Enferm
Bras 2021;2293):353-69
ARTIGO
ORIGINAL
A
presença paterna na consulta pré-natal: um estímulo para a promoção da saúde da
gestante
Luciana
Pessoa Maciel Diniz*, Emilly Vitória Macedo Lima**,
Amanda Alves Marcelino da Silva***, Hiandra Isabela
da Silva Nogueira**, Wanderson Lima Dantas e Santos**
*Prof.ª
Assistente do curso de Enfermagem da Universidade de Pernambuco (UPE/PE),
**Bacharel em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco (UPE/PE), ***Prof.ª
Adjunta da Universidade de Pernambuco (UPE/PE)
Recebido
em 7 de janeiro de 2020; aceito em 22 de junho de 2021.
Correspondência: Luciana Pessoa Maciel Diniz, rodovia
BR 203, km2 s/n - Vila Eduardo, 56328-900 Petrolina PE
Luciana Pessoa Maciel: luciana.diniz@upe.br
Emilly Vitória Macedo Lima:
emillyvit60@gmail.com
Amanda Alves Marcelino da Silva:
amandabiomedica10@gmail.com
Hiandra Isabela da Silva
Nogueira: hiandra.isa@hotmail.com
Wanderson Lima Dantas e Santos:
wandersonlimadantassantos@gmail.com
Resumo
Introdução: Pré-natal é um conjunto de
procedimentos clínicos e educativos com a intenção de promover a saúde e
identificar precocemente os problemas da gestação, sendo favorecido pela
presença paterna. Objetivo: Compreender como a presença paterna durante
a consulta pré-natal pode influenciar na promoção da saúde da gestante. Métodos:
Estudo descritivo, de abordagem qualitativa realizado com quatorze gestantes.
As informações foram coletadas por meio de entrevista semiestruturada e
analisadas segundo a análise de conteúdo. Resultados: Percebeu-se uma
baixa participação do pai da criança no acompanhamento pré-natal, podendo
acarretar resultados negativos na saúde da gestante. Conclusão: Verifica-se que
a presença do companheiro na consulta pré-natal pode favorecer ou interferir na
promoção da saúde da gestante.
Palavras-chave: gravidez; paternidade; cuidado
pré-natal.
Abstract
The father’s presence in the
prenatal consultation: a stimulus for the health promotion of the pregnant
woman
Introduction: Prenatal care
is a set of clinical and educational procedures with the intention of promoting
health and early identification of pregnancy problems, being favored by
partners’ engagement. Objective: To understand how partners’ presence
during prenatal consultation can influence the health promotion of pregnant
women. Methods: Descriptive study with a qualitative approach carried
out with fourteen pregnant women. Information was collected through
semi-structured interviews and analyzed according to content analysis. Results:
It was observed a low participation of the child's father in prenatal care,
which can lead to negative results in the health of the pregnant woman. Conclusion:
We verified that the presence of the partner in the prenatal consultation can
favor or interfere in the promotion of the pregnant woman's health.
Keywords: pregnancy; paternity; prenatal
care.
Resumen
La
presencia paterna en la
consulta prenatal: un
estímulo para la promoción
de la salud de la mujer embarazada
Introducción: La atención prenatal
es un conjunto de procedimientos
clínicos y educativos con la
intención de promover la salud y la identificación
temprana de los problemas del embarazo, siendo
favorecida por la presencia paterna. Objetivo:
Comprender cómo la presencia paterna durante la
consulta prenatal puede
influir en la promoción de la salud de la gestante. Métodos:
Estudio descriptivo con abordaje cualitativo
realizado con catorce
gestantes. La información se recopiló
a través de entrevistas semiestructuradas y se analizó según análisis
de contenido. Resultados: Se notó
una baja participación del
padre del niño en la atención
prenatal, lo que puede conducir a resultados
negativos en la salud de la gestante. Conclusión: Se comprueba
que la presencia de la pareja en la
consulta prenatal puede
favorecer o interferir en la
promoción de la salud de la gestante.
Palabras-clave: embarazo; paternidad; atención prenatal.
O Pré-Natal (PN) é um instrumento importante para a
melhoria dos índices de morbidade e mortalidade materna e infantil,
destacando-se como fator essencial na proteção e na prevenção a eventos
adversos sobre a saúde obstétrica. É um conjunto de procedimentos clínicos e
educativos com a intenção de promover a saúde e identificar precocemente os
problemas da gestação, sendo favorecido pela presença paterna [1].
Logo, a gestação é um momento que demanda dos futuros pais
uma série de mudanças e adaptações, tanto em nível psicológico quanto
biológico, e a mulher apresenta maior sensibilidade aos acontecimentos
intrínsecos e extrínsecos à gravidez. Essas modificações podem causar
necessidades que, para serem atendidas, requerem a participação e compreensão
de pessoas de seu convívio, principalmente a do pai da criança [2].
Assim, o Ministério da Saúde traz como parte dos dez passos
para um pré-natal de qualidade o direito do parceiro de ser cuidado e o dever
de sua participação, que inclui ter acesso a informações, antes, durante e
depois da gestação [3]. Essas informações, disponibilizadas nas consultas,
proporcionam condições ao parceiro de compreender as mudanças que acontecem com
a mulher nesse período e o orienta sobre o direito e o dever de acompanhar as
consultas pré-natais e o parto [4].
Mesmo com o conhecimento sobre os benefícios da
participação do pai nas consultas de pré-natal, vê-se, na maioria das vezes, a
ausência do homem durante esse momento. Na prática, o que se observa é a baixa
adesão justificada principalmente por fatores externos como incompatibilidade
entre horários da consulta e do trabalho, e questões culturais como a
impossibilidade de faltar ao trabalho por ser o provedor da família [5,6].
Todavia, quando o pai se omite ou é afastado desse contexto
podem estar presentes sentimentos de angústia, ciúmes, ansiedade e solidão nas
gestantes, consequentemente as demandas da mulher não são atendidas. A gravidez
pode ser vista como uma ameaça, fato que pode interferir na relação da tríade
mãe-pai-filho [7].
Durante as consultas de pré-natal, desacompanhada na
maioria das vezes, a mulher pode sanar suas dúvidas, expressar seus medos,
inseguranças e tomar decisões no que diz respeito à sua gestação, tornando-se a
única responsável por aderir ao serviço. Neste cenário, entende-se que a
presença paterna é essencial para estabelecer relação de companheirismo,
compartilhar decisões, sentimentos e entrega, além de oferecer condições
propícias para vivenciar a paternidade ainda na gestação e contribuir na
identificação de riscos precoces dessa fase [5].
Diante do exposto, esse estudo traz a perspectiva de
compreender a problemática: como a presença do pai durante a consulta pré-natal
pode influenciar na promoção da saúde da gestante?
A
gestação é um momento de importantes
mudanças biológicas,
sociais e culturais, em que a mulher necessita de uma rede de apoio
desde a
estrutura profissional até a familiar. Nessa perspectiva, a
presença do pai da
criança durante as consultas pode ser crucial e definidora para
que essa mulher
se sinta mais amparada e, com isso, permita-se envolver mais e melhor
durante
os cuidados pré-natais, o que contribuirá para as
ações preventivas e de
promoção à sua saúde, como também
intervenções precoces de possíveis agravos.
Nesse contexto, o presente estudo objetivou compreender
como a presença paterna durante a consulta pré-natal pode influenciar na
promoção da saúde da gestante.
Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa,
realizado com gestantes cadastradas em bairros de duas Unidades Básicas de
Saúde, do município de Petrolina, Pernambuco, Brasil. Definiram-se como
critérios de inclusão: ser gestante atendida por enfermeiros e médicos da
Estratégia Saúde da Família (ESF), ter mais de dezoito anos e estar ou não
acompanhada pelo pai da criança durante a consulta.
Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário
semiestruturado, contendo questões objetivas e perguntas subjetivas
relacionadas ao objeto de estudo. Essa coleta ocorreu de janeiro a março de
2020, e entre as gestantes elegíveis que autorizaram o estudo, atingiu-se
amostra de 14 gestantes. Para garantir o sigilo e os direitos de privacidade,
as gestantes foram identificadas com a inicial G (Gestantes) seguida de uma
numeração, exemplo: G1, G2, G3.
A busca das informações ocorreu até a saturação das
respostas das participantes que compuseram a pesquisa. Buscou-se entender os
significados das falas e comportamentos das gestantes de acordo com a análise
de conteúdo proposta por Bardin, sendo a pesquisa contemplada com as
informações obtidas [8].
O estudo foi desenvolvido de acordo com o preconizado pela
Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, e
suas complementariedades. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Pernambuco, conforme parecer n°
3.822.936/2020 e CAAE nº 20707019.7.0000.5207, sendo conduzida de acordo com os
padrões éticos exigidos.
A análise do material empírico coletado por meio das
entrevistas permitiu o surgimento de conteúdos manifestos e latentes das
participantes que consonaram em núcleos de sentidos e, a partir desses,
articularam nas seguintes categorias: a participação paterna no pré-natal:
percepções e a miscelânea de sentimentos da gestante; gestação e pré-natal: uma
questão social; paternidade e gestação: um desafio para família, comunidade e
sistema de saúde.
A
participação paterna no pré-natal: percepções e a miscelânea de sentimentos da
gestante
No presente estudo, observou-se que as gestantes
entrevistadas se encontravam na faixa etária compreendida entre 20 e 40 anos,
tendo em média 28 anos, sendo duas com 20 anos e três com mais de 35 anos. No
que se refere a escolaridade houve predomínio de gestantes que completaram o
ensino médio (06) e o ensino fundamental incompleto (05) e três com ensino
superior. Constatou-se que cinco gestantes eram casadas, cinco solteiras e
quatro declararam estar em um relacionamento estável.
Ao serem questionadas quanto a renda mensal, uma parte das
gestantes relatou ter renda familiar correspondente a dois salários-mínimos
(06) e outra a um salário-mínimo (05). Apenas três referiram receber mais de
dois salários-mínimos.
Com relação à participação do companheiro, apenas seis
gestantes afirmaram terem sido acompanhadas em pelo menos uma consulta de
pré-natal e no momento da entrevista, a maioria (12) estava desacompanhada. O
peso da ausência paterna fica mais evidente quando se constata que, das 77
consultas, quando somadas todas as consultas das quatorze entrevistadas, em
apenas 19 elas estavam acompanhadas pelo pai da criança.
Percebe-se a importância do pré-natal por instituir um momento
para identificar, tratar e/ou controlar patologias, assim como prevenir
complicações que ocorrem durante a gestação e o parto. Nesse contexto, as
mulheres estão sujeitas não só a mudanças físicas, mas a alterações
psicológicas, familiares e sociais que podem causar momentos de ambivalência
como felicidade ou medo e angústia [9].
Dessa forma, é fundamental que a gestante disponha de todo
apoio familiar, principalmente da parte do pai da criança, sendo este o
companheiro desempenhando o papel de pai. Para as gestantes deste estudo, a
participação paterna possibilita o compartilhamento de conhecimentos, superação
e compreensão das alterações biológicas, psicológicas e sociais presentes na
gravidez:
Se
ele participasse seria importante, pois me acalmaria e faria companhia na sala
de espera (G2).
(...)
apoio, força do marido, me passa calma e conforto (...) ter alguém para dividir
as responsabilidades e me ajudar (G7).
Melhor
suporte, me sinto segura, acolhida, confiante em passar por esse processo da
gestação. Além de compartilhamento, pois dividimos as responsabilidades (G10).
Compreende-se que a presença paterna nas consultas de
pré-natal reforça a importância no processo de humanização na assistência e o
seu afastamento pode vir a causar sentimentos de solidão, medo e vazio na
gestante [10].
Durante as consultas de pré-natal, desacompanhada na
maioria das vezes, a mulher pode não sanar suas dúvidas, expressar seus medos,
inseguranças e não tomar decisões importantes no que diz respeito à sua
gestação, tornando-se a única responsável por aderir ao serviço, além da
sobrecarga de informações e responsabilidade que é depositada apenas na mulher
durante o atendimento [4,5]. Tal vertente pode ser apreendida nas falas que se
seguem:
Com
ele mais presente não me sentiria tão sozinha, teria alguém para apoiar
enquanto espero (G1).
(...)
Se estivesse presente nas consultas e em tudo, me daria um apoio maior e
dividíramos as responsabilidades (G9).
(...)
Seria legal a participação dele, passaria segurança por compartilhar informação
com outra pessoa (G11).
Diante do exposto, fica evidente que o apoio paterno não
deve ser direcionado apenas para as consultas, mas sim para as diferentes experiências
compreendidas na gravidez, desde a preparação para receber o bebê como suporte
à mulher em meio a mudanças [7]. Exemplo disso, são os seguintes discursos
acerca da participação paterna na consulta:
Alegria
e gratidão. A preocupação dele com o bebê e comigo, mesmo não sendo casados ele
quer participar de tudo. Além de ter cuidado e preocupação comigo e o bebê
(G8).
É
um olhar para o futuro, já que ele quis acompanhar as consultas mostra que será
um pai presente e não nos deixará só. Me passa muita confiança e me faz ficar
bastante tranquila com a gravidez (G12).
Dá
segurança, saber que tem alguém ali até o fim. Dividindo as tarefas e
compartilhando informações (G14).
O envolvimento paterno permitiria uma maior compreensão dos
processos fisiológicos e patológicos que podem vir a ocorrer durante a
gravidez, aumentando a postura e ação dos pais em poder agir em possíveis situações de emergência, fato que contribuiria para
prevenção de agravos e promoção da saúde dessa mulher diante de algum risco
[4].
Gestação
e pré-natal: uma questão social
Compreende-se que a gestação é um período em que a mulher e
todo o seu círculo familiar estão sujeitos a várias mudanças, afetando o estilo
de vida e os papéis de cada membro no cotidiano. O apoio social e a compreensão
desse novo momento da mulher, principalmente por parte do pai da criança,
tornam-se essenciais para o enfrentamento do estresse típico dessa época,
contribuindo ainda para a criação de um vínculo mais forte entre o homem-feto-mulher
[7]. A participação efetiva do pai durante as consultas como essencial nos
cuidados para com a mãe e bebê pode ser evidenciada nas falas:
(...)
acho que em tudo, aprenderia como pegar, a fazer o bebê acalmar, dividir as
tarefas, a acalentar o bebê. Seria uma preparação antecipada (G1).
Toda,
incentiva ele a estar presente e assim a cuidar. Além de saber lidar quando a
mãe não estiver por perto (G6).
No
jeito de cuidar. A questão de ele ter participado de tudo vai ajudar ele a
fazer tudo e entender tudo que pode ocorrer e a forma de agir para melhorar
(G10).
Dessa forma, a assistência pré-natal é relevante, não
apenas aos cuidados com a saúde da gestante e do bebê, como também, para todo o
círculo familiar [11]. Além disso, a literatura aponta que a participação
paterna pode contribuir para ampliar a prática do aleitamento materno, a
mudança de hábitos como a melhoria alimentar, aumento na ingesta hídrica,
realização de exames e frequência mais constante nas consultas [4]. É possível
afirmar, então, que a presença paterna favorece a qualidade do acompanhamento
gestacional, o que possivelmente refletirá em maiores níveis de saúde materno-infantil
Ao perguntar sobre qual seria o papel dos companheiros
durante as consultas de pré-natal, a maioria das gestantes relatam que eles
poderiam participar esclarecendo dúvidas, aprendendo novas informações, pois,
nesses momentos, os profissionais de saúde orientam e esclarecem várias dúvidas
sobre a saúde do bebê. Tal vertente pode ser apreendida nos seguintes
fragmentos:
Dar
apoio, não me sentiria sozinha nas consultas. Passaria segurança também, porque
assim todas as responsabilidades não seriam só minhas, teria alguém para contar
o que esqueci à enfermeira e ao médico (G1).
De
observar e se tiver alguma dúvida ele perguntar. E me acompanhar (G7).
[...]
se houver alguma coisa que ocorreu e eu esqueci de falar, ele pode falar e
entender o que se passa durante a gestação. Além de saber o que fazer durante o
momento da gestação se ocorrer algo (G10).
É evidente a necessidade das gestantes em dividirem as
responsabilidades da gestação com o pai, representando um estímulo para
participar das consultas, realização de exames e auxílio durante o trabalho de
parto. Além disso, após o nascimento do bebê, o pai poderá participar de
maneira mais efetiva nos cuidados e dar assistência ao recém-nascido de forma
mais segura, fruto de uma corresponsabilidade cultivada desde o pré-natal, com
uma participação igualitária e efetiva [4].
Consequentemente a participação da família, sobretudo do
pai, possibilita o compartilhamento de conhecimentos, superação e compreensão
das alterações biológicas, psicológicas e sociais que a gestante é afetada.
Assim, reduz-se o risco dessa mulher desenvolver complicações no período
perinatal, no parto e pós-parto [12].
No entanto, a sociedade e a própria gestante acabam impondo
para si mesma o cargo exclusivo na promoção dos cuidados durante o pré-natal e
posteriormente com os filhos. Restando ao pai, nesse contexto, a
responsabilidade apenas com o sustento familiar, ficando isento de qualquer
envolvimento durante o acompanhamento dessa gestante e participação nos cuidados
ao bebê [13].
A inclusão do pai no pré-natal é um processo complexo,
devido as questões culturais e familiares que estão envolvidas no cotidiano de
atenção [13]. Essa imposição muitas vezes está ligada a cultura machista de que
os homens não são capazes de promover os cuidados ou que não é função deles e,
portanto, mulheres tornam-se a única responsável por comparecer ao serviço e
realizar os cuidados [4]:
Não
acho necessária a participação, só dele se preocupar comigo já está bom. Não
precisa vir para consulta (G4).
Não
vejo muito significado a participação (...). Além de ser mais uma pessoa para
incomodar aqui (G6).
Não
mudaria em nada a participação dele, eu dou de conta (G13).
Observa-se que, culturalmente, a sociedade tem atribuído à
mulher grandes responsabilidades decorrentes da sua condição biológica de
gestar, parir e amamentar, considerando sua natureza maternal, enquanto ao
homem fica o cargo de provedor e mantenedor do lar, como se este fosse incapaz
de cuidar dos próprios filhos. Assim, as gestantes tomam para si a
responsabilidade de preocupar-se com a gravidez, sendo a única, na maioria das
vezes, a participar das consultas de pré-natal [2].
Não
estímulo, porque não acho interessante por estar no início, e não ter nada para
ver (G4).
Não
incentivo. Me sinto melhor vindo só para as consultas (G6).
Não
estimulo não, pois entendo que ele não pode faltar ao
trabalho (G9).
Não
sinto importância na sua participação e não muda nada sua ausência (G13).
Tal fato está ligado pela perpetuação cultural em atribuir
o cuidado como tarefa feminina, por isso as mulheres permanecem sobrecarregadas
pelo cuidado integral com os filhos desde o pré-natal [14]. Logo, os homens não
são preparados para lidar com as mudanças e acabam não apoiando as gestantes,
nem se sentindo igualmente responsáveis durante todo esse processo,
apresentando impaciência, reclamando da demora e cobrando das companheiras por
se sentirem obrigados a estarem em um momento, que segundo a maioria, não é de
sua competência, da forma como algumas gestantes relataram na entrevista:
Não
acho necessária a participação dele (...) sua ausência não influência em nada,
fico mais à vontade sem ele aqui (G4).
(...)
Prefiro que não participe, é mais tranquilo. É muita pressão, quer ir logo
embora e fica chato as perguntas dele. A enfermeira fala e ele não entende, aí
tem que explicar de novo. A ansiedade dele, fica agitado (...) fico estressada
(G6).
Eu
que não quero a participação dele no momento (G8).
Não
quero ele aqui, ia faltar paciência para esperar (G13).
Desta maneira, é a mulher que sofre transformações no corpo
e na vida desde a gestação até o parto, que afetam diretamente o estilo de vida
social, o lazer, a sexualidade, o sono e a rotina de trabalho, gerando um
mister de alterações bio-psico-social e cultural [15].
Paternidade
e gestação: um desafio para família, comunidade e sistema de saúde
A gestante vivencia um processo de modificações e atribui
um significado para a participação do pai nas consultas de pré-natal que a faz
sentir-se, na maioria das vezes, mais confortável e segura [2]. Apesar dos
benefícios que a presença traz, a maioria das gestantes (12) não estava
acompanhada no momento da consulta.
Observa-se que a ausência do pai nas consultas de pré-natal
está relacionada a fatores externos que dificultam e até mesmo impossibilitam
essa participação. No presente estudo, a justificativa prevalente para a não
participação nas consultas estava relacionada à jornada de trabalho ser durante
os horários das consultas.
Essa situação ocorre pelos horários das consultas serem
realizadas em horário comercial tendo assim problema de incompatibilidades [7].
Tal vertente pode ser observada no discurso das gestantes quando questionadas
sobre o motivo da ausência dos pais nas consultas:
O
horário do trabalho que coincide com os das consultas, assim ele só poderá vir
a uma se conseguir uma folga (G1).
O
horário da consulta, por ela ser pela manhã atrapalha (G3).
Só
o trabalho, que ele deixa de ir para vim e acaba levando falta (G7).
O
trabalho, pois não pode ficar faltando sempre (G12).
Verifica-se que o mercado de trabalho ainda não incentiva a
participação do seu trabalhador que será pai, não permitindo a falta ao serviço
para acompanhar nas consultas de pré-natal por considerar que os cuidados nesse
momento são apenas das gestantes. Subentende-se, dessa maneira, que a mulher
teria a capacidade de se cuidar sozinha e que apenas ela precisa desses
cuidados durante a gravidez, retirando a possibilidade desses pais de estarem
presentes e serem participantes [10].
Ainda nesse contexto, a participação paterna caracteriza um
incentivo às consultas, proporcionando apoio e minimizando a ansiedade, além
disso, pode ser um complemento crucial na descoberta de riscos que venham
acometer essa mulher. Por conseguinte, a sua inserção na consulta pré-natal
traz vantagens a mulher e uma paternidade segura, digna e participativa [7].
Além de ser importante para o vínculo pai e filho(a), que é
iniciado mais cedo, a participação paterna, desde o pré-natal, poderá
contribuir para a identificação precoce de riscos na gestação, uma vez que a
responsabilização será compartilhada, promovendo mais saúde para a mãe e
criança [12]. Assim, o vínculo afetivo pode ser estabelecido por dimensões do comportamento
paterno, tais como acessibilidade, engajamento e responsabilidade, trazendo
como resultados uma maior disponibilidade para a criança, participação na vida
dessa e garantia do cuidado e recursos para o crescimento do filho(a) [16]. Os
seguintes discursos evidenciam a percepção das participantes acerca de como a
presença do pai beneficiaria nos cuidados com o bebê:
Acho
que em tudo, aprenderia como pegar, a fazer o bebê acalmar, dividir as tarefas,
a acalentar os bebês. Seria uma preparação antecipada (G1).
Ajudaria
a fazer tudo, a dar banho, a trocar fralda e entenderia sobre as cólicas (G5).
Informações
que a enfermeira e médico passam para fazer com o bebê será compreendido pelos
dois, e o que eu acabar esquecendo ele vai lembrar e me ajudara. Além de
dividir os cuidados, estaremos em sintonia de informações (G8).
No
jeito de cuidar. A questão de ele ter participado de tudo vai ajudar a fazer
tudo e entender tudo que pode ocorrer e a forma de agir para melhorar (G10).
Entretanto, é perceptível que as unidades de saúde estão
preparadas para atender apenas as gestantes, e as vezes não é acolhedora aos
homens, exemplo disso é a falta de materiais informativos e ilustrativas que
mostrem a figura do pai. Podendo assim contribuir para a formação de barreira
entre homem e o serviço e a construção de uma ideia errada às mulheres de que a
gestação é apenas seu dever e que só ela deve vivenciar esse período [2].
Por mais que pareça fácil a inserção do pai nas consultas
de pré-natal, ainda é notada bastante dificuldade na assistência fornecida
pelos serviços de saúde, pois, na maioria das vezes, não é desenvolvida
orientação para sensibilização dos pais acerca da participação ativa no período
gestacional [2]. A percepção de tal postura é notada quando a maioria (8) das
gestantes relatam a falta de incentivo por parte dos profissionais de saúde
acerca da participação paterna nas consultas de pré-natal.
Nunca
falaram e explicaram que poderia participar e que traria vantagens para a minha
gestação (G1).
Não
foi solicitado, só perguntou se era casada. Mas nada sobre a vinda dele as
consultas (G5).
Não
chamam e nem perguntam (G8).
Não
falaram nada sobre a importância e nem que precisava (G11).
Quando
ele vem fica lá fora, ela não pergunta por ele e acho
que ele não pode entrar (G14).
Mesmo com o conhecimento sobre os benefícios da
participação do pai nas consultas pré-natal, vê-se, na maioria das vezes, o
desestímulo por parte dos profissionais. Sendo reflexo dessa condição as
consultas tecnicistas e verticalizadas nas quais não se identifica e nem se
orienta a rede de apoio da mulher, deixando-os alheios das informações e
responsabilização, além de deslocados nas consultas pré-natal [17].
Por outro lado, alguns profissionais foram apontados pelas
gestantes como incentivadores da participação do pai durante as consultas. Tal
realidade reforça a necessidade da presença do homem na assistência à gravidez,
afastando a ideia de que a gestação é só papel da mulher e que ele seria apenas
o responsável pelo financeiro, fazendo-o se sentir como parte essencial desse
período [4]. Tal vertente é observada nos discursos das gestantes acerca dos
estímulos dos profissionais:
Pediu
para ele comparecer a consulta (G9).
Como
ele sempre participou é parabenizado por todos. Ele até falou para a médica que
não devia ser parabenizado por algo que é o dever dele, e que seria certo todos
participarem de tudo. E os profissionais incentivam falando os benefícios para
a gente (G10).
Ela
pediu para ele acompanhar sempre as consultas, pois ela iria explicar como
seria o parto, como cuidar do bebê e os cuidados que devemos ter (G12).
O profissional de saúde deve estar preparado e atento para
estimular a participação paterna nas consultas de pré-natal com estratégias que
minimizem as dificuldades através de esclarecimento de dúvidas, compreensão das
alterações que ocorrem e o incentivo a participação ativa do pai [4]. Logo,
necessitam conversar com as gestantes sobre o envolvimento ativo do homem no
pré-natal e realizar o acolhimento com o pai, fazendo com que este se sinta
parte fundamental desse momento [18].
A pesquisa demonstrou que as participantes, em sua maioria,
sentiam falta de uma maior responsabilização por parte do pai da criança. Assim
acabavam desenvolvendo sentimentos de medo, solidão e angústia durante a
gestação, reforçados pela questão cultural de que a mulher é a única
responsável por esse período e pelos cuidados com a criança. Além disso,
fatores como horários das consultas, questões trabalhistas e falta de estímulo
pelos profissionais foram apontados como moduladores para reduzir a
participação do homem.
A presença paterna na consulta promove uma maior
integração, sentimento de pertença e responsabilização nesse período e depois.
Nesse sentido, estar junto a mãe durante os atendimentos permite o
aprimoramento da atenção pré-natal com maior qualidade, uma vez que o pai,
fazendo parte do processo e fortalecendo o vínculo, poderá permitir a
implementação de maneira mais efetiva dos princípios e diretrizes para o
alcance de uma atenção mais eficaz e, com isso, refletir na redução de riscos
para essa gestação.
O presente estudo propiciou o entendimento sobre como a presença
do companheiro na consulta pré-natal pode gerar recursos positivos de apoio à
gestante. Com isso, a pesquisa buscou subsidiar conceitos e entendimentos que
contribuíssem para esclarecimentos dessa temática, o que pode gerar ações mais
adequadas e participativas pelos profissionais de saúde que prestam atendimento
para esse público, visando à promoção de saúde e melhorias nas consultas.