Enferm Bras 2021;20(2):159-76

doi: 10.33233/eb.v20i2.4327

ARTIGO ORIGINAL

Qualidade de vida dos estudantes de enfermagem em uma instituição de ensino do Distrito Federal/DF

 

Thiálita Rebeca Oliveira de Castro*, Jessica de Almeida Rodrigues*, Jessica Cristina Santana de Sousa*, Mylena de Souza Ribas*, Marcos Vinicius da Silva*, Felipe Machado Freire**, Julliane Messias Cordeiro Sampaio, D.Sc.***, Vanessa Alvarenga Pegoraro, M.Sc.****

 

*Estudante de graduação Enfermagem do UNICEUB, **Especialista em Auditoria, Gestão e perícia ambiental, Universidade Candido Mendes/RJ, ***Professora Titular do Curso de Enfermagem FACES/UNICEUB, ****Professora Assistente do Curso de Enfermagem FACES/UNICEUB

 

Recebido em 10 de agosto de 2020; aceito em 12 de março de 2021.

Correspondência: Vanessa Alvarenga Pegoraro, FACES/UNICEUB, Campus Universitário, SEPN, Asa Norte, 70790-075 Brasília DF

 

Thiálita Rebeca Oliveira De Castro: thialitacastro@gmail.com

Jessica de Almeida Rodrigues: jessica.almeida@sempreceub.com

Jessica Cristina Santana de Sousa: jessika_santana08@hotmail.com

Mylena de Souza Ribas: mylena.ribass@gmail.com

Marcos Vinicius da Silva: marcosxt21@gmail.com

Felipe Machado Freire: fellipe.freire@ymail.com

Julliane Messias Cordeiro Sampaio: julliane.sampaio@ceub.edu.br

Vanessa Alvarenga Pegoraro: vanessa.pegoraro@ceub.edu.br

 

Resumo

Introdução: A qualidade de vida (QV) é mensurada pelo grau de percepção do indivíduo em sua vida física, psicológica, relação social e ambiente. Objetivo: Analisar a percepção sobre a qualidade de vida dos estudantes de enfermagem, em uma universidade privada do Distrito Federal/DF. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, descritivo e quantitativo. A coleta de dados foi realizada com a utilização de um questionário sociodemográfico e o instrumento para avaliar a qualidade de vida intitulado WHOQOL-BREF. Resultados: Participaram do estudo 175 estudantes. Como resultado, encontrou-se que os estudantes apresentaram uma qualidade de vida boa. Dentre os domínios do instrumento avaliativo de QV, o pior apresentado foi o Psicológico, devido a sentimentos negativos, os quais podem levar à ansiedade, estresse e até mesmo depressão. Já o melhor domínio apresentado foi o Físico, considerado como bom. Conclusão: Os resultados oriundos do estudo poderão contribuir para o planejamento de estratégias a serem aplicadas, a fim de minimizar as dificuldades e conflitos identificados que impactam na qualidade de vida dos estudantes.

Palavras-chave: qualidade de vida; estudantes de enfermagem; indicadores de qualidade de vida.

 

Abstract

Quality of life of nursing students in a teaching institution of the Distrito Federal/DF

Introduction: Quality of life (QOL) is measured by the degree of perception of the individual in his physical, psychological, social relationship and environment. Aim: This study was to analyze the perception of the quality of life of nursing students at a private university in the Distrito Federal/DF. Methods: This is a cross-sectional, descriptive, and quantitative study. Data collection was performed using a sociodemographic questionnaire and the instrument to assess quality of life entitled WHOQOL-BREF. Results: 175 students participated in the study. As a result, it was found that academics had a good quality of life. Among the domains of the QOL assessment instrument, the worst presented was Psychological, due to negative feelings, which can lead to anxiety, stress, and depression. The best domain presented was Physical, considered as good. Conclusion: It is concluded that with the results from the study they will be able to contribute to the planning of strategies to be applied, to minimize the difficulties and conflicts identified that has impact on the students' quality of life.

Keywords: quality of life; students, nursing; indicators of quality of life.

 

Resumen

Calidad de vida de los estudiantes de enfermería en una institución docente de Distrito Federal/DF

Introducción: La calidad de vida (CV) se mide por el grado de percepción del individuo en su relación física, psicológica, social y entorno. Objetivo: Analizar la percepción de la calidad de vida de los estudiantes de enfermería de una universidad privada del Distrito Federal/DF. Métodos: Se trata de un estudio transversal, descriptivo y cuantitativo. La recogida de datos se realizó mediante un cuestionario sociodemográfico y el instrumento de evaluación de la calidad de vida denominado WHOQOL-BREF. Resultados: 175 estudiantes participaron en el estudio. Como resultado, se encontró que los académicos tenían una buena calidad de vida. Entre los dominios del instrumento de evaluación de CV, el peor presentado fue Psicológico, debido a los sentimientos negativos, que pueden conducir a ansiedad, estrés e incluso depresión. El mejor dominio presentado fue Físico, considerado bueno. Conclusión: Los resultados del estudio pueden contribuir a la planificación de estrategias a aplicar, con el fin de minimizar las dificultades y conflictos identificados que impactan en la calidad de vida de los estudiantes.

Palabras-clave: calidad de vida; estudiantes de enfermería; indicadores de calidad de vida.

 

Introdução

 

O ambiente universitário proporciona várias experiências, tornando-se um período de transição da adolescência para a vida adulta. Portanto o estudante pode passar por mudanças culturais, preocupações e consequentemente novas expectativas por desenvolver-se tanto profissionalmente quanto como pessoa [1].

Dessa forma, o estudante nessa nova fase, depara-se com uma nova realidade e novas exigências de postura e iniciativa, podendo levá-lo a conflitos [2].

Ao iniciar os estudos no ensino universitário, o estudante se depara com desafios em um ambiente diferente, novas amizades, ritmo de estudo acelerado, modificações em metodologias de ensino/aprendizagem, cobranças de um bom desempenho acadêmico, assim como aumento na dedicação aos estudos, implicando em distanciamento dos familiares, namorado (a) e amigos [1].

Tais alterações descritas anteriormente podem conduzir a sentimentos e emoções negativas, as quais poderão influenciar em seu futuro trabalho, pois a profissão da enfermagem começa desde a graduação e suas experiências. Estudos mostram que a formação influencia diretamente na qualidade de vida dos acadêmicos. Diante dessas concepções, faz-se necessário, desde a graduação, identificar as áreas de baixa qualidade de vida e modificá-las para que, posteriormente, o estudante apresente melhores resultados em sua vida profissional [3].

Estudos relacionam que o estresse pode provocar nos seres humanos a utilizarem drogas lícitas, como o tabaco, utilizado por uma grande parte dos acadêmicos, que buscam um redutor de estresse, devido às inúmeras atividades feitas na universidade, dificuldades interpessoais no meio acadêmico (pela qual utilizam do meio social entre fumantes para se enturmar) e dificuldades de gestão de tempo. É, porém, um agravante à saúde em longo prazo, e leva a uma péssima qualidade de vida [4].

A qualidade de vida deve ser aproximada pelo grau de contentamento no indivíduo pela vida ambiental, amorosa, familiar, social, profissional, estética e religiosa. Mas esse grau de contentamento é alterado a todo momento. Devido à complexidade de se ter uma definição, já que vários autores citam outras variantes, cada vez mais está sendo discutido no âmbito científico sobre a definição da qualidade de vida e de como conseguir viver dentro de seus padrões e expectativas para um bom grau de contentamento [5,6].

A Organização Mundial da Saúde (OMS) [7] define a qualidade de vida como “A percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

A fim de identificar essa percepção, a OMS produziu um projeto no qual mede a qualidade de vida do ser humano. Mesmo com diferentes culturas é possível verificar a qualidade de vida de uma determinada população. Nesse projeto multicêntrico, a OMS destacou três aspectos essenciais para indicar a qualidade de vida. Dentre eles são: a subjetividade, que reflete sobre a compreensão da condição de saúde desse ser e sobre a compreensão não médica na sua situação de vida; a multidimensionalidade, a qual reflete sobre a análise de ser benéfico em diferentes aspectos; e a presença de elementos bons e ruins em sua vida, na qual pode se refletir sentimentos positivos e sentimentos negativos. O referido projeto se chama World Health Organization Quality of Life (WHOQOL) [5].

O projeto WHOQOL-BREF é uma versão do instrumento WHOQOL-100 com cem questões, sendo uma versão breve com vinte e seis perguntas, que tem sua devida importância dentre os três aspectos de forma satisfatória para analisar a qualidade de vida. Seus domínios a serem analisados são: domínio físico, domínio psicológico, relações sociais e o meio ambiente [7].

Para ter uma satisfação com a vida acadêmica, é necessário que se tenha uma boa relação com o bem-estar, já que estudos mostram que a percepção positiva da vida acadêmica influencia em seu cotidiano de modo positivo ou negativo, fazendo com que esses alunos tenham o menor índice de reprovação [9].

A enfermagem possui grande probabilidade do estresse, já que é uma profissão que lida diretamente com outras vidas e conflitos humanos. Dessa forma, pode gerar sofrimento, estresse, sentimento de incapacidade e até mesmo patologias. Portanto, a admissão de graduandos na enfermagem já pode gerar fatores estressantes, devido a mudança repentina em sua vida, a difícil adaptação ao novo ambiente acadêmico e a preocupação, como futuros profissionais em não errar por lidar com vidas [10].

E para a contribuição de uma vida pessoal/interpessoal e vida acadêmica de forma satisfatória, a fim de contribuir para seu sucesso e bem-estar, é necessário que se tenha uma boa qualidade de vida. Desde a graduação é necessário que se compreenda seus sentimentos, para o melhor atendimento à população e maior chance de êxito em sua jornada acadêmica, para que o acadêmico possa desfrutar de boas vivências para ter um processo positivo de transição para a vida adulta [9,10].

Diante dessas considerações, desponta-se a seguinte questão de pesquisa: Quais os fatores que prejudicam a qualidade de vida do graduando em enfermagem? Portanto, o objetivo geral da presente pesquisa foi analisar a percepção sobre a qualidade de vida dos acadêmicos de enfermagem, em uma universidade privada do Distrito Federal/DF.

 

Material e métodos

 

Trata-se de um estudo transversal, descritivo de abordagem quantitativa, para avaliar a qualidade de vida dos estudantes de enfermagem. Foi realizado no Centro Universitário de Brasília (UniCeub), dos campi de Taguatinga e Asa Norte dos turnos matutino e noturno. A coleta de dados ocorreu entre os dias 02/04/2020 e 31/04/2020.

Os critérios de inclusão adotados foram: ser acadêmico de enfermagem do 1º ao 10º período do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), de ambos os campi que tenha respondido a todos os questionários, e que aceitasse o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). E quanto aos critérios de exclusão, foram excluídos os participantes que não eram do curso de enfermagem e que não respondessem todas as perguntas dos questionários.

Os acadêmicos de enfermagem receberam um link para responderem o questionário, por meio dos grupos de WhatsApp e plataforma do Google Classroom. Ao abrir o link, visualiza-se o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para participar da pesquisa de forma anônima e voluntária, contendo a informação do Comitê de Ética quanto aos riscos, objetivos e privacidade da pesquisa.

Foram realizadas entrevistas com a aplicação de dois instrumentos de pesquisa. Uma para conhecer os aspectos sociodemográficos, econômicos e educacionais, e o outro foi um instrumento específico intitulado WHOQOL-BREF, feito pela OMS, no qual verifica-se a qualidade de vida na percepção do indivíduo nos últimos 15 dias.

A realização da coleta de dados efetuou-se pelo Google Forms, uma ferramenta online do Google, utilizada para a realização de formulários, cujas respostas são colocadas em uma planilha que é convertida para o Excel.

O instrumento WHOQOL-BREF possui 26 questões, sendo dividido em quatro domínios e suas facetas são analisadas por cada questão. O Domínio físico possui as seguintes facetas: Dor e desconforto; Energia e fadiga; Sono e repouso; Mobilidade; Atividades da vida cotidiana; Dependência de medicação e Capacidade de trabalho. O Domínio psicológico possui as seguintes facetas: Sentimentos positivos; Pensar, aprender, memória e concentração; Autoestima; Imagem corporal e aparência; Sentimentos negativos; Espiritualidade/religião/crenças pessoais [8].

Ainda sobre os domínios, temos o das Relações sociais que possui as seguintes facetas: Relações pessoais; Apoio social e Atividade sexual. O Domínio Meio ambiente possui as seguintes facetas: Segurança física e proteção; Ambiente no lar; Recursos financeiros; Cuidados de saúde; Novas informações e habilidades; Recreação e lazer; Ambiente físico e Transporte. O instrumento ainda contém duas questões sobre a autoanálise da qualidade de vida [8].

O cálculo dos escores para a avaliação da qualidade de vida foi realizado separando cada domínio e cada faceta. Dessa forma, cada domínio e faceta tem seus escores com pontuações 0 e 100. No questionário verifica-se que todas as 26 questões são respondidas de 1 a 5, contudo, na ferramenta utilizada neste estudo [11], os escores são convertidos para uma escala de 0 a 100, quanto maior o escore, mais positiva é a avaliação. Para o cálculo do escore, foi utilizada a seguinte pontuação de 1% até 25% é avaliado como: qualidade de vida que necessita melhorar; o escore de 26% até 50% é avaliado como: qualidade de vida regular; o escore de 51% até 75% é avaliado como: boa e o escore de 76% até 100% é avaliado como: muito boa, que é o ideal a ser alcançado [12].

A organização dos dados adquiridos foi realizada utilizando o software Microsoft Excel 2010® [11], pertencente o Pacote Microsoft Office 2010® for Windows®. Foram desenvolvidas tabelas explicativas para análise descritiva com o cálculo dos percentuais e médias no Excel, no intuito de facilitar a acessibilidade ao invés de utilizar o software SPSS para calcular os escores, sendo que o Excel é uma ferramenta mais simples de utilizar.

Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do UniCEUB sob protocolo CAAE nº 29562020.2.0000.0023 e Número do Parecer: 3.971.331.

 

Resultados e discussão

 

Participaram do estudo 175 estudantes de enfermagem, do primeiro ao décimo período do Centro universitário de Brasília, dos quais 44 dos estudantes são matriculados na Asa Norte e 131 no campus de Taguatinga.

Na tabela I são apresentados os perfis socioeconômicos e demográficos dos estudantes de enfermagem como: campus em que está matriculado, idade, semestre atual, sexo, cor/etnia, estado civil, meio de transporte para ir a faculdade, se a pessoa trabalha, se tem filhos, se pratica exercícios regularmente e se considera sua alimentação saudável.

 

Tabela I - Distribuição das variáveis sociodemográficas, econômicas e educacionais dos acadêmicos de enfermagem do UniCEUB, 2020 (número total 175)

 

 

Na tabela I é possível verificar que o campus com maior predominância nas respostas foi o de Taguatinga com 131 alunos (74,86%) e 44 alunos (25,14%) da Asa Norte.

Entre os estudantes foi analisada uma predominância da idade entre 21 e 24 anos com o total de 77 alunos (44%). O referido dado está em concordância com um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) sobre o perfil dos estudantes de enfermagem, que evidenciou a predominância da idade de 19 a 25 anos [13].

Neste estudo, a predominância em responder ao questionário foi do terceiro semestre com o total de 43 alunos (24,57%). Já no estudo realizado em uma instituição privada [14] a prevalência foi de estudantes do primeiro semestre, com o total de 39 alunos (28,03%).

Observou-se a predominância do sexo feminino (89,71%) em relação ao sexo masculino (10,29%). O curso de enfermagem carrega uma bagagem histórica na qual mais mulheres se interessam pela área do que os homens [15]. Outro estudo também demonstra ter mais mulheres do que homens no curso [16].

O estudo mostrou que em relação a cor/etnia prevalece a cor branca com 86 alunos (49,14 %), seguido de pardo (42,28%), negra (8%) e amarela (0,57% cada). Tal informação difere dos dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) [17], em que os brasilienses se consideram predominantemente pardos/mulatos, em sequência brancos e, por último, negros.

Quanto ao estado civil, prevalece entre os alunos o estado de solteiro, com 154 alunos (88%), seguindo de 18 casados (10,29%) e 3 (1,71%) divorciados. Em comparação com um estudo da Universidade de São Paulo (USP) também foi evidenciado que a ampla maioria dos estudantes são solteiros (81,5%) [13].

Sobre o meio de transporte, a pesquisa mostrou predominância do uso de carro por 79 alunos (45,14%) seguido do uso de ônibus (38,86%). A utilização do carro como meio de transporte é popular, oferta bem-estar, conforto e sensação de liberdade, e mesmo em cidades que o transporte público urbano seja de qualidade, contudo, um carro oferece vivencias mais formidáveis [18].

Quanto à variável trabalho, verificou-se que 97 alunos (55,43%) trabalham e 78 (44,57%) não trabalham. Existe uma maior dificuldade dos acadêmicos de universidade pública em trabalhar, devido a matriz curricular ser de período integral, diferente dos sujeitos da pesquisa em questão, que estudam em universidade privada, o que oportuniza a trabalhar e estudar [16].

Para a variável filhos, foi evidenciado que a maioria dos estudantes no total de 152 pessoas (86,86%) não possuem; os que possuem 23 totalizam pessoas (13,14%). O fato de ter filhos pode prejudicar a qualidade de vida do acadêmico, devido à difícil conciliação entre a maternagem/paternagem, trabalho e dedicação ao meio acadêmico [14,19].

Quanto ao questionamento: “Você pratica algum exercício físico regularmente?“, 58,29% referiram não praticar e 41,71% fazem regularmente. Dados sobre os exercícios físicos em um estudo sobre a qualidade de vida de estudantes de enfermagem relata que são mais sedentários devido a dedicação de maior tempo aos estudos [20].

E quanto à indagação: “Você considera sua alimentação saudável?”, há preponderância de 64% dos que não consideram ter uma alimentação saudável e 36% referem deter. Ao comparar a qualidade do hábito alimentar dos estudantes de medicina de Goiás, os quais 38,7% relatam ter uma alimentação saudável, com os do presente estudo, os acadêmicos de medicina apresentaram melhor resultado por possuírem hábitos alimentares baseado em maior consumo de frutas e hortaliças, assim como maior prática da atividade física regularmente [21].

A fim de investigar sobre a qualidade de vida dos acadêmicos de enfermagem em relação a cada domínio, foram calculados os escores médios e representados na figura 1.

 

 

Figura 1 - Escore médio dos domínios da qualidade de vida do WHOQOL-BREF dos acadêmicos de enfermagem, da faculdade UniCEUB

 

Considerando o escore total dos acadêmicos de enfermagem quanto a qualidade de vida, observa-se que apresentaram uma qualidade de vida boa (Figura 1), com o escore de 61,19%, o que se torna compatível com o que os mesmos se autoavaliaram quanto ao questionamento se possuíam qualidade de vida (Figura 2), com 59,71%.

Verificou-se o escore médio entre os domínios e em primeiro lugar foi o Domínio físico (64,41%), em segundo lugar Domínio ambiente (63,41%), em terceiro lugar Domínio Relações sociais (61,10%) e em quarto o Domínio psicológico (55,00%).

O melhor domínio apresentado foi o Domínio Físico com média de 64,41% de satisfação, sendo considerada boa qualidade de vida. Um estudo multinacional apresentou que o melhor domínio também foi o físico. Sendo assim, os estudantes brasilienses estão dentro das medidas tangíveis [22].

O pior domínio apresentado neste estudo foi o Domínio Psicológico, podendo ser considerado como boa qualidade de vida, mesmo que tenha sido o de menor escore, em comparação com um estudo da percepção da qualidade de vida da Universidade Federal de Brasília (UNB) com estudantes de enfermagem, que também evidenciou o menor escore no domínio psicológico, com a média de 69,6% [23]. Um estudo na Arábia Saudita relatou que os estudantes com melhor escore no domínio psicológico foram aqueles que possuíam maior renda e que seguiam alguma religião [24].

Para melhor compreensão das facetas de cada domínio, os escores médios serão apresentados na figura 2.

 

 

Domínio Físico: Cor Azul; Domínio Psicológico: Cor Verde; Domínio de Relações Pessoais: Cor Lilás; Domínio Ambiente: Cor Amarela; Questionamento sobre autoavaliação da qualidade de vida: Cor Rosa.

Figura 2- Escore médio de cada faceta do WHOQOL-BREF, dos acadêmicos de enfermagem do UniCEUB

 

Conforme a figura 2, pode-se observar primeiramente as facetas do domínio físico. Sua pior faceta foi Energia e Fadiga com média de 54,71%, sendo considerada como boa. Este dado se sustenta com a faceta de sentimentos negativos de pesquisas que referiram que os sentimentos negativos podem conduzir à diminuição de energia e fadiga, o que pode resultar em baixo rendimento escolar e a utilização de drogas para maior concentração e desenvolvimento nos estudos [25].

Entretanto, sua melhor faceta foi a de Mobilidade com média de 84,29%, sendo considera como muito boa, portanto, a maioria dos acadêmicos demostrou não ter problemas em questão de mobilidade física.

A melhor faceta do domínio psicológico foi a de Autoestima com média de 68,43%, representando um escore bom, assemelhando-se à faceta de Imagem corporal e aparência com a média de 56,86%, também considerada com o escore bom.

A faceta de sentimentos negativos com média de 40,86 % no presente estudo é representeada pela ansiedade, estresse, mau humor, desânimo, desespero e depressão. Deve ser observada com cautela nos acadêmicos, devido à alta incidência de idealização suicida entre os estudantes da área da saúde, e as universidades devem estar preparadas para ajudar esses estudantes com estratégias de intervenção. Os autores mencionam ainda que esses sentimentos negativos podem ser reduzidos com o apoio de familiares e de amigos [26,27].

Devido a situação de pandemia por COVID-19, momento em que ocorreu a coleta de dados, os estudantes podem ter sido afetados quanto aos sentimentos negativos, favorecendo o aparecimento de ansiedade, estresse e depressão, por conta da incerteza quanto à evolução, duração e condução da nova realidade com o isolamento social. Os sintomas mencionados podem se agravar, principalmente pela influência midiática [28].

Já a faceta que se refere a pensar, aprender, memória e concentração tiveram média de 51,57%, sendo classificado como boa. Dessa forma, é necessário dar maior atenção a esses dados, pois a falta de concentração pode estimular o uso de nootrópicos, conhecidos como “smart drugs” ou drogas da inteligência, por possuírem ação cerebral para aumentar o foco, a atenção, a memória e o raciocínio a fim de se obter melhores resultados no ambiente acadêmico [25].

A faceta Sentimento positivo obteve escore médio de 60,57%, sendo classificada como boa. No questionário WHOQOL-BREF essa faceta é avaliada pela pergunta “O quanto você aproveita a vida?” Diante disso, pode-se dizer que a maioria dos estudantes de enfermagem consideram que possuem bom aproveitamento da vida fora do ambiente acadêmico, o que condiz com a faceta Recreação e lazer do domínio Ambiente com escore médio de 61,71%, sendo classificada como boa também.

No domínio Relações sociais a sua melhor faceta foi a de relações pessoais com o total de 64,00%, sendo classificada como boa, ligeiramente menor que com uma leitura similar [29] o domínio de Relações Sociais possui o maior escore com 71,1%.

O domínio Ambiente demonstra ser o segundo melhor no quesito de boa qualidade de vida com escore médio de 63,41% (figura 1). Sua pior faceta foi recursos financeiros com média de 52,57%, o que se classifica como boa, este fato pode ser devido a 44,57% (Tabela I) dos estudantes não trabalharem e dependerem de financiamento familiar, o que a longo prazo pode vir a causar frustração e uma qualidade de vida ruim [23,24]. A segunda pior faceta do domínio Ambiente, foi a de Segurança física e proteção com escore médio de 53,86%, sendo classificado como boa. Os percentuais descritos podem ser devido a população do Distrito Federal considerar possuir uma “sensação de insegurança”, apesar da proteção do estado [30].

Outra faceta do domínio ambiente que vale destacar é a de cuidados de saúde com escore médio de 66,57%, sendo classificada como boa, o que coaduna com outras literaturas [29], as quais demonstraram que os acadêmicos apresentaram boa qualidade de vida em relação a própria saúde em 54,4%.

Outra importante faceta foi do Ambiente do lar, a qual se expressa boa com 73,57%, e que novamente se concilia com o bom apoio familiar. Um estudo semelhante [31] constata que os acadêmicos de enfermagem que têm pouco tempo para conviverem em família, podem vir a ter mais ansiedade e estresse, devido à falta de apoio familiar.

 

Conclusão

 

O uso do instrumento WHOQOL-BREF de avaliação de QV permitiu conhecer a multidimensionalidade em que os acadêmicos de enfermagem do UniCEUB se encontram e avaliar as facetas de cada domínio. O instrumento utilizado mostrou-se legítimo ao propósito de analisar a percepção sobre a qualidade de vida dos acadêmicos de enfermagem, em uma universidade privada do Distrito Federal, por identificar os diversos aspectos que envolvem o quesito qualidade de vida.

Em virtude dos dados apresentados, conclui-se que os estudantes do UniCEUB possuem uma boa qualidade de vida. Entretanto, faz-se necessário entender que a qualidade de vida não é apenas sobre ter uma boa saúde física, por ter o maior escore, mas, sim, entender todos os aspectos da sua vida, assim como o Físico, Ambiente, as Relações sociais e o Psicológico de cada indivíduo, podendo entender de forma subjetiva quais as áreas que podem estar prejudicando estes acadêmicos.

Como evidenciado, a faceta que mais se encontra fragilizada entre os acadêmicos do UniCEUB são os sentimentos negativos, os quais podem levar à ansiedade, estresse e até mesmo depressão. Vale destacar que a etapa da coleta de dados foi no período de isolamento social profilático proposto pela pandemia por COVID-19 e pode ter influenciado nos resultados obtidos, pois as pessoas encontram-se em fase de adaptação à nova rotina, inclusive a diferentes estratégias educacionais propostas pelas universidades. Estudos já demonstram que sentimentos negativos podem dificultar que os acadêmicos possuam uma qualidade de vida considerada muito boa e, consequentemente, as vivências negativas no âmbito universitário podem influenciar em sua futura vida profissional.

Os resultados oriundos do estudo podem contribuir para o planejamento de estratégias a serem aplicadas, a fim de minimizar as dificuldades e conflitos identificados que recaem na qualidade de vida dos estudantes.

 

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