ARTIGO ORIGINAL
Conhecimento e práticas
de pessoas com diabetes mellitus sobre a terapêutica medicamentosa e suas
complicações agudas
Lilian Cristiane Gomes,
D.Sc.*, Luciana Castelar Tsuda, D.Sc.**, Ana Emilia Pace, D.Sc.***
*Enfermeira,
Coordenadora e docente do Curso de Enfermagem do Centro
Universitário da Fundação Educacional Guaxupé (UNIFEG), Guaxupé/MG, **Enfermeira
Especialista em Laboratório na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
da Universidade de São Paulo (ESALQ / USP), Piracicaba/SP, ***Enfermeira,
Professor Associado Sênior do Departamento de
Enfermagem Geral e Especializada da EERP-USP, Ribeirão Preto/SP
Recebido em 9 de
setembro de 2019; aceito em 20 de agosto de 2020.
Correspondência: Lilian Cristiane Gomes,
Avenida Dona Floriana, 463 Centro 37800-000 Guaxupé MG
Lilian
Cristiane Gomes: liliancristianegomes@yahoo.com.br
Luciana Castelar Tsuda:
lucianacastelar@yahoo.com.br
Ana Emilia
Pace: aepace@eerp.usp.br
Resumo
Objetivo: Identificar o
conhecimento e as práticas acerca da terapêutica medicamentosa e suas
complicações agudas entre as pessoas com diabetes mellitus. Métodos:
Estudo seccional, de abordagem quantitativa, com uma amostra de 46 adultos em
seguimento ambulatorial em uma unidade de atenção terciária à saúde, no
interior paulista. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista face
a face, com o uso de instrumento semiestruturado, elaborado a partir de estudos
prévios, e simulação do processo de preparo e administração da insulina. Resultados:
Houve maior frequência de sexo feminino, casados/amasiados, inativos no mercado
de trabalho, procedentes de Ribeirão Preto e/ou região, com escolaridade média
de 5,6 anos de estudo, tempo médio de diagnóstico de 16,4 anos e em
insulinoterapia. Quanto ao conhecimento e às práticas relativas à terapêutica
medicamentosa, observaram-se fragilidades no processo de preparo e
administração da insulina e na prevenção de suas complicações agudas, como a
hipoglicemia. Conclusão: Os resultados reforçam a necessidade de
monitoramento contínuo durante o curso da doença, no que se refere, em
particular, à insulinoterapia, de modo a proporcionar um tratamento seguro e
eficaz.
Palavras-chave: diabetes mellitus,
conhecimento do paciente sobre a medicação, cuidados de enfermagem.
Abstract
Knowledge and practices of people with diabetes mellitus about the drug
therapy and their acute complications
Objective: To identifying knowledge and practices about drug therapy and its
acute complications among people with diabetes mellitus. Methods: This
is a sectional study, with a quantitative approach, and the sample consisted of
46 adults in outpatient follow-up at a tertiary health care unit in the
interior of São Paulo, Brazil. Data collection was performed through
face-to-face interviews, using a semi-structured instrument, elaborated from
previous studies, and simulation of the insulin preparation and administration
process. Results: There was a higher frequency of female patients,
married or living with a partner, retired or pensioners, residing in a
municipality close to where the study was implemented, with low educational and
socioeconomic level. The sample had a long disease duration, with insulin
therapy. Regarding the knowledge and practices about the drug treatment,
weaknesses were observed in the process of preparation and administration of
insulin and in the prevention of its acute complications, such as hypoglycemia.
Conclusion: The results reinforce the need for continuous monitoring during the course of the disease, particularly with regard
to insulin therapy, in order to provide a safe and effective treatment.
Keywords: diabetes mellitus, patient medication knowledge, nursing care.
Resumen
Conocimientos y prácticas
de personas con diabetes mellitus sobre la farmacoterapia y sus complicaciones
agudas
Objetivo: Identificar conocimientos y prácticas sobre la farmacoterapia y sus complicaciones
agudas en personas con
diabetes mellitus. Métodos: Estudio
transversal, con abordaje cuantitativo, con una muestra de 46 adultos en seguimiento ambulatorio en una unidad terciaria de salud del interior de São Paulo.
La recolección de datos se realizó mediante entrevistas presenciales,
utilizando un instrumento semiestructurado,
elaborado a partir de estudios previos,
y simulación del proceso de preparación y administración de la insulina. Resultados:
Hubo una mayor frecuencia de mujeres, casadas /
convividas, inactivas en el mercado laboral, de Ribeirão Preto y / o región, con una escolaridad promedio de 5,6 años de estudio, tiempo medio de diagnóstico de
16,4 años y en terapia con insulina. En cuanto a conocimientos y prácticas relacionadas con la farmacoterapia, se observaron
debilidades en el proceso de preparación y administración de la insulina y en la prevención
de sus complicaciones agudas, como la hipoglucemia. Conclusión: Los resultados refuerzan
la necesidad de un seguimiento continuo
durante el curso de la enfermedad, en lo que respecta, en particular, a la terapia con insulina, con el fin de proporcionar un tratamiento seguro y eficaz.
Palabras-clave: diabetes mellitus, conocimiento del paciente sobre la medicación, cuidado de enfermería.
O Diabetes Mellitus
(DM) é uma doença crônica que demanda contínuo cuidado clínico e educação para
o seu automanejo, a fim de prevenir as complicações
agudas e reduzir o risco de complicações a longo prazo [1]. No curso da doença,
a meta principal é que a pessoa assuma o seu próprio cuidado [2] sendo
fundamental, para tanto, a aquisição de conhecimentos sobre a doença,
tratamento e seu controle, bem como o desenvolvimento de habilidades para uma
prática medicamentosa segura, de acordo com as necessidades e características
individuais [3].
Atualmente, uma ampla
variedade de agentes antidiabéticos orais (AAOs), com
distintos mecanismos de ação, está disponível para o tratamento do DM tipo 2
(DM2) [4]. Embora o uso dos AAOs (monoterapia ou
associações) seja o tratamento medicamentoso mais frequentemente prescrito
[4,5], estudos realizados entre adultos brasileiros com DM apontam a falta de
conhecimento das pessoas em relação aos AAOs,
especialmente no que se refere ao nome do fármaco, horário de tomada e
mecanismo de ação [6,7].
Em relação ao uso de
insulina exógena no tratamento do DM2, apesar de ser a medicação
hipoglicemiante mais efetiva disponível até o momento, não existindo limitações
de dosagens quanto ao seu efeito terapêutico e nem contraindicações para o seu
uso, observa-se que a insulinização é menos frequente
do que deveria, e seu início tende a ser tardio [4]. Além disso, estudos
desenvolvidos entre pessoas com DM, acompanhadas em unidades básicas de atenção
primária à saúde, apontam erros e dificuldades das pessoas em relação aos
procedimentos inerentes à administração de insulina [8,9].
A literatura aborda
algumas barreiras relacionadas à terapêutica medicamentosa, tais como a idade
avançada, a baixa escolaridade, as limitações físicas e/ou funcionais [10,11] e
os aspectos psicológicos, sobretudo as crenças errôneas e os mitos por parte
das pessoas e suas famílias [12,13], os quais precisam ser reconhecidos para se
promover o autocuidado.
A hipoglicemia é um
episódio frequente no início do tratamento com a insulina ou AAO, especialmente
a classe das sulfonilureias, ou pode ocorrer em
decorrência de práticas inadequadas relacionadas a essas modalidades de
tratamento [4,14]. Portanto, recomenda-se que a pessoa com DM esteja ciente da
possibilidade dessa ocorrência, saiba reconhecer sinais e sintomas e receba as
orientações necessárias para a reversão do quadro [4].
Ressalta-se que o
tratamento medicamentoso do DM, embora complexo, objetiva a obtenção e a
manutenção de um bom controle glicêmico, dada a sua importância para o manejo
da doença e prevenção de suas complicações crônicas. Dessa forma, o tratamento
medicamentoso deverá ser conduzido de forma segura e para a máxima efetividade
terapêutica [12].
Mediante o exposto,
avaliar como as pessoas com DM conduzem seu tratamento na vida diária torna-se
relevante e constitui a base para a realização de intervenções educativas que
possam habilitar a pessoa e sua família para a o uso seguro e eficaz dos
medicamentos. No Brasil, são escassos os estudos que avaliaram tal situação “de
modo realístico”, por meio de demonstração. Portanto, o presente estudo tem por
objetivo descrever o conhecimento e as práticas relativas à terapêutica
medicamentosa, bem como as informações sobre sinais, sintomas, prevenção e
tratamento da hipoglicemia, uma vez que esta última pode relacionar-se com essa
terapêutica.
Trata-se de um estudo
seccional, descritivo e de abordagem quantitativa, realizado em unidade ambulatorial
de um hospital-escola do interior paulista, entre setembro de 2010 e março de
2011.
A amostra do estudo foi
por conveniência e selecionada por meio da revisão semanal dos prontuários das
pessoas agendadas para atendimento com a equipe de saúde, mediante os critérios
de inclusão/exclusão. Como critérios de inclusão foram considerados: adultos
com DM, de ambos os sexos, em tratamento medicamentoso com insulina, AAOs e/ou associações, e que apresentassem capacidade de
manter diálogo. Foram excluídos aqueles que apresentavam complicações crônicas
em estágio avançado, tais como tratamento dialítico, amaurose,
sequelas de acidente vascular encefálico e/ou de insuficiência cardíaca,
amputação prévia e/ou úlcera ativa em extremidade inferior, e em uso de cadeira
de rodas ou maca.
O convite para a
participação no estudo foi realizado verbalmente, na sala de espera, enquanto
as pessoas aguardavam o atendimento. Após a apresentação dos objetivos do
estudo e o esclarecimento sobre o anonimato da participação, todas as pessoas
abordadas concordaram em participar e foram conduzidas a uma sala privativa, na
qual foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que foi
lido em voz alta por uma das pesquisadoras, e solicitada a assinatura do mesmo
ao final da leitura. Dessa forma, a amostra ficou constituída por 46 pessoas.
A coleta de dados foi
realizada por meio de entrevista face a face. Utilizou-se um instrumento
semiestruturado, baseado em estudos anteriores [9,10,15], para obtenção das
variáveis sociodemográficas, clínicas e de tratamento medicamentoso. O tempo
médio de duração das entrevistas foi de 55 minutos.
Durante a entrevista,
foram oferecidos frascos de insulina e seringas com agulhas e solicitado,
àqueles que realizam a autoaplicação, que demonstrassem a aspiração da dose. Os
respectivos prontuários foram verificados para a comparação entre a dose
prescrita e a administrada.
Em relação aos locais
referidos para a aplicação da insulina, foram considerados totalmente adequados
aqueles descritos na literatura (regiões laterais direita e esquerda do abdome,
tomando-se a distância de quatro centímetros ao redor da cicatriz umbilical;
face posterior dos braços, na porção compreendida entre a axila e o cotovelo;
região anterolateral externa das coxas e quadrante superior lateral externo das
nádegas) [4,16]; inadequados quando utilizadas outras regiões dos locais
citados anteriormente (região lateral dos braços, por exemplo) ou outras partes
do corpo (antebraços, panturrilhas, entre outros). Referente ao rodízio dos
locais de aplicação, foi considerado adequado quando realizado dentro da mesma
região corporal até completar os locais disponíveis, tendo o cuidado de manter
a distância mínima de um centímetro entre uma aplicação e outra; e inadequado
quando cada aplicação é feita em distintos locais, sem atentar-se ao rodízio,
ou seja, de forma indiscriminada [4,16].
Quanto ao armazenamento
da insulina no domicílio, em geladeira, foi considerado adequado quando
utilizadas a última prateleira e/ou a gaveta inferior; e inadequado quando
utilizada qualquer outra parte do equipamento, especialmente a porta, o
congelador ou a prateleira logo abaixo deste [4].
Para o descarte de
seringas e agulhas, considerou-se adequado quando realizado em recipientes de
plástico rígido, com boca larga e tampa rosqueável
[4,16], sendo os mesmos encaminhados aos serviços de saúde, e inadequado,
quando os insumos são desprezados no lixo doméstico. Destaca-se que os erros
identificados durante as entrevistas, tanto em relação ao uso de AAOs, quanto a qualquer etapa do processo de administração
de insulina, foram corrigidos de forma imediata e comunicados aos familiares
posteriormente.
Os dados coletados
foram armazenados no programa MS-Excel, com dupla digitação e validação dos
mesmos. Posteriormente, o banco de dados foi exportado para o programa Statistical Package for
Social Science (SPSS), versão 17.0, para análise exploratória univariada, empregando-se a estatística descritiva, com
medidas de tendência central (média e mediana) e de variabilidade
(desvio-padrão), bem como medidas de frequência das variáveis.
O presente estudo
integra o projeto intitulado “Habilidade para o autocuidado das pessoas com
diabetes mellitus”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob o processo
nº 4216/2010.
Na caracterização
sociodemográfica da amostra, a média de idade e o respectivo desvio-padrão (DP)
foram de 59,4 anos (DP=13,2). Dos 46 participantes, 24 (52,4%) eram do sexo
feminino, a maioria (60,9%) eram casados/amasiados, inativos no mercado de
trabalho (82,6%), procedentes de Ribeirão Preto e/ou região (73,9%), com
escolaridade média de 5,6 anos de estudo (DP=4,2) e média de renda familiar
mensal de R$ 1.333,41 (DP=556,52).
O tempo de diagnóstico
foi, em média, de 16,4 anos (DP=8,0) e 43 (93,5%) compareciam aos retornos
agendados pelo serviço de saúde. Entre os 46 participantes, 25 (54,3%)
referiram uso de AAOs. Destes, 23 (92%) o fazem em
monoterapia. O tempo médio de uso foi de 9,8 anos (DP=6,4), e a frequência
diária de tomada foi, em média, de 2,5 vezes ao dia. A classe medicamentosa de
maior frequência (80%), independentemente de associações, foi a das biguanidas. Quando questionado sobre o horário de tomada
dos AAOs, dois (50%), entre os quatro entrevistados
que fazem uso de sulfonilureia, afirmaram tomá-la
após as refeições; entre os 22 que utilizam biguanida,
quatro (18,2%) relataram tomá-la antes das refeições (Tabela I).
Tabela I – Distribuição
numérica e percentual da amostra estudada referente ao tratamento medicamentoso
com AAOs, Ribeirão Preto/SP, 2012.
Referente à insulinização, entre os 46 participantes, 42 (91,3%)
referiram uso de insulina associada ou não ao uso de AAOs.
O tempo médio de uso foi de 8,9 anos (DP = 7,7), e a frequência diária de
aplicação foi, em média, de duas vezes ao dia (DP = 0,9). Para a administração
de insulina, 41 (97,6%) relataram uso de seringas e agulhas, e 1 (2,4%) relatou
o uso de caneta injetora.
Quanto aos tipos de insulina prescritos, 18
(42,9%) referiram uso de insulina humana NPH associada à insulina Regular (R),
e esse mesmo percentual foi encontrado para o uso isolado de insulina NPH. O
uso de NPH e R, bem como NPH e Lispro, em aplicações distintas, foi referido,
respectivamente, por três (7%) e um (2,4%) dos 42 participantes. O uso de pré-mistura foi declarado por um (2,4%) participante.
Destaca-se que uma pessoa (2,4%) desconhecia o tipo de insulina em uso.
Aproximadamente 36% dos
participantes referiram depender totalmente do auxílio de outra pessoa para o
processo de administração da insulina, e o principal motivo para essa
dependência foi medo e/ou insegurança para executar as etapas da técnica de
aplicação. Entretanto, cerca de 91% dos responsáveis pela administração
insulínica não estavam presentes na consulta.
Entre os 27 (64,3%)
entrevistados que realizavam a autoaplicação, 16 (59,3%) aspiraram corretamente
a dose de insulina, conforme a prescrição médica. Dos 41 (97,6%) participantes
que utilizavam seringas e agulhas para a administração insulínica,
respectivamente, 31 (75,6%) e 30 (73,2%) as reutilizavam. A frequência de
reutilização de seringas e agulhas variou de uma a seis vezes e aproximadamente
60% dos participantes as reutilizaram entre duas e quatro vezes. Outros
aspectos relacionados à insulinoterapia estão apresentados nas Tabelas II e
III.
Tabela II – Distribuição
numérica e percentual da amostra estudada, segundo a participação da própria
pessoa e/ou de outra no processo de administração de insulina, Ribeirão
Preto/SP, 2012.
Tabela III – Distribuição
numérica e percentual da amostra estudada referente ao processo de
administração de insulina, Ribeirão Preto/SP, 2012.
Visto que a
hipoglicemia é uma das complicações agudas mais comuns da insulinoterapia e do
uso de sulfonilureias, os participantes do presente
estudo foram questionados a respeito do reconhecimento de seus sinais e
sintomas, como preveni-la e tratá-la. Observou-se que 41 (89,1%) participantes
sabem reconhecer os sinais e sintomas de hipoglicemia, dois (4,3%) não sabem e
três (6,5%) relataram nunca ter apresentado os sintomas; 29 (63%) e 41 (89,1%)
sabem, respectivamente, prevenir e tratar a hipoglicemia.
A amostra estudada
constituiu-se por adultos, em sua maioria, do sexo feminino, de baixa
escolaridade e renda, vivendo com companheiro(a), procedentes de Ribeirão Preto
e/ou região, com longo tempo de doença e em insulinoterapia. Esses resultados,
em geral, assemelham-se aos de outras pesquisas realizadas no local de estudo
[17,18], podendo caracterizar o perfil das pessoas que procuram por atendimento
médico em Ribeirão Preto.
Em relação ao
tratamento medicamentoso, 42 (91,3%) referiram uso de insulina associado ou não
ao uso de AAOs; o tempo médio de uso da insulina e
dos AAOs foi cerca de nove a dez anos, respectivamente.
Estudo retrospectivo realizado numa amostra de 5.403 adultos suecos com DM2,
cujo objetivo foi analisar o período de tempo entre o uso de AAOs e o início da insulinização,
bem como os fatores associados com a prescrição de insulina, revelou que após
seis anos de uso de AAOs, cerca de 25% da amostra
iniciou a insulinoterapia e, após 10 anos, essa taxa aumentou para 42%. A
probabilidade de insulinização foi maior entre as
pessoas com menos de 65 anos, uso de mais de um antidiabético oral e com pior controle
glicêmico [19].
Quanto ao horário de
tomada dos AAOs, entre os quatro entrevistados que
fazem uso de sulfonilureia, dois (50%) afirmaram
tomá-la após as refeições, e entre os 22 que utilizam biguanida,
quatro (18,2%) relataram tomá-la antes das refeições. Esses achados sugerem
falta de conhecimento das pessoas com DM em relação ao horário de tomada dos
medicamentos prescritos, corroborando outros estudos descritivos [5-6]. Ao
considerar que no DM as pessoas são as principais responsáveis pelo seu próprio
cuidado [2,3], a falta de entendimento acerca do horário de tomada dos
medicamentos pode se constituir em uma barreira para a adesão ao tratamento e
comprometer o alcance dos resultados clínicos desejados. Cabe aos profissionais
de saúde identificar as dificuldades relacionadas ao uso dos medicamentos e
estabelecer estratégias para minimizá-las, uma vez que a adesão ao tratamento
deve ser vista como uma atividade conjunta na qual a pessoa não somente obedece
às orientações médicas, mas entende, concorda com e adota o regime prescrito
[20].
Estudo sobre as
interações entre AAOs e alimentos aponta que,
referente às sulfonilureias, o horário recomendado
para a sua administração é 30 minutos antes das refeições [5], visto que o seu
mecanismo de ação consiste em aumentar a secreção de insulina [4-5] e, dessa
forma, a pessoa obterá uma quantidade satisfatória desse hormônio para reduzir
a glicemia proveniente da alimentação [5]. Quanto às biguanidas,
recomenda-se administrá-las de 15 a 20 minutos após a alimentação [5], uma vez
que ela reduz a produção de glicose hepática e apresenta, ainda que
discretamente, uma ação sensibilizadora periférica dos receptores de insulina
[4-5].
Referente à insulinização, verificou-se a dependência do auxílio de
outra pessoa para os procedimentos de preparo e/ou administração da insulina em
15 (35,7%) participantes, semelhante a outros estudos nacionais descritivos
[8,10]. Entretanto, sempre que possível, a insulina deve ser administrada pela
própria pessoa, uma vez que a autoaplicação favorece a autonomia e a adesão ao
tratamento [1].
Quando questionados
sobre os motivos para a participação de outra pessoa no processo de
administração da insulina, 12 (54,5%) referiram medo e/ou insegurança para a
autoaplicação. A literatura aponta que essa é uma das principais barreiras para
o tratamento insulínico, além de crenças errôneas e mitos por parte das pessoas
e de seus familiares [12,13]. Nesse contexto, ressaltam-se as habilidades
necessárias aos profissionais de saúde para identificar a falta de conhecimento,
identificar e clarificar crenças, atitudes, comportamentos e sentimentos sobre
a insulinoterapia, com o objetivo de auxiliar as pessoas com DM a superar o
medo e/ou a insegurança. Essas habilidades incluem a escuta ativa, a empatia e
o incentivo à autonomia das pessoas [1,4].
Entre os que realizavam
a autoaplicação, 59,3% aspiraram a dose correta de insulina, conforme prescrito
em prontuário. Administrar uma dose menor ou maior que a prescrita pode
ocasionar, respectivamente, um controle glicêmico inadequado ou episódios de
hipoglicemia [21]. Baixa acuidade visual, falta de destreza manual e idade
avançada podem favorecer erros de dosagem [10,11,22]. Estudo realizado entre
adultos brasileiros com DM, acompanhados pela Estratégia Saúde da Família, cujo
objetivo foi comparar a dose aspirada de insulina com a dose prescrita,
encontrou que 36,1% dos participantes cometeram divergências na aspiração da
dose, e as variáveis preditoras foram o sexo (feminino), a idade (> 60 anos)
e a escolaridade (< 8 anos de estudo) [11]. Estudo brasileiro multicêntrico,
que objetivou identificar e quantificar a ocorrência de erros técnicos durante
a autoadministração de insulina, mostrou resultados semelhantes quanto à idade,
além de maior ocorrência de erros entre os pacientes com DM2, menor tempo de insulinização e que não praticavam rodízio dos locais de
aplicação e/ou o praticavam de forma incorreta [21].
A obtenção do controle
glicêmico depende da capacidade de a pessoa aspirar e administrar quantidades
exatas de insulina [22]. Para aspirar a dose correta, recomenda-se a injeção de
ar no frasco de insulina na mesma quantidade da dose prescrita, uma vez que
esse procedimento evita a formação de vácuo no frasco e facilita a aspiração
[4,9,16]. Entre os pacientes que aspiraram corretamente a dose de insulina
(59,3%), todos injetaram ar no frasco previamente à aspiração. Esse achado
diverge dos de outros dois estudos brasileiros: o primeiro se propôs a
descrever os erros e os acertos mais comuns da técnica de autoaplicação de
insulina com seringas descartáveis [9], e o segundo, investigou a competência
de idosos com DM para a autoaplicação de insulina [22], sendo que em ambos os
estudos a maioria dos participantes não realizava tal procedimento [9,22].
Quanto aos locais para
a aplicação de insulina, somente seis (14,3%) pacientes referiram regiões
corporais corretas, conforme preconizado pela literatura. A insulina deve ser
aplicada no tecido subcutâneo, uma vez que a extensa rede de capilares
sanguíneos possibilita a absorção gradativa do medicamento e garante o perfil
farmacocinético descrito pelo fabricante [4]. Ressalta-se que os estudos
brasileiros que avaliaram o processo de administração de insulina não abordaram
este último tópico, o que limita as comparações deste resultado. Outro aspecto
importante é a realização do rodízio dos locais de aplicação de insulina para
que o tratamento seja seguro e eficaz, além de prevenir a lipodistrofia
e consequente hiperglicemia [4,16,21]. No presente estudo, 22 (52,4%)
realizavam o rodízio de modo inadequado, ou seja, de forma indiscriminada; e
cinco (11,9%) não o realizam, semelhante ao estudo brasileiro multicêntrico
citado previamente [21]. Para o planejamento do rodízio, devem-se considerar a
velocidade de absorção da insulina em cada região corporal, os tipos de
insulina em uso, o número de aplicações e respectivos horários, além das
atividades de vida diária [4]. O rodízio considerado correto é aquele realizado
de forma sistemática em uma mesma região corporal, ao invés de utilizar
distintas regiões a cada aplicação, contribuindo para minimizar a variabilidade
de absorção da insulina, ao longo de um período [4,16]. Dessa forma, uma mesma
região corporal pode apresentar, em média, de sete a 12 pontos de aplicação,
com a distância de um centímetro entre eles. Após aplicar em um desses pontos,
recomenda-se evitá-los por 14 dias, tempo necessário para a sua cicatrização e
prevenção da lipodistrofia [4].
Outro aspecto
importante da insulinoterapia é a realização da prega subcutânea. No presente
estudo, 35 (83,3%) participantes afirmaram realizá-la, percentual superior ao
encontrado pelo estudo brasileiro multicêntrico (30%), citado previamente [21].
A prega subcutânea aumenta a possibilidade de a insulina ser injetada
corretamente no tecido subcutâneo. Deve ser feita utilizando apenas os dedos
indicador e polegar, uma vez que, quando realizada com todos os dedos,
aumenta-se o risco de injeção intramuscular [4,16]. Além disso, a manutenção da
prega durante a aplicação de insulina, aguardando, no mínimo, cinco a 10
segundos, respectivamente, para seringa e caneta, antes de se retirar a agulha,
reduz o risco de injeção intramuscular e evita o extravasamento de insulina,
contribuindo para um melhor controle glicêmico [4,21]. Ressalta-se que a prega
subcutânea deve ser realizada em todas as aplicações quando utilizadas agulhas
de 12,7 milímetros (mm) e de 8 mm, sendo dispensável para as agulhas de 4, 5 e
6 mm [4].
A apropriada graduação
da seringa e o comprimento adequado da agulha também são fatores decisivos para
uma injeção segura e eficaz, com desconforto mínimo [4]. Ao contrário do estudo
brasileiro multicêntrico [21], verificou-se que a maioria dos pacientes
utilizava seringas com graduação apropriada à dose prescrita. Quanto ao
comprimento da agulha, até 2010, ano no qual se deu início o presente estudo, a
recomendação era feita de acordo com o índice de massa corporal (IMC). Dessa
forma, o comprimento da agulha em uso foi considerado adequado para 41 (97,6%)
participantes. Entretanto, em 2011, novas recomendações foram publicadas a
partir do estudo The Third Injection
Tecnique Workshop in Athens
(TITAN), realizado em 2009 em Atenas, na Grécia [16]. Os seus resultados
mostraram que a espessura da pele dos adultos raramente ultrapassa 3 mm e não
sofre influência de características como idade, sexo, raça, tipo físico ou IMC.
As pessoas obesas possuem a pele com espessura semelhante à de pessoas magras;
em contrapartida, o tecido subcutâneo varia com o sexo, idade, área corporal e
IMC [4,16].
As principais agulhas
disponíveis no mercado brasileiro (12,7 mm e 8 mm), anteriormente recomendadas
para a aplicação de insulina, agora são consideradas longas, respectivamente,
para muitos adultos e para a maioria das crianças, aumentando o risco de
injeção intramuscular. As novas recomendações apontam o uso de agulhas mais
curtas (4, 5 e 6 cm) pelos adultos, inclusive os obesos. Cabe destacar que a
decisão quanto ao comprimento da agulha deve ser feita de forma
individualizada, em parceria com o paciente, considerando os aspectos físicos,
emocionais, farmacológicos e os dispositivos para a aplicação (seringa ou
caneta) [4,16].
Referente ao
armazenamento da insulina em geladeira, 27 (64,3%) participantes referiram
locais inadequados de conservação, tais como a porta e a parte superior do
equipamento, indicando a necessidade de maiores esclarecimentos sobre essa
questão. Outros estudos obtiveram achados semelhantes [9,22].
Existem diferenças
entre o frasco de insulina em uso e o lacrado quanto à conservação e validade.
Recomenda-se que o frasco aberto ou a caneta descartável em uso sejam mantidos
na parte inferior da geladeira doméstica (de 2º a 8º C) ou em temperatura
ambiente, desde que não ultrapasse 30º C. Após quatro semanas da data de
abertura e início do uso, deve-se desprezar o frasco e/ou a caneta descartável,
mesmo que ainda reste insulina [4,9,22]. Esta última recomendação também é
válida para a caneta recarregável com o refil em uso, e a mesma deve ser
conservada em temperatura ambiente, desde que não ultrapasse 30º C [4].
Os fabricantes advertem
que a conservação da caneta recarregável em geladeira pode danificar o seu
mecanismo interno e até mesmo interferir no registro da dose correta. Em
relação ao frasco e à caneta descartável lacrados, os mesmos devem ser mantidos
na parte inferior da geladeira e sua validade pode variar de dois a três anos,
a partir da data de fabricação [4]. Vale ressaltar que abaixo de 2º C, a
insulina congela e perde seu efeito. Por essa razão, não deve ser acondicionada
na parte superior da geladeira. Da mesma forma, não deve ser conservada na
porta do equipamento devido à maior variação de temperatura e à mobilidade
excessiva do frasco a cada abertura da porta [4,9].
Quando questionados a
respeito da reutilização de seringas e agulhas, aproximadamente 70% dos
participantes afirmaram realizar tal prática, e a maior frequência de
reutilização (60%) foi a de duas a quatro vezes, resultado este semelhante ao
de outros estudos nacionais e descritivos [15,23,24]. Embora o frasco de
insulina contenha aditivos bacteriostáticos (fenol e metacresol)
que inibem o crescimento bacteriano dentro do mesmo [15], a reutilização de
seringas e agulhas pode favorecer a ocorrência de infecção, uma vez que a
esterilidade desses insumos é garantida pelos fabricantes somente no primeiro
uso. Além disso, devido ao frequente reaproveitamento, pode ocorrer a perda de
nitidez da escala de graduação da seringa, da lubrificação da agulha e da
afiação, risco de quebra ou danificação da agulha, alterações no bisel,
cristalização do resíduo de insulina no lúmen da agulha e consequente obstrução
do fluxo de insulina na próxima aplicação [4,15].
No Brasil, a legislação
vigente proíbe o reprocessamento e/ou reesterilização
de materiais descartáveis, após o primeiro uso [25]. Entretanto, na prática
clínica, observa-se que a reutilização de seringas e agulhas pelas pessoas com
DM é bastante comum, especialmente entre aquelas com dificuldades financeiras,
visto que a distribuição de insumos pelos serviços públicos de saúde parece ser
irregular ou insuficiente às necessidades diárias de aplicações de insulina
[23,24,26].
Dessa forma, a
reutilização desses insumos deve ser avaliada com cautela para ser posta em
prática e fundamentada em alguns critérios preconizados pela literatura, tais
como: rigorosa técnica asséptica; conservação da seringa reencapada
em sua embalagem original, em local limpo e seco, junto ao frasco de insulina
na geladeira ou em temperatura ambiente; aspiração de pequena quantidade de ar
para prevenir a obstrução da agulha; não lavar a seringa e a agulha e nem
higienizá-las com álcool [4,15].
Além disso, a pessoa
com DM deverá ser avaliada pelo profissional de saúde para assegurar a ausência
de infecção nos locais de aplicação de insulina, acuidade visual preservada,
destreza manual e ausência de tremor, de modo que a pessoa seja capaz de
recolocar o protetor da agulha com segurança [4,15]. Essa prática é contraindicada
para indivíduos com higiene pessoal precária, infecção aguda concorrente, lesão
aberta nas mãos, ou diminuição de resistência imunológica [15].
Ressalta-se que, embora
controversa, a prática da reutilização é uma realidade cotidiana das pessoas
com DM [22,24,26] e aponta para a necessidade de se desenvolverem estudos
prospectivos de avaliação dos riscos, visto que a maioria das pessoas
desconhece os riscos da reutilização. De qualquer forma, a educação em DM,
centrada nas necessidades individuais e nos recursos de cada pessoa, favorecerá
a tomada de decisão [4].
Em relação ao descarte
de seringas e agulhas, destaca-se que 18 (42,9%) participantes o realizavam de
forma inadequada, ou seja, diretamente no lixo doméstico, resultado este semelhante
ao de outros estudos [22,24,26,27]. Estudo brasileiro publicado em 1999, cujo
objetivo foi identificar como os usuários de insulina descartavam seringas e
agulhas em seus domicílios, já mostrava descarte inadequado desses insumos
[28]. Isso sugere que, ao longo das duas últimas décadas, essa prática
permaneceu e, por essa razão, ainda se constitui em motivo de preocupação. O
descarte inadequado pode trazer danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas
[24], especialmente aquelas que trabalham com a coleta de lixo [27].
Para minimizar os
riscos à saúde e ao meio ambiente, é recomendado que todo o material
perfurocortante e/ou com fluidos orgânicos seja descartado em recipientes de
plástico rígido, com boca larga e tampa rosqueável
[4,16,22,26] devendo eles serem encaminhados aos serviços de saúde para
posterior incineração [4]. Destaca-se, também, a necessidade de orientação
pelos profissionais de saúde às pessoas com DM para o manejo adequado dos
resíduos, uma vez que a falta de informação pode fazer com que as pessoas
ignorem ou subestimem a importância do descarte adequado [22,26,27].
Outra importante
habilidade de autocuidado relacionada à terapêutica medicamentosa é o
reconhecimento dos sinais e sintomas da hipoglicemia, bem como sua prevenção e
tratamento, visto que ela se constitui em uma complicação aguda decorrente do
uso de insulina exógena e de AAOs secretagogos
de insulina [4,14].
Dos 46 participantes,
dois (4,3%) relataram que não sabem reconhecer os sinais e sintomas da
hipoglicemia, e três (6,5%) afirmaram que nunca a sentiram, resultados estes
semelhantes aos de um estudo de revisão sobre hipoglicemia, no qual somente 5%
dos indivíduos com DM2 apresentaram conhecimento apropriado sobre esta condição
[14]. Embora a sua ocorrência desencadeie uma série de mecanismos
contrarreguladores, tais como diminuição da secreção de insulina e liberação de
glucagon, adrenalina, cortisol e hormônio do crescimento, responsáveis pelo
aparecimento dos sintomas, algumas pessoas podem apresentar hipoglicemias
assintomáticas. Isso se deve a defeitos na resposta contrarregulatória,
especialmente por insuficiência autonômica, decorrente do processo de
envelhecimento e do longo tempo de doença [4,30], como é o caso da amostra
estudada.
É fundamental que a
pessoa com DM seja orientada quanto à possibilidade de ocorrência da
hipoglicemia, a seus sinais e sintomas, bem como em relação à automonitorização
da glicemia para avaliar as flutuações glicêmicas, uma vez que a ausência dos
sintomas de alarme pode “inibir” o ato de comer e predispor a pessoa a maior
risco de hipoglicemia grave [4,29-31].
Quanto à prevenção e ao
tratamento da hipoglicemia, 17 (37%) e cinco (10,9%) participantes declararam,
respectivamente, que não sabem preveni-la e nem tratá-la.
A prevenção pode ser feita com fracionamento da
alimentação, ou seja, ingerir
de quatro a seis refeições diárias, sendo
três refeições principais (café da
manhã, almoço e jantar) e duas ou três
refeições “pequenas” (lanche da manhã,
da
tarde e da noite). Para facilitar o fracionamento, é importante
estabelecer
horários para cada refeição, mesmo para os
lanches, evitando ao máximo, “pular”
refeições. Isso auxiliará a pessoa com DM a manter
maior estabilidade glicêmica
[4,30].
O tratamento consiste
na ingestão de 15 gramas de carboidrato simples, preferencialmente, glicose.
Caso não seja possível a ingestão de tabletes de glicose, poderá ser oferecida
uma colher de sopa de açúcar ou mel, 150 ml de suco de laranja ou 150 ml de refrigerante
comum. Após 15 minutos, deve-se reavaliar a glicemia por meio de glicosímetro e, na ausência de melhora, repetir o
tratamento. Cabe ressaltar que não se devem oferecer alimentos à pessoa
inconsciente devido ao risco de broncoaspiração.
Nessa situação, o tratamento extra-hospitalar de escolha é o glucagon, na dose
de 1mg por via subcutânea que poderá ser repetida em 10 minutos, se não houver
melhora [4].
A educação em DM é a
principal estratégia para fornecer as orientações necessárias à prevenção e
reversão da hipoglicemia. As ações educativas e assistenciais incluem:
tratamento imediato diante da suspeita de hipoglicemia; orientação da própria
pessoa, seus familiares e pessoas mais próximas, pois, na vigência de episódios
moderados a graves, poderá ocorrer prejuízo da função cognitiva, o que demanda
a assistência de outra pessoa para a detecção e tratamento; manutenção do
cartão de identificação, uma vez que os sintomas da hipoglicemia podem se
assemelhar aos de embriaguez; monitorização, quando há glicosímetro
disponível, de três a quatro vezes por dia e na presença dos sintomas de
hipoglicemia; alimentação nos horários determinados, com lanche noturno;
programação da atividade física; atenção à prescrição medicamentosa para
prevenir erros de dosagem; evitar a ingestão de bebida alcóolica; e manter
consigo fontes de carboidrato simples, de fácil absorção [4,30].
Não foram identificados
estudos que tenham avaliado aspectos relativos à hipoglicemia entre amostras
brasileiras de pessoas com DM, o que mostra a necessidade premente de se
incluir esta temática nos programas educativos sobre a doença.
Como limitações da
presente investigação, destacam-se o reduzido tamanho amostral, o delineamento
transversal que não permite generalizações, a escassez e a heterogeneidade de
estudos em amostras populacionais brasileiras que avaliaram distintos aspectos
da insulinoterapia, limitando a discussão desses achados.
O desenvolvimento de
habilidades para o autocuidado do DM, sobretudo as relacionadas à terapêutica
medicamentosa, é essencial para manter um adequado controle metabólico e,
consequentemente, prevenir e/ou retardar o aparecimento de complicações. Os dados
do presente estudo mostram fragilidades no desenvolvimento de algumas dessas
habilidades, destacando-se o desconhecimento sobre o horário de tomada dos AAOs, especialmente o das sulfonilureias;
a dependência de outra pessoa para os procedimentos de preparo e/ou
administração da insulina devido ao medo e/ou à insegurança; os erros na
aspiração da dosagem correta de insulina; os locais inadequados para a
aplicação da insulina e a ausência e rodízio; o armazenamento inadequado de
insulina no domicílio; e a reutilização e o descarte inadequados de seringas e
agulhas.
O tratamento
medicamentoso do DM é complexo e desafiador. Por essa razão, as pessoas com DM
devem ser orientadas e avaliadas em seu processo de autocuidado, não somente no
momento do diagnóstico, mas também durante todo o curso da doença. A consulta
de enfermagem pode ser uma valiosa oportunidade para se detectar tanto as
dificuldades quanto as potencialidades, de modo a habilitar as pessoas e seus
familiares para o cuidado do DM.
Nessa perspectiva,
reitera-se a necessidade de os profissionais de saúde, especialmente os
enfermeiros, implementarem atividades educativas sistematizadas, considerando
as necessidades individuais e os recursos disponíveis nos serviços de saúde.
À Pró-Reitoria
de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (USP), por
meio do Programa Aprender com Cultura e Extensão.