ARTIGO ORIGINAL
Infecções prevalentes
na unidade de terapia intensiva de um hospital universitário
Paloma Cavalcante de
Assis Martins*, Ana Katly Martins Gualberto Vaz, M.Sc.**
*Enfermeira Residente
do Programa Atenção ao Paciente Adulto Neurocirúrgico em UTI pelo Hospital
Universitário Getúlio Vargas, Universidade Federal do Amazonas, Bacharel em
Enfermagem pela Universidade Federal do Amazonas, **Doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo, Professora Assistente do Curso de Enfermagem da
Universidade Federal do Amazonas
Recebido em 23 de
fevereiro de 2020; aceito em 2 de maio de 2020.
Correspondência: Paloma Cavalcante de
Assis Martins, Avenida Apurinã, 4, Praça 14 de
Janeiro 69020-170 Manaus AM
Paloma Cavalcante de
Assis Martins: palomassis@yahoo.com.br
Ana Katly Martins Gualberto Vaz: anakatly@ufam.edu.br
Resumo
As
Infecções
Relacionadas à Assistência à Saúde
configuram um grande ônus orçamentário às
instituições, além de prolongar o tempo de
afastamento do paciente de suas
atividades. Essas infecções são consideradas mais
graves na Unidade de Terapia
Intensiva. O presente estudo objetivou identificar as
infecções prevalentes em
uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital universitário da
cidade de
Manaus. Trata-se de uma pesquisa descritiva e retrospectiva, com dados
do
período de janeiro a dezembro de 2018. Os dados foram coletados
por meio do
banco de informações da Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar do hospital
em estudo e analisados estatisticamente. O estudo revelou que pacientes
acometidos por Infecções Relacionadas à
Assistência à Saúde tiveram maior tempo
de internação hospitalar. A maior prevalência foi
entre pacientes cirúrgicos. A
infecção do trato urinário mostrou-se a
infecção mais frequente. Outro achado
foi o uso prolongado de dispositivos invasivos. Considerando que essas
infecções têm alto potencial preventivo, para
reduzi-las os profissionais devem
aderir a cuidados básicos, como a lavagem das mãos e o
uso de equipamentos de
proteção individual. Além disso, deve-se investir
em ações de educação
continuada e implementação de protocolos.
Palavras-chave: infecção hospitalar,
unidades de terapia intensiva, Enfermagem.
Abstract
Prevalent infections in the intensive care unit of a university hospital
Health
Care Related Infections are a large financial onus in institutions, as well as
prolonging time away of the patient from his activities. These infections are
considered more severe in the Intensive Care Unit. The present study aimed to
identify prevalent infections in an Intensive Care Unit of a university
hospital in the city of Manaus. This is a descriptive and retrospective
research, with data from January to December 2018. Data were collected and
analyzed through the database of the Hospital Infection Control Commission of
the hospital. The study revealed that patients affected by Health Care Related
Infections had longer time of hospital stay. Of these patients, most were surgical.
Urinary Tract Infection was the most frequent infection. Another finding was
the prolonged use of invasive devices. Considering that these infections have
high preventive potential, professionals must adhere to basic care, such as
hand washing and use of personal protective equipment. In addition, continuing
education actions and protocol implementation must be stimulated.
Keywords: cross infection, intensive care units, Nursing.
Resumen
Infecciones prevalentes
en unidad de cuidados
intensivos de un hospital universitario
La Infección
Hospitalaria supone una gran carga presupuestaria a las instituciones, además de prolongar el tiempo del paciente lejos de sus actividades. Esta infección se considera una de la
más grave en la Unidad de Cuidados Intensivos. El presente estudio tuvo como objetivo
identificar las infecciones prevalentes en una Unidad de Cuidados
Intensivos de un hospital universitario
en la ciudad
de Manaus. Esta es una investigación descriptiva y retrospectiva, con datos de enero a diciembre de 2018. Los datos fueron recopilados a través de la
base de datos de la Comisión de Control de
Infecciones Hospitalarias del
hospital en estudio y analizados estadísticamente. El estudio reveló que los pacientes afectados por Infección Hospitalaria tenían estancias hospitalarias
más largas. De estos pacientes, la
mayoría eran quirúrgicos. La Infección del Tracto Urinario
fue la infección
más frecuente. Otro hallazgo fue el
uso prolongado de dispositivos invasivos. Teniendo en cuenta que esta
infección tiene un alto potencial preventivo, para reducirlas,
los profesionales deben cumplir con
los cuidados básicos, como el
lavado de manos y el uso de equipos de protección personal. Además, uno debe invertir en acciones
de educación continua e implementación
de protocolos.
Palabras-clave: infección
hospitalaria, unidades de cuidados intensivos, Enfermería.
As Infecções
Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são definidas como uma condição local
ou sistêmica resultante de uma reação adversa à presença de um agente
infeccioso ou sua toxina, podendo se manifestar a partir de 48 horas após a
internação [1].
Existem três principais
forças que estão envolvidas nessas infecções: a primeira é o uso excessivo de
antimicrobianos; a segunda é a falha na adoção de medidas básicas de controle,
tais como higienização das mãos, e a terceira é constituída por pacientes
hospitalizados com sistema imune muito comprometido [2]. Já os principais
fatores de risco relacionados às IRAS incluem, geralmente, idade superior a 60
anos, uso de corticoides, uso prévio de antibióticos, internação prolongada e
presença de dispositivos médicos invasivos, tais como cateteres venosos,
centrais e arteriais, diálise, ventilação mecânica e intervenções cirúrgicas
[3,4].
Essas infecções se
caracterizam como um problema mundial. Na Europa, aproximadamente 6,8% dos
pacientes internados adquirem, pelo menos, uma Infecção Relacionada à
Assistência à Saúde. Estima-se que nos Estados Unidos, anualmente, ocorram mais
de dois milhões de casos de IRAS. No Brasil, não há dados sistematizados sobre
o assunto, porém, o Ministério da Saúde considera que a taxa global de
infecções gire em torno de 14%, um número preocupante frente às consequências
advindas pelas infecções [5].
Apesar
das lacunas
existentes nas informações, sabe-se que as IRAS se
encontram entre as seis
principais causas de óbito no Brasil, estando ao lado das
doenças
cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias e
infecciosas [6]. Além
disso, essas infecções configuram um grande ônus
orçamentário às instituições
em decorrência dos custos hospitalares gerados pelo aumento na
demanda das
internações e, em relação ao paciente, pelo
prolongamento do período de
afastamento de suas atividades profissionais e familiares. O paciente
que
desenvolve uma Infecção Relacionada à
Assistência à Saúde pode gerar um custo
até três vezes maior em relação ao valor
gasto com o paciente que não a
desenvolveu [7].
As IRAS são
consideradas mais graves na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em que são
atendidos pacientes dependentes de suporte intensivo de vida [8]. Neste
ambiente, o paciente está mais exposto ao risco de infecção, haja vista sua
condição clínica e a variedade de procedimentos invasivos rotineiramente realizados.
Estudo reforça que, na UTI, os pacientes têm de 5 a 10 vezes mais
probabilidades de contrair infecção e que esta pode representar cerca de 20% do
total das infecções de um hospital [4].
Dada a complexidade do
controle das IRAS, principalmente em UTI, torna-se primordial, como ponto de
partida para desenvolver medidas de prevenção e controle das infecções
hospitalares, identificar as infecções prevalentes nesse setor.
Ante o exposto, este
estudo objetivou identificar as infecções prevalentes em uma Unidade de Terapia
Intensiva de um hospital universitário da cidade de Manaus.
Trata-se de um estudo
descritivo e retrospectivo. A pesquisa descritiva descreve as características
de determinadas populações ou fenômenos, e o pesquisador deverá descobrir a
frequência com que esses fenômenos acontecem [9,10]. Em relação ao caráter
retrospectivo, o estudo é desenhado para explorar fatos do passado, podendo ser
delineado para retornar, do momento atual até um determinado ponto no passado
[11].
O loco da pesquisa foi
um hospital universitário da cidade de Manaus, de pequeno porte, com 159 leitos
[12]. Utilizaram-se os registros da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
a respeito das infecções na UTI do hospital em estudo, no período de janeiro a
dezembro de 2018.
A coleta de dados foi
iniciada mediante aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Federal do Amazonas, sob o número do CAAE 07212819.6.0000.5020 e
Protocolo 3.211.480, de 20 de março de 2019. Foi solicitada ao CEP a dispensa
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, por se tratar da análise de
dados secundários, não havendo contato com os pacientes no momento da coleta dos mesmos.
Para o registro dos
dados de interesse para o estudo, utilizou-se um instrumento próprio, em que
constaram as seguintes variáveis: tipo de infecção, sexo, idade, diagnóstico,
tempo de internação, microrganismo causador da infecção, dispositivos invasivos
utilizados e desfecho da IRAS.
As informações
coletadas foram reunidas em banco de dados, pelo software Microsoft Office
Excel® 2007, para análise e posterior construção de tabelas e gráficos. Para
facilitar a leitura dos dados, cada item foi tabulado de forma a ser analisado
e contabilizado estatisticamente. A partir disso, a porcentagem de todas as
IRAS foi disposta em tabelas com o intuito de quantificar os dados. Baseando-se
na análise desses dados brutos, pôde-se utilizar a linguagem matemática para
buscar conclusões a respeito das infecções prevalentes na UTI do hospital em
estudo.
Foram encontrados 62
casos de IRAS, em 36 pacientes. Do total de pacientes, observou-se prevalência
em homens, com 21 (58,33%) casos e em idosos, com 18 (50,0%) casos. Em relação
à presença de ferida operatória, 24 (66,67%) deles eram cirúrgicos e 12
(33,33%) não-cirúrgicos. Dos pacientes cirúrgicos, 11 (30,56%) pertenciam à
especialidade da Cirurgia Geral, 10 (27,78%) da Neurocirurgia, dois (5,56%) da
Cirurgia Torácica e um (2,78%) da Ortopedia. Dos não-cirúrgicos, quatro
(11,11%) pacientes eram da especialidade da Neurologia, três (8,33%) da
Hematologia, dois (5,56%) da Reumatologia, dois (5,56%) da Gastroenterologia e
um (2,78%) da Nefrologia.
Em relação à presença
de Lesão por Pressão (LPP), 16 (44,44%) pacientes apresentaram registro. Durante
a permanência na UTI, a maior parte dos pacientes que apresentaram IRAS, 12
(33,33%), permaneceu internada por até 10 dias. Após a transferência para as
enfermarias, o tempo de internação no hospital universitário mostrou-se um
fator exponencial, com 18 (50,0%) pacientes permanecendo internados por mais de
40 dias.
No que diz respeito à
recorrência dessas infecções, 14 (38,89%) pacientes apresentaram mais de um
tipo de IRAS e 16 (44,44%) apresentaram a mesma infecção mais de uma vez. Em
relação ao desfecho do caso clínico, 20 (55,56%) pacientes obtiveram alta
hospitalar por melhora e 16 (44,44%) evoluíram para óbito.
Dos 62 casos de IRAS,
21 (33,87%) eram de infecção do trato urinário, 18 (29,03%) de pneumonia
associada à ventilação mecânica, 12 (19,35%) de infecção de corrente sanguínea,
sete (11,30%) de infecção de sítio cirúrgico, dois (3,22%) de infecção
gastrointestinal e dois (3,22%) de infecção do sistema nervoso central (Figura
1).
Os microrganismos mais
encontrados foram Enterobacter spp. e Candida spp., com 11 (17,74%) casos cada, seguidos de Staphylococcus spp. e Pseudomonas spp., com 10 (16,13%)
casos cada. No que concerne à relação microrganismo por tipo de IRAS,
observou-se o seguinte: nos casos de infecção do trato urinário, cinco (8,06%)
foram causados por microrganismos do gênero Klebsiella
spp. e cinco (8,06%) por Candida spp..
Nos casos de pneumonia associada à ventilação mecânica, cinco (8,06%) casos
originaram-se a partir de infecção causada por bactérias Enterobacter
spp.
ITU = Infecção do Trato
Urinário; PAVM = Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica; ICS = Infecção de
Corrente Sanguínea; ISC = Infecção de Sítio Cirúrgico; IGI = Infecção
Gastrointestinal; ISNC = Infecção do Sistema Nervoso Central.
Figura 1 - Infecções
Relacionadas à Assistência à Saúde notificadas na Unidade de Terapia Intensiva,
segundo a área de infecção. Manaus, 2018.
As bactérias do gênero Staphylococcus spp. foram responsáveis por cinco (8,06%)
casos de infecção de corrente sanguínea. Citrobacter
spp. e Staphylococcus spp., com dois (3,22%) casos
cada, originaram a maioria das infecções de sítio cirúrgico. Os dois (3,22%)
casos de infecção gastrointestinal foram causados por Enterobacter
spp. e as infecções do sistema nervoso central por Pseudomonas spp. e Staphylococcus spp., com um (1,61%) caso cada.
Em relação ao uso de
dispositivos invasivos, 16 (88,89%) casos de pneumonia associada à ventilação
mecânica apresentaram tempo de uso de tubo orotraqueal maior que cinco dias, 17
(80,95%) casos de infecção do trato urinário permaneceram por mais de 10 dias
com cateter vesical de demora, três (25,0%) casos de infecção de corrente
sanguínea ultrapassaram 21 dias de uso de cateter venoso central e os dois
(100,0%) casos de infecção do sistema nervoso central apresentaram tempo de uso
de cateter para derivação ventricular externa superior a 10 dias (Tabela I). No
que diz respeito à realização de procedimentos invasivos, os dois (100,0%)
casos de infecção gastrointestinal realizaram paracentese.
Tabela I - Distribuição dos
casos de infecções relacionadas à assistência à saúde na unidade de terapia
intensiva, segundo o dispositivo invasivo usado e tempo de permanência. Manaus,
2018.
TOT = Tubo Orotraqueal;
CVD = Cateter Vesical de Demora; CVC = Cateter Venoso Central; CDVE = Cateter
para Derivação Ventricular Externa; PAVM = Pneumonia Associada à Ventilação
Mecânica; ITU = Infecção do Trato Urinário; ICS = Infecção de Corrente
Sanguínea; ISNC = Infecção do Sistema Nervoso Central.
O estudo mostrou que as
Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde acometeram principalmente idosos e
pacientes cirúrgicos. A idade encontrada coincide com a literatura que aponta
que pacientes idosos se encontram mais suscetíveis às complicações infecciosas
que acabam por estender o tempo de convalescença, devido ao processo de imunossenescência, às doenças crônico-degenerativas e a
toda fisiologia do envelhecimento [13].
Em relação à
prevalência das IRAS em pacientes cirúrgicos, estudo realizado em dois
hospitais públicos do Distrito Federal mostrou que a cirurgia eletiva é um dos
principais fatores de risco para a ocorrência dessas infecções no cenário de
terapia intensiva. A dificuldade técnica e a duração prolongada da cirurgia, a
preparação pré-operatória e a esterilização inadequada dos instrumentos
cirúrgicos podem agravar o risco de infecção de forma significativa [14].
A respeito da
ocorrência de lesão por pressão, sabe-se que pacientes internados em UTI
apresentam alto risco para desenvolver esse tipo de lesão, devido ao uso de
drogas sedativas e analgésicas, as quais diminuem a percepção sensorial e
prejudicam a mobilidade [15]. No presente estudo, embora a maioria dos
pacientes acometidos pelas IRAS não apresentasse LPP (44,44%), esse valor
apresenta-se elevado quando comparado à pesquisa realizada em outro hospital.
Estudo realizado em um hospital universitário da Paraíba apresentou ocorrência
de 22,07% desse tipo de lesão em pacientes de terapia intensiva. Esses pacientes
eram, na sua maioria, mulheres idosas, com distúrbios respiratórios e presença
de co-morbidades [16].
Essa diferença pode ter
ocorrido devido à diferença no perfil dos pacientes avaliados na Paraíba, que
eram predominantemente cirúrgicos, principalmente das especialidades de
Cirurgia Geral e Neurocirurgia. Geralmente, esses pacientes são submetidos a
cirurgias extensas que necessitam, muitas vezes, manter a sedação por alguns
dias após o procedimento. Isso ocasiona a perda da percepção sensorial e a
imobilidade, o que explica o número elevado de casos de lesão por pressão na
UTI em estudo.
Observou-se também que
pacientes acometidos por IRAS na UTI apresentaram maior tempo de internação no
hospital. Quase a metade dos pacientes apresentou mais de uma infecção,
evoluindo para óbito. Esses dados mostram que os custos dessas infecções impõem
um encarecimento do atendimento, na medida em que causam aumento das demandas
terapêuticas (gastos com antibióticos), da permanência hospitalar e da morbimortalidade
[17].
Os pacientes que
desenvolveram infecção do trato urinário apareceram em primeiro lugar nos casos
de IRAS, sendo essa uma infecção de grande potencial preventivo, devido a sua
relação com a cateterização vesical [18]. Esse fato
demonstra a falta de intervenção educativa por meio de treinamento dos
profissionais de saúde da instituição, além do estabelecimento de protocolos e bundles.
Estudo realizado em um
Hospital de Alta Complexidade de Mato Grosso do Sul mostra que a educação continuada
e a manutenção de protocolo apresentam efeitos favoráveis na redução de casos
notificados de infecção do trato urinário [18].
Em relação aos
microrganismos prevalentes na presente pesquisa, as enterobactérias,
responsáveis pela maioria dos casos de pneumonia associada à ventilação
mecânica, são consideradas os patógenos oportunistas mais comumente envolvidos
na etiologia de pneumonia nosocomial [19].
Também foi possível
observar a presença do fungo Candida spp.,
principalmente nas duas infecções mais encontradas, as dos tratos urinário e
respiratório. Esse microrganismo é facilmente encontrado na mucosa bucal,
gastrintestinal e vaginal de pessoas saudáveis, o que sugere que apenas a
presença do agente etiológico não é suficiente para produzir clinicamente a
doença. É necessário que ocorram modificações no estado de equilíbrio do
hospedeiro, favorecendo a patogênese dos microrganismos integrantes da
microbiota. Dessa forma, quando a virulência do fungo supera a resistência do
hospedeiro, o fungo passa da condição saprófita para
a parasitária [20].
Outros microrganismos
encontrados com destaque foram as bactérias do gênero Staphylococcusspp.
Essas apresentam índices de resistência significativos nos
hospitais
brasileiros, em torno de 40 a 80%, tornando-se um problema para
pacientes de
terapia intensiva, devido a sua susceptibilidade ao desenvolvimento de
infecções [3]. Isso justifica a presença desses
patógenos na maioria dos casos
de infecção de corrente sanguínea,
infecção de sítio cirúrgico e
infecção do
sistema nervoso central encontradas neste estudo, e, em alguns casos de
pneumonia associada à ventilação mecânica.
Esse fato reforça que a
adesão de medidas simples e de baixo custo, como a higienização constante das
mãos e o uso de equipamentos de proteção individual, podem reduzir de forma
significativa o número de IRAS. Essas ações, além de diminuir as despesas
hospitalares, reintegram os pacientes à vida em sociedade mais rapidamente.
As Pseudomonas spp.
também apresentaram números expressivos no estudo, estando presentes nos casos
de infecção do trato urinário, pneumonia associada à ventilação mecânica,
infecção de corrente sanguínea e infecção do sistema nervoso central.
Considerada o principal patógeno do grupo das bactérias gram-negativas, provoca
infecções em pacientes com deficiência nas suas defesas antimicrobianas,
causando febre, choque, oligúria, leucocitose e leucopenia, coagulação
intravascular disseminada e síndrome da angústia respiratória no adulto [17].
Em relação ao uso de
dispositivos invasivos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não
indica rotina de troca para o tubo orotraqueal, devendo ser retirado assim que
as condições clínicas permitirem [21]. Porém, estudo realizado em um Hospital
de Urgências e Emergências de Sorocaba destaca que a traqueostomia precoce,
realizada entre o 5º e o 7º dia de intubação orotraqueal, reduz a presença de
infecção e, consequentemente, a mortalidade de pacientes intubados [22]. No
presente estudo, a maioria dos casos de pneumonia associada à ventilação
mecânica ultrapassou esse tempo.
No que concerne ao uso
de cateter vesical de demora, a Anvisa também não determina rotina de troca,
devendo ser trocado em caso de dano no circuito de drenagem, obstrução da sonda
ou em casos de tratamento de infecção do trato urinário [21]. A presente
pesquisa mostrou semelhança com estudo realizado em dois hospitais de grande
porte de Belo Horizonte. Os hospitais mineiros apresentaram tempo de
permanência do cateter vesical de demora maior entre os pacientes que
desenvolveram infecção do trato urinário (mediana de 10 dias), quando
comparados aos que não a desenvolveram (mediana de cinco dias) [23].
Em relação ao uso de
cateter para derivação ventricular externa, não há rotina de troca estabelecida
pela Anvisa, devendo ser retirado assim que clinicamente possível [21]. A taxa
de infecção, no presente estudo, mostrou-se significativamente maior em
pacientes que utilizaram esse dispositivo por mais de 10 dias. Resultado
similar foi encontrado em estudo realizado em um hospital localizado em Porto
Alegre, onde pacientes que utilizaram o cateter por mais de 10 dias
apresentaram uma chance maior de infecção do que os pacientes que utilizaram
por um tempo menor ou igual a 10 dias [24].
No que diz respeito ao
uso de cateter venoso central, a Anvisa orienta que o tempo de uso do cateter
de curta permanência deve ser de até 21 dias [21]. Estudo realizado em um
Hospital Universitário de Uberaba destaca que a relação entre o tempo de
permanência do cateter e o número total de complicações não é estatisticamente
significante [25]. Resultado semelhante foi encontrado no presente estudo,
visto que a maioria dos casos de infecção de corrente sanguínea ocorreu em
pacientes que utilizaram o cateter venoso central por menos de 21 dias.
A despeito do impacto
enorme da infecção de corrente sanguínea, essa é a infecção associada a
cuidados em saúde de maior potencial preventivo que existe. Essa prevenção
ocorre através da adoção de medidas adequadas, como adesão aos bundles de boas práticas de inserção e a otimização das
práticas de manutenção dos dispositivos [21].
De maneira geral, a
maioria dos casos de IRAS apresentam alto potencial de prevenção. Para
minimizar a ocorrência de erro durante a assistência ao paciente, é necessário
um processo de gestão do cuidado nos hospitais, com processos de educação
continuada e implementação de protocolos, ou guia de recomendação clínica,
identificando ações que ajudem a evitar danos decorrentes da assistência com o
paciente [18].
O estudo evidenciou que
as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde do trato urinário foram as mais
encontradas dentro da UTI, seguidas do trato respiratório. Idosos e pacientes
cirúrgicos caracterizaram a maioria dos casos dessas infecções. Pacientes
acometidos por IRAS apresentaram maior tempo de internação hospitalar, e quase
a metade deles evoluiu para óbito.
Os patógenos mais
encontrados foram Enterobacter spp. e Candida spp., o primeiro foi comumente encontrado nas
culturas de aspirado traqueal e, o segundo, nas culturas de urina. Em seguida,
encontramos Staphylococcus spp. e Pseudomonas spp., o
primeiro com prevalências nas hemoculturas e, o segundo, nas culturas de
aspirado traqueal.
Em relação ao uso de
dispositivos invasivos, o tempo de uso de tubo orotraqueal, cateter vesical de
demora e cateter para derivação ventricular externa mostrou-se maior quando
comparado a outros estudos. No que diz respeito ao uso de cateter venoso
central, os pacientes que apresentaram infecção de corrente sanguínea não
utilizaram o dispositivo por tempo além do preconizado.
Considerando que as
IRAS são infecções com alto potencial preventivo, para reduzi-las todos os
profissionais devem estar engajados nesta missão, através de cuidados básicos,
como a lavagem correta das mãos e o uso de equipamentos de proteção individual.
Além disso, deve-se investir em ações para capacitar as equipes assistenciais,
como educação continuada e implementação de protocolos.