REVISÃO
Gestão do enfermeiro na
unidade de terapia intensiva: uma revisão integrativa brasileira
João Carlos Alves dos
Santos*, Renata Prado Bereta Vilela, M.Sc.**, Adília Maria Pires Sciarra,
D.Sc.***, Patrícia de Carvalho Jericó****, Pedro
Paulo de Carvalho Jericó*****, Marli de Carvalho Jericó, D.Sc.******
*Enfermeiro, Mestrando
pós-graduação em Ciências da saúde na Faculdade de Medicina de São José do Rio
Preto, São José do Rio Preto/SP, **Enfermeira, docente do curso de medicina da
FACERES, São José do Rio Preto/SP, ***Graduada em Letras, Professora Adjunta da
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio
Preto/SP, ****Médica, Residente da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre/RS, *****Graduando de Medicina, Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Curitiba/PR, ******Enfermeira, Doutora da
pós-graduação em Enfermagem na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto,
São José do Rio Preto/SP
Recebido em 18 de junho
de 2020; aceito em 11 de setembro de 2020.
Correspondência: Renata Prado Bereta Vilela, Av. Anísio Haddad, 6751, Jardim Francisco
Fernandes, 15090-305 São José do Rio Preto SP
João Carlos Alves dos
Santos: joaocarlosptc@gmail.com
Renata Prado Bereta Vilela: renata_bereta@hotmail.com
Adília Maria Pires Sciarra: adilia@famerp.br
Patrícia de Carvalho
Jericó: carvalho.patriciap@gmail.com
Pedro Paulo de Carvalho
Jericó: pedro_pp_50@hotmail.com
Marli de Carvalho
Jericó: marli@famerp.br
Resumo
Introdução: A Unidade de Terapia
Intensiva é um local de assistência à saúde complexo, que requer muitas
habilidades, conhecimentos e atitudes do enfermeiro. A gestão do cuidado é uma
das funções que o enfermeiro deve exercer, conhecer como ela acontece é
fundamental para a melhoria do cuidado e da assistência. Objetivo:
Analisar as evidências disponíveis na Literatura por meio de artigos sobre a
atuação gerencial do enfermeiro na Unidade de Terapia Intensiva. Métodos:
Revisão integrativa da literatura sobre artigos brasileiros de 2012 a 2018,
utilizando-se a estratégia de busca Participantes, Intervenção, Contexto e
Resultados e Desenho de Estudo (PICOS), realizada na base de dados no portal
eletrônico da Biblioteca Virtual em Saúde. Resultados: Foram revisados
33 estudos; 15 (88%) em revistas de Enfermagem, com qualificação B1 - 11 (33%)
artigos, todos com nível de evidência – 6. A maioria dos artigos aponta a
gerência do cuidado direto e indireto como indissociáveis totalizando 17 (51%),
seguidos de 11 (33%) do indireto e 5 (16%) direto. Conclusão: As
evidências mostraram a gerência do cuidado direto e indireto como
indissociáveis, contribuindo, assim, para a ampliação e disseminação de
conhecimentos referentes ao tema pesquisado.
Palavras-chave: organização e
administração, enfermeiras e enfermeiros, gestão em saúde, unidades de terapia
intensiva, enfermagem.
Abstract
Nurse management in the intensive care unit: a Brazilian integrative
review
Introduction: The Intensive Care Unit is a complex healthcare facility that requires
many skills, knowledge and attitudes from nurses. Care management is one of the
functions that nurses must perform, knowing how it happens is fundamental for
the improvement of care and assistance. Objective: To analyze the
available evidence in the literature through articles on performance management
of nurses in Intensive Care Unit. Methods: Integrative literature review
on Brazilian articles from 2012 to 2018, using the search strategy
Participants, Intervention, Context and Results and Study Design, conducted in
the database on the electronic portal of the Virtual Library in Health. Results:
33 studies were reviewed, 15 (88%) in Nursing journals, with qualification
B1-11 (33%) articles, all with evidence level - 6. Most articles indicate the
management of direct and indirect care as inseparable, totaling 17 (51%),
followed by 11 (33%) indirect and 5 (16%) direct. Conclusion: The
evidence showed the management of direct and indirect care as inseparable, thus
contributing to the expansion and dissemination of knowledge related to the
researched theme.
Keywords: organization and administration, nurses, health management, intensive
care unit, nursing.
Resumen
Gestión del
enfermero en la unidad de cuidados intensivos:
una revisión integrativa brasileña
Introducción: La Unidad de Cuidados Intensivos es un
local de atención médica complejo
que requiere muchas
habilidades, conocimientos y actitudes
del enfermero. La gestión de la atención
es una de las funciones que el
enfermero debe realizar,
saber cómo sucede es fundamental para mejorar la atención
y la asistencia. Objetivo:
Analizar la evidencia disponible en la literatura a través de
artículos sobre el papel directivo
del enfermero en la Unidad
de Cuidados Intensivos. Métodos: Revisión
integrativa de la literatura sobre artículos brasileños del 2012 al 2018,
utilizando la estrategia de
búsqueda Participantes, Intervención,
Contexto y Resultados y Diseño
de estudios (PICOS), realizada en
la base de datos en el portal electrónico de la Biblioteca Virtual en Salud. Resultados: Se revisaron
33 estudios; 15 (88%) en
revistas de enfermería, con
calificación B1- 11 artículos (33%), todos con nivel de evidencia
- 6. La mayoría de los
artículos señalan que la gestión de atención directa e indirecta es inseparable, totalizando 17 (51%), seguido de 11 (33%) indirectos y 5 (16%) directos. Conclusión: La evidencia mostró
que el manejo de la atención directa e indirecta es inseparable, contribuyendo así a la expansión y difusión del conocimiento
sobre el tema investigado.
Palabras-clave: organización
y administración, enfermeras
y enfermeros, gestión en salud, unidades de cuidados
intensivos, enfermería.
A Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) é um ambiente complexo com a presença de pacientes em estado
crítico. Há necessidade de investimentos em recursos físicos, humanos e
tecnologias, responsáveis pelos altos custos diretos e indiretos da
assistência. Não menos importante, é necessário o investimento em humanização
do cuidado com o paciente, com o seu familiar e a satisfação da equipe de
cuidados nas relações humanas [1].
Tecnologias em saúde
não remetem apenas funções dos equipamentos; compreende saberes constituídos
tanto para a geração quanto à utilização de produtos; podem também organizar as
relações humanas, nas quais são prestados os cuidados e a atenção à saúde.
Podem ser classificadas em tecnologias dura, leve-dura
e leve [2].
Em UTI, o enfermeiro
gestor desempenha a função de direção e chefia dos setores de Enfermagem na
organização das atividades, planejamento, coordenação, liderança e supervisão,
entre outras. Este enfermeiro deve aliar a utilização de ferramentas gerenciais
como previsão e provisão, controle de materiais e equipamentos para atender às
necessidades do cliente [3].
Uma importante
ferramenta para o planejamento assistencial do paciente crítico é a
Sistematização da Assistência em Enfermagem (SAE), uma tecnologia leve-dura. Deve ser realizada de modo deliberado e
sistemático pelo enfermeiro em UTI. O cuidar caracteriza-se pela observação, o
levantamento de dados para diagnóstico, o planejamento, a implementação e a
avaliação do cuidado prestado aos pacientes. O cuidado direto na UTI deve ser
mediante o uso do processo de Enfermagem e de protocolos clínicos que pertence
a SAE [4].
O termo gerência do
cuidado de Enfermagem é a articulação entre as esferas administrativas e
assistenciais. São planejadas pelo enfermeiro visando as práticas do cuidado
por meio do cuidado direto e indireto como indissociáveis pelas características
do ambiente, equipe profissional e a gravidade dos pacientes. Muitas vezes são
consideradas como atividades dicotômicas, cuja finalidade é atender às
necessidades do cliente em todos os aspectos [5].
Por sua vez, pela
constante atualização do conhecimento é necessário fazer revisões sistemáticas
para mensurar a sua inserção na prática da Enfermagem brasileira. Há
necessidade de sumarizar os conhecimentos que podem contribuir não apenas para
os gestores de Enfermagem na UTI, como também, educadores e pesquisadores com
interesse na área.
Desta forma, o objetivo
deste estudo foi analisar as evidências disponíveis na literatura por meio de
levantamento de artigos relacionados à atuação gerencial do enfermeiro na
Unidade de Terapia Intensiva.
Trata-se de uma
pesquisa de revisão integrativa, a qual determina se o conhecimento a gestão do
enfermeiro em UTI é válido para ser transferido para a prática seguindo padrões
de rigor metodológico [6]. Para tanto, foram seguidas as etapas: identificação
da questão da pesquisa, busca na literatura, categorização e avaliação dos
estudos, interpretação dos resultados e síntese do conhecimento [7]. Dentre as
etapas, para delinear as duas primeiras, quanto à validade, aplicabilidade e
relevância clínica, utilizou-se a estratégia avançada fundamentada na prática
baseada em evidência, a partir da pesquisa nas bases de dados eletrônicos da
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) [8]. A seguir, elaborou-se a questão da
pesquisa: “Como tem sido tratada a atuação gerencial do enfermeiro em UTI na
literatura brasileira? Qual o nível de evidências e as métricas de qualidade
dos periódicos e autores dos estudos?”.
A busca foi realizada
no mês de janeiro de 2019 por dois pesquisadores de forma independente (índice
de concordância: 100%). Utilizaram-se os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), seguidos da estratégia de formulação de pergunta e
busca denominada PICOS: [P: (participante ou condição estudada); I:
(intervenção ou exposição dos sujeitos); C: (grupo controle/comparação ou
nenhum); O: (desfecho ou resultado); S: desenho do estudo), neste estudo O: foi
a pergunta norteadora]. Mediante a combinação dos termos: para a busca avançada
dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS) em
português e combinação dos descritores: (Enfermeiro OR Enfermeiros) and (Administração OR Gerência) and
(“Unidade de Terapia Intensiva”) AND (pergunta norteadora?) AND NOT (revisão).
Como todos os termos são descritores em saúde, não foi necessário colocá-los em
inglês e espanhol, diferentemente, se fossem usadas palavras-chave. O corte
temporal das publicações foi de 2012 a 2018, sendo os resumos lidos no idioma
português, inglês e espanhol, com texto completo abordando a atuação gerencial
do enfermeiro na UTI brasileira.
Sobre os instrumentos
utilizados, primeiramente, foi a coleta de dados das características dos
periódicos [6]. No segundo momento, com o instrumento avaliou-se o nível de
evidência do método de pesquisa, por meio do sistema hierárquico científico
[9]. Este sistema é composto por sete níveis: nível 1 (revisões sistemáticas
com ou sem metanálise de ensaios clínicos randomizados
e guidelines baseados em revisão sistemática de
ensaios clínicos randomizados); nível 2 (pelo menos um ensaio clínico
randomizado); nível 3 (ensaios clínicos sem randomização); nível 4 (estudos com
caso controle e de coorte); nível 5 (revisões sistemáticas de estudos
descritivos ou qualitativos); nível 6 (um único estudo quantitativo ou
qualitativo) e nível 7 (opinião de autoridade ou comitê de especialistas). O
terceiro instrumento foi aplicado para interpretar o conteúdo dos artigos
selecionados [6].
A qualidade do
periódico é avaliada por método qualitativo indireto, no qual especialistas
avaliam os programas de pós-graduações pela produção de publicações de ambos os
professores e pós-graduandos. Para tanto, acessou-se a plataforma Sucupira on line para análise, na qual o Qualis afere a qualidade dos veículos de divulgação, ou
seja, periódicos científicos, classificados em A1 (peso 100); A2 (80); B1 (60);
B2 (40); B3 (10); B4 (5); B5 (2) e o C - com peso zero [10].
A busca do Fator de
Impacto (FI) que mede quantas vezes um artigo foi citado em relação ao
total de artigos publicados em um periódico em dois anos, foi realizada a
partir do título do periódico na plataforma Journal
Citation Reports (JCR)
parte do portal da Web of Science [11].
Já o Índice H
(h-index) indica um equilíbrio entre a produtividade (produção científica)
e impacto de citação (contagem de citações) de publicações do pesquisador. O
i10 é referente à quantidade de publicações que o autor possui com menos de 10
citações em seu perfil no Google Scholar ou Acadêmico. Os pesquisadores podem
ser avaliados de acordo com esses indicadores, a visibilidade de seus artigos e
produtividade por métricas complementares. Foi pesquisado no Google Acadêmico,
o perfil do primeiro autor do artigo, por ser o principal autor [11]. Também,
verificou-se o indicador de citação dos artigos na plataforma do Google
Acadêmico disponível online ao inserir o título do artigo completo no buscador
[11]. Em relação às tecnologias foi utilizada a classificação de Merhy, (1997) composta por Dura (estrutura organizacional,
normas institucionais, equipamentos e materiais e informatização, e outras), Leve-Dura:
que são saberes bem estruturados (Procedimento
Operacional Padrão [POP], SAE, protocolos clínicos,
clínica médica, e outros) e
Leve: relação interpessoal (liderança,
comunicação, humanização, vínculo,
autonomia) [2]. A classificação das tecnologias foi
realizada a partir da
análise dos objetivos dos artigos por representar a
intervenção ou proposta
pretendida pelo autor.
Para avaliar o conteúdo
dos artigos, utilizou-se a análise de conteúdo, a partir de um conjunto de
técnicas por categorias e subcategorias [12]. Estatística descritiva foi usada
para avaliar indicadores dos autores, periódicos e o rigor metodológico.
Ao realizar o
cruzamento dos descritores, inicialmente, foram encontradas 976 referências e
excluídos os estudos que não preencheram os critérios de inclusão, permanecendo
53 artigos. Destes, seis não faziam parte do objeto do estudo e 14 artigos
estavam duplicados. Portanto, restaram 33 artigos elegíveis (Quadro 1).
Quadro 1 - Figura de
identificação, seleção e exclusão dos artigos.
Características do
nível de evidência dos artigos e métricas do autor e periódico
De acordo com o nível
de evidência, todos os artigos foram classificados no nível 6 (um único estudo
quantitativo ou qualitativo) pelo sistema de hierarquia científico (Quadros 2,
3, 4).
Em relação a periódicos
e artigos revisados encontrou-se na estratificação Qualis
- A2: (2 e 9); B1: (6 e 13); B2: (5 e 9); B3: (1 e 1) e B4: (3 e 3),
respectivamente. Para avaliar o periódico por método quantitativo indireto,
utilizou-se o Fator Impacto (FI) pela plataforma JCR. Nela foi inserido o nome
do periódico, identificando-se dois (12%) periódicos - Acta Paulista de
Enfermagem (FI:0.628) e Ciências e Saúde Coletiva (FI:1,008). A distribuição
anual das publicações foi: 10 (2012), 5 (2013), 3 (2014), 0 (2015), 2(2016),
7(2017) e 6 (2018); totalizando 17 periódicos, destes 15 (91%) de Enfermagem.
Por sua vez, a
produtividade, expertise e citação do primeiro autor apresentadas pelo índice H
e i10 e citações no Google Acadêmico. Sobre o índice H e o i10, somente quatro
(12%) dos autores, o perfil no Google Acadêmico foi acessado. Sobre citação dos
autores dos artigos, quatro (12%) foram zero citação; 13 autores de 1-5 (39%)
citações, três autores de 6-10 (10%), 11 autores de 11-20 (33%) e dois autores
de 21-30 (6%).
Características do
método dos artigos
O tipo de estudo
encontrado nos artigos foi: exploratório-descritivo – nove (27%); seguido de
transversal – cinco (15%) e quatro (12%) somente descritivo. O ambiente de
estudo em somente uma UTI - 18 (55%) e 15 (45%) multicêntricos, 10 (30%) não
relataram a população atendida por faixa etária ou especialidade. A população
ou objeto do estudo foi composto por: enfermeiro 15 (45%), seguido por objetos
- 11 (33%) e equipe de Enfermagem sete (22%). Os instrumentos e procedimentos
de coleta de dados utilizados foram entrevista ou
questionário associados a um ou mais instrumentos específicos validados
nacional e/ou internacionalmente foram 13 (40%), seguidos da técnica de
entrevista oito (24%). Para tratamento de dados, predominou a abordagem quantitativa
19 (58%), destes 11 (58%) aplicaram a estatística descritiva e oito (42%)
inferencial, seguidos de 10 (30%) qualitativa e quatro (12%) quali-quantitativo. Por fim, todos consideraram a aprovação
em Ética em Pesquisa.
Caracterização do
conteúdo extraído
Sobre a atuação do
enfermeiro na gerência do cuidado direto (assistência) cinco (16%); cuidado
indireto (administrativo) 11 (33%); e gerência do cuidado direta e
indiretamente como indissociáveis 17 (51%). A seguir, emergiram os recursos
gerenciais diretos da assistência complexa e planejada (A1, A2, A3, A4, A5)
[13-17]; e do recurso indireto relacionado à previsão e provisão
materiais/equipamentos, humanos, físico, custos/financeiro e informação / conhecimento
(A6, A7; A8, A9, A10, A11, A12, A13, A14, A15, A16), respectivamente [18-28].
Por último, o gerenciamento simultâneo de ambos os cuidados direto e indireto
(A17, A18, A19, A20, A21, A22, A23, A24, A25, A26, A27, A28, A29, A30, A31, A32
e A33), respectivamente [29-46]. Como pode ser observado nos Quadros 2,3 e 4.
Quanto ao gerenciamento
do cuidado direto dos cinco artigos sobre a SAE, especialmente, o Processo de
Enfermagem foram abordados, em 40% deles, dois (A1; A3) [16,18] artigos
avaliaram parcialmente (histórico e exame físico) e em outro o uso de
aplicativo (diagnóstico e intervenção). Também, em 40% - dois (A2; A5) [17,20]
artigos focaram no cuidado sistematizado sobre a dor e o outro sobre erro na
administração do medicamento.
Em relação às
tecnologias abordadas nos artigos selecionados, foram classificadas em: quatro-
leve; 21 - leve-dura; duas- dura; uma - leve e leve-dura e cinco- leve-dura e
dura.
Especificamente, em
relação ao gerenciamento do cuidado direto, a classificação das tecnologias
foram três - leve-dura e duas leve-dura
e dura (Quadro 2).
Quadro 2 - Distribuição da
análise dos estudos sobre o gerenciamento do cuidado direto.
E = evidência; S =
sujeito ou amostra ou objeto; I = instrumento de coleta de dados; Tratamento; A
= pacientes assistidos; NI = não identificado; FI = fator de impacto; Tec = tecnologias.
Sobre a gestão de
recursos humanos, físicos, custos, informações, tecnologias, materiais e
equipamentos, destacam-se pesquisas sobre a carga de trabalho e dimensionamento
de pessoal correlacionando com a resolução do Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN). Portanto, percebe-se além das orientações nacionais também foi usado
neste local, parâmetro para avaliar a carga de trabalho da Enfermagem de dados
internacionais para quantificar e qualificar a assistência de Enfermagem 5(45%)
(A6, A7, A9, A10, A11) [18-19,21-23].
Por outro lado, quatro
(36%) (A12, A13, A14 E A15) [24-27] identificaram e analisaram fatores
estressores ou dificultadores para a gestão do enfermeiro de recursos indiretos
como liderar e coordenar a equipe e a unidade da UTI.
Quanto à classificação
das tecnologias em saúde utilizadas para o gerenciamento do cuidado indireto
houve: 8- leve-dura, 1- leve, 1- leve e leve-dura e 1 leve-dura (Quadro
3).
Quadro 3 - Distribuição da
análise dos estudos sobre o gerenciamento do cuidado indireto. (ver anexo em
PDF).
Sobre a gestão direta e
indireta do enfermeiro como indissociável na UTI, emergiram categorias
relevantes. Primeiramente 10 (59%) (A18, A20, A21, A22, A23, A24, A25, A27,
A30, A32) [30,32-37,39,42,44] estudos relacionaram gestão de pessoas com
aspectos individuais, sociais, comportamentais, saúde e institucionais e a sua
influência sobre a assistência relativas à habilidade e atitude do enfermeiro,
diante do ambiente, colegas, pacientes e gestores.
Também, o gerenciamento
de recursos materiais e medicamentos para viabilizar a assistência ao paciente
três (17%) (A17, A29, A33) [29,41,45] compreendem a maior parte das ações da
equipe de Enfermagem no processo de trabalho, exigindo do enfermeiro, o
desenvolvimento contínuo da gestão indissociável do cuidar e de gerenciar
recursos.
Ainda, os autores
abordaram em quatro (24%) (A19, A26, A28, A31) [31,38,40,43] dos trabalhos
sobre gestão direta e indireta, de modo a identificar e compreender como o
enfermeiro desenvolve e desempenha essas habilidades no seu cotidiano ou por
meio de observação e autorreflexão ou, também, a forma que a equipe de
Enfermagem enxerga essa ação como indissociável ou separável.
Quanto à classificação
das tecnologias em saúde utilizadas para o gerenciamento do cuidado direto e
indireto houve: 11- leve-dura, uma- leve, uma- leve e
leve-dura, duas leve-dura e
dura e duas- dura (Quadro 4).
Quadro 4 - Distribuição da
análise dos estudos sobre o gerenciamento do cuidado direto e indireto. (ver
anexo em PDF).
Quanto à classificação
das tecnologias em saúde, houve predomínio da leve-dura
– 22(66%) nos artigos. Chama atenção a tecnologia leve somente em dois (6%)
artigos, que mostram a UTI não como um local onde a tecnologia dura predomina
isoladamente. Estudo que abordou as questões de tecnologia e humanização em UTI
aponta que a tecnologia interfere na humanização da assistência de Enfermagem,
tanto nas funções assistenciais e gerenciais do enfermeiro.
Observa-se no cotidiano
de terapia intensiva um glamour em relação à diversidade tecnológica
utilizada pela Enfermagem no cuidado ao paciente crítico, talvez pelo avanço
tecnológico em várias áreas do conhecimento ultimamente. Também, indícios de
que a definição de tecnologia tem sido utilizada de forma equivocada e simplista
pelos profissionais da saúde, reduzindo a mesma em máquinas, equipamentos e
materiais (dura). Contudo, a presente pesquisa apontou como predominante, neste
ambiente, a tecnologia leve-dura, auxiliando no
desempenho da função da gestão do enfermeiro e favorecendo a sua produtividade,
eficiência e segurança do paciente por meio de instrumentos objetivos. Por
outro lado, não priorizou as tecnologias leves que fundamentam a humanização,
baseada na comunicação, de caráter relacional e no acolhimento estabelecendo o
vínculo no cuidado.
Quanto ao nível de
evidência dos artigos, entre os 33 artigos revisados, foi possível identificar
que todos eles estão no nível de evidência 6, constituindo na melhor evidência
disponível, fundamentada no conhecimento nas ciências sociais e do
comportamento humano.
O Qualis
Capes foi encontrado em todos os periódicos, nove (27%) artigos em revista A,
enquanto a maioria deles 22(66%) concentrava-se em B1 e B2, indicando o
fortalecimento da pesquisa nacional a partir da indexação em alguma base de
dados. Ainda, dentre todos os (17) periódicos analisados, somente dois (11,8%)
estavam indexados na plataforma internacional da WoS
no JCR com FI - Acta Paulista de Enfermagem (FI:0.628) e Ciências e Saúde
Coletiva (FI:1,008), sendo utilizadas pelo pesquisador para avaliar o periódico
de maior visibilidade, tanto como preferência para publicações, como para fonte
de referencial que alicerce os artigos. Por outro lado, estes achados reiteram
desafios a serem superados para o avanço internacional das pesquisas nacionais.
Um dificultador para os periódicos da área da Enfermagem é o ponto de corte de
acordo com os padrões internacionais do FI na WoS/JCR,
pois somente três periódicos nacionais foram indexados [47].
Em relação às métricas
do autor houve baixo índice H e o i10 com somente 15% dos primeiros autores seu
perfil no Google Acadêmico, que refletem a expertise deles na ciência, no
assunto investigado e aproxima o pesquisador iniciante aos expoentes de seu
interesse.
Estudo de série
histórica com as bases WoS (JCR), Scimago
(Scopus), Google Acadêmico dentre outros indicadores bibliométricos que entre
essas bases foram discordantes entre si, destaca que entre esses indicadores, o
índice H é o mais equilibrado. Sobretudo, o Índice H do Google Acadêmico, o
qual coleta seus dados em todas as bases, representa o resultado mais
harmonioso e ponderado. Nesta lógica, entende-se que esta base, por contemplar
todos os periódicos disponíveis nas outras bases citadas acima e em outras, as
suas citações teriam que ser mais consideradas na avaliação e classificação dos
periódicos e, consequentemente, os seus autores [46].
É nítida, a utilização
de e-mails pessoais como contato dos autores nas publicações revisadas; uma vez
que somente os autores com e-mail institucional ficam visíveis o índice H e i10
para o público. A exigência de e-mail institucional não é exclusiva do Google
Acadêmico, outras plataformas também como WoS,
Scopus, Researchgate, academia.edu e outros. Seria
fragilidade nos critérios para publicação por parte dos periódicos como
ferramenta de divulgação de pesquisa? Para tanto, sugere-se a adoção de
uniformização de critérios entre os órgãos estruturais que promovem o
compartilhamento de pesquisas em meios digitais.
Vale lembrar que
normalmente os primeiros autores dos artigos são pós-graduandos de programas
Stricto Sensu, ou seja, pesquisadores iniciantes e que muitas vezes não contam
com e-mail institucional, constituindo-se em barreira para visibilidade, reconhecimento,
prestígio e colaboração profissional deste pesquisador com seus pares. Dessa
forma, para minimizar esse descompasso, recomenda-se acesso ao e-mail
institucional durante o vínculo dos pós-graduandos com as instituições de
ensino. Assim, questiona-se se há desconhecimento por parte dos autores ou das
pós-graduações sobre a importância em disponibilizarem o e-mail institucional.
A maioria dos artigos
foi publicada há mais de cinco anos e, ainda, os perfis dos autores não estão
visíveis para os leitores conhecerem e acessarem os seus artigos, pois cada vez
mais os órgãos educacionais exigem publicações em periódicos com alta pontuação
Qualis e com maior FI.
Sobre a citação,
observou-se variação de 0 a 30 citações; 71% dos artigos foram citados até 20
vezes. Provavelmente, se o perfil no Google Acadêmico tivesse visibilidade esse
score de citação estaria aumentado.
Sobre o desenho do
estudo, a maioria descreveu como exploratório ou descritivo, ou ambos (27%).
Somente dois explicativos, na etapa seguinte sobre a descrição do recorte
temporal do estudo transversal e longitudinal prospectivo ou retrospectivo.
Ainda nesse item, sete [18,20,22,23,35,39] artigos foram caracterizados como
prospectivos ou retrospectivos, todavia não obedeciam ao rigor atribuído como
estudos bem delineados. Autores atribuíram serem retrospectivos porque
coletaram os dados em anos anteriores ao momento da pesquisa e de dados de
prontuários ou registros. Por outro lado, autores atribuíram serem retrospectivos
porque coletaram os dados em prontuários ou registros a partir do período
vigente. Os estudos longitudinais retrospectivos ou prospectivos possuíam
delineamento bem rígido que não foram contemplados nos métodos dos artigos
revisados. No entanto, todos se encaixaram em estudos transversais que possuíam
os dados determinados em prontuários ou registros ou banco de dados ou
caracterizar uma população ou objeto. Destacam-se que 17(52%) não apontaram
nenhum recorte, constituindo-se em uma lacuna importante estes dois itens, pois
direcionam o leitor a compreender melhor o delineamento e a evidência da
pesquisa. Dessa forma, chama a atenção que em dois (6%) artigos, os termos
relacionados ao recorte dos artigos foram tratados como complementares ou
sequenciais no método e na verdade são opostos entre si. Ou seja, ambos possuem
o marco do conhecimento do pesquisador em relação à sua população e como
proceder para extrair os dados.
É relevante que os
pesquisadores, revisores e editores dos periódicos observem para um maior rigor
quanto aos conceitos e nas informações insuficientes no delineamento de
pesquisa; com o risco de demonstrar pouca preocupação com esta etapa do
trabalho científico, podendo comprometer para uma interpretação equivocada da
prática baseada em evidência.
Chama a atenção que 30%
dos artigos não caracterizam a UTI, quanto à população atendida por faixa
etária ou especialidade e casuística 22(66%), comprometendo as etapas do
trabalho científico, clareza na contextualização do cenário de pesquisa e
comparabilidade entre estudos.
No procedimento de
coleta de dados, houve aplicação de instrumentos específicos validados nacional
e/ou internacionalmente em 40% dos artigos, revelando a utilização de
conhecimentos estruturados, busca de eficiência na prática de pesquisa e
preparo do pesquisador.
O tratamento de dados
em artigos com abordagem quantitativa, 19 (58%), destes 11(58%) aplicaram a
estatística descritiva e oito (42%) inferencial. A abordagem qualitativa em
10(30%) dos artigos, com maioria de análise de conteúdo [12]. Destaca-se que a
maioria cinco (62,5%) dos estudos utilizaram o tratamento estatístico
inferencial somente nos últimos dois anos de investigação (2017 e 2018),
representando um avanço na acurácia dos dados.
Gerenciamento do
cuidado direto
Houve 16% dos artigos
relacionados ao gerenciamento do cuidado direto (SAE e protocolo clínico),
destes quatro (80%) sobre a SAE, nos quais prevaleceram pesquisas com
instrumentos isolados e fragmentados para direcionar a clínica do enfermeiro.
Vale lembrar, que o objetivo da SAE é justamente uma abordagem integral,
completa e contínua da assistência. A atuação do enfermeiro no cuidado direto
exige competências clínicas que incluem detecção, documentação da resposta às
alterações nas condições do paciente para garantia de cuidados seguros. Cabe a
ele realizar atividades complexas e assistência sistematizada [48], há uma
lacuna de pesquisas que contemplem todas as cinco etapas da SAE como nela
idealizadas; bem como, sobre o principal ator social - o paciente, se está
sendo beneficiado no atendimento às suas necessidades humanas básicas.
Gerenciamento do
cuidado indireto
Dentre todos os
artigos, 36% estavam relacionados ao gerenciamento do cuidado indireto, isto é,
direcionado à gestão de pessoas (dimensionamento de pessoal e competências),
gestão de recursos (materiais, financeiros e equipamentos). Especificamente, a
gestão de pessoas na perspectiva do dimensionamento inadequado dos
trabalhadores e seu reflexo negativo na qualidade da assistência [47]. Por
outro lado, também avaliaram as competências na visão técnica relacionada ao
conhecimento e habilidade, deixando as atitudes e valores em segundo momento
como objeto de estudo. Atualmente, essa habilidade é imprescindível aos
profissionais, mediante o arsenal tecnológico inseparável no ambiente de
terapia intensiva. Por sua vez, o enfoque nas atitudes é identificado em alguns
artigos relacionados a fatores desgastantes e de conflitos na equipe.
Corroborando esses achados, estudo recente aponta que enfermeiros gestores
utilizam critérios de seleção de técnicos de Enfermagem valorizando o
conhecimento e habilidade técnica em detrimento de componentes atitudinais
[48].
Gerenciamento do
cuidado direto e indireto
Um total de 51% dos
artigos abordou a função do enfermeiro no cuidado direto e indireto associando
duas vertentes, tais como: assistência e gestão de pessoas; cuidado e gerência
e assistência e gestão de recursos. Dessa forma, o enfermeiro pode estar
envolvido na assistência e na gerência dos serviços de saúde, que demanda e
integra as competências clínicas e gerenciais [49]. Assim, questiona-se como os
órgãos formadores estão reproduzindo essa prática.
Em relação à gestão de
pessoas sob a visão quanto aos aspectos psicológicos, mentais e emocionais,
estudo evidenciou que local de trabalho favorável da UTI propicia menores
níveis de esgotamento mental neste ambiente, assim como o enfermeiro
melhora o cuidado direto ao paciente e a gestão da equipe [50].
A Enfermagem na UTI
trabalha em um ambiente altamente estressante, devido ao cuidado centrado e
integral ao paciente crítico e as altas tecnologias dos equipamentos que
demandam várias competências clínicas e intelectuais para seu manejo. Por outro
lado, também o conhecimento técnico da profissão e a capacidade de negociação
por parte do enfermeiro para com os gestores é uma competência atual, ou seja,
demostrar, por exemplo, que o adequado dimensionamento melhora a satisfação da
equipe, a saúde mental, otimiza a gestão do estresse ocupacional e favorece a
gestão do cuidado direto ao paciente [51].
Esse
estudo demonstra
através da análise dos artigos em relação
ao nível de evidência, qualificação
dos periódicos, métricas qualitativa e quantitativa
indiretas sobre a
visibilidade do periódico e expertise e produtividade do autor,
identificando
até que ponto os resultados impactam, relevância e solidez
para a prática
clínica e gerencial em UTI. Ainda, na análise detalhada
do método dos artigos
aprimorando da construção de cada um deles, além
de classificar as tecnologias
utilizadas propiciando ao leitor reflexão crítica da
pesquisa.
Dentre as limitações do
estudo estão os artigos brasileiros publicados em periódicos não indexados pela
BVS; também o perfil dos autores no Google Acadêmico nem sempre disponível,
pois é necessário um e-mail institucional para que o torne público. Assim,
sugere-se a realização de amostras ampliadas nas futuras investigações no banco
de dados Pubmed.
A revisão integrativa
revelou que os artigos possuem evidência metodológica de nível 6, a maioria de
seus primeiros autores não possuíam o perfil disponível para avaliar o índice H
e i10. Todos os periódicos possuíam a avaliação qualitativa (Qualis Capes) e quantitativa (FI WoS
pelo JCR), somente em dois (11,8%). Por conseguinte, essa análise crítica
destaca para o leitor a importância de se conhecer os indicadores e índices de
qualidade diretos e indiretos. Em adição, as métricas quantitativas ou
qualitativas que possam auxiliar para compreensão e melhor proveito na leitura
do artigo para tomada de decisão.
Dos 33 artigos revisados,
a maioria 51% abordava o gerenciamento do cuidado direto e indireto como
indissociáveis. O tipo de tecnologia mais utilizada foi a leve-dura,
servindo para alicerçar a prática baseada em evidência sobre a atuação
gerencial do enfermeiro em UTI.