COVID-19 e a saúde
mental dos trabalhadores de saúde da atenção básica
Kairo Silvestre Meneses
Damasceno*, Magno Conceição das Merces**
*Secretaria Municipal de
Saúde de Salvador, Bahia, Brasil, **Departamento de Ciências da Vida,
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Salvador, Bahia, Brasil
Kairo Silvestre Meneses
Damasceno: kairodamasceno@hotmail.com
Magno Conceição das Merces: mmerces@uneb.br
Em dezembro de 2019,
casos inexplicáveis de pneumonia foram relatados em alguns hospitais na cidade
de Wuhan, China, com histórico de exposição ao grande mercado de frutos do mar
desta cidade. Foi confirmado ser uma infecção respiratória aguda causada por um
novo coronavírus, cujo patógeno é o SARS-CoV-2,
causador da doença COVID-19 [1,2].
A partir de então, o
novo coronavírus tornou-se pandêmico devido à sua
alta transmissibilidade e à disseminação assintomática, a qual dificulta a
detecção para o controle através da quarentena. Isso facilita o crescimento de
casos fatais em populações vulneráveis, como idosos e portadores de
comorbidades, sendo agravado ainda mais pelo fato de atualmente não haver
vacina ou tratamento antiviral para o novo coronavírus,
cujo tratamento é sintomático, com apoio da terapia intensiva para pacientes
graves [1,3,4].
No entanto, a
emergência desta nova doença traz outros impactos que vão além dos casos
confirmados e óbitos. Ela coloca à prova a estrutura de vigilância sanitária do
país, sobretudo no atual momento de redução de investimentos em pesquisa e no
Sistema Único de Saúde (SUS), que dificulta respostas ao avanço da doença bem
como a detecção precoce. Assim, esta pandemia pode estabelecer a necessidade de
racionar equipamentos médicos e intervenções, tendo em vista uma possível
escassez de leitos hospitalares e de terapia intensiva, além de afetar a
disponibilidade de mão de obra especializada, em razão dos trabalhadores de
saúde estarem adoecendo, por falta de equipamentos de proteção e contato com os
pacientes infectados [3-5].
Observa-se, pois, que
os trabalhadores dos serviços de saúde fazem parte de um grupo de alto risco
para a COVID-19, de forma que o adoecimento destes profissionais acende um
alarme para a redução de recursos humanos, o que compromete o potencial de
resposta à doença [3].
Este
cenário estende-se
à atenção básica de saúde, cuja
política (Política Nacional de Atenção
Básica –
PNAB), aprovada no ano de 2006, abrange ações de
promoção e proteção da saúde,
prevenção de agravos, diagnóstico e tratamento, no
âmbito individual ou
coletivo, de forma a reorganizar e reorientar as práticas em
saúde [6]. Os
trabalhadores deste modelo de atenção à
saúde estão expostos à realidade dos
conflitos sociais das comunidades e ao estresse decorrente da
violência nestas
áreas. Além disso, convivem diretamente com o sofrimento
do próximo, com a
escassez de recursos e a imensa demanda de responsabilidades, que
afetam a
resolutividade das ações, contribuem para o
desenvolvimento de doenças ligadas
ao trabalho e influenciam no processo de viver humano [7-10].
Entende-se que as
dificuldades e adoecimento dos trabalhadores de saúde da atenção básica podem
ser exacerbados durante a epidemia da doença COVID-19 e não se restringem ao
contágio pelo vírus e seus sintomas, mas também ao adoecimento mental em
virtude do estresse e da carga de trabalho que a situação exige [11].
Dessa maneira, os
principais motivos que levam os profissionais de saúde ao sofrimento mental
durante a pandemia são: medo de ser demitido e perder seus meios de
subsistência; medo de ser infectado e ser colocado em isolamento, separando-se
da família; sobrecarga física e mental; filhos em casa em virtude do fechamento
das escolas; necessidade de se atualizar sobre a nova doença; decisões difíceis
em relação as escolhas terapêuticas; luto pelas perdas dos pacientes e colegas;
estigma gerado na população com relação aos profissionais de saúde que estão em
contato com portadores da COVID-19; baixa remuneração; ausência de equipamentos
de proteção individual, dentre outros [3,12,13].
Portanto, cuidar da
saúde mental dos trabalhadores da saúde durante a pandemia da COVID-19 é
essencial para a segurança deles e dos pacientes. O gerenciamento da saúde
mental, do bem-estar psicossocial e da saúde física durante esse período
possibilita que os trabalhadores de saúde tenham melhor condição de desenvolver
suas atividades [3].
Dentre
as inúmeras estratégias
de melhoria da saúde mental dos profissionais de saúde, o
Ministério da Saúde recomenda, para a
redução do estresse, técnicas de
observação da
respiração com os trabalhadores, e/ou outras
Práticas Integrativas e
Complementares de saúde (PICS), que possam ser testadas neste
contexto [3].