EDITORIAL
Gravidez na
adolescência: um desafio intersetorial
Alessandra
Lima Vicentim, M.Sc.*, Natália Sperli
Geraldes Marin dos Santos Sasaki**, Maria de Lourdes Sperli Geraldes Santos, D.Sc.***
*Enfermeira
obstetra,
Mestre em Enfermagem pelo Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de
Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), servidora
pública da Secretaria de Saúde de São
José do Rio Preto/SP, docente do curso de Enfermagem da
União das Faculdades
dos Grandes Lagos (Unilago), **Enfermeira obstetra
docente e coordenadora do curso de enfermagem da União das Faculdades dos Grandes
Lagos – Unilago, docente do Programa de Mestrado em Enfermagem da FAMERP, ***Enfermeira, doutora pelo Programa Interunidades
de Doutoramento em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto
(USP), professora adjunta IV da Faculdade de Medicina de São
José do Rio Preto/SP (FAMERP) e docente da
graduação e pós-graduação em
Enfermagem da FAMERP
Alessandra
Lima Vicentim: alessandravicentim@gmail.com
Natália
Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki:
nsperli@gmail.com
Maria
de Lourdes Sperli Geraldes Santos: mlsperli@gmail.com
A adolescência é uma fase de transição entre a
infância e a vida adulta, permeada por transformações físicas, biológicas,
sociais e emocionais, representando um marco para a maioria dos indivíduos.
Cronologicamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define adolescência como
o período compreendido entre os 10 e 19 anos de idade, tal definição também é
adotada pelo Ministério da Saúde no Brasil [1-2] e programas e ações de saúde
voltados à adolescência devem levar em consideração esta faixa etária.
Nesta fase ocorre a puberdade e o início dos
relacionamentos amorosos e, consequentemente, a primeira relação sexual.
Atualmente a coitarca das adolescentes tem ocorrido
em média aos 14 anos, porém percebe-se tendência de que a mesma ocorra de forma
cada vez mais precoce. Frente ao início das relações sexuais e com a
adolescente fisiologicamente pronta para a reprodução, a gravidez torna-se um
fato, caso não sejam tomadas medidas para sua prevenção. Há de se considerar
que mesmo pronta fisicamente, geralmente não acontece nos âmbitos social e
emocional para exercer a parentalidade. Assim, a gestação na adolescência traz
complicações consideráveis para esta população tanto no presente quanto no
futuro.
Tem-se observado a ocorrência da gravidez na
adolescência em um perfil específico, adolescentes casadas ou em união estável,
que não exercem atividade remunerada e que interromperam os estudos. Estas
adolescentes podem ver no papel de mãe um meio para aquisição de “status”
social e uma forma de reconhecimento. Tal fato pode ser compreendido quando
esta não possui outros projetos ou expectativas ligadas ao crescimento pessoal
e/ou profissional ou incentivo para os mesmos, sendo influenciada pela situação
socioeconômica.
Um fato considerável atualmente é que estas
meninas possuem conhecimento em relação aos métodos contraceptivos,
principalmente do preservativo masculino e anticoncepcional hormonal oral,
porém somente o conhecimento não se traduz em uso, e para que ele ocorra faz-se
necessário assegurar o acesso aos métodos e o combate às barreiras que
prejudicam a sua utilização.
Frente
a este painel, há três pilares
essenciais para a prevenção da gravidez na
adolescência: a escola, a família e
a atenção básica. Para o sucesso das
ações é necessário que o trabalho ocorra
de forma intersetorial. A escola é um local privilegiado para a
execução de
ações de educação em saúde, pois
é um espaço para aquisição de conhecimento,
socialização e debates, porém vê-se a
necessidade de discutir a saúde sexual e
reprodutiva de forma cada vez mais precoce, pois se abordado somente no
ensino
médio, oitavo ou nono ano, talvez as ações
preventivas não atinjam o esperado,
visto o início cada vez mais cedo das relações
sexuais. Quanto à família,
sabe-se que a supervisão dos pais ou responsáveis retarda
o início da relação
sexual e aumenta as taxas de uso de métodos contraceptivos. Por
fim, a atenção
básica, e dentro dela o enfermeiro, tem trabalhado a saúde
sexual e reprodutiva e
a prevenção da gravidez na adolescência
através da educação em saúde e
ações em
conjunto com escolas e comunidade, consultas de enfermagem, grupos de
adolescentes e planejamento familiar.
Vale a pena ressaltar que o acesso do
adolescente à unidade de saúde deve ser facilitado e o mesmo deve ser visto
como indivíduo que necessita de atenção integral, privacidade e
confidencialidade pelos profissionais de saúde, além de acolhido de forma
adequada. A Estratégia de Saúde da Família e o Programa Saúde na Escola são
instrumentos essenciais para aproximação desta população, criação de vínculo e
queda de barreiras, trazendo o adolescente para dentro da unidade de saúde.
Entretanto, apesar dos esforços, muitas vezes as ações realizadas parecem
insuficientes para a prevenção da gravidez na adolescência. Talvez realmente
sejam, pois, além de discutir saúde sexual e reprodutiva, um tema essencial deve
ser trabalhado, o empoderamento das adolescentes, capacitando-as para a tomada
de decisões, para a realização de projetos e planos, para a continuidade dos
estudos, profissionalização e entrada no mercado de trabalho, para que estas
sejam capazes de atingir o crescimento pessoal e/ou profissional e superar as
vulnerabilidades a que está sujeita em seu meio através do incentivo e de
oportunidades. Portanto, trabalhar o empoderamento também é prevenir a gravidez
na adolescência.