Enferm
Bras 2021;20(1):38-52
doi: 10.33233/eb.v20i1.4263
ARTIGO
ORIGINAL
Conhecimento
sobre angiografia e níveis de ansiedade em pacientes no período pré-cateterismo
Márcio
Vitor da Costa Carneiro*, Felipe Carvalho Farias**, Bruno Albuquerque
Campos***, Tarcísia Domingos de Araújo Sousa****,
Fernanda da Mata Vasconcelos Silva*****, Emanuela Batista Ferreira e Pereira, D.Sc.******
*Enfermeiro,
Especialista em diagnóstico Universidade de Pernambuco/UPE, Recife, PE,
**Enfermeiro, Especialista em Emergência Geral, Universidade de Pernambuco,
UPE, Recife,PE, ***Enfermeiro, Mestrando em Perícias
Forenses (UPE/FOP), Recife, PE, ****Enfermeira, Mestranda em Enfermagem,
Universidade de Pernambuco, UPE, Recife, PE, *****Enfermeira, Doutoranda em
Enfermagem, Universidade de Pernambuco/UPE, Recife, PE, ******Enfermeira,
Doutora em Cirurgia pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE, Recife, PE
Recebido
em 12 de julho de 2020; aceito em 18 de fevereiro de 2021.
Correspondência: Fernanda da Mata Vasconcelos Silva,
Rua Vicente do Rego Monteiro,292 Cordeiro 50630-710 Recife PE
Márcio Vitor da Costa Carneiro:
marciovictordodo@hotmail.com
Felipe Carvalho Farias: felipecarvalhof@gmail.com
Bruno Albuquerque Campos: bruno.campos@upe.br
Tarcisia Domingos de Araújo
Sousa: tarcisiadsousa@gmail.com
Fernanda da Mata Vasconcelos Silva:
nandadamata34@gmail.com
Emanuela Batista Ferreira e Pereira:
emanuela.pereira@upe.br
Resumo
Objetivo: Analisar o conhecimento sobre
angiografia e sua associação com níveis de ansiedade em pacientes no período pré-cateterismo. Métodos: Estudo transversal,
descritivo com abordagem quantitativa, realizado no setor de hemodinâmica de um
hospital de alta complexidade com referência neurocirúrgica e cirurgia vascular.
A coleta se deu a partir de um formulário adaptado de um instrumento validado e
a aplicação do Inventário de Ansiedade. Os dados foram analisados
descritivamente e para avaliar associação entre duas variáveis categóricas foi
utilizado o teste Exato de Fisher. Resultados: A faixa etária variou
entre 18-86 anos. As comorbidades mais frequentes foram hipertensão arterial
sistêmica (48,6%), diabetes mellitus (24,3%), insuficiência renal aguda e
insuficiência renal crônica com percentuais de 8,1% e 5,4% respectivamente. A
maioria estava realizando o procedimento pela primeira vez e para diagnóstico.
Relataram que as informações sobre o procedimento não foram totalmente
esclarecedoras. Quanto ao nível de ansiedade, constatou-se que os níveis
presentes foram leves ou moderados e que não houve associações significativas
entre o inventário de ansiedade e os resultados das questões sobre as
informações prestadas. Conclusão: Faz-se necessário uma comunicação
efetiva entre os profissionais, pacientes e familiares, uma vez que foi
demonstrado que a qualidade das informações prestadas pode minimizar os níveis
de ansiedade.
Palavras-chave: angiografia; ansiedade; doenças
cardiovasculares; enfermagem perioperatória;
hemodinâmica.
Abstract
Knowledge about coronary angiography
and anxiety levels in pre-catheterization patients
Objective: To analyze the knowledge about
angiography and its association with anxiety levels in patients in the
pre-catheterization period. Methods: Cross-sectional, descriptive study
with a quantitative approach, carried out in the hemodynamics sector of a
highly complex hospital with neurosurgical reference and vascular surgery. The
collection took place from a form adapted from a validated instrument and the
application of the Anxiety Inventory. The data were analyzed descriptively, and
Fisher's Exact test was used to assess the association between two categorical
variables. Results: The age range varied between 18-86 years. The most
frequent comorbidities were systemic arterial hypertension (48.6%), diabetes
mellitus (24.3%), acute renal insufficiency and chronic renal insufficiency
with percentages of 8.1% and 5.4% respectively. Most were performing the
procedure for the first time and for diagnosis. They reported that the
information about the procedure was not entirely clarifying. As for the level
of anxiety, it was found that the levels present were mild or moderate and that
there was no significant association between the anxiety inventory and the
results of the questions about the information provided. Conclusion:
Effective communication between professionals, patients and family members is
necessary, since it has been demonstrated that the quality of the information
provided can minimize the levels of anxiety.
Keywords: angiography; anxiety; cardiovascular
diseases; perioperative nursing; hemodynamics.
Resumen
Conocimiento sobre angiografía
coronaria y niveles de ansiedad
en pacientes pre-cateterismo
Objetivo: Analizar los conocimientos sobre angiografía y su asociación con los niveles de ansiedad en pacientes en el período de precateterismo. Métodos:
Estudio descriptivo
transversal con abordaje cuantitativo, realizado en el sector hemodinámico de un hospital de alta complejidad con referencia
neuroquirúrgica y cirugía
vascular. La recolección se realizó
a partir de un formulario
adaptado de un instrumento validado y la aplicación del
Inventario de Ansiedad (BAI). Los datos
se analizaron de forma descriptiva
y se utilizó la prueba exacta de Fisher para evaluar la asociación
entre dos variables categóricas. Resultados:
El rango de edad varió
entre 18 y 86 años. Las comorbilidades más frecuentes fueron hipertensión arterial
sistémica (48,6%), diabetes mellitus (24,3%), insuficiencia
renal aguda e insuficiencia renal crónica con porcentajes del 8,1% y 5,4% respectivamente. La mayoría
realizaba el procedimiento por primera vez y con fines de diagnóstico. Informaron
que la información sobre el procedimiento no era del todo esclarecedor. En cuanto al nivel de ansiedad, se encontró que los niveles presentes eran leves o moderados y que no existía asociación significativa entre el
inventario de ansiedad y los
resultados de las preguntas sobre la
información brindada. Conclusión:
Es necesaria una comunicación
efectiva entre profesionales,
pacientes y familiares, ya que se ha
demostrado que la calidad
de la información brindada puede minimizar los niveles de ansiedad.
Palabras-clave: angiografía;
ansiedad; enfermedades
cardiovasculares; enfermería peroperatoria;
hemodinámica.
As doenças cardiovasculares (DCV) são consideradas
distúrbios que acometem o sistema circulatório alterando hemodinamicamente
veias, artérias e vasos capilares [1]. Classificadas em: doenças coronarianas,
cerebrovasculares, arterial periférica, cardíaca reumática, congênita, trombose
venosa profunda e embolia pulmonar [2]. As DCV se apresentam como principal
causa de óbito no mundo, atingindo mais de 17,5 milhões de pessoas no ano de
2012, somando mais de 31% entre todas as causas de morte [2]. No Brasil não é
diferente, pois esses índices computam mais de 30% dessas causas [3].
Assim, observa-se que a incidência das cardiopatias vem
aumentando consideravelmente no Brasil e no mundo e, concomitante a este
evento, a angiografia por cateteres é considerada como a técnica diagnóstica
invasiva mais relevante na prática clínica para os pacientes com distúrbios
cardiovasculares [4,5].
A angiografia por cateteres consiste na introdução de um
cateter por punção percutânea, que irá seguir um caminho dos vasos sanguíneos da
região de punção (região inguinal, periférica ou do braço) até a área de
investigação diagnóstica. O cateter, fio flexível, vai sendo guiado por um
sistema de Raio-X e o procedimento acontece sob indução anestésica. Na área de
investigação ocorre à infusão de solução de contraste iodado, com a finalidade
de identificar obstruções, defeitos congênitos ou estruturais [6].
As manifestações emocionais que ocorrem em pacientes
submetidos à angiografia por cateteres decorrem da falta de conhecimento suficiente
sobre o exame, no qual resulta em situações de apreensão e ansiedade. Os
sintomas relacionados ao estresse dificultam o processo de compreensão das
informações recebidas por profissionais da saúde acerca do procedimento [7].
Dessa forma, este estudo objetiva analisar o conhecimento sobre angiografia e
sua associação com níveis de ansiedade em pacientes no período pré-cateterismo.
Trata-se de estudo transversal, descritivo com abordagem
quantitativa, pois foi realizado no período que avaliou de forma simultânea
causa e efeito, com a distribuição descritiva dos dados coletados [8,9]. O
estudo ocorreu no setor de hemodinâmica de um hospital público de alta
complexidade, de referência neurocirúrgica e cirurgia vascular, com 06 montados
para este fim. O hospital conta com um total de 706 leitos registrados pelo
Ministério da Saúde para atendimentos dos pacientes, localizado no município de
Recife/PE.
A população foi composta por pacientes que seriam
submetidos à angiografia por cateteres, maiores de 18 anos, de ambos os sexos.
Amostra não-probabilística por conveniência atendeu aos critérios de
elegibilidade e foi composta por 37 pacientes. Foram excluídos os pacientes com
impossibilidade cognitiva para responder à pesquisa.
Para coleta de dados foram utilizados dois instrumentos. O
primeiro um formulário para mensurar o conhecimento sobre angioplastia adaptado
pelo autor a partir de um instrumento validado no Brasil em 2002 intitulado
“Instrumentos de coleta de dados para o período perioperatório
de cirurgia cardíaca” [10]. O segundo foi o Inventário de Beck para mensurar os
níveis de ansiedade [11].
O instrumento adaptado foi composto pelas variáveis
quantitativas como idade e quantidade de procedimentos realizados; e variáveis
qualitativas como sexo, religião, escolaridade, profissionais que
disponibilizaram informações. Mensurou-se também como as informações foram
recebidas pelos pacientes e se foram suficientes para o conhecimento sobre o
procedimento a ser realizado. Outros questionamentos foram levantados desde a
decisão de realização da angiografia por cateteres até o momento da entrevista
[10].
As Escalas Beck são compostas pelo Inventário de Depressão
(BDI), Inventário de Ansiedade (BAI), Escala de Desesperança (BHS) e Escala de
Ideação Suicida (BSI). Para mensuração dos níveis de ansiedade utilizamos o
Inventário de Ansiedade (BAI) que se caracteriza por ser autoaplicável para
maiores de 13 anos, validado no Brasil e utiliza 21 perguntas para avaliar os
níveis de ansiedade do indivíduo. Os atributos relacionados à ansiedade
apresentam scores baseados na seguinte pontuação: 0 a 21 ansiedade baixa, 22 a
35 ansiedade moderada e acima de 36 um grau preocupante de ansiedade [11].
Os dados foram analisados descritivamente através de
frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas e das medidas:
média, desvio padrão e mediana da variável idade. Para avaliar associação entre
duas variáveis categóricas foi utilizado o teste Exato de Fisher, uma vez que a
condição para utilização do teste Qui-quadrado não
foi verificada. A margem de erro utilizada na decisão dos testes estatísticos
foi de 5%. Os dados foram digitados por dupla entrada no Microsoft
Excel e importados para o IBM SPSS versão 23 para realizar os cálculos
estatísticos.
O estudo está de acordo com a Resolução 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde que regulamenta a prática de pesquisas humanas,
aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital da Restauração, sob o
número do CAAE: 95940318.8.0000.5198.
Na caracterização da amostra evidenciou-se que faixa etária
dos entrevistados variou entre 18-86 anos, obtendo uma média de 56,22 anos
(Desvio padrão: 16,15). Mais da metade era do sexo feminino (56,8%), 45,9%
concluíram o ensino fundamental e 48,6% pertenciam a religião católica. As
comorbidades estavam presentes em mais da metade dos participantes (54,1%),
sendo as mais frequentes: hipertensão arterial sistêmica (48,6%), diabetes
mellitus (24,3%), insuficiência renal aguda e insuficiência renal crônica com
percentuais de 8,1% e 5,4% respectivamente.
Na Tabela I estão dispostas a distribuição das respostas
referente às questões sobre o procedimento cirúrgico. Quanto à realização
prévia do procedimento 27,0% dos pacientes informaram já ter se submetido ao
cateterismo, e 73,0% que era a primeira vez e a causa em 73% das ocorrências
foi para fins diagnósticos. O tempo cirúrgico variou em um intervalo de 30 a 50
minutos (62,2%), as principais complicações potenciais elencadas foram dor
(29,7%) e hemorragias (18,9%).
Tabela
I – Distribuição das
respostas segundo as questões relacionadas ao procedimento e informação.
Recife/PE, Brasil, 2019
1Considerando que as variáveis
são de múltiplas escolhas a possibilidade da soma das frequências é superior ao
total
Na Tabela II estão descritas respostas referentes às
questões sobre o primeiro contato assistencial e qualidade das informações
disponibilizadas. Os médicos foram os profissionais que tiveram mais contato
com o paciente desde a indicação do procedimento (94,6%), porém 70,3 dos
pacientes afirmam que tiveram pouca informação sobre o procedimento que seria
realizado e 40,5 % foram transmitidas pelo enfermeiro. As principais
informações fornecidas foram sobre indicações para angiografia (78,4%),
importância do exame (35,1%), contraindicações (16,2%) e em relação às etapas
do procedimento (16,2%). Chama atenção o fato de 45,9% dos entrevistados
relatarem que a qualidade da informação recebida foi “pouco esclarecedora”.
Tabela
II – Distribuição
das respostas segundo as questões relacionadas a informação. Recife/PE, Brasil,
2019
1Considerando que as variáveis
são de múltiplas escolhas a possibilidade da soma das frequências é superior ao
total
Os resultados do Inventário de Beck encontram-se dispostos
na Tabela III, a maioria respondeu nunca ter tido: “Desmaio/cabeça leve”
(94,6%), “Dormência ou formigamento” (83,8%), “Suores quentes/frios” (78,4%),
“Sentindo-se quente” (75,7%), “Fraqueza nas pernas” (73,0%), “Indigestão”
(73,0%), “Tontura” (70,3%), “Mãos tremulas” (70,3%) e as questões que tiveram
os menores percentuais foram “Nervoso” (24,3%), “Aterrorizado com medo”
(35,1%), “Incapaz de relaxar” (35,1%), “Instável” (37,8%), “Assustado” (43,2%)
e “Medo do pior acontecer” (43,2%).
Tabela
III – Distribuição
dos pacientes analisados segundo as questões do Inventário de Beck. Recife/PE,
Brasil, 2019
1Os valores percentuais foram
obtidos do número total de 37 pacientes analisados.
Verificou que a maioria (75,7%) dos pacientes foi
classificada com ansiedade leve, seguido de 21,6% com ansiedade moderada e
apenas um (2,7%) paciente com ansiedade preocupante. Não foram registradas associações
significativas (p > 0,05) entre o inventario de Beck e quanto à informação prestada
sobre o procedimento e quanto à orientação recebida para o entendimento do
procedimento.
A angiografia por cateteres tem cunho diagnóstico e/ou
intervencionista, reservada para situações em que os métodos não invasivos,
como doppler, angio-tomografia e angio-ressonância
são inconclusivas ou dois desses exames são discordantes, entretanto é o método
padrão-ouro para o diagnóstico de aneurismas cerebrais nas hemorragias
subaracnóideas (HSA) não traumáticas e por conta disso apareceu como maior
indicação clínica ao procedimento no estudo [12,13].
A faixa etária idosa encontrada na presente pesquisa
diverge da literatura etária, que evidenciaram pacientes com aproximadamente 54
anos e 55,9 anos [14,15]. Os achados em relação ao sexo e escolaridade
corroboram um estudo coreano, que teve 65,7% de sua amostra do sexo feminino e
62,8% dos pacientes possuíam escolaridade menor ou igual ao ensino médio [14].
A frequência de realização de angiografia por cateteres é
diferente, quando se compara angiografia cerebral e angiografia cardíaca, pois,
um estudo similar evidenciou [16], em sua amostra, que 81,8% tinham se
submetido ao procedimento de angiografia cardíaca anteriormente.
Os pacientes foram submetidos ao procedimento de
angiografia por cateteres com o objetivo diagnóstico e uma pequena parcela para
tratamento. A pesquisa realizada em uma clínica de neurointervenção
coreana identificou que 59% das angiografias foram realizadas para tratamento e
41% para diagnóstico [17]. Entretanto, o estudo realizado no Rio Grande do Sul
evidenciou que 62% das angiografias cerebrais por cateter foram de caráter
diagnóstico e 37% foram para controle angiográfico de patologias tratadas
anteriormente, o que pode caracterizar o perfil nacional para esse tipo de
procedimento [12].
Para a realização desse tipo de procedimento é necessário,
além dos equipamentos específicos, uma equipe multidisciplinar especializada
para a assistência adequada [12]. É também preciso, anteriormente ao procedimento,
a realização de uma consulta minuciosa, em que seja avaliado todo o quadro
clínico do paciente e seja informado os detalhes do procedimento [13].
Em um estudo piloto realizado no Estado de São Paulo todos
os pacientes foram informados sobre o procedimento a ser realizado, 80% desses
foram informados pelo seu médico, 94,2% da amostra se mostrou satisfeita com as
orientações recebidas e, apenas, 21,8% relataram ansiedade para o procedimento
[16].
Os dados encontrados no mesmo estudo piloto [16] diferiram
do constatado neste, pois para a amostra avaliada as informações prestadas
foram insuficientes para compreender o procedimento, tanto a informação
prestada sobre a compreensão do procedimento como a qualidade das informações
fornecidas sobre o preparo para o procedimento foram insatisfatórias. O fato das informações serem fornecidas por médicos pode ser
justificado, pois a angiografia por cateteres tem a marcação realizada pelos
mesmos, sendo que a enfermagem, na maioria dos casos, contata o paciente apenas
imediatamente antes do procedimento [18].
Entretanto, o enfermeiro desempenha função primordial na
unidade de hemodinâmica, uma vez que ele é o responsável pelo gerenciamento do
setor e da equipe, além de atuar como educador do paciente, de modo que ele
investiga as principais contraindicações e riscos ao paciente, além de
orientá-lo para o período pós-procedimento, de modo a permitir a minimização
das complicações [19,20].
Não há um consenso na literatura quanto ao preparo para o
procedimento, visto que fica a critério do hospital estabelecer as rotinas. A
publicação de protocolos institucionais contribui para o fornecimento de alguns
critérios a serem realizados e conferidos para todos os exames de cateterismo
do paciente, como coagulograma, glicemia e função
renal, existência de alergias, além da importância do repouso e outros
procedimentos necessários para a boa ocorrência da cirurgia endovascular
[21].
Quanto ao jejum absoluto, também não há um consenso para o
intervalo de tempo ideal, sendo que a média foi de aproximadamente 8 às 12
horas no hospital onde se fez a pesquisa.
Evidências na literatura demonstram que esse tempo é prejudicial à
recuperação do paciente, sendo recomendado jejum de 6h para uma dieta leve e de
2h para líquidos claros, pois há diminuição do estresse sofrido pelo corpo e
suas consequências [22].
As complicações do procedimento mais prevalentes foram
“dor” e “hemorragia”, semelhantes aos encontrados em casos de cateterismos
cardiológicos, em que as principais complicações relatadas pelos pacientes são
dor lombar, mal-estar geral e dor no local da punção, diferindo apenas quanto à
hemorragia, pois foi uma complicação bem menos frequente [23]. Assim, uma boa
anamnese é imprescindível, pois fornece as informações úteis para a minimização
dos riscos e complicações do procedimento, além de fazerem parte do processo de
enfermagem e de educação do paciente [13,20].
Os níveis de ansiedade e estresse no período que antecede
um procedimento evidenciam a necessidade do profissional da enfermagem em lidar
com esse fato, como exemplo da utilização de estratégias de coping,
do suporte ao paciente em seus diversos aspectos tais como: religioso, social e
familiar [24].
Os dados relacionados aos níveis de ansiedade se assemelham
ao de um estudo que avaliou a ansiedade nos pacientes que iriam realizar
cateterismo cardíaco, o qual mostrou que os pacientes, mesmo orientados, quanto
ao procedimento, apresentaram, em sua maioria sinais de ansiedade leve (entre
30 e 40%) e moderada (entre 30 e 36,7%). A ansiedade é fator determinante para
a ocorrência de doenças cardiovasculares. E quando se relaciona ao procedimento
cirúrgico endo vascular, o que mais proporcionou ansiedade aos pacientes foi à
possibilidade de insucesso do procedimento e o medo de morrer [25].
Este estudo não registrou associações significativas entre
a classificação da ansiedade e o Inventário de Ansiedade, diferindo do que
ocorre no pré-operatório de cirurgias cardíacas, em que a ansiedade pode ser
influenciada, mesmo que de forma mínima, pelas condições demográficas do
paciente [26], e os resultados de cada uma das questões sobre as informações
prestadas, contrariamente ao constatado por Secco et al. [25], em que comprovou
que intervenções educativas são capazes de diminuir os níveis de ansiedade e
estresse no pré-procedimento.
Umas das lacunas evidenciadas no estudo era a rotatividade
do paciente no leito. O déficit no dimensionamento correto de enfermeiros nos
setores da unidade hospitalar contribuiu para assimetria da comunicação entre
profissional – paciente – família. A coleta de dados acontecia através da
leitura dos prontuários, que por muitas vezes estavam incompletos. Alguns
pacientes apresentam baixo nível de compreensão das falas e déficit cognitivo
não conseguindo, dessa forma, explanar sobre exames realizados, sintomatologia
ou mesmo a patologia que o acomete. Estas foram situações limitantes do estudo
que conduziram a exclusão do paciente da amostra.
O estudo demonstrou que o conhecimento sobre angiografia
coronária em pacientes no pré-cateterismo é muito
limitado. As informações transmitidas pela equipe de saúde ao paciente foram
consideradas pouco esclarecedoras acerca do procedimento que iria ser
realizado. O enfermeiro, que deveria mostrar-se como educador em saúde foi
pouco atuante nesse processo, conduzindo pacientes e familiares a desenvolverem
níveis diversificados de ansiedade.
Porém, ao utilizarmos o Inventário de Ansiedade (BIA) em
pacientes pré-cateterismo foram elencados quadros de
ansiedade, em sua maioria, leve a moderado. Dessa forma é imprescindível o
desenvolvimento de estratégias educativas em saúde voltadas a pacientes
indicados para cirurgias cardíacas, uma vez que o acesso a essa informação pode
reduzir os níveis de ansiedade e alterações hemodinâmicas pré-operatórias.