Enferm Bras 2021;20(1):1-3

doi: 10.33233/eb.v20i1.4618

EDITORIAL

Marco 2020 no Brasil: mais sofrimento para a enfermagem no contexto pandêmico

March 2020 in Brazil: more suffering for nursing in the pandemic context

 

Luiz Fernando de Oliveira Nogueira*, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler**

 

*Psicólogo, docente nas áreas de gestão estratégica de pessoas, de negócios e saúde e segurança do trabalho, Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) SP, Brasil, **Obstetriz, Enfermeira, Livre-Docente, docente e orientadora  da graduação e pós-graduação lato sensu e stricto sensu da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP, Brasil

 

Luiz Fernando de Oliveira Nogueira: nogueira.lfernando@gmail.com

Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler: zaidaaurora@gmail.com

 

Março 2020: a demarcação de dias sombrios no mundo em decorrência da pandemia pelo Sars CoV 2 trouxe sofrimento que sempre ficará na memória de homens e mulheres, de diferentes grupos etários e estrato socioeconômico, ainda mais, talvez, entre os profissionais da área da saúde. Em março de 2020 os países de todos os continentes foram surpreendidos pela pandemia, considerada como um dos piores problemas mundiais de saúde pública dos últimos 100 anos. Desde então, os meios de comunicação diuturnamente apresentam e discutem as questões de saúde/doença, políticas, econômicas, sociais e profissionais sobre a pandemia [1].

Era para ser um ano de destaque para a Enfermagem mundial, comemorando-se o bicentenário de Florence Nightingale, precursora da enfermagem profissional e  reconhecida na história da humanidade como uma das mulheres mais influentes; a finalização da campanha Nursing Now, que mostrou a relevância da enfermagem na agenda global e também pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontar 2020 como Ano Internacional da Enfermagem e Obstetrícia, reconhecendo o trabalho realizado por enfermeiros e parteiros em todo o mundo como cruciais para atingir a meta de cobertura universal da saúde em 2030 [2].

No contexto da enfermagem brasileira, há tempos são relatados sofrimento no trabalho, relacionado à assistência ao paciente, às precárias condições de trabalho e à dificuldade de convívio da equipe. Denunciam e apelam junto a órgãos de classe, meios de comunicação e nas mídias sociais, revelando péssimas condições laborais e que a pandemia agravou as condições de exercício profissional que já eram apontadas como precárias e desmotivadoras. A necessidade da ampla jornada de trabalho, em dois ou mais empregos, está associada a baixas remunerações. Reconhecimento, quase não existe, mas sim, cobrança por atendimento acolhedor e humanizado, geralmente sem estrutura e preparo adequado para que isso aconteça [3,4,5].

O sofrimento pode ser físico (natural), psicológico (mental) ou social, deixando à vista sinais e sintomas de agravos à saúde de cunho psíquico como angústia, aflição, amargura, ansiedade, medo e dor, percebida como sensação desagradável e penosa em uma ou mais partes do corpo [6]. No Brasil, o sofrimento da equipe de enfermagem ficou agravado pela pandemia, mostrando aumento de sintomas como ansiedade, depressão, insônia, estresse, estresse pós-traumático e medo [7].

As situações de sofrimento psíquico mais relatadas são devidas a sobrecarga de trabalho, escassez qualitativa ou quantitativa de recursos materiais e humanos, escassez ou ausência de equipamento de proteção individual, fragilidade na descrição dos protocolos e fluxos para o controle efetivo de infecções, salários não condizentes com o nível de responsabilidade e relevância de suas atividades laborais, pouco reconhecimento profissional e social, prolongamento da jornada de trabalho, formação profissional inadequada para o cenário de crise, incertezas em relações às medidas terapêuticas, medo de se infectar, infectar familiares e outras pessoas [8].

Ante o exposto, há que se ouvir os lamentos dos profissionais de enfermagem, principalmente daqueles que estão na “linha de frente” da pandemia em curso, com elevado potencial para o sofrimento psíquico e para o adoecimento mental. Reconhecer tal fato possibilita implementar medidas e estratégias que minimizem os impactos negativos desta pandemia no coletivo profissional. 

 

Referências

 

  1. Forte ECN, Pires DEP. Os apelos da enfermagem nos meios de comunicação em tempos de coronavirus. Rev Bras Enferm 2020;73(Suppl2):e20200225. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-02257
  2. Soler ZASG, Jericó MC, Valença FRT. Empreendedorismo inovador do enfermeiro brasileiro: será preciso reinventar-se a partir de 2021!? Enferm Bras 2020;19(6):456-8. https://doi.org/10.33233/eb.v19i6.4557
  3. Falcão VTFL. Os desafios da Enfermagem no Enfrentamento da COVID-19. Rev Enferm Digit Cuid Promoção Saúde 2020;5(1):1-2. https://doi.org/10.5935/2446-5682.202000018
  4. Kessler AI, Krug SF. Do prazer ao sofrimento no trabalho da enfermagem: o discurso dos trabalhadores. Rev Gaúcha Enferm 2012;33(1):49-55. 

    https://doi.org/10.1590/S1983-14472012000100007

  5. Souza NVDO, Carvalho EC, Soares SSS, Varella TCMML, Pereira SRM, Andrade KBS. Trabalho de enfermagem na pandemiada Covid-19 e repercussões para a saúde mental dos trabalhadores. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42(esp):e20200225. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200225
  6. Santos KMR, Galvão MHR, Gomes SM, Souza TA, Medeiros AA, Barbosa IR. Depressão e ansiedade em profissionais de enfermagem durante a pandemia da covid-19. Esc. Anna Nery 2021;25(spe). https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2020-0370
  7. Fernandes UM. Notas sobre Sofrimento, Dor, Respeito, Compaixão e Medo, na análise de discursos pela Ade. Ecolinguística: Revista Brasileira de Ecologia e Linguagem 2021;7(1):46-53.
  8. Miranda FBG, Yamamura M, Pereira SS, Pereira C dos S, Zanatta STP, Costa MK, Zerbetto SR. Sofrimento psíquico entre os profissionais de enfermagem durante a pandemia da COVID-19: Scoping Review. Esc Anna Nery 2021;25(spe):e20200363. https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2020-0363