Enferm
Bras 2021;20(1);94-108
doi: 10.33233/eb.v20i1.4438
REVISÃO
Complicações
associadas a COVID-19 e as principais necessidades humanas básicas afetadas
Josiele
de Lima Neves, M.Sc.*, Eda
Schwartz, D.Sc.**, Lílian Moura de Lima Spagnolo, D.Sc.***, Julia Peres
Ávila****, Naiane Pereira de Oliveira*****, Fernanda
Lise, D.Sc.******
*Enfermeira,
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPel.
Pelotas/RS, Bolsista CAPES, **Enfermeira, Docente da Faculdade de Enfermagem (FEn) e do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Enfermagem e do Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Família da UFPel. Pesquisadora do NUCCRIN, Bolsista CNPq, Pelotas/RS,
***Enfermeira, Professora da Faculdade de Enfermagem e do Programa de
Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem da UFPel,
Pelotas/RS, ****Graduanda em enfermagem pela UFPel,
Pelotas/RS, Bolsista de monitoria virtual da Unidade do Cuidado de Enfermagem
(UCE) V, *****Graduanda em enfermagem pela UFPEL, Pelotas/RS, Bolsista de
Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação PIBITI/CNPq e Membro do
Núcleo de Condições Crônicas e suas Interfaces (NUCCRIN), ******Enfermeira,
Membro do comitê de práticas com famílias da International
Family Nursing Association
(IFNA) e do Núcleo de Condições Crônicas e suas Interfaces (NUCCRIN) da
Faculdade de Enfermagem da UFPel
Recebido
em 4 de novembro de 2020; aceito em 5 de janeiro de 2020.
Correspondência: Josiele de
Lima Neves, Rua Maestro Medanha, 550/403, Bl 6, 96020-720 Pelotas RS
Josiele de Lima Neves:
josiele_neves@hotmail.com
Eda Schwartz:
edaschwa@gmail.com
Lílian Moura de Lima
Spagnolo: lima.lilian@gmail.com
Julia Peres Ávila: juu.peres11@gmail.com
Naiane Pereira de Oliveira:
nah3m@hotmail.com
Fernanda Lise: fernandalise@gmail.com
Resumo
Introdução: Os pacientes infectados pela COVID-19
possuem mecanismos de defesa do sistema imunológico ainda duvidoso e sem
tratamento médico definitivo, portanto, é prudente que os profissionais da área
da saúde estejam atentos a minuciosos sinais de piora em toda sintomatologia. Objetivo:
Objetivou-se conhecer as complicações associadas ao novo coronavírus
e, por meio delas, elencar as principais necessidades humanas básicas segundo a
Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Métodos: Revisão integrativa da
literatura através da Biblioteca Virtual Scientific Electronic Library Online (Scielo)
Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Lilacs); National Library of Medicine (Pubmed), e na
Cochrane. Foram utilizados os descritores ‘Respiratory
Distress Syndrome’, ‘Nursing’ e ‘COVID-19’, com o operador boleano
‘AND’, sendo os mesmos previamente consultados nos dicionários Medical (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Resultados: Fizeram parte do estudo oito
publicações que trouxeram como complicações do novo coronavírus
as infecções respiratórias, complicações cardiovasculares e relatos de
acompanhamentos de pacientes sintomáticos, através das quais foi possível
identificar as necessidades humanas básicas psicobiológicas,
e psicossociais afetadas. Conclusão: Ferramentas como a Teoria das
Necessidades Humanas Básicas podem contribuir para a viabilização de um cuidado
efetivo ao paciente, o que possibilita uma assistência integral.
Palavras-chave: Enfermagem; cuidados críticos; tomada
de decisão; síndrome do desconforto respiratório do adulto.
Abstract
Complications associated with
COVID-19 and the main affected basic human needs
Introduction: Patients
infected with COVID-19 have immune defense mechanisms that are still in doubt
and without definitive medical treatment, so it is prudent for health
professionals to be attentive to detailed signs of worsening in all symptoms. Objective:
The objective was to know the complications associated with the new coronavirus
and, through them, list the main basic human needs according to the Theory of
Basic Human Needs. Methods: Integrative literature review through the
Virtual Library Scientific Electronic Library Online (Scielo)
Latin American and Caribbean Health Sciences Information System (Lilacs);
National Library of Medicine (Pubmed), and Cochrane.
The descriptors ‘Respiratory Distress Syndrome’, ‘Nursing’ and ‘COVID-19’ were
used, with the Boolean operator ‘AND’, which were previously consulted in the
Medical (MeSH) and Health Science Descriptors (DeCS) dictionaries. Results: Eight publications were
part of the study, which brought respiratory infections, cardiovascular complications and follow-up reports of symptomatic patients
as complications of the new coronavirus, through which it was possible to
identify the basic human psychobiological and psychosocial needs affected. Conclusion:
Tools such as the Theory of Basic Human Needs can contribute to enabling
effective patient care, which enables comprehensive care.
Keywords: Nursing; critical care; decision
making; respiratory distress syndrome; adult.
Resumen
Complicaciones asociadas con COVID-19 y las principales necesidades humanas
básicas afectadas
Introducción: Los pacientes infectados por COVID-19 tienen
mecanismos de defensa inmunológica aún en duda
y sin tratamiento médico
definitivo, por lo que es prudente que los profesionales de la salud estén
atentos a los signos detallados
de agravamiento de todos los
síntomas. Objetivo: El objetivo era conocer las complicaciones
asociadas al nuevo coronavirus y, a través de ellas,
enumerar las principales necesidades humanas básicas según
la Teoría de las Necesidades Humanas Básicas. Métodos:
Revisión integradora de la
literatura a través de la Biblioteca Virtual
Biblioteca Científica Electrónica en Línea (Scielo) Sistema de Información en Ciencias de la Salud de América Latina y el Caribe (Lilacs); Biblioteca
Nacional de Medicina (Pubmed) y Cochrane. Se utilizaron los descriptores "Respiratory Distress Syndrome", "Nursing" y "COVID-19", con
el operador booleano "AND", que fueron consultados previamente en
los diccionarios Medical (MeSH) y Health Science Descriptors
(DeCS). Resultados: Ocho
publicaciones formaron
parte del estudio, que trajeron infecciones respiratorias,
complicaciones cardiovasculares e informes de seguimiento de pacientes sintomáticos como complicaciones del nuevo coronavirus, a través de los cuales fue
posible identificar las necesidades psicobiológicas y psicosociales humanas básicas afectadas.
Conclusión: Herramientas
como la Teoría de las Necesidades Humanas Básicas pueden contribuir a posibilitar
una atención eficaz al paciente, que posibilita una atención integral.
Palabras-clave: Enfermería;
cuidados críticos; toma de decisiones; síndrome de dificultad respiratoria del adulto.
Os pacientes infectados pela COVID-19 possuem mecanismos de
defesa do sistema imunológico ainda duvidoso e sem tratamento médico
definitivo, portanto, é prudente que os profissionais da área da saúde estejam
atentos a minuciosos sinais de piora em toda sintomatologia [1]. O
comprometimento respiratório é uma das complicações mais evidentes, que pode
evoluir rapidamente para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV), evidenciada como uma condição grave de
comprometimento pulmonar, associada a Lesão Pulmonar Aguda (LPA), que se
caracteriza pela complacência pulmonar reduzida, hipoxemia, devido às
alterações de ventilação/perfusão do parênquima pulmonar, o que causa hipoxemia
grave e infiltrações pulmonares bilaterais, acusados em radiografias [2,3].
Considerando a disseminação acentuada da doença é prudente
identificar as principais complicações da COVID-19 para auxiliar os
profissionais na identificação e manejo adequado em cada caso, proporcionando
uma melhor resposta ao combate da pandemia [4]. Neste contexto, a atuação do
enfermeiro pode contribuir para compreender as necessidades do indivíduo e
permear estratégias para sistematizar o cuidado.
A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é a
organização do trabalho da enfermagem, com determinação de uma metodologia ou
Teoria de Enfermagem e instrumentos para a implementação do Processo de
Enfermagem (PE), dividido em cinco etapas: Histórico, Diagnóstico,
Planejamento, Implementação e Avaliação de Enfermagem [5]. O PE é realizado
através de ações sistematizadas e interrelacionadas, com a intenção de prestar
assistência ao ser humano, responsáveis por um processo de raciocínio e
julgamento clínico capaz de orientar as ações da Enfermagem [6,7].
Uma das teorias comumente utilizadas para o emprego da SAE
e que orienta as etapas do Processo de Enfermagem em instituições brasileiras é
a Teoria das Necessidades Humanas Básicas (NHB), criada e fundamentada por
Wanda Horta [8]. Horta classificou as NHB pelos níveis de vida psíquica de João
Mohana, os quais são divididos em psicobiológico,
psicossocial e psicoespiritual, os quais possuem
componentes inconscientes e que tendem à ser
espontâneo ou de necessidades fundamentais da natureza humana [7]. Contudo,
este estudo objetivou conhecer as complicações associadas a COVID-19 e, por
meio delas, elencar as necessidades humanas básicas afetadas segundo a Teoria
das Necessidades Humanas Básicas.
Recorreu-se a revisão integrativa da literatura, que
possibilita a síntese e análise do conhecimento científico já produzido sobre o
tema investigado [9]. Para o seu desenvolvimento foram seguidas seis etapas
[10]. Na 1ª etapa definiu-se o tema a ser pesquisado, que partiu da necessidade
de identificar recomendações sobre a participação da enfermagem junto ao
paciente com COVID-19, assim, estabeleceu-se a seguinte questão norteadora:
Quais as evidências disponíveis na literatura sobre a abordagem aos pacientes
com complicações associadas ao novo coronavírus
(COVID-19) e quais as principais necessidades humanas básicas afetadas? A
busca, a seleção e a avaliação crítica dos estudos foram realizadas em maio de
2020, por dois revisores.
Na 2ª etapa, houve o estabelecimento de critérios de
inclusão e de exclusão. Com este objetivo, definiu-se, como limites das buscas,
a inclusão de estudos realizados com seres humanos, publicados na íntegra no
último ano, entre 2019 e 2020, devido ao ano de 2019 ter sido o ano da
propagação do novo coronavírus na China. Não houve
restrição de idiomas. Os estudos foram pesquisados na Biblioteca Virtual Scientific Electronic Library
Online (Scielo) Sistema Latino-Americano e do Caribe
de Informação em Ciências da Saúde (Lilacs); National Library of Medicine (PubMed) e na Cochrane.
Para a seleção dos artigos utilizaram-se os descritores ‘Respiratory Distress Syndrome’, ‘Nursing’ e
‘COVID-19’, com o operador boleano ‘AND’, previamente
consultados nos dicionários Medical (MeSH) e
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Na 3ª etapa
ocorreu a identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados. Após a
combinação dos descritores, emergiram dois estudos do Lilacs,
dos quais um foi selecionado e descartado por estar repetido na Pubmed, que somou 139, dos quais oito foram selecionados; a
Scielo não apresentou estudos e na Cochrane um estudo,
que não atendia os critérios de inclusão (Figura 1). Para a coleta dos dados,
utilizou-se um protocolo desenvolvido pelas autoras, com informações sobre
aspectos considerados pertinentes como: autores, título do estudo, revista,
país, idioma, detalhamento metodológico, amostra, ano de publicação,
resultados. Isso permitiu avaliar individualmente os estudos e possibilitou a
identificação de similaridades e diferenciações entre eles (Quadro 1).
Os estudos excluídos trouxeram vários aspectos e abordagens
sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus,
como: Tratamento farmacológico; Gestante com a COVID-19; Saúde da criança;
Dados clínicos dos pacientes; Planejamentos e implicações; Contaminação pelo coronavírus; Manejos específicos; Estudos sobre prevenção;
Estudos sobre infectividade; Impacto nos
profissionais da área da saúde e Impacto sobre pacientes com doenças crônicas.
Na 4ª etapa, realizou-se a análise crítica dos estudos
selecionados pela aproximação temática das informações apresentadas, a partir
da leitura dos títulos e dos resumos, bem como da leitura na íntegra dos
estudos. Já na 5ª etapa, ocorreu a análise e interpretação dos resultados, com
avaliação criteriosa das publicações selecionadas.
Por fim, a 6ª etapa correspondeu à apresentação dos
resultados com a síntese das oito publicações que compuseram a análise e
síntese final da revisão de literatura, com isso, os problemas clínicos
mencionados nos artigos foram analisados a luz da teoria das necessidades
humanas básicas e elencadas as necessidades humanas básicas afetadas, baseadas
no referencial conceitual de Wanda Horta.
Figura
1 - Artigos
incluídos na revisão integrativa, Pelotas/RS, Brasil, 2020.
Caracterização
das publicações
Os oito estudos encontrados para esta revisão integrativa
foram produzidos por médicos e publicados no ano de 2020 [11-18], cinco (63%)
publicados por intensivistas, anestesistas, nefrologistas e outro por autores
da área da terapia intensiva, toxicologia e ortopedia. Majoritariamente
produzidos na China, dois na Inglaterra e um no Canadá (Tabela I).
Tabela
I – Caracterização
dos estudos que compõem a revisão integrativa de literatura, Pelotas/RS,
Brasil, 2020 (ver anexo em PDF)
Mesmo com a utilização de descritores bem definidos para a
questão norteadora a ser discutida, a atuação da Enfermagem no atendimento não
foi evidenciada nos estudos. Portanto, ao relacionar as complicações causadas
pelo novo coronavírus foram identificadas as
necessidades humanas básicas afetadas, conforme a teoria das necessidades
humanas básicas, de Wanda Horta (Tabela II).
Tabela
II – Complicações
associadas a COVID-19 e as necessidades humanas básicas afetadas, Pelotas/RS,
Brasil, 2020
A atuação da enfermagem no cuidado ao paciente com
complicações associadas ao novo coronavírus precisa
estar amparada por teorias que solidifiquem a assistência prestada. Neste
contexto, a teoria das Necessidades Humanas Básica, alinhada ao Processo de
Enfermagem que compreende o Histórico de enfermagem, Diagnósticos de
enfermagem, Plano assistencial, Plano de cuidados (prescrição de enfermagem),
Evolução e Prognóstico podem contribuir para um atendimento sistematizado, que
valorize a atuação do enfermeiro, já que cabe a ele avaliar continuamente a
resposta do indivíduo à terapêutica aplicada [19].
No que compete as Necessidades Humanas Básicas, das
complicações associadas a COVID-19, a psicobiológicaé
a mais afetada, sobretudo foram identificados potenciais problemas
relacionados a oxigenação [11-14,18]. O processo
infeccioso pode evoluir para a
Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2), dividida
didaticamente em:
Estágio I – período de incubação
assintomática com ou sem vírus detectável;
Estágio II – período sintomático não
grave com presença de vírus; Estágio III –
sintomático respiratório grave com alta carga viral [20].
Ademais, nem todos os estudos descreveram sobre pacientes
que evoluíram para disfunção respiratória [15-17], assim os pacientes
apresentaram sintomas comuns da doença e tiveram repercussões graves como
alterações plaquetárias [15], linfopenia durante sessões de hemodiálise [16] e
instabilidade eletrolítica [17]. Ao avaliar a necessidade humana afetada a luz
da teoria de Wanda Horta, ressalta-se a psicobiológica,
no que tange a regulação vascular [15];
regulação imunológica [16]; a
eliminação, nutrição,
regulação eletrolítica e autoestima [12] e; a
regulação
hormonal ou nutrição [17]. Isso demonstra a necessidade
de avaliação clínica
persistente da enfermagem e a importância da
implementação da Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE) ao paciente com coronavírus,
não apenas para as complicações mais evidentes como as respiratórias.
Para avaliar as evidências de complicações por COVID-19 em
indivíduos com desequilíbrio metabólico da glicose, um estudo chinês [17]
avaliou dados clínicos de 65 pacientes. A partir desta avaliação pode-se
perceber que, tal desequilíbrio, pode estar crucialmente envolvido na infecção
pelo coronavírus. O estudo ainda demostra que pacientes
que não recebem adequada atenção a patologias pré-existentes estão sujeitos a
complicações, evolução negativa do quadro e necessidade de cuidados mais
complexos [17]. Nesse sentido, a fim de evitar maiores complicações, a atenção
da Enfermagem precisa estar voltada para resgatar esse processo e evitar a
deterioração adicional da COVID-19.
Nesta conjuntura, embora os diabéticos não possuam risco
aumentado para contrair o coronavírus, eles têm mais
risco de complicações caso sejam infectados, principalmente se não possuem um
bom controle da glicemia [21,22]. Além disso, aconselha-se que medicamentos
como anti-inflamatório e corticoide sejam evitados para o controle dos sintomas
da COVID-19, já que podem comprometer o controle da glicose e a função renal
[23]. Neste cenário a atuação da enfermagem nas orientações ao paciente e
família podem minimizar a automedicação e consequentes prejuízos à saúde. A
alteração na taxa de glicose é um problema de enfermagem que pode estar afetado
tanto pela regulação hormonal como pela nutrição [17].
Na China [14], um estudo identificou que a idade média dos
pacientes graves foi elevada e com maior probabilidade de apresentar
comorbidades crônicas, propensos a desenvolver complicações, como coinfecções
por bactérias ou fungos. Os sintomas comuns entre esses pacientes graves
incluíram hipertermia, anorexia e dispneia, dos 80% dos casos atendidos na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 52,3% foram transferidos para enfermarias,
visto que os sintomas foram aliviados, e a taxa de mortalidade dos pacientes em
UTI foi de 20,5%.
Ademais, um estudo de coorte [15] que acompanhou 383
pacientes admitidos no Hospital Central de Wuhan, na China, com diagnósticos de
infecção por COVID-19 apresentou a correlação entre a trombocitopenia e as
alterações plaquetárias com a mortalidade dos pacientes. A trombocitopenia na
admissão foi associada a uma mortalidade quase três vezes maior que a de
pacientes sem trombocitopenia [15], sendo assim, a enfermagem precisa se
atentar às doenças pré-existentes que causam plaquetopenia, como púrpura trombocitopênica e hepatopatias, a fim de priorizar o
atendimento.
Ainda na China [16], um relato de cinco casos, descreveu a
trajetória de pacientes que realizaram diálise com diagnóstico de infecção por
SARS-CoV-2. A linfopenia foi identificada em todos os pacientes, fator que pode
contribuir diretamente na complicação do quadro clínico destes pacientes,
aumentando as chances de óbito [24]. Tal achado enfatiza a necessidade de
cuidados durante o manejo destes pacientes, principalmente durante a realização
de procedimentos invasivos: prevenção de infecções, utilização de técnicas
assépticas para punção e procedimentos necessários e a observação de sinais e
sintomas da evolução do quadro de saúde destes.
Na Inglaterra, um estudo com 52 pacientes com hipoxemia
severa destacou a elevada mortalidade de pacientes críticos, 70% foram tratados
com ventilação mecânica, 11% na posição prona e 17% precisaram de hemodiálise
[12], o estudo destacou a necessidade de profissionais capacitados para
adequado manejo nos procedimentos invasivos. Neste cenário, a atuação do
enfermeiro neste contexto envolve a aplicabilidade de amplo conhecimento
teórico e prático para identificar e manejar os problemas de enfermagem
identificados, além do gerenciamento da equipe de enfermagem para melhor
atuação frente as complicações.
Para identificar as melhores práticas em relação à
intubação e ventilação a um número expressivo de pacientes com COVID-19,
autores chineses [13,14] identificaram que a ventilação em decúbito ventral,
sedação e analgesia adequada são manejos essenciais. Além de seguir
rigorosamente as precauções de autoproteção, as estratégias de intubação mais
utilizadas em Wuhan incluíram a preparação completa, a pré-oxigenação
satisfatória, indução de sequência
rápida e a intubação rápida utilizando o videolaringoscópio. Portanto, novamente a oxigenação é
afetada e pode ter efeitos psicológicos negativos, como dor, estresse e
lembranças de procedimentos invasivos.
De maneira semelhante, um estudo canadense [18] destacou a
experiência de tratar um idoso de 68 anos de idade, o qual relatou estratégias
de cuidados intensivos para otimizar a oxigenação pulmonar por técnica de
pronação com cânula nasal de alto fluxo, abordagem simples para ser realizada
em países com poucos recursos, onde técnicas sofisticadas de UTI podem não
estar indisponíveis.
O cuidado ao paciente crítico em unidade intensiva
necessita da participação ativa da enfermagem, como no caso do estudo que
relatou o caso de paciente com opacidades pulmonares bilaterais sugestivas de
pneumonia, o qual permaneceu com cânula nasal de alto fluxo e foi realizada a
técnica de pronação [18]. A construção do conhecimento em enfermagem está
inter-relacionada entre a teoria, a pesquisa e a prática clínica que afetam de
maneira recíproca, logo essa conexão é necessária para a continuidade do
desenvolvimento da enfermagem como profissão e como ciência [25].
Neste sentido, a enfermagem precisa valorizar suas ações e
ser incentivada a expor sua prática assistencial. Mobilizar o paciente para
posição prona demanda atenta participação da enfermagem, e é altamente eficaz
no manejo dos pacientes com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA),
pois ela ajuda na distribuição mais homogênea da impedância pulmonar. Por isso,
essa é a posição indicada para os pacientes que necessitam elevar os valores de
pressão expiratória final positiva (PEEP) e fração inspirada de oxigênio (FiO2),
com objetivo de manter uma boa saturação de oxigênio (SaO2) [26].
Isso demonstra que a escolha do tratamento depende do
quadro geral do paciente, assim como de suas peculiaridades, e disponibilidades
do serviço, devendo ser analisado pelas equipes multidisciplinares, compostos
por profissionais capacitados para a situação. Nesse sentido, a enfermagem é a
equipe que mais está presente durante a acolhida dos pacientes, sendo a
responsável pelos cuidados diretos e indiretos aos mesmos. Cabe a estes
profissionais, a observação e avaliação da evolução do quadro clínico, e no
caso das disfunções respiratórias, especificamente, se atentar para a
manutenção da saturação de oxigênio, observar sinais de desconforto respiratório,
como taquipneia, sinais de confusão mental e apontamento de falências de outros
órgãos [27].
Assim sendo, considerando as necessidades psicossociais
afetadas destaca-se o enfrentamento da doença, visto que ainda não há um
tratamento definitivo para a COVID-19 e como já citado anteriormente, os
infectados apresentam diferentes mecanismos de defesa do sistema imunológico
[1,16]. Logo, a necessidade de segurança poderá gerar ansiedade, medo e
estresse nos pacientes e familiares durante o tratamento; tanto em meio
hospitalar como no domicílio.
Por fim, observa-se a questão de aprendizagem afetada,
também relacionada à educação à saúde. O acesso ao conhecimento permite que a
sociedade entenda os motivos e respeite os protocolos adotados atualmente. O
enfermeiro como profissional capacitado e atuante em várias frentes de trabalho
na pandemia do novo coronavírus tem um papel
relevante na sistematização da assistência e no manejo ao paciente com
complicações associadas a COVID-19 [28], assim como na educação em saúde
àqueles que permanecem em quarentena em suas residências e às famílias neste
ambiente tão adverso.
Limitação
do estudo
A invisibilidade da enfermagem em alguns estudos não condiz
com a realidade da dedicação diária no processo de cuidar desses profissionais.
Portanto, a carência de estudos da enfermagem sobre a participação dela foi um
fator limitante para explorar a atuação desta categoria profissional. Contudo,
isso não diminui a qualidade dos resultados apresentados, pois eles podem
projetar as atividades de enfermagem essenciais ao cuidado das pessoas com coronavírus.
Ressalta-se a importância de ferramentas como a Teoria das
Necessidades Humanas Básicas para a viabilização de um cuidado efetivo ao
paciente, que consiga solucionar todas as suas demandas, através da
identificação de problemas e efetivação do cuidado, tornando a Sistematização
da Assistência de Enfermagem um mecanismo indispensável a profissão.
Assim, por meio desta revisão sistemática integrativa foi
possível explorar as complicações associadas ao novo coronavírus
e ao manejo ao paciente sintomático e sua evolução sintomatológica. Ademais,
reforça-se que apesar da limitação de estudos da enfermagem, esta profissão e
sua vigilância no cuidado fazem diferença no percurso da evolução da COVID-19,
especialmente, ao paciente crítico.