Enferm Bras 2021;20(2):159-76
ARTIGO
ORIGINAL
Qualidade
de vida dos estudantes de enfermagem em uma instituição de ensino do Distrito
Federal/DF
Thiálita
Rebeca Oliveira de Castro*, Jessica de Almeida Rodrigues*, Jessica Cristina
Santana de Sousa*, Mylena de Souza Ribas*, Marcos
Vinicius da Silva*, Felipe Machado Freire**, Julliane
Messias Cordeiro Sampaio, D.Sc.***, Vanessa Alvarenga
Pegoraro, M.Sc.****
*Estudante
de graduação Enfermagem do UNICEUB, **Especialista em Auditoria, Gestão e
perícia ambiental, Universidade Candido Mendes/RJ, ***Professora Titular do
Curso de Enfermagem FACES/UNICEUB, ****Professora Assistente do Curso de
Enfermagem FACES/UNICEUB
Recebido
em 10 de agosto de 2020; aceito em 12 de março de 2021.
Correspondência: Vanessa Alvarenga Pegoraro,
FACES/UNICEUB, Campus Universitário, SEPN, Asa Norte, 70790-075 Brasília DF
Thiálita Rebeca Oliveira De
Castro: thialitacastro@gmail.com
Jessica de Almeida Rodrigues:
jessica.almeida@sempreceub.com
Jessica Cristina Santana de Sousa:
jessika_santana08@hotmail.com
Mylena de Souza Ribas:
mylena.ribass@gmail.com
Marcos Vinicius da Silva: marcosxt21@gmail.com
Felipe Machado Freire: fellipe.freire@ymail.com
Julliane Messias Cordeiro
Sampaio: julliane.sampaio@ceub.edu.br
Vanessa Alvarenga Pegoraro:
vanessa.pegoraro@ceub.edu.br
Resumo
Introdução: A qualidade de vida (QV) é mensurada
pelo grau de percepção do indivíduo em sua vida física, psicológica, relação
social e ambiente. Objetivo: Analisar a percepção sobre a qualidade de
vida dos estudantes de enfermagem, em uma universidade privada do Distrito
Federal/DF. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, descritivo e
quantitativo. A coleta de dados foi realizada com a utilização de um
questionário sociodemográfico e o instrumento para avaliar a qualidade de vida
intitulado WHOQOL-BREF. Resultados: Participaram do estudo 175
estudantes. Como resultado, encontrou-se que os estudantes apresentaram uma
qualidade de vida boa. Dentre os domínios do instrumento avaliativo de QV, o
pior apresentado foi o Psicológico, devido a sentimentos negativos, os quais
podem levar à ansiedade, estresse e até mesmo depressão. Já o melhor domínio
apresentado foi o Físico, considerado como bom. Conclusão: Os resultados
oriundos do estudo poderão contribuir para o planejamento de estratégias a
serem aplicadas, a fim de minimizar as dificuldades e conflitos identificados
que impactam na qualidade de vida dos estudantes.
Palavras-chave: qualidade de vida; estudantes de
enfermagem; indicadores de qualidade de vida.
Abstract
Quality of life of nursing students
in a teaching institution of the Distrito Federal/DF
Introduction: Quality of
life (QOL) is measured by the degree of perception of the individual in his
physical, psychological, social relationship and environment. Aim: This
study was to analyze the perception of the quality of life of nursing students
at a private university in the Distrito Federal/DF. Methods: This is a
cross-sectional, descriptive, and quantitative study. Data collection was
performed using a sociodemographic questionnaire and the instrument to assess
quality of life entitled WHOQOL-BREF. Results: 175 students participated
in the study. As a result, it was found that academics had a good quality of
life. Among the domains of the QOL assessment instrument, the worst presented
was Psychological, due to negative feelings, which can lead to anxiety, stress,
and depression. The best domain presented was Physical, considered as good. Conclusion:
It is concluded that with the results from the study they will be able to
contribute to the planning of strategies to be applied, to minimize the
difficulties and conflicts identified that has impact on the students' quality
of life.
Keywords: quality of life; students,
nursing; indicators of quality of life.
Resumen
Calidad de vida de los
estudiantes de enfermería en una institución docente de
Distrito Federal/DF
Introducción: La calidad de vida (CV) se mide por el grado de percepción del individuo en su relación
física, psicológica, social y entorno. Objetivo: Analizar
la percepción de la calidad de vida de los estudiantes de enfermería de una universidad
privada del Distrito Federal/DF. Métodos: Se
trata de un estudio
transversal, descriptivo y cuantitativo.
La recogida de datos se realizó mediante un cuestionario sociodemográfico y el
instrumento de evaluación de la
calidad de vida denominado WHOQOL-BREF. Resultados:
175 estudiantes participaron
en el estudio.
Como resultado, se encontró que los
académicos tenían una buena
calidad de vida. Entre los dominios del instrumento de evaluación de CV, el peor presentado fue Psicológico, debido a los sentimientos negativos, que pueden conducir a ansiedad, estrés e incluso depresión. El mejor dominio presentado fue Físico, considerado bueno. Conclusión: Los resultados del
estudio pueden contribuir a
la planificación de estrategias a aplicar, con el fin de minimizar las dificultades y conflictos identificados que impactan
en la calidad
de vida de los estudiantes.
Palabras-clave: calidad de
vida; estudiantes de enfermería;
indicadores de calidad de vida.
O ambiente universitário proporciona várias experiências,
tornando-se um período de transição da adolescência para a vida adulta.
Portanto o estudante pode passar por mudanças culturais, preocupações e
consequentemente novas expectativas por desenvolver-se tanto profissionalmente
quanto como pessoa [1].
Dessa forma, o estudante nessa nova fase, depara-se com uma
nova realidade e novas exigências de postura e iniciativa, podendo levá-lo a
conflitos [2].
Ao iniciar os estudos no ensino universitário, o estudante
se depara com desafios em um ambiente diferente, novas amizades, ritmo de
estudo acelerado, modificações em metodologias de ensino/aprendizagem,
cobranças de um bom desempenho acadêmico, assim como aumento na dedicação aos
estudos, implicando em distanciamento dos familiares, namorado (a) e amigos
[1].
Tais alterações descritas anteriormente podem conduzir a
sentimentos e emoções negativas, as quais poderão influenciar em seu futuro
trabalho, pois a profissão da enfermagem começa desde a graduação e suas
experiências. Estudos mostram que a formação influencia diretamente na
qualidade de vida dos acadêmicos. Diante dessas concepções, faz-se necessário,
desde a graduação, identificar as áreas de baixa qualidade de vida e
modificá-las para que, posteriormente, o estudante apresente melhores
resultados em sua vida profissional [3].
Estudos relacionam que o estresse pode provocar nos seres
humanos a utilizarem drogas lícitas, como o tabaco, utilizado por uma grande
parte dos acadêmicos, que buscam um redutor de estresse, devido às inúmeras
atividades feitas na universidade, dificuldades interpessoais no meio acadêmico
(pela qual utilizam do meio social entre fumantes para se enturmar) e dificuldades
de gestão de tempo. É, porém, um agravante à saúde em longo prazo, e leva a uma
péssima qualidade de vida [4].
A qualidade de vida deve ser aproximada pelo grau de
contentamento no indivíduo pela vida ambiental, amorosa, familiar, social, profissional,
estética e religiosa. Mas esse grau de contentamento é alterado a todo momento.
Devido à complexidade de se ter uma definição, já que vários autores citam
outras variantes, cada vez mais está sendo discutido no âmbito científico sobre
a definição da qualidade de vida e de como conseguir viver dentro de seus
padrões e expectativas para um bom grau de contentamento [5,6].
A Organização Mundial da Saúde (OMS) [7] define a qualidade
de vida como “A percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da
cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.
A fim de identificar essa percepção, a OMS produziu um
projeto no qual mede a qualidade de vida do ser humano. Mesmo com diferentes
culturas é possível verificar a qualidade de vida de uma determinada população.
Nesse projeto multicêntrico, a OMS destacou três aspectos essenciais para
indicar a qualidade de vida. Dentre eles são: a subjetividade, que reflete
sobre a compreensão da condição de saúde desse ser e sobre a compreensão não
médica na sua situação de vida; a multidimensionalidade, a qual reflete sobre a
análise de ser benéfico em diferentes aspectos; e a presença de elementos bons
e ruins em sua vida, na qual pode se refletir sentimentos positivos e
sentimentos negativos. O referido projeto se chama World Health Organization Quality of
Life (WHOQOL) [5].
O projeto WHOQOL-BREF é uma versão do instrumento
WHOQOL-100 com cem questões, sendo uma versão breve com vinte e seis perguntas,
que tem sua devida importância dentre os três aspectos de forma satisfatória
para analisar a qualidade de vida. Seus domínios a serem analisados são:
domínio físico, domínio psicológico, relações sociais e o meio ambiente [7].
Para ter uma satisfação com a vida acadêmica, é necessário
que se tenha uma boa relação com o bem-estar, já que estudos mostram que a
percepção positiva da vida acadêmica influencia em seu cotidiano de modo
positivo ou negativo, fazendo com que esses alunos tenham o menor índice de
reprovação [9].
A enfermagem possui grande probabilidade do estresse, já
que é uma profissão que lida diretamente com outras vidas e conflitos humanos.
Dessa forma, pode gerar sofrimento, estresse, sentimento de incapacidade e até
mesmo patologias. Portanto, a admissão de graduandos na enfermagem já pode
gerar fatores estressantes, devido a mudança repentina em sua vida, a difícil
adaptação ao novo ambiente acadêmico e a preocupação, como futuros
profissionais em não errar por lidar com vidas [10].
E para a contribuição de uma vida pessoal/interpessoal e
vida acadêmica de forma satisfatória, a fim de contribuir para seu sucesso e
bem-estar, é necessário que se tenha uma boa qualidade de vida. Desde a
graduação é necessário que se compreenda seus sentimentos, para o melhor
atendimento à população e maior chance de êxito em sua jornada acadêmica, para
que o acadêmico possa desfrutar de boas vivências para ter um processo positivo
de transição para a vida adulta [9,10].
Diante dessas considerações, desponta-se a seguinte questão
de pesquisa: Quais os fatores que prejudicam a qualidade de vida do graduando
em enfermagem? Portanto, o objetivo geral da presente pesquisa foi analisar a
percepção sobre a qualidade de vida dos acadêmicos de enfermagem, em uma
universidade privada do Distrito Federal/DF.
Trata-se de um estudo transversal, descritivo de abordagem
quantitativa, para avaliar a qualidade de vida dos estudantes de enfermagem.
Foi realizado no Centro Universitário de Brasília (UniCeub),
dos campi de Taguatinga e Asa Norte dos turnos matutino e noturno. A coleta de
dados ocorreu entre os dias 02/04/2020 e 31/04/2020.
Os critérios de inclusão adotados foram: ser acadêmico de enfermagem
do 1º ao 10º período do Centro Universitário de Brasília (UniCeub),
de ambos os campi que tenha respondido a todos os questionários, e que
aceitasse o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). E quanto aos
critérios de exclusão, foram excluídos os participantes que não eram do curso
de enfermagem e que não respondessem todas as perguntas dos questionários.
Os acadêmicos de enfermagem receberam um link para
responderem o questionário, por meio dos grupos de WhatsApp e plataforma do Google
Classroom. Ao abrir o link, visualiza-se o termo
de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para participar da pesquisa de
forma anônima e voluntária, contendo a informação do Comitê de Ética quanto aos
riscos, objetivos e privacidade da pesquisa.
Foram realizadas entrevistas com a aplicação de dois
instrumentos de pesquisa. Uma para conhecer os aspectos sociodemográficos,
econômicos e educacionais, e o outro foi um instrumento específico intitulado
WHOQOL-BREF, feito pela OMS, no qual verifica-se a qualidade de vida na
percepção do indivíduo nos últimos 15 dias.
A realização da coleta de dados efetuou-se pelo Google Forms, uma ferramenta online do Google, utilizada para
a realização de formulários, cujas respostas são colocadas em uma planilha que
é convertida para o Excel.
O instrumento WHOQOL-BREF possui 26 questões, sendo
dividido em quatro domínios e suas facetas são analisadas por cada questão. O
Domínio físico possui as seguintes facetas: Dor e desconforto; Energia e
fadiga; Sono e repouso; Mobilidade; Atividades da vida cotidiana; Dependência
de medicação e Capacidade de trabalho. O Domínio psicológico possui as
seguintes facetas: Sentimentos positivos; Pensar,
aprender, memória e concentração; Autoestima; Imagem corporal e aparência;
Sentimentos negativos; Espiritualidade/religião/crenças pessoais [8].
Ainda sobre os domínios, temos o das Relações sociais que
possui as seguintes facetas: Relações pessoais; Apoio social e Atividade
sexual. O Domínio Meio ambiente possui as seguintes facetas: Segurança física e
proteção; Ambiente no lar; Recursos financeiros;
Cuidados de saúde; Novas informações e habilidades; Recreação e lazer; Ambiente
físico e Transporte. O instrumento ainda contém duas questões sobre a
autoanálise da qualidade de vida [8].
O cálculo dos escores para a avaliação da qualidade de vida
foi realizado separando cada domínio e cada faceta. Dessa forma, cada domínio e
faceta tem seus escores com pontuações 0 e 100. No questionário verifica-se que
todas as 26 questões são respondidas de 1 a 5, contudo, na ferramenta utilizada
neste estudo [11], os escores são convertidos para uma escala de 0 a 100,
quanto maior o escore, mais positiva é a avaliação. Para o cálculo do escore,
foi utilizada a seguinte pontuação de 1% até 25% é avaliado como: qualidade de
vida que necessita melhorar; o escore de 26% até 50% é avaliado como: qualidade
de vida regular; o escore de 51% até 75% é avaliado como: boa e o escore de 76%
até 100% é avaliado como: muito boa, que é o ideal a ser alcançado [12].
A organização dos dados adquiridos foi realizada utilizando
o software Microsoft Excel 2010® [11], pertencente o Pacote Microsoft Office
2010® for Windows®. Foram desenvolvidas tabelas explicativas para análise
descritiva com o cálculo dos percentuais e médias no Excel, no intuito de
facilitar a acessibilidade ao invés de utilizar o software SPSS para calcular
os escores, sendo que o Excel é uma ferramenta mais simples de utilizar.
Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos
Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução nº. 466/12
do Conselho Nacional de Saúde com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do UniCEUB sob protocolo CAAE nº 29562020.2.0000.0023 e Número
do Parecer: 3.971.331.
Participaram do estudo 175 estudantes de enfermagem, do
primeiro ao décimo período do Centro universitário de Brasília, dos quais 44
dos estudantes são matriculados na Asa Norte e 131 no campus de Taguatinga.
Na tabela I são apresentados os perfis socioeconômicos e
demográficos dos estudantes de enfermagem como: campus em que está matriculado,
idade, semestre atual, sexo, cor/etnia, estado civil, meio de transporte para
ir a faculdade, se a pessoa trabalha, se tem filhos, se pratica exercícios
regularmente e se considera sua alimentação saudável.
Tabela
I - Distribuição das
variáveis sociodemográficas, econômicas e educacionais dos acadêmicos de
enfermagem do UniCEUB, 2020 (número total 175)
Na tabela I é possível verificar que o campus com maior
predominância nas respostas foi o de Taguatinga com 131 alunos (74,86%) e 44 alunos
(25,14%) da Asa Norte.
Entre os estudantes foi analisada uma predominância da
idade entre 21 e 24 anos com o total de 77 alunos (44%). O referido dado está
em concordância com um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP)
sobre o perfil dos estudantes de enfermagem, que evidenciou a predominância da
idade de 19 a 25 anos [13].
Neste estudo, a predominância em responder ao questionário
foi do terceiro semestre com o total de 43 alunos (24,57%). Já no estudo
realizado em uma instituição privada [14] a prevalência foi de estudantes do
primeiro semestre, com o total de 39 alunos (28,03%).
Observou-se a predominância do sexo feminino (89,71%) em
relação ao sexo masculino (10,29%). O curso de enfermagem carrega uma bagagem
histórica na qual mais mulheres se interessam pela área do que os homens [15].
Outro estudo também demonstra ter mais mulheres do que homens no curso [16].
O estudo mostrou que em relação a cor/etnia prevalece a cor branca com 86 alunos (49,14 %), seguido de pardo
(42,28%), negra (8%) e amarela (0,57% cada). Tal informação difere dos dados do
Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) [17], em que os brasilienses
se consideram predominantemente pardos/mulatos, em sequência brancos e, por
último, negros.
Quanto ao estado civil, prevalece entre os alunos o estado
de solteiro, com 154 alunos (88%), seguindo de 18 casados (10,29%) e 3 (1,71%)
divorciados. Em comparação com um estudo da Universidade de São Paulo (USP)
também foi evidenciado que a ampla maioria dos estudantes são solteiros (81,5%)
[13].
Sobre o meio de transporte, a pesquisa mostrou
predominância do uso de carro por 79 alunos (45,14%) seguido do uso de ônibus
(38,86%). A utilização do carro como meio de transporte é popular, oferta
bem-estar, conforto e sensação de liberdade, e mesmo em cidades que o
transporte público urbano seja de qualidade, contudo, um carro oferece
vivencias mais formidáveis [18].
Quanto à variável trabalho, verificou-se que 97 alunos
(55,43%) trabalham e 78 (44,57%) não trabalham. Existe uma maior dificuldade
dos acadêmicos de universidade pública em trabalhar, devido a matriz curricular
ser de período integral, diferente dos sujeitos da pesquisa em questão, que
estudam em universidade privada, o que oportuniza a trabalhar e estudar [16].
Para a variável filhos, foi evidenciado que a maioria dos
estudantes no total de 152 pessoas (86,86%) não possuem; os que possuem 23
totalizam pessoas (13,14%). O fato de ter filhos pode prejudicar a qualidade de
vida do acadêmico, devido à difícil conciliação entre a maternagem/paternagem, trabalho e dedicação ao meio acadêmico [14,19].
Quanto ao questionamento: “Você pratica
algum exercício físico regularmente?“, 58,29% referiram não praticar e 41,71% fazem
regularmente. Dados sobre os exercícios físicos em um estudo sobre a qualidade
de vida de estudantes de enfermagem relata que são mais sedentários devido a
dedicação de maior tempo aos estudos [20].
E quanto à indagação: “Você considera sua alimentação
saudável?”, há preponderância de 64% dos que não consideram ter uma alimentação
saudável e 36% referem deter. Ao comparar a qualidade do hábito alimentar dos
estudantes de medicina de Goiás, os quais 38,7% relatam ter uma alimentação
saudável, com os do presente estudo, os acadêmicos de medicina apresentaram
melhor resultado por possuírem hábitos alimentares baseado em maior consumo de
frutas e hortaliças, assim como maior prática da atividade física regularmente
[21].
A fim de investigar sobre a qualidade de vida dos
acadêmicos de enfermagem em relação a cada domínio, foram calculados os escores
médios e representados na figura 1.
Figura
1 - Escore médio dos
domínios da qualidade de vida do WHOQOL-BREF dos acadêmicos de enfermagem, da
faculdade UniCEUB
Considerando o escore total dos acadêmicos de enfermagem
quanto a qualidade de vida, observa-se que apresentaram uma qualidade de vida
boa (Figura 1), com o escore de 61,19%, o que se torna compatível com o que os mesmos se autoavaliaram quanto ao questionamento se
possuíam qualidade de vida (Figura 2), com 59,71%.
Verificou-se o escore médio entre os domínios e em primeiro
lugar foi o Domínio físico (64,41%), em segundo lugar Domínio ambiente
(63,41%), em terceiro lugar Domínio Relações sociais (61,10%) e em quarto o
Domínio psicológico (55,00%).
O melhor domínio apresentado foi o Domínio Físico com média
de 64,41% de satisfação, sendo considerada boa qualidade de vida. Um estudo
multinacional apresentou que o melhor domínio também foi o físico. Sendo assim,
os estudantes brasilienses estão dentro das medidas tangíveis [22].
O pior domínio apresentado neste estudo foi o Domínio
Psicológico, podendo ser considerado como boa qualidade de vida, mesmo que
tenha sido o de menor escore, em comparação com um estudo da percepção da
qualidade de vida da Universidade Federal de Brasília (UNB) com estudantes de
enfermagem, que também evidenciou o menor escore no domínio psicológico, com a
média de 69,6% [23]. Um estudo na Arábia Saudita relatou que os estudantes com
melhor escore no domínio psicológico foram aqueles que possuíam maior renda e
que seguiam alguma religião [24].
Para melhor compreensão das facetas de cada domínio, os
escores médios serão apresentados na figura 2.
Domínio Físico: Cor Azul; Domínio Psicológico: Cor Verde;
Domínio de Relações Pessoais: Cor Lilás; Domínio Ambiente: Cor Amarela;
Questionamento sobre autoavaliação da qualidade de vida: Cor Rosa.
Figura
2- Escore médio de
cada faceta do WHOQOL-BREF, dos acadêmicos de enfermagem do UniCEUB
Conforme a figura 2, pode-se observar primeiramente as
facetas do domínio físico. Sua pior faceta foi Energia e Fadiga com média de
54,71%, sendo considerada como boa. Este dado se sustenta com a faceta de
sentimentos negativos de pesquisas que referiram que os sentimentos negativos
podem conduzir à diminuição de energia e fadiga, o que pode resultar em baixo
rendimento escolar e a utilização de drogas para maior concentração e
desenvolvimento nos estudos [25].
Entretanto, sua melhor faceta foi a de Mobilidade com média
de 84,29%, sendo considera como muito boa, portanto, a maioria dos acadêmicos
demostrou não ter problemas em questão de mobilidade física.
A melhor faceta do domínio psicológico foi a de Autoestima
com média de 68,43%, representando um escore bom, assemelhando-se à faceta de
Imagem corporal e aparência com a média de 56,86%, também considerada com o
escore bom.
A faceta de sentimentos negativos com média de 40,86 % no
presente estudo é representeada pela ansiedade, estresse, mau humor, desânimo,
desespero e depressão. Deve ser observada com cautela nos acadêmicos, devido à
alta incidência de idealização suicida entre os estudantes da área da saúde, e
as universidades devem estar preparadas para ajudar esses estudantes com
estratégias de intervenção. Os autores mencionam ainda que esses sentimentos
negativos podem ser reduzidos com o apoio de familiares e de amigos [26,27].
Devido
a situação de pandemia por COVID-19, momento em que
ocorreu a coleta de dados, os estudantes podem ter sido afetados quanto
aos
sentimentos negativos, favorecendo o aparecimento de ansiedade,
estresse e
depressão, por conta da incerteza quanto à
evolução, duração e condução
da nova
realidade com o isolamento social. Os sintomas mencionados podem se
agravar,
principalmente pela influência midiática [28].
Já a faceta que se refere a pensar, aprender, memória e
concentração tiveram média de 51,57%, sendo classificado como boa. Dessa forma,
é necessário dar maior atenção a esses dados, pois a falta de concentração pode
estimular o uso de nootrópicos, conhecidos como “smart drugs” ou drogas da
inteligência, por possuírem ação cerebral para aumentar o foco, a atenção, a
memória e o raciocínio a fim de se obter melhores
resultados no ambiente acadêmico [25].
A faceta Sentimento positivo obteve escore médio de 60,57%,
sendo classificada como boa. No questionário WHOQOL-BREF essa faceta é avaliada
pela pergunta “O quanto você aproveita a vida?” Diante disso, pode-se dizer que
a maioria dos estudantes de enfermagem consideram que possuem bom
aproveitamento da vida fora do ambiente acadêmico, o que condiz com a faceta
Recreação e lazer do domínio Ambiente com escore médio de 61,71%, sendo
classificada como boa também.
No domínio Relações sociais a sua melhor faceta foi a de
relações pessoais com o total de 64,00%, sendo classificada como boa,
ligeiramente menor que com uma leitura similar [29] o domínio de Relações
Sociais possui o maior escore com 71,1%.
O domínio Ambiente demonstra ser o segundo melhor no
quesito de boa qualidade de vida com escore médio de 63,41% (figura 1). Sua
pior faceta foi recursos financeiros com média de 52,57%, o que se classifica
como boa, este fato pode ser devido a 44,57% (Tabela I) dos estudantes não
trabalharem e dependerem de financiamento familiar, o que a longo prazo pode
vir a causar frustração e uma qualidade de vida ruim [23,24]. A segunda pior
faceta do domínio Ambiente, foi a de Segurança física e proteção com escore
médio de 53,86%, sendo classificado como boa. Os percentuais descritos podem
ser devido a população do Distrito Federal considerar possuir uma “sensação de
insegurança”, apesar da proteção do estado [30].
Outra faceta do domínio ambiente que vale destacar é a de
cuidados de saúde com escore médio de 66,57%, sendo classificada como boa, o
que coaduna com outras literaturas [29], as quais demonstraram que os
acadêmicos apresentaram boa qualidade de vida em relação a própria saúde em
54,4%.
Outra importante faceta foi do Ambiente do lar, a qual
se expressa boa com 73,57%, e que novamente se concilia com o bom apoio
familiar. Um estudo semelhante [31] constata que os acadêmicos de enfermagem
que têm pouco tempo para conviverem em família, podem vir a ter mais ansiedade
e estresse, devido à falta de apoio familiar.
O uso do instrumento WHOQOL-BREF de avaliação de QV
permitiu conhecer a multidimensionalidade em que os acadêmicos de enfermagem do
UniCEUB se encontram e avaliar as facetas de cada
domínio. O instrumento utilizado mostrou-se legítimo ao propósito de analisar a
percepção sobre a qualidade de vida dos acadêmicos de enfermagem, em uma
universidade privada do Distrito Federal, por identificar os diversos aspectos
que envolvem o quesito qualidade de vida.
Em virtude dos dados apresentados, conclui-se que os
estudantes do UniCEUB possuem uma boa qualidade de
vida. Entretanto, faz-se necessário entender que a qualidade de vida não é
apenas sobre ter uma boa saúde física, por ter o maior escore, mas, sim,
entender todos os aspectos da sua vida, assim como o Físico, Ambiente, as
Relações sociais e o Psicológico de cada indivíduo, podendo entender de forma
subjetiva quais as áreas que podem estar prejudicando estes acadêmicos.
Como evidenciado, a faceta que mais se encontra fragilizada
entre os acadêmicos do UniCEUB são os sentimentos
negativos, os quais podem levar à ansiedade, estresse e até mesmo depressão.
Vale destacar que a etapa da coleta de dados foi no período de isolamento
social profilático proposto pela pandemia por COVID-19 e pode ter influenciado
nos resultados obtidos, pois as pessoas encontram-se em fase de adaptação à
nova rotina, inclusive a diferentes estratégias educacionais propostas pelas
universidades. Estudos já demonstram que sentimentos negativos podem dificultar
que os acadêmicos possuam uma qualidade de vida considerada muito boa e,
consequentemente, as vivências negativas no âmbito universitário podem
influenciar em sua futura vida profissional.
Os resultados oriundos do estudo podem contribuir para o
planejamento de estratégias a serem aplicadas, a fim de minimizar as
dificuldades e conflitos identificados que recaem na qualidade de vida dos
estudantes.