REVISÃO
Pandemias
e COVID-19 transformam o mundo: uma análise de contextos
Regimar
Carla Machado, D.Sc.*, Paulo Willians Lopes**,
Fernanda Nunes da Silva***, Thulssa Auxiliadora Gomes
Medeiros dos Santos****, Simone Isidoro Prado, M.Sc.*****,
Andressa Rodrigues de Souza D.Sc.******
*Enfermeira,
Docente na Escola Paulista de Enfermagem/UNIFESP, São Paulo, SP, **Enfermeiro,
Mestrando em Ciências pela Escola Paulista de Enfermagem/UNIFESP, São Paulo,
SP, Enfermeiro de Clínica Médica do Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa
Neto, São Paulo, SP, ***Enfermeira do Pronto Socorro do Hospital Estadual Mário
Covas-São Paulo, SP, ****Enfermeira, Mestranda em Ciências pela Escola Paulista
de Enfermagem/UNIFESP, São Paulo, SP, Enfermeira da CCIH e Núcleo de Segurança
do Paciente da Irmandade Santa Casa de Misericórdia-Pirassununga, SP,
*****Enfermeira do Setor de Práticas Assistenciais de Enfermagem do Hospital
Santa Catarina, São Paulo, SP, ******Enfermeira, Docente no Centro
Universitário Estácio-Ribeirão Preto, SP
Recebido
em 12 de novembro de 2020; Aceito em 7 de abril de
2021.
Correspondência: Regimar
Carla Machado, Escola Paulista de Enfermagem - Universidade Federal de São
Paulo, Rua Napoleão de Barros, 754, Vila Clementino, São Paulo SP, E-mail:
regimar.carla@unifesp.br
Regimar Carla Machado:
regimar.carla@unifesp.br
Paulo Willians Lopes: enf.paulolopes@gmail.com
Fernanda Nunes da Silva: fefa1981@gmail.com
Thulssa Auxiliadora Gomes
Medeiros dos Santos: thulssa.rafael@gmail.com
Simone Isidoro Prado: siprado04@gmail.com
Andressa Rodrigues de Souza: andressaenf@gmail.com
Resumo
Introdução: As doenças infectocontagiosas fazem
parte da história humana e trouxeram muitos aprendizados que são utilizados na
pandemia emergente da COVID-19. Objetivo: Descrever os aspectos
históricos das principais pandemias e os impactos da COVID-19 no mundo. Métodos:
Trata-se de um estudo reflexivo que contou com o auxílio de publicações
recentes relacionadas a esta proposta, a partir do referencial de análise de
contexto, que apresenta quatro aspectos interativos: nível contextual
histórico; nível contextual imediato; nível contextual geral e metacontexto. Resultados: No nível contextual
histórico foram descritas as concepções históricas das principais pandemias que
acometeram a humanidade. Em seguida, no nível contextual imediato foram
abordados os aspectos atuais da COVID-19. Já no nível contextual geral foi
feita uma reflexão dos impactos relevantes da pandemia. Por último, no nível de
metacontexto é analisado alguns dos desafios sociais
impostos pelo coronavírus. Conclusão: Os aspectos históricos das pandemias
subsidiam medidas preventivas à COVID-19, sobretudo ao que se refere à
concepção do distanciamento social. Ressalta-se o desafio no enfrentamento ao
coronavírus e a necessidade de capacitação do profissional de enfermagem no
ambiente da assistência em alta complexidade. Por fim, os inúmeros desafios
impostos pela COVID-19 representam oportunidades de aprendizado para
implementar melhores estratégias em futuras pandemias.
Palavras-chave: pandemias; controle de doenças
transmissíveis; infecções por coronavírus; isolamento social; profissionais de
enfermagem.
Abstract
Pandemics and COVID-19 change the
world: an analysis of contexts
Introduction: Infectious
diseases are part of human history and have brought many lessons that are used
in the COVID-19 emerging pandemic. Objective: To describe the historical
aspects of the main pandemics and the COVID-19 impacts on the world. Methods:
This is a reflective study that was supported by recent publications related to
this proposal, based on the context analysis framework, which presents four
interactive aspects: historical contextual level, immediate contextual level,
general contextual level, and meta-context. Results: At the historical
contextual level, the historical conceptions of the main pandemics that
affected humanity were described. Then, at the immediate contextual level, the
current aspects of COVID-19 were addressed. At the general contextual level,
the relevant impacts of the pandemic were reflected. In the end, at the
meta-context level, some of the social challenges imposed by the coronavirus
are analyzed. Conclusion: The historical aspects of pandemics subsidize
preventive measures against COVID-19, especially to the social distancing
concept. The challenge in facing the coronavirus and the need for training
nursing professionals in the high complexity care environment are highlighted.
Finally, the countless challenges imposed by COVID-19 represent learning
opportunities to implement better strategies in future pandemics.
Keywords: pandemics; communicable disease
control; coronavirus infections; social isolation; nursing professionals.
Resumen
Las pandemias
y el COVID-19 transforman el mundo: un análisis
de contextos
Introducción: Las
enfermedades infecciosas
son parte de la historia de
la humanidad y han traído muchos aprendizajes
que se utilizan en la pandemia emergente de COVID-19. Objetivo: Describir los aspectos históricos de las principales pandemias y los
impactos del COVID-19 en el mundo. Métodos: Se trata de un
estudio reflexivo que contó
con la ayuda
de publicaciones recientes
relacionadas con esta propuesta, basado en el marco de análisis de contexto, que presenta cuatro
aspectos interactivos: nivel
contextual histórico; nivel contextual inmediato; nivel contextual
general y metacontexto. Resultados: En el nivel
contextual histórico, se describieron las concepciones históricas de las principales pandemias que afectaron a la humanidad. En seguida, en el nivel
contextual inmediato, se abordaron
los aspectos actuales de
COVID-19. A nivel contextual general, se hizo una reflexión sobre los impactos relevantes de la
pandemia. Por último, a nivel del
metacontexto, se analizan algunos de los desafíos sociales que impone el coronavirus. Conclusión: Los aspectos históricos de las pandemias apoyan las medidas preventivas del
COVID-19, especialmente en lo
que respecta al concepto de distanciamiento
social. Se destaca el desafío
de afrontar el coronavirus
y la necesidad de formación del profesional
de enfermería en el ambiente de cuidados de alta complejidad.
Finalmente, los innumerables
desafíos impuestos por el COVID-19 representan
oportunidades de aprendizaje para implementar mejores estrategias en futuras pandemias.
Palabras-clave: pandemias; control
de enfermedades transmisibles;
infecciones por coronavirus; aislamiento
social; profesionales de enfermería.
A história da humanidade é
permeada por pandemias. À medida que os centros populacionais que compartilham
o mesmo território cresceram como uma sociedade organizada, as doenças
contagiosas também começaram a afetar várias regiões do planeta, originando as
pandemias.
Desde a Idade Média se observava o surgimento de sintomas
em comum após o contágio de algumas doenças que assolavam a população da época.
Além disso, também foi observado que, após um período de exposição, as pessoas
que não apresentavam sintomas, não podiam ser afetadas pela doença (o que
atualmente se conhece como imunidade) e isso diminuía a disseminação nas
cidades. Esse conhecimento foi fundamental na instituição do isolamento
obrigatório das pessoas doentes [1].
O uso da quarentena foi uma das medidas mais eficazes
durante a peste negra, em 1347, em Veneza – Itália. Esta medida preventiva
espalhou-se por toda a Europa e, subsequentemente, usada em futuras pandemias.
Os navios que chegavam de portos infectados eram obrigados a permanecer ancorados
por 40 dias antes do desembarque, prática que eventualmente ficou conhecida
como quarentena - derivada de quarantino, palavra
italiana para se referir a um período de 40 dias [1].
Durante as pandemias de gripe (espanhola, asiática, Hong
Kong, gripe suína) nos séculos XX-XXI, foram implementadas estratégias de
controle mais eficientes para impedir a propagação da doença. Algumas dessas
estratégias incluem fechamento proativo das escolas, fechamento reativo das
escolas, fechamento dos locais de trabalho, trabalho em casa, casos de
autoisolamento, quarentena, restrição de mobilidade e cancelamento de eventos
em massa [2].
Em 2017, o Department of Health and Human
Services (EUA) atualizou o Plano de Influenza Pandêmica. Esta publicação
inclui o distanciamento social para reduzir a transmissão do vírus de pessoas
infectadas a indivíduos suscetíveis, atrasar o pico de casos da gripe, ter
tempo para desenvolver a vacina, diminuir casos diários de contágio para
reduzir a sobrecarga do sistema de saúde e proteger a infraestrutura hospitalar
[3].
A contingência atual, causada pelo novo coronavírus tipo 2
da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), desestabilizou a estrutura
socioeconômica do mundo. As medidas de contingência têm sido implementadas
internacionalmente, com forte ênfase no distanciamento social, com a finalidade
de reduzir a transmissão do vírus em até 60% [4], porquanto teme-se que os
serviços de saúde entrem em colapso, não podendo oferecer serviços dignos de
saúde à população [5].
Portanto, neste estudo é apresentada uma reflexão dos
aspectos históricos das principais pandemias que afetaram a humanidade e os
impactos da Coronavirus Disease
2019 (COVID-19) no mundo.
Ensaio crítico e analítico fundamentado na análise de
contexto, o qual está dividido em quatro aspectos interativos: nível contextual
histórico; nível contextual imediato; nível contextual geral e metacontexto, adaptado do referencial teórico proposto por
Hinds, Chaves e Cypess [6]. Para esta revisão
narrativa da literatura, contou-se com o auxílio de publicações recentes
relacionadas à temática proposta, sobretudo pesquisas realizadas no Brasil e
outros países.
Dentro do objetivo do presente estudo, no nível contextual
histórico buscou-se uma análise das principais pandemias, desde o tempo passado
até o presente. No nível contextual imediato, realizou-se uma abordagem dos
aspectos atuais da COVID-19. Já no contextual geral foi feita uma reflexão dos
principais impactos da atual pandemia. Por fim, no metacontexto,
obteve-se uma análise sobre alguns desafios sociais e as perspectivas para o
futuro [6]. Os aspectos interativos de cada nível de contexto estão
representados na Figura 1.
Fonte: Próprios autores, ano 2021.
Figura
1 – Níveis de
contextos e aspectos interativos que permeiam a reflexão sobre os aspectos
históricos das pandemias e os impactos da COVID-19
Concepções
históricas e epidemiológicas das pandemias
As doenças infectocontagiosas fazem parte da história
humana, com consequências variadas, como altas taxas de mortalidade e danos
sociais, atingindo grandes áreas geográficas como as pandemias [7]. De um modo
geral, as pandemias costumam ser imprevisíveis e de difícil prevenção e
controle [8]. Conhecer a história e evolução epidemiológica das pandemias que
já assolaram a humanidade é fundamental para se evitar os erros do passado, bem
como implementar estratégias exitosas e que possam auxiliar no enfrentamento
das doenças atuais. As estratégias para o controle de propagação das doenças
como o saneamento, isolamento e quarentena são exemplos de como a história
trouxe conhecimentos importantes.
As pandemias podem influir decisivamente no curso da história
de uma população. Algumas das principais pandemias foram a peste de Justiniano
(541-542 d.C.), a peste negra (1347), a cólera (1817), a gripe espanhola
(1918), a gripe asiática (1957), a gripe de Hong Kong (1968), a gripe porcina
(2009), e atualmente, a COVID-19 (2019) [1].
A peste de Justiniano em 541 d.C. teve um impacto econômico
catastrófico que afetou principalmente a agricultura e reduziu a possibilidade
de recrutamento de soldados para as legiões romanas devido ao impacto
demográfico. Isso evitou a consolidação da influência do Império Romano em
algumas regiões ocidentais, representando a linha divisória entre o mundo
antigo e a Idade Média [9].
Durante a peste de Justiniano, os infectados experimentaram
fadiga, febre, alucinações, mas rapidamente evoluíram para bubões (inchaço dos
gânglios linfáticos) na região da virilha ou axilar, inclusive nos ouvidos. Os
pacientes morreram poucos dias após a gangrena em seus bubões, tendo
hemorragias ou estado delirante e letárgico, sem desejo de comer e beber. Após
o surto inicial em 541 d.C., foram estabelecidos ciclos recorrentes dessa
infecção. Acredita-se que a população do Império Romano tenha sido reduzida em
40%, sendo Constantinopla a cidade mais afetada, com uma perda populacional de
mais de 50% [1].
A peste negra (1347-1351) foi causada pela bactéria Yersinia pestis que
se propagava por ratos contendo pulgas contaminadas, gerando rápida
disseminação e alta mortalidade na Europa. Introduzida pela rota comercial da
seda, reduziu a população mundial da época de 450 milhões para 300 milhões.
Nesse período, a ciência médica não possuía o conhecimento necessário para
explicar esta doença. Essa lacuna contribuiu para estudiosos e leigos
justificarem essa pandemia através de explicações divinas, movimento das
estrelas e fenômenos naturais [10].
Estima-se que a peste negra tenha matado até 60% da
população europeia. A mortalidade desta praga no mundo foi próxima de 70%,
quando ainda não havia tratamento eficaz. No entanto, com o advento dos
antibióticos no século XX, a mortalidade diminuiu para 11% [11].
Desde 1817, a bactéria virulenta Vibrio
cholerae causou sete pandemias de cólera. A cólera é
uma doença infecciosa que gera principalmente diarreia grave, a qual ocasiona
alto grau de morbimortalidade. As cepas de V. cholerae
são agrupadas com base em seus polissacarídeos do antígeno “O” e, no momento,
foram identificados mais de 200 sorogrupos, sendo os principais o “clássico” e
“El Tor” [12].
A bactéria V. cholerae
produz uma toxina potente nas células do revestimento intestinal, causando
diarreia grave. Os sorotipos O1 e O139 foram os agentes causadores das
pandemias de cólera. Estima-se que ela infectou de 3 a 5 milhões de pessoas
anualmente e teve uma taxa de mortalidade de 50% após 2 a 3 dias do contágio
[12].
A gripe é uma doença respiratória que pode causar irritação
de vias aéreas, coriza leve e infecções graves como pneumonia e síndrome do
desconforto respiratório agudo. Desde a sua origem, o século XX testemunhou
três pandemias de gripe altamente mortais. A gripe espanhola de 1918, na qual
porcos e humanos foram infectados simultaneamente com o vírus da influenza
H1N1; a gripe asiática em 1957 devido ao vírus da influenza aviária H2N2; a
gripe de Hong Kong em 1968 pelo H3N2. Já no século XXI, a gripe suína H1N1
(2009) teve seu início no México e espalhou-se rapidamente a outros
continentes, contudo, houve uma diminuição considerável dos casos de pneumonia
bacteriana, o que pode ser atribuído a um maior conhecimento dessa pandemia, no
diagnóstico precoce e na disponibilidade de tratamentos antimicrobianos [13].
A epidemiologia da gripe é caracterizada pela transmissão
dos vírus da gripe em níveis extremamente altos no inverno e muito baixos no
verão. Estima-se que a gripe de 1918 tenha matado mais de 50 milhões de pessoas
em todo o mundo. Aproximadamente, apresentou uma taxa de ataque de 28%, tempo
de geração serial de 4,5 dias e número básico de reprodução de 1,8. Dados
semelhantes foram relatados para as gripes subsequentes de 1957 e 1968 [14]. Já
a gripe suína originou-se do México (2009), infectando mais de 10% da população
mundial, com um número estimado entre 20.000 a 500.000
mortes. Sua taxa de mortalidade foi menor que as taxas anteriores por influenza
[1].
Hodiernamente, a pandemia da COVID-19, originada na China
pelo SARS-CoV-2, vem causando um problema de saúde global. Está altamente
relacionada a manifestações infecciosas do trato respiratório, apresentando
como formas de transmissão as gotículas respiratórias, pelo contato direto
entre pessoas ou pelo contato indireto com superfícies de materiais ou objetos
contaminados (fômites). Os casos mais graves desenvolvem pneumonia, geralmente
apresentando febre e tosse, podendo ocorrer o envolvimento pulmonar bilateral
com opacidade em vidro fosco [15].
O vírus SARS-CoV-2 tem um período médio de incubação de 6,4
dias e um número básico de reprodução de 2,24 a 3,58 dias. A determinação da
morbimortalidade da COVID-19 pode mudar, porque a pandemia ainda está em
processo de expansão em todo o planeta. No entanto, desde o início da pandemia
e, nos dias que correm, segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde
(OMS), são mais de 93 milhões de casos acumulados e mais de 2 milhões de mortes
acumuladas em todo o mundo [16].
Concepções
vigentes do distanciamento social como medida preventiva da COVID-19
Frente a esta grave crise mundial pelo novo coronavírus,
ações de prevenção tornam-se imperiosas, colocando em evidência os efeitos do
distanciamento social no combate à COVID-19, ainda mais devido à alta
capacidade de disseminação da doença e ao fácil deslocamento das pessoas por
vias aéreas, marítimas e terrestres.
As medidas a serem adotadas desde o início da pandemia
foram o isolamento e o distanciamento social, com foco na redução da
transmissão da COVID-19 e na prevenção da sobrecarga dos serviços de saúde
pública, a fim de possibilitar o atendimento de saúde para todas as pessoas
infectadas e evitar o colapso da rede hospitalar [17].
Os tipos de distanciamento social se deram por meio de
restrição de atividades públicas, aglomerações, fechamento de estabelecimentos
não essenciais, confinamentos residenciais, trabalhos em casa, cancelamento de
viagens e fechamento de fronteiras. Entre outras medidas adotadas, estão as
recomendações de manter os locais ventilados, higienização das mãos, uso de
álcool gel e máscaras [18].
De acordo com a OMS, o distanciamento social é a principal
medida preventiva da COVID-19, sendo atualmente a forma mais eficiente para
diminuir a força da pandemia. As recomendações de distanciamento social foram
impostas em vários países, porém as medidas adotadas foram de responsabilidade
das autoridades locais, de acordo com as necessidades prioritárias que precisam
ser atendidas, visando reduzir a propagação da doença entre os indivíduos
[17,19].
Ausência
de evidências robustas para tratamentos eficazes
Atualmente, a maior lacuna da COVID-19 está no tratamento
adequado dos contaminados, já que se trata de uma doença nova. A busca de
tratamentos eficazes para reduzir os danos associados à COVID-19 tem sido
sustentada com a utilização de medicamentos de tratamento para outras doenças.
Um exemplo bem discutido é o uso do medicamento antimalárico, a cloroquina e
seu análogo hidroxicloroquina, considerado inicialmente terapia eficaz.
Contudo, um estudo demonstrou que não há eficácia da hidroxicloroquina isolada
ou associada a azitromicina no tratamento da COVID-19 em estágio leve a
moderado, trazendo mais riscos para a saúde dos indivíduos doentes [20].
Há outras terapias em curso, visando a redução do agravo ao
paciente com COVID-19, como o uso de terapias com antirretrovirais,
consideradas como terapias medicamentosas para tratar a doença [20]. Porém, é
de amplo consenso entre os especialistas do mundo todo que a morbimortalidade
por COVID-19 só será controlada quando houver uma estratégia de vacinação
segura e extensamente distribuída. Existem dezenas de vacinas em testes
clínicos e outras já sendo aplicadas em caráter emergencial em alguns países,
porém, ainda não são suficientes para aplicação em massa e distribuição
equitativa entre os continentes. No entanto, a evolução do desenvolvimento das
vacinas virá com o passar dos anos, até que mais ensaios clínicos sejam
concluídos e se conheça melhor o processo de imunização da COVID-19 [21].
Portanto, como a COVID-19 é catalogada como uma doença
nova, é necessário que a ciência procure alternativas de tratamentos eficazes,
baseados em fortes evidências, para que, assim, os profissionais da saúde
possam oferecer uma assistência de qualidade e segura.
Capacitação
de profissionais de enfermagem no atendimento de alta complexidade
Apesar de não haver um tratamento eficaz para COVID-19, o
trabalho dos profissionais da saúde em alta complexidade tem sido essencial
para salvar vidas neste momento. A atuação dos profissionais de enfermagem em
uma unidade de alta complexidade é composta por ações e serviços que visam
reestabelecer a saúde dos pacientes críticos. A complexidade da assistência na
prática clínica demanda disponibilidade de profissionais especializados e
utilização de tecnologias para apoiar o diagnóstico e tratamento das doenças
[22].
Para uma atuação qualificada em alta complexidade, o
profissional de enfermagem procura uma sustentação de conhecimentos propostos,
quase que exclusivamente, por cursos de especialização em enfermagem,
envolvendo formação especializada em Urgência e Emergência, Assistência ao
Paciente Crítico, e/ou Cuidado em Terapia Intensiva.
Esta compreensão da formação especializada em enfermagem,
influenciada em sua essência pela Medicina, gera um forte impacto no cuidado em
saúde pública durante as pandemias. Referente a isso, o cenário atual da
COVID-19 tem evidenciado a profunda necessidade do uso de tecnologias na
assistência em alta complexidade para a sobrevida de indivíduos que reagem
criticamente à infecção pelo vírus [22].
Assim, é posta a reflexão da necessidade do cuidado crítico
associado ao cuidado social, amparados por políticas públicas. Dessa forma, o
controle de doenças de veiculação social irá requerer, inevitavelmente, de um
suporte avançado de saúde, eficaz e resolutivo [23].
A pandemia do novo coronavírus tem exigido mudanças
significativas e frequentes nos hábitos de vida dos profissionais de
enfermagem, assim como nos protocolos e fluxos institucionais, o que oportuniza
o reconhecimento social da enfermagem a patamares jamais vistos no Brasil e no
mundo, com implicações para mudanças políticas e curriculares, sobretudo nas
práticas referentes à atenção em alta complexidade [24].
O processo acelerado de construção do conhecimento acerca
da COVID-19 exige que os profissionais de enfermagem da linha de frente se
capacitem permanente. Além disso, buscar se desenvolverem para uma prática de
cuidados segura para o paciente, para si mesmos, para os demais membros da
equipe e para a comunidade social desses profissionais, em que irão circular
após o término do turno de trabalho [25].
Portanto, o profissional enfermeiro, desde a sua formação
em graduação, deverá assumir um senso de coletividade e de responsabilidade
social. A atualização constante dos conhecimentos sobre protocolos dos órgãos
governamentais e das diretrizes internacionais será essencial para o tratamento
de doenças e a proteção dos profissionais. Cabe ressaltar que em prol da
promoção da saúde e prevenção da COVID-19, a enfermagem em alta complexidade
aspira pela união do binômio, ciência e educação, amparada pela prática
cotidiana do processo de formação da enfermagem. Nesse sentido, o cenário de
atuação clínica busca sistematizar, assistir e adotar práticas clínicas
baseadas em evidências.
A
saúde dos profissionais de enfermagem no enfrentamento da pandemia
De fato, o enfrentamento da COVID-19 demanda uma enfermagem
capacitada e treinada. Mesmo diante do medo de adoecerem, das condições
precárias de trabalho e do dimensionamento de profissionais reduzido, a
enfermagem vem conquistando notório protagonismo na pandemia da COVID-19. A
enfermagem está ganhando reconhecimento de seu trabalho frente a essa crise
humanitária, auxiliado pela exposição midiática de sua atuação [26]. Contudo,
infelizmente, a enfermagem vem adoecendo, tanto física como psicologicamente
[26,27,28,29]. Com isso, emerge o debate sobre a necessidade de medidas legais e
institucionais que garantam a segurança e o apoio biopsicossocial dos
enfermeiros.
Um estudo demonstrou que jornadas prolongadas, aliadas ao
uso interrupto de equipamentos de segurança pessoal, aumentam o estresse,
cansaço físico e traumas cutâneos em trabalhadores da saúde [30]. Além das
dificuldades enfrentadas pelos profissionais da saúde, o estudo conclui que os
profissionais em cuidados diretos à pacientes com COVID-19 tem alto risco de
infecção pela doença, e essa transmissão pode se estender a outras áreas, como
refeitórios e salas de descanso dos profissionais. Com isto, é reforçado a
necessidade da triagem periódica dos profissionais da saúde para SARS-CoV-2,
para que haja o afastamento imediato dos profissionais infectados [27].
Frente a este cenário de risco vivenciado pelos
profissionais da saúde, a OMS lançou uma carta [31] no dia 17 de setembro de
2020, dia mundial da segurança do paciente, sobre a segurança do trabalhador de
saúde, com o tema “Segurança do profissional da saúde: Uma prioridade para a
segurança do paciente” e o slogan “Profissionais de saúde seguros, pacientes seguros”.
Esta carta exorta aos governantes e responsáveis pelos sistemas de saúde de
todo o mundo a adotarem cinco medidas de proteção aos trabalhadores da saúde,
visando protegê-los da violência, melhorar sua saúde mental, protegê-los de
perigos físicos e biológicos, promover programas nacionais de segurança do
trabalhador e vincular as políticas do trabalhador com políticas de segurança
do paciente existentes [31].
Organização
dos sistemas de saúde frente a pandemia da COVID-19
Segundo
a OMS [32], um sistema de saúde é formado por
organizações, pessoas e ações que têm
como propósitos a promoção,
restauração e
manutenção da saúde. O sistema de saúde
está representado por organizações
públicas e privadas. Fazem parte dos sistemas de saúde as
atividades comerciais
ligadas à saúde, os planos e seguros de saúde,
atividades de segurança
ocupacional, educação em saúde, serviço
público, entre outros [32]. Esta visão
abrangente dos sistemas de saúde expõe a complexidade dos
sistemas existentes e
das dificuldades frente à pandemia da COVID-19.
Os sistemas de saúde do mundo enfrentam um enorme desafio
na tentativa de conter os estragos oriundos da pandemia. Contudo, cada nação
respondeu de uma forma singular a essa emergência de saúde pública, tanto de
forma eficiente como ineficiente [33]. As problemáticas mais comuns estão
relacionadas com a desestruturação da saúde pública, o subfinanciamento,
a gestão ineficiente e a desarticulação da rede de atenção em saúde [33]. De
fato, os sistemas de saúde não estavam preparados para enfrentar uma pandemia
desta proporção e tem recebido pouco apoio financeiro para reposta à pandemia
[34].
Destarte, é necessário que as nações busquem melhorar as
lacunas dos sistemas de saúde, as quais estão sendo expostas pela COVID-19.
Dentre essas melhorias em saúde, destacam-se: fortalecer as redes de atenção,
desenvolver uma rede de acreditação de serviços, criar maior capacidade de
instalações para emergências em saúde pública e desastres, melhorar a qualidade
da vigilância sanitária com um sistema integrado de notificação e resposta
rápida em surtos [35].
Outrossim, autores sugerem que para manter um bom domínio
dos sistemas de saúde são necessários quatro pilares, que são: integração
(integrar a segurança global com sistemas de cobertura universais e
eficientes); financiamento (equilibrar sistemas de saúde integrados);
resiliência (desenvolver uma gestão e manutenção dos sistemas de saúde); e
equidade (desenvolver políticas que assegurem os direitos como alicerce para os
sistemas de saúde) [33]. Por fim, o investimento em logística e recursos
humanos dentro do sistema de saúde devem ser priorizados pelos governos, para
que o enfrentamento de emergências em saúde pública seja mais eficiente em
promover, restaurar e manter a saúde humana.
Alto
potencial de propagação do novo coronavírus
A alta disseminação e propagação da COVID-19 no final de
2019 destacou os desafios enfrentados pelo sistema de saúde da China. Em
algumas regiões, como a província de Hubei, os casos
de letalidade foram de 2,9%, enquanto em outras regiões do país foram apenas
0,4%, apresentando uma taxa de letalidade em pacientes sete vezes menor [36].
A capacidade de disseminação do novo SARS-CoV-2 é
exponencial, suplantando a capacidade dos sistemas de saúde em absorver o
atendimento desses casos, inclusive nos melhores sistemas de saúde do mundo. A
estratégia da OMS sugerida para o combate da pandemia se baseia em aspectos
como encontrar casos da doença (testes em massa), isolar esses casos, tratar os
doentes e implementar medidas de quarentena para prevenir novos casos da
infecção. Realizar isso é muito desafiador, pela proporção da pandemia e
elevado custo financeiro e social acarretados [37].
Em uma revisão de literatura, demonstrou-se que apesar de
poucos estudos ainda realizados, a combinação da quarentena com outras medidas
como restrições de viagens, fechamento de escolas e distanciamento social têm
um grande efeito na redução da transmissão e de óbitos [17].
Neste sentido, ressalta-se que, antes de oportunizar a
flexibilização das medidas de distanciamento social, as autoridades e líderes
de saúde devem elaborar protocolos e diretrizes para a população, garantindo o
acesso aos serviços de saúde, priorizando o isolamento dos pacientes com
COVID-19 e evitando negligenciar o atendimento dos pacientes portadores de
outras patologias. Portanto, enquanto não houver tratamento eficaz para
COVID-19, será primordial que seja mantido o distanciamento social, desta
forma, evitando-se o colapso dos serviços de saúde durante novas ondas de
infecção.
Risco
de reincidência da COVID-19
Com o potencial risco de novas ondas de infecção por
COVID-19, alguns governos, com o intuito de abreviar a condição de
distanciamento social, sugeriram o chamado “passaporte de imunidade”, no qual
as pessoas realizam testes para verificar se são portadoras de anticorpos
contra o vírus SARS-CoV-2, e se o resultado for positivo, poderiam voltar ao
trabalho por serem considerados imunes à doença. Contudo, testes
imunodiagnósticos imprecisos poderiam identificar erroneamente pessoas
portadoras da doença como “imunes”, o que acarretaria o aumento da transmissão.
Por outro lado, ainda que exames confiáveis detectassem anticorpos para o
diagnóstico de imunidade, não está bem estabelecida a significância de
imunidade à doença [38].
Frente a isso, a OMS afirma que, no momento, não há
evidências suficientes sobre a eficácia da imunidade mediada por anticorpos
para garantir com precisão um “passaporte de imunidade”, as pessoas que forem
assim rotuladas podem elevar os riscos de transmissão contínua da doença [38].
A evolução da pandemia ainda está em curso, sendo esperado
que afete rapidamente a maior parte da população mundial (entre 1 e 2 anos).
Ainda é cedo para afirmar que o vírus irá diminuir sua transmissibilidade em
suas mutações ou se irá diminuir sua patogenicidade, bem como se haverá
controle das transmissões com as vacinas que estão sendo desenvolvidas, já que
novas variantes do SARS-CoV-2 estão surgindo [39].
A despeito disso, um estudo evidenciou a possibilidade de
uma imunidade duradoura específica contra o SARS-CoV-2
associada às células T, tanto para grupos de pacientes curados da
COVID-19, quanto para curados da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).
Pois, em pacientes que contraíram um coronavírus semelhante e causador da SARS
(2002-2003) ainda apresentam memória imunológica mediada por célula T após 17
anos [15].
A assistência de saúde pública primária em todo o país,
mesmo nas regiões com melhores estruturas, apresentou deficiência para suportar
o fluxo de pacientes decorrentes da COVID-19, com regiões chegando ao colapso,
com aumento de custo operacional e um impacto grave na cadeia de suplementos
hospitalares [40]. A falta do conhecimento sobre a COVID-19 ocasiona
dificuldade para o gerenciamento da doença e na triagem eficiente dos pacientes
para evitar uma superlotação dos serviços de saúde [41]. O risco iminente de
ocorrer mais ondas de infecções assombra governos do mundo todo [16], sendo
necessário um planejamento e previsão de recursos que assegurem a estabilidade
do sistema de saúde nesses períodos.
Impacto
econômico
Como
visto, a pandemia está em curso e as medidas de
distanciamento social ainda são necessárias. Frente a
isso, uma grande
preocupação dos governos é o impacto gerado na
economia por medidas restritivas
implantadas para prevenção da disseminação
da COVID-19. Em vista disso, os
aspectos socioeconômicos associados à
evolução da pandemia são fatores de
preocupação para todos, pois se estende desde as pessoas
em grupos
socioeconômicos mais baixos até aqueles em
posições socioeconômicas mais altas
[4]. A atenção à população deve ser
pautada na implantação de estratégias que
possam contribuir na redução do risco de
exposição ao vírus, mas que também
inclua um planejamento que auxilie a manter viáveis os aspectos
econômicos dos
países [42].
Com o cenário atual da COVID-19, o fluxo de caixa de cada
país tem sido discutido em diversos âmbitos, uma vez que pode desencadear
mudanças econômicas, como a queda do consumo de bens e serviços devido à
redução de circulação e lockdown da população, indisponibilidade de
matéria-prima aumentando o custo unitário de produção, redução no volume de
vendas devido a uma diminuição do poder de compra da população, potencial
necessidade de terceirizar processos internos devido às limitações impostas
pelo lockdown, entre outros [20].
Diante desta circunstância, torna-se necessário adotar
estratégias que sejam exequíveis dentro dos planos contingenciais nos períodos
de crise e pós-crise da COVID-19. Desta maneira, haverá suporte econômico para
sobrevivência de muitas organizações (sistemas privados e públicos), as quais
impactam em grandes retornos financeiros para os países e para a população
inserida no respectivo panorama vivenciado [42].
Sistemas
de saúde: limitações e desafios
Durante o processo pandêmico da COVID-19, foi possível
identificar um aumento significativo dos casos e das internações em unidades de
terapia intensivas, com casos em uma curva crescente, chegando em aproximadamente
300% de internações nos âmbitos hospitalares mundiais [43].
Outros fatores relevantes, como a sobrecarga do trabalho
operacional e aumento considerado da demanda do sistema de saúde, têm causado
muitas preocupações. Além de carecer de mais mão de obra para atuar à beira do
leito, também requer a ampliação de investimentos em materiais de proteção
individual e equipamentos para suprir a demanda do sistema de saúde e garantir
a segurança do paciente e do profissional de saúde [43].
A eficiência da administração dos sistemas de saúde no
enfrentamento de novos surtos está atrelada ao enfrentamento político durante a
crise. A tomada de decisão para lidar com a pandemia vinculada à implantação de
estratégias multifocais pode contribuir para a definição do curso da doença nas
nações [44].
O impacto imediato no sistema de saúde demanda um aumento
prolongado de atendimento de casos com COVID-19. Muitos hospitais precisaram
desenvolver estratégias relacionadas às restrições de visitas e acompanhantes
para lidar com o isolamento do paciente. Dentre as estratégias utilizadas,
destacam-se a utilização de rodadas virtuais, visitas multiprofissionais e
familiares, além da implantação da telessaúde [45].
Disputas
em torno dos imunizantes
Com o surgimento e a disseminação da COVID-19, a busca por
imunizantes através de ensaios clínicos se intensificou, visando o uso
emergencial. A utilização de diversas tecnologias ganhou relevância na produção
das vacinas, tais como vírus inativado, vetor viral e subunidade com
adjuvantes. Ainda há uma preocupação sobre a eficiência e impacto das vacinas
contra a COVID-19, visto que estas tecnologias são baseadas em gerar anticorpos
neutralizadores com a possibilidade de produzir imunidade celular duradoura [46].
Outro fator limitante é a escolha e distribuição dos
imunizantes. Algumas vacinas precisam logística de distribuição e armazenamento
em ultrafreezer a baixas temperaturas (-70 °C) [47].
Em consequência, o uso desses imunizantes seria inviável em muitos países de
América latina, devido à falta de uma rede de refrigeração apropriada e o custo
imediato que isto representa. Os efeitos colaterais da vacina são um fator a
mais na escolha do imunizante, pois os governos buscam uma boa margem de biossegurança
[47]. Neste sentido, as evidências científicas precisam validar a eficiência do
imunizante, tais como margem de biossegurança, monitoramento de eventos
adversos e avaliação do tempo de imunização [48].
Desta forma, são muitos os fatores que podem ser
considerados como margem de preocupações, pois além de haver necessidade da
produção de doses em larga escala para suprir a demanda mundial, ainda tem as
questões sociais e decisões políticas que podem interferir no processo de
vacinação. Este é um momento em que líderes governamentais devem se posicionar
no combate das informações falsas e do uso politizado da saúde, buscando com
primazia a proteção da saúde da população e o bem-estar coletivo [49].
Perspectivas
para o futuro
De fato, as pandemias costumam trazer consigo muitos
problemas e preocupações. Com a pandemia da COVID-19 não foi diferente. O
mundo, ainda atravessa este difícil período pandêmico, em que as medidas como
distanciamento social, isolamento, higienização das mãos e uso de máscara ainda
são necessários. As medidas preventivas não farmacológicas são as medidas mais
plausíveis e com bom embasamento científico [49]. O uso individual de apenas
uma dessas medidas preventivas não é suficiente para controlar a doença. Por
tanto, é necessário a conscientização da população sobre o uso simultâneo
dessas medidas, já que esses cuidados deverão fazer parte da rotina de todos
durante esse período pandêmico [50].
Atualmente, não existe um tratamento eficaz para a
COVID-19. No entanto, estudos de tratamentos clínicos randomizados e
controlados por placebo demandam tempo e análise dos dados coletados, o que
dificulta uma resposta rápida da ciência para um tratamento eficaz contra a
COVID-19. Os tratamentos empregados são empíricos e visam diminuir as
hospitalizações e óbitos [51]. Um recente estudo descreveu os principais
métodos terapêuticos utilizados em pacientes com COVID-19: redução da reinoculação; terapia antiviral combinada; imunomodulação; terapia antiplaquetária e antitrombótica; administração
de oxigênio e monitoramento [51]. Só com o tempo, conforme avançam as
pesquisas, a medicina terá tratamentos eficazes e validados contra a COVID-19.
Em contrapartida, a COVID-19 não afetou somente a saúde
humana, também atingiu outros aspectos importantes, como aumento da
discriminação (contra asiáticos e profissionais da saúde), desestabilização do
setor econômico (turismo, indústria de viagens, entretenimento, serviços,
investimentos, desemprego em larga escala) e desordens psíquicas (depressão,
ansiedade, transtorno do pânico) [52]. Vários desses aspectos terão efeitos de
curto e longo prazo. Frente a isso, é exigido dos governos adaptações e estratégias
rápidas para mitigar ou amenizar tais problemas.
Por fim, a COVID-19 demonstrou que o homem precisa repensar
seu modus operandi em relação ao cuidado do planeta terra. Existe uma alta
correlação entre a destruição da fauna/flora e o surgimento de novas doenças
infecciosas. Uma abordagem transdisciplinar deverá ser construída para a
prevenção e gestão de novos surtos e epidemias. Nessa abordagem, profissionais
multidisciplinares (medicina, veterinária, ciências sociais, ciências
econômicas, saúde ambiental, entre outros) trabalham em conjunto para gerar uma
resposta coordenada e eficiente [52]. Impreterivelmente, a humanidade deverá
estar melhor preparada para futuras ameaças
pandêmicas, pois ficou evidente que a falta de infraestrutura sólida pode ser
trágica e com perdas irreversíveis.
A evolução epidemiológica das pandemias passou por várias
etapas para alcançar o conhecimento e as ferramentas de controle necessárias.
Contudo, é evidente que ao longo do tempo e espaço, o surgimento das pandemias
tem demonstrado capacidade para desestabilizar qualquer sociedade, mesmo a
atual pandemia.
No cenário emergente da COVID-19, a medida de
distanciamento social tem contribuído de maneira significativa para conter a
transmissão da doença. Entretanto, fatores emocionais adversos (ansiedade,
depressão e outros) podem estar associados ao modo de lidar com a doença no
panorama global. Além disso, também geram preocupação a evolução incerta da
doença, a alta taxa de propagação do vírus e o risco de reincidência.
Ressalta-se que é essencial que o sistema de saúde seja
capaz de gerenciar os recursos necessários para oferecer atendimento a
pacientes gravemente acometidos pela COVID-19, dentro dos princípios de
universalidade, equidade e integralidade. Do mesmo modo, é indispensável a
gestão competente do sistema de saúde para prover a imunização da população de
forma rápida e segura.
Ademais, os profissionais de enfermagem devem se capacitar
no cuidado ao paciente crítico, visto que estão na linha de frente no combate
da COVID-19. Mudanças políticas e curriculares na enfermagem serão necessárias
para melhor formação do professional na atenção de alta complexidade.
Vários são os fatores limitantes que afetam a ordem
econômica e acessibilidade em saúde dos países. No entanto, as evidências
científicas são ferramentas confiáveis para o tratamento eficaz da doença e
para superar as limitações dos sistemas de saúde no enfrentamento desta
pandemia. Em síntese, os inúmeros desafios impostos pela pandemia emergente
representam uma oportunidade para aprender, melhorar e implementar estratégias
de prevenção, controle e tratamento de futuras pandemias.