Enferm Bras 2021;20(1):20-37
doi: 10.33233/eb.v20i1.4232
ARTIGO
ORIGINAL
O
estresse intra-hospitalar e o aumento da pressão arterial entre acompanhantes
de pacientes
Arimatéia
Portela de Azevedo, M.Sc.*, Majorry
de Oliveira Pereira**, Adriana Sales de Abreu***, Daniel Guedes dos Santos**,
Michele Nascimento da Silva**, Priscila Damasceno Frazão**, Rebeca Castro
Moreira**, Wilzilene Coelho da Silva**
*Coordenadora
da Comissão de Controle de Infecção (CCIH) da Fundação de Medicina Tropical Dr.
Heitor Vieira Dourado, docente da Universidade Nilton Lins/UNINILTONLINS,
Manaus, AM, **Enfermeiros assistenciais da Fundação de Medicina Tropical Dr.
Heitor Vieira Dourado, Manaus, AM, ***Enfermeira especialista em Administração
Hospitalar, Geriatria e Gerontologia e Saúde Pública e Docência em Enfermagem
Recebido
em 26 de junho de 2020; aceito em 25 de fevereiro de 2021.
Correspondência: Arimatéia
Portela de Azevedo, Rua São Judas Tadeu, 290/824 Bloco “C”, Condominio
Smile Parque das Flores 69028-360 Manaus AM
Arimatéia Portela de Azevedo: arimateia@fmt.am.gov.br
Majorry de Oliveira Pereira:
majorryoliveira7@gmail.com
Adriana Sales de Abreu: adrianajg0227@gmail.com
Daniel Guedes dos Santos: elguedes07@gmail.com
Michele Nascimento da Silva: Michele.enf012@gmail.com
Priscila Damasceno Frazão: prisciladamascenofrazo@gmail.com
Rebeca Castro Moreira: rebeca.castro2712@gmail.com
Wilzilene Coelho da Silva:
wilzilenesilva.enfr@gmail.com
Resumo
Introdução: A internação gera alto grau de
estresse e ansiedade na família. O ambiente é percebido por eles como um espaço
agressivo e ameaçador, pois evidencia o risco de morte do ente querido. Objetivo:
Realizar acompanhamento de valores pressóricos de familiares cuidadores de
pacientes internados para averiguar possíveis oscilações relacionadas ao
estresse intra-hospitalar. Métodos: O presente estudo foi do tipo
prospectivo, descritivo com abordagem quantitativa no qual foi realizado o
registro pressórico dos acompanhantes de pacientes internados, no período de
seis meses e averiguação dos fatores causais de maior estresse entre eles. Resultados:
No período foram selecionados, por demanda espontânea, 48 acompanhantes de
pacientes internados, dos quais 10,4% já declararam ser hipertensos e dos que
declararam não ser hipertensos, 25% tiveram pico hipertensivo no primeiro dia
como cuidador e 8,3% no decorrer dos dias, 4,1% teve elevação repentina da
pressão arterial tendo que haver intervenção médica urgente. Conclusão:
Os fatores estressores relacionados a permanência de um familiar cuidador em um
ambiente hospitalar têm grande influência sobre o aumento dos valores
pressóricos deles, principalmente ao se tratar de um hospital onde albergam
pacientes com doenças infectocontagiosas.
Palavras-chave: acompanhante de paciente;
infectologia; hipertensão arterial; enfermagem; familiar cuidador.
Abstract
In-hospital stress and increased
blood pressure among patients’ companions
Introduction:
Hospitalization generates a high degree of stress and anxiety in the family.
They perceive the environment as an aggressive and threatening space, as it
highlights the risk of death of the loved ones. Objective: To monitor
blood pressure values ??of family caregivers of hospitalized patients as an aid
in interventions related to exposures to in-hospital stress. Methods:
The present study was a prospective, descriptive study with a quantitative
approach, which measured and recorded blood pressure of companions of
hospitalized patients, within a period of six months, and investigated the main
causes of high level of stress among them. Results: During the period,
48 companions of hospitalized patients were selected, due to spontaneous
demand, 10.4% declared to be hypertensive and of those who declared not to be
hypertensive, 25% had a hypertensive peak on the first day as a caregiver and
8.3% over the days, 4.1% had a sudden increase in blood pressure and urgent
medical intervention was required. Conclusion: The stressors related to
the stay of a family caregiver in a hospital environment have a great influence
on the increase in blood pressure values, especially when dealing with a
hospital where patients with infectious diseases are located.
Keywords: patient's companion; infectious
diseases; high blood pressure; nursing; family caregiver.
Resumen
Estrés intrahospitalario
y aumento de la presión
arterial entre los acompañantes
de los pacientes
Introducción: La hospitalización genera un alto
grado de estrés y ansiedad en la familia. El
entorno es percibido por ellos
como un espacio agresivo y amenazante, ya que resalta el riesgo de muerte
del ser querido. Objetivo: Monitorear
los valores de presión
arterial de cuidadores familiares de pacientes hospitalizados para averiguar posibles oscilaciones
relacionadas al estrés hospitalario.
Métodos: El presente estudio fue un estudio
descriptivo prospectivo con
un enfoque cuantitativo en el que se realizó
el registro de presión
arterial de los acompañantes
de pacientes hospitalizados, dentro de un período de
seis meses, y la determinación
de los factores que desencadenan mayor estrés entre ellos. Resultados:
Duurante el período, se seleccionaron 48 compañeros de
pacientes hospitalizados, por demanda espontánea, el 10.4% de los cuales declararon ser hipertensos
y los que declararon no ser
hipertensos, el 25% tuvieron
un pico hipertensivo el
primer día como cuidador y el
8.3% a lo largo de los
dias, el 4,1% tuvo un aumento repentino de la presión arterial y se requirió
una intervención médica urgente. Conclusión:
Los factores estresantes
relacionados con la estadía de un cuidador familiar en un entorno hospitalario
tienen una gran influencia en el
aumento de los valores de la
presión arterial, especialmente cuando
se trata de un hospital donde se encuentran
pacientes con enfermedades
infecciosas.
Palabras-clave: acompañante del paciente; enfermedades
infecciosas; presión arterial alta; enfermería; cuidador familiar.
A internação em um ambiente hospitalar gera alto grau de
estresse e ansiedade na família. O ambiente é visto por eles como um local
agressivo e ameaçador, pois evidencia o risco de morte do ente querido [1,2]. Tambem pode desencadear determinados comportamentos e
sentimentos no familiar cuidador, como dúvidas, desamparo, desorganização
mental, imobilização frente às decisões inesperadas e outras reações, como
depressão ou doenças geradas pelo estresse e pela ansiedade [2,3].
O estresse tem sido relacionado a sensações de tensão,
ansiedade, medo e desconforto caracterizado por alterações psicofisiológicas
que ocorrem quando o indivíduo é forçado a enfrentar situações que estão além
de suas habilidades de enfrentamento [4,5].
A tendência da interação nucleada na família, secundária a
uma doença, é diretamente proporcional ao nível de incapacitação ou risco de
morte. Nessa fase, a família passa por uma desestruturação, tendo que se
ajustar a uma situação estranha ao seu cotidiano, que é conviver e aprender a
lidar com o ambiente hospitalar e com os procedimentos terapêuticos relativos à
doença e estabelecer e manter bons relacionamentos com a equipe que presta
cuidados [6,7].
O processo de adoecimento e a hospitalização irão gerar um
fato novo à família, fazendo com que ela reestruture sua rotina, além de
submetê-la a um ambiente estranho para todos, pois a maioria das instituições
hospitalares ainda não oferecem estrutura física nem acolhimento adequado [8].
Sabe-se que os cuidadores contribuem direta e indiretamente
para o monitoramento, a manutenção e a gestão do autocuidado do paciente. Sendo
assim, conhecer os fatores psicossociais (depressão, ansiedade e estresse) que
podem estar presentes nos familiares e compreender o contexto em que o paciente
e a família estão inseridos torna-se importante [9,10].
Estudos já realizados evidenciam que os familiares
consideram como principais fatores estressores: a aparência do paciente
internado, a necessidade de ventilação mecânica, a presença de curativos
diversos, fios e aparelhos, bem como os ruídos dos equipamentos e da equipe.
Além desses fatores, foram destacadas a gravidade do quadro clínico, a
alteração do nível de consciência e a dificuldade e/ou ausência de comunicação
[2,11].
A preocupação com o estresse se deve ao fato de ele afetar
90% da população mundial e estar fortemente relacionado às doenças do aparelho
circulatório, que estão entre as primeiras causas de óbitos no Brasil. Ao
estudarmos a natureza de um evento estressor, podemos defini-lo como quaisquer
circunstâncias que ameaçam, ou são percebidas como ameaçadoras, ao bem-estar do
indivíduo [12].
Os Descritores em Ciências da Saúde definem o estresse como
o efeito desfavorável de fatores ambientais (estressores) sobre as funções
fisiológicas de um organismo. O estresse fisiológico não resolvido e prolongado
pode afetar a homeostase do organismo, levando a perdas ou afecções [6,13].
Entre as diversas alterações provocadas pelo estresse,
chama a atenção a hiper-reatividade do sistema nervoso simpático, denominada
reatividade cardiovascular, definida como tendência a exibir a frequência
cardíaca e PA exageradas [6,14].
É comum encontrar os pacientes com muitos
artefatos terapêuticos conectados a eles, dessa forma os pacientes
conscientes e seus acompanhantes (familiares cuidadores) enfrentam, além
do sofrimento físico, o psíquico por estarem em um ambiente estranho. Por
sua vez, os familiares também sofrem e se assustam com o ambiente e com a
gravidade do estado dos pacientes [1,15,16].
Quando nos referimos à palavra estresse, deparamo-nos com
alguns mitos de outrora, por exemplo, que só as pessoas ricas têm estresse, ou
de que crianças não apresentam estresse. Porém, o organismo de um indivíduo
desconhece classe econômica e também a idade. Assim, nos dias atuais, qualquer indivíduo pode desenvolver
estresse. Desta forma, a equipe de enfermagem principalmente o enfermeiro
tem grande responsabilidade em atender as necessidades que envolvam o paciente
e seus familiares [17,18,19].
Do ponto de vista psicológico, o estresse pode ser definido
como uma reação de um organismo, com componentes psicológicos e orgânicos,
causada por alterações psicofisiológicas, quando o indivíduo faz frente a uma
situação e tem sentimentos que incomodam, amedrontam, excitam, confundem ou
mesmo o tornam feliz [14,20,21].
Os sentimentos vivenciados pelo familiar acompanhante como o
medo, a ansiedade e a insegurança são gerados, muitas
vezes, pela falta de apoio, de atenção e de informações da equipe de saúde
[4,22]. As adversidades interferem no equilíbrio familiar afetando a dinâmica
de todos os seus membros [21,23].
Um conceito importante e que pode ser fator gerador de
estresse em cuidadores é a sobrecarga, por se tratar de pacientes com
acompanhantes fixos e sem auxílio de outros membros da família [17,24].
A hospitalização geralmente é tida como desagradável tanto
para o paciente quanto para o familiar, pois é necessário que ele abandone seu
lar, seu trabalho e a família para poder cuidar do familiar internado [25,26,27].
A doença e a incapacidade são experiências comuns às
famílias e representam um grande desafio, uma vez que os problemas
psicossociais ocasionados por uma pessoa com dependência desencadeiam impacto
sobre todo o sistema familiar [21,15]. A doença provoca um impacto e
desestrutura o universo familiar. O sofrimento em ver um ente querido ameaçado e
sujeito a tratamentos agressivos, dor, dependência, provoca uma série de
sentimentos controversos [4,15].
Independente das intervenções realizadas pelos familiares
acompanhantes diante do processo de cuidados no ambiente hospitalar, eles
experimentam sensações positivas e negativas. Os aspectos negativos estão
relacionados às alterações que ocorrem na sua vida diária, a interferência na
sua rotina, ao cansaço físico, emocional e problemas financeiros. Por outro
lado, os cuidadores sentem satisfação por poder ajudar seus familiares [21,22].
Estudos apontam que esses cuidadores possuem mais chances
de apresentarem sintomas psiquiátricos e problemas de saúde, entre os quais
hipertensão arterial, desordens digestivas e respiratórias, depressão, além de
vivenciarem conflitos familiares e problemas no trabalho com maior frequência,
em comparação a pessoas da mesma idade que não exercem tal função [14,25].
O estresse, por estimular o sistema nervoso simpático,
afeta também a pressão arterial, fazendo com que haja um aumento da frequência
cardíaca e da força contrátil dos batimentos cardíacos, assim como da
resistência periférica, aumentando o risco de Doença Arterial Coronariana (DAC)
[22]. A manutenção crônica de altos níveis de estresse pode
estar associada ao desenvolvimento de doenças, como insuficiência cardíaca,
aterosclerose, isquemia e hipertensão arterial (HA) [25,26].
É importante frisar que o estresse afeta tanto uma pessoa
que não possui doenças do aparelho circulatório, tanto a que possui. A
hipertensão arterial tem sido associada com uma aumentada reatividade vascular
durante e após períodos agudos de estresse induzido [25,27]. Evidenciou-se
também aumentos no débito cardíaco, na vasoconstricção, na resistência vascular
periférica, na atividade nervosa simpática e, por conseguinte, elevações
anormais na pressão arterial em humanos que se encontravam em condições de
estresse [25].
Os familiares acompanhantes estão mais propensos a adoecer
do que os outros familiares e amigos, devido a permanência no ambiente
hospitalar, a negação do cuidado de si e o contato direto com a pessoa
dependente de cuidados [21]. As dificuldades encontradas pelos acompanhantes
são desencadeadas, na sua grande maioria, pela falta de esclarecimentos da
situação clínica que envolve o processo saúde-doença por parte dos
profissionais [9,19].
Sendo assim, é importante que os profissionais da
enfermagem, sobretudo o enfermeiro, invistam em ações de cuidado demonstrando
interesse, consideração e sensibilidade em relação ao doente e seu familiar
[13,20]. O interesse em participar do cuidado e a inter-relação do acompanhante
com a equipe de enfermagem são elementos facilitadores para o processo de
hospitalização aliado ao bem-estar do doente e seus familiares [3,18,4]. A
participação mútua da equipe de saúde e do acompanhante fortalece o elo da
tríade, ou seja, profissional/acompanhante/paciente para amenizar a angústia e
a tristeza de estar nesta situação [16]. A interação e apoio da equipe com a
família gera bem-estar e conforto, portanto, pode minimizar esse momento
difícil e desgostoso para a mesma [23]. A enfermagem
busca promover uma interação com o acompanhante dando-lhe um suporte emocional
e cognitivo, com orientações e informações sobre as condições da doença e
trabalhando uma melhor percepção no cuidado [23,24]. Criar estratégias para o
enfrentamento dos desafios relacionados com o processo de hospitalização pode
ser uma maneira de a equipe de enfermagem auxiliar o familiar acompanhante
neste processo [4].
Objetivo
Registrar
valores pressóricos de acompanhantes de pacientes internados para averiguar possiveis oscilações relacionadas ao estresse
intra-hospitalar
O presente estudo foi do tipo prospectivo, descritivo com
abordagem quantitativo, no qual foi possível realizar o registro pressóricos
dos acompanhantes de pacientes internados em um hospital referência em
infectologia de Manaus e averiguar os fatores causais de maior estresse entre
acompanhantes tais como: alimentação, diagnóstico do paciente, medo de se
contaminar com alguma doença infecciosa durante os cuidados, limpeza do
ambiente, cheiro do hospital. E fatores externos: familiares, financeiros,
entre outros.
A pesquisa foi realizada com uma amostra de 48
acompanhantes de pacientes, acima de dezoito anos de idade, que estavam
internados no período proposto pela pesquisa, em qualquer enfermaria, e que
preenchessem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Não foram
incluídos no estudo acompanhantes que permaneceram menos de cinco dias junto ao
paciente por não haver, nesses casos, possibilidade de se fazer uma curva de
tendência da pressão arterial.
Para que houvesse fidelidade nas respostas, cada
acompanhante teve a mensuração da pressão arterial realizada duas vezes ao dia,
no mesmo horário, nos dois braços, utilizando-se do mesmo aparelho e sendo
realizada pelo mesmo profissional. Foi aferida a pressão arterial dos
acompanhantes por sete dias consecutivos, desde o primeiro dia em que adentrou
no hospital. Tais registros permitiram a averiguação dos possíveis fatores
causais de maior estresse entre esses acompanhantes.
As informações utilizadas neste estudo foram coletadas
diretamente do participante do estudo após assinatura do TCLE. Após aceitação
em participar, foi aferida a pressão arterial e realizado o preenchimento de um
questionario contendo perguntas com respostas
fechadas: informações sociodemograficas, sobre as
ansiedades e preocupações do mesmo trazidas para o
hospital ou adquiridas no ambiente hospitalar, história de doenças crônico
degenerativas (principalmente hipertensão).
Para maior proteção do participante da pesquisa, o
questionário teve como identificador apenas um número sequencial. Após
levantamento dos dados obtidos, foi realizado levantamento estatístico e
discussão de todo o material. A apresentação dos resultados se fez de forma
descritiva, quantitativa. Para o tratamento dos dados foi utilizado o software
SPSS versão 19.
A pesquisa teve início após a aprovação pelo Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP), sob o CAAE número 16525519.7.0000.0005, Número do
Parecer: 3.512.250, de acordo com a resolução 466/12 do Ministério da Saúde/CEP
Foram selecionados, por demanda espontânea, 48
acompanhantes de pacientes internados, dos quais 12,5% já se declararam ser
hipertensos e dos que declararam não ser hipertensos, 25% tiveram pico
hipertensivo no primeiro dia de internação e 31,3% no decorrer da internação.
Tabela
I - Perfil
sociodemográfico dos acompanhantes de pacientes internados durante o período
proposto pela pesquisa
Fonte: dados da pesquisa
Neste estudo percebeu-se que os resultados coadunam com o
mesmo informado pelo autor supracitado [21], pois alguns acompanhantes não
tinham nenhum apoio da família e acabavam se tornando o único acompanhante do
paciente (acompanhante fixo), não tendo a oportunidade de descanso fora do
ambiente hospitalar, causando sobrecarga sobre o mesmo (Tabela I).
Investigando essa mesma temática fizeram outro estudo com
acompanhantes de pacientes internados em uma unidade de clínica médica de um
hospital público e de ensino no Rio Grande do Sul onde constataram que a
hospitalização prolongada geralmente tem como consequência a sobrecarga de um
familiar cuidador. Por diversos fatores, a responsabilidade do cuidado, recai
por vezes, em um único membro da família [4]. Muitos familiares não contam com
o apoio dos demais membros da família para acompanhar o paciente no hospital,
realizando estas atividades sozinhos [3].
Estudo [18] realizado com familiar cuidador de pacientes
internados em um hospital referência em infectologia mostrou que a maioria
(74%) moravam na própia cidade onde o paciente fora
internado, mas, 20% moravam em outras cidades dentro do mesmo estado e 6% eram
oriundos de outros estados brasileiros. Morar fora do domicílio onde o paciente
foi internado pode ser um fator estressor em virtude da impossibilidade de troca
quando o estado físico e emocional ficarem esgotados. Tal situação pode ser um
fator desencadeantes de estresse.
Em outro estudo realizado com acompanhantes de pacientes
internados no Hospital Estadual de Ribeirão Preto/SP, verificou-se que os participantes
são em geral mulheres de meia idade. Poucos homens participaram do grupo, o que
remete a pensar no cuidado como uma tarefa historicamente construída para ser
feminina [9].
Novamente, neste estudo, os resultados de Dahadaha et al. [9] são similares, pois a maioria
dos acompanhantes eram do sexo feminino, grande parte dessa porcentagem foi
composta por mães e irmãs do paciente (Tabela I).
Fonte: dados da pesquisa
Gráfico
1 - Relatos dos
motivos da descontinuidade, como acompanhantes, de alguns familiares cuidadores
Tabela
II - Possíveis
fatores de risco intra-hospitalar ou familiar relacionados ao aparecimento de
aumento nos valores pressóricos entre os investigados no primeiro dia de
internação
Fonte: dados da pesquisa
Com base nas informações obtidas através do questionário
foi possível pontuar alguns dos possíveis fatores que influenciaram nos
aumentos dos valores pressóricos de cada acompanhante logo no início da
internação. Este estudo evidenciou tanto fatores intra-hospitalares como os
fatores externos, que por vezes incluíam situações que não tinham nada a ver
com o paciente, e sim com os problemas do cotidiano do acompanhante, uma vez
que para se tornar acompanhante um indivíduo acaba deixando de lado seus próprios
interesses e responsabilidades (Tabela II).
Houve acompanhantes que relataram fatores estressores tanto
no ambiente hospitalar quanto fatores externos. O aumento da pressão arterial
de outro grupo de acompanhantes já tinha como base somente fatores
intra-hospitalares (Tabela III).
Alguns autores defendem a relação do aumento da reatividade
cardiovascular com a expressão de raiva para fora, outros concluem que tal
aumento está relacionado com a expressão da raiva para dentro [23,24].
Tabela
III - Possíveis
fatores de risco intra-hospitalar e familiar relacionados ao aparecimento de
aumento nos valores pressóricos no decorrer da internação
Fonte: dados da pesquisa
Foi observado ao longo da coleta de dados que os
acompanhantes tiveram muitas dificuldades em se adaptar ao ambiente hospitalar.
Relataram que além de terem que aprender a lidar com o paciente, ainda tiveram
que conviver com o desconforto, cansaço, maus tratos pela parte dos
profissionais e problemas de saúde já instalados. Os fatores de estresse
relatados pelos participantes deste estudo no decorrer da internação são,
provavelmente, continuidade dos fatores estressores do início da internação
(Tabela III).
Além de todos esses fatores, esses familiares cuidadores
informaram que trouxeram uma carga de preocupações com fatores externos tais
como: familiar, trabalho, estudo e que tais angústias sempre estavam presentes,
potencializando ainda mais o aparecimento de doenças ou pioras de doenças já
instaladas em seus organismos (Tabela III).
Outro autor concluiu que uma das formas de compreender os
fatores emocionais associados à hipertensão arterial, como é o caso do stress e
da raiva, é o entendimento do conceito de reatividade cardiovascular, que se
refere às modificações de pressão arterial ou de frequência cardíaca,
decorrentes de estímulos específicos. Embora a tendência geral da maioria das
pessoas seja de elevações de pressão arterial frente a situações de stress,
indivíduos com hipertensão apresentam elevações maiores e mais frequentes do
que pessoas sem este diagnóstico em situações similares [11,28].
Fonte: Dados da pesquisa
Gráfico
2 - Registro das
intercorrências de oscilação dos valores pressóricos ocorridos entre familiares
cuidadores durante a estada no ambiente hospitalar
Conforme a monitorização dos valores pressóricos dos
acompanhantes (familiares cuidadores) de pacientes internados foi possível
detectar que a pressão arterial deles oscilou em diversos momentos durante a
estadia do paciente no ambiente hospitalar, mas foi percebido que houve maior
elevação nos primeiros dias de internação do paciente. Alguns dos participantes
que tiveram uma elevação alarmante da pressão arterial (PA) foram encaminhados
ao pronto atendimento do hospital onde ocorreu a pesquisa (Gráfico 2).
Outro fator importante a ser destacado é que no momento em que acontecia uma piora no quadro do paciente
os acompanhantes passaram por instabilidade emocional com base em preocupação e
aflição, fatores estes que fizeram com que a pressão arterial dos mesmos se
elevasse.
Ao lado de outros fatores como hereditariedade, vida
sedentária e nutrição inadequada, stress e raiva estão relacionados à
hipertensão arterial. O stress pode ser compreendido como uma resposta do
organismo da qual fazem parte fatores físicos, psicológicos, mentais e
hormonais originada pela necessidade de manejo de qualquer situação, positiva
ou negativa, que naquele momento representa ameaça [24,29].
Sabe-se que nas últimas décadas tem-se valorizado o papel
do familiar cuidador como facilitador no restabelecimento da saúde de pacientes
internados em unidades hospitalares, assim como agente acelerador no processo
de reabilitação. Mediante o que foi pesquisado por este estudo, chegamos as
seguintes conclusões:
No período de internação, o familiar cuidador passa a se
dedicar ao paciente, esquecendo muita das vezes de suas próprias necessidades
ou limitações. Nesse cenário que ele se insere, está sujeito a se deparar com
qualquer tipo de situação relacionada a um ambiente hospitalar, onde nem sempre
esse acompanhante terá preparo físico ou psicológico.
Durante este estudo foi possível perceber que, além dos
fatores causais do estresse intra-hospitalar, a condição clinicopatológica
do paciente foi um grande agravante na instabilidade pressórica desses
acompanhantes. Pois quando havia piora do quadro clínico do paciente, era bem
perceptivo a preocupação e pensamentos negativos tomarem conta dos mesmos. Essas condições trouxeram desequilíbrio no
bem-estar prejudicando seu sono e repouso, suas condições psicológicas e
fisiológicas, pressão arterial, e até mesmo prejudicando outras doenças já
instaladas.
Muitos participantes deste estudo não tinham nenhuma
condição psicológica ou física de estar como acompanhantes. Mas, eram
circunstancialmente os que podiam ficar como cuidador. Diversos fatores
tornaram essa situação obrigatória, como: a falta de familiares na cidade (pois
essas pessoas vieram do interior ou outras cidades), a falta de apoio da
família, a grande preocupação que acabava impossibilitando esse acompanhante de
sair de perto do paciente, a falta de recursos financeiros, entre outras
situações.
Também foram feitos registros de relatos dos mesmos e
algumas perguntas relacionadas a possíveis fatores causais do estresse.
Percebeu-se que muitos precisavam externar as situações estressoras em que se
encontravam.
Os familiares cuidadores são, além de muito importantes na
recuperação dos pacientes, são seres humanos e devem ser tratados de forma
humanizada ao estarem em uma unidade hospitalar.
Portanto, após o levantamento de todos os dados, chegamos à
conclusão que possivelmente os fatores estressores relacionados a permanência
em um ambiente hospitalar podem ter grande influência sobre o aumento dos
valores pressóricos de um indivíduo, principalmente ao se tratar de um hospital
onde alberga pacientes com doenças infectocontagiosas, com 80% de pacientes que
convivem com o vírus do HIV.
Agradecimentos
Agradecemos a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heiror Vieira Dourado pela oportunidade dada para que este
estudo fosse possível.
Financiamentos
Este estudo foi custeado com recursos dos
próprios autores