Enferm
Bras 2021;20(6):807-22
REVISÃO
Acolhimento e protagonismo do enfermeiro
no acompanhamento à puérpera em alojamento conjunto
Maria Letícia Pereira Ramos*, Gennycarla
Paulino Mendes*, Danyelle Arícia Paes da Silva*,
Maria Inês dos Santos**, Luciclaudio da Silva
Barbosa, M.Sc.***, Claudia Daniele Barros Leite
Salgueiro, D.Sc.****
*Discente de Enfermagem (Bacharelado) do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE),
Pesqueira, PE, **Laboratório
de Imunoparasitologia Experimental, Instituto de Ciências Biomédicas, USP, São
Paulo, SP, ***Biólogo, Departamento do
Bacharelado em Enfermagem, Pesqueira, PE, ****Psicóloga, Professora e
pesquisadora do IFPE, Departamento do Bacharelado em Enfermagem, Pesqueira/PE
Recebido em 16 de março de 2021; Aceito
em 13 de setembro de 2021.
Correspondência: Claudia Daniele Barros Leite
Salgueiro, IFPE, Departamento do Bacharelado em Enfermagem, Br 232, Km 214,
Loteamento Redenção, Prado 55200-000 Pesqueira PE
Maria Letícia Pereira
Ramos: mlpr@discente.ifpe.edu.br
Gennycarla Paulino Mendes:
gpm2@discente.ifpe.edu.br
Danyelle Arícia Paes da Silva:
daps@discente.ifpe.edu.br
Maria Inês dos Santos:
inesssantos18@gmail.com
Luciclaudio da Silva Barbosa:
luciclaudio@pesqueira.ifpe.edu.br
Claudia Daniele Barros
Leite Salgueiro: claudia.leite@pesqueira.ifpe.edu.br
Resumo
Objetivo: Identificar o protagonismo do
profissional de enfermagem à puérpera, durante o alojamento conjunto. Destarte,
acenando pontos positivos e negativos dessa práxis, e a importância desse
profissional nessa fase, tida como cheia de mudanças psicológicas, sociais e
fisiológicas. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa de
literatura. As bases de dados escolhidas para a pesquisa foram: a Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS), e a Scientific Electronic Library Online (Scielo).
Foram incluídos os estudos completos, publicados no período de 2012 a 2019. Resultados:
Compuseram o universo amostral 15 estudos. Os dados dos artigos analisados
foram disponibilizados em um quadro e resultados foram apresentados em um
quadro sinótico, com sumarização, através da coadunação em dois pilares
temáticos: assistência puerperal no ambiente hospitalar, e a práxis do
enfermeiro para além do ciclo puerperal. Conclusão: Destaca-se a
importância do profissional de enfermagem nos cuidados pós-parto, e na adoção
do alojamento conjunto, atuando diretamente com a puérpera e com o
recém-nascido, com o intuito de orientá-la sobre os cuidados necessários com
este, contribuindo para o desenvolvimento de autonomia e segurança da mãe com o
filho, e demais benefícios da adoção do protocolo.
Palavras-chave: alojamento conjunto; período
pós-parto; enfermagem obstétrica; recém-nascido.
Abstract
Welcoming and
leading role of nurses in monitoring the puerperal woman in rooming-in
Objective: To
identify the role played by the nursing professional in the puerperal woman
during rooming-in. Thus, pointing out positive and negative points of this
praxis, and the importance of this professional in this phase, seen as full of
psychological, social and physiological changes. Methods: This is an
integrative literature review. The databases chosen for the research were Virtual
Health Library (BVS), and Scientific Electronic Library Online (Scielo). The complete studies, published from 2012 to 2019,
were included. Results: The sample consisted of 15 studies. The data
from the analyzed articles were made available in a table. Results were shown
in a synoptic table, with summary, through the coadunation in two thematic
pillars: puerperal care in the hospital environment, and the nurse's praxis
beyond the puerperal cycle. Conclusion: The importance of the nursing
professional in postpartum care and in the adoption of rooming-in is
highlighted, working directly with the mother and the newborn, in order to
guide her on the necessary care with this, contributing to the development of
autonomy and security of the mother with her child, and other benefits of
adopting the protocol.
Keywords:
accommodation joint; postpartum; nursing obstetrical; newborn.
Resumen
Acogida y protagonismo de las
enfermeras en el seguimiento de la puérpera en alojamiento conjunto
Objetivo: Identificar el
protagonismo del profesional
de enfermería para la
puérpera, durante el alojamiento
conjunto. Así, apuntando puntos positivos y negativos de esta praxis,
y la importancia de este profesional en esta fase, vista
como llena de cambios
psicológicos, sociales y fisiológicos. Métodos:
Se trata de una revisión integradora de la literatura. Las bases de datos elegidas para la investigación fueron: la Biblioteca Virtual en Salud (BVS) y la Biblioteca
Científica Electrónica en Línea (Scielo).
Se incluyeron los estudios completos, y publicados en
el período de 2012 a 2019. Resultados: El
universo muestral estuvo
conformado por 15 estudios. Los datos
de los artículos analizados
se dispusieron en una
tabla. Los resultados se presentaron en una tabla sinóptica, con resumen, a través de la coaduinación en dos pilares
temáticos: el cuidado puerperal en
el ámbito hospitalario y la praxis del enfermero
más allá del ciclo
puerperal. Conclusión: Se destaca la importancia del profesional de enfermería en el
cuidado posparto y en la adopción del
alojamiento conjunto, trabajando
directamente con la madre y el recién
nacido, para orientarla en los cuidados necesarios con este, contribuyendo al desarrollo de la autonomía y seguridad de la madre con su hijo
y otros beneficios de la adopción del
protocolo.
Palabras-clave: alojamiento conjunto; puerperio; enfermería obstétrica;
recién nacido.
O pós-parto ou puerpério caracteriza-se
como fase ativa do ciclo gravídico-puerperal, período em que ocorrem múltiplos
fatores de modificações hormonal, psíquica e metabólica, refletidas por ações
puramente involuntárias. É uma fase que se inicia logo após a expulsão da maior
parte do conteúdo do útero gravídico, estendendo-se a seis ou mais semanas. É
considerado um período de retorno dos órgãos reprodutivos, bem como, de
readaptação do organismo feminino, alterado pela gravidez e pelo parto [1].
Outra característica desse processo é o
período de ajuste a uma nova identidade materna, de aprendizagem de um novo
papel - de mãe, de adaptação a um novo membro familiar com identidade própria
(o filho). E, acima de tudo, de uma reestruturação das relações familiares e
sociais [1]. Além disso, retrata uma etapa de riscos que necessitam de
cuidados, visando a prevenção de complicações, o conforto físico e emocional, e
ações educativas que possam permitir à mulher, cuidar de si e do bebê. Tais
cuidados devem estar voltados para o reconhecimento de possíveis complicações,
e orientações de superação das dificuldades próprias desse período [2].
Entre as diversas fases que acompanham a
mulher, encontra-se o puerpério, período que possui particularidades, e que
sinaliza a necessidade dos cuidados específicos de enfermagem. Inserindo-as no
contexto de ferramentas para o autocuidado, e para o cuidado do recém-nascido.
Cabe ainda ao enfermeiro auxiliá-la, durante a transição inicial para a
maternidade, e monitorar sua recuperação do pós-parto. Além de identificar e
controlar quaisquer desvios dos processos que, por ventura, possam ocorrer [3].
Conforme o Ministério da Saúde, a
atenção à mulher durante o puerpério é uma ação que possibilita o profissional
enfermeiro avaliar as condições de saúde da puérpera e identificar as possíveis
intercorrências inerentes a este período [4].
A participação do enfermeiro se
sobressai quanto ao desenvolvimento de habilidades técnicas e,
sobretudo, na
orientação aos usuários dos serviços de
saúde. Ademais, quanto à orientação da
equipe de enfermagem, acerca das ações desempenhadas, de
modo a ampliar o
conhecimento, os argumentos científicos, além da
humanização da atenção
prestada, a fim de promover a qualidade da assistência [5].
O cuidado clínico de enfermagem neste
ciclo é de fundamental importância, pois a mulher se depara com os novos papeis
assumidos diante da maternidade, e precisa de suporte social e de saúde
adequados, com o fito da superação de dificuldades encontradas, e para que esse
período transcorra sem complicações [6].
Na fase do puerpério, a mulher sente
necessidade de ser apoiada em seus medos e inseguranças, é possível que ela
apresente limitações emocionais e físicas, que dificultem o cuidado ao seu
filho. Nesse sentido, é de fundamental importância que os cuidados de
enfermagem, nesse período, estejam direcionados às necessidades da puérpera em
todos os aspectos [4].
O período no alojamento conjunto (AC)
caracteriza-se enquanto um protocolo hospitalar, em que o recém-nascido (RN)
sadio, após o nascimento, permanece ao lado da mãe, 24 horas por dia, num mesmo
ambiente, e até a alta hospitalar. Neste, é prestada toda a assistência
necessária, como, por exemplo, a orientação à mãe, sobre a saúde do binômio
mãe-filho [5].
Com efeito, destacam-se os objetivos do
AC: aumentar os índices de aleitamento materno; estabelecer vínculo afetivo entre
mãe e filho; permitir aprendizado materno sobre como cuidar do RN; reduzir o
índice de infecção hospitalar cruzada; estimular a participação do pai no
cuidado com RN; possibilitar o acompanhamento da amamentação sem rigidez de
horário, visando esclarecer às dúvidas da mãe e incentivá-la nos momentos de
insegurança; orientar e incentivar a mãe (ou pais) na observação de seu filho,
visando esclarecer dúvidas (educação em saúde); reduzir a ansiedade da mãe (ou
pais) frente a experiência vivenciada; favorecer troca de experiências entre
mães; melhorar a utilização das unidades cuidados especiais para RN; aumentar o
número de crianças acompanhadas por serviço de saúde. Como se vê, trata-se de
um protocolo com vantagens, tanto para a mãe como para a criança, até mesmo
para os seus familiares (pai, avôs, irmãos, etc.) [5].
Dessa feita, os enfermeiros devem estar
atentos e preparados, para aproveitarem a oportunidade de contato com a mulher
e o recém-nascido, para instituir todo o cuidado previsto, e orientá-la sobre o
processo que irá passar [4]. Para a promoção da saúde do binômio mãe-filho,
recomenda-se, sempre que possível, que os mesmos permaneçam no alojamento
conjunto por, no mínimo, 48 horas. É necessário que o enfermeiro promova a
aprendizagem das mães durante a sua permanência no AC e investigue o contexto
da família [5].
O profissional de enfermagem destaca-se
como agente multiplicador a respeito das orientações fornecidas às puérperas,
sobre os cuidados prestados ao RN. Trata-se de uma assistência para a promoção
de vínculos, a fim de prestar uma assistência de qualidade ao binômio [5].
Sabendo que nas primeiras horas do pós-parto, a puérpera pode enfrentar
dificuldades quanto à pega correta para a amamentação, com à posição correta do
recém-nascido, com fissuras e ferimentos nos mamilos, com os cuidados ao bebê
após a alta hospitalar, com o retorno à Unidade Básica de Saúde (UBS), dentre
outras questões, apregoa-se, assim, que todas essas informações devem ser
repassadas pelo enfermeiro, durante a hospitalização [5].
A responsabilidade de cuidar em
enfermagem exige que as decisões sobre as intervenções propostas, sejam
fundamentadas na avaliação do estado de saúde do indivíduo. Para tanto, esta
avaliação requer a adoção do diagnóstico de enfermagem, como referência para
que ações de enfermagem sejam executadas. A assistência sistematizada
representa uma opção adequada, pois oportuniza um cuidado mais individualizado,
segundo as necessidades do cliente [6].
Nesse sentido, em relação ao tema
específico, subjacente ao contexto do puerpério e do alojamento conjunto,
sinaliza-se que a atuação do enfermeiro no contexto da política nacional de
aleitamento materno, visa prevenir, reconhecer e resolver as dificuldades na
interação da nutriz com seu filho. Especialmente no que se refere à
amamentação, como os obstáculos identificados, para que as práticas sejam
bem-sucedidas. Não obstante, nos últimos 30 anos, o Brasil tem elevado ações de
promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno conseguindo altos índices de
adesão ao aleitamento exclusivo, fomentando redes de apoiadores, e inibindo o
desmame precoce [7].
É preciso ter um olhar atento para que
essas necessidades da nutriz, durante o aleitamento no período de internação
hospitalar, sejam precocemente identificadas e resolvidas, evitando o desmame
precoce, ou o início da alimentação complementar, quando ainda se faz
importante o aleitamento exclusivo. Além disso, o contato contínuo entre mãe e
filho por meio da amamentação fortalece os laços afetivos, o envolvimento dos
familiares, e o prolongamento dessa prática [7].
Infere-se que essa valoração corresponde
à experiência fundante, pois o homem é um ser valorativo e engajado no seu
existir. E, como o amamentar perpassa por este vínculo, deduz-se que tal
efetividade está diretamente ligada ao valor afetivo, pois essa relação
mãe-nutriz e filho, é uma vivência própria, única do ser humano, e originária
da relação que o aleitamento proporciona [7].
Nessa perspectiva, torna-se mister
sinalizar acerca da teoria do conforto. Esta sugere protocolos e assistência
específica, para promover o cuidado de enfermagem à puérpera, de forma a
garantir o atendimento das suas reais necessidades nesse período. O conforto
nas práticas de enfermagem viabiliza a satisfação das necessidades humanas
básicas, a tranquilidade (estado de calma ou de contentamento), o alívio
(condição de uma pessoa que teve satisfeita uma necessidade específica) e a
transcendência (condição na qual o indivíduo supera os seus problemas e
sofrimentos) [3].
Ademais, a percepção das usuárias acerca
dos serviços de enfermagem de uma maternidade é um importante dado, pois além
de lidar com a educação em saúde, o fortalecimento da vinculação mãe-bebê, a
importância da amamentação exclusiva, dentre outras questões, pode identificar
os pontos positivos e negativos, em relação ao cuidado recebido, e fortalecer a
rede de apoio. Assim, têm-se que a assistência ideal é um processo contínuo, em
que a busca por melhorias caracteriza a qualidade da atenção à saúde, e a
satisfação do usuário (a) [8].
Assim, o trabalho junto à mulher no
ciclo gravídico puerperal deve ser iniciado durante as consultas de pré-natal,
período no qual aspectos relativos ao cuidado no puerpério podem ser abordados,
a fim de evitar complicações comuns do pós-parto. Ademais, a mulher adquirirá
conhecimentos prévios sobre questões que dizem respeito a sua vivência em cada
etapa do ciclo gravídico puerperal [9].
Igualmente, a consulta de enfermagem no
puerpério é de extrema importância, pois é nesse momento que a mãe pode
esclarecer suas dúvidas, aprender os cuidados essências para o bebê, falar
sobre vacinação, dentre outras questões. Trata-se de um momento de educação em
saúde, onde a profissional e a mãe criam um vínculo importante, e o enfermeiro
contribui para a prevenção e promoção em saúde [4].
Nessa perspectiva, a presente pesquisa
teve o objetivo de identificar, através de detalhado estudo de revisão de
literatura, o protagonismo do profissional de enfermagem, no acompanhamento ao
processo de puerpério em alojamento conjunto (AC).
Trata-se de um estudo descritivo
exploratório, no qual optou-se pelo método revisão integrativa de literatura.
Esta, produzida por meio de três etapas iniciais, em destaque: definição do
objetivo da revisão, identificação da literatura disponível e seleção dos
estudos conforme critérios estabelecidos [10]. A revisão integrativa é vista
como um instrumento fundamental da prática baseada em evidências (PBE). Tem
como objetivo uma prática clínica baseada na qualidade. Seu foco é baseado na
síntese de conhecimento e sua melhor aplicabilidade, visando o entendimento da
temática escolhida [11].
A busca por publicações científicas foi
realizada de abril a agosto de 2020, e as bases de dados escolhidas para a
pesquisa foram: a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), e a Scientific
Electronic Library Online (Scielo).
A pergunta norteadora do presente estudo foi a seguinte: “Qual a práxis e a
importância do enfermeiro, no apoio às puérperas, durante o período no AC?”
Estabeleceram-se os seguintes critérios
de inclusão: a) estar disponível em texto completo; b) terem sido publicados em
português; c) estudos que abordavam a temática específica; d) publicados no
recorte temporal de 2012 a 2019.
Excluíram-se os estudos cujos textos não
estavam disponíveis de forma integral, os textos em outros idiomas, os estudos
enquadrados como dissertações e teses, e que estivessem fora do período
limitado.
Os artigos também foram classificados de
acordo com o nível de evidência científica (NEC), sendo observada a sua
abordagem metodológica. Considerou-se a classificação hierarquizada em sete
níveis definidos, a saber: nível 1 – meta-análise ou revisões sistemáticas;
nível 2 – ensaio clínico randomizado controlado; nível 3 – ensaio clínico sem
randomização; nível 4 – estudos de coorte e de caso controle; nível 5 –
revisões sistemáticas de estudos descritivos e qualitativos; nível 6 – estudos
descritivos ou qualitativos; e nível 7 – opinião de especialistas [11].
As buscas foram feitas com os
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS),
“Alojamento
Conjunto”, “Período pós-parto”,
“Enfermagem obstétrica”,
“Recém-nascido”. A
busca integrada foi realizada unindo os descritores com o conectivo boleano “AND”
Os artigos escolhidos foram lidos,
revisados e avaliados quanto aos critérios de exclusão e inclusão. Foram
escolhidos e arquivados em uma base de dados a fim de serem utilizados durante
o decorrer da pesquisa para a fundamentação acerca do tema.
Ao fim da análise e interpretação dos
dados, foi realizada uma sumarização de todo o conhecimento obtido através das
publicações. Foi utilizado um quadro sinótico com informações sumarizadas, e
que permitiram a análise do material, expondo-se: número do artigo, título do artigo,
autores, ano de publicação, objetivo de estudo, nome do periódico, área de
concentração do periódico, estado do periódico no território nacional, e nível
de evidência científica (Nec).
Através da busca com os descritores
“Alojamento Conjunto”, “Período pós-parto”, “Enfermagem obstétrica”,
“Recém-nascido, utilizando “AND” como conector, foram encontrados 402 artigos,
dos quais, quando aplicados os critérios de inclusão e exclusão, obteve-se o
total de 15 artigos para análise.
Utilizou-se um fluxograma para
simplificar os dados coletados, onde estão descritos a quantidade de trabalhos
encontrados, selecionados e excluídos, dispostos na figura 1.
Fonte: Ramos MLP et
al.,2021.
Figura 1 - Fluxograma metodológico da busca e
seleção de artigos nas bases de dados
A partir dos critérios de inclusão e
exclusão estabelecidos, foram selecionados 15 artigos que atenderam aos
objetivos propostos e à pergunta condutora. A amostra final foi organizada em
quadro sinótico, com as categorias: número do artigo, título, autores; ano de
publicação; objetivo; nome do periódico; área do periódico; estado do periódico
em território nacional; e nível de evidência científica. Os dados foram
disponibilizados com o fito de sintetizar as informações, formando um banco de
dados de fácil acesso e compressão.
Quadro 1 - Publicações selecionadas para
compor a revisão integrativa
Em relação aos anos de publicação,
percebe-se uma curva crescente, no que se refere ao quantitativo de
publicações, pois entre os anos de 2012 e 2013 foram produzidos dois estudos,
já entre 2014 e 2015, foram seis, tendo um aumento significativo a partir do
ano de 2017, correspondendo a seis produções científicas escolhidas para o
recorte do estudo.
Todos os estudos foram publicados em
periódicos da área de Enfermagem. Outra variável contemplada foi o nível de
evidência científica. Conforme mencionado, esta visa fortalecer o processo da
Prática Baseada em Evidências (PBE), dispondo de sistemas de classificação de
evidências qualificadas de forma hierárquica, a partir do enfoque metodológico
adotado.
Na presente amostra, pôde-se identificar
que 9 artigos estão enquadrados no nível de evidência 6, sendo de grande
relevância, pois proporciona a visibilidade dos dados das práticas de
enfermeiros com o AC. Houve a publicação de cinco trabalhos com o enfoque de
levantamento de dados qualitativos, através da revisão de literatura – nível de
evidência científica 5, e um estudo publicado no nível de evidência 2,
englobando um estudo clínico não randomizado.
Ademais, de forma a melhor expor a
discussão dos dados encontrados, os trabalhos foram comparados por conteúdos, e
dessa análise foram construídas duas categorias especificadas: Assistência
puerperal no ambiente hospitalar e Papel do enfermeiro no ciclo puerperal.
Assistência puerperal no ambiente
hospitalar
Os artigos de Silva et al. [12]
et Gomes et al. [13], que compõem o quadro, identificam que o AC tem
como finalidade estreitar as relações no binômio mãe-filho, proporcionando uma
melhor relação entre os familiares, e promover aprendizado de forma geral, a
todos os envolvidos, trabalhando a individualidade de cada mulher, sabendo que
tanto ela quanto a criança necessitam de cuidados individualizados.
Silva et al. [12] sinaliza,
ainda, que, durante o puerpério imediato, as alterações mais frequentes estão
relacionadas à hipertensão arterial, hemorragias pós-parto, dificuldades na
amamentação, infecções, cuidados com o recém-nascido. Sendo assim, a equipe de
enfermagem no ambiente hospitalar, onde ocorrem os primeiros contatos, tem como
papel, promover a saúde e a prestação de cuidados mais intensivos.
O período do pós-parto é incluído Gomes et
al. [13]. Os autores argumentam que há uma série de cuidados diferenciados,
e mais criteriosos para este ciclo, evitando, assim, intercorrências futuras.
Faz-se aceno ainda, que se deve ter um maior cuidado com as puérperas após o
parto, avaliando a pressão arterial, a frequência cardíaca, e a frequência
respiratória. É nessa fase que ocorrem maiores casos de sangramentos,
comprometendo o estado de saúde da paciente, podendo levar até ao óbito.
Os artigos de Andrade et al. [14],
Xavier et al. [15] et Souza et al. [16] depreendem sobre o período puerperal, especificamente
quanto ao exame físico, e à avaliação dos lóquios.
Por definição, denomina-se lóquios a descarga de
líquidos que provêm do útero no período do pós-parto. Os artigos em lide
salientam que o enfermeiro deve avaliar a quantidade e a característica desses lóquios, podendo, assim, identificar sinais de infeção, de
retenção de restos placentários, e hemorragia (precoce ou tardia).
Oportus et al. [17] endossam que se deve
estimular a puérpera a deambular o mais precocemente possível, após quatro
horas precedidas do parto natural, e entre dez a doze horas após partos com
anestesia peridural e raquidiana. Ainda que a deambulação ajude na regressão
uterina, melhorando o funcionamento vesical, prevenindo complicações como
tromboembolismo, e auxiliando na melhora da motilidade intestinal da puérpera
[17].
Gomes et al. [13] consideram que
a consulta de enfermagem tem como base as orientações puerperais, colocando a
puérpera como protagonista das suas próprias ações, tanto durante o parto, como
no pós-parto. Assim, identificam-se problemas, lida-se com planejamentos e
intervenções para obter resultados, visando a integralidade do binômio
mãe-bebê. Todavia, sinaliza-se que a assistência hospitalar para algumas
puérperas, ainda é muito precária, e não oferece o essencial no momento mais
delicado para elas, causando carência de clareza às especificidades do papel
materno, e dificultando a transição para maternidade.
Xavier et al. [15] relatam a
importância da práxis do enfermeiro no AC, entretanto, aponta o ponto crítico
de que, apesar de bastante presente na unidade, algumas vezes, a equipe de
enfermagem é omissa em relação ao cuidado dispensado às puérperas. Ademais, que
são profissionais importantes para a elucidação de importante dúvidas, na
transposição de obstáculos e desafios, e para que estes sejam solucionados de
forma rápida e tranquila.
A práxis do enfermeiro para além do
ciclo puerperal
Com o fito de sinalização da densidade
de vivência do puerpério, o artigo de Xavier et al. [15] endossa a fase como um período
extremamente delicado, podendo haver algumas complicações e, sendo assim, que
necessita de cuidados especiais por parte da equipe de enfermagem, para que não
haja intercorrências, e seja um período de adaptação tranquila.
Andrade et al. [14] defendem que
durante o puerpério, a mulher necessitará de cuidados visando sua
integralidade, enfatizando os cuidados do enfermeiro, onde ele atenderá a
mulher de maneira singular, sendo assim uma assistência qualificada.
Já no artigo de Silva et al.
[12], há a importante sinalização de que logo após o parto, a mãe fica muito
sensibilizada com relação a todo processo, e que inclusive podem repercutir em
mais dores. Também há endosso de que a gravidez, o parto e o puerpério compõem
uma das fases críticas de transição do ciclo de vida humano, e o profissional
de enfermagem tem com papel essencial, promover o conforto nessa fase tão
delicada, na qual a puérpera necessita de apoio de todos os que a rodeiam.
Xavier et al. [15] citam que o
enfermeiro oferece apoio, preparo físico e acolhimento, fazendo com que a
mulher desenvolva a autoconfiança para poder passar pela fase do puerpério com
mais confiança, momento este que ela terá a responsabilidade de cuidar de si, e
do bebê que ela deu à luz. Portanto, o profissional de enfermagem contribui
para diminuir a morbimortalidade tanto materna, quanto do recém-nascido.
Nesse sentido, é importante destacar que
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os profissionais precisam
trabalhar de forma multidisciplinar, considerando as necessidades de cada
mulher, para que assim ela tenha um resultado satisfatório. Ademais, o
enfermeiro atuante no AC, tem a responsabilidade de oferecer o suporte
necessário para a puérpera, proporcionando uma transição de qualidade e
tranquila, sabendo que o papel de orientação do enfermeiro percorre, desde o
pré-natal, parto e no pós-parto [18,19,20].
É importante que o profissional de
enfermagem durante todo o período puerperal valorize o binômio mãe-filho,
fortalecendo o vínculo desde as primeiras horas. Também, sempre interrogar a
mãe sobre a existência de dúvida em algum aspecto sobre a amamentação, a melhor
posição para segurar o bebê e amamentar, a pega correta, ou, se existe alguma
queixa de dor, de sangramento mais intenso, ou algum odor fétido,
proporcionando assim, um cuidado integral [4].
Destarte, considera-se que o enfermeiro
pode aplicar a teoria do conforto na qual é perfeitamente aplicável através da
Sistematização da Assistência em Enfermagem (SAE). Nesse momento, o enfermeiro
identifica as necessidades de conforto da mulher, e define medidas de conforto
que satisfaçam suas necessidades prioritariamente, e também as do
recém-nascido, de forma a promover o conforto da mãe. O entendimento do
conforto está relacionado aos cuidados de enfermagem relacionados em eixos: o
físico, o psicoespiritual, e o social [3].
O profissional de enfermagem é o mais
acionado para a lida com cuidados pós-parto. Neste lócus, ele poderá atuar
diretamente com a puérpera, e o recém-nascido. Os cuidados, embora sejam
simultâneos, abarcam necessidades individuais e que devem ser atendidas
pontualmente.
O alojamento conjunto é uma estratégia
utilizada para estreitar a relação do binômio mãe-filho. É nesse ambiente que o
enfermeiro poderá prestar cuidados à puérpera e também orientá-la sobre os
cuidados necessários com o recém-nascido, contribuindo para o desenvolvimento
de autonomia e segurança da mãe nos cuidados com o bebê.
O presente estudo buscou enfatizar a
relevância do profissional de enfermagem no serviço de maternidade, e na
prática do alojamento conjunto, sensibilizando tanto a sociedade como a
comunidade científica, pois verifica-se que esta práxis foca-se
em protocolos específicos. Todavia, além das rotinas do hospital, o enfermeiro
que trabalha em maternidade contribui para o fortalecimento do binômio
mãe-bebê; para a educação em saúde prestada à mãe, acerca do processo de
puerpério, cuidados ao recém-nascido; no fortalecimento do aleitamento materno
exclusivo; no apoio familiar dispensado à nova mãe, dentre outras evidentes
situações.
Conflito de interesses
Não há conflito de
interesses
Fonte de financiamento
Não houve
Contribuição de cada
autor
Concepção do manuscrito: Salgueiro CDBL;
Redação, análise de dados, revisão: Salgueiro CDBL, Ramos MLP, Mendes GP, Silva
DAP; Redação final e revisão: Santos MI, Barbosa LS