EDITORIAL
Empreendedorismo
inovador do enfermeiro brasileiro: será preciso reinventar-se a partir de
2021!?
Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, D.Sc.*,
Marli de Carvalho Jericó, D.Sc.**, Fabricio Renato
Teixeira Valença***
*Obstetriz,
Enfermeira, Livre-Docente, docente e orientadora da graduação e pós-graduação
lato sensu e stricto sensu da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
(FAMERP) SP, **Enfermeira, Doutora da graduação e pós-graduação lato sensu e
stricto sensu da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)/SP,
***Enfermeiro, graduado em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto (FAMERP)/SP
Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler: zaidaaurora@gmail.com
Marli de Carvalho
Jericó: marli@famerp.br
Fabricio Renato
Teixeira Valença: fabricio.valenca1@gmail.com
Por definição,
empreendedorismo significa assumir riscos no planejamento, implementação,
coordenação e gestão de projetos, serviços e negócios. Os empreendedores estão
entre os profissionais e ocupacionais que por interesse, necessidade e
oportunidade buscam atuar de forma liberal ou autônoma, com determinadas
características de personalidade, como: capacidade de gestão; autocontrole;
autoavaliação, de forma a estabelecer objetivos, planos e metas para otimizar
ações no trabalho e superar obstáculos [1].
O conceito de inovação,
bastante usado no meio empresarial, aproxima-se do entendimento da capacidade
de “criar”, “de certa forma “inventar” novidades, sejam ideias, estratégias,
ferramentas, tecnologias, processos, caminhos e serviços. Em nossa opinião, o
vivenciado em 2020, ao menos nos países democráticos, vai exigir uma adaptação
do mundo do trabalho e no empreendedorismo de negócios, como forma de entrar ou
continuar no mercado empresarial, inovando para se moldar às mudanças sociais e
econômicas, reinventando-se para recriar, refazer ou renovar o já instituído.
Atualmente o
empreendedorismo tem ficado em destaque como um caminho inovador na enfermagem
brasileira, sendo o enfermeiro preparado e eticamente e legalmente qualificado
para ter uma compreensão mais ampla das necessidades humanas em diferentes
dimensões; para explorar novos espaços e por ser uma carreira do futuro, o
cuidar. Assim, aqueles que empreendem buscam alcançar, além do retorno
financeiro, prestar uma assistência qualificada, responsável, embasada em
evidências científicas, técnicas corretas e respeito aos preceitos éticos e
legais [2].
Além das competências
múltiplas aprendidas na formação e a experiência que levará a maior domínio do
processo de cuidar, vários pontos positivos são apontados pelos profissionais
de enfermagem empreendedores, como ser dono de seu próprio negócio sem
subordinação hierárquica, flexibilidade de horário com eliminação do cartão de
ponto, independência financeira e libertação dos salários tabelados. Para
desenvolver e incorporar o comportamento empreendedor algumas atitudes, ditas
soft skills, são destacadas, como exercitar a criatividade, capacidade de
implementação, senso de independência, perseverança, otimismo e disposição em
assumir riscos. Também, há a necessidade do conhecimento técnico do
empreendedorismo, conhecido como hard skill, em como desenvolver o plano de
negócios, gerenciar o negócio, captar recursos e identificar e avaliar a
oportunidade [3].
Como docentes, temos
observado que muitos acadêmicos de enfermagem estão ávidos por conhecer o
empreendedorismo na enfermagem e as várias formas de atuação do empreendedor
enfermeiro, fascinados pela possibilidade do mercado de trabalho autônomo. Em
nosso meio, há disciplinas que abordam a temática, muitos alunos participam de
ligas de gestão em saúde, de networks, principalmente com uso das redes sociais
e vários alunos desenvolvem seu trabalho de conclusão de curso (TCC) nesse
enfoque. É visível no comportamento da nova geração de acadêmicos de enfermagem
jovens a fuga de modelos tradicionais de atuação profissional, estão mais
ligados no tecnológico e na busca por outros modos de vida pessoal e
profissional [1].
Com vistas a
regulamentar a atuação de enfermeiros empreendedores, a Resolução COFEN n°
0568/2018 respalda o enfermeiro brasileiro na atuação como profissional liberal
no marketing empresarial. Além de incentivar graduandos de enfermagem no foco
do empreendedorismo, tal resolução incentiva enfermeiros interessados a
potencializar, melhorar e fortalecer ações como empreendedor, como opção de
crescimento, autonomia, prestígio e reconhecimento profissional [4].
O ano de 2020 sempre
ficará em nossa memória e particularmente da enfermagem. De início, traz
reminiscência sobre o bicentenário de Florence Nightingale,
precursora da enfermagem moderna, profissional e uma das figuras femininas mais
importantes na história. Entre seu legado, que transcende a diferentes áreas de
conhecimento, está o empreendedorismo social que desenvolveu, com atitude
visionária, abrangência social humanitária e potencial transformador de
percursos e realidades ainda presentes na contemporaneidade [5].
Além do bicentenário de
Florence, festejamos em 2020 a finalização da campanha Nursing
Now, que mostrou a relevância da enfermagem na agenda
global. A Organização Mundial da Saúde (OMS), definiu o ano de 2020 como o Ano
Internacional da Enfermagem e Obstetrícia, reconhecendo o trabalho realizado
por enfermeiros e parteiros em todo o mundo e a importância desses
profissionais para atingir a meta de cobertura universal da saúde em 2030. Foi
nesse movimento na enfermagem mundial que os continentes, um após o outro,
foram surpreendidos pela pandemia causada pelo novo coronavírus
(SARS-CoV-2), chamada de COVID-19, considerada como um dos mais importantes
problemas mundiais de saúde pública dos últimos 100 anos. Como consequência,
houve necessidade de o enfermeiro reinventar-se em todos os campos de atuação,
para estabelecer novos mecanismos de proteção da saúde de quem é cuidado e
daquele que cuida [6].
Neste fatídico ano de
2020, que se acaba sem sinais de finalização de suas ocorrências, para se poder
agir nas consequências, os meios de comunicação de todo o mundo têm apresentado
diuturnamente as questões de saúde/doença, políticas, econômicas, sociais e profissionais
relacionadas à COVID-19. Em estudo brasileiro recente, apresentou-se os apelos
da enfermagem em mídias sociais, categorizados em #fiqueemcasa,
#cadêmeuEPI, #agorasomosheróis,
#nadadenovonofront, que revelam novos desafios
profissionais, em busca de alicerçar políticas de melhoria das condições
laborais para a enfermagem brasileira; reconhecer e valorizar os profissionais
que não se afastam do cuidado das pessoas [7].
Discute-se a ascensão
do empreendedorismo de negócios na enfermagem brasileira desde o início dos
anos 2000, fato associado à insatisfação no trabalho, necessidade de melhores
ganhos ou mesmo a busca de novas perspectivas profissionais. Para tanto
destacava-se a necessidade de formação adequada no desenvolvimento do
empreendedorismo de enfermeiros, condizentes com demandas sociais e
necessidades do mercado de trabalho. Isso pode provocar mudanças efetivas na
vida pessoal e profissional e estimular outros profissionais, além de
contribuir o reconhecimento, valorização, prestígio e melhor imagem da
profissão [8]. Agora temos mais um desafio pela frente, no foco do
empreendedorismo empresarial da enfermagem, em tempos de pandemia.
Apesar de pouca
valorização social, a enfermagem sempre foi uma profissão com grande
possibilidade de vaga de trabalho, pela alta demanda por profissionais e
abrangência do mercado de trabalho corporativo de saúde pública e privada.
Agora em 2020, quando vivenciando em tempo real a pandemia COVID-19, assistindo
situações de desemprego num contexto permeado de grandes
desafios/contradições/caos de toda ordem. Tal crise, na percepção de perfis,
espíritos e atitude mental empreendedoras constitui-se em momento fértil de
oportunidade nesse mundo de complexidade do cuidado em saúde abrindo, assim,
novos espaços para um trabalho inovador que poderá transformar a atenção em
saúde no Brasil [1,7].
Em todas as situações
de guerras e calamidades, a enfermagem está presente como a profissão com maior
atuação de cuidado direto. As tristezas trazidas por essa pandemia mostraram
muitas vezes os profissionais de enfermagem que nunca se afastaram do cuidado
aos doentes mais graves, homenageados com palmas em janelas e chamados de
heróis. A partir de 2021 teremos muitos os desafios no ensino e exercício da
enfermagem brasileira. Teremos que nos reinventar para revelar caminhos para
desenvolver novas competências profissionais que facilitem a inserção em um
novo mundo de trabalho. Urge realizar estudos e pesquisas que mostrem
alternativas em relação ao trabalho corporativo. É possível que empreender, com
profundidade de embasamento técnico-científico, inovação e criatividade, seja
uma das opções viáveis para maior conhecimento, reconhecimento e valorização da
enfermagem como profissão.