Enferm Bras 2021;20(2):177-90
ARTIGO ORIGINAL
A
importância da atuação dos profissionais do centro de material e esterilização
para o cuidado em saúde
Ariane
Leite Pereira*, Nayara Kelly Felix Ferreira*, Karla Thaiany
Nunes Barbosa*, Jaqueline Maria da Silva*, Samyris Palloma da Silva Domingos*, Maíra Danielle Gomes de Souza, D.Sc.** Cíntia de Carvalho Silva***
*Graduada
em Enfermagem pelo Centro Universitário do Vale do Ipojuca (UNIFAVIP Wyden) Caruaru/PE, **Enfermeira, Especialista em Enfermagem
em Cirurgia Robótica pelo Albert Einstein/SP, Doutora em Cirurgia pela
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife/PE, ***Enfermeira, Doutoranda
em Enfermagem Universidade de Pernambuco (UPE)
Recebido
em 8 de dezembro de 2020; Aceito em 30 de abril de
2021
Correspondência: Ariane Leite Pereira, Rua Travessa
Frei Caneca, 41, 55200-000 Pesqueira PE
Ariane Leite Pereira: arianeleitee@hotmail.com
Nayara Kelly Felix Ferreira: nayara_kelly2016@hotmail.com
Karla Thaiany Nunes Barbosa:
karlanunes745@gmail.com
Jaqueline Maria da Silva: jackelinemary_@hotmail.com
Samyris Palloma
da Silva Domingos: samyris_palloma@hotmail.com
Maíra Danielle Gomes de Souza: maira.dgomes@gmail.com
Cíntia de Carvalho Silva: cintia.silva@unifavip.edu.br
Resumo
O
Centro de Material e Esterilização (CME) é um ambiente essencial e peculiar
destinado ao processamento de produtos para saúde dos serviços de saúde. A
pesquisa teve como objetivo descrever a percepção da equipe de enfermagem
atuante no CME sobre o processo do trabalho realizado e sua implicação para a
saúde do paciente. Justifica-se por haver poucos estudos e com mais de 10 anos
de publicação sobre o reconhecimento desse centro como um dos setores que
promovem a segurança do paciente. Trata-se de um estudo transversal com caráter
exploratório-descritivo e abordagem quantitativa realizado com 35 profissionais
de enfermagem no CME. 77,1% dos entrevistados eram do sexo feminino, 51,4%
possuíam até 5 anos de atuação no setor, 97,1% relacionavam o processamento dos
artigos de saúde com a segurança do paciente e 48,6% dos profissionais não
observavam um reconhecimento por parte dos profissionais de outros setores
sobre a importância do trabalho desenvolvido no CME. Assim, os profissionais de
enfermagem atuantes nesse centro reconhecem que a assistência prestada de forma
indireta é essencial para garantia da segurança do paciente através do
processamento adequado dos artigos médico-hospitalares.
Palavras-chave: educação continuada; esterilização;
enfermagem; riscos ocupacionais; segurança do paciente.
Abstract
The importance of the performance
of professionals at the material and sterilization center for health care
The Material and Sterilization Center (MSC) is an
essential and peculiar environment destined to the processing of health
products in health services. The research aimed to describe the perception of
the nursing team working in the MSC about the work process performed and its implication
for the patient's health. It is justified because there are few studies with
more than 10 years of publication on the recognition of this center as one of
the sectors that promote patient safety. This is a cross-sectional study with
exploratory-descriptive character and quantitative approach carried out with 35
nursing professionals in the MSC. 77.1% of interviewees were female, 51.4% had
up to 5 years of experience in the sector, 97.1% related the processing of
health articles with patient safety and 48.6% of the professionals did not
observe recognition by professionals from other sectors about the importance of
the work developed in the MSC. Thus, nursing professionals working in this
center recognize that the assistance provided indirectly is essential to
guarantee patient safety through the adequate processing of medical-hospital
items.
Keywords: continuing education;
sterilization; nursing; occupational risks; patient safety.
Resumen
La
importancia del material y el trabajo de los
profesionales del centro de
esterilización para el
cuidado de la salu
La
Central de Material y Esterilización (CME) es un entorno esencial y peculiar
destinado al procesamiento de productos
sanitarios de los servicios de salud. La investigación tuvo como objetivo describir la percepción
del equipo de enfermería
que trabaja en la CME sobre el proceso de trabajo realizado y su implicación en la salud
del paciente. Se justifica por tener
pocos estudios y más de 10 años de publicación sobre el reconocimiento de esa central como uno de los factores que promueven la seguridad del
paciente. Se trata de un estudio
transversal con carácter exploratorio-descriptivo
y de abordaje cuantitativo
realizado con 35 profesionales
de enfermería en la CME. 77,1% de los
entrevistados eran mujeres,
51,4% tenían hasta 5 años
de experiencia en el sector,
97,1% relacionaban el procesamiento de productos sanitarios con la seguridad del
paciente y 48,6% de los profesionales
no observaban reconocimiento
por parte de los profesionales
de otros sectores sobre la importancia del trabajo desarrollado en esa central. Así, los profesionales de enfermería que trabajan en la CME reconocen
que la asistencia prestada
de forma indirecta es fundamental para garantizar la seguridad
del paciente mediante el adecuado procesamiento de los elementos médico-hospitalarios.
Palabras-clave: educación
continua; esterilización; enfermería;
riesgos laborales; seguridad del paciente.
O Centro de Material e Esterilização (CME) é um ambiente
essencial e peculiar destinado ao processamento de produtos para saúde que
abastece todas as unidades consumidoras da instituição de saúde. Nesse cenário,
a qualidade da assistência prestada ao paciente ocorre de maneira indireta,
ressaltando a responsabilidade dos profissionais de enfermagem e a importância
do setor [1].
O enfermeiro atuante no CME, regulamentado pela Resolução
n.424/2012 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), desenvolve um trabalho
complexo por possuir características técnico-assistenciais que requerem
conhecimentos específicos sobre as etapas de processamento, diversidade dos
artigos médico-hospitalares existentes na instituição de saúde, gerenciamento
do setor e equipe, busca constante de atualização as novas tecnologias e
comunicação eficaz com as unidades consumidoras [2,3].
Historicamente, houve uma fragmentação entre o cuidado
direto e indireto prestado ao paciente cabendo ao processo de trabalho do
enfermeiro no CME atribuições como: supervisão, organização e administração. O
fato dos profissionais atuantes em CME não assumirem uma assistência direta ao
paciente, apesar de possuírem embasamento científico para fundamentar suas
ações é um dos fatores que contribuem para a ideia de invisibilidade do setor e
da equipe atuante [4].
O principal objetivo do trabalho desenvolvido no CME é garantir
qualidade e segurança no processamento dos materiais de saúde, desta forma,
torna-se necessário a atuação de uma equipe capacitada que busque constante
aperfeiçoamento devido aos avanços tecnológicos, mudanças no processo de
trabalho por meio da sensibilização e engajamento, compartilhando e aplicando o
conhecimento científico, garantindo que os materiais para o consumo na saúde
estejam livres de contaminação, contribuindo assim para a segurança do paciente
[2].
A equipe de enfermagem ainda encontra dificuldade no
desenvolvimento do trabalho devido ao desconhecimento das etapas corretas no
processamento dos materiais. A precariedade na capacitação técnica, risco
ocupacional e a comunicação ineficaz intersetorial são fatores que contribuem
para a falta de identificação e especificação do trabalho de enfermagem
desenvolvido no CME podendo interferir na qualidade da assistência indireta
prestada [5]. O presente estudo buscou descrever a percepção da equipe de
enfermagem do CME sobre o processo do trabalho realizado e a sua implicação
para a saúde do paciente. Justificou-se por haver poucos estudos publicados na
literatura sobre o reconhecimento do CME como um dos setores que promovem a
segurança do paciente, e grande parte das publicações relacionadas ao assunto
tem mais de 10 anos.
Estudo transversal com caráter exploratório-descritivo e
abordagem quantitativa, realizado no Centro de Material e Esterilização (CME)
de um hospital público localizado no Agreste do Estado de Pernambuco, no período
de agosto a setembro de 2019.
Foram incluídos no estudo 35 profissionais
de enfermagem, sendo eles enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem do
CME. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética CAAE: 16336719.8.0000.5666.
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). A partir da aceitação dos profissionais, aplicou-se um questionário
estruturado com 15 perguntas de múltipla escolha, incluindo dados
sociodemográficos, laborais e sobre o conhecimento dos profissionais do CME
acerca da importância do seu trabalho para a garantia da segurança do paciente
neste setor. A partir dos resultados, os dados foram tabulados e analisados
através da construção de gráficos e tabelas, utilizando o software Microsoft
Excel, no qual foram evidenciados valores absolutos e percentuais, facilitando
a compreensão dos achados.
Em relação aos dados sociodemográficos analisados, houve
uma predominância do sexo feminino no setor que correspondem a 77,1% dos
profissionais, as idades prevalentes eram de 51 a 60 anos representando 49%. Em
relação à categoria profissional, 82,9% eram técnicos em enfermagem, e 65,7%
apresentavam tempo de formação profissional acima de 20 anos (Tabela I).
Tabela
I - Perfil
sociodemográfico dos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem
entrevistados
Quanto ao tempo de trabalho no CME, 51,4% dos profissionais
trabalhavam no setor até 5 anos, o trabalho em turno integral e escala 12 x 12
horas correspondem a 94,3%. Em relação a atuação em outro setor da instituição
além do CME, 77,1% responderam que não atuaram em outro setor da instituição e
apenas 2,9% possuíam especialização na área (Tabela II).
No que se refere ao último setor que os profissionais
atuaram antes de serem alocados no CME, 37,1% atuaram em diferentes setores
daqueles abordados no questionário, seguido por 28,6% que atuaram em centro
cirúrgico. No que diz respeito à escolha para trabalhar no setor, a maioria
88,6% responderam “sim” que escolheram trabalhar no CME versus e 11,4%
responderam “não”, isto significa que esses profissionais foram alocados pela
necessidade de profissionais no CME (Tabela II).
Em relação à satisfação quanto trabalhar no setor CME,
houve unanimidade na resposta, 100% dos participantes responderam “sim”. Acerca
do conhecimento desses profissionais quando questionados se o setor atende à
legislação vigente (RDC nº 15/2012), 74,3% dos profissionais responderam que
“sim”. Em relação à existência e aplicabilidade de Procedimento Operacional
Padrão (POP) no setor, 37,1% dos participantes responderam “sim” que utilizam o
POP na execução de suas atividades, enquanto 62,9% responderam “não”. Quando
questionados sobre a relação do processamento dos materiais no CME com a
segurança do paciente durante sua prática profissional 97,1% dos profissionais
afirmaram que “sim” (Tabela II).
Tabela
II - Perfil laboral
dos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem entrevistados
CME = Centro de Material e Esterilização; BC = Bloco
cirúrgico; SPRA = Sala de Recuperação Pós-Anestésica; UTI = Unidade de Terapia
Intensiva; RDC = Resolução da Diretoria Colegiada; CME = Centro de Material e
Esterilização.
Em relação aos principais problemas encontrados no setor,
45,7% dos profissionais apontaram que há outros problemas diferentes dos
citados no questionário sendo a falta de insumos o mais citado e 48,6%
apresentam a percepção que o trabalho realizado no CME é visto sem importância
(Tabela III).
Tabela
III - Problemas
relacionados ao trabalho no CME dos enfermeiros, técnicos e auxiliares de
enfermagem entrevistados
CME = Centro de Material e Esterilização
Estudos demonstram que o fortalecimento da implantação do CME
ocorreu devido à compreensão da equipe de saúde que qualquer falha ocorrida
durante o processamento dos artigos médico-hospitalares, seja ela humana ou
mecânica, desde presença de microrganismos vivos, produtos tóxicos ou resíduos
de produtos implicará em comprometimento do material e de sua esterilização
podendo causar, além de infecções aos pacientes, eventos adversos indesejáveis,
aumentando o tempo de internação e maiores custos na assistência prestada.
Esses fatores vão interferir não somente na qualidade da assistência prestada
dos procedimentos anestésico-cirúrgicos, mas também em tantos outros
procedimentos não cirúrgicos realizados nos demais setores da instituição de
saúde [6,7].
O cuidado prestado ao paciente pelos profissionais do CME ocorre
de maneira indireta e vai além da realização de atividades consideradas
rotineiras e repetitivas. A responsabilidade de entregar materiais seguros e
livres de contaminação para todas as unidades consumidoras ressalta a
importância do setor para a garantia da segurança do paciente e das atividades
executadas na instituição de saúde [4].
O tema sobre o papel do enfermeiro e da equipe de
enfermagem no CME apresenta literatura escassa, tornando esse profissional
pouco visível, refletindo muitas vezes em sua valorização, além disso, outros
fatores como a ausência de critérios de seleção para escolha do profissional
atuante no CME, alocação dos trabalhadores com problemas de saúde e/ou
limitação física e idade avançada, tornam-se um desafio [4].
Conforme evidenciado, 49% dos profissionais têm idade entre
51 a 60 anos, 65,7% possuem tempo de formação
profissional maior de vinte anos, destes 51,4% com pouco tempo de atuação no
setor, ou seja, de até cinco anos, dados que confirmam os fatores apontados na
literatura que refletem na valorização, desafios enfrentados pelos
profissionais e a importância do setor.
Segundo Sanchez et al. [4], os profissionais
selecionados para trabalhar no CME precisam de qualificação específica na área
e treinamento, o que influenciará diretamente no funcionamento do setor e na
segurança dos pacientes. O enfermeiro coordenador do CME necessita de
competências que são adquiridas através do conhecimento científico e realização
de qualificações. Assim, é crucial que esse profissional busque a apropriação
do embasamento científico e tecnológico para coordenar o seu trabalho, suas
ações devem ser fundamentadas nas legislações vigentes, além disso deve
esclarecer as dúvidas da equipe garantindo a efetividade no processo de
trabalho e recomendações referente às práticas para a segurança do paciente
[4]. À equipe de enfermagem do CME cabe o conhecimento acerca das
peculiaridades existentes do setor, por exemplo, informações sobre a vida útil
dos instrumentais cirúrgicos, riscos das deteriorações químicas e físicas,
realização de forma adequada a limpeza e desinfecção dos artigos, a qualidade
da água utilizada, tipos de invólucros e embalagens, funcionamento das
autoclaves, acompanhamento e interpretação dos métodos de validação,
armazenamento e manipulação dos materiais estéreis [8].
Na pesquisa 74,3% dos profissionais realizam o trabalho por
meio de educação em serviço, ou seja, quando foram alocados no setor não
possuíam conhecimentos específicos voltados à área, não receberam treinamento
da instituição, adquiriram apenas orientações dos profissionais mais antigos
acerca da realização do processamento dos artigos médico-hospitalares. A
atuação desses profissionais sem formação específica na área e sem treinamento
realizado pela instituição implica diretamente no processo de trabalho,
conforme observado na literatura, gerando muitas vezes dúvidas e inseguranças
na execução das etapas, podendo assim ocorrer falhas no processamento dos
artigos e complicações aos pacientes [2,9].
No presente estudo, em relação ao vínculo de trabalho da
equipe de enfermagem 28,6% dos participantes atuaram anteriormente no Centro
Cirúrgico (CC), havendo assim uma compreensão dos profissionais sobre o
trabalho desenvolvido no CME e sua importância, uma vez que o CC é considerado
o setor que mais consome artigos advindos do CME. Estudos demonstram que o
intenso uso de novas tecnologias, técnicas, equipamentos e produtos de saúde
reforçam a importância do setor CME e a necessidade de controle dos métodos
esterilizantes e qualificação dos profissionais que ali atuam, garantindo a
eficácia dos processos realizados [10,11].
Na pesquisa realizada, 88,6% dos profissionais referiram
que escolheram atuar no setor CME, entretanto a literatura analisada indica que
essa escolha nem sempre é uma opção do profissional e isto pode ser evidenciado
historicamente pelo critério de seleção dos profissionais. O mau direcionamento
dos profissionais pode ocasionar sobrecarga, desmotivação, desentendimentos,
comprometendo a eficácia no processamento dos materiais, além do cansaço físico
e mental da equipe de enfermagem que podem refletir de forma negativa no CME,
quando comparado aos demais setores hospitalares [10,12].
Em relação à satisfação na realização das atividades que
executam, 100% dos participantes da pesquisa referiram estar satisfeitos com a
função que desempenham. Essa avaliação é reforçada com o estudo de Florêncio et
al. que demonstra que o resultado positivo traz benefícios a todos os envolvidos
no processo (equipe, instituição e principalmente pacientes), tornando o
profissional mais motivado e competente na realização do trabalho garantindo
qualidade na assistência que está ligada a qualidade do artigo utilizado [13].
A estrutura física adequada é um dos fatores que permite a
garantia da qualidade do processamento de materiais e atuação dos profissionais
de forma segura. A pesquisa foi realizada em um CME de classe II, o qual estava
adequado segundo o que estabelece a seção IV sobre infraestrutura da Resolução
da Diretoria Colegiada - RDC Nº 15 e possuía os seguintes ambientes:
sala de recepção e limpeza, sala de preparo e limpeza, área de monitoramento do
processo de esterilização e sala de armazenamento e distribuição de materiais
esterilizados [5,14].
O estudo de Madeira et al. [5] demonstra que a utilização de
POP é essencial no ambiente de trabalho, devendo ser amplamente divulgado,
estar disponível para consulta a qualquer momento e ser atualizado
constantemente, visto que eles trazem instruções detalhadas acerca da execução
de cada etapa do processamento de materiais a fim de garantir qualidade e
segurança durante o processo de trabalho. No presente estudo, quando
questionados sobre a existência de Procedimento Operacional Padrão (POP) no
CME, 62,9% dos profissionais referiram que não havia POP físico no setor,
entretanto existia em formato digital e este estava no computador da sala de
enfermagem, sendo o acesso limitado apenas para o enfermeiro. Este aspecto
impossibilitava que os demais profissionais da enfermagem realizassem a
consulta a este material, em caso de dúvidas, reduzindo a segurança na
realização das etapas de processamento dos artigos no CME.
No estudo, 97,1% dos profissionais entrevistados confirmam
que as boas práticas no processamento dos materiais no CME relacionam-se com a
segurança do paciente. De acordo com a literatura, qualquer falha ocorrida
durante o processo de limpeza, desinfecção e esterilização dos artigos irá
implicar principalmente no desenvolvimento de uma possível infecção ao paciente
afetando diretamente na segurança do paciente. O reconhecimento pelos
profissionais sobre a relação entre o processamento dos artigos no CME e a
segurança do paciente é crucial para contribuir com a implantação da Política
Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) [10,15,16].
Para Costa et al. [17], o CME como um ambiente
reduzido e isolado, mobiliário ergonomicamente inapropriado, com riscos
ocupacionais, dimensionamento de profissionais inadequados, carga horária
exaustiva, realização de trabalhos repetitivos que dificultam os profissionais
a se manterem estimulados e com atenção nas atividades executadas, levando o
baixo reconhecimento na instituição de saúde que podem comprometer a segurança
do paciente. Entretanto, o estudo em questão diverge da literatura analisada
quanto ao questionamento sobre quais são os principais problemas vivenciados
pelos profissionais no CME, a falta de insumos foi o mais citado,
desconsiderando sobrecarga de trabalho, desvalorização profissional e condições
inadequadas de trabalho como principais.
Diante dos problemas citados, torna-se imprescindível uma
gestão e comunicação eficiente entre o enfermeiro e a sua equipe, visto que, no
presente estudo, a experiência adquirida pelos profissionais do setor ocorreu
na própria instituição, sem nenhuma qualificação externa, assim os
profissionais reconhecem que há necessidade de mudanças internas a fim de
garantir melhorias na execução do trabalho. A oferta de equipamentos, materiais
entre outros elementos se trata de uma obrigação da organização do trabalho
conforme descrito na RDC nº 63/2011 e a inclusão de novas tecnologias
contribuem na qualidade do serviço prestado e fortalece a cultura de segurança
[15,17,18].
Em
relação à percepção dos
profissionais sobre o
reconhecimento do trabalho desenvolvido, 57,2% não se sentem
reconhecidos nos
demais setores da instituição de saúde,
ocasionando desmotivação e
desvalorização desses profissionais, afetando na
qualidade do trabalho
desenvolvido. Esses achados corroboram a ideia defendida por Bugs et
al., de
que a equipe do CME não deve ser reconhecida apenas por
desenvolver a mesma
atividade frequentemente, lidando exclusivamente com artigos
hospitalares, o
trabalho realizado no CME vai além dessas atividades. É
evidente que existe uma
lacuna sobre a importância do trabalho realizado nesse setor que
muitas vezes
está associado à cultura da gestão, à
formação dos próprios profissionais e à
falta de educação permanente e continuada sobre o
trabalho desenvolvido e sua
contribuição na assistência prestada ao paciente [10].
Os profissionais de enfermagem do CME reconhecem que a
assistência prestada de forma indireta é essencial para a garantia da segurança
do paciente, uma vez que a realização do processamento adequado dos artigos
médico-hospitalares está diretamente relacionada com a redução da incidência e
prevenção de infecções hospitalares. No estudo, observa-se que atualmente os
profissionais de enfermagem mostram interesse em trabalhar no CME. Esses têm a
consciência que seu papel é muito relevante na garantia da segurança do
paciente quanto ao adequado processamento dos artigos, apesar do não
reconhecimento dos demais setores da instituição de saúde. Uma das fragilidades
encontradas no estudo foi a falta de qualificação específica da equipe para
atuar no setor CME, sendo este fator muito importante para o desenvolvimento de
um trabalho com qualidade, além disso torna-se necessário a implantação de um
programa de educação permanente visando contribuir com a melhoria e execução do
trabalho desenvolvido e na segurança do paciente. É essencial a ampliação da
discussão entre gestores e profissionais de saúde sobre a importância do CME
nas instituições de saúde e a realização de maiores pesquisas sobre a temática.