ARTIGO ORIGINAL
Fatores causais
associados à mortalidade por afecções no período perinatal em um município da
Zona da Mata Mineira
Lorena Silva Duarte*,
Rayane da Cruz Alves*, Tamara Chagas Ribeiro*, Vanessa Fátima Fonseca*, Gisele
Aparecida Fófano, M.Sc.**
*Acadêmicas do Curso de
Medicina do Centro Universitário Governador Ozanam Coelho (UNIFAGOC), **Docente
do curso de Medicina do Centro Universitário Governador Ozanam Coelho
(UNIFAGOC), Mestre em Saúde (UFJF)
Recebido em 3 de
dezembro de 2019; aceito em 25 de abril de 2020.
Correspondência: Gisele Aparecida Fófano, Rua Professora Violeta Santos, 31/603, bloco 06,
35035-210 Juiz de Fora MG
Lorena Silva Duarte:
lorissduarte@gmail.com
Rayane da Cruz Alves:
rayanealvesmed@gmail.com
Tamara Chagas Ribeiro:
tamarachagasr@gmail.com
Vanessa Fátima Fonseca:
vanessafatimafonseca@gmail.com
Gisele Aparecida Fófano: giselefofano@gmail.com
Resumo
Introdução: A mortalidade no
período perinatal é um importante indicador de saúde materna e infantil visto
que reflete sobre cuidados gestacionais e neonatais, além de demonstrar
vulnerabilidades que mãe e filho possam estar sujeitos. Objetivo:
Elucidar as principais causas de óbitos perinatais com o intuito de subsidiar o
planejamento de estratégias preventivas que visem reduzir esse indicador. Métodos:
Estudo descritivo, realizado através de dados secundários disponibilizados pela
Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Ubá/MG, no intervalo de 2015 até
abril de 2019, obtendo uma amostra de 64 indivíduos que preenchiam os
requisitos necessários da pesquisa. Resultados: Em 2015, registraram-se
16 óbitos, sendo 62,5% fetais. Já em 2016, notificaram-se 17 óbitos,
predominantemente fetais; em 2017, foram 17 óbitos, 64,7% não fetais; em 2018,
9 óbitos, sendo 55,55% fetais; em 2019, notificou-se 5 óbitos, todos fetais.
Nessa população, as causas mais frequentes foram síndrome da angústia
respiratória do recém-nascido e a morte fetal de causa não especificada. Conclusão:
É importante que medidas preventivas sejam tomadas para reduzir o coeficiente
de mortalidade perinatal, evidenciando que a abordagem do pré-natal ao parto
seja mais eficiente.
Palavras-chave: mortalidade
perinatal, assistência perinatal e morte fetal.
Abstract
Causal factors associated to perinatal mortality in a municipality in the
zona da Mata region in the state of Minas Gerais
Introduction: Mortality in the perinatal period is an important indicator of maternal
and child health as it reflects on gestational and neonatal care, in addition to
demonstrating vulnerabilities that mother and child may be subject to. Objective:
To elucidate the main causes of perinatal deaths in order to support the planning
of preventive strategies that aim to reduce this indicator. Methods: Descriptive
study, carried out using secondary data provided by the Municipal Health Department
of the city of Ubá/MG, in the period from 2015 to April
2019, obtaining a sample of 64 individuals who fulfilled the necessary research
requirements. Results: In 2015, 16 deaths were registered, 62.5% of which
fetal. In 2016, 17 deaths were reported, predominantly fetal; in 2017, 17 deaths,
64.7% non-fetal; in 2018, 9 deaths, 55.55% of which fetal; in 2019, 5 deaths were
reported, all fetal. In this population, the most frequent causes were the newborn's
respiratory distress syndrome and fetal death from an unspecified cause. Conclusion:
It is important that preventive measures are taken to reduce the perinatal mortality
coefficient, showing that the prenatal approach to childbirth is more efficient.
Keywords: perinatal mortality, perinatal care and fetal death.
Resumen
Factores causales
asociados a la mortalidad por enfermedades en el período perinatal en un municipio
de la región zona da Mata en el estado de Minas Gerais
Introducción: La mortalidad perinatal es un
indicador importante de la salud
materna e infantil, ya que refleja
los cuidados gestacionales
y neonatales, además de
demostrar las vulnerabilidades a las
que pueden estar sujetas la madre y el niño.
Objetivo: Dilucidar las principales
causas de las muertes perinatales a fin de subvencionar
la planificación de estrategias preventivas destinadas a reducir
este indicador. Métodos: Estudio descriptivo, realizado a través de datos
secundarios puestos a disposición por la Secretaría Municipal de Salud de la ciudad de Ubá/MG, en el intervalo de 2015 a abril
de 2019, obteniéndose una muestra
de 64 individuos que cumplieron
los requisitos necesarios
de la investigación. Resultados:
En 2015, hubo 16 muertes, de las cuales el 62,5% fueron fetales. En 2016 se notificaron 17 muertes, predominantemente fetales;
en 2017, 17 muertes, 64,7%
no fetales; en 2018, 9 muertes, 55,55% fetales; en 2019, 5 muertes, todas fetales. En esta
población, las causas más frecuentes fueron el síndrome de dificultad respiratoria del recién nacido y la muerte fetal de causa no
especificada. Conclusión: Es importante que se
adopten medidas preventivas para reducir
la tasa de mortalidad perinatal, lo que demuestra que el enfoque prenatal del parto es más
eficiente.
Palabras-clave: mortalidad
perinatal, atención perinatal y muerte
fetal.
O período perinatal
abrange da vigésima segunda semana de gestação até o sétimo dia de vida, logo,
qualquer óbito registrado neste período contribui para o crescimento das
estatísticas de mortes perinatais [1].
Embora nos últimos anos
tenha-se registrado uma queda de 49% na taxa mundial de óbitos perinatais,
estima-se que cerca de 4.9 milhões de crianças ainda tenham morrido por ano
neste período [1,2]. No Brasil, somente em 2016, foram registrados 30.210
casos. Em Minas Gerais, 3.903 óbitos registrados durante o mesmo período [3].
Esta taxa é um dos
importantes indicadores de saúde materna e infantil, uma vez que reflete
aspectos relacionados não só aos cuidados do período gestacional como também à
qualidade do pré-natal ofertado, à assistência ao parto e ao recém-nato, mas
também às situações socioeconômicas e outras vulnerabilidades às quais a mãe e
o filho podem estar sujeitos [1,4].
Ressalta-se que muitas
das causas associadas às mortes perinatais são passíveis de prevenção, assim
intervenções podem ser planejadas para auxiliar na redução deste indicador, e
dessa forma cumprir a redução prevista pela Organização Mundial de Saúde para
2035 [1]. Deve-se levar em conta ainda que os continentes mais desenvolvidos
socioeconomicamente como o Europeu possuem taxas de redução de 55%, enquanto os
subdesenvolvidos, como o Africano, possuem taxas de redução de apenas 21% [2].
Sendo assim, o objetivo
deste trabalho é contribuir para a elucidação das principais causas associadas
aos óbitos perinatais, que uma vez determinadas, podem subsidiar o planejamento
de estratégias preventivas que visem reduzir este importante indicador de
saúde.
Trata-se de um estudo
descritivo realizado através de dados secundários disponibilizados pela
Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Ubá/MG. Foram utilizadas também
informações pré-existentes contidas na base de dados do Departamento de
Informática do SUS (DATASUS) sobre os motivos de óbito no período perinatal.
Foram analisadas todas
as causas de morte de indivíduos entre 22 semanas completas de gestação, o que
corresponde a 154 dias e aproximadamente 500g, e recém-nascidos de até sete
dias de vida, que aconteceram no intervalo de 2015 até abril de 2019, no
município de Ubá. Não foram considerados indivíduos residentes em outras
cidades, casos ocorridos fora do período estabelecido, natimortos ou que não
possuíam a idade adequada para a pesquisa.
Como embasamento
teórico para o estudo, foram feitas pesquisas em algumas bases de dados, como
Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (Scielo)
e UpToDate. Os descritores utilizados foram
“mortalidade perinatal”, “assistência perinatal” e “morte perinatal”. Após
leitura seletiva, 8 artigos que se enquadravam no propósito do estudo foram
selecionados.
Os dados foram
coletados através de pesquisa diretamente na Secretaria Municipal de Saúde de
Ubá em abril de 2019, com informações obtidas utilizando-se o cadastro
municipal na página do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), sistema
pertencente ao DATASUS, onde há dados atualizados disponíveis separados por
idade, sexo e causa do óbito, além do local de nascimento. A amostra total
encontrada foi de 75 indivíduos, desses, 64 preenchiam todos os requisitos
necessários para a pesquisa.
Ao coletar os dados
gerais epidemiológicos do caderno de informação de saúde que fica
disponibilizado de forma acessível a toda a população, também pertencente ao Datasus, percebeu-se que as informações contidas nele são
apenas de 2010, o que não se inclui na presente pesquisa, sendo utilizado
apenas com o propósito de comparar com as informações atuais.
As informações colhidas
foram categorizadas de acordo com as características dos neonatos em forma de
porcentagem, separando por idade, sexo, local e nome da afecção causadora do
óbito.
Segundo o Sistema de
Informação sobre Mortalidade (SIM), foram registrados no ano de 2015, 16 óbitos
por afecções originadas no período perinatal na cidade de Ubá/MG, todos
ocorridos em unidades hospitalares. Nota-se que há predomínio de óbitos fetais
(62,5%), ou seja, antes da expulsão ou da extração completa do corpo da mãe
(OMS, CID-10), em relação aos não fetais (37,5%). A variável “sexo” não mostrou
discrepância entre um e outro, acometendo igualmente ambos os sexos nesse
período.
No ano de 2016, foram
notificados 17 óbitos, dos quais houve maior prevalência no sexo masculino
(52,94%) e nos óbitos fetais (58,82%). Já no ano de 2017, apesar da ocorrência
de óbitos ter permanecido a mesma (17 óbitos) e o sexo masculino permanecer o
mais prevalente (70,58%), houve maior predomínio de óbitos não fetais (64,70%)
em comparação com os dois últimos anos.
Ao analisar os óbitos
ocorridos no ano de 2018, foram listados um total de nove óbitos, dos quais
cinco (55,55%) foram fetais. Em relação ao local, apenas um (11,11%) óbito
ocorreu em ambiente domiciliar, cuja causa foi uma afecção materna, enquanto os
demais ocorreram em unidades hospitalares na cidade de Ubá/MG. Já o gênero mais
prevalente foi o sexo feminino (55,55%). Enquanto no ano de 2019, até a data de
26/04/2019, ocorreram apenas cinco óbitos, todos em ambiente hospitalar e
fetais, sendo o sexo feminino (60%) o mais acometido.
Quanto às causas
básicas de todos os óbitos descritos, a Tabela I evidencia as diferentes
etiologias responsáveis pela morte no período perinatal, bem como sua
distribuição em cada ano. Diante de todas as causas, é possível inferir que as
mais frequentes nessa população são a síndrome da angústia respiratória do
recém-nascido (P220) e a morte fetal de causa não especificada (P95).
Tabela I - Distribuição da
causa básica do óbito-Ubá (MG), Brasil, 2019.
Fonte: Sistema de
Informação de Mortalidade (SIM), município de Ubá/MG, 2015-2019.
A mortalidade perinatal
no município de Ubá/MG não apresentou queda significativa nos últimos três
anos. Observou-se, inicialmente, um pequeno aumento, se comparado o ano de 2015
(16 óbitos) com os anos de 2016 e 2017 (ambos com 17 óbitos). Por outro lado,
em 2018 esse índice finalmente sofreu redução significativa (9 óbitos), uma
queda de 52%. Essa taxa traduz uma considerável melhoria na qualidade da
assistência à saúde prestada às gestantes e aos recém-nascidos.
Em um estudo no qual
foi analisada a mortalidade no período neonatal no município de Ubá/MG no
intervalo entre os anos de 2008 a 2010, concluiu-se que 82,7% dos óbitos
estavam relacionados às afecções originadas no período perinatal, tendo como
principais causas as afecções respiratórias, as deficiências cardiovasculares e
a prematuridade extrema. Este estudo teve como fonte o Setor de Vigilância
Epidemiológica e Ambiental do munício de Ubá, o Sistema de Informação de
mortalidade (SIM) e o Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SINASC) [5].
Isso evidencia a
relevância da qualidade à saúde prestada à gestante e ao recém-nascido e a
necessidade de que sejam trabalhadas medidas preventivas mais eficazes no
combate à redução dessas taxas, melhorando a qualidade da assistência pré-natal
e durante o parto [6-8]. Logo, há evidências de que mesmo que a mortalidade
infantil de forma geral esteja em queda, considerando-se especificamente o
período perinatal, as taxas ainda são consideravelmente altas.
Nossos resultados
demonstraram que as três principais causas da mortalidade perinatal na cidade
de Ubá no ano de 2015 foram: morte fetal não especificada (P95), hipóxia
intrauterina não especificada (P209) e septicemia bacteriana não especificada
(P369). Essas causas foram responsáveis por 43,75% dos óbitos neste ano. Já em
2016, a principal causa também foi a morte fetal não especificada, mas em
segundo lugar ficaram juntas a hipóxia intrauterina não especificada e a
síndrome da angústia respiratória do recém-nascido (P220), totalizando 64,71%
dos óbitos por essas causas.
Em contrapartida, em
2017 a principal causa de óbito perinatal foi a síndrome da angústia
respiratória do recém-nascido (29,41%) e em segundo lugar ficaram a hipóxia
intrauterina não especificada, o feto e o recém-nascido afetado por outras
formas de descolamento de placenta e hemorragias (P021) e a atelectasia
primária do recém-nascido (P280), essas três últimas causas corresponderam a
35,28% dos óbitos. Em 2018, a principal causa permaneceu a síndrome da angústia
respiratória do recém-nascido (33,33%), sendo o feto e o recém-nascido afetado
por outras formas de descolamento de placenta e hemorragias a segunda principal
causa (22,22%). Já em 2019, até o período analisado (26/04/2019), a morte fetal
não especificada foi a principal causa de morte no período perinatal,
correspondendo a 40% do total de óbitos.
Pode-se observar um
predomínio de fatores maternos e complicações da gravidez e do parto que
contribuem de forma direta ou indireta para o óbito no período perinatal. Esses
resultados são semelhantes aos resultados de outros estudos realizados no
Brasil que demonstraram que as principais causas de morte perinatal são por
afecções passíveis de prevenção por meio de assistência adequada tanto durante
o pré-natal quanto no momento do parto [9-14]. Em contrapartida, nos países
desenvolvidos predominam óbitos perinatais por afecções como malformações
congênitas, acidentes de cordão umbilical e descolamento prematuro de placenta,
que possuem estratégias de prevenção mais difíceis ou até mesmo que não podem
ser prevenidas [15-18].
A desvantagem deste
estudo se encontra no fato de que a coleta dos dados foi realizada por meio do
Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), sistema pertencente ao Departamento
de Informática do SUS (DATASUS), o qual possui alguns problemas já
identificados em outros estudos, como subnotificação e falta de preenchimento
de variáveis [19].
Por outro lado, esta
pesquisa traz o benefício de identificar as principais causas de óbitos no
período perinatal, que por si só é útil para criar medidas preventivas que
visam reduzir esse coeficiente de mortalidade e melhorar a qualidade da
assistência à saúde à gestante e ao recém-nascido, contribuindo para o
aperfeiçoamento da saúde pública de forma geral.
A morte fetal de causa
não específica e a síndrome da angústia respiratória do recém-nascido foram as
principais afecções relacionadas ao óbito no período perinatal na cidade de
Ubá/MG. Desse modo, é importante que medidas preventivas mais específicas e
adequadas sejam tomadas para reduzir o coeficiente de mortalidade perinatal
deste município. É importante que a abordagem do pré-natal ao parto seja mais
eficiente.
Além disso, mais
estudos podem ser realizados a fim de especificar melhor essas causas de óbito,
englobando mais variáveis para que os trabalhos de prevenção sejam cada vez
mais direcionados e bem-sucedidos.