Enferm Bras
2021;20(5):600-13
ARTIGO
ORIGINAL
Análise
do programa puericultura em uma Estratégia Saúde da Família na Amazônia
Vanessa
do Socorro Lisboa Balieiro*, Delis Miranda dos Santos**, Cláudia Cristina Pinto
Girard, M.Sc***, Tania de
Sousa Pinheiro Medeiros****
*Enfermeira,
especialista em enfermagem do trabalho, **Enfermeira, Hospital Regional do
Baixo Tocantins Santa Rosa, Abaetetuba, Pará, ***Enfermeira, Núcleo de Estudo e
Pesquisa em Educação e Saúde da Amazônia – NUPESA, Universidade do Estado do
Pará, ****Enfermeira, especialista em pediatria e neonatologia, Docente na Universidade do Estado do Pará e integrante
Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação e Saúde da Amazônia
Recebido
em 3 de maio de 2021; aceito em 15 de outubro de 2021.
Correspondência: Vanessa do Socorro Lisboa Balieiro,
Rua 23 de novembro, 2737 Matinha 68400000 Tucuruí PA
Vanessa do Socorro Lisboa Balieiro:
vanessalisboalive@gmail.com
Delis Miranda dos Santos: delis.miranda@hotmail.com
Cláudia Cristina Pinto Girard: claudiarupali@gmail.com
Tania de Sousa Pinheiro Medeiros:
tatapinheiro_20@hotmail.com
Resumo
O
programa puericultura se define como uma maneira de promover e proteger a saúde
das crianças, através de uma atenção integral, e um acompanhamento periódico e
sistemático. Objetivou-se, dessa forma, analisar o desempenho do programa de
puericultura em uma Estratégia Saúde da Família de Tucuruí. Estudo de abordagem
quantitativa, realizado em 105 prontuários e 46 cadernetas de crianças menores
de 1 ano de idade, no período de abril a setembro de 2019. Utilizou-se a
estatística descritiva para a análise dos dados. Os resultados da análise dos
prontuários foram: nenhum possuía o registro da variável sexo; 100% apresentavam
registro sobre o peso e apenas 0,9% sobre índice de massa corporal; 26%
registraram crianças em Aleitamento materno exclusivo e 2% possuíam registro
sobre suplementação de Vitamina A. A análise da caderneta de saúde da criança
apontou que 26% apresentavam registro sobre acompanhamento do desenvolvimento;
27% apresentavam atraso da vacina Pentavalente e 74%
registraram a suplementação de vitamina A. Conclui-se que há necessidade de
mais investimento na valorização do programa puericultura, incentivo à capacitação
dos profissionais e monitoramento do programa.
Palavras-chave: atenção básica; saúde da criança;
puericultura.
Abstract
Analysis of the childcare program in a Family Health
Strategy in the Amazon
The Childcare Program is defined to promote and
protect children's health through comprehensive care and regular and systematic
monitoring. The objective was to analyze the performance of the childcare
program in a Family Health Strategy in the municipality of Tucuruí,
PA. Study of quantitative descriptive approach, carried out in 105 medical
records and 46 health handbooks of children under 1 year old in the period from
April to September 2019. Descriptive statistics were used for data analysis.
The result of the analysis of the variables in the medical records showed that
none had the record of the gender; 100% had a record on weight and 0.9% on body
mass index. 26% had records of children on exclusive breastfeeding and only 2%
had records on Vitamin A supplementation. The analysis of data from the child's
health booklet showed that 26% had records on developmental monitoring; 27% on
the delay of Pentavalente vaccine and 74% on vitamin
A supplementation. We concluded that there is a need for more investment in the
valorization of the childcare program, incentive to the training and monitoring
of professionals.
Keywords: primary health care; child
health; childcare.
Resumen
Análisis del programa
de cuidado de niños en una Estrategia de Salud Familiar en el Amazonas
El
programa de puericultura se define como una forma de promover y proteger la salud de los
niños, a través de una atención
integral y un seguimiento
periódico y sistemático. De esta forma, el objetivo fue analizar el
desempeño del programa de
cuidado infantil en una Estrategia
de Salud Familiar en
Tucuruí. Estudio de abordaje
cuantitativo, realizado sobre 105 historias
clínicas y 46 libros de niños
menores de 1 año, de abril a septiembre
de 2019. Para el análisis
de datos se utilizó
estadística descriptiva. Los resultados del análisis de las historias clínicas fueron: ninguno tenía el
registro de la variable
género; el 100% tenía un récord de peso y solo un 0,9% de IMC; el 26% inscribió a los niños en lactancia
materna exclusiva y el 2% tenía
un historial de suplementos de vitamina A. El análisis del manual de salud del niño
mostró que el 26% tenía un historial de seguimiento del desarrollo; el 27% contaba con vacuna Pentavalente retrasada y el 74% registró suplementación con vitamina A. Se concluye que
es necesaria una mayor inversión en la
valorización del Programa
de Atención a la Infancia, incentivo a la formación de profesionales y seguimiento del Programa.
Palabras-clave: atención
primaria; salud infantil; puericultura.
A criança é um ser em desenvolvimento com direito a saúde,
portanto necessita de um conjunto de ações que zelem pela sua qualidade de vida
e garantia de seus direitos [1]. Neste sentido, a assistência à saúde da
criança é de suma importância, visto que, com um acompanhamento adequado,
pode-se reduzir a incidência de doenças prevalentes e problemas que possam
interferir em todo seu potencial, assim como pode aumentar as chances de promoção
de uma vida saudável em todos os aspectos: físico, emocional e social [2].
As ações para a promoção da integralidade da atenção à
saúde da criança são garantidas pela Constituição Federal de 1988, pelo
Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) e mais recentemente pela Política
Nacional de Atenção Integral a Saúde da Criança (PNAISC), neste sentido, todos
os serviços de saúde devem adotar as diretrizes da legislação que protejam este
ser [3].
A PNAISC, organizada em sete eixos estratégicos, é uma
política organizada para orientar e qualificar as ações e serviços de saúde da
criança no país, considerando os determinantes sociais e condicionantes que
asseguram o direito à vida e à saúde, tendo em vista à efetivação de medidas
que viabilizem o nascimento e o pleno desenvolvimento na infância, em condições
saudáveis e harmoniosas, bem como a redução das vulnerabilidades e riscos para
o adoecimento e outros agravos, a prevenção da morte prematura de crianças e as
doenças crônicas na idade adulta [4].
Entretanto, as pesquisas relacionadas à eficácia dos
programas de saúde e a redução de mortalidade infantil demonstram que no
período de 2000 a 2016 houve uma redução na mortalidade de 26,1% para 12,7%
óbitos de crianças menores de um ano no Brasil, no entanto, há divergências
destes indicadores entre as regiões brasileiras. Na região Norte a mortalidade
infantil corresponde a 15,5%, no Pará corresponde a 15,7% [5].
O programa puericultura criado na década de 90 vem
apresentando uma baixa adesão dos pais. Acredita-se que este fator está
atrelado ao aumento da procura por atendimento das crianças em áreas
hospitalares, aumentando os gastos de recursos públicos e perdendo-se a
oportunidade da realização da prevenção na Atenção Básica [6].
Além do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da
criança, por meio de consultas, o programa também realiza a atualização das
vacinas, que possui um papel fundamental na redução da mortalidade infantil, na
prevenção das doenças imunopreveníveis e na proteção
da saúde da criança. A cobertura vacinal, especialmente nos menores de um ano,
serve para evidenciar a eficácia dos serviços e é considerada um dos
indicadores principais da mortalidade infantil [7].
Diante do que foi exposto, esta pesquisa tem como objetivo
analisar o desempenho do Programa de Puericultura em uma Estratégia Saúde da
Família no município de Tucuruí/PA.
Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa,
descritiva e delineamento transversal, desenvolvido na Estratégia Saúde da
Família (ESF) do Jardim Colorado, localizada na cidade de Tucuruí no Estado do
Pará, na Amazônia Legal.
Foram avaliados prontuários e cadernetas de saúde das
crianças (CSC) cadastradas na ESF e utilizado o seguinte critério de inclusão:
todos os prontuários e CSC de crianças cadastradas e acompanhadas no programa
puericultura de 0 a 01 ano de idade. E como critério de exclusão: as crianças
que faziam acompanhamento de puericultura de alto risco. Após a análise dos critérios
de inclusão e exclusão foram selecionados 105 prontuários e 46 CSC no período
de 02 de abril a 30 de setembro de 2019.
O instrumento de coleta de dados foram dois questionários,
um para os prontuários e outro para as CSC, adaptados da CSC da 10ª edição, que
permitiram o agrupamento das informações, contemplando critérios normativos
preconizados pelo Ministério da Saúde (MS), referentes às anotações da consulta
de puericultura tanto no prontuário quanto na CSC. Os questionários continham
as variáveis data de nascimento, idade referente à última consulta, sexo,
município de nascimento, unidade básica que frequenta, endereço, dados antropométricos,
queixas da consulta, acompanhamento do desenvolvimento, aleitamento materno
exclusivo (AME), vacinação e suplementação de vitamina A.
A análise dos dados foi realizada por meio de análise
estatístico-descritiva. Para Diehl [8], a estatística descritiva “compreende o
manejo dos dados para resumi-los ou descrevê-los, sem ir além, isto é, sem
procurar inferir qualquer coisa que ultrapasse os próprios dados”. Utilizou-se
o programa Microsoft Office Excel 2016, o quantitativo de cada item foi
organizado em planilhas no programa, em seguida calculada o percentual de cada
item e transferidos para gráficos e tabelas.
Este estudo foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa e está registrado pelo parecer nº 3.101.083.
De acordo com a Tabela I, sobre as características
sociodemográficas registradas no prontuário e CSC, 100% (105) dos prontuários
apresentaram registro da data de nascimento e idade das crianças, e 98% (103)
apresentavam registros sobre endereço. Na caderneta, nota-se que 98% (45)
apresentaram o registro da data de nascimento das crianças, 80% (37) o registro
da idade e 93% (43) o município de nascimento da criança.
Em relação aos dados antropométricos, a Tabela I demonstra
que nos prontuários apresentou mais evidência, 100% (105) do peso das crianças
registrados, 80% (84) registro da estatura, e 1% (1) apenas dos prontuários
possuía registro sobre o IMC. Na CSC, 87% (40) apresentavam registro acerca do
peso das crianças e sobre o IMC nenhum registro foi encontrado dessa variável.
Tabela
I - Distribuição das
características sociodemográficas e dados antropométricos (referentes a última
consulta das crianças cadastradas) registrados e não registrados nos
prontuários e nas cadernetas de crianças cadastradas na ESF, Tucuruí/PA, 2019
*Reg = Registrado; **NReg = Não registrado; 1 DN = Data de Nascimento; 2 MN =
Município de Nascimento; 3 UBS = Unidade Básica de Saúde; 4 PC = Perímetro
Cefálico; 5 IMC = Índice de Massa Corporal
Sobre a avaliação do acompanhamento do desenvolvimento das
crianças, a Tabela II demonstra que 51% (54) apresentavam registros sobre a
avaliação. Em relação às cadernetas, 74% (34) não apresentavam esse registro.
Tabela
II – Distribuição
dos registros nos prontuários e nas cadernetas sobre o acompanhamento do
desenvolvimento das crianças cadastradas na ESF, Tucuruí/PA, 2019
*Reg = Registrado; **NReg = Não Registrado
Gráfico
1 – Distribuição dos
registros em prontuários sobre aleitamento materno exclusivo (AME) em crianças,
cadastradas na ESF, na cidade de Tucuruí/PA, em 2019
O gráfico 1, demonstra que 9% (9) dos prontuários
expressavam crianças com idade menor que 6 meses que não faziam uso de AME e
48% (51) dos prontuários das crianças na faixa etária superior a 6 meses não se
apresentavam em AME.
Em relação à anotação da vacinação nos prontuários,
contatou-se que 53% (56) não apresentavam registro e 20% (10) estavam com a
imunização atrasada. De acordo com a Tabela III, em relação às vacinas
atrasadas, 40 % (4) não tinham registro dos nomes das vacinas atrasadas.
Tabela
III – Distribuição
dos registrados nos prontuários sobre vacinação atrasadas das crianças
cadastradas na ESF, na cidade de Tucuruí/PA, em 2019
Em relação ao registro da vacinação na CSC, o Gráfico 2
demonstra que 33% (15) destas apresentaram-se com vacinas atrasadas. A vacina
mais ausente foi a Pentavalente com 9 (27%) e da VIP
7 (20%).
Gráfico
2 – Distribuição das
vacinas atrasadas, registradas nas cadernetas, de crianças cadastradas na ESF,
da cidade de Tucuruí/PA, em 2019
De acordo com a Tabela IV, em relação a suplementação da
Vitamina A, apenas 62 prontuários pertenciam as crianças acima de 6 meses e
apenas 2% (1) apresentavam registros. Apenas 20 CSC pertenciam a crianças acima
de 6 meses, e, dessas, apenas 70% (14) apresentavam registro sobre
suplementação da Vitamina A.
Tabela
IV - Distribuição
dos registros nos prontuários e nas cadernetas sobre suplementação de vitamina
A, das crianças cadastradas na ESF, na cidade de Tucuruí/PA, em 2019
*Reg = Registrado; ** NReg = Não Registrado
O
Programa Saúde da Família (ESF), criado na década
de 90,
é considerado ímpar na organização da
atenção básica. Neste sentido, o foco da
atenção à saúde se concentra na
promoção, prevenção e
proteção da saúde. A
puericultura [9] tem por objetivo a promoção da saúde, a prevenção de agravos,
e controle da mortalidade infantil [10]. O MS preconiza que a criança deve ter no
mínimo sete consultas em seu primeiro ano de vida, com as orientações sobre
medidas preventivas: a vacinação; suplementação de ferro e vitamina A; o
aleitamento materno exclusivo e alimentação complementar [11,12,13].
O registro dos dados do acompanhamento é muito importante
para o planejamento e implementação da puericultura. Um estudo [14]
sobre a
determinação do processo saúde-doença dos
usuários inscritos no programa de
puericultura de uma Unidade de Saúde do município de
Colombo/PR demonstrou que
os impressos específicos para o registro apresentavam campos em
branco, sem
informações relacionado à
identificação da criança e sobre as
condições de seu
nascimento [14], todavia, o estudo identificou 100% dos prontuários com
registro da data de nascimento e idade das crianças, mas 98% das caderneta
expressaram o registro da data de nascimento das crianças, 80% sobre a idade e
93% o município de nascimento da criança.
O registro das informações e da atenção prestada representa
um documento legal para a equipe, para o paciente e serviço de saúde e está
previsto nos códigos de ética médica e dos profissionais de enfermagem [15,16].
O registro das informações de saúde da criança na CSC é de suma importância,
pois facilita a identificação de risco e agravos de saúde; favorece a
socialização entre os profissionais e o acompanhamento integral da saúde
infantil [17].
O acompanhamento inadequado em crianças menores de um ano
está associado ao aumento da incidência de doenças [18,19]. Recomenda-se que,
constantemente deve-se realizar a avaliação e anotar os dados antropométricos,
rigorosamente conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria [20,21].
Um estudo, sobre a avaliação da vigilância do crescimento
nas consultas de puericultura na Estratégia Saúde da Família na Paraíba,
demonstrou que pesar a criança foi mais recorrente do que medir, por falha no
processo de trabalho, e isso ratifica a pesquisa, que identificou 100% e 80%
dos prontuários com registro, respectivamente, de peso e estatura [22].
Outro estudo que avaliou as ações dos enfermeiros [23]
demonstrou que 100% dos registros no prontuário preenchido pelo enfermeiro no
acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança não apresentavam os
dados antropométricos completos, o que nos faz refletir sobre o comprometimento
deste profissional sobre os registros das medidas antropométricas.
O MS preconiza que se deve aferir e anotar tanto o peso
quanto a estatura das crianças nas consultas de puericultura, pois a estatura é
o melhor componente para avaliação do crescimento infantil [24]. O cálculo do
IMC é muito relevante para evidenciar distorções do crescimento. Corroborando o
resultado do estudo, constatou-se apenas 1% dos prontuários preenchidos com o
valor de IMC e nenhuma caderneta demonstrou esse registro. Outros estudos sobre
a avaliação dos indicadores de crescimento e desenvolvimento na puericultura em
crianças de zero até um ano apontaram que a maioria dos registros não continham
peso e estatura, e que o IMC é pouco utilizado pelos profissionais, tornando
inviável uma boa avaliação do crescimento infantil [2,25,26].
Na PNAISC a puericultura está afinada com o eixo da
promoção e acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento integral. O
resultado deste estudo demonstra que o processo de trabalho do enfermeiro que
atua em puericultura nesta ESF ainda está pautado nas queixas e nos sinais e
sintomas das crianças, traços do modelo biomédico e que contraria a PNAISC, que
recomenda que o modelo de atenção deve ser centrado na promoção da saúde
[27,28,29].
A política [4] enfatiza que o registro e a identificação de
situações que possam interferir no desenvolvimento da criança devem ser
realizados tanto no prontuário clínico e na CSC. De acordo com o manual de preenchimento
da CSC, é imprescindível a avaliação das habilidades motoras, de comunicação,
de interação social e cognitiva [30]. Os registros sobre a avaliação do
desenvolvimento são recomendáveis para todas as consultas [24]. O resultado
deste estudo demonstra que não há pertinência da legislação com a puericultura
do serviço em questão, pois identificou 51% e 74% dos prontuários e cadernetas,
respectivamente, com o registro da avaliação de desenvolvimento da criança.
Apesar dessa recomendação, um estudo demonstra que os
registros de enfermeiros que acompanham o crescimento e desenvolvimento
infantil em UBS são precárias, desprovidas de linguagem científica, com omissão
de dados importantes da evolução da criança, não permitindo, por conseguinte, fazer
uma avaliação do crescimento e desenvolvimento nas consultas subsequentes, comprometendo,
dessa maneira, a qualidade da assistência e os objetivos dessa ação básica de
saúde, corroborando com o resultado deste estudo [31].
A OMS alerta que oferecer outros alimentos antes dos 6
meses prejudica a absorção de nutrientes presentes no leite materno, além
disso, a criança corre um grande risco em adquirir uma doença [32]. Apesar da
importância do aleitamento, percebe-se que o estudo demonstra um declínio cada
vez mais acentuado do AME, 9% dos prontuários apresentavam crianças com idade
inferior a 6 meses que não faziam uso de AME e 48% dos prontuários das
crianças, na faixa etária superior a 6 meses, não se apresentavam em AME. E
essa interrupção precoce ao AME ocorre antes do 4º mês [33], com a utilização
de fórmulas artificiais, contraria a recomendação da OMS e o MS [34].
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi criado em
1973, com o objetivo de ampliação da cobertura vacinal especialmente das
crianças. As equipes de saúde devem planejar e acompanhar a cobertura vacinal,
através da busca ativa, visto que a baixa cobertura da imunização pode ser uma
indicação de dificuldades de acesso ou outras situações de vulnerabilidade
enfrentadas pela família [4].
Corroborando este estudo, que identificou 53% dos
prontuários sem registro sobre vacinas, um estudo realizado no município
paranaense identificou que os prontuários analisados não apresentavam registros
sobre a imunização da criança. A imunização constitui como uma das principais
linhas de cuidado que deve ser monitorada pela equipe de saúde [12].
A deficiência de vitamina A é um problema de saúde pública.
A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006) revelou
níveis inadequados de vitamina A em 17,4% nas crianças [28]. Na região Norte,
desde 2012, o funcionamento do Programa Nacional de Suplementação de Vitamina
recomenda que a suplementação profilática medicamentosa seja realizada em todas
as crianças de 6 a 59 meses de idade, para prevenir a carência da xeroftalmia e
a cegueira de origem nutricional [35]. No entanto, em 2018, na cidade de
Tucuruí/PA, localizada na região Norte, a meta era alcançar 2153 crianças entre
criança de 6 a 11 meses de idade, porém a cobertura alcançou apenas 54,48% [36]
e nesse estudo apenas 2% dos prontuários expressavam o registro sobre a
vitamina A, no entanto, 74% das CSC demonstrou esse dado, pode-se entender que
a oferta está sendo realizada, mas o registro em prontuário não é feito.
Ao analisar o desempenho do Programa de Puericultura em uma
ESF através dos registros do prontuário e da CSC, conclui-se que a adesão e a
frequência das crianças nas consultas de puericultura apresentaram-se fora dos
padrões recomendados pelo Ministério da Saúde, visto que estas procuravam a UBS
quando apresentavam algum sintoma relacionados à doença. Percebeu-se que os
registros apresentaram ausência de informações e dados relevantes para a
preservação da puericultura.
Conclui-se que há necessidade de mais investimento na
valorização do programa, capacitação dos profissionais e monitoramento do
programa.