ARTIGO ORIGINAL
Avaliação da adesão à
hemodiálise pelo doente renal crônico
Lessaiane Catiuscia
Silva de Oliveira*, Gerlene Grudka
Lira, M.Sc.**, Flávia Emília Cavalcante Valença
Fernandes, D.Sc.***, Daiane de Ornelas*, Rachel Mola
de Mattos, D.Sc.****
*Enfermeira
Nefrologista, Clínica de Nefrologia de Juazeiro (Clinefro),
**Professora Assistente do Colegiado de Enfermagem da Universidade de
Pernambuco Campus Petrolina, ***Professora Adjunta do Colegiado de Enfermagem
da Universidade de Pernambuco Campus Petrolina, Clinefro,
****Professora Adjunta do Colegiado de Enfermagem da Universidade de Pernambuco
Campus Petrolina
Recebido em 26 de
dezembro de 2019; aceito em 15 de outubro de 2020.
Correspondência: Flávia Emília
Cavalcante Valença Fernandes, Av. Cardoso de Sá, s/n. Campus Universitário,
Vila Eduardo, 56328-900 Petrolina PE
Lessaiane Catiuscia
Silva de Oliveira: lessaiane_enf@hotmail.com
Gerlene Grudka
Lira: gerlene.grudka@upe.br
Flávia Emília Cavalcante
Valença Fernandes: flavia.fernandes@upe.br
Daiane de Ornelas:
daianeornelas19964@hotmail.com
Rachel Mola de Mattos:
rachel.mola@upe.br
Resumo
Introdução: A doença renal
crônica vem crescendo mundialmente, podendo estar associada ao aumento da
hipertensão e diabetes. Entre as modalidades de tratamento para esta doença
está a hemodiálise, que necessita de adequada adesão terapêutica pelos
pacientes para garantia de suas vidas. Objetivo: Avaliar o perfil
sociodemográfico, clínico e a adesão a hemodiálise dos pacientes renais
crônicos submetidos à hemodiálise em uma clínica de referência localizada no
interior da Bahia, Brasil. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo com
abordagem quantitativa do qual participaram 174 pacientes renais crônicos. A
coleta de dados aconteceu no período de outubro 2017 a fevereiro de 2018,
através de um questionário de avaliação sobre a adesão do portador de doença
renal crônica em hemodiálise, validado e adaptado no Brasil no ano de 2017. Resultados:
A maioria dos participantes era do sexo masculino, casado, possuindo
escolaridade e renda baixas. A hipertensão arterial foi a patologia que mais acometeu
esses indivíduos, e a maioria demonstrou ser aderente ao tratamento. Existe um
comprometimento dos profissionais de saúde, refletindo na qualidade do serviço
prestado. Conclusão: Avaliar a adesão ao tratamento constitui uma
ferramenta útil para aprimorar a prática gerencial e assistencial do serviço de
nefrologia.
Palavras-chave: insuficiência renal
crônica, cooperação do paciente, diálise renal, terapêutica, avaliação de
resultado de intervenções terapêuticas.
Abstract
Evaluation of hemodialysis adherence by chronic renal patients
Introduction: Chronic kidney disease has been growing worldwide and may be
associated with increased hypertension and diabetes. Among the treatment
modalities for this disease is hemodialysis, which requires adequate therapeutic
adherence by patients to guarantee their lives. Objective: To evaluate
the sociodemographic, clinical profile and adherence to hemodialysis of chronic
renal patients undergoing hemodialysis in a reference clinic located in the
interior of Bahia, Brazil. Methods: This is a descriptive study with a
quantitative approach conducted with 174 chronic renal patients. Data
collection took place from October 2017 to February 2018, through an evaluation
questionnaire on the adherence of patients with chronic kidney disease on
hemodialysis, validated and adapted in Brazil in 2017. Results: Most of
the participants were male, married, with low schooling and income.
Hypertension was the pathology that most affected these individuals, and most
have been shown to be adherent to treatment. There is a commitment of health
professionals, reflecting on the quality of the service provided. Conclusion:
Evaluating treatment adherence is a useful tool to improve the managerial and
care practice of the nephrology service.
Keywords: chronic renal failure, patient cooperation, renal dialysis, therapy,
evaluation of the result of therapeutic interventions.
Resumen
Evaluación de la
adherencia al tratamiento
de hemodiálisis en
pacientes renales crónicos
Introducción: La enfermedad renal crónica ha
estado creciendo en todo el mundo y puede estar asociada con el
aumento de la hipertensión
y la diabetes. Entre las
modalidades de tratamiento para esta enfermedad se encuentra la hemodiálisis, que requiere una adecuada adherencia terapéutica por parte
de los pacientes para garantizar
su vida. Objetivo: Evaluar
el perfil sociodemográfico, clínico y la adherencia al tratamiento de hemodiálisis por
parte de pacientes renales crónicos sometidos a hemodiálisis en una clínica de referencia ubicada
en el interior de Bahía, Brasil. Métodos: Este es un
estudio descriptivo con un enfoque cuantitativo del cual participaron 174 pacientes renales crónicos. La recopilación
de datos tuvo lugar de octubre de 2017 a febrero de
2018, a través de un cuestionario
de evaluación sobre la adherencia de pacientes con enfermedad renal crónica en hemodiálisis, validado y adaptado en
Brasil en 2017. Resultados: La mayoría de los participantes eran hombres, casados, con poca educación e ingresos bajos. La hipertensión fue la patología que más afectó a estos individuos, y la mayoría se ha demostrado que son adherentes al tratamiento. Existe un compromiso de los profesionales de la salud, reflexionando sobre la calidad del servicio
prestado. Conclusión: Evaluar
la adherencia al tratamiento es una herramienta
útil para mejorar la práctica gerencial y de cuidado del
servicio de nefrología.
Palabras-clave: insuficiencia
renal crónica, cooperación del
paciente, diálisis renal, terapia, evaluación del resultado de intervenciones
terapéuticas.
Dados epidemiológicos
mostram que a doença renal crônica (DRC) ocorre em 5% a 10% da população
mundial, no Brasil vêm aumentando gradativamente, fator que pode estar
associado ao aumento de indivíduos diagnosticados com hipertensão e diabetes. O
número de pacientes em programa dialítico no Brasil aumentou de 92.091 em 2010
para 112.004 em 2014 [1]. Dados do Inquérito Brasileiro de Diálise Crônica, em
julho de 2016, apontou uma estimativa de 122.825 pacientes em diálise. As taxas
nacionais de prevalência e incidência de pacientes em tratamento dialítico por
milhão de habitantes (pmp), foram 596 (variação: 344
na região norte e 700 na região sudeste) e 193, respectivamente [2].
A DRC consiste em lesão
e/ou perda lenta, progressiva e irreversível da função renal. Caracterizada por
alterações da taxa de filtração glomerular, a DRC pode ser acompanhada ou não
de lesão do parênquima renal, confirmada a partir de valores inferiores a 15
ml/min./1,73m2, indicando o comprometimento renal grave e
consequentemente uma terapia renal substitutiva [3].
Entre as modalidades de
tratamento para estes pacientes estão a hemodiálise (HD), diálise peritoneal ou
transplante renal, sendo a hemodiálise a terapia mais utilizada mundialmente
[4]. A HD consiste no tratamento substitutivo da função renal realizada através
de uma máquina que retira todo excesso de líquido e produtos metabólicos do
corpo, quando os rins perdem sua capacidade. O tratamento prescrito é feito
numa média de três sessões semanais, com duração de três a cinco horas,
dependendo da necessidade de cada paciente. Esta terapia é feita durante toda a
vida até a realização do transplante renal [5].
A DRC representa um
problema de saúde pública devido a sua alta complexidade de tratamento e
elevados custos, considerando um aumento desses pacientes em regime de HD.
Assim, os indivíduos devem zelar pela sua saúde, assumindo a responsabilidade,
pelo seu bem-estar e autocuidado [3].
O tratamento da HD traz
repercussões para a vida do indivíduo, afetando sua qualidade de vida [6]. Por
se tratar de uma experiência difícil e por vezes dolorosa, os pacientes devem
adaptar-se as mudanças ocasionadas pelo tratamento, dentre as quais estão novos
hábitos alimentares, rotina modificada, dependência familiar, e perda da
autonomia [7].
Define-se a adesão
terapêutica como grau de concordância entre o comportamento de uma pessoa
referente à ingesta de medicamentos, realização de uma dieta, ou mudanças nos
hábitos de vida, representando pontos importantes para o curso da enfermidade,
evolução no tratamento e repercussões em sua qualidade de vida [8].
A não adesão
terapêutica tem como consequências problemas no contexto clínico, social, e
econômico, tanto para os doentes quanto para os prestadores de serviços em
saúde pública [9]. Portanto, promover uma melhoria na prática gerencial e
assistencial dos cuidados de saúde de enfermagem na área de nefrologia, de
forma a garantir uma maior adesão terapêutica do doente renal crônico frente a
necessidade da HD.
Este estudo teve como
objetivo avaliar o perfil sociodemográfico, clínico e a adesão a HD dos
pacientes renais crônicos em uma clínica de referência.
Trata-se de um estudo
descritivo, com abordagem quantitativa. A pesquisa foi desenvolvida nos meses
de outubro de 2017 até janeiro de 2018 em um centro de diálise localizado no
município de Juazeiro, estado da Bahia, com 320 pacientes renais crônicos
cadastrados. A clínica oferece o tratamento diário em três turnos, exceto aos domingos.
A população alvo foram doentes renais crônicos que estavam em tratamento hemodialítico. Para a seleção dos sujeitos, utilizou-se o
processo de amostragem aleatório simples. O cálculo amostral considerou a
utilização de variáveis categóricas, intervalo de confiança de 95%, erro
amostral de 5% e prevalência estimada de 50% perfazendo uma amostra de 175
indivíduos, considerando uma perda por recusa totalizando a amostra final de
174 participantes.
Os critérios de
inclusão de participantes do estudo foram: estar em tratamento renal hemodialítico há pelo menos três meses, independentemente
da idade, sexo e grau de instrução e que aceitaram participar da pesquisa após
o sorteio e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Os
critérios de exclusão foram pacientes que não estavam admitidos na clínica de
estudo, não aceitaram participar da pesquisa e se negaram a assinar o TCLE.
Dentre as variáveis
dependentes da pesquisa estão: idade, sexo, profissão, horário da sessão,
estado civil, escolaridade, renda familiar, raça, religião, causa que levou o
indivíduo ao tratamento, possuir um cuidador, exercer alguma atividade laboral.
Além disso, foi avaliada a variável independente realização da HD.
Para a coleta de dados
foi utilizado o Questionário de avaliação sobre a adesão do portador de doença
renal crônica em hemodiálise (QA – DRC-HD) validado e adaptado no Brasil no ano
de 2017 [10]. Ele contém 46 questões divididas por blocos em quatro domínios:
realização da HD, regime hídrico, regime dietético, regime medicamentoso. Em
seu domínio hemodiálise traz 14 perguntas dentre as quais três permitem avaliar
como está a adesão ao tratamento hemodialítico. Essas
perguntas são consideradas precursoras para avaliação da adesão, sendo
respostas categorizadas com escores [10].
O estudo relaciona o
fato de ser aderente ou não ao tratamento, consistindo em o paciente responder
as seguintes perguntas: se faltou alguma vez durante o mês passado para
realização da HD, quantas vezes foram solicitadas a redução do tempo programado
para o tratamento, e qual foi o tempo de redução. Os dados sociodemográficos e
causa da doença renal crônica foram coletados como informações complementares,
a partir de um instrumento confeccionado pelas pesquisadoras. A construção do
banco de dados foi por dupla digitação, para minimizar os erros de inserção das
variáveis analisadas.
A análise dos dados se
deu por meio da estatística descritiva considerando a distribuição de
frequência em números absolutos e relativos para as variáveis categóricas e as
medidas de tendência central e dispersão como média e desvio padrão para as
variáveis numéricas. Adotou-se Intervalo de Confiança de 95% para a média e
para a proporção considerando a distribuição binomial, neste último. Foram
utilizados os programas Microsoft Office Excel 2013 e Stata
versão 14.0 para análise dos dados.
Esta pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco
atendendo a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, em 03 de outubro de
2017, sob parecer nº2.311.915.
Dos 174 participantes,
103 (59,2%) eram do sexo masculino, a média de idade foi de 51,4 anos, 48
(27,6%) eram agricultores, 71 (40,8%) eram casados, e 103 (59,2%) possuíam
ensino fundamental incompleto. Quanto a renda familiar, 113 (64,9%) possuíam
até um salário mínimo. A religião católica teve uma prevalência maior 103
(59,2%) dentre as outras religiões.
Tabela I - Dados
sociodemográficos de pacientes renais crônicos em um centro de hemodiálise,
Juazeiro/BA, Brasil, out/2017-jan/2018.
†IC95% - Intervalo de
Confiança de 95% para a média; ‡IC95% - Intervalo de Confiança de 95% para a
proporção assumindo a distribuição binomial.
Dentre as patologias
registradas, a HAS esteve presente em 61 (35,1%) pacientes, a média de anos dos
pacientes em HD foi de 4,6 anos. Apenas três (1,7%) dos pacientes já fizeram
diálise peritoneal anterior a HD. O tipo de locomoção mais utilizado pelos
entrevistados foi o transporte da prefeitura de sua morada, e em sua maioria
compareceram sozinhos ao centro de diálise. Em relação ao número de sessões,
predominou a periodicidade de sessões de três vezes por semana, durante 4
horas, e a maioria dialisava no segundo turno. Considerando os dias e horários
da realização da HD, 145 (83,3%) responderam que estão convenientes.
Tabela II – Características
clínicas e perfil de tratamento de pacientes renais crônicos submetidos a HD,
Juazeiro/BA, Brasil, out/2017-jan/2018.
†IC95% - Intervalo de
Confiança de 95% para a média; ‡IC95% - Intervalo de Confiança de 95% para a
proporção assumindo a distribuição binomial.
Sobre a adesão
terapêutica do doente renal crônico ao tratamento de HD, foram encontrados 154
(88,5%) pacientes que aderiram. Entre os pacientes que relataram faltar a HD, a
principal razão foi problemas com transporte representando (4,0%). Em relação a
razão da falta à terapia, 154 (88,5%) não faltaram as sessões de HD. Com
relação ao fato de não querer ir ou não poder ir, um (25%) justificou se sentir
mal fisicamente. 145 (83,3%) dos participantes da pesquisa não solicitaram a
redução do tempo programado para a terapia dialítica.
Tabela III – Adesão do doente
renal crônico ao tratamento de hemodiálise em um centro de referência,
Juazeiro/BA, Brasil, 2017-2018.
Com relação à
orientação dos profissionais sobre o tratamento dialítico, percebeu-se que 30
(17,2%) responderam que os cuidadores falaram toda semana sobre a importância
de não faltar à HD. Já em relação à orientação do profissional sobre a
importância de realizar o tratamento sem diminuir o tempo, 50 (28,7%)
responderam que o profissional de saúde fala sobre a importância de fazer a
hemodiálise sem diminuir o tempo programado.
Tabela IV - Orientações
profissionais sobre o tratamento dialítico em um centro de referência,
Juazeiro/BA, Brasil, 2017-2018.
Sobre a percepção dos
pacientes quanto à importância de cumprir as sessões de HD, 131 (75,3%),
responderam que acham extremamente importante cumprir a HD. A justificativa
mais prevalente sobre o porquê é importante cumprir a programação, 85 (48,9%)
foi que entendem que seus rins não funcionam adequadamente e, por isso,
precisam cumprir a programação. Considerando a dificuldade em permanecer
durante toda sessão de HD, 131 (75,3%) responderam não possuir nenhuma
dificuldade.
Tabela V – Percepção dos
pacientes sobre a importância de cumprir as sessões de hemodiálise em um centro
de referência, Juazeiro/BA, Brasil, 2017-2018.
Dentre os dados obtidos
no estudo houve a prevalência maior de pacientes do sexo masculino, ensino
fundamental incompleto. Um estudo realizado em São Luiz, Maranhão, Brasil, cujo
objetivo era identificar fatores socioeconômicos, demográficos, clínicos
nutricionais e laboratoriais de pacientes em terapia renal substitutiva
revelaram o mesmo perfil sociodemográfico [6]. A profissão de agricultor
mostrou-se com um número relevante dentre os participantes, e a religião
católica como opção de escolha.
O perfil epidemiológico
do renal crônico encontrado em outro estudo corroboram os dados encontrados
nesta pesquisa em que a doença renal crônica aparece predominantemente no sexo
masculino [11]. Fato esse que pode estar relacionado a vulnerabilidade dos
homens as doenças do aparelho circulatório dentre elas a HAS. A Política
Nacional de Integração a Saúde do Homem revela que os homens evitam contatos
com consultórios médicos, corredores de unidades de saúde, tornando-os avessos
a prevenção e autocuidado, protelando a procura do atendimento médico [12].
A HAS seguida pelo
diabetes mellitus foram as morbidades que mais acometeram os indivíduos deste
estudo. Um estudo semelhante descreve aproximação com os dados encontrados
revelando a hipertensão seguida do diabetes mellitus como principal causa que
leva a insuficiência renal [4]. Dados do Inquérito Brasileiro de Diálise
realizado no ano de 2016, publicado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia
(SBN), também mostram como casos mais frequentes para o diagnóstico de DRC, a
hipertensão arterial (34%) e o diabetes (30%) [2].
A clínica em estudo
atende pacientes de municípios circunvizinhos da Bahia, e estados como
Pernambuco e Piauí, tornando-se necessário a utilização do transporte da
prefeitura para o deslocamento até o centro de HD. Diante disso, a pesquisa
mostrou que um número considerável de usuários faz uso desse tipo de transporte
para ir as sessões, a maioria comparece ao serviço sozinho, e possui renda de
até um salário mínimo.
A dependência do uso do
transporte foi considerada uma causa de faltas e atrasos nas sessões de HD, tal
resultado pode estar relacionado as dificuldades financeiras relatadas,
tornando-se um agravante custear o translado até o centro [13]. Considerando os
efeitos da DRC e seus impactos, é apontado dentre tantas restrições, a
dificuldade em retornar sua atividade laboral por limitações físicas e
psíquicas [14].
Pacientes em terapia
renal substitutiva realizam sessões de (HD) três vezes por semana, durante
quatro horas. Esse tratamento utiliza equipamentos de alta tecnologia para
realização de depuração do sangue para que ocorra uma remoção adequada das
toxinas [15]. O presente estudo demostrou que os pacientes da clínica
responderam que os horários programados das sessões de HD estavam convenientes,
tornando-se um dado de grande relevância para uma maior adesão ao tratamento.
Uma pesquisa demonstrou que quanto maior a idade do indivíduo menor é o número
de faltas na HD, consequentemente melhor é a adesão, a média de idade de seus
participantes foi de 54,7 anos [14]. Dado aproximado com o deste estudo, na
qual a média de idade foi de 51,4 anos.
Quando se refere ao
impacto que o tratamento dialítico causa ao paciente, estes estão relacionados
às repercussões psicossociais e eventos negativos, podendo interferir em sua
qualidade de vida [11]. Durante as sessões de HD, podem ocorrer uma série de
eventos estressores fisiológicos que incluem a hipotensão arterial, náuseas,
cefaleia, arritmias, fadiga, dor, hematomas, sangramentos no local das punções
da fístula arteriovenosa, entre outros [16]. Esses fatores podem tanto
influenciar na falta desses indivíduos quanto na solicitação de redução do
tempo da terapia.
Os participantes da
pesquisa demonstraram ser bem aderentes, uma vez que a maioria não solicitou a
redução do tempo da HD, compareceram com frequência para realização do
tratamento, e responderam não terem faltado às sessões. Aos que responderam ter
faltado alguma vez, a principal razão de falta estava em não querer ir, ou não
poder ir, sendo justificado porque estava se sentindo
mal fisicamente.
No que se refere as
orientações feitas pelos profissionais de saúde, foi percebido que a maioria
fala sobre a importância de não faltar sessões de HD pelo menos semanalmente.
Além disso, a maioria dos profissionais também faz orientações acerca da não
redução do tempo programado da HD toda vez que o paciente comparece ao serviço
para o tratamento. Contrapondo com estes achados, uma pesquisa que avaliou o
domínio HD mostrou em seus resultados que a orientação pelos profissionais
ocorria apenas quando o tratamento era iniciado pela primeira vez, dessa forma
a não adesão esteve presente em 32% dos usuários [17].
Os profissionais de
saúde devem ser vigilantes quanto às questões relacionadas à adesão,
identificando as inquietações e preocupações dos pacientes [18]. O enfermeiro
nefrologista desempenha um papel crítico e valioso na qualidade dos cuidados,
sendo uma prioridade garantir a alta qualidade na assistência [19]. Entre as
principais intervenções de enfermagem a esses pacientes está a prevenção de
infecções, promoção do autocuidado, orientações a família e ao paciente, dentre
outras [20].
Quanto a percepção dos
pacientes sobre a importância da realização do tratamento, eles entendiam que
os rins funcionavam de forma inadequada e precisavam cumprir a programação, e
não tinham dificuldade quanto a esse cumprimento. Além disso, foi observado que
as orientações profissionais fornecidas tiveram grande relevância, fazendo com
que a maioria dos pacientes compreendesse a importância de seu tratamento,
repercutindo em uma boa adesão.
Como a clínica estudada
possui certificação pela Organização Nacional Acreditação (ONA), nível dois
plena, está atualmente em processo para adquirir o nível três, considerado
padrão ouro. Deste último nível no processo de acreditação hospitalar,
demonstra a busca constante na prestação de um serviço de qualidade. Os dados
aqui apresentados reforçam essa questão, uma vez que os pacientes percebiam nos
profissionais comprometimento com a assistência. O incentivo para alcançar a
qualidade da assistência vem do processo de acreditação hospitalar pressupondo
medição de desempenho e ações de educação [21]. Esta é uma ferramenta que os
serviços de saúde utilizam para alcançar a qualidade da assistência [22].
Algumas limitações do
estudo estiveram relacionadas ao nível de escolaridade baixo dos participantes
e a longa extensão do questionário. Esses fatores resultaram na dificuldade de
entendimento de algumas perguntas, exigindo várias releituras, tornando-se
cansativo tanto para as pesquisadoras quanto para os pacientes.
A pesquisa revelou que
a maioria dos pacientes são homens, casados, agricultores, possuem baixa
escolaridade, e religião prevalentemente católica. Aponta como principais
fatores causais nos indivíduos em terapia hemodialítica,
a hipertensão arterial e o diabetes mellitus. A maioria dos participantes se
mostrou aderente à HD, o que pode estar relacionado a qualidade do serviço
prestado, por se tratar de uma clínica acreditada, que promove uma constante
capacitação profissional. Percebeu-se ainda que existe o comprometimento por
parte dos profissionais de saúde sobre o tratamento dialítico.
O estudo demonstrou
ainda que os pacientes possuem uma boa percepção quanto a importância de
cumprir as sessões de HD, além de considerarem importante o cumprimento dessa
programação, bem como afirmarem não possuir dificuldades em permanecer nas
sessões.
Avaliar a adesão do
doente renal crônico ao tratamento hemodialítico
constitui-se uma ferramenta a ser utilizada na prática gerencial e assistencial
do serviço de nefrologia. Ponderar outros domínios de análise como adesão aos
medicamentos, ingesta de líquidos e dieta, podem ampliar essa ferramenta e
possibilitar incremento para a qualidade de vida destas pessoas.