Enferm Bras 2021;20(4):506-19
ARTIGO
ORIGINAL
Conhecimento
do agente comunitário de saúde acerca da amamentação
Dariana
Rodrigues Andrade*, Letícia Mendes de Lima*, Sérgio Alves Dias Júnior**,
Marcela Souza da Silva, M.Sc.***, Fábio de Souza
Terra, D.Sc.****, Patrícia Mônica Ribeiro, D.Sc.*****
*Acadêmica
de Medicina, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL/MG), **Enfermeiro,
Especialista em Urgência e Emergência, Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL/MG), ***Enfermeira, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL/MG),
****Enfermeiro, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL/MG), *****Enfermeira, Pós-Doutora em Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL/MG)
Recebido
em 22 de março de 2021; aceito em 30 de agosto de 2021.
Correspondência: Letícia Mendes de Lima, Rua Gabriel
Monteiro da Silva, 700, 37130-001 Alfenas MG
Dariana Rodrigues Andrade:
dariana.andrade@hotmail.com
Letícia Mendes de Lima: leticia.mendeslima@hotmail.com
Sérgio Alves Dias Júnior: sergio.dias@unifal-mg.edu.br
Marcela Souza da Silva: marcela.d.souza@hotmail.com
Fábio de Sousa Terra: fabio.terra@unifal-mg.edu.br
Patrícia Mônica Ribeiro: patricia.ribeiro@unifal-mg.edu.br
Resumo
Introdução: As taxas de amamentação no Brasil
estão muito aquém do que é preconizado mundialmente. O Agente Comunitário é o
principal elo entre a Equipe de Saúde da Família e a comunidade, na realização
de ações que visem promover a amamentação. Objetivo: Analisar o
conhecimento dos agentes acerca da amamentação. Métodos: Estudo
quantitativo, descritivo e transversal em que foi utilizado para coleta de
dados um questionário aplicado para 29 agentes que atuam em Estratégia de Saúde
da Família em um município do Sul de Minas Gerais. Resultados: Os
agentes dominam os conhecimentos básicos acerca da amamentação. No entanto,
consideram sua formação profissional insuficiente. Conclusão: A maioria
dos participantes não realizaram cursos sobre o tema e nem se sentem preparados
para orientar as mães durante o período de amamentação, o que demostra a
necessidade de maior capacitação dos mesmos por meio de cursos ou oficinas
educativas.
Palavras-chave: atenção primaria à saúde; agentes
comunitários de saúde; aleitamento materno; saúde da criança.
Abstract
Knowledge of the community health
agent about breastfeeding
Introduction: Breastfeeding
rates in Brazil are far below the worldwide guidelines. The Community Health
Agent is the main link between the Family Health Team and the community,
carrying out actions that aimed to promote breastfeeding. Objective: To
analyze the knowledge of community health agents about breastfeeding. Methods:
Quantitative, descriptive, and cross-sectional study in which a questionnaire
applied to 29 agents working in the Family Health Strategy in a city in the
south of Minas Gerais State. Results: The community health workers
dominate basic knowledge about breastfeeding. However, they consider the
professional training insufficient. Conclusion: We observed that most of
the participants did not follow courses on the topic and did not feel themselves
prepared to guide mothers during the breastfeeding period, which demonstrates
the need for more training through courses or educational workshops.
Keywords: primary health care; community
health workers; breast feeding; child health.
Resumen
Conocimiento del agente de
salud comunitario sobre la lactancia materna
Introducción: Las tasas
de lactancia materna en
Brasil están muy por debajo de lo recomendado en todo el mundo. El Agente Comunitario es el vínculo
principal entre la Estrategia
de Salud de la Familia y la comunidad,
en la realización
de acciones que apuntan a
promover la lactancia
materna. Objetivo: Analizar el conocimiento de los agentes sobre la lactancia materna. Métodos: Estudio
cuantitativo, descriptivo y
transversal en el que se utilizó para la recolección de datos un cuestionario aplicado a 29
agentes que trabajan en la Estrategia Salud
de la Familia en una ciudad del
sur del estado de Minas
Gerais. Resultados: Se encontró que los agentes dominan el conocimiento básico sobre la lactancia materna. Sin embargo, consideran
insuficiente su formación profesional. Conclusión:
La mayoría de los
participantes no tomaron cursos sobre el tema y no se sintieron
preparados para orientar a las madres durante el período de lactancia, lo que demuestra la necesidad de una mayor capacitación de los mismos a través de cursos o talleres educativos.
Palabras-clave: atención
primaria de salud; agentes comunitarios
de salud; lactancia
materna; salud del niño.
A amamentação é de extrema importância para o
desenvolvimento da criança, principalmente nos seis primeiros meses de vida e
traz uma série de benefícios para o binômio mãe-bebê. No entanto, uma pequena
parcela das crianças brasileiras é amamentada exclusivamente até os seis meses
e de forma complementada até os dois anos [1].
Para mudar esse cenário, é necessária a realização de ações
que visem promover a amamentação, apresentando às mães, às famílias e à
comunidade os seus benefícios. Com a atual organização da rede de atenção à
saúde brasileira, destaca-se a importância dos profissionais da Estratégia de
Saúde da Família no desenvolvimento dessas ações, visto que esses profissionais
têm contato com as mães desde o pré-natal e continuarão tendo durante todo o
desenvolvimento da criança, baseando-se no princípio da longitudinalidade
[2].
O
contato frequente do Agente Comunitário de Saúde (ACS)
com a população é de extrema importância
para a promoção da saúde, prevenção
de
doenças e agravos, porque ele acaba se tornando o principal elo
de ligação entre a equipe de saúde da família e a comunidade [2]. Desse
modo, o ACS pode exercer um importante papel na orientação de gestantes e mães
de lactentes quanto aos benefícios da amamentação. Por isso, o conhecimento
desse profissional acerca desse ato pode ser crucial para a realização e
sucesso do mesmo.
Justifica-se a importância da realização deste trabalho no
sentido de analisar se o ACS possui conhecimentos sobre amamentação, como o ACS
transmite seus conhecimentos às famílias adscritas na unidade onde trabalha e
como isso pode influenciar as mães a amamentarem seus filhos, trazendo vários
benefícios para o binômio mãe-filho. O estudo também poderá trazer
contribuições científicas, por meio de resultados que possam esclarecer estas
lacunas, assim como contribuir no conhecimento dos profissionais de saúde que
atuam com os ACS, para que juntos possam instituir medidas positivas que
favoreçam a amamentação.
O objetivo deste estudo é analisar o conhecimento do Agente
Comunitário de Saúde acerca da amamentação.
Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa de
natureza descritiva e quanto à temporalidade, de corte transversal e a pesquisa
foi realizada em seis das 13 Unidades de Estratégia Saúde da Família da área
urbana existentes em um município localizado ao sul do Estado de Minas Gerais
na época da coleta dos dados, que ocorreu no período de dezembro de 2018 a
fevereiro de 2019.
A população de estudo consistiu-se em 29 profissionais
Agentes Comunitários de Saúde que atuam em sete equipes da Estratégia da Saúde
da Família da área urbana. Essas sete equipes possuem um total de 52 ACS, no
entanto 23 deles encontravam-se de férias ou em visita domiciliar no momento da
coleta dos dados nas unidades e, por isso, 29 ACS responderam ao questionário e
aceitaram participar da presente pesquisa.
Foi utilizado para coleta de dados um questionário que
consta de três partes: a primeira apresenta a caracterização dos participantes
do estudo, a segunda aborda perguntas referentes ao trabalho na Estratégia de
Saúde da Família e a terceira contém perguntas referentes ao conhecimento sobre
o aleitamento materno. O instrumento foi elaborado pelos pesquisadores e
apresenta conceitos estabelecidos pelo Ministério da Saúde (MS), Organização
Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e
foi encaminhado para dois juízes da área a fim de garantir melhor refinamento
do instrumento e melhorar o conteúdo do mesmo para que pudesse responder ao
objetivo do estudo.
Os dados foram coletados nas dependências das Unidades de
Saúde, o que não interferiu na rotina desses serviços. Os enfermeiros
responsáveis pelas equipes e o ACS foram abordados, foi explicado a eles do que
se tratava a pesquisa e seus objetivos e, após a autorização e aceite por meio
de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram entregues aos
participantes o questionário para leitura e preenchimento.
Após a coleta de dados, foram elaboradas seções em tabelas,
com auxílio do aplicativo Microsoft Excel 2013, para cada item do questionário,
sendo esses dados avaliados em sua frequência e colocados em valores absolutos
e percentuais para discussão e verificação do objetivo proposto.
O projeto de
pesquisa foi encaminhado ao secretário de saúde do município para autorização
do estudo. Posteriormente, foi encaminhado para o Comitê de Ética em Pesquisa
para avaliação, tendo sido aprovado sob parecer nº 2.773.726.
Na caracterização dos participantes do estudo foi observado
que a maioria dos ACS pertence ao sexo feminino, 22 (76%), enquanto sete (24%)
são do sexo masculino. Em relação à escolaridade, a maioria possui ensino médio
completo, 20 (69%); ressalta-se que cinco (17%) possuem ensino superior
incompleto, dois (7%) ensino fundamental completo, e dois (7%) o ensino
superior completo. No estado civil, pôde-se observar que 14 (48%) eram casados,
12 (42%) eram solteiros e três (10%) divorciados. Em relação à crença
religiosa, 18 (62%) declararam-se católicos, cinco (24%) evangélicos, dois (7%)
espíritas, um (3,5%) ateu e um (3,5%) pertencente a outra religião.
Tabela
I - Dados referentes
ao trabalho na Estratégia de Saúde da Família, Município do Sul de Minas
Gerais, (n = 29)
Fonte: dos autores
Em relação ao trabalho na ESF, constatou-se que a maioria,
15 (52%), dos ACS fazem parte da equipe há um período entre 1 e 5 anos; as
reuniões com todos os ACS acontecem 1 vez a cada 15 dias para 15 (52%)
participantes do estudo, e as reuniões com todos os membros da equipe ocorrem 1
vez a cada 15 dias para a maioria dos ACS, 19 (65%). Os cursos que abordam os
problemas de saúde mais comuns na comunidade acontecem 1 vez por mês segundo 17
(59%) participantes.
Em relação à realização de visitas domiciliares pelos ACS,
24 (83%) relataram que são acompanhados por um médico e/ou enfermeiro quando
alguma paciente apresenta problemas com a amamentação e cinco (17%) não são
acompanhados.
Tabela
II – Dados
referentes ao conhecimento sobre o aleitamento materno, Município do Sul de
Minas Gerais (n = 29)
Fonte: dos autores
Em
relação ao tempo de aleitamento materno exclusivo, 26
(90%) respondentes marcaram seis meses. Quanto à
introdução de outros alimentos
durante o período de aleitamento materno exclusivo, 24 (83%)
entrevistados
afirmaram que o leite materno é suficiente para suprir todas as
necessidades do
lactente. Em relação ao desmame, para 12 (41%) ACS deve
ocorrer a partir dos
dois anos de idade ou mais; e a maioria dos ACS (90%) avaliados afirmou
que o
tempo de aleitamento materno exclusivo é de 6 meses e que nesse
período o leite
materno é suficiente para suprir todas as necessidades do
bebê (83%). No caso
clínico apresentado aos ACS, todos os entrevistados, 29 (100%),
responderam que
a mãe e o bebê deveriam ser encaminhados para consulta com
o médico ou o
enfermeiro da equipe de saúde da família para que a
mãe recebesse orientações
em relação à amamentação. Quanto aos
responsáveis pelo sucesso da amamentação,
26 (90%) ACS responderam corretamente que a mãe não deve
ser a única
responsável pelo sucesso da amamentação.
Tabela
III – Capacitação
dos Agentes Comunitários de Saúde em
relação à amamentação e
orientação das
nutrizes, Município do Sul de Minas Gerais, (n = 29)
Fonte: dos autores
Em
relação à capacitação em
amamentação e orientação às
nutrizes, 18 (63%) respondentes realizaram um curso, desses 14 (78%)
relataram
que o curso foi ministrado por um enfermeiro. Quanto ao instrumento
utilizado
na orientação das mães em relação
à amamentação, 14 (48%) ACS informaram que
utilizam outros instrumentos. Em relação à oferta
de cursos para gestantes na
unidade em que trabalham, 14 (48%) entrevistados afirmaram que ocorrem
mensalmente, já os cursos sobre aleitamento para nutrizes, 19
(66%)
participantes responderam que já ocorreu esse tipo de curso na
unidade em que
trabalham. Do total dos 19 agentes que responderam afirmativamente a
essa
pergunta, 11 (38%) participaram do curso ofertado na unidade. Para 11
(38%)
agentes entrevistados a unidade em que trabalham possui de 1 a 10
nutrizes. Em
relação ao acompanhamento do ACS para a nutriz, 25 (86%)
responderam que
acompanham de 0 a 5 nutrizes em visita. Para 22 (76%) participantes as
5
nutrizes que acompanharam nos últimos 6 meses mantiveram o
aleitamento materno
exclusivo. Em relação à frequência de
visitas para as nutrizes, 19 (65%) ACS
responderam que visitam às famílias que possuem
bebês em aleitamento materno 1
vez por mês. Dos entrevistados, 15 (52%) responderam que se
sentem preparados
para orientarem as mães em relação à
amamentação.
Foi observado que neste estudo a maioria dos ACS é mulher,
com ensino médio completo, casadas e católicas, ou seja, com características
que predominam em praticamente todo o país e que também foram encontradas em
outras pesquisas [3,4].
Os cursos que abordam os problemas de saúde mais comuns na
comunidade acontecem uma vez por mês. Pode-se considerar baixa a frequência de
realização de cursos na maioria das ESFs, haja vista
que os próprios ACS consideram sua formação profissional insuficiente, citando,
como exemplo, o excesso de padronização de conteúdos que abordam temas
predominantemente técnico-científicos e que não incluem dados da realidade
local, o enfoque insuficiente em aspectos teóricos e práticos que poderiam
auxiliá-los no enfrentamento de questões da realidade cotidiana de trabalho,
como o manejo de problemas familiares e de ordem social, e, por fim, a restrição
da carga horária oferecida para tal atividade [5].
Além disso, quase um terço dos ACS (27%) responderam que
esse tipo de curso nunca acontece na ESF. Este é um dado alarmante que mostra o
déficit existente na formação desses trabalhadores, fato que pode prejudicar a
orientação que eles oferecem à comunidade. Isso se confirma, uma vez que na
maioria das regiões do país os ACS iniciaram seus trabalhos sem formação
específica, receberam apenas informações básicas sobre o que coletar em suas
visitas e aprenderam no cotidiano do seu trabalho, dependendo do critério e
julgamento pessoais de cada ACS [6,7].
Nas visitas domiciliares realizadas pelos ACS, a maioria
relatou que são acompanhados por um médico e/ou enfermeiro quando alguma paciente
apresenta problemas com a amamentação. Tais dados reforçam a divisão segmentada
de trabalho entre a equipe de uma ESF, cabendo ao ACS conhecer as situações
concretas de vida dos usuários/família/comunidade e, aos demais profissionais,
atuar tecnicamente mediante o conhecimento de tais informações [8].
A maioria dos ACS avaliados no presente estudo afirmou que
o tempo de aleitamento materno exclusivo é de 6 meses e que nesse período o
leite materno é suficiente para suprir todas as necessidades do bebê. Apenas
41% dos ACS afirmaram que o desmame deve ocorrer após os 2 anos de idade ou
mais. De fato, o aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses de
vida e complementado até os dois anos de idade ou mais, com a introdução de
alimentos saudáveis, conforme recomendações da OMS que são seguidas pelo
Ministério da Saúde. O aleitamento materno exclusivo é reconhecidamente o
padrão ouro da alimentação infantil [9].
A amamentação é considerada a alimentação ideal para o bebê
por contribuir para a redução das doenças infantis e da mortalidade infantil,
além de trazer uma série de benefícios a longo prazo como a diminuição do risco
de obesidade e diabetes mellitus e também traz
benefícios para a mãe como proteção contra o câncer de mama e prevenção de
gestações próximas [10].
De acordo com a II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento
Materno, realizada em 2008 no Brasil, o percentual das crianças menores de seis
meses em aleitamento materno exclusivo (AME) era de 41%. A OMS divulgou que o
AME é considerado muito bom quando alcança índices de 90% a 100%, bom entre 50%
e 89%, razoável entre 12% e 49% e ruim de 0% a 11%. Essa pesquisa ainda
demonstrou que a duração mediana do AME, que é a média de dias em que as
crianças foram amamentadas exclusivamente com leite materno, foi menor do que
dois meses (54,1 dias). Abordaram também que a mediana da amamentação
complementada, quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer
alimento sólido ou semissólido, apresentou a duração média de 11,2 meses (341,6
dias), também abaixo do recomendado [11].
Cabe mencionar que o Brasil precisa melhorar a prevalência
de aleitamento materno para alcançar níveis bons, de acordo com os parâmetros
da OMS. Os profissionais de saúde têm relevante papel na melhoria dos
indicadores de aleitamento materno. Além da importância da atuação nos aspectos
clínicos relacionados à lactação, esses profissionais são essenciais na
promoção e no incentivo ao aleitamento materno a partir de um olhar atento e
abrangente, levando em consideração os aspectos emocionais, a cultura familiar
e a rede social de apoio à mulher. Levando-se em consideração as funções do
ACS, destaca-se a importância desse profissional no incentivo ao aleitamento
materno e por esse motivo é essencial que ele tenha conhecimentos em relação a
esse tema [10].
Em
um caso clínico apresentado aos ACS, todos os
entrevistados responderam que a mãe e o bebê deveriam ser
encaminhados para
consulta com o médico ou o enfermeiro da equipe de saúde
da família para que a
mãe recebesse orientações em relação
à amamentação. Dentre as intercorrências
na amamentação, pode-se citar a insegurança da
mãe e da família quanto à
produção de pouco leite, ou quanto ao leite produzido ser
fraco, além de
intercorrências clínicas, como traumas mamilares,
ingurgitamento, candidíase e
dificuldade na pega. Os profissionais de saúde devem fazer o
manejo de tais
intercorrências com a mulher, o bebê e sua família,
a fim de potencializar a
manutenção do aleitamento materno. A qualidade e a
quantidade de sucção da
criança governam a síntese do leite materno. Deve-se
acolher a mulher com suas
dúvidas e limites para amamentar. Depois, ouvir suas queixas,
explicar a ela
quais as vantagens de amamentar e, por fim, respeitar sua
decisão. Para que o
profissional oriente adequadamente as mães é fundamental
que ele possua
conhecimento técnico a respeito da amamentação e,
por isso, é essencial que o
ACS seja devidamente capacitado em relação ao aleitamento
materno [10,11,12,13,14].
Em relação aos responsáveis pelo sucesso da amamentação,
90% dos ACS responderam corretamente que a mãe não deve ser a única responsável
pelo sucesso da amamentação, o pai, a família, a comunidade e os profissionais
podem e devem contribuir com esse sucesso. Amamentar envolve o apoio de
familiares, amigos, vizinhos e profissionais de saúde, imprescindíveis para
superar as dificuldades vivenciadas pelas mulheres e suas famílias. A
existência de uma rede de apoio pode ser um fator determinante para a adoção e
manutenção da prática da amamentação e a ausência dessa rede pode determinar a
introdução precoce de outros líquidos e alimentos na dieta da criança
[10,12,15].
Em relação à capacitação em amamentação e orientação às
nutrizes, 63% deles realizaram um curso. Os ACS sentem maior segurança e
confiança após atividades de educação permanente desenvolvidas pelas
enfermeiras da ESF e que pode ser realizada por meio de cursos, antes de eles
iniciarem as atividades educativas junto à comunidade, o que melhora a relação
de confiança entre o agente comunitário e as famílias por ele acompanhadas
[16].
Quanto ao instrumento utilizado na orientação das mães em
relação à amamentação, 48% dos ACS informaram que utilizam outros instrumentos.
Nos últimos anos a maioria das mães tem recebido
orientações sobre aleitamento materno durante o pré-natal, puerpério e
puericultura. No entanto, observam-se baixas taxas de aleitamento materno
exclusivo e alta ocorrência de desmame precoce. Acredita-se que o despreparo
dos profissionais de saúde que acompanham as mulheres no período
gravídico-puerperal e as crianças no período de nascimento e de puericultura,
associado à conduta, a rotinas, a práticas inadequadas nos serviços de saúde, à
propaganda indiscriminada e à distribuição de fórmulas infantis, contribui para
o desmame precoce. Por isso, todos os profissionais devem estar preparados e
demonstrarem segurança para a mãe com dificuldades de amamentação, acolhendo-a
em sua ansiedade e fornecendo informações consistentes [17].
Os ACS encontram algumas dificuldades na orientação da
população adscrita nas unidades como limitações individuais (nervosismo,
timidez, insegurança), falta de preparo, falta de tempo para o preparo das
atividades educativas com a comunidade, falta de tempo e organização para a
realização das atividades de educação permanente e falta de tempo e interesse
da comunidade para participar das ações educativas. Para combater a insegurança
deve-se conhecer o assunto, praticar e adquirir experiência e desenvolver o
autoconhecimento. Algumas vezes, os ACS não estão preparados para orientar
sobre determinado assunto, uma vez que lhes falta conhecimento, o que evidencia
a necessidade de maior investimento na educação desses membros da equipe de
saúde [16].
Pôde-se observar neste estudo que os ACS dominam os
conhecimentos básicos acerca da amamentação, uma vez que sempre aprendem no
convívio diário com a equipe e, principalmente pelo fato da maioria dos
participantes deste estudo ser do sexo feminino e ter filhos, ou seja,
presenciou a amamentação em suas vidas pessoais e aprendeu a partir dessa
experiência. Entretanto, vale ressaltar que não se sentem preparados para
orientar as nutrizes devido à falta de conhecimento científico sobre a prática,
isso mostra o quão necessário é a realização de cursos periódicos nos serviços
de saúde que abordem o tema de uma forma que o ACS se sinta preparado para
oferecer orientações adequadas às nutrizes.
Este estudo permitiu conhecer o perfil dos ACS do município
em estudo, além de avaliar o conhecimento desses profissionais acerca do
aleitamento materno. Observou-se que grande parte dos ACS pesquisados não
realizaram cursos sobre esse tema e nem se sentem preparados para orientar as
mães, o que demostra a necessidade de maior capacitação dos
mesmos.
O reconhecimento desse déficit pode contribuir para o
planejamento de ações de ensino-aprendizagem nas Estratégias de Saúde da
Família, visto que outros membros da equipe como médicos e enfermeiros possuem
conhecimento técnico-científico a respeito do tema e a educação continuada dos
ACS colaboraria para a adequada orientação da comunidade a respeito de temas
que podem favorecer a promoção e a recuperação da saúde e prevenção de agravos.
Este estudo contribuiu e apresenta um avanço no
conhecimento da área para que os futuros profissionais da saúde reconheçam as
potencialidades dos ACS e as dificuldades e limitações que esses profissionais
encontram no exercício de sua função. Os ACS, como membros da comunidade, são o
principal elo entre a Equipe de Saúde da Família e as famílias adscritas nas
unidades de saúde podem colaborar para a melhoria de indicadores de saúde da
população, como o aumento das taxas de amamentação e da diminuição da
ocorrência do desmame precoce ao orientarem adequadamente as mães sobre os
benefícios do aleitamento materno e ao ajudarem as famílias a superarem as
dificuldades encontradas nesse período.