ARTIGO ORIGINAL

Indicador de qualidade em hospital de ensino: características do cancelamento de cirurgias eletivas

 

Jaqueline Lopes Gouveia*, Marli de Carvalho Jericó, D.Sc.**, Priscila Buck de Oliveira Ruiz***, Paula Buck de Oliveira Ruiz****, Renata Prado Bereta Vilela, M.Sc.*****, Dalva Maria da Silveira Roland, D.Sc.******, Ângela Silveira Gagliardo Calil, M.Sc.*******

 

*Enfermeira, especialização em Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Central de Materiais e Esterilização pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Enfermeira clínica do Centro Cirúrgico do Hospital de Base de São José do Rio Preto, **Enfermeira, Professora do curso de graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, ***Enfermeira, Mestranda do Curso de pós graduação Stricto Sensu, pela Faculdade de Medicina de José do Rio Preto/SP, Enfermeira coordenadora do bloco operatório do Hospital de Base de São José do Rio Preto, ****Enfermeira, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Gerenciamento em Enfermagem, USP/SPS, *****Enfermeira, Docente do curso de medicina do FACERES, São José do Rio Preto/SP  ******Enfermeira, Doutora pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, FAMERP, Professora do curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP, *******Enfermeira, Mestre pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP, Professora do curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP

 

Recebido em 22 de junho de 2020; aceito em 20 de agosto de 2020.

Correspondência: Jaqueline Lopes Gouveia, Rua República do Líbano, 3000, apto 32, bloco 10 Tarraf II, 15092-440 São José do Rio Preto SP

 

Jaqueline Lopes Gouveia: jaquelinelgouveia@hotmail.com

Marli de Carvalho Jericó: marlicj2010@gmail.com

Priscila Buck de Oliveira Ruiz: pbuck@bol.com.br

Paula Buck de Oliveira Ruiz: paulabuckruiz@usp.br

Renata Prado Bereta Vilela: renata_bereta@hotmail.com

Dalva Maria da Silveira Roland: dalva@famerp.br

Ângela Silveira Gagliardo Calil: angela@famerp.br

 

Resumo

Introdução: O ato cirúrgico é um procedimento relevante para a recuperação e manutenção da saúde, uma vez que, após tal acontecimento, é esperado que o cliente evolua com uma melhor qualidade de vida. Objetivo: Investigar a taxa, causas e especialidades responsáveis pelos cancelamentos cirúrgicos. Métodos: Estudo quantitativo, retrospectivo de janeiro a dezembro de 2016, realizado em hospital de ensino. Foi adotada a fórmula proposta pelo Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH). Resultados: O indicador de qualidade variou de 5,9% a 11,5%. As principais causas de cancelamentos relacionados à instituição foram divididas entre o Sistema Único de Saúde (SUS) que apresentou a falta de tempo hábil (38,7%) e a troca pela equipe entre pacientes devido à gravidade (16,1%) e o Sistema de Saúde Suplementar (SSS), com a não autorização pela operadora de saúde (55,1%). Em relação aos motivos dos pacientes encontrou-se no SSS e SUS a falta de internação (SUS - 26,4% e SSS - 29,3%) e falta de condições clínicas do paciente (SUS - 25% e SSS - 18,4%). Em relação a especialidade médica, 83,3% não foi identificada, seguida da equipe da ortopedia com 4,1%. Conclusão: O indicador de cancelamento cirúrgico mostrou-se elevado nesse período do estudo, quando comparado a CQH, e a especialidade foi ortopedia.

Palavras-chave: centro cirúrgico, suspensão de tratamento, enfermagem de centro cirúrgico.

 

Abstract

Quality indicator in a teaching hospital: characteristics of elective surgery cancellation

Introduction: It is essential to measure surgical cancellation for health services, as it influences the client's health and the operational unit. Objective: To investigate taxa, motives and specialties involved in surgical cancellations. Methods: A quantitative, retrospective study from January to December 2016, carried out at a teaching hospital. It was adopted the formula proposed by the Commitment to Hospital Quality (CQH). Results: The quality indicator ranged from 5.9% to 11.5%. The main reasons for cancellation related to institutions were lack of time (38.7%) and priority for critically ill patients (16.1%) for users of the Unified Health System (UHS), and for beneficiaries of the Supplementary Health System (SHS) - unauthorized agreement (55.1%). The reasons for patients in the SHS and UHS were lack of hospitalization (UHS – 26.4% and SHS - 29.3%) and poor patient's clinical condition (UHS - 25% and SHS - 18.4%). Conclusion: The surgical cancellation indicator was elevated in this study period, when compared to the CQH, and the main specialty was orthopedics.

Keywords: surgicenters, withholding treatment, operating room nursing.

 

Resumen

Indicador de calidad en un hospital universitario: características de la cancelación de cirugía electiva

Introducción: Es esencial medir la cancelación quirúrgica de los servicios de salud, ya que influye en la salud del cliente y en la dinámica de la unidad. Objetivo: Investigar la tasa, los motivos y las especialidades responsables de las cancelaciones quirúrgicas. Métodos: Estudio cuantitativo retrospectivo de enero a diciembre de 2016, realizado en un hospital docente. Los datos fueron puestos a disposición por el quirófano y para el cálculo del indicador, se adoptó la fórmula propuesta por el Compromiso con la Calidad Hospitalaria (CQH). Los resultados se analizaron cuantitativamente, utilizando estadísticas descriptivas básicas. Resultados: El indicador de calidad osciló entre 5.9% y 11.5%. Las principales razones de las cancelaciones relacionadas con la institución fueron: para los usuarios del Sistema Único de Salud (SUS), la falta de tiempo (38,7%) y prioridad para los pacientes críticos (16,1%) y los beneficiarios del Sistema de Salud Complementario (SSC) - acuerdo no autorizado (55,1%). En cuanto a las razones de los pacientes, se encontró en el SSC y el SUS la falta de hospitalización (SUS - 26,4% y SSC - 29,3%) y de condiciones clínicas del paciente. Conclusión: El indicador de cancelación quirúrgica fue alto en este período del estudio, cuando comparado con la (CQH), y la especialidad fue la ortopedia.

Palabras-clave: centro quirúrgico, privación del tratamiento, enfermería de quirófano.

 

Introdução

 

O ato cirúrgico é um procedimento importante para a recuperação e manutenção da saúde de um indivíduo, uma vez que, após tal acontecimento, é esperado que o cliente evolua com uma melhor qualidade de vida [1]. As cirurgias podem ser de caráter diagnóstico, eletivas, emergências e de urgências, além disso, o centro cirúrgico é um ambiente que requer profissionais capacitados devido à elevada tecnologia utilizada e à variabilidade da dinâmica de trabalho [2].

A dinâmica de trabalho em uma unidade cirúrgica deve ocorrer de forma equilibrada entre todos os membros da equipe, os quais devem ser profissionais capacitados, proporcionando um melhor enfrentamento e bem-estar da própria equipe e paciente [3].

O fato de o paciente se submeter a qualquer procedimento cirúrgico, é exigido de toda a equipe um planejamento eficaz para o atendimento, sendo assim, normalmente, é esperado de todo enfermeiro, alta performance na qualidade assistencial e utilização de recursos (humanos, materiais e equipamentos) [4,5].

Para atender a necessidade de mensuração da qualidade no serviço, um dos instrumentos frequentemente utilizados para essa avaliação tem sido os indicadores, que são medidas ou mensurações que ajudam a entender o tamanho, valor ou representatividade de uma variável. O monitoramento de determinados processos por meio de indicadores é uma ferramenta importante de gestão, podendo corrigir problemas e redirecionar decisões gerenciais [6].

Um dos indicadores utilizados no bloco cirúrgico com função em medir tanto a qualidade quanto a produtividade é o cancelamento cirúrgico. Este indicador é relevante para o gerenciamento dos serviços de saúde, uma vez que influencia diretamente no cliente e na dinâmica da unidade [7]. Sendo assim, este é definido a partir do cálculo em que número de cirurgias suspensas é dividido pelo número total de cirurgias agendadas em um determinado período na instituição e multiplicado por 100 [6].

      As causas do cancelamento cirúrgico, nacionalmente, são relatadas pelos autores por causas relacionadas à estrutura hospitalar (falta de equipe anestésica) [8] e ao paciente (falta de pontualidade, ausência de preparo pré-operatório, instabilidade hemodinâmica, absenteísmo e outros) [1,9]. Internacionalmente, essa temática também tem sido motivo de preocupação, como mostra estudo australiano que relacionou os cancelamentos ao paciente (absenteísmo), instalações (falta de equipamento), recursos humanos (anestesista, cirurgiões) e outras razões não documentadas [4].

As consequências do cancelamento envolvem mudanças no cotidiano do cliente e familiares, pois, a partir do momento que são informados a respeito do procedimento, eles são obrigados a replanejarem suas rotinas. Além deste fato, reflete na atividade laboral dos mesmos, pois estarão, em muitos casos, incapacitados de voltarem às suas atividades produtivas [9]. Ainda, a carga emocional do cliente se mantém elevada, caracterizada por alguns comportamentos como: a ansiedade, medo e insegurança [10].

Institucionalmente, implica em vários processos, mas diretamente no planejamento e organização do procedimento, despendendo tempo, recursos materiais e humanos que geram prejuízos [10] e a não inclusão de outro cliente na programação cirúrgica acentua os gastos ao serviço [11]. Portanto, há um comprometimento de toda a agenda cirúrgica, ocasionando uma sequência de atrasos, os quais contribuem para aumentar o tempo de permanência, risco de infecção, desnutrição e custo [12].

Estudos abordando a problemática sobre cancelamento cirúrgico apontaram taxas como 6,79% [13], 27,4 [10], 30,6 [1] e 44,2% [14]. Tal situação é considerada uma ocorrência importante, este fato contribui para o planejamento da unidade, direcionando estratégias capazes de reduzirem custos, além de diminuírem as consequências não favoráveis, causadas aos clientes e seus familiares como, por exemplo, atraso no tratamento de câncer, atraso para retirada de um cateter calcificado, entre outros motivos que justificam a importância na realização do estudo atual [1,10,14-16]. Neste contexto, para reduzir a taxa de cancelamento cirúrgico nas organizações de saúde, os gestores estão realizando diversas intervenções, como a busca ativa, confirmação telefônica prévia do paciente no mapa cirúrgico e consulta pré-anestésica [10,17].

Dessa forma, o indicador de cancelamento cirúrgico é adotado nos hospitais como um indicador de qualidade e produtividade do serviço prestado, na busca de proporcionar a melhor assistência e segurança ao cliente. Diante de tal abordagem, pretende-se com este estudo responder a seguinte questão de pesquisa: “Qual a ocorrência, a causa e as especialidades médicas relacionadas aos cancelamentos cirúrgicos de um hospital de ensino?”. Para tal, o objetivo desta pesquisa é investigar a taxa, causas e especialidades médicas relacionadas aos cancelamentos cirúrgicos de um hospital de ensino.

 

Material e métodos

 

Estudo quantitativo, de campo, transversal realizado em hospital de ensino, de porte especial (708 leitos), do sudeste brasileiro. Essa instituição presta atendimento para aproximadamente 2 milhões de habitantes de 102 municípios da Divisão Regional de Saúde de Rio Preto (DRS 15). No sistema público - aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e ao sistema privado – aos beneficiários do Sistema de Saúde Suplementar (SSS), composto por várias operadoras e seguradoras de saúde credenciadas ao hospital e atende também a pacientes particulares.

O estudo foi realizado no centro cirúrgico da instituição, que é composto por 25 salas operatórias, realizando em média 27.570 cirurgias/ano, dessas 16.156 (58,23%) pelo SUS e 11.414 (41,40%) pelo SSS.

Os critérios de inclusão foram compostos por cirurgias eletivas canceladas no período de janeiro a dezembro do ano de 2016 de todas as especialidades médicas e os de exclusão foram as cirurgias de urgência e emergência, obstétricas, oftalmológicas e cirurgias de outro hospital anexo especializado na saúde da criança e da mulher.

Os dados foram coletados no mês de julho de 2017, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – parecer nº 2.176.379, por meio do banco de dados do centro cirúrgico do hospital em estudo. Para cálculo do indicador de taxa de cirurgia cancelada foi aplicada a fórmula adaptada da proposta pelo CQH [6]:

 

Taxa de cancelamento cirúrgico = Número de cirurgias canceladas x 100

 Total de cirurgias agendadas

 

Os dados foram armazenados numa planilha eletrônica, utilizando o programa Excel e a estatística descritiva foi usada para análise dos dados. As causas dos cancelamentos foram agrupadas por categorias, sendo elas, relacionadas ao paciente e extra paciente.

 

Resultados

 

No período estudado houve 24.232 procedimentos cirúrgicos agendados, variando de 1.719 (abril) a 2.371 (agosto). O indicador de cancelamento cirúrgico apresentou taxa de 7,51%/ano, com mediana de 5,90% variando de 5,90% (novembro) a 11,51% (janeiro), como mostra a tabela I.

 

Tabela I Distribuição da taxa de cancelamento cirúrgico mensal em 2016, segundo o tipo de financiamento de saúde. São José do Rio Preto, 2017.

 

 

Foram observados cancelamentos em 636 pacientes do SUS e 267 do SSS. Em relação ao perfil traçado por causa de cancelamento cirúrgico, o agrupamento relacionado ao paciente proveniente do SUS, variou de exame alterado 22 (3,45%) a falta de internação 168 (26,41%) e o paciente do sistema privado variou de procedimento já realizado 17 (6,36%) a não internou 78 (29,21%) (Tabela II).

 

Tabela II - Distribuição das causas de cancelamento cirúrgico em relação ao paciente, segundo tipo de financiamento de saúde. São José do Rio Preto, 2017.

 

 

Quanto ao indicador de cancelamento, encontrou-se um total de 903 causas, com mediana de 3,72%, relacionadas ao paciente.

Na tabela III, tratando-se das causas de cancelamento cirúrgico pela instituição, referente ao SUS, os dados variaram de médicos com problemas particulares 9 (1,11%) a falta de tempo hábil 314 (38,76%). Já em relação ao paciente do sistema privado, variou de falta de material de Centro de Material e Esterilização (CME) com 1 (0,93%) a falta de autorização do convênio com 59 (55,14%).

 

Tabela III - Distribuição das causas de cancelamento cirúrgico extra paciente, segundo tipo de financiamento de saúde. São José do Rio Preto, 2017.

 

UTI = Unidade de Terapia Intensiva; OPS = Operadora de Plano de Saúde

 

Ao realizar o cálculo do indicador de cancelamento referentes às causas extra paciente, foram encontrados 917 cancelamentos, com mediana de 3,78%.

Em relação ao perfil por especialidades médicas, os cancelamentos cirúrgicos variaram de (0,04%), relacionados às equipes da ginecologia e obstetrícia e mastologia, a (4,10%) de ortopedia. Contudo, não foi possível, por falta de registros, a identificação da especialidade na maioria dos cancelamentos - 83,35%. (Figura 1)

 

 

Figura 1 - Distribuição das cirurgias canceladas em relação as especialidades médicas em 2016. São José do Rio Preto, 2017.

 

Discussão

 

A presente pesquisa apresentou taxa média/ano de cancelamento cirúrgico de 7,51%, informação essa inferior a outros estudos realizados em hospitais de ensino. Em Belo Horizonte, estudo em hospital de grande porte, que presta atendimento ao sistema de saúde público e privado, evidenciou taxa média de 5,20% [11]. Em Fortaleza, estudo encontrou resultado superior 16,00% em um hospital público, de porte médio [17]. No sul de Minas Gerais, hospital geral de ensino, com atendimento ao SUS, apresentou taxa de 27,4% [10]. Ainda, hospital escola de Pernambuco revelou taxa de 30,6% [1]. Acredita-se que tal variabilidade ocorre porque existem diferentes estruturas hospitalares e diferentes formas de análise e controle dos indicadores de qualidade, demonstrando a necessidade de padronização nos dados, para uma melhor evidência e posterior tomada de decisão pelos gestores hospitalares.

Os meses com maiores taxas foram janeiro (11,51%), seguido de fevereiro (9,76) e março (7,77%). Percebe-se que são meses sazonais por várias causas, entre elas, entrada de novos residentes e férias escolares (o que poderia justificar a não internação dos pacientes). Em relação à menor taxa 5,90% ocorreu em novembro, diferindo de estudo realizado em um hospital que atende, também, ao sistema público e privado que encontrou nesse período maiores taxas de cancelamento (6,60%) e menor em agosto (3,60%) [11].

As causas de cancelamento cirúrgico neste estudo foram divididas em “causas do paciente” e “causas extra paciente”. Em um hospital de média complexidade [17], concluiu-se que as causas do paciente estavam relacionadas principalmente a “falta de condições clínicas” - 50,3% e “não comparecimento” - 39,9%, ou seja, pode-se dizer que possui semelhanças com a pesquisa atual, quando comparado com SUS e SSS. Já a respeito das “causas extra paciente” ou “causas da instituição”, o mesmo autor evidenciou em relação ao SUS “prioridade para urgência” - 72,1% e “erro na programação cirúrgica” - 12,5%, os quais também possuem semelhanças com as causas descritas nessa pesquisa. Os termos que se assemelham aos mencionados acima foram a “falta de tempo hábil”, também descrito como não conformidade na programação cirúrgica, o que compromete a falta de tempo para a realização de procedimento e a causa “optado por paciente mais grave” que pode ser considerado semelhante ao termo “propriedade para urgência” [17-19].

Quando comparados os totais de cancelamentos de cirurgias do SUS e SSS, podemos observar que o SUS possui maior taxa de cancelamentos com 12,11%, enquanto o SSS apresenta uma taxa de 3,12%, ou seja, aproximadamente 3,9 vezes maior que o sistema privado de saúde. Existem algumas comparações, que podem ser usadas como explicação para a grande diferença entre as taxas, sendo elas, o maior número de cirurgias pelo SUS e por ser um hospital de ensino, possui residentes, que atuam diretamente nos procedimentos cirúrgicos, causando aumento no tempo cirúrgico, os quais não atuam diretamente em cirurgias do SSS.

A maior taxa de cancelamento encontrada, neste estudo, relacionada a especialidades médicas, foi de 83,35%, constituindo-se em grande viés na pesquisa. O termo “não identificado” foi encontrado por falta de preenchimento do campo “especialidade” pelos profissionais, com isso era enviado ao banco de dados e registrado como “não identificado”. As especialidades médicas com maior taxa de cancelamento cirúrgico foram atribuídas às equipes de ortopedia (4,10%) e urologia (3,22%), dados que se assemelham a outras investigações como em um hospital de ensino, no Paraná que, também, encontrou (42,30%) relacionadas a equipe médica da ortopedia [20] e, ainda, em estudo internacional na cidade de Buenos Aires, com (54,00%) da equipe da Urologia [16].

Uma das limitações deste estudo está relacionada a formatação do sistema de informação hospitalar vigente que comprometeu investigar com detalhes os dados referentes às especialidades médicas constituindo-se em viés nos resultados. Contudo, gerou oportunidade de intervenção da pesquisadora em conjunto com a gestora da unidade, aplicando uma ferramenta de qualidade para solucionar essa não conformidade e gerar melhoria quanto a acurácia de identificação das especialidades médicas no sistema de informação hospitalar. Além disso, contribuiu para revisão e padronização das terminologias referentes às causas dos cancelamentos.

 

Conclusão

 

Conclui-se que a taxa de cancelamento cirúrgico do hospital em questão, em 2016, esteve elevada em relação à taxa de referência apresentada pelo programa CQH no qual a instituição em estudo está credenciada, porém, é importante destacar que, quando comparado a outras instituições de saúde, este estudo apresenta taxa inferior.

O mapeamento das causas do cancelamento cirúrgico instrumentaliza o enfermeiro gestor na adoção de estratégias, no processo decisório e ações integradas entre os diversos serviços relacionados ao fluxo do paciente cirúrgico, fazendo com que haja redução na taxa de cancelamento.

Como sugestão para a realização de novos estudos, acredita-se ser importante a análise do custo do cancelamento cirúrgico, da suspensão cirúrgica, com o respectivo itinerário até a realização do procedimento e ajustes em relação a modalidade de cancelamento cirúrgico por especialidade médica.

 

Referências

 

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