a
retrospective, descriptive, observational and analytical study. The target
population of the study involved women diagnosed with cervical cancer in the
Hospital Registry of Cancer. The variables used included: age, occupation,
origin, educational level, histopathological diagnosis, staging, primary tumor
site and outcome. Results: Women
arrived at the reference unit with advanced clinical staging (IIB and IIIB),
with invasive carcinoma contributing most cases, followed by invasive
adenocarcinoma. In addition to the uninformed cases, the most frequent staging
was IIB, IIIB and IB. Despite prevention campaigns, the incidence of cervical
cancer in the invasive stage is still very high, to the detriment of cases of
carcinoma in situ, which were less frequent. Conclusion: Women reached the reference unit in the advanced stages
of cancer, mainly in the IIB and IIIB stages. Invasive carcinoma is the most
frequent type contributing 81.4% and invasive adenocarcinoma with 7.1% of all
malignant lesions in the colon. Most of the women affected were over 40 years
of age, of low schooling and coming from the metropolitan area of Belém.
Key-words: uterine
cervical neoplasms, prevention & control, neoplasm staging, papillomaviridae.
Resumen
Estadificación del
cáncer de cuello uterino en un hospital de referencia
Introducción: El cáncer de cuello de útero presenta uno de los
más altos potencial de curación cuando
se diagnostica y se trata en etapas iniciales o fases precursoras. El
objetivo de este estudio fue
evaluar la estadificación clínica del cáncer de cuello uterino en la época del
diagnóstico, en un hospital
de referencia para cáncer en el Estado de Pará en el período de 2001 a 2010. Métodos: Se trata de un
estudio observacional, retrospectivo, descriptivo, y analítico. La población
objetivo de la investigación
involucró a mujeres con diagnóstico de cáncer de cuello de útero constante en el Registro Hospitalario de Cáncer. Las variables
utilizadas incluyeron: edad,
ocupación, procedencia,
grado de instrucción, diagnóstico histopatológico, estadificación, lugar del tumor primario y desenlace. Resultados:
Las mujeres llegaron a la unidad
de referencia con estadios
clínicos avanzados (IIB y IIIB), con
el carcinoma invasor contribuyendo
con la mayoría
de los casos. Los estadios
más frecuentes fueron IIB,
IIIB e IB. A pesar de las campañas
de incentivo a la prevención, la ocurrencia del cáncer de cuello uterino en el estadio
invasor aún es muy alta, en detrimento de los casos de
carcinoma in situ, los cuales
fueron menos frecuentes. Conclusión: Las mujeres llegaron
a la unidad de referencia en etapas avanzadas del cáncer,
principalmente en los estadios IIB y IIIB. El carcinoma invasor es el tipo más frecuente contribuyendo con el 81,4% y el adenocarcinoma
invasor con el 7,1% del total de las lesiones
malignas del cuello. La mayor parte de las mujeres era mayor de 40 años de edad, de baja escolaridad y oriundas de la región metropolitana de Belém.
Palabras-clave: neoplasias del cuello uterino, prevención & control, estadificación de neoplasias, papillomaviridae.
O câncer do colo
uterino é uma doença de evolução prolongada a partir de mudanças intraepiteliais que se transformam em lesões invasoras em
um período médio de cinco a seis anos. A forma invasiva é precedida por uma
longa fase pré-invasiva, identificada como neoplasia intraepitelial cervical (NIC), categorizada em graus I, II
e III ou lesão de baixo grau (NIC I) e lesões de alto grau (NIC II e NIC III).
As formas avançadas são classificadas pelos seus estadiamentos clínico e
patológico segundo a classificação TNM [1]. Atualmente, a 8ª edição da
classificação de tumores está em vigor, tendo o objetivo de estimar fatores
prognósticos, estratificação clínica e fatores de risco. O modelo recomendado
para estimar o estadiamento em população considerará o TNM e fatores
prognósticos (clínico e patológico), leva em conta em geral: a presença ou não
de invasão, a presença de doença macroscópica ou microscópica, profundidade de
invasão do estroma, tamanho da lesão, invasão de estruturas adjacentes,
comprometimento de linfonodos e presença ou não de metástases [2].
O câncer do colo
uterino representa uma das principais causas de óbito na população feminina no
Brasil, com elevadas taxas de incidência e progressivo da mortalidade
proporcional para as mulheres brasileiras no período de 2005 a 2014, sendo
observada significativa diferença entre as regiões brasileiras [3]. Sua
incidência é maior em países menos desenvolvidos. Em geral, surge em mulheres a
partir de 30 anos de idade, aumentando seu risco rapidamente até atingir o pico
etário entre 50 e 60 anos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o
Brasil apresentou uma sobrevida para o câncer de colo do útero de
aproximadamente 70%, sendo mais incidente em Estados da Região Norte (23,97/100
mil habitantes), Centro-Oeste (20,72/100 mil habitantes) e Nordeste (19,49/100
mil habitantes) [1].
A linha de cuidados
para câncer de colo uterino consiste na prevenção primária (prevenção do
surgimento do câncer de colo uterino), prevenção secundária (detecção precoce
por rastreio e tratamento de lesões potencialmente cancerígenas), prevenção terciária
(tratamento do câncer de colo uterino para prevenir morbidade e mortalidade) e
qualidade de vida (cuidados após o tratamento e suporte paliativo). Sendo a
forma mais eficaz de controlar esse tipo de tumor diagnosticando e tratando as
lesões precursoras e as lesões tumorais invasoras em seus estágios iniciais
[4]. Programas de controle de câncer com níveis elevados de qualidade,
cobertura e acompanhamento de mulheres com lesões precursoras identificadas
podem reduzir a incidência do câncer cervical significativamente. O teste de
alto risco para HPV vem demonstrando boa acurácia e de complementação
diagnóstica e tratamento precoce. Entretanto, não se observa queda na
mortalidade no Brasil, principalmente devido à dificuldade diagnóstica precoce
dessa doença [3,5].
Na última década, o
Pará é o estado da federação que têm registrado os maiores índices da doença,
no país. Nesse contexto, conhecer a situação do estadiamento diagnóstico do
câncer de colo entre as mulheres que estão dando entrada em um hospital de
referência para câncer é de fundamental importância para o estabelecimento de
medidas que visem à melhoria do programa de prevenção e controle voltado ao
diagnóstico precoce dos estágios iniciais da doença e a redução das formas
avançadas.
Trata-se de um estudo
observacional, retrospectivo, descritivo e analítico, que utilizou dados
secundários oriundos do registro de câncer em um hospital de referência para
câncer no estado do Pará para análise dos estádios do câncer de colo uterino
por ocasião do diagnóstico.
Foram incluídos todos
os casos confirmados de câncer de colo uterino através do exame histopatológico
independentemente da idade e do estadiamento do tumor, e registrados no período
de janeiro de 2001 a dezembro de 2010. Foram excluídos do estudo os casos cujas
informações necessárias para a análise estavam incompletas e não constavam no
registro. O período escolhido neste estudo foi utilizado, visto a
disponibilidade dos dados do registro hospitalar de câncer, dados posteriores
ao ano de 2010 não foram coletados pelo serviço hospitalar durante a coleta de
dados.
Os dados foram
coletados diretamente do sistema de informações do hospital –Registro
Hospitalar de Câncer (RHC). A coleta para identificação das pacientes deu-se
através de código numérico, identificando a ordem e o ano que o dado foi
registrado do sistema. As variáveis utilizadas incluíram para o estudo: idade,
ocupação, procedência, grau de instrução, diagnóstico histopatológico,
estadiamento, local do tumor primário e desfecho. A distribuição dos dados de
acordo com a procedência foi realizada de acordo com as regionais de saúde
adotada pela Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Pará [6].
O software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão
15.0 foi utilizado para a confecção do banco de dados e análises estatísticas.
As variáveis categóricas foram avaliadas pela estatística descritiva e, para
comparação intragrupos, utilizou-se o teste do Qui-quadrado
de aderência (p<0,05).
A pesquisa foi
submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa do Núcleo de Medicina Tropical da
Universidade Federal do Pará, tendo como instituição coparticipante o Hospital Ophir Loyola, de acordo com o observado na portaria 466/12
do Conselho Nacional de Saúde que estabelece critérios para o estudo em seres
humanos. Por se tratar de uma pesquisa com dados secundários a partir do
Sistema de Informação Hospitalar, o presente estudo dispensou o uso de Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para tanto foi utilizado o Termo de
Compromisso para Utilização de Dados e Prontuários (TCUD). Ressalta-se que o
sistema utilizado não identifica as pacientes, portanto, foram assegurados o
anonimato e a privacidade das informações obtidas.
As faixas etárias de
maior acometimento por câncer de colo, neste estudo, foram de 40 a 49 anos
(27,7%) e de 50 a 59 anos (22,2%). Mulheres com ensino fundamental incompleto
constituíram 48,2% da população estudada. A principal categoria ocupacional
incluiu aposentadas/pensionistas, com 56,3% (Tabela I).
Tabela I - Caracterização sociodemográfica de mulheres atendidas em hospital de
referência para tratamento de câncer de colo do útero em Belém, Pará, 2001-2010.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2016.
A procedência dos casos
com câncer de colo foi oriunda principalmente de municípios que compõem a 1ª
regional de saúde, com 2.352 casos (39,9%), seguido da 11ª regional com 525
(8,9%) e 4ª regional com 429 (7,3%) dos casos. A menor frequência observada foi
oriunda da 10ª regional, com 127 casos (2,16%) (Figura I).
Fonte: Dados da
pesquisa, 2016.
Figura 1 - Número absoluto e relativo de casos de câncer de colo de útero segundo
a procedência, atendidos em hospital de referência em Belém/PA, 2001-2010.
O tipo histológico de
maior frequência encontrado foi o carcinoma invasor, alcançando 2.961 casos na
cérvix, sem origem especificada (81,44%), 1.250 casos na ectocérvix
(89,69%), 451 na endocérvix (66,52%) e 162 em lesão sobreposta
(84,9%) (Tabela II).
Tabela II - Distribuição de câncer de colo de útero segundo a localização do tumor
primário em mulheres atendidas em hospital de referência em Belém/PA, 2001-2010.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2016.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2016.
Figura II - Distribuição de estadiamento em mulheres atendidas em hospital de
referência em Belém/PA 2001-2010.
Os indivíduos sem
informação quanto ao estadiamento representaram 2.309(39,14%), seguido dos
casos com estágio IIB (16,85%), estágio IIIB (14,25%) e estágio IB (9,69%)
(figura II).
Em relação ao desfecho
final do primeiro tratamento, 2.159 (36,60 %) permaneceram com doença estável,
seguido de 1.317 (22,3%) casos que não realizaram nenhum tratamento. Aqueles
com a doença em progressão contabilizaram 551(9,30%) casos (figura III).
Fonte: Dados da
pesquisa, 2016.
Figura
III - Desfecho de tratamento para câncer de colo
de útero em mulheres atendidas em hospital de referência em Belém/PR,
2001-2010.
Neste estudo,
observou-se que a incidência de câncer de colo uterino teve crescimento a
partir da faixa etária de 30 a 39 anos, concentrando cerca de 50% dos casos
entre 40 e 59 anos de idade. Isto reforça a importância do início precoce e da
periodicidade do exame preventivo do câncer, conforme recomendado pelo programa
de prevenção do câncer do colo uterino. De acordo com esse programa, a
prevenção através do exame de Papanicolau deve iniciar na segunda década de
vida com vista ao diagnóstico e tratamento precoce das lesões. A idade é um
elemento fortemente associado à doença.
Na fase mais jovem, a
mulher está mais exposta às doenças sexualmente transmissíveis, incluindo HPV,
o principal agente causador do câncer de colo uterino. A frequência maior das
fases avançadas em mulheres na idade madura ou idosa reflete o longo período do
processo evolutivo em que as lesões precursoras não foram detectadas. Estudos
de série histórica realizados no Brasil demonstraram que a tendência de casos
em pacientes idosas, com 80 anos ou mais, aumentou, reforçando a hipótese de
exposição à carcinógenos e mutações que promovem o câncer. Análises de
acompanhamento citológicas foram realizadas em grupos de mulheres com
diagnóstico citológico anormal, sendo identificado que o diagnóstico de atipia em células glandulares demonstrou maior risco para
progressão da doença cervical, e mulheres acometidas com idade inferior a 25
anos obtiveram melhor taxa de resposta para regressão das lesões. Inferindo-se
o importante papel imunológico da mulher jovem na regressão das lesões [7,8].
A baixa escolaridade
foi outro fator importante em associação com o câncer, com 48,2% com ensino
fundamental incompleto. A falta de instrução ou baixo nível de instrução dificulta
a compreensão e a adoção das medidas educativas no combate ao câncer. Alguns
estudos têm chamado atenção para a associação da baixa escolaridade com as
maiores prevalências e maiores taxas de mortalidade por câncer do colo do
útero. Em estudo realizado de dados secundários do INCA e DATASUS foi observado
que: ao se analisar o aspecto sociodemográfico, a escolaridade apresentou a
maior significância na incidência do câncer de colo uterino, com mulheres com
nenhum a três anos de escolaridade, representando 84,17% da amostra
populacional nesta revisão [9]. A educação é uma estratégia fundamental, mesmo
produzindo resultados em médio e longo prazo, e que precisa ser constantemente
utilizada para se reduzir as desigualdades sociais e, consequentemente, as taxas
de mortalidade pelo câncer do colo do útero [9].
Cerca de 40% dos casos
na presente pesquisa foram procedentes de municípios pertencentes a 1a regional
de saúde paraense, da qual faz parte a região metropolitana de Belém e
municípios próximos. Isto pode estar relacionado ao acesso aos serviços de
saúde, devido à proximidade com os centros de atenção secundária e terciária,
os quais estão mais concentrados nos centros urbanos. Estes achados são
essenciais para os gestores dos Sistemas de Saúde Estadual e Municipal que
devem se planejar para fornecer a essas mulheres, além do transporte para o
tratamento fora do domicílio, as condições necessárias para o tratamento em
tempo oportuno, aumentando suas possibilidades de recuperação e cura ou, de
outra forma, a descentralização de atendimento referencial da região
metropolitana para os demais pontos do Estado.
A localização do câncer
invasivo sem origem especificada não permite determinar com precisão sua origem
ou tempo de evolução. O tempo médio estimado para que uma lesão intraepitelial seja detectada antes de se tornar invasora é
de 10 a 12 anos. O câncer de colo uterino surge na região escamocolunar,
podendo desenvolver um padrão de células escamosas acometendo, principalmente,
a ectocérvix. Provavelmente, a alta frequência do
tumor primário sem especificação seja composta na maioria, por lesão inicial na
ectocérvix. De outra forma, a neoplasia pode assumir
um padrão glandular se desenvolvendo na endocervix.
Em termos de ocorrência, o adenocarcinoma é menos frequente do que o tipo
escamoso. Os tipos que crescem na endocervix
desenvolvem geralmente um padrão de adenocarcinoma [10,11].
Estudo realizado no
tocante ao rastreamento nas últimas décadas demonstrou que o ao ser
efetivamente aplicado, há uma progressiva redução de novos casos e aumento na
proporção dos estádios iniciais de câncer do colo uterino, contando com mais da
metade dos tumores invasores detectados ainda em estádio I [11]. Estas
observações diferem da realidade encontrada em nosso estudo, em que a maior
parte das mulheres chegam ao estágio II, seguido do estágio III, sugerindo que
essas mulheres não foram cobertas pelo programa de rastreamento, e não
realizaram o exame preventivo de acordo com as recomendações do programa de controle,
estratégia importante na prevenção da fase avançada da doença. O diagnóstico
precoce somado ao tratamento reduz, quase que totalmente, o desenvolvimento da
doença, levando em conta que sua evolução é lenta e gradativa. Apesar de um grande número de mulheres ainda chegarem às unidades de
referência com câncer do colo do útero, em estadiamento avançado, esse número
vem diminuindo nos últimos anos, no país, porém, ainda está longe de alcançar
os parâmetros de países desenvolvidos [1,11].
Os números absolutos
mostram que, em 2002, morreram 4.091 mulheres por causa da enfermidade no
Brasil. Dados epidemiológicos do INCA demonstram que o câncer de colo uterino é
a terceira localização primária de incidência e de mortalidade, excluindo o
câncer de pele não melanoma. No ano de 2016 foram estimados 5.847 óbitos para
esta neoplasia, representando mortalidade de 4,70 óbitos para cada 100 mil
mulheres. Provavelmente o crescimento em números absolutos se deve ao aumento
da população feminina, no mesmo período. A incidência estimada e mortalidade no
Brasil assemelham-se a outros países em desenvolvimento, porém há grande
disparidade entre países já desenvolvidos e com programa de rastreamento
precoce bem estruturado. Durante análise de mortalidade por região, o Norte
ainda se destaca como o mais incidente na região com 23,97 casos por 100 mil
habitantes, a região apresenta ainda as maiores mortalidades de todo o País no
período de 2016, representando 5,71 por 100 mil mulheres, com números absolutos
de 1.208 casos notificados de óbito por câncer de colo uterino, dados que
corroboram a presente pesquisa, indicando o elevado estadiamento na ocasião
diagnóstica e falha dos programas de rastreamento no serviço público [12].
Espera-se que a
vacinação contra HPV no Brasil possa registrar a primeira e demais gerações de
mulheres livres deste tipo de câncer. A medida, tomada em mais 100 países, pode
fazer com que a atual geração tenha uma incidência significativamente menor da
doença, já que existe a vacina contra um dos dois dos vírus responsáveis por
70% dos casos de câncer de colo de útero [13].
Esses dados refletem a
importância e necessidade de acesso maior à informação, e o seguimento de curso
da urbanização. O câncer está presente em todos os países, mas em cada um deles
a doença apresenta um perfil diferenciado. Dependendo do local geográfico, o
perfil do câncer pode assemelhar-se ao de países desenvolvidos e
subdesenvolvidos. Apesar das políticas de prevenção, a região norte do Brasil
continua em primeiro lugar em incidência de câncer do colo uterino, superando o
câncer de mama, o que leva a crer uma falha na cobertura dos programas de
prevenção e acesso a saúde.
Os resultados deste
estudo revelaram que as mulheres chegaram à unidade de referência em estágios
avançados do câncer, predominando os estadiamentos IIB e IIIB. O carcinoma
invasor é o tipo mais frequente contribuindo com 81,4% e o adenocarcinoma invasor
com 7,1% do total das lesões malignas do colo.
A maior parte das
mulheres acometidas era maior de 40 anos de idade, de baixa escolaridade e
oriundas da região metropolitana de Belém.
Apesar das campanhas de
incentivo à prevenção, a ocorrência do câncer de colo uterino no estádio
invasor ainda é muito alta. Além disso, observou-se diminuição dos casos insitu, podendo se concluir que as ações adotadas estão
sendo ineficientes. Campanhas educacionais devem ser fortalecidas e novos
estudos devem ser conduzidos na expectativa de identificar fatores que estejam
interferindo no desempenho do programa de controle.