ARTIGO ORIGINAL
Superlotação dos
serviços de urgência e emergência hospitalar
Sergio Vital da Silva
Júnior, M.Sc.*, Francisco de Assis Lacerda**, Márcia
Virgínia Di Lorenzo Florêncio, D.Sc.***, Ângela
Amorim de Araújo, D.Sc.***, Betânia Maria Pereira dos
Santos, D.Sc.****, Ivanilda
Lacerda Pedrosa, D.Sc.***
*Enfermeiro, Membro do
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Agravos Infecciosos e Qualidade de Vida -
NEPAIQV/UFPB, **Enfermeiro, Coordenador do Ambulatório Geral do Hospital
Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba,
***Enfermeira, Docente da Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal da
Paraíba, ****Enfermeira, Docente da Escola Técnica de Saúde da Universidade
Federal da Paraíba
Recebido em 27 de
janeiro de 2020; aceito em 18 de fevereiro de 2020.
Correspondência: Sergio Vital da Silva
Junior, Universidade Federal da Paraíba, Campus I - Lot.
Cidade Universitária 58051-900 João Pessoa PB
Sergio Vital da Silva
Junior: sergioenfe1@gmail.com
Francisco de Assis
Lacerda: fcodeassislacerda@outlook.com
Márcia Virgínia Di
Lorenzo Florêncio: marciadilorenzo@bol.com.br
Ângela Amorim de Araújo:
angeladb7@hotmail.com
Betânia Maria Pereira
dos Santos: betaniamps@hotmail.com
Ivanilda Lacerda Pedrosa:
ivanildalp@hotmail.com
Resumo
Objetivo: Descrever a concepção
dos profissionais de saúde frente à superlotação dos serviços de urgência e
emergência hospitalar. Métodos: Estudo transversal, descritivo, com
abordagem quantitativa, realizado em um hospital de urgência e emergência em
João Pessoa/PB. A amostra foi composta por 108 indivíduos consoante aos
critérios de inclusão e exclusão. Os dados empíricos foram analisados pelo
Programa Statistical Package
for the Social Sciences
(SPSS), versão 21.0. Todos os aspectos éticos foram rigorosamente seguidos com
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal da Paraíba. Resultados: Os profissionais de
enfermagem e medicina estão em maior quantidade na equipe multiprofissional de
saúde. A maioria dos participantes atua na área entre cinco e 10 anos. 95,4%
dos entrevistados acreditam que a superlotação é um grave problema de saúde
pública, 50,9% afirmam que os atendimentos clínicos e traumáticos geram
superlotação, 47,2% afirmam que a superlotação ocorre em qualquer período da
semana e 64,8% em qualquer período do dia. Conclusão: A superlotação
hospitalar pode estar relacionada a problemas de gestão de riscos e ineficácia
do sistema de prevenção de agravos, sendo importante o aprimoramento da prática
assistencial e a gestão em saúde.
Palavras-chave: emergências,
Enfermagem, hospitalização, segurança do paciente.
Abstract
Hospital overcrowding of urgency and emergency services
Objective: To describe the conception of health professionals facing the hospital
overcrowding in the urgency and emergency services. Methods:
Cross-sectional, descriptive study with a quantitative approach, carried out in
an urgent and emergency hospital in João Pessoa/PB. The sample consisted of 108
individuals according to the inclusion and exclusion criteria. Empirical data
were analyzed using the Statistical Package for the Social Sciences version
21.0. All ethical aspects were strictly followed with approval by the Research
Ethics Committee of the Health Sciences Center of the Federal University of Paraíba. Results: Nursing and medical professionals
are in greater numbers in the multiprofessional
health team. Most participants work in the area for five to 10 years. 95.4% of
respondents believe that overcrowding is a serious public health problem, 50.9%
say that clinical and traumatic care generates overcrowding, 47.2% say that
overcrowding occurs at any time of the week and 64.8% % at any time of the day.
Conclusion: Hospital overcrowding may be related to problems of risk
management and inefficiency of the disease prevention system, needing the
improvement of care practice and health management.
Keywords:
emergencies, Nursing, hospitalization, patient safety.
Resumen
Hacinamiento de hospital de emergencia
Objetivo: Describir
la concepción de los profesionales de la salud ante el
hacinamiento de los servicios de urgencia y emergencia hospitalaria. Métodos:
Estudio descriptivo
transversal con enfoque cuantitativo,
realizado en un hospital de
urgencias y emergencias en João Pessoa/PB. La muestra consistió en 108 individuos de acuerdo con los criterios
de inclusión y exclusión.
Los datos empíricos se analizaron
utilizando el Paquete Estadístico para las Ciencias Sociales
(SPSS), versión 21.0. Todos los
aspectos éticos fueron seguidos estrictamente
con la aprobación
del Comité de Ética de Investigación
del Centro de Ciencias de la Salud de la
Universidad Federal de Paraíba. Resultados:
Los profesionales médicos y de enfermería
están en mayor número en el equipo de salud multiprofesional. La mayoría de los participantes trabajan en el área durante cinco a 10 años. El 95.4% de los encuestados cree que el hacinamiento es un problema grave de salud
pública, el 50.9% dice que la atención clínica y traumática genera hacinamiento, el 47.2% dice que el hacinamiento ocurre en cualquier
momento de la semana y el
64.8% % en cualquier
momento del día. Conclusión: El hacinamiento
hospitalario puede estar
relacionado con problemas de gestión
de riesgos e ineficiencia del sistema de prevención de enfermedades, siendo importante la mejora de la
práctica asistencial y la gestión de la
salud.
Palabras-clave: emergencias,
Enfermería, hospitalización,
seguridad del paciente.
Atualmente, a Segurança
do Paciente tem sido difundida na perspectiva de aprimorar os serviços
assistenciais de saúde. Estes conceitos diferem dos pressupostos das
precursoras da Enfermagem Moderna, como Florence Nightingale
e Ana Néri, na utilização de tecnologia, mas continuam em sua essência como
locais de cuidado científico do ser humano [1].
Nesse sentido, na
atualidade, a Segurança do Paciente tem sua definição ancorada na premissa de
que, durante a assistência em saúde nos diversos níveis de atenção, deve haver
a redução do risco de danos desnecessários oriundos de cuidados de saúde a um
mínimo aceitável. Isso ocorre por meio da redução do dano, que é o
comprometimento tecidual ou qualquer efeito advindo dessa situação como
doenças, lesão, sofrimento, morte, incapacidade ou disfunção, podendo, assim,
ser físico, social ou psicológico; evento adverso, quando o incidente resulta
em dano ao indivíduo e incidente, que é o evento ou circunstância que poderia
ter resultado, ou resultou, em dano desnecessário ao paciente [2].
Nesse cenário estão os
serviços hospitalares de emergência, que são uma das portas de entrada do
Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, a nível hospitalar, sendo suas ações
baseadas na Rede de Atenção às Urgências e Emergências, que descreve as
atribuições desses aparelhos assistenciais [3].
Um dos fatores mais
complexos experimentados pelos profissionais de saúde que atuam nos serviços de
urgência e emergência na contemporaneidade é a superlotação hospitalar, o que
torna a assistência às urgências e emergências uma prática difícil,
interferindo negativamente na segurança do paciente [4].
Essa situação pode
estar atrelada à falta de resolução na Atenção Básica, de equipamentos e
profissionais especializados em outros serviços da área de urgência e
emergência, gerando fatores que podem contribuir para superlotação [5].
Destarte, aliado a
isso, a ineficiência do modelo biomédico interfere no aumento de pessoas
acometidas por agravos que podem ser prevenidos por intermédio da assistência
na Atenção Básica, ocasionando maior procura de serviços de urgência e
emergência. Um estudo aponta que a falta de capacitação de enfermeiros na
Atenção Básica promove a falta de gestão do cuidado adequada nesse nível de
assistência, gerando assim elevada procura desnecessária por serviços de pronto
atendimento [6].
Ao analisar o aumento
da demanda nos serviços de urgência como importante porta de entrada do sistema
de saúde, foram definidas nas últimas décadas políticas voltadas a esses locais
de atendimento [7,8]. A Portaria 2.048 do Ministério da Saúde propõe a
implantação do acolhimento com classificação de risco nas unidades de
atendimento às urgências e emergências, sendo realizado por profissional de
saúde com formação em nível superior, após treinamento específico e utilizando
protocolos próprios a essa assistência, no intuito de avaliar o grau de
urgência dos pacientes, ordenando assim a prioridade para o atendimento.
No entanto, ainda se
observam serviços de atendimento às urgências superlotadas, o que sobrecarrega
e dificulta as atividades dos profissionais envolvidos na assistência e expõe
os pacientes a desfechos inesperados. Neste ínterim, os profissionais de saúde
têm a função de restabelecer, estabilizar e manter a vida do paciente
criticamente enfermo [9]. Esta superlotação pode acarretar danos a todos os
envolvidos no processo do cuidado gerando forte insegurança aos pacientes [10].
Isso posto,
questiona-se: qual a concepção dos profissionais de saúde frente à superlotação
dos serviços de urgência e emergência hospitalar? Desta forma, para tentar
responder à pergunta que permeia a presente investigação, este estudo tem como
objetivo descrever a concepção dos profissionais de saúde frente à superlotação
dos serviços de urgência e emergência hospitalar.
Estudo transversal,
descritivo e com abordagem quantitativa, desenvolvido em um hospital referência
em situações de urgência e emergência, localizado no município de João
Pessoa/PB. A instituição atende casos de média e alta complexidade, como
trauma, violência física e/ou sexual, queimaduras, choque elétrico e doenças
clínicas em suas fases agudas, Acidente Vascular Encefálico (AVE) e hemorragias
digestivas.
A população do estudo
corresponde a 328 profissionais do serviço de saúde entre eles: enfermeiros,
técnicos em enfermagem, médicos, psicólogos e assistentes sociais. A amostra,
obtida por meio de cálculo estatístico, foi composta por 108 indivíduos, de
forma aleatória, consoante disponibilidade dos participantes e aos critérios de
inclusão estabelecidos: profissionais lotados no hospital e em período de
trabalho ativo. Adotaram-se como critérios de exclusão, os profissionais que
não dispuseram de tempo para as respostas, que estavam em período de licença ou
férias ou que foram contratados no local de realização do estudo há menos de
dois meses.
A coleta de dados
aconteceu entre agosto e outubro de 2019, por meio de entrevista, utilizando-se
um questionário contendo questões objetivas relacionadas aos dados de
caracterização dos profissionais e questões específicas relacionadas a
concepções dos profissionais de saúde frente à superlotação dos serviços de
urgência e emergência. O instrumento foi elaborado pelos autores a partir da
análise da literatura sobre o tema em evidência.
A aplicação do
instrumento de coleta de dados ocorreu na referida instituição, em local
privativo possibilitando sigilo às respostas. Ressalta-se que, para essa etapa,
não houve prejuízo da assistência disponibilizada, pois o recrutamento dos
participantes aconteceu em horários de descanso ou alimentação dos
profissionais, com anuência dos mesmos, tomando-se o máximo de precaução quanto
à acurácia das respostas no sentido de minimizar os riscos oriundos da pesquisa
no que concerne ao tempo investido para a investigação.
Após o preenchimento do
instrumento elaborado para tal finalidade e leitura analítica das respostas aos
questionários, os dados obtidos foram digitados por meio de pares e processados
utilizando-se o software da Microsoft Excel 2010. Posteriormente, os dados
foram agrupados em tabelas e figuras e analisados por intermédio de estatística
descritiva pelo Programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 21.0.
Ressalta-se que todos
os aspectos éticos que emergem da resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde [11] referente ao sigilo, privacidade e coleta de anuência dos
participantes foram rigorosamente seguidos. O presente estudo recebeu aprovação
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal da Paraíba, com número do Parecer 1.456.893, CAAE:
48418215.5.0000.5188.
O serviço assistencial
cenário de desenvolvimento deste estudo é composto por 330 leitos, sendo 48 de
Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dispõe ainda de uma unidade de retaguarda
para cuidados prolongados em traumatologia e ortopedia com 93, sendo 10 de UTI
[12].
Os dados empíricos
oriundos da presente investigação demonstram que, referente à área de atuação
em urgência e emergência dos participantes, 35% são enfermeiros, seguido de
técnicos em enfermagem (28%), médicos (26%), assistente social (7%) e psicólogo
(4%), conforme se observa no gráfico 01.
Fonte: Pesquisa direta,
2020.
Gráfico 1 - Distribuição da
amostra de acordo com a categoria profissional, João Pessoa/PB, 2020 (n = 108).
Referente ao tempo de
atuação em urgência e emergência hospitalar, observa-se no gráfico 02 que a
maioria dos participantes (32,20%) está atuando no intervalo temporal entre
cinco e 10 anos e que o menor período informado pelos entrevistados foi de até
dois anos.
Fonte: Pesquisa direta,
2020.
Gráfico 2 - Distribuição dos
participantes conforme tempo de atuação em urgência e emergência hospitalar,
João Pessoa/PB, 2020 (n = 108).
Concernente à opinião
dos profissionais de saúde sobre a caracterização da superlotação dos serviços
de urgência e emergência hospitalar, observa-se na tabela I que 95,4 % dos
entrevistados acreditam que a superlotação é um grave problema de saúde
pública, 50,9% afirmam que tanto os atendimentos clínicos quanto os traumáticos
geram superlotação nos serviços de urgência e emergência, 47,2% afirmam que a
superlotação ocorre em qualquer período da semana e 64,8% em qualquer período
do dia.
Tabela I – Distribuição das
variáveis relacionadas à opinião dos profissionais de saúde sobre a
caracterização da superlotação dos serviços de urgência e emergência
hospitalar, João Pessoa/PB, 2020 (n = 108).
Fonte: Pesquisa direta,
2020.
Quanto à caracterização
da superlotação, no que se refere ao tempo em que ocorre a sobrecarga de
trabalho e ao fator dificultante das atividades dos
profissionais, a tabela II mostra que 38,8% dos participantes afirmam que a
superlotação ocorre entre cinco e dez anos, 97% responderam que a superlotação
ocasiona sobrecarga de trabalho para o profissional e 98,1% demonstraram que a
superlotação é um fator dificultante das atividades
dos profissionais nos serviços de urgência e emergência.
Tabela II - Distribuição das
variáveis relacionadas a caracterização da superlotação quanto ao tempo em que
ocorre a sobrecarga de trabalho e ao fator dificultante
das atividades dos profissionais, João Pessoa/PB, 2020 (n = 108).
Fonte: Pesquisa direta,
2019.
Os serviços de urgência
e emergência brasileiros, configurados no SUS sob a égide da integralidade e
universalidade são responsáveis pelo atendimento contínuo de usuários
acometidos por situações traumáticas e clínicas com iminente perigo de morte,
possibilitando imediato atendimento a essas entidades clínicas [13].
Entretanto, podem resultar em sérios impactos nos direitos humanos dos
pacientes quando se apresentam ineficientes [14].
Neste estudo,
observa-se que a maior parte dos profissionais que atuam nos serviços de
urgência e emergência é integrante das equipes de enfermagem e medicina. Nesses
serviços assistenciais ocorre maior procura dos usuários para resolutividade de
agravos clínicos e traumáticos [5], o que demanda maior necessidade de atenção
de profissionais de enfermagem e médicos uma vez que estes são treinados na
academia para atender essa população específica.
Apesar da prática da
enfermagem ter surgido no seio familiar e religioso, com sua filosofia pautada
na abnegação e em saberes populares, essas características foram minimizadas
com o avanço científico que permeou a profissão nos últimos anos, emergindo
desse processo, práticas assistenciais de cuidado científico imprescindíveis à
recuperação e bem-estar dos usuários de serviços de saúde [15].
A enfermagem é uma
profissão que chancela o cuidado técnico e científico ao ser humano, de modo a
estabelecer a integralidade do indivíduo, da família e da coletividade, o que
configura a essa área do conhecimento importância em âmbito nacional no
processo de recuperação das pessoas acometidas por algum agravo ou na promoção
e manutenção da saúde [16].
Dessa forma, o
enfermeiro deve constituir-se enquanto cidadão crítico-reflexivo, capaz de
desenvolver sua profissão de forma ética, humanizada e com resolutividade [17],
demonstrando assim a importância desse profissional nos diversos cenários
assistenciais em saúde, em especial nos serviços de urgência e emergência.
Na presente
investigação, aliados à enfermagem, estão em maior número os profissionais
médicos, o que pode ser explicitado pela natureza do ambiente onde a pesquisa
foi realizada, tratando-se de um hospital de urgência e emergência.
Em uma pesquisa
desenvolvida com médicos dos serviços de emergência em Minas Gerais/Brasil, foi
apontado que a maioria dos profissionais atuantes naquela localidade é
especialista em cirurgia geral, pediatria, clínica geral, cirurgia vascular,
cirurgia pediátrica e terapia intensiva. Entretanto, não houve especialistas em
medicina de urgência, o que, de acordo com os autores pode gerar conflitos na
organização sistemática da rede de atenção as urgências [18].
Nesse contexto,
observa-se que a superlotação dos serviços de emergência em saúde contribui
para aumento no estresse e consequentemente maios sobrecarga de trabalho dos
profissionais de saúde. Em estudo desenvolvido no serviço de atendimento de
urgência e emergência de Belo Horizonte é exposto que os médicos sentem-se
orgulhosos de sua profissão, mas acreditam que não há reconhecimento social e
financeiro adequado, além do excesso de trabalho solicitado e os problemas
interpessoais com os pacientes, em especial no âmbito da regulação médica, o
que pode predispor esses profissionais à Síndrome de Burnout [19].
Concernente ao tempo de
atuação em urgência e emergência no ambiente hospitalar, a presente
investigação evidenciou que a maioria dos participantes desenvolve suas
atividades há mais de cinco anos. Esses dados diferem do que demonstra estudo
realizado com enfermeiros brasileiros, os quais na maioria são jovens e
recém-formados, possivelmente pela maior oferta de cursos privados de graduação
em enfermagem no País [20].
A superlotação em
serviços de saúde é uma situação altamente perigosa para os usuários bem como
para os profissionais envolvidos na assistência, gerando sérios problemas na
rede assistencial em saúde, pois exprime a ineficiência dos serviços primários
de prevenção aos agravos e da má gestão de recursos humanos e operacionais
[10].
Um
dos fatores que gera
superlotação nos serviços de urgência e
emergência é a da descaracterização
desses locais no que diz respeito ao agravo multissistêmico
com ineficiência no atendimento a essa população, pelo fato de serem destinados
leitos a pacientes com acometimentos clínicos em decorrência da ausência de
macas ou saídas de oxigênio em outros setores [21].
No serviço hospitalar
de urgência e emergência, o enfermeiro assume papel importante e de destaque na
liderança da equipe de saúde, por ser capaz de tomada de decisão rápida e ser
conhecedor de técnicas de assistência direta em saúde a pessoas com risco
iminente de morte. Essas características auxiliam a liderança da equipe
assistencial no intuito de minimizar as situações adversas do cotidiano e
diminuição da superlotação dos serviços assistenciais [22].
O profissional de
enfermagem tem como característica ser exposto ao estrese decorrente dos
serviços assistenciais de saúde, pois são esperados desses profissionais,
habilidades específicas para executarem procedimentos altamente especializados,
eficácia nos processos decisórios e contato com os riscos físicos e biológicos
decorrentes dessa prática [23].
No Brasil, uma
importante estratégia adotada com intuito de atendimento equânime e diminuição
da superlotação dos serviços assistenciais de urgência e emergência é o
acolhimento com classificação de risco, que objetiva a identificação e rápida
tomada de decisão diante das prioridades assistenciais em saúde dessa
população. Essa prática é definida pelas cores azul, verde, amarelo ou
vermelho, relacionadas ao nível de gravidade, sendo o paciente que é
identificado com a cor verde com menor prioridade de atendimento e na cor
vermelha, com maior prioridade em decorrência da gravidade de sua situação
[24].
O acolhimento com
classificação de risco vem sendo uma tecnologia resolutiva, capaz de promover
mudanças paradigmáticas e estruturais no atendimento de urgência e emergência à
saúde da população brasileira [25].
Sobre essa prática, no
âmbito da equipe de enfermagem, o enfermeiro é o responsável por desenvolver o
acolhimento com classificação de risco de modo privativo, respeitando-se os
aspectos legais e científicos da profissão, possibilitando maior acesso dos
usuários aos serviços médicos de assistência com rigor técnico e acurácia
científica [26].
Nesse contexto de discussão, percebe-se
o impacto positivo que o enfermeiro proporciona quando participante da equipe
de enfermagem no âmbito das urgências e emergências, o que corrobora os achados
da presente investigação no que diz respeito ao maior número de profissionais
dessa categoria no referido serviço assistencial.
A presente investigação
buscou descrever a concepção dos profissionais de saúde sobre a superlotação do
serviço de urgência e emergência hospitalar em um hospital referência neste
atendimento na cidade de João Pessoa, Paraíba.
Evidenciou-se na
presente investigação que a maioria dos profissionais que integram o serviço de
urgência e emergência são enfermeiros com tempo de atuação entre cinco e 10
anos. A maior parte dos entrevistados acredita que a superlotação é um grave
problema de saúde pública, e que a superlotação é causada tanto por
atendimentos clínicos e traumáticos ocorrendo em qualquer período da semana e
do dia.
Referente à
caracterização da superlotação, os entrevistados referiram que ocorre entre
cinco e dez anos, gerando sobrecarga de trabalho e dificuldade nas atividades
profissionais.
Nesse sentido, o
aprimoramento da prática assistencial e a gestão em saúde devem buscar
estratégias que possibilitem a diminuição do tempo de espera e de internamento
nos hospitais, contribuindo assim para a diminuição dos índices de superlotação
dos serviços de saúde, em especial dos locais de atendimento à urgência e
emergência.
Por se tratar de um
estudo quantitativo, outras características fenomenológicas podem não ter sido
apreendidas por essa abordagem, o que demonstra a necessidade de novas
investigações ancoradas no pressuposto do método misto para pormenorizar as
concepções e especificidades dos problemas relacionados à superlotação dos
serviços de saúde.