REVISÃO
Sexualidade de idosas e
contribuições da enfermagem
Valquiria Maria de Paula, M.Sc.*, Leiner Resende Rodrigues,
D.Sc.**
*Universidade Federal
do Triângulo Mineiro (UFTM), **Profa Associada do
Departamento de Enfermagem em Educação e Saúde Comunitária, Universidade
Federal do Triângulo Mineiro
Recebido em 17 de julho
de 2020; aceito em 30 de agosto de 2020.
Correspondência: Valquiria
Maria de Paula, Rua Bernardo Rossi, 1450 Bom Retiro, 38022210 Uberaba MG
Valquiria Maria de Paula:
valquiriacig@yahoo.com.br
Leiner Resende Rodrigues:
leiner.r.rodrigues@gmail.com
Resumo
Introdução: A sexualidade de
idosas é um tema delicado, repleto de tabus e de dificuldade global. Há
necessidade da enfermagem em construir práticas em saúde abordando melhor o
assunto, em busca de novas concepções e avanços na área. Objetivo:
Conhecer as contribuições da enfermagem para sexualidade de idosas. Métodos:
Revisão narrativa realizada nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde, Pubmed e Scientific Electronic Library Online, abordando estudos de 2016 a
2020, em português, inglês e espanhol, utilizando os descritores cuidados de
enfermagem, sexualidade e mulheres idosas. Procedeu-se a leitura e análise das
publicações. Resultados: Poucos estudos foram encontrados especificando
idosas e cuidados de enfermagem. Dentre as contribuições de enfermagem
elencadas, temos: educação em saúde para idosas sobre sexualidade, capacitação
da equipe de enfermagem, pesquisas na área, apoio e acolhimento, consulta de
enfermagem, coleta de Papanicolau, sensibilização da enfermagem e das idosas
sobre saúde sexual. No entanto, a mais evidenciada foi educação em saúde. Conclusão:
A enfermagem pode contribuir de vários modos e nos diversos espaços do cuidar,
em busca do cuidado holístico, vida sexual saudável e satisfatória, livre de
preconceitos e violência.
Palavras-chave: cuidados de
enfermagem, mulheres idosas, sexualidade.
Abstract
Sexuality of elderly women and nursing contributions
Introduction: The sexuality of elderly women is a delicate topic, full of taboos and
global difficulties. There is a need for nursing to build health practices by
better addressing the subject, in search of new conceptions and advances in the
area. Objective: To know the nursing contributions to the sexuality of
elderly women. Methods: Narrative review carried out in the Virtual
Health Library, Pubmed and Scientific Electronic
Library Online databases, addressing studies from 2016 to 2020, in Portuguese,
English and Spanish, using the keywords nursing care, sexuality and elderly
women. The publications were read and analyzed. Results: Few studies
were found specifying elderly women and nursing care. Among the nursing
contributions listed, we have: health education for
elderly women about sexuality, training of the nursing team, research in the
area, support and reception, nursing consultation, Pap smear collection,
nursing and elderly awareness about sexual health. However, the most evident
was health education. Conclusion: Nursing can contribute in various ways
and in different spaces of care, in search of holistic care, healthy and
satisfactory sexual life, free of prejudice and violence.
Keywords:
nursing care, elderly women, sexuality.
Resumen
Sexualidad de las mujeres mayores y contribuciones de la enfermería
Introducción: La sexualidad de las mujeres mayores es un tema delicado, lleno de tabúes y dificultades globales. Es necesario que la enfermería construya prácticas de salud mediante un mejor enfoque del tema, en busca de nuevas
concepciones y avances en el área. Objetivo: Conocer
las contribuciones de la enfermería a la sexualidad de las mujeres mayores.
Métodos: Revisión narrativa realizada en las bases de datos de la Biblioteca Virtual en Salud, Pubmed
y Scientific Electronic
Library Online, abordando estudios de 2016 a
2020, en portugués, inglés y español, utilizando los descriptores atención de enfermería, sexualidad y mujeres mayores. Las publicaciones
fueron leídas y analizadas. Resultados: Se encontraron
pocos estudios que especificaran mujeres mayores y atención de enfermería. Entre las contribuciones de enfermería
listadas, tenemos: educación
en salud para las mujeres mayores
sobre la sexualidad, formación del equipo de enfermería, investigación en el área, apoyo
y acogida, consulta de enfermería,
recogida de la prueba de Papanicolaou, sensibilización de la enfermería y de las mujeres mayores sobre la salud sexual. Sin embargo, lo más evidente fue la educación
en salud. Conclusión: La enfermería puede contribuir de varios modos
y en los varios espacios de atención, en busca de una atención holística, una vida sexual sana y satisfactoria, libre de prejuicios
y violencia.
Palabras-clave: atención
de enfermería, mujeres mayores, sexualidad.
A sexualidade é
entendida numa perspectiva ampla, não se limitando ao ato sexual, pode ser
expressa através do abraço, do carinho e do companheirismo, é uma manifestação
presente em todas as fases da vida [1]. Vem sendo investigada com maior ênfase
desde o século XIX. A sexualidade de idosas é um tema delicado, repleto de
tabus e de dificuldade global. Fatores psicológicos, socioculturais e
biológicos apresentam repercussão para a prática sexual saudável dessa
população [2,3].
A forma como as mulheres
vivenciam e percebem sua sexualidade representa a ligação entre o conhecimento
científico e o senso comum, trazendo informações para a saúde sexual e o
bem-estar [4]. As idosas de hoje tiveram uma educação rígida estabelecida desde
os séculos anteriores, seguindo a cultura da preservação da virgindade até o
casamento, papéis voltados para serviços domésticos, reprodução e criação de
filhos e submissão ao cônjuge [5,6]. Historicamente sua sexualidade foi
reprimida e silenciada, considerada como algo impuro, exclusivo à reprodução e
não ao prazer [1,3].
A idosa sente medo de
tornar-se ridícula, por isso, mantém uma postura mais discreta. Seus familiares
não estimulam novos relacionamentos amorosos, desta forma, ela tem uma relação
de submissão aos filhos e presas aos julgamentos dos mesmos [5,7]. No entanto,
atualmente a mulher vem conquistando seu espaço e com o processo da feminização
do envelhecimento, elas estão valorizando a vivência da sexualidade, buscando
relações mais livres e com maior satisfação [8]. A ideia de apenas satisfazer o
parceiro está mudando, mas, a afetividade tem papel fundamental na relação [4].
A prática sexual e o desejo não se esgotam com o envelhecimento, apenas se
modificam, desmistificando a visão que a pessoa idosa é assexuada [2,9].
Apesar de avanços,
observamos a falta de capacitação de profissionais de saúde, sobretudo da
enfermagem, para atender essa demanda livre de críticas e preconceitos,
proporcionando melhora da qualidade de vida, cuidado integral e emancipador em
saúde [9]. A abordagem inadequada dos profissionais, considerando que os idosos
não têm vida sexual ativa atua negativamente, pois eles não dialogam e nem
questionam sobre a prática sexual, interferindo na qualidade da assistência,
tornando um problema vivenciado, mas não tratado e negligenciando essa
necessidade humana básica [3,10].
É imprescindível
aprofundarmos nessa temática, pois vem ocorrendo uma revolução sexual,
refletindo nas idosas, dessa forma, concretizaremos os benefícios da
sexualidade saudável. Nesta perspectiva, há uma necessidade da enfermagem em
construir práticas em saúde abordando melhor a sexualidade no envelhecimento,
em busca de novas concepções e propostas de estudos para avanços na área [11].
Considerando que pesquisas nesse assunto são escassas e que existem lacunas na
literatura, o objetivo deste estudo foi conhecer as contribuições da enfermagem
para a sexualidade de idosas.
Trata-se de uma revisão
narrativa da literatura. Os artigos de revisão narrativa são publicações amplas
que descrevem um determinado assunto, do ponto de vista teórico, utilizando
publicações de livros e revistas impressas e/ou eletrônicas. Permite ao leitor
atualização do conhecimento sobre um tema em curto espaço de tempo [12].
Foram realizadas buscas
nas bases de dados BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Pubmed
e Scielo (Scientific Electronic Library Online), com os Descritores em Ciências
da Saúde (DeCS) e Medical Subject
Headings (MeSH):
Cuidados de enfermagem (Nursing care);
Sexualidade (Sexuality); Mulheres idosas (Elderly women). Critérios de
inclusão dos artigos: pesquisas disponíveis na íntegra, em português, inglês e
espanhol, publicadas no período de 2016 a 2020. Como exclusão consideramos os trabalhos
não disponíveis na íntegra, repetidos e aqueles que não responderam ao objetivo
da revisão.
Nas bases de dados
utilizadas e com os descritores citados acima, encontramos: 9 publicações na
BVS; 0 na Pubmed; 0 na Scielo.
No entanto, para o estudo foram usadas apenas 7 da BVS. Procedeu-se a leitura
detalhada das publicações e realizada a interpretação e discussão dos
resultados.
Os aspectos éticos
deste trabalho foram preservados. Todos os autores dos artigos utilizados foram
referenciados adequadamente. As informações apresentadas são fidedignas.
A combinação dos
descritores e a aplicação de critérios de inclusão e exclusão resultou em 7
publicações na BVS. Na Pubmed e Scielo
não foram encontradas publicações sobre o assunto proposto. A maioria das
pesquisas engloba idosos de forma geral, poucos estudos foram encontrados
especificando sexualidade de idosas e cuidados de enfermagem.
Para caracterização,
análise e síntese das publicações inclusas, foi elaborado um quadro
desenvolvido no programa Microsoft Word (Quadro 1), especificando de cada
artigo: título, ano, tipo de estudo, objetivos e contribuições da enfermagem.
Quadro 1- Caracterização,
análise e síntese de artigos inclusos.
Sete artigos compuseram
a amostra desta revisão, a qual se propôs conhecer as contribuições da
enfermagem para a sexualidade de idosas. Desses, seis utilizaram a metodologia
qualitativa e um a revisão integrativa.
Dentre as contribuições
de enfermagem elencadas, temos: educação em saúde para idosas sobre
sexualidade, capacitação da equipe de enfermagem, pesquisas na área, apoio e
acolhimento, consulta de enfermagem, coleta de Papanicolau, sensibilização da
enfermagem e das idosas sobre saúde sexual. No entanto, a contribuição mais
evidenciada foi educação em saúde.
Educação em saúde com
enfoque da sexualidade
As práticas educativas
são importantes ferramentas do cuidado, podendo ser realizadas em hospitais,
Estratégia Saúde da Família, ambulatórios e instituições de longa permanência,
seja, individualmente na consulta de enfermagem ou em formas de grupos [17,18].
A educação em saúde
possibilita o empoderamento social, influenciando na qualidade de vida, deve
atuar na perspectiva de promoção da saúde com uma visão positiva da sexualidade
no envelhecimento [14,15]. Na atualidade, a metodologia ativa de ensino vem
sendo utilizada por profissionais da saúde para intervenções na população. Esse
modelo é uma superação do ensino tradicional e passivo, incorpora vivências e
realidade dos participantes através do diálogo e reflexão crítica,
transformando saberes e práticas em busca da autonomia e emancipação dos
educandos, eles serão protagonistas do seu aprendizado. Esse método é baseado
no pensamento freiriano proporcionando ação-reflexão-ação, com dimensão
coletiva e social [19].
O Itinerário de
Pesquisa de Freire é composto pelas seguintes etapas: investigação temática
(entrevistas e círculos de cultura); codificação (categorização das
situações-limites e definição dos temas geradores); decodificação (dos temas
geradores em conteúdo programático organizado em círculos de cultura);
desvelamento crítico (em círculos de cultura) [19].
O círculo de cultura é
formado por um grupo de pessoas que se reúne para discutir sua realidade, tendo
como propósito analisar a prática cotidiana e atuar provocando mudanças de
atitude e melhoria da realidade vivenciada. Temas geradores são extraídos da
experiência de vida dos participantes sobre os problemas pensados a partir de
“situações-limite” vivenciadas no dia-a-dia. Codificação/decodificação
representa o momento de contextualização quando os temas são problematizados,
questionados, analisados e os participantes começam a ter visão crítica do
assunto discutido. Desvelamento crítico é o processo de ação-reflexão-ação para
a superação das contradições da realidade vivida. É a fase da tomada de
consciência da situação real [19].
Nos círculos de cultura
as participantes são alocadas em cadeiras dispostas em círculos para melhor
comunicação. O pesquisador é considerado como mobilizador, mediador, ou
moderador da ação-reflexão-ação, realizada pelos participantes, mantendo
relação horizontal e liberdade para o diálogo [19].
A
enfermagem pode
utilizar dessa ferramenta promissora para abordagem de temas como:
sexualidade
na terceira idade (concepções, vivência e
satisfação), prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis e Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS),
disfunções sexuais, exames de mama e Papanicolau.
A educação em saúde
contribui para a saúde integral, ultrapassando o processo saúde-doença, possibilitando
a promoção em saúde e humanização [15].
Capacitação da equipe
de enfermagem: um novo olhar
A sexualidade da idosa
é permeado de discriminação, rejeição e mal-entendido, interferindo na
assistência de enfermagem, restringindo ações e eliminando o tema da atuação do
enfermeiro [9].
Profissionais da saúde
têm dificuldades de abordagem desse assunto, preocupam-se com doenças crônicas,
isso se deve ao despreparo e da valorização do corpo jovem, um reforço para o
preconceito da sexualidade no envelhecimento [9,16]. Dessa forma, torna-se
imprescindível a capacitação para profissionais, em especial da enfermagem, que
é a categoria que tem mais contato com a cliente [2,20]. A formação acadêmica e
a educação continuada apresentam lacunas, impedindo o cuidado integral [21].
A atuação sobre
aspectos da sexualidade desvela condutas que se diversificam entre os
profissionais e suas subjetividades, não há padronizações ou recomendações
institucionais [21].
A manutenção de
capacitação dos profissionais envolvidos deve ser contínua, contribuindo para
assistência qualificada. As metodologias ativas de aprendizagem podem ser
utilizadas pelo enfermeiro para treinar sua equipe e outros enfermeiros sobre
sexualidade, despertando interesse e propondo prática pedagógica ética,
crítica, reflexiva e transformadora [22].
Os enfermeiros devem
estar preparados para acompanhar as idosas nessa transição, partilhando
conhecimentos e evidências científicas para o envelhecimento ativo [9].
Pesquisas sobre a temática
sexualidade de idosas
Na área de saúde, a
maioria das produções científicas trata a sexualidade voltada para questões
biológicas [13]. Por muito tempo esse tema foi deixado de lado e negligenciado
na área de pesquisa, devido ao desinteresse de profissionais e a inibição de
idosos para abordagem do assunto [20,23].
Como profissionais da
saúde e pesquisadores, temos o papel de desmistificar tabus e construir
saberes, proporcionando vida sexual saudável e digna para as idosas [5].
Estudos que explorem fatores envolvidos e dificuldades encontradas por essas
clientes contribuem para o cuidado holístico. Desta forma, torna-se importante
mais pesquisas sobre o tema, ainda tão pouco investigado, avançando no campo da
geriatria/gerontologia e repercutindo no bem-estar e qualidade de vida [11,16].
Os instrumentos como a
Escala de Atitudes e Conhecimento Sobre Sexualidade no Envelhecimento (ASKAS) e
a escala Quociente Sexual -Versão Feminina (QS-F) podem ser utilizados em
pesquisas para análise da sexualidade de idosas, fornecendo subsídios para
estratégias em saúde sexual.
ASKAS é uma escala de
origem norte-americana com o objetivo de medir o conhecimento e atitudes acerca
da sexualidade na velhice, idealizada por White (1982). Tem sido muito utilizada
em estudos internacionais [24]. Foi traduzida, adaptada e validada para versão
brasileira por Viana et al. (2008), contendo vinte questões na primeira parte
(falso/verdadeiro/não sei) que medem o conhecimento, variação de 20 a 60. Na
segunda parte, oito questões (escala Likert de 5
pontos: discordo fortemente, discordo parcialmente, não concordo nem discordo,
concordo parcialmente e concordo fortemente) que avaliam as atitudes, variação
de 8 a 40. Quanto menor o escore do entrevistado maior o conhecimento sobre
sexualidade na velhice e atitude positiva em relação ao interesse do idoso por
sexo. Pode ser aplicada em grupos ou individualmente, e assistida em casos de
pesquisa com idosos de baixa escolaridade [25].
O QS-F foi desenvolvido
no Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. O instrumento compõe-se de 10 questões, devendo ser
respondida numa escala de 0 a 5. O resultado da soma das 10 respostas deve ser
multiplicado por dois, o que resulta num índice total que varia de 0 a 100.
Valores maiores indicam melhor desempenho/satisfação sexual: 82 a 100 pontos
(bom a excelente); 62 a 80 (regular a bom); 42-60 (desfavorável a regular); 22 a
40 (ruim a desfavorável); 0 a 20 (nulo a ruim). É um instrumento útil para
avaliar o desempenho e a satisfação sexual feminina, elaborado especialmente
para população brasileira. Os domínios do QS-F avaliam todas as fases do ciclo
de resposta sexual além de contemplar outros domínios relacionados à
sexualidade feminina [26].
A satisfação sexual tem
forte relação com a autoestima positiva, saúde mental e física, proporcionando
melhor interação entre os parceiros [13].
Saúde sexual e exame citopatológico
O câncer de colo
uterino é um problema de saúde pública com altas taxas de incidência e
mortalidade. Estratégias de controle são necessárias através da promoção da
saúde, prevenção, detecção precoce, tratamento e cuidados paliativos se necessário
[27].
A detecção precoce é
feita pelo rastreamento através do exame citopatológico
(Papanicolau) [27]. O enfermeiro tem papel fundamental neste contexto, realiza
a coleta do exame e propõe intervenções educativas direcionadas ao câncer de
colo uterino, incentivando o autocuidado. Essas ações contribuem para a adesão
e realização do exame pela idosa, pois algumas não possuem informações sobre a
doença e a relevância do Papanicolau. Como não realizam o exame de forma
rotineira, tornam-se vulneráveis [28,29]. No entanto, o cuidado de enfermagem
direcionado para a sexualidade das idosas não deve se restringir apenas ao
Papanicolau, mas necessita de cuidados específicos para o avançar da
senescência [2,9].
Com o aumento de
perspectiva da vitalidade e com as descobertas modernas que favorecem o desejo
sexual, os idosos vêm evidenciando alterações nas atividades sexuais, no
entanto desconhecem informações sobre sexo seguro, tornando vulneráveis a
doenças sexualmente transmissíveis e ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
Algumas idosas acreditam que o preservativo não é necessário, pois não podem
mais engravidar. Desta forma, apresentam comportamento de risco. É fundamental
intervenções de políticas públicas com desenvolvimento de estratégias
preventivas, diagnóstico e restauração da saúde frente a essas doenças [30].
Consulta de enfermagem:
abordando a sexualidade
O processo de
enfermagem é um instrumento metodológico, privativo do enfermeiro, orientando o
cuidado de enfermagem e a documentação da prática profissional. Envolve cinco
etapas: coleta de dados, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação
e avaliação de enfermagem. Quando realizado em instituições prestadoras de
serviços ambulatoriais, domicílios, escolas e associações comunitárias é
denominado de consulta de enfermagem [31].
As consultas de
enfermagem devem ser um espaço confortável, com vínculo de confiança e
respeito, considerando que cada idosa necessita de atenção personalizada e
possui contextos diferentes [9]. Todas as áreas que são afetadas no
envelhecimento, inclusive sexual, devem ser abordadas [32].
A consulta aborda
assuntos íntimos e regiões que envolvem pudor, nesta oportunidade, deve
aproveitar para abordagem de assuntos relacionados à sexualidade, ao meio
psicossocial e possíveis disfunções sexual [11].
São barreiras para a
sexualidade de idosas: perdas hormonais, mudanças corporais, doenças crônicas,
algumas medicações e disfunções sexuais [16]. Como causas socioculturais temos
viuvez, falta de privacidade e de informação, além disso, temos a influência da
família, igreja e sociedade [13]. Nas emocionais incluem a ansiedade,
depressão, culpa e vergonha [13]. Também temos que considerar que parceiros com
impotência sexual, falta de desejo ou limitação física prejudicam a sexualidade
das mesmas [8].
O enfermeiro tem como
função orientar alternativas para intervir, atenuar e compensar os desgastes
que afetam o desempenho da sexualidade das idosas [33]. Se não puder resolver,
deverá encaminhar para o profissional pertinente [20]. A consulta de enfermagem
auxiliará no compartilhamento do conhecimento, contribuindo com o enfrentamento
da sexualidade no envelhecimento com naturalidade, permitindo sua vivência de
forma livre e prazerosa [9].
É fundamental incluir a
sexualidade de forma sistematizada nas rotinas do cuidado de enfermagem,
contribuindo para minimização de tabus e preconceitos. No entanto, é necessário
mudanças de paradigmas em saúde, na dinâmica do trabalho e reflexões sobre
valores pessoais [9].
Sensibilização
A sensibilização sobre
sexualidade no envelhecimento deve ser realizada com as idosas e com os
profissionais de saúde. O enfermeiro tem papel fundamental nesse desafio,
focando na importância da vivência sexual e seus benefícios, novas concepções,
quebra de tabus e visão profissional ampliada. A sensibilização possibilita
engajamento e reflexão sobre questões subjetivas [8,34].
Falar sobre sexo causa
desconforto, receio e pudor para as idosas que evitam expor suas experiências
sexuais e possuem postura reservada e atitudes negativas sobre o tema [30].
A discussão de questões
inerentes à sexualidade das idosas inclui um repensar da sociedade e de
profissionais da saúde, para que possam ser abordadas sem reduzi-las aos
aspectos biológicos, abrangendo percepções do corpo, prazer e valores
emergentes sobre sexualidade na contemporaneidade [9].
A sexualidade está
diretamente relacionada a percepção de qualidade de vida e, por ser uma função
vital humana, interfere no desempenho social, profissional, físico e psíquico
[11].
Apoio e acolhimento
Acolher significa
receber pessoas e a forma desse acolhimento vai ser determinante para o
tratamento e para não perder o sujeito na continuidade [35].
É necessário acolher as
idosas compreendendo e auxiliando nas suas dificuldades, valorizando a ligação
entre medidas preventivas e assistenciais. Estratégias que proporcionem
conforto na abordagem da sexualidade devem ser utilizadas, ganhando
credibilidade dessa população [9].
As modificações
corporais decorrentes do envelhecimento geram angústias e dúvidas, cabendo aos
profissionais apoiar emocionalmente, oferecendo suporte e alternativas para
amenizar essas mudanças [36].
A enfermagem tem nas
mãos ferramentas fundamentais para lidar com esse declínio. É importante
possuir habilidades para atender as diversidades vivenciadas por cada pessoa
[9].
Os enfermeiros podem
trabalhar a temática sexualidade numa perpectiva
crítica, utilizando oficinas para construção de autonomia e emancipação da
liberdade sexual. Rodas de conversas com escuta qualificada entre idosas podem
ser um momento para trocas dialógicas referentes aos anseios, dúvidas,
curiosidades e angústias sobre sexualidade. Desta forma, podemos apoiar e
acolher essa população [1].
As evidências
encontradas neste estudo demonstram a complexidade do tema. A enfermagem pode
contribuir de vários modos e nos diversos espaços do cuidar, pois estão
interligados e se complementando. Ressalta-se a importância desse profissional,
considerando a categoria mais presente com as idosas. No entanto, deve ser
preparado para a abordagem da sexualidade no envelhecimento, compreendendo as
particularidades e contextos diferentes. É imprescindível um novo olhar para
esse assunto, através da educação em saúde tanto para as idosas quanto para
profissionais, em busca do cuidado holístico, vida sexual saudável e satisfatória,
livre de preconceitos e violência.
Desse modo, existe um
desafio para o enfermeiro, pois terá que mudar também suas concepções sobre
sexualidade na terceira idade, tratar a questão com naturalidade. Novas
investigações são necessárias para enriquecer a compreensão e a prática clínica
sobre o tema.