REVISÃO
Autonomia e inovação:
empreendedorismo de negócios na Enfermagem
José Almir Alves da
Silva*, Jacyane Carmem Cazumbá*,
Maria Alcione da Silva*, Franciskelly de Siqueira
Pessoa**, Fernanda da Mata Vasconcelos Silva***, Gabrielly
Laís de Andrade Souza, M.Sc.****
*Graduando(a) de
Enfermagem, Universidade Maurício de Nassau, Caruaru/PE, **Enfermeira,
Especialização em Gestão da Clínica nos Serviços de Saúde, Coordenadora do
Curso de Enfermagem da Universidade Maurício de Nassau, Caruaru/PE,
***Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco,
Recife/PE, ****Enfermeira, Docente da Universidade Maurício de Nassau Caruaru/
PE
Recebido em 2 de abril
de 2020; aceito em 4 de abril de 2020.
Correspondência: Fernanda da Mata
Vasconcelos Silva, Rua Vicente do Rego Monteiro, 292 Cordeiro 50630-710 Recife
PE
José Almir Alves da
Silva: almiralves501@gmail.com
Jacyane Carmem Cazumbá: jacyane1@hotmail.com
Maria Alcione da Silva:
alcionemaria44@yahoo.com.br
Franciskelly de Siqueira Pessoa:
fanciskellypessoa@hotmail.com
Fernanda da Mata
Vasconcelos Silva: nandadamata34@gmail.com
Gabrielly Laís de Andrade Souza:
gabriellylais18@gmail.com
Resumo
Introdução: Empreender é mais do
que abrir uma empresa, é ter autonomia, utilizar as melhores competências para
criar algo diferente com um alto valor agregado. Objetivo: Conhecer
quais as áreas e setores de atuação dos enfermeiros empreendedores. Métodos:
Revisão integrativa da literatura realizada através do cruzamento dos
descritores padronizados pelo MESH (“Job Market”, “Entrepreneurship” e “Nursing”) e
seus análogos em Português (DeCS)
e em espanhol nas Bases de dados da Medline, Cinahl e
Lilacs. O processo de seleção dos artigos considerou
as recomendações PRISMA e os artigos foram classificados quanto ao nível de
evidências através do referencial americano AHRQ. Resultados: Foram
encontrados 575 artigos, dentre os quais nove abordaram o tema proposto e foram
selecionados para amostra. Conclusão: A articulação entre formação
profissional, motivação e características pessoais mostrou-se essencial para
construção do jovem empreendedor na enfermagem.
Palavras-chave: mercado de trabalho,
contrato de risco, Enfermagem.
Abstract
Autonomy and innovation: business entrepreneurship in Nursing
Introduction: Entrepreneurship is more than starting a company, it is having
autonomy, using the best skills to create something different with a high added
value. Objective: To know which are the areas and sectors of activity of
entrepreneur nurses. Methods: Integrative literature review carried out
by crossing descriptors standardized by the MESH (“Job Market”,
“Entrepreneurship” and “Nursing”) and their analogues in Portuguese (DeCS) and in Spanish in the Medline, Cinahl
and Lilacs databases. The article selection process considered the PRISMA
recommendations and the articles were classified according to the level of
evidence using the American AHRQ framework. Results: 575 articles were
found, of which nine addressed the proposed theme and were selected for the
sample. Conclusion: The articulation between professional training,
motivation and personal characteristics proved to be essential for the
construction of young entrepreneurs in nursing.
Keywords: job market, entrepreneurship, Nursing.
Resumen
Autonomía e innovación:
emprendimiento empresarial en
enfermería
Introducción: El emprendimiento es más que comenzar
una empresa, es tener autonomía,
usar las mejores
habilidades para crear algo diferente con un alto valor agregado. Objetivo:
Saber cuáles son las áreas y sectores de actividad
de las enfermeras emprendedoras. Método: Revisión
bibliográfica integral realizada mediante descriptores
cruzados estandarizados por el
MESH (“Job Market”, “Entrepreneurship”
and “Nursing”) y sus
análogos en portugués (DeCS) y en español
en las bases de datos Medline, Cinahl y Lilacs. El proceso de selección de artículos consideró las recomendaciones de PRISMA y los artículos se clasificaron según el nivel
de evidencia utilizando el
marco estadounidense AHRQ. Resultados: Se encontraron 575 artículos, de los
cuales nueve abordaron el tema propuesto y fueron seleccionados para la muestra. Conclusión: La articulación entre formación profesional, motivación y
características personales resultó
ser esencial para la construcción de jóvenes emprendedores en enfermería.
Palabras-clave: mercado de trabajo, contrato de riesgo, Enfermería.
Os estudos sobre
empreendedorismo ganharam visibilidade a partir dos anos 70 e vem florescendo
ao longo da história. Empreender é mais do que criar um novo
produto ou abrir uma empresa, é ter autonomia, utilizar as melhores
competências para criar algo diferente com um alto valor agregado.
Características como comprometimento, dedicação, gestão do tempo, criatividade
e esforço estão associadas ao perfil do profissional que deseja empreender [1].
Motivados pelas
dificuldades laborais e baixos salários conferidos a atuação assistencial dos
enfermeiros, muitos destes profissionais vem expressando o desejo de buscar
algo novo [2], porém a temática do empreendedorismo geralmente é tratada, nas
universidades brasileiras, nos cursos de Administração e vista de forma
transversal dentro da disciplina Administração em Enfermagem na grade
curricular do curso de graduação. Nesse sentido, existe uma enorme lacuna na
formação profissional do enfermeiro [3].
A quantidade de novos
negócios de enfermagem é inferior àquele relacionado às profissões mais
recentemente criadas na área de saúde, a exemplo da fisioterapia, psicologia e
nutrição. Acredita-se que a influência de uma cultura curativista
e de uma assistência hospitalocêntrica justifique a incipiência de
empreendedores na enfermagem. Existe uma grande demanda de mão de obra especializada
nas unidades de saúde públicas e privadas e tal fato acaba por atrair mais
profissionais devido a segurança financeira que este tipo de emprego confere.
Por ser considerada uma atividade “de risco”, empreender, na ótica dos
profissionais de enfermagem, fica relegada a segundo plano [4].
Existe, porém, um
movimento acadêmico voltado ao realinhamento da grade curricular dos cursos de
graduação em saúde para inserir a disciplina empreendedorismo em conformidade
com as Diretrizes Nacionais Curriculares [5]. As ações educativas direcionadas
ao fortalecimento das academias conferem aos futuros enfermeiros habilidades
empreendedoras para desenvolver uma maior capacidade de adaptação às mudanças
sociais e profissionais que este tipo de atividade exige. Amplia ainda suas
oportunidades, desvelando novos setores para atuação secundária a
diversificação de mercados de trabalho [3,5].
Recentemente, em 2018,
através da Resolução Nº 568/18 do Conselho Federal de Enfermagem, que trata dos
trâmites legais para funcionamento dos consultórios e clínicas de enfermagem,
os enfermeiros tiveram o reconhecimento jurídico para desenvolver seus
empreendedorismos de negócios, conferindo aos mesmos, autonomia e liberdade
criativa para inovar dentro do seu nicho de atuação [6]. Intraempreendedorismo,
Empreendedorismo Social e Empreendedorismo de Negócios são tratados na
literatura como dimensões organizacionais para ação de enfermeiros [7].
O Intraempreendedorismo
relaciona-se às atividades de gestão da qualidade e liderança que aperfeiçoem o
clima organizacional. Corresponde a um profissional assalariado que desenvolve
e oferta um serviço inovador de saúde a uma empresa do ramo. O Empreendedorismo
Social requer uma compreensão holística da sociedade. O enfermeiro, neste caso,
precisa desenvolver habilidades de educação em saúde para encontrar soluções
criativas, inovadoras e comprometidas com as questões sociais e de saúde da
população [2,7].
O Empreendedorismo de
negócios, tema central do nosso estudo, possibilita ao enfermeiro a criação de
um autoemprego através do uso de abordagens criativas
e inovadoras. Para esse perfil profissional exige-se ter uma ampla visão de
mercado aliada com a análise do ambiente de inserção empresarial, análise de
riscos, gestão do tempo, gestão de pessoas, além de gestão financeira e
contábil [2,7].
Nesse sentido, conhecer
quais as áreas e setores de atuação dos enfermeiros empreendedores justifica a
relevância deste estudo que pretende contribuir com a ampliação da visão
profissional para este novo mercado.
O estudo utilizou a
revisão integrativa como caminho metodológico. Pautada na prática baseada em
evidências, este tipo de revisão busca solucionar os problemas através dos
resultados encontrados nas publicações científicas de maior relevância. Envolve
as seguintes etapas: definição do problema de pesquisa, pesquisa nas bases e
bancos de dados científicos, avaliação crítica das evidências encontradas e a
discussão dos resultados obtidos. Tal prática encoraja a assistência à saúde
pautada em conhecimento científico [8].
O problema de pesquisa
e a pergunta condutora do estudo foram: “Qual é o conhecimento produzido sobre
empreendedorismo de negócios na enfermagem na literatura cinetífica?”
Realizou-se o
levantamento dos dados no mês março de 2020 nos Bancos de Dados da Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(MEDLINE), na Cumulative Index to
Nursing and Allied Health Literature (CINAHL)
e nas bases da Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS). A escolha destas bases se deu por atingirem referências
técnico-científicas nacionais e internacionais em periódicos conceituados da
área da saúde. Foram realizados cruzamentos dos descritores padronizados pelo
Medical Subject Heading
(MESH) “Job Market”, “Entrepreneurship”
e “Nursing” e seus análogos em português (DeCS) e em espanhol.
Para definição das
informações a serem extraídas dos artigos selecionados e categorização dos
estudos utilizou-se busca por pares, com o objetivo de fornecer uma maior
credibilidade ao conteúdo da análise. Os descritores foram confrontados de
forma pareada e depois em sequências combinadas com prioridade para o descritor
“Nursing”, a fim de padronizar os cruzamentos nas bases
de dados.
O processo de seleção
dos artigos considerou as recomendações PRISMA (Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta Analyses) [9]. Das 575 publicações identificadas, foram
excluídas 430, por não atenderem aos critérios de inclusão/exclusão. Uma
leitura criteriosa do texto completo dos 145 artigos restantes foi realizada
para identificar se eles respondiam à questão de pesquisa. Nove artigos
enquadravam-se nos objetivos do estudo e responderam à questão norteadora,
conforme detalhado no Figura1.
Figura 1 - Fluxograma do
processo de seleção do estudo – PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses) [9].
Foram incluídos na
amostra: artigos originais, publicados nos últimos cinco anos (2015-2020), nos
idiomas português, inglês e espanhol. Foram desconsideradas as teses, as
dissertações e as monografias, os editoriais e estudos de caso, bem como a
repetição de publicação em mais de uma base de dados e os artigos que não
responderam à questão norteadora.
Os estudos que
compuseram esta revisão foram classificados quanto à prática baseada em
evidências, sendo caracterizados de forma hierárquica, utilizando o referencial
americano da Agency for Healthcare Research na Quality (AHRQ) que
considera o delineamento de pesquisa [10].
Ressalta-se que a AHRQ
classifica a qualidade das evidências em seis níveis: nível 1: metanálise de múltiplos estudos controlados; nível 2,
estudo individual com delineamento experimental; nível 3, estudo com
delineamento experimental como estudo sem randomização com grupo único pré e pós-teste, séries temporais ou caso controle; nível
4, estudo com delineamento não experimental como pesquisa descritiva
correlacional e qualitativa ou estudo de caso; nível 5, relatórios de casos ou
dado obtido de forma sistemática, de qualidade verificável ou dados de
avaliação de programas; nível 6, opinião de autoridades respeitáveis baseada na
competência clínica ou opinião de comitês de especialistas, incluindo interpretações
de informações não baseadas em pesquisas [10].
Após leitura e
releitura dos artigos, pôde-se evidenciar o conhecimento produzido sobre o tema
proposto, realizando-se a análise e síntese dos conteúdos, seguindo-se com
discussão sustentada a partir da literatura pertinente.
Foram encontrados 575
artigos, dentre os quais nove abordaram o tema proposto e foram selecionados
para compor a amostra final deste estudo. A Medline abrangeu 70% da quantidade
de artigos (n=7), seguida pela Lilacs (30%- n=3). A Cinahl não apresentou resultados para a busca realizada.
A especificidade do
tema e o uso de artigos originais para composição da amostra funcionaram como
uma prerrogativa para quantidade de estudos selecionados. Porém a comunidade
científica nacional e internacional esboça a necessidade de novas publicações
sobre a temática [1-4,7]. A insipiência de artigos pode ser confirmada pelos
achados destes estudos que apresentou, no ano de 2015, quatro artigos
publicados (44,4%), 2016, um artigo (11,1%), 2018 e 2019 com dois artigos
publicados em cada ano (22,2%). No ano de 2017 e 2020 não foram identificados
artigos que se enquadravam nos critérios de inclusão para construção deste
estudo.
No quadro 1, as
publicações foram organizadas em: autores e ano, revista, ano de publicação,
título, objetivo, síntese, nível de evidência e base na qual estavam inseridos.
Seis artigos selecionados para amostra (66,6%) estavam publicados em inglês e
33,4% em português. Dois estudos apresentavam abordagem quantitativa (22,2%),
dois, abordagem qualitativa (22,2%), três eram estudos descritivos
correlacionais (33,4%) e apenas dois corresponderam a estudos de revisão
(22,2%). Neste sentido de acordo com o referencial da AHRQ sete artigos (77,7%)
apresentaram nível de evidência 4 e dois (22,3%) nível de evidência 5.
Quadro 1 - Síntese dos
estudos selecionados para amostra.
NE = Nível de Evidência;
Fonte: Autores, 2020
Os estudos selecionados
trazem diversas contribuições sobre o empreendedorismo de negócios na
enfermagem. Para melhor compreensão os achados foram subdivididos em três
categorias temáticas: Empreendedorismo na saúde: Enfermagem X Outras
Profissões; Empreendedorismo de Negócios na Enfermagem e Motivações e Obstáculos
para Empreender na Enfermagem.
Empreendedorismo na
saúde: Enfermagem X Outras Profissões
Estudo sobre
empreendedorismo na saúde realizado em 2018 identificou a existência de 12.068
empresas do ramo no Brasil, com maior concentração na Região Sudeste (25%). Em
sua maioria eram microempresas e tinham à frente profissionais fisioterapeutas
(40%), psicólogos (11%), nutricionistas (11%) e fonoaudiólogos (9%). A
enfermagem correspondeu apenas a 6% dos novos negócios da saúde no referido ano
[4].
O grande entrave está
na formação acadêmica [3,17]. Os fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas
são incentivados durante sua formação a abrirem clínicas e consultórios e
tornarem-se profissionais autônomos. Fonoaudiólogos também possuem uma grande
possibilidade de empreender na área de saúde e segurança do trabalho, uma vez
que sua avaliação integra as diretrizes estabelecidas pelo PCMSO (Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional), que possui cunho obrigatório para
empresas [4,18].
Vale salientar que
todas as profissões de saúde têm como características a assistência focada no
indivíduo/comunidade e sua prática pode ser exercida em consultórios e
instituições de assistência básica, ambulatoriais ou hospitalares, sejam elas
públicas ou privadas [11]. Porém percebe-se uma grande oferta de emprego para
profissionais de enfermagem nos serviços hospitalares e de assistência
primária, principalmente os que compõem a rede do Sistema Único de Saúde (SUS).
Mesmo diante dos salários defasados, há uma predileção dos enfermeiros por
assumir estes cargos uma vez que lhes confere estabilidade empregatícia,
principalmente em países de economia instável ou em épocas de recessão [15].
Neste contexto, os
enfermeiros não reconhecem as instituições educacionais como primordiais à
formação de profissionais empreendedores e associam o sucesso de alguns
empresários do ramo a força pessoal, desejo de atuar de forma autônoma e
criativa e perseverança de buscar conhecimentos adicionais para gerirem seus
“novos negócios” [3,13,17].
Porém existe um
movimento acadêmico para reverter tal situação e alinhar as grades curriculares
às novas tendências empreendedoras exigidas pelo mercado de trabalho [5]. Um
exemplo é a criação de incubadoras de aprendizagem. Ferramenta inovadora que
induz o empreendedorismo na enfermagem através da inovação, ou seja, do
repensar o fazer mecanizado, oportunizando a criação, implementação e
desenvolvimento de novas ideias para solução dos problemas de saúde
individuais, comunitários e institucionais [12].
Empreendedorismo de
negócios na Enfermagem
Uma vez que objetivamos
conhecer quais as áreas e setores de atuação dos empresários da Enfermagem, o
empreendedorismo de negócio passa a ser nosso foco central, porém a análise da
literatura evidenciou uma prevalência de artigos que tratam do empreendedorismo
social em detrimento do intraempreendedorismo e de
negócios [2].
Um estudo com 10
enfermeiros de um município de Minas Gerais desvelou o home care,
a assistência ao aleitamento materno em domicílio, fundação de instituições de
longa permanência para idosos ou vítimas do uso abusivo de álcool e outras
drogas como objeto social das empresas mantidas e gerenciadas pelo enfermeiro.
A assistência residencial ao pré-natal, parto, puerpério e puericultura, assim
como lojas de materiais médico-hospitalares também foram citadas no estudo
[15].
Estes dados corroboram
a pesquisa que buscou caracterizar as empresas de enfermagem dirigidas por
enfermeiros no Estado de São Paulo e com os dois artigos de revisão que
discutiam sobre a temática do empreendedorismo de negócios na enfermagem
[7,11,16]. No entanto, além das atividades supracitadas incluem-se as do ramo
de educação, treinamentos e consultorias e outros achados complementam as
informações ao desvelar uma tendência do uso da tecnologia educativa através
das mídias sociais e internet. Chamam atenção para o marketing digital e de
conteúdo como estratégia inovadora para empreender na enfermagem [7,16].
Setores de assistência
primária à saúde ainda prevalecem entre os ramos de empreendimentos na saúde
[1,2]. Tal fato justifica-se pelo baixo investimento inicial que é realizado
para concretizar o sonho de ter autonomia profissional. Devido às facilidades
burocráticas de tornar-se um microempresário, atividades autônomas de estomaterapeutas, cuidadores de idosos, esteticistas e
podólogos aparecem também na lista de “novos negócios” desenvolvidos pela
enfermagem [7,16].
Algumas áreas muito
promissoras são menos exploradas por estes profissionais à exemplo de comércio
e marketing de produtos, suporte ao desenvolvimento de tecnologias à saúde
(Software), inovação e pesquisa, coaching, educação financeira e contábil para
novos empreendedores além do ensino sobre fundos de investimentos e
lucratividade para jovens empresários da saúde [7,11,16].
Motivações e obstáculos
para empreender na Enfermagem
O desejo de empreender
é uma característica individual que é incentivada pela possibilidade de
liberdade, independência, autonomia, criatividade, lucratividade geradas a
partir da criação do “seu próprio negócio”. Esta motivação pode ser
influenciada por vários fatores. Estudos demonstram que o apoio familiar é um
dos principais agentes motivacionais à decisão de criar um nicho laboral. As
vivências pessoais, experiências profissionais e conhecimentos prévios sobre o
objeto social da empresa também são aliados na construção da nova experiência
[2,13].
Todas essas variáveis
devem estar alinhadas as características relacionadas à personalidade do
enfermeiro empresário. Fatores psicológicos e comportamentais devem estar bem
alinhados ao processo de desenvolvimento gerencial. Essa etapa inicial do
empreender exige foco e disciplina do gestor e tais habilidades devem ser
incentivadas durante a formação acadêmica [3].
Traçando agora um
paralelo invertido, evidenciamos nos estudos que o modelo de cuidado focado na
assistência primária e hospitalar, os processos burocráticos para
licenciamentos de novos negócios e falta de conhecimento acerca das questões
legais e regulatórias da profissão como obstáculos ao empreendedorismo de
negócios na enfermagem [7,16].
Inicialmente a
multiplicidade de tarefas delegadas ao jovem empresário precisa ser um
obstáculo superado em curto espaço de tempo, porém a falta de fiscalização dos
órgãos de controle prejudica aquele empreendedor que está regulamentado e abre
espaço para atuação de profissionais sem a qualificação profissional necessária
atuarem no mercado [4,7]. Um estudo realizado em 2018 evidenciou que alguns
serviços de home care contatam profissionais não
graduados a preços inferiores ao mercado, colocando em risco a qualidade da
assistência prestada ao cliente [4]. A má qualificação de mão de obra também
foi elencada em outros estudos dessa amostra e configura-se como uma enorme
barreira àquele que deseja empreender de forma séria na enfermagem [1,14-15].
A falta de conhecimento
sobre finanças corrobora os dados apresentados em um estudo que diz que 77% das
novas empresas abertas por enfermeiros mantêm suas atividades apenas até o
primeiro ano de funcionamento e que 10% sobrevivem, no máximo, por cinco anos.
Neste sentido, os autores trazem que entender a parte financeira e contábil da
empresa é condição sine qua
non para sua implantação no mercado de trabalho. Além das dificuldades
relatadas, outras questões como falta de reconhecimento das suas competências
técnicas dos profissionais de enfermagem pela clientela e a indisponibilidade
financeira inicial para abrir uma empresa também foram elencadas, como
obstáculos enfrentados pelo jovem empreendedor nos artigos [13-14].
Entre os estudos
analisados neste artigo foram evidenciadas várias óticas sobre o
empreendedorismo de negócios na enfermagem, emergindo para discussão os
seguintes temas: Empreendedorismo na enfermagem X outras profissões da saúde;
tipos de objeto social para negócios na enfermagem, além de motivações e
obstáculos para empreender na enfermagem.
A articulação entre
formação profissional, motivação e características pessoais mostrou-se
essencial para construção do jovem empresário da saúde. Foi demonstrado que
outras profissões da área são mais influenciadas durante sua formação acadêmica
para atuarem de forma independente. A enfermagem prioriza, ainda, as vagas
disponíveis nos sistemas de saúde público e privado, mesmo diante de uma
remuneração subvalorizada.
A assistência em home care, ao aleitamento materno em domicílio, a fundação de
instituições de longa permanência, atividades educativas de consultoria e
treinamentos, assim como atividades autônomas de estomaterapeutas,
cuidadores de idosos, esteticistas e podólogos aparecem na lista de “novos
negócios” desenvolvidos pela enfermagem. O estudo demonstrou que existem
algumas áreas muito promissoras que são menos exploradas por estes
profissionais.
Revela-se necessário o
desenvolvimento de novos estudos sobre a temática para instigar um outro olhar
às mudanças do mercado de trabalho, preparando os jovens enfermeiros para
atuarem como futuros empreendedores.