Enferm
Bras 2021;22(3):301-17
ARTIGO
ORIGINAL
Prática
dos profissionais de enfermagem frente a segurança do paciente em uma unidade
de emergência
Maria
Nathália da Silva Souza*, Luciana Andrade de Lima, M.Sc.**,
Vanessa Juvino de Sousa, M.Sc.***,
Ivelise Fhrideraid Alves
Furtado da Costa, D.Sc.****
*COREMU-IMIP,
**Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ***Universidade Federal de
Pernambuco, ****Universidade de Pernambuco, Hospital da Restauração Gov. Paulo
Guerra
Recebido
em 15 de abril de 2020; Aceito em 9 de maio de 2021.
Correspondência: Ivelise Fhrideraid Alves Furtado da Costa, Rua Mariz Vilela, 77,
50720-270 Prado Recife PE
Maria Nathália da Silva Souza: marianathaliass@hotmail.com
Luciana Andrade de Lima: lucianaandradelima@gmail.com
Vanessa Juvino de Sousa:
vanessajuvino@gmail.com
Ivelise Fhrideraid
Alves Furtado da Costa: ivelisefurtado@gmail.com
Resumo
O
debate sobre a segurança na assistência à saúde tem sido intensificado nas
últimas décadas, sendo a segurança do paciente um dos temas mais comentados e
discutidos, em âmbito nacional e mundial. Representa um parâmetro da qualidade
da assistência hospitalar prestada ao paciente e da segurança de sua estadia no
local. O presente estudo buscou analisar o conhecimento e a prática dos
profissionais de enfermagem do setor de emergência de um hospital geral do
agreste de Pernambuco, nos meses de março a julho de 2019, frente a segurança do
paciente. Foi realizado um estudo epidemiológico transversal descritivo com
abordagem quantitativa, desenvolvido com 65 membros da equipe de enfermagem da
emergência. O instrumento para coleta de dados da pesquisa foi composto por
questionário que abordou aspectos sociais e profissionais dos pesquisados, além
das variáveis de interesse da pesquisa, as quais foram analisadas por meio do
programa EpiInfo 7.0. Verificou-se que a sobrecarga
de trabalho, pouco tempo de experiência profissional corroboram para uma
subnotificação de eventos adversos por parte da equipe de enfermagem da área de
urgência e emergência que podem contribuir para uma assistência à saúde
precária.
Palavras-chave: segurança do paciente; conhecimentos;
atitudes e prática em saúde; emergências; enfermagem.
Abstract
Nursing practice regarding patient
safety in an emergency unit
The debate on safety in health care has been
intensified in recent decades, with patient safety being one of the most
commented and discussed topics at the national and global levels. It represents
one parameter of the quality of hospital care provided to patients and their
safety during hospitalization. This study aims to analyze the practice of
nursing professionals in the emergency department of a general hospital in the
dry region of Pernambuco, from March to July 2019, related to patient safety.
This is a descriptive cross-sectional epidemiological study with a quantitative
approach, developed with 65 members of the emergency nursing team. The instrument
used to data collection consisted of a questionnaire that addressed the social
and professional aspects of the respondents, as well as the variables of
interest of the research. Data were entered as they were collected and analyzed
using the EpiInfo 7.0 program. It was found that work
overload and short professional experience corroborate the underreporting of
adverse events by the nursing staff of the urgency and emergency area that may
contribute to poor health care.
Keywords: patient safety; health knowledge;
attitudes; practice; emergencies; nursing.
Resumen
Práctica de los profesionales de enfermería con respecto a la seguridad del
paciente en una unidad de emergencia
El
debate sobre la seguridad
de la atención médica se ha intensificado en las últimas décadas, siendo la seguridad
del paciente uno de los
temas más comentados y discutidos hoy en día, a nivel
nacional y mundial. Representa un parámetro
de la calidad de la atención hospitalaria brindada
al paciente y la seguridad
durante su hospitalización.
Este estudio buscó analizar el conocimiento
y la práctica de los profesionales de enfermería de un hospital del agreste de Pernambuco, en los meses de marzo a julio de 2019, relativo a la seguridad del paciente. Se trata
de un estudio epidemiológico
descriptivo transversal con
un enfoque cuantitativo, desarrollado con 65 miembros del equipo de enfermería de emergencia. El
instrumento utilizado para colectar los datos de la
investigación consistió en un cuestionario
que abordaba los aspectos sociales y profesionales de los encuestados, además de las variables
de interés en la investigación. Los datos se ingresaron a medida que se recopilaron y analizaron
utilizando el programa EpiInfo
7.0. Se encontró que la
sobrecarga de trabajo, un
corto tiempo de experiencia profesional
corrobora el subregistro de
eventos adversos por parte del equipo de enfermería en el
área de urgencia y emergencia
que puede contribuir a la
mala calidad de atención en salud.
Palabras-clave: seguridad del paciente; conocimientos; actitudes y práctica en salud; urgencias
médicas; enfermería.
A segurança na assistência à saúde é tema recorrente em
discussões em âmbito nacional e mundial, em especial, sobre a assistência
hospitalar prestada ao paciente e a segurança no local têm desencadeado o
aumento das discussões sobre a temática. Apesar do avanço da medicina, a
segurança do paciente é um tema que merece ser abordado entre os profissionais
de saúde e investigado pelos seus eventos adversos em área hospitalar que
ocorre constantemente, o que pode trazer para o usuário dos serviços de saúde consequências
até mesmo permanentes [1].
O movimento mundial em torno do tema desencadeou-se a
partir da publicação do relatório americano “To
err is human:
building a safer health system”, publicado pelo Institute
of Medicine; o estudo foi realizado após a análise de
dados epidemiológicos, concluindo que a alta incidência de eventos adversos em
âmbito hospitalar existe, principalmente, por erro do profissional de saúde.
Posteriormente a esta publicação, a temática ganhou força e discussões surgiram
sobre os modelos assistenciais usados nestes usuários. Com o relatório
publicado, nos EUA, as redes hospitalares passaram a incorporar a segurança do
paciente como qualidade do cuidado, assim obtendo resultados desejáveis na rede
hospitalar [2].
Após a publicação deste relatório, a Organização Mundial de
Saúde (OMS) criou, no ano de 2004, o World Alliance for Patient
Safety (Aliança Mundial para a Segurança do
Paciente), a qual teve como objetivo promover avaliação nas áreas de serviços
de saúde, a fim de reduzir a alta incidência de eventos adversos. Em pesquisas
feitas pelo OMS, foram identificados distintos erros na saúde, levando à OMS a
criar a Classificação Internacional de Segurança do Paciente (International Classification for Patient Safety – ICPS) [3].
Em âmbito nacional, iniciaram-se as discussões sobre a
segurança do paciente, em 2002, com a criação da Rede Brasileira de Hospitais
Sentinela, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que tem como
uma das principais finalidades notificar eventos adversos que acometem os
pacientes. O Sistema de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária (Vigipos), portaria de nº 1.660, de 22 de julho de 2009,
consiste em um componente do Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos princípios da
Vigipos é a promoção de notificação e identificação
de casos que acometem a segurança do paciente hospitalizado que estão
conectados a vigilância sanitária. Em 2013 foi lançado, após a experiência da
Rede Brasileira de Hospitais Sentinela, o Programa Nacional de Segurança do
Paciente (PNSP) através da Portaria de nº 529/13, do Ministério da Saúde, e
pela Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 36/2013, ambos estabelecem atos
para a segurança do paciente nos serviços de saúde do país [3].
No
Brasil, as determinações legais definidas pelas
portarias ministeriais 354/2014, 1377 e 2095 de 2013 definem estrutura
a serem
direcionadas à segurança no cuidado à saúde
no âmbito das urgências e
emergências. As diretrizes para promover a segurança e
evitar a ocorrência de
erros decorrentes da assistência estão descritas nos
Protocolos Básicos para a
Segurança do Paciente e possui determinantes que devem ser
seguidos para um
atendimento livre de erros como: a identificação do
paciente, promoção da
higienização das mãos, realização de
cirurgia segura, prevenção de lesão por
pressão e de quedas; e segurança na
prescrição, uso e administração de
medicamentos [3].
Considera-se que o cenário da emergência constitui ambiente
crítico e de riscos potenciais aos pacientes, pelas características do
atendimento, gravidade dos casos clínicos e aumento de agravos à saúde por
causas externas. Deste modo, de acordo com as políticas públicas para a
promoção da segurança do paciente, existe a recomendação do emprego de roteiros
de fiscalização, como as listas de verificação do cuidado, e a relevância do
uso de protocolos para nortear a assistência.
Estudos despertam para a magnitude deste problema, ao
constatar que milhões de usuários internados em hospitais sofrem algum tipo de
evento adverso. No Brasil, quedas do leito, complicações clínicas e cirúrgicas,
erros de medicação e infecções são os incidentes que mais ocorrem. Contudo,
pouco se sabe sobre a extensão desse problema em âmbito nacional, pois há
carência de evidências científicas disponíveis para mensurar tal realidade em
que o país se encontra [4,5].
Diante do exposto, o presente estudo visa analisar o
conhecimento e a prática dos profissionais de enfermagem, quanto a Segurança do
Paciente, no setor de urgência e emergência de um hospital do agreste
pernambucano.
Estudo epidemiológico observacional descritivo de corte
transversal, com abordagem quantitativa de dados primários, realizado em um
hospital do agreste pernambucano. Compreende uma instituição de saúde pública,
que oferece várias especialidades médicas de internamentos e assistências de
urgência e emergência na cidade e região. A instituição da pesquisa é voltada
para o atendimento de emergência, sendo referência em trauma (traumato-ortopedia, cirurgia geral e buco-maxilo-facial) de
alta complexidade.
A amostra foi composta por profissionais enfermeiros e
técnicos de enfermagem pertencentes ao setor da urgência e emergência, os quais
atuavam há mais de seis meses, totalizando 65 participantes. Como critérios de
exclusão: profissionais que possuíssem problemas psicológicos.
A coleta de dados foi realizada no próprio local de
trabalho dos pesquisados por meio de questionário semiestruturado validado pelo
Hospital Survey on Patient Safety Culture: User’s Guide, criado pela Agency for Healthcare Research
and Quality (AHRQ),
instrumento este utilizado para avaliar a cultura de segurança entre
profissionais de saúde, cujo trabalho influencia a terapêutica do paciente
[6,7,8]. O período da coleta de dados compreendeu os meses de julho a agosto de
2019. Foram adotadas as seguintes variáveis: sexo, idade, carga horária de
trabalho, tempo de formação na área de enfermagem, tempo de trabalho na
instituição pesquisada e perguntas sobre conhecimento e quantidade de
notificações de eventos adversos.
Os dados obtidos por meio de respostas dos questionários
foram inseridos em uma planilha de banco de dados eletrônico (Programa Excel da
Microsoft®) e foram tabulados e cruzados em software Epi Info™versão
7.0.
Foi efetuada estatística descritiva por meio das medidas de
tendência central para as variáveis numéricas e medidas de frequência absoluta
e relativa para as variáveis categóricas. Ademais foi testada a distribuição de
normalidade através do teste de Kolmogorov-Smirnov.
Análises de variância, Teste-t, Qui-quadrado e teste exato de Fisher foram realizados para
detectar o efeito do perfil do profissional sobre as variáveis: qualidade da
segurança do paciente e notificação de eventos adversos. Foi utilizado, em
especial, o teste de independência Qui-Quadrado, que
é usado para avaliar se existe a associação entre a variável de linha e coluna
variável em uma tabela de contingência construído a partir de dados da amostra.
A hipótese nula é de que as variáveis não estão associadas, em outras palavras,
eles são independentes.
Para as variáveis que não atenderam aos pressupostos de
normalidade da distribuição, requeridos pela ANOVA e teste-t,
utilizaram-se os correspondentes não-paramétricos Kruskall-Wallis
e Wilcoxon-Mann-Whitney.
Este estudo foi encaminhado ao Comitê de Ética em que
recebeu o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº
12319519.6.0000.5666. Todos os participantes da pesquisa assinaram o TCLE
(Termo de consentimento livre e esclarecido) em duas vias, contendo as
informações pertinentes da pesquisa e dados dos pesquisadores para quaisquer
dúvidas em relação a pesquisa, e os participantes tiveram seu anonimato
garantido.
A amostra foi constituída por 65 profissionais de
enfermagem, sendo 17 do sexo masculino (26,15%) e 48 do sexo feminino (73,85%),
23 enfermeiros (35,38%) e 42 técnicos de enfermagem (64,62%). A média de idade
da amostra total foi de 37,2 anos com desvio padrão de ±7,9. A mediana de idade
dos profissionais de enfermagem foi de 37 anos e a moda de 43 anos.
Os enfermeiros e técnicos de enfermagem, da unidade
pesquisada, apresentaram um tempo de entre 1 e 5 anos de experiência de
profissional (47,69%) e trabalhavam na área de emergência da instituição há
mais de um ano (41,54%). Outras informações estão sumariadas na tabela I.
Tabela
I - Características
dos dados sociais e formação profissional dos pesquisados por categoria.
Caruaru, PE, Brasil, 2019
Os participantes foram submetidos a uma entrevista em base
de um questionário semiestruturado e validado, que envolvia questões sobre a
segurança do paciente e quantidade de notificação de eventos adversos. Tendo em
vista a prevalência e notificação, foram reagrupados os dados para viabilizar
os testes estatísticos, ficando da seguinte forma: quem realizou notificação e
quem não realizou notificação. Houve prevalência dos participantes da pesquisa
que não realizaram notificação de eventos adversos (76,92%) e cerca de 23,08%
dos participantes realizaram notificação de eventos adversos nos últimos 12
meses na instituição.
Observou-se que o fato de ser profissional enfermeiro ou
técnico de enfermagem não está estatisticamente associado ao fato de notificar
ou não os eventos adversos, sendo observado, após o reagrupamento dos dados, os
baixos indicadores de notificação presentes nos resultados dos cruzamentos
obtidos da variável profissão com a variável de número de eventos notificados,
resultando em 17,39% de técnicos de enfermagem e 26,19% de enfermeiros que
notificaram algum evento adverso respectivamente. Outras informações estão
disponíveis na tabela II.
Tabela
II - Características
em percentual de notificação de eventos adversos preenchidos nos últimos 12
meses. Caruaru, PE, Brasil, 2019
Sobre a segurança do paciente na unidade pesquisada,
apresentou um quantitativo maior de profissionais de enfermagem que avaliaram
como regular a segurança do paciente no ambiente hospitalar na área da
emergência (50,77%). Foram reagrupados os dados para viabilizar os testes
estatísticos de qui-quadrado,
porém não houve
associação significativa em relação da
variável avaliação da segurança do
paciente na instituição pesquisada com as
variáveis: grau de instrução e cargo
profissional exercido no setor de urgência e emergência
(p-valor: 0,4713).
Outras informações encontram-se disponíveis na
tabela III.
Tabela
III - Características
em percentual da avaliação da segurança do paciente no ambiente hospitalar na
área de emergência. Caruaru, PE, Brasil, 2019
Segundo a tabela IV, apresenta o grau de formação acadêmica
nos profissionais de enfermagem, tendo um quantitativo maior para os que têm
segundo grau completo e pós-graduação do tipo especialização. Foram reagrupados
os dados da seguinte tabela para realização do teste qui-quadrado.
Tabela
IV - Características
em percentual do grau de instrução dos participantes. Caruaru, PE, Brasil, 2019
Com o reagrupamento dos dados, foram realizados os
cruzamentos da variável profissão com a variável de número de eventos
notificados e a qualidade da segurança do paciente, avaliados pelos
profissionais de enfermagem da instituição, não sendo estatisticamente
significante, seguindo os p-valores, respectivamente: teste exato de Fisher
0,3146 e teste qui-quadrado 0,4713. Entre o
cruzamento de grau de instrução com o número de eventos adversos, obteve o
seguinte resultado do teste exato de Fisher 0,2861.
Ao longo dos anos, os dados sobre a temática segurança do
paciente são preocupantes e causam grande repercussão, tanto em âmbito nacional
como internacional, repercussão esta que após a publicação do relatório do Institute of Medicine (IOM), To Err is Human: Building a Safer Health Care System, na
década de 90, demonstrou, a partir da análise de grandes estudos
epidemiológicos, a alta incidência de eventos adversos nas instituições
hospitalares, justificando que o tema deva ser considerado como preferência
pelas principais organizações de saúde em todo o mundo [5].
Nesse contexto, trabalhando por anos e visando
principalmente a segurança do paciente, o Ministério da Saúde estabeleceu o
Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), pela Portaria MS/GM nº 529,
de 1° de abril de 2013, que tem como objetivo geral promover a qualificação do
cuidado em saúde nos estabelecimentos do território nacional [3]. Algumas
questões como o alto índice de quedas, erros de medicações, baixa efetividade
na comunicação entre profissionais de saúde, incentivaram a Organização Mundial
de Saúde a selecionar protocolos que são componentes obrigatórios dos planos
para a segurança do paciente em unidades de saúde [9].
A vida dos profissionais de Enfermagem é permeada pela
vivência e percepção diária de situações de risco, que podem auxiliar no
gerenciamento do cuidado em relação à segurança do paciente [10]. O aspecto
adulto jovem dos profissionais participantes do referente estudo, em relação ao
tempo de experiência profissional e ao tempo de trabalho na unidade de urgência
e emergência, pode indicar maior necessidade de aprendizado por não haver ainda
uma experiência no campo de trabalho diversificada, justificando-se a
porcentagem (76,92%) expressiva de nenhuma notificação de eventos adversos na
instituição. Tal fato, é atestado por Castilho et al. [11], em seu estudo, que
mensura o clima de segurança nas emergências, onde o perfil profissional exerce
influência negativamente.
Ademais, a própria coordenação do núcleo de segurança do
paciente teve acesso aos resultados do estudo e ratificou os achados,
informando que há notificações de eventos adversos a emergência, porém são
majoritárias as notificações efetuadas na unidade de terapia intensiva. Logo, é
necessária educação continuada e maior incentivo a essa prática, uma vez que a
cultura de segurança na emergência apresenta fragilidade atrelada à
infraestrutura, à complexidade e à multifatoriedade
das situações ali vivenciadas, à sobrecarga e desvalorização profissional, e à
descontinuidade do cuidado [12,13,14].
O déficit de conhecimento da equipe de enfermagem sobre a
segurança do paciente também é um alarde perante os profissionais de saúde, o
que leva ao acontecimento de eventos adversos. Isto reforça que as atualizações
por parte das instituições para estes profissionais devam ser primordiais para
obter uma qualidade na assistência à saúde, pois a qualificação profissional
impacta positivamente na segurança do paciente [11]. Por isso, é importante salientar
que a ausência de protocolos assistenciais atrelada ao receio de punição, pela
maioria dos profissionais, em notificar os eventos adversos contribui para uma
subnotificação, resultando em uma falsa sensação de segurança, o que promove a
continuidade desses erros [15].
O incentivo à cultura de segurança deve se embasar num
forte apoio gestor [13] e tendo em vista as peculiaridades de uma unidade de
emergência, na qual a alta rotatividade e a peculiaridade dos clientes
atendidos tornam carga de trabalho excessiva comparada a outros setores, em que
a cultura de segurança se estabelece com maior facilidade [11]. É importante
salientar que os processos de trabalho exercem influência sobre o clima de
segurança e que o envolvimento dos profissionais é peça chave para o
estabelecimento da cultura de segurança [12].
O enfermeiro, além de prestar cuidados aos pacientes do seu
setor, tem outras atribuições administrativas, que, muitas vezes, ocupam a
maior parte do tempo, dificultando a atenção prestada ao cliente, tudo
ocasionado pelo excesso de funções no trabalho e múltiplos vínculos
empregatícios, o que acarreta os eventos adversos causando-lhes problemáticas
no campo de atuação profissional. Tal sobrecarga é agravada pelo equivocado
dimensionamento, que muitas vezes desobedece às normas de segurança técnica,
ficando o enfermeiro responsável por um número excessivo de pacientes [12,13].
No presente estudo ao serem analisados os dados obtidos
observou-se que a maioria dos profissionais participantes da pesquisa possuem
jornadas de trabalho de até 39 horas semanais. Em outra pesquisa foi
apresentado que aproximadamente 78% dos incidentes sem lesão e de eventos
adversos em pacientes foram relacionados às ações da equipe de enfermagem,
essas complicações que foram atribuídas à sobrecarga de trabalho da equipe
aumentaram o número de dias de internação dos pacientes estudados [16].
Vale ressaltar, ainda, o maior quantitativo de
profissionais de nível médio (n = 30; 43,15%) em relação aos profissionais de
nível superior confrontando a lei que normatiza o exercício profissional da
enfermagem que preconiza a competência do enfermeiro realizar cuidados diretos
a pacientes graves, privativamente, com risco eminente de morte e maior
complexidade das atribuições técnicas, portanto, pacientes de emergência (sala
vermelha, principalmente) deveriam receber a maioria dos cuidados diretos de
enfermeiros, visto a sua complexidade e o seu risco a vida [17].
Contudo, a literatura e estudo presente evidenciou a
atuação, em grande maioria, de profissionais de nível médio em ambiente de
emergência em proporções incompatíveis com o que a legislação brasileira
determina, e isto, associado à falta de recursos humanos adequados e sobrecarga
de trabalho, pode resultar em delegações de funções errôneas para os
profissionais de nível médio, colocando em risco a segurança do paciente [18].
Em um estudo realizado no Canadá que teve como objetivo
observar se a presença de gerencia em nível assistencial está associada a maior
incidência de eventos adversos, evidenciou-se que equipes que possuíam em sua
composição profissionais com formação em nível superior apresentaram resultados
assistenciais melhores, referentes às infecções relacionadas à assistência,
erros de medicações e o desenvolvimento de lesão por pressão, se confrontados a
modelos funcionais que mostram uma visão antiga da enfermagem como a profissão
de multifunções [19].
Compete aos gestores analisar os processos de trabalho,
indagar e reforçar as comunicações entre gestor e profissional de ponta, pois
apenas desta forma será possível a implantação de estratégias que possam
impossibilitar a predisposição a erros específicos ao cuidado de enfermagem e
que, infelizmente, tornam o sistema ainda falho, isto porque a implementação da
cultura de segurança do paciente na instituição é o primeiro passo para o
cuidado ser efetivado com excelência [9].
Grande parte dos eventos adversos resultam da negligência
às metas internacionais de segurança do paciente. No presente estudo grande
parte dos eventos adversos não são notificados pelos profissionais de
enfermagem (76,92%), o que dificulta a atividade dos gestores hospitalares em
busca de caminhos para a resolução dos problemas e direcionamento correto dos
profissionais para um planejamento assistencial com mais qualidade [20].
Outros autores evidenciaram que os profissionais de
Enfermagem conseguem identificar os principais riscos à segurança dos pacientes
(físicos, químicos, assistenciais, clínicos e institucionais), os quais devem
por finalidade de atenção. Deste modo a identificação por parte dos
profissionais de enfermagem sobre os riscos pode ser considerada como a
primeira de muitas estratégias para a instituição hospitalar melhorar a cultura
de segurança do paciente [21].
Em alguns estudos brasileiros, os autores apontam como
fatores para não adesão à notificação dos eventos, a sobrecarga de trabalho, o
esquecimento, a forma punitiva de várias gestões e a não valorização dos
eventos adversos em saúde nas instituições [22,23,24], questões estas também
referenciadas nos resultados deste estudo, corroborando pelos baixos índices de
notificação presentes nos resultados dos cruzamentos obtidos da variável
profissão com a variável de número de eventos notificados.
O setor de emergência compreende procedimentos complexos
com alto índice de infecções, estresse emocional e eventos adversos. Com um alto grau de responsabilidade para tomar decisões, a
equipe de enfermagem acaba sendo pressionada durante a rotina de trabalho, o
que compõem um grupo de profissões desgastantes e expostas ao estresse. Fatores
como a elevada cobrança, sobrecarga de trabalho e poucas horas de descanso
podem colaborar com a negligência no cumprimento das metas internacionais de
segurança do paciente, prejudicando assim o cliente [25].
As metas internacionais da segurança do paciente é um tema
abrangente, de âmbito mundial e nacional, pelo alto índice de morbidades e
mortalidades por eventos adversos, que podem ocasionar consequências até mesmo
irreversíveis aos usuários. Os profissionais de enfermagem estão ao lado dos
pacientes a maior parte da sua jornada de trabalho, e a maioria dos eventos
adversos que os acometem poderiam ser evitados, se os profissionais de
enfermagem tomassem a devida precaução em determinadas ocorrências nas
emergências e urgências.
O estudo corrobora na identificação das dificuldades que
são enfrentadas pelos profissionais como o receio da punição, a fragilidade no
conhecimento, a sobrecarga de trabalho e até o descompromisso dos profissionais
de saúde, a falta de conhecimento da equipe de enfermagem da área de urgência e
emergência acerca do assunto em questão, ocasionando a subnotificação dos
eventos adversos em saúde.
É neste sentido que os profissionais de enfermagem que
exercem suas funções em setores de urgência e emergência necessitam, além de
qualificação adequada, mobilização de competências profissionais específicas
que visem principalmente a promoção da saúde e prevenção de agravos, durante a
execução do seu trabalho, que lhes permitam desenvolver suas funções de maneira
eficaz, aliando conhecimento técnico-científico, domínio da tecnologia, e
sobretudo humanização, individualização do cuidado e, consequentemente,
melhoria da qualidade na assistência prestada ao paciente.
Diante dos resultados deste estudo, sugere-se a
implementação de ações educativas e de encorajamento da equipe, visando a
notificação e o aperfeiçoamento da assistência segura, além de que novas
pesquisas científicas possam ser aprimoradas e desenvolvidas no Brasil a fim de
reconhecer o clima de segurança do paciente nos diversos setores hospitalares,
propor novas iniciativas para a discussão da temática e buscar, assim, a melhor
qualidade no cuidado em saúde.