ARTIGO ORIGINAL
Percepção da equipe de
enfermagem da Estratégia de Saúde da Família quanto aos cuidados paliativos
Nayanne Ferreira Geralda
Rezende*, Meiriane Nogueira Garcia*, Alexandre
Ernesto Silva, D.Sc.**, Fernanda Marcelino de Rezende
e Silva, M.Sc.***, Silmara Nunes Andrade, D.Sc.****, Flávia de Oliveira, D.Sc.*****,
Karla Amaral Nogueira Quadros******
*Enfermeira,
Universidade do Estado de Minas Gerais, unidade Divinópolis, **Enfermeiro,
Professor Adjunto da Universidade Federal de São João Del-Rei, ***Enfermeira,
Coordenadora e docente do curso de enfermagem da Universidade do Estado de
Minas Gerais, unidade Divinópolis, ****Enfermeira, Docente do Departamento de
Enfermagem da Universidade do Estado de Minas Gerais, unidade Divinópolis,
*****Enfermeira, Professora Adjunta da Universidade Federal de São João
Del-Rei, ******Enfermeira, Doutoranda em ciências da saúde pela Universidade
Federal de São João Del-Rei, Docente da Universidade do Estado de Minas Gerais,
unidade Divinópolis
Recebido em 9 de
dezembro de 2019; aceito em 22 de abril de 2020.
Correspondência: Meiriane
Nogueira Garcia, Universidade do Estado de Minas Gerais, Rua Presidente
Tancredo Neves, 417, 35555-000 Carmo do Cajuru MG
Artigo extraído do
trabalho de conclusão de curso intitulado: Percepção da equipe de enfermagem da
estratégia de saúde da família quanto aos cuidados paliativos. Universidade do
Estado de Minas Gerais, 2018.
Nayanne Ferreira Geralda
Rezende: rezendenayanne@gmail.com
Meiriane Nogueira Garcia:
meirianeng@gmail.com
Alexandre Ernesto
Silva: alexandresilva@ufsj.edu.br
Fernanda Marcelino de
Rezende e Silva: fernanda.silva@uemg.br
Silmara Nunes
Andrade: silmaranunesandrade@hotmail.com
Flávia de Oliveira:
flaviadeoliveira@ufsj.edu.br
Karla Amaral Nogueira
Quadros: kanq@bol.com.br
Resumo
Introdução: Os cuidados
paliativos têm como foco a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus
familiares mediante uma patologia que ameace a vida. Percebe-se que geralmente
os cuidados paliativos não são considerados como deveriam, existem barreiras na
assistência dos cuidados paliativos na Estratégia de Saúde da Família (ESF).
Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar qualitativamente os
cuidados dispensados por profissionais de enfermagem às pessoas elegíveis ao
cuidado paliativo nas Estratégias de Saúde da Família de um município do
Centro-Oeste Mineiro. Métodos: Trata-se de uma pesquisa qualitativa
realizada na cidade de Divinópolis/MG. A coleta de dados foi realizada por meio
de entrevista guiada por roteiro semiestruturado realizada com 10 equipes de
ESF sorteadas previamente, até a ocorrência de saturação dos dados. Resultados:
Após transcrição, os conteúdos foram analisados emergindo assim três
categorias: definindo cuidados paliativos na perspectiva de profissionais da
enfermagem da Estratégia de Saúde da Família; a prestação de cuidados
paliativos na Estratégia de Saúde da família, atitudes práticas; desafios para
a execução dos cuidados paliativos na Estratégia de Saúde da Família. Conclusão:
Espera-se com este estudo, contribuir como alerta para que os profissionais
busquem qualificação e aperfeiçoamento para o desenvolvimento dos cuidados
paliativos, bem como aguçar os gestores para a realização de educação em
cuidados paliativos destinados à sua equipe.
Palavras-chave: Enfermagem, cuidados
paliativos, doente terminal, percepção, cuidados de enfermagem.
Abstract
Perception
of palliative care in the nursing team of the Family Health Strategy
Introduction: Palliative care focuses on improving the quality of life of patients
and their families through a pathology that threatens life. It is noticed that
palliative care is generally not considered as it should be, there are barriers
in palliative care assistance in the Family Health Strategy. This study aims to
qualitatively analyze the care provided by nursing professionals to people
eligible for palliative care in the Family Health Strategies of a city in the
Midwest of Minas Gerais. Methods: This is a qualitative research carried
out in the city of Divinópolis/MG. Data collection
was carried out by means of an interview guided by a semi-structured script
carried out with 10 FHS teams drawn previously, until the occurrence of data
saturation. Results: After transcription, the contents were analyzed
thus emerging three categories: defining palliative care from the perspective
of nursing professionals in the Family Health Strategy; the provision of
palliative care in the Family Health Strategy, practical attitudes; challenges
for the implementation of palliative care in the Family Health Strategy. Conclusion:
This study is expected to contribute as an alert for professionals to seek
qualification and improvement for the development of palliative care, as well
as to sharpen managers to carry out education in palliative care for their
team.
Keywords: Nursing, palliative care, terminally ill, perception, nursing care.
Resumen
Percepción del
equipo de enfermería de la Estrategia de Salud Familiar en cuanto al cuidado paliativo
Introducción: Los cuidados
paliativos se centran en mejorar la calidad
de vida de los pacientes y sus familias
a través de una patología que amenaza
la vida. Se observa que los
cuidados paliativos generalmente no se consideran como deberían ser, hay barreras en
la asistencia de cuidados
paliativos en la Estrategia de Salud Familiar. Por
lo tanto, este estudio tiene como objetivo analizar cualitativamente la atención brindada por profesionales
de enfermería a personas elegibles
para cuidados paliativos en las
Estrategias de Salud
Familiar de una ciudad en el medio oeste de Minas Gerais. Métodos:
Esta es una investigación cualitativa
realizada en la ciudad de Divinópolis/MG. La recopilación
de datos se realizó
mediante una entrevista guiada por un guión semiestructurado realizado con 10 equipos de FHS elaborados previamente, hasta la aparición de saturación de datos. Resultados:
Después de la transcripción, se analizaron los contenidos, surgiendo así tres
categorías: definición de
cuidados paliativos desde la perspectiva de los profesionales de enfermería en la
Estrategia de Salud
Familiar; la provisión de
cuidados paliativos en la Estrategia de Salud Familiar, actitudes prácticas; desafíos para la implementación de los cuidados
paliativos en la Estrategia de salud familiar. Conclusión: Se espera que este estudio
contribuya como una alerta para que los profesionales busquen la calificación
y la mejora para el desarrollo de los cuidados paliativos, así como
para agudizar a los gerentes para llevar
a cabo la educación en cuidados paliativos para su
equipo.
Palabras-clave: Enfermería,
cuidados paliativos, enfermedad terminal, percepción, cuidados de enfermería.
Com a crescente
disseminação do cristianismo pela Europa, há relatos a partir do século V, da
criação de abrigos e instituições de caridade, com intuito de cuidar dos
peregrinos, e mais tarde destinar o cuidado a doentes, órfãos e pobres. Estes
locais chamavam hospice, que significava hospedaria,
assim surgiu historicamente o termo que designaria os cuidados paliativos (CP).
Estes cuidados eram realizados por leigos, muitos destes ligados a entidades
religiosas baseados na caridade. A partir de 1947, a inglesa, Dame Cicely Saunders, enfermeira,
médica, iniciou estudos para minimizar a dor nos pacientes em fase final de
vida, tornando-se uma das grandes defensoras dos cuidados prestados no final da
vida [1-3].
No ano de 1967, o
movimento de Hospice Moderno foi iniciado e, além da
assistência aos doentes, houve o incentivo às atividades de ensino e pesquisa
em todo o mundo. Assim, o Cuidado Paliativo moderno inclui o primeiro estudo
sistemático com mais de 1.000 pacientes com diagnóstico de câncer em estágio
avançado no St. Joseph’s Hospice
durante o período de 1958 e 1965 [1-3].
A partir de 1982, o
Comitê de Câncer da Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu grupos para
determinar políticas de hospice, com o intuito do
alívio da dor e sofrimento de pessoas em fase final de vida. Posteriormente a
OMS aderiu ao termo CP e anos depois foi publicada a primeira definição [1,3].
Em 2002, a OMS definiu os CP como:
“cuidados
paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar,
que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares,
diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do
sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e
demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais" [4:1].
Os CP são norteados por
princípios descritos pela OMS no ano de 2002, que apresentam probabilidades
diversas e intervenções clínicas. Dentre estas estão: promoção do alívio da dor
e de outros sintomas estressantes; reafirmar a vida e ver a morte como um
problema natural; a não pretensão em antecipar e nem postergar a morte;
integrar aspectos psicossociais e espirituais ao cuidado; oferecer um sistema
de suporte que auxilia a pessoa a viver tão ativamente quanto possível, até sua
morte; oferecer um sistema de suporte que auxilia a família e entes queridos a
sentir-se amparados durante todo o processo da doença; iniciar o mais
precocemente possível, junto a outras medidas de prolongamento de vida, como a
quimioterapia e radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para
melhor compreensão e manejo dos sintomas [3,5]. No Brasil os CP tiveram início
entre os anos de 1980, no estado do Rio Grande do Sul, com expansão de diversos
serviços. Em 1997 foi criada a Associação Brasileira de Cuidados Paliativos
(ABCP), para assim apoiar a formação de profissionais capacitados para esta
temática. Objetivando a atuação destes profissionais nesta área, foi fundada no
ano de 2005, por um grupo de médicos, a Academia Nacional de Cuidados
Paliativos (ANCP) [2].
O desenvolvimento dos
CP abrange tanto os âmbitos ambulatoriais quanto os hospitalares e
domiciliares. O tratamento e acompanhamento de pessoas devem ser realizados
pela Estratégia de Saúde da Família (ESF), no próprio domicílio do indivíduo,
com o intuito de diminuir custos com internações hospitalares prolongadas e
promover contato entre a família e a pessoa, preservando sua integridade física
e psicológica, além de proporcionar um cuidado humanizado [6].
A ESF foi implantada no
Brasil, em 1994, com o objetivo de estender à população brasileira o acesso à
saúde, conforme as diretrizes e princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). A
pessoa deve entrar no sistema através da unidade básica de saúde, que é
representada pela ESF e centros de saúde, locais onde há uma relação da
população adscrita
no seu território de abrangência
com a equipe de saúde. Desta forma, a unidade é
responsável pelo cuidado,
orientação, promoção à saúde,
prevenção de doenças, redução dos
agravos,
reabilitação e tratamento do paciente através de
uma equipe multidisciplinar
[7].
Na vivência
profissional e acadêmica, percebemos que geralmente os CP não são considerados
como deveriam. A equipe encontra barreiras no que diz respeito ao binômio
pessoa-família, pois muitos acreditam que os CP devem ser destinados somente as
pessoas e os familiares que são carentes quanto a este apoio. Daí a importância
da análise deste cuidado na ESF, para trazer aos familiares e indivíduos um
conforto perante a morte [2].
O CP é prestado a
pessoas portadoras de doenças ou agravos, com o intuito de minimizar o
sofrimento destas pessoas e de seus familiares, frente à fase de adoecer e
morrer. Diante disto parte a questão: como este cuidado é realizado pela equipe
de enfermagem e qual a percepção desta frente a esses processos? Desse modo, o
estudo teve como objetivo: analisar o cuidado às pessoas em CP nas ESF’s, do município de Divinópolis/MG, utilizando como
referência os princípios que orientam esta prática.
Trata-se de uma
pesquisa qualitativa. O estudo qualitativo faz uma relação entre os
significados de valores, crenças, atitudes ou motivos presentes na sociedade,
com o intuito de dar sentido aos dados coletados. Assim o ser humano possui
diferenças de pensamentos, no modo de agir e de acordo com a sua realidade
possui determinados comportamentos que são partilhados em sociedade [8,9].
A pesquisa foi
realizada na cidade de Divinópolis/MG, com os profissionais de enfermagem das
ESF. O município está localizado no Centro-Oeste Mineiro, conta com uma
população estimada de 234.937 habitantes [10].
O estudo foi realizado
com 10 equipes de ESF sorteadas previamente, até a ocorrência de saturação dos
dados. Participaram do estudo 24 profissionais de enfermagem vinculados às ESF
do município de Divinópolis, ou seja, enfermeiro, enfermeiro residente e
técnico de enfermagem. Durante a coleta de dados dois participantes não
quiseram participar do estudo.
As entrevistas foram
realizadas nos meses de outubro e novembro de 2017. Inicialmente o próprio
entrevistador entrou em contato com o responsável pela EFS, via telefone,
abordando os profissionais de forma direta, para explicações quanto às
propostas e objetivos da pesquisa, e foram agendadas as visitas para submissão
dos roteiros da entrevista. A visita ocorreu nos dias determinados pelos
profissionais, com duração de cerca de três horas em cada unidade, ocorrendo em
dias distintos entre elas, de acordo com a disponibilidade de cada
unidade/profissional.
Foi aplicado
individualmente um roteiro de entrevista com as informações dos métodos de
cuidados realizados em pessoas elegíveis aos cuidados paliativos, questões
relacionadas ao conhecimento do cuidado paliativo, vivência profissional,
profissão, tempo de graduação, idade, gênero, tempo na ESF, experiências
laborais anteriores, que foi respondido pelos profissionais, em uma sala que
estava disponível no momento da entrevista, dentro da própria unidade. Posteriormente
a análise das entrevistas teve início com digitação na íntegra conforme escrito
pelos profissionais, estes foram identificados por siglas P1 (profissional
1...), assim por diante.
Foi utilizado como
critérios de inclusão: ser profissional de enfermagem, que estivessem
vinculados nas ESF e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Os critérios de exclusão foram: estar gozando férias ou licença no
momento da pesquisa.
As entrevistas foram
digitadas no Word, e trechos das respostas da equipe colocados no texto
conforme descrito nos roteiros. Posteriormente foi realizada a análise deste
conteúdo sob a perspectiva de Bardin, esta consiste em uma análise de um
conjunto de técnicas das respostas individuais e diversificadas dos
profissionais, com o intuito de sistematizar o conhecimento geral da equipe
[11].
O estudo passou pelo
comitê de Ética da Instituição conforme disposto na resolução nº466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde, e a confidencialidade das informações foram
preservadas e respeitadas, através do parecer nº 2.342.319. Os gastos
referentes à pesquisa foram de total responsabilidade dos pesquisadores.
Os entrevistados foram
em sua maioria do sexo feminino, destes 23 profissionais (88,46%) eram
mulheres, em sua pluralidade os trabalhadores tinham idade entre 23 e 53 anos,
o tempo de graduação variou de oito meses a 20 anos de formados, foram
entrevistados 15 enfermeiros e 11 técnicos de enfermagem.
Posteriormente a
transcrição das entrevistas e análise emergiram três categorias: Definindo CP
na perspectiva de profissionais da enfermagem da ESF; a prestação de CP na ESF,
atitudes práticas; desafios para a execução dos CP na ESF.
Definindo CP na
perspectiva de profissionais da enfermagem da ESF
Identificou-se que
prevalece em todas as falas enquanto definição de CP o oferecimento de conforto
e o alívio da dor às pessoas com prognósticos ruins. Seguem abaixo algumas
falas que explicitam o exposto.
Cuidados
para o bem-estar e conforto do paciente visando uma melhoria para sua qualidade
de vida. (P17)
Cuidado
paliativo seria oferecer o conforto, a paz, através de ações que proporcionem
uma melhor “aceitação” do problema, do momento enfrentado[...]. (P26)
São
cuidados como para aliviar a dor, quando não há outra forma de tratar a
patologia – tratar os sintomas. (P7)
Cuidados
paliativos são atividades/cuidados que podemos ter para que o paciente tenha um
bom final (alívio da dor, fazer o que o paciente gostava de fazer, mantê-lo
perto da família). Já ouvi falar muito em cursos e treinamentos, e já li sobre
o assunto. (P11)
São
cuidados que o profissional tem com aquele paciente com alguma doença que tenha
prognóstico ruim (como doença crônico degenerativa, câncer terminal), com
objetivo de aliviar a dor, favorecer a dignidade humana, aliviar outros
sintomas que o paciente tenha, verificar sonhos/desejos. (P1)
O
cuidado paliativo é um método de cuidado realizado para doenças crônicas sem
prognóstico de cura. É realizado principalmente na fase final de vida de modo a
promover alívio dos sintomas físicos e sofrimento da alma[...]. (P12)
A prestação de CP na
ESF, atitudes práticas
Avaliando as condutas
profissionais para prestação dos CP, identificou-se em 83,3% das falas que há
ausência de sistematização quanto às práticas de CP na ESF. Além disso, os
profissionais buscam orientar as pessoas elegíveis aos CP e os familiares
quanto a realização da assistência, assim, há nas unidades uma discussão
individual de cada caso com a equipe multidisciplinar para avaliar a conduta
mais adequada a cada pessoa. As principais falas dessa categoria foram
selecionadas para demonstrar o exposto.
Atualmente
não existe nada sistematizado sobre cuidados paliativos na ESF. Quando tem
algum paciente, discutimos o caso e condutas com o médico, porém assistemático.
(P1)
Em
minha prática diária o cuidado paliativo é oferecido sem sistematização,
portanto não há uma pessoa específica, tentamos eleger a pessoa mais próxima
daquele paciente. (P26)
É
realizado cuidado pela equipe de enfermagem e médica como curativo, medicação,
avaliação da fisioterapia e psicologia. Orientação a família sobre cuidados. A
família procura a unidade ou o ACS traz a demanda para equipe, é feita visita
de um profissional de nível superior da equipe, médico ou enfermeiro o paciente
é avaliado, levantado suas necessidades e quais profissionais da equipe
realizarão, também pode ser solicitado avaliação de outros profissionais como
fisioterapeuta e psicólogo e encaminhamento para atenção secundária se
necessário. A família é orientada quanto ao seu papel no cuidado. (P23)
É
feita a discussão do caso de cada paciente. A equipe de enfermagem vai à
residência conversa com a família e/ou cuidadores sobre quem irá realizar os
cuidados e então treinamos e orientamos. Fazemos a supervisão de acordo com
cada situação. (P8)
O
paciente em cuidados paliativos é contra-referenciado
por outro serviço de saúde a ESF, onde a equipe multidisciplinar trabalha em
função, a fim de promover qualidade de vida a esse paciente. (P3
A
equipe multidisciplinar irá discutir o caso, após detectar que o paciente não
tem perspectiva de cura, possui uma doença que ameace a vida seguindo os critérios
do manual da ANCP. A equipe multidisciplinar: médico, enfermeiro, técnico de
enfermagem, psicólogo, assistente social, nutricionista. (P6)
Desafios para a
execução dos CP na ESF
Quanto aos desafios
observou-se falta de conhecimento sobre CP, bem como insuficiência numérica de
profissionais para prestação dos CP. Notou-se que a grande maioria deles, ou
seja, 16(61,54%) não obtiveram em sua trajetória profissional, formação e capacitação
em CP, nove (34,61%) dos trabalhadores tiveram durante graduação/pós graduação,
disciplina optativa com esta temática e um destes (3,85%) relatou a
participação em Liga Acadêmica de CP na instituição de ensino.
Falta
de conhecimento por parte da equipe (conhecimento científico), treinamento.
Tentamos sempre discutir casos e eu pessoalmente tento ler sobre o assunto.
(P11)
Os
desafios se iniciam diante conhecimento, entendimento dos profissionais e
mudança de comportamento, em aceitar a morte de quem é tratado; saber
identificar os pacientes e abordar a família neste momento que requer empatia e
delicadeza. Além de proporcionar cuidados nos quais o paciente se sinta
confortável e for da sua vontade. (P25)
Os
desafios são equipe incompletas (Falta ACS), demanda espontânea alta, modelo curativista, não tem equipe de Atendimento Domiciliar no
município (mesmo estando dentro dos critérios para receber essas equipes). Os
pacientes elegíveis para CP precisam ser acompanhados mais de perto, porém a
demanda espontânea alta e outros não permite esse acompanhamento. Aos poucos,
estamos procurando reorganizar o processo de trabalho da ESF. (P1)
Um
dos desafios é a equipe reduzida, e o grande número de atribuições da
enfermeira, e para superar isto tentamos trabalhar com as prioridades. (P23)
Em
minha formação não realizei nenhum tipo de formação ou capacitação em cuidados
paliativos, somente conhecimento acadêmico sobre o assunto. (P3)
Não
realizei treinamento. Apenas estudos próprios. (P21)
Não
existe capacitação aos profissionais da ESF. Falta governabilidade e é
necessário implantar equipes de atenção domiciliar no município. A equipe tem
se programado a dar suporte aos usuários que necessitam ou que são elegíveis a
CP com programação dos atendimentos interdisciplinares. (P12)
Acho
que o maior desafio neste aspecto são as capacitações e geralmente as unidades
estão sempre com muita demanda espontânea por isso esse cuidado paliativo as
vezes fica comprometido, porém aqui nesta ESF percebo uma equipe muito
comprometida que faz o seu melhor e cada dia supera muito bem esses problemas
da demanda e consegue atender muito bem a população. (P10)
Sim,
a disciplina optativa de cuidados paliativos da UFSJ. Contribui para uma nova
visão do paciente em CP, na forma de cuidar e agir para melhorar o conforto do
paciente nos momentos finais de vida, proporcionando uma morte digna. Através
da residência em saúde da família/atenção básica que também tem a disciplina de
cuidados paliativos. (P6)
Estou
cursando uma disciplina na pós-graduação e está me acrescentando muito, pois
temos pacientes em cuidados paliativos. (P2)
Participei
de uma liga de cuidados paliativos na graduação. E atualmente faço uma
disciplina de cuidados paliativos na residência de enfermagem em atenção básica.
(P18)
Quanto às definições de
CP relatadas pelos profissionais, foram identificadas palavras chaves quanto a
este significado, tais como: o conforto, este é definido como: “Conforto
etimologicamente, se origina do latim confortar e, que significa fortificar,
certificar, corroborar, conceder, consolar, aliviar, assistir, ajudar e
auxiliar. O conforto pode assumir o significado de ato de confortar a si e de
confortar o outro” [12:533].
Outro ponto citado foi
o alívio da dor, que pode ser observado em outros estudos, como um indicativo
de melhora da condição de vida das pessoas que se encontram em CP, com o
intuito de diminuir a dor e o sofrimento causado durante o desenvolvimento da
doença ou no decorrer do tratamento [13,14].
O tratamento não
envolve somente procedimentos e medicamentos, pois os indivíduos desenvolviam
técnicas individuais para alívio da dor, como, por exemplo, ficar ao lado de
familiares e amigos, pedir ao profissional que conversasse com ele durante o
procedimento, posições indicadas para os procedimentos, além da cooperação
quando estes fossem realizados [15].
Esta pesquisa teve
coerência com a definição exposta pelos profissionais em outro estudo, no qual
define o CP como um prognóstico ruim, demonstrando que o profissional é
treinado para salvar vidas, seguindo um modelo curativista
e não para aliviar o sofrimento dela diante de um quadro de doença que seja
incompatível com a vida, assim o profissional pode se sentir frustrado mediante
este processo [16].
Com a prestação dos CP
nas unidades de ESF, observamos que muitos profissionais mencionaram a ausência
de sistematização da assistência, como um entrave na realização de ações
práticas para a execução destes cuidados, o que também foi comprovado em outro
estudo [17].
A sistematização da
assistência é uma atividade privativa do enfermeiro, que deve ser realizada
tanto na rede pública e privada de saúde, conforme disposto na Resolução do
COFEN nº 358/2009. Este profissional deve utilizá-la com o intuito de
organização do ambiente de trabalho, este processo se organiza através das
seguintes etapas: coleta de dados de Enfermagem, diagnóstico de Enfermagem,
planejamento de Enfermagem, implementação e avaliação de Enfermagem [18].
Um segundo tópico
citado foi quanto à orientação, neste caso observa-se a necessidade que esta
seja feita tanto com a pessoa quanto com seus familiares, para que estes
consigam cuidar do indivíduo quando o profissional não estiver no seu
domicílio. A interação entre o trinômio, equipe-pessoas-familiares, pode
propiciar uma melhor aceitação da doença, bem como a adesão ao tratamento e
preparo para a terminalidade da vida [19].
Além disso, foi notado
que os profissionais realizam reuniões para discussão individual dos casos para
definir qual a melhor terapêutica indicada para estes indivíduos. Neste tipo de
conduta de abordagem multiprofissional, cada profissional tem sua contribuição
para beneficiar o paliativismo, promovendo assim uma
assistência humanizada e integralizada na tentativa de diminuir o sofrimento
diante ao processo de morte [13,20].
Nota-se que as ESF
contam com profissionais em diversas áreas de atuação, o que beneficia os
cuidados, pois a pessoa é vista de maneira holística, e seu problema físico,
social e emocional é tratado, para tentar diminuir o sofrimento deste período
difícil. Porém esta gama de profissionais não se encontra na unidade em tempo
integral, podendo originar dificuldades para prestação da assistência.
Os
maiores desafios
encontrados pelos profissionais para a realização dos CP
foram a falta de
conhecimento por parte dos profissionais quanto a esta temática,
bem como a
carência quanto à formação e
capacitação durante sua trajetória
acadêmica, o
que sugere mais pesquisas voltadas ao CP [21]. Podendo estar
correlacionado com
o fato do profissional se acomodar com a rotina intensa de trabalho, e
não
buscar aprimoramentos que aperfeiçoem seu trabalho, podendo
prejudicar a
assistência, pois quando não há domínio do
tema, torna-se mais difícil a realização
dos cuidados, não é possível tratar o paciente de
maneira sistematizada,
tornando a assistência inadequada.
No que tange a
insuficiência de profissionais, fato este pode ser observado tanto na equipe de
enfermagem quanto nos demais membros da ESF, podendo gerar uma sobrecarga de
funções práticas e administrativas que dificultam que o profissional exerça a
assistência em CP [21].
Por conseguinte,
notou-se que uma parcela da amostra realizou durante a graduação ou
pós-graduação disciplina optativa em CP, e uma integrante relatou a
participação na Liga Acadêmica de CP da instituição, o que é de grande valia
para a formação do profissional, que pode desenvolver na futura unidade de
trabalho ações voltadas a este público, bem como capacitar sua equipe.
Durante a trajetória
acadêmica deparamos com instituições de ensino que algumas vezes não enfocam no
CP. O estudante é preparado para exercício da enfermagem, porém disciplinas
pontuais muitas vezes não são realizadas, tendo o estudante que buscar por
conta própria conhecimentos mais abrangentes para conseguir atuar na área, pois
quando finaliza a graduação ainda não apresenta o domínio necessário que a
profissão exige, esta preparação é iniciada nos estágios e aprimorada no dia a
dia do trabalho.
Dentre as dificuldades
encontradas na realização da pesquisa, percebeu-se que os profissionais
relataram a sobrecarga de trabalho, e em algumas unidades aguardamos um tempo
maior, para que estes tivessem disponibilidade para preencher o questionário,
porém alguns profissionais se abstiveram de participar da pesquisa.
Em relação as
limitações deste estudo têm-se a questão de que a informação sobre cuidados
paliativos ter sido obtida por entrevista e, portanto, estar sujeita a viés de
memória e de informação, o que leva a crer a possibilidade de estudos
posteriores nessa temática.
As práticas das ESF
estão diretamente relacionadas com os cuidados das pessoas de sua área de
abrangência. Têm em geral conhecimento de suas necessidades, quanto ao processo
de terminalidade da vida, ofertando ao indivíduo uma interação com seus
familiares, bem como proporcionando conforto, alívio da dor e sofrimento, para
os pacientes que não tem prognóstico.
Identificamos que os CP
já são realizados nas unidades estudadas, porém são encontrados alguns entraves
na sua execução como, por exemplo, quanto à comunicação entre o trinômio
pessoas-familiares-profissionais de saúde, que pode dificultar a assistência
prestada, além da falta de apoio aos envolvidos no processo de adoecimento.
Os trabalhadores da
área da enfermagem possuem percepções aguçadas quanto às necessidades que estes
indivíduos e suas famílias têm, podendo assim proporcionar dignidade e
respeito, para que estes pacientes tenham uma boa morte. É preconizado que o
enfermeiro realize a Sistematização da Assistência em Enfermagem, conforme
disposto na Resolução do COFEN nº 358/2009, que pode beneficiar o cuidado que é
prestado à pessoa e família.
Assim, pensando na
grandiosidade e complexidade dos CP, o preparo desses funcionários é essencial,
bem como um suporte emocional a estes que lidam no dia a dia da sua profissão
com o sofrimento e finitude da vida.
Espera-se com este
estudo contribuir como alerta para que os profissionais busquem qualificação e
aperfeiçoamento para o desenvolvimento dos CP na sua unidade de trabalho, bem
como aguçar os gestores para a realização de educação em CP destinados à
equipe, além dos setores responsáveis pelas Instituições de Ensino incluírem
este tema como disciplina nos cursos de graduação.