Enferm
Bras 2021;20(3);399-409
REVISÃO
Assistência
de enfermagem a pacientes submetidos à hemodiálise em unidades de terapia
intensiva
Érika
de Moura Fé*, Luma Oliveira Moreira de Carvalho*, Camila Hanna de Sousa**, Ediney Rodrigues Leal***, Edilberto
da Silva Lima****, Nara Karoliny Carvalho do Monte
Sá*, Wevernilson Francisco de Deus, M.Sc.*****, Ilana Gomes
Soares******, Samara Francisca Veloso****, Ana Luiza Barbosa Negreiros, M.Sc.*******, Laelson Rochelle
Milanês Sousa, D.Sc.********
*Graduada
em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí, Especialista em Enfermagem em
Terapia Intensiva e Urgência e Emergência, **Mestranda em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí. Especialista em Enfermagem em Terapia Intensiva
e especialista em Urgência e Emergência, ***Graduado em Enfermagem pela
Universidade Estadual do Piauí, Especialista em Enfermagem em Terapia
Intensiva, Urgência e Emergência e em Nefrologia, ****Graduado em Enfermagem
pela Universidade Estadual do Piauí, *****Enfermeiro, Professor na Universidade
Federal do Piauí, ******Graduada em Enfermagem pela FACID, Enfermeira
Plantonista na Unidade Mista de Saúde Mônica Reis Dantas, *******Universidade
Estadual do Ceará, ********Enfermeiro, Universidade de São Paulo EERP/USP
Recebido
em 12 de abril de 2020; aceito em 9 de maio de 2021.
Correspondência: Érika de Moura Fé, Rua Projetada,
Loteamento Vila Serrana, Q 25, C 41, bairro Paraibinha,
Picos PI
Érika de Moura Fé: erikamr18@gmail.com
Luma Oliveira Moreira de Carvalho: lumaomc@outlook.com
Camila Hanna de Sousa: camilahanna21@gmail.com
Ediney Rodrigues Leal:
ediney-rodrigues-leal@outlook.com
Edilberto da Silva Lima:
edilbetolima_15@hotmail.com
Nara Karoliny Carvalho do Monte
Sá: narakaroliny@hotmail.com
Wevernilson Francisco de Deus:
wever_ni@hotmail.com
Ilana Gomes Soares:
ilana.gomes@hotmail.com
Samara Francisca Veloso: samaraveloso@outlook.com
Ana Luiza Barbosa Negreiros. analuiza.negreiros@hotmail.com
Laelson Rochelle Milanês
Sousa: laelsonmilanes@gmail.com
Resumo
Introdução: A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é
o nível mais complexo da hierarquia dos serviços hospitalares, apresenta a
necessidade de organização e estruturação da assistência de enfermagem, de
forma a contribuir positivamente para a qualidade das ações e segurança do
paciente. Objetivo: Identificar as evidências científicas acerca da
assistência de enfermagem a pacientes submetidos a hemodiálise na UTI. Métodos:
Revisão integrativa da literatura, realizada de dezembro de 2019 a março de
2020, nas bases de dados Lilacs via BVS e na Pubmed. Resultados: Os resultados demonstraram que a
equipe de enfermagem participa ativamente das terapias de substituição renal,
sendo a responsável pela parte técnica e relação do paciente com o ambiente, o
que evidencia a importância da equipe de enfermagem nos cuidados a complicações
clínicas, uma vez que a detecção e rápida intervenção é um diferencial
importante na terapêutica instituída. Conclusão: Foi possível notar que
os cuidados intensivos prestados aos pacientes críticos estão diretamente
relacionados às atribuições do enfermeiro, tanto no que diz respeito às
atividades de planejamento, quanto nas decisões que envolvem o paciente e, também,
a própria equipe de Enfermagem.
Palavras-chave: diálise renal; cuidados de enfermagem;
unidades de terapia intensiva.
Abstract
Nursing care for patients
undergoing hemodialysis in intensive care units
Introduction: The Intensive
Care Unit is the most complex level of the hierarchy of hospital services, it
presents the need for organization and structuring of nursing care, to
contribute positively to the quality of actions and patient safety. Objective:
To identify the scientific evidence about nursing care to patients undergoing
hemodialysis in the ICU. Methods: Integrative literature review,
conducted from December 2019 to March 2020, in Lilacs databases via VHL and Pubmed. The final corpus had 11 productions, which answered
the research question. Results: The results showed that nursing actively
participates in renal replacement therapies, being responsible for the
technical part and relationship of the patient with the environment, which
evidences the importance of the nursing team in the face of complications,
since detection and rapid intervention is an important differential in the
therapy instituted. Conclusion: It was possible to note that the
intensive care provided to critically ill patients is directly related to the
nurse's duties, both about planning activities, as well as in decisions
involving the patient, as well as, to the nursing team itself.
Keywords: renal dialysis; nursing care;
intensive care units.
Resumen
Asistencia de enfermería
a pacientes sujetos a hemodialisis
en unidades de atención
intensiva
Introducción: La Unidad de Cuidados
Intensivos es el nivel más complejo en la
jerarquía de los servicios hospitalarios, presenta
la necesidad de organización y estructuración de la atención de enfermería, con el fin de contribuir positivamente
a la calidad de las acciones y la seguridad del
paciente. Objetivo: Identificar la evidencia científica sobre el
cuidado de enfermería para pacientes sometidos a hemodiálisis en la UCI. Métodos: Revisión
bibliográfica integral, realizada desde diciembre de
2019 hasta marzo de 2020, en
las bases de datos Lilacs a través de BVS y Pubmed.
El corpus final tuvo 11 producciones,
que respondieron a la
pregunta de investigación. Resultados: Los
resultados mostraron que la
enfermería participa activamente
en las terapias de reemplazo renal, siendo responsable de la parte técnica y
la relación del paciente con el medio ambiente, lo que demuestra la importancia del equipo de enfermería ante las complicaciones, desde la detección y la rápida intervención es un diferencial importante en la terapia instituida. Conclusión: Fue posible notar que la atención intensiva brindada a pacientes críticos está directamente relacionada con los deberes del
enfermero, tanto en lo que respecta a las actividades de planificación, como a las decisiones que involucran al
paciente y, también, al equipo de enfermería.
Palabras-clave: diálisis
renal, cuidados de enfermería, unidades de cuidados
intensivos.
A criação das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) surgiu da
necessidade do atendimento aos pacientes em estado crítico que precisavam de
cuidados contínuos de uma equipe de saúde formada por médicos e enfermeiros.
Florence Nightingale é considerada uma precursora
desta assistência especializada no século XIX durante a guerra da Criméia, a
partir de sua preocupação com os indivíduos mais graves, selecionando-os e
acomodando-os de forma a favorecer a sua observação constante e o cuidado
imediato dos enfermeiros [1].
Considerando que a UTI é o nível mais complexo da
hierarquia dos serviços hospitalares, a mesma apresenta a necessidade de
organização e estruturação da assistência de enfermagem, de forma a contribuir
positivamente para a qualidade das ações e segurança do paciente e da equipe
multiprofissional, pois a terapia intensiva significa estar em contato com uma
parte bastante sensível referente à saúde, já que trata-se de um momento
crucial que requer o domínio de conhecimentos específicos que serão
extremamente importantes para a vida do paciente[1,2].
As lesões renais podem ser caracterizadas de duas formas: A
Doença Renal Crônica (DRC) e a Doença Renal Aguda (DRA). A primeira pode ser
definida como a perda gradual da capacidade ou ritmo de filtração glomerular
(RFG) dos rins [3]. Já a DRA é conceituada como a perda abrupta de função renal
que resulta na retenção de ureia e outras escórias nitrogenadas, aumento da
creatinina sérica igual ou maior a 0,3 mg/dl ou aumento percentual igual ou
maior a 1,5 vez o valor basal obtido no último período de 48 horas. Acontece
com frequência em pacientes críticos, sendo uma complicação comum nas UTIs
[4,5].
Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia indicam que 100
mil pessoas fazem diálise no Brasil, apontando um crescimento de 2000 até 2013
de mais de 50.000 novos clientes em tratamento dialítico a cada ano. Estima-se
que 83,4 mil pacientes são mantidos em serviços de diálise na rede pública de
saúde, dos quais 90% fazem hemodiálise [3,6].
Diante do exposto, justifica-se a realização da presente
revisão integrativa, com o principal propósito de contribuir na compreensão do
conhecimento científico já existente acerca da assistência de enfermagem a
pacientes que necessitem realizar hemodiálise em UTI e para isso é importante
compreender a realidade que o profissional vivencia na terapia intensiva e a
verificação de fatores que podem dificultar a sua atuação, visto o grau de
complexidade que irá atingir, não permitindo que o cuidar esteja apenas
concentrado do ponto de vista biomédico. Sendo assim, o referido estudo
norteou-se pela questão de pesquisa: Quais as evidências encontradas sobre a
assistência de enfermagem a pacientes submetidos a hemodiálise na UTI? Nesse
sentido, objetiva-se identificar as evidências científicas acerca da
assistência de enfermagem a pacientes submetidos a hemodiálise na UTI.
A metodologia utilizada foi a revisão integrativa da
literatura, que inclui análise e síntese de pesquisas de maneira sistematizada
de modo a contribuir para o aprofundamento do tema investigado, auxiliar na
tomada de decisão e consequentemente, na melhoria da prática clínica, com base em
resultados de pesquisa [7].
Para a elaboração do estudo foram percorridas as seguintes
etapas: estabelecimento do tema e elaboração da questão de pesquisa; definição
dos critérios de inclusão e exclusão; avaliação dos estudos incluídos na
revisão e interpretação dos resultados e, por fim, a apresentação da síntese do
conhecimento produzido.
A pesquisa ocorreu no período de dezembro de 2019 a março
de 2020 na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (Lilacs) via Biblioteca Virtual de Saúde (BVS)
e na National Library of
Medicine and the National Institutes of Health (Pubmed). Devido a
especificidade e pela exequibilidade da presente revisão, utilizou-se uma
estratégia para cada busca, os descritores foram obtidos juntos aos Descritores
em Ciências em Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH), conforme apresentado no quadro a seguir.
Quadro
1 - Sistematização
da busca eletrônica da relação de descritores controlados e sinônimos
utilizados para a busca, Picos-PI, 2020
Os operadores booleanos AND e OR foram utilizados no
processo de elaboração da pesquisa nas bases de dados aplicados
respectivamente, para o conjunto de descritores e as combinações de palavras
sinônimas.
Como critérios de inclusão elencaram-se publicações na
modalidade artigo disponíveis na íntegra, em língua portuguesa ou inglesa, que
tivessem sido publicados no período compreendido entre 2016 e 2020, online e
gratuitamente. Realizou-se leitura aprofundada com o intuito de analisar as
informações relevantes com o objetivo da pesquisa e, ao final, excluindo
aqueles que estavam repetidos ou que não correspondiam à temática abordada.
No portal BVS foram apuradas 2.203 produções e, após
selecionar a base de dados Lilacs, 194 pesquisas
foram disponibilizadas. Já na Pubmed apuraram-se 76
produções, totalizando 270 estudos. Após aplicar os critérios de seleção, o
corpus final contou com 11 produções. A figura 1 mostra os passos do estudo.
Fonte: autores
Figura
1 – Fluxograma
representativo da seleção de artigos, Picos, PI, 2020
Para a análise dos dados, foram elencados os autores, ano
de publicação, título, objetivo, tipo e local de estudo dos artigos
encontrados.
A síntese qualitativa da presente pesquisa de revisão que
analisou 11 artigos está descrita no Quadro 2 organizada conforme autores; ano
de publicação; título; objetivo; tipo e local do estudo.
Quadro
2 – Artigos
selecionados sobre a Assistência de Enfermagem a pacientes submetidos à
hemodiálise em Unidades de Terapia Intensiva, Picos, PI, 2020 (ver PDF
anexo)
Foram analisados 11 artigos, sendo cinco na língua
portuguesa e seis em inglês, dois publicados em 2016, um em 2017, três em 2018
e cinco em 2019. Neles, foi possível perceber que objetivaram estudar a atuação
da enfermagem junto ao paciente que se encontra em tratamento intensivo e que
necessita realizar intervenção hemodialítica, bem
como analisar a influência e contribuição da categoria para o bem-estar e
recuperação da saúde desses clientes.
Os resultados demonstraram que a equipe
de enfermagem participa ativamente das terapias de substituição renal, sendo a
responsável pela parte técnica e relação do paciente com o ambiente, o que
evidencia a importância da equipe de enfermagem nas complicações clínicas. Além
disso, entre as várias funções, o cuidado de enfermagem é direcionado também no
sentido de avaliar o estado hídrico e identificar as fontes potenciais de
desequilíbrio, executar um programa nutricional que assegure ingestão adequada
aos limites do regime terapêutico e promova segurança ao paciente atentando
para as possíveis complicações [9,10,11].
O enfermeiro de UTI possui componente generalista na
formação e no escopo de atuação, justificando a dificuldade para identificar
manifestações clínicas de casos de injúria renal aguda em pacientes internados
em UTI. Nesse sentido o estudo considera que as matrizes curriculares dos
cursos de Enfermagem precisam estar mais envolvidas com questões
epidemiológicas relevantes e incidentes no cenário nacional, trabalhando com as
necessidades de saúde-doença-cuidado, os aspectos da tecnologia e da
complexidade do cuidado ao paciente renal, nos diversos cenários, entre eles a
UTI, pois é comum que os enfermeiros que atuam em unidades de cuidados críticos
acompanhem a hemodiálise de pacientes internados [12].
Quanto as complicações intradialíticas
e considerando a importância de reconhecer as demandas do paciente, torna-se
necessário o conhecimento de propostas de intervenções de enfermagem
estabelecidas pela NIC em casos de intercorrências durante o procedimento de
hemodiálise na UTI. Dentre essas intervenções tivemos: manutenção do acesso
vascular central; Controle de arritmias/cuidados cardíacos; Regulação
hemodinâmica; Monitorização hídrica; Controle da hipoglicemia; Tratamento da
hipotermia [13].
Porém, mesmo tomando todas as precauções, complicações
podem ocorrer durante a sessão de hemodiálise na UTI, embora possam ser
eventuais, mas algumas são extremamente graves, podendo ser fatais, com
prevalência da hipotensão e a hipertensão arterial, associada à fragilidade
hemodinâmica em que o usuário se encontra. Acrescenta-se, ao procedimento de
hemodiálise, a necessidade de uma via de acesso vascular, sendo que muitos
apresentavam cateter temporário duplo lúmen (CTDL) podendo provocar complicações,
como sangramento e infecção se for manuseado de forma incorreta [14].
No entanto, o conhecimento sobre a assistência no
tratamento hemodialítico ocorre muitas vezes por
interesse pessoal e/ou pela necessidade do próprio serviço de saúde, verificando
carência de conhecimentos técnicos e científicos para realização de um cuidado
adequado. Para tanto, é necessário que as instituições de saúde adotem medidas
para realização de treinamento em cenários de prática que demandam cuidados
intensivos aos pacientes que necessitam de intervenções rápidas e eficientes. A
aquisição desses conhecimentos muda a condição do enfermeiro da UTI,
diferenciando-o dos demais colegas [15,16].
Estudo realizado nas UTIs dos dois maiores hospitais da
rede pública de Fortaleza, CE, vislumbra-se que o conhecimento teórico e a
experiência adquirida ao longo do exercício da profissão podem assegurar altos
índices de acertos, o que confere mais segurança aos usuários dos serviços de
saúde [17]. Resultado semelhante a este foi encontrado em estudo desenvolvido
na UTI de uma instituição privada do município do Rio de Janeiro, quando
apontou que a experiência diferencia os enfermeiros quanto à sua atuação. A
experiência dos enfermeiros da UTI no contato com este tipo de clientela leva a
aquisição de conhecimentos práticos que os conduzem na resolução das situações
cotidianas relacionadas ao manejo da tecnologia de hemodiálise contínua [18].
Por meio deste estudo, foi possível verificar que o
trabalho da enfermagem na UTI é bastante complexo, pois comporta inúmeras
necessidades para o desenvolvimento do cuidado. Quanto ao tratamento hemodialítico, este por si só já denota mecanicidade.
Assim, foi possível notar que os cuidados intensivos prestados aos pacientes
críticos estão diretamente relacionados às atribuições do enfermeiro, tanto no
que diz respeito às atividades de planejamento, quanto nas decisões que
envolvem o paciente e, também, a própria equipe de Enfermagem. Espera-se que
esta pesquisa promova reflexões acerca da temática abordada e que os resultados
possibilitem o desenvolvimento de futuros estudos.