Enferm
Bras 2021;20(6):732-49
ARTIGO ORIGINAL
Vivências e percepções sobre a
sexualidade na terceira idade
Amanda Costa Lima*, Jessica de Almeida Rodrigues Alves*,
Bianca Machado Ferreira**, Tiffany Pavelkonski da
Silva**, Bruna Maria Pereira dos Santos**, Rebeca Costa dos Reis**, Vanessa
Alvarenga Pegoraro, M.Sc.***
*Enfermeira egressa do UNICEUB,
**Estudante de graduação Enfermagem do UNICEUB, ***Professora Assistente do
Curso de Enfermagem FACES/UNICEUB
Recebido em 23 de março de 2021; Aceito
em 29 de novembro de 2021.
Correspondência: Vanessa Alvarenga Pegoraro,
FACES/CEUB, 707/907 Campus Universitário, SEPN Asa Norte, 70790-075 Brasília DF
Amanda Costa
Lima: amanda.farias.c@hotmail.com
Jessica de Almeida
Rodrigues Alves: jessiica.rodrigues10@gmail.com
Bianca Machado
Ferreira: bianca.machado2012@sempreceub.com
Tiffany Pavelkonski da Silva: tiffany.ps@sempreceub.com
Bruna Maria Pereira dos
Santos: brunamariaps@hotmail.com
Rebeca Costa dos
Reis: rebeca.c.d.reis@gmail.com
Vanessa Alvarenga
Pegoraro: vanessa.pegoraro@ceub.edu.br
Resumo
Introdução: Com o constante processo de
envelhecimento da população, a vida sexual da terceira idade também sofreu
modificações, mostrando que o idoso é um gerador de novas facetas sexuais. Objetivo:
Analisar de que forma a sexualidade é compreendida e vivenciada pelos idosos do
Distrito Federal (DF). Métodos: Trata-se de uma pesquisa de campo
descritiva, de abordagem quantitativa realizada no ano de 2020. Resultados:
Participaram do estudo 411 idosos que ao serem questionados sobre se sentirem à
vontade para falar sobre sexualidade, 79,81% disseram se sentir bem; quando
questionados se é importante ter conhecimento sobre sexualidade, 71,29%
responderam que sim; sobre desejos atuais 71,78% disseram ter; sobre ter vida
sexual ativa 61,07% possuem. Conclusão: Portanto, podemos concluir que,
apesar das modificações fisiológicas, os idosos estão se adaptando e se reinventando
nas práticas sexuais. Os mesmos entendem a importância da sexualidade nessa
fase da vida e pela busca do prazer pessoal.
Palavras-chave: idoso; sexualidade; qualidade de vida.
Abstract
Livingness and
perceptions about sexuality in the third age
Introduction:
With the constant aging process of the population, the sexual life of the
elderly has also undergone changes, showing that the elderly is a generator of
new sexual aspects. Objective: To analyze how sexuality is understood and
experienced by the elderly in the Federal District (DF). Methods: This
is a descriptive field research, with a quantitative approach made in 2020. Results:
Participated in the study 411 elderly people who, when asked about feeling
comfortable talking about sexuality, 79.81% said they feel good; when asked if
it is important to have knowledge about sexuality, 71, 29% answered yes; about
current desires, 71.78% said they had; about having an active sex life, 61.07%
had it. Conclusion: Therefore, we can conclude that despite the
physiological changes, the elderly are adapting and
reinventing themselves in sexual practices. They understand the importance of
sexuality at this stage of life and the pursuit of personal pleasure.
Keywords:
elderly; sexuality; quality of life.
Resumen
Experiencias y
percepciones de la sexualidad en la vejez
Introducción: Con el constante proceso de envejecimiento de la población, la vida sexual de los adultos mayores también ha sufrido cambios, demostrando que el
adulto mayor es un generador de nuevas facetas sexuales. Objetivo: Analizar
cómo la sexualidad
es entendida y experimentada por los adultos mayores del Distrito Federal
(DF). Métodos: Se trata de una investigación
de campo descriptiva, con
enfoque cuantitativo celebrado en
2020. Resultados: Participaron del estudio 411 ancianos que, cuando se les preguntó sobre sentirse cómodos hablando de sexualidad, 79,81% dijeron sentirse bien; cuando se les preguntó
si es importante tener conocimientos
sobre sexualidad, 71,29% respondieron
que sí; sobre deseos actuales, 71,78% dijeron que tenían; acerca de tener una vida
sexual activa, 61,07% tiene.
Conclusión: Por tanto, podemos concluir que, a pesar
de los cambios
fisiológicos, los adultos mayores
se están adaptando y reinventándose
en las prácticas
sexuales. Entienden la importancia de la sexualidad en
esta etapa de la vida y la búsqueda del placer
personal.
Palabras-chave: anciano; sexualidad; calidad de vida.
No decorrer dos anos, foi possível
observar uma mudança demográfica em decorrência da longevidade devido aos
avanços da medicina e da tecnologia, que criaram novos meios para o cuidado da
saúde e da qualidade de vida (QV), bem como pelo investimento em políticas
públicas voltadas para o processo de envelhecimento [1].
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
define como idoso aquela pessoa com mais de 60 anos, sendo possível observar o
ritmo de crescimento da população idosa mundialmente e, principalmente, no
Brasil, onde houve uma modificação na pirâmide etária [2].
O Brasil está envelhecendo. Segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “em 2000 a
população idosa com mais de 60 anos era de 14,5 milhões de pessoas, um aumento
de 35,5% ante os 10,7 milhões em 1991. Hoje, esse número ultrapassa os 29
milhões e a expectativa é que, até 2060, suba para 73 milhões com 60 anos ou
mais, o que representaria um aumento de 160%.” Diante dessa perspectiva, o
país terá mais idosos devido uma redução gradativa da fecundidade [3].
Dessa forma, torna-se essencial
compreender o envelhecimento como um processo natural onde as modificações
biológicas, psicossociais e culturais são inevitáveis, porém em nada afetam no
desejo e na satisfação sexual [4]. A OMS define a sexualidade como a porção
plena e total do conjunto de qualidades que define a individualidade do ser
humano, é composta através da vivência e trocas de experiências na sociedade. É
motivadora das relações interpessoais e dos sentimentos que influencia nossa
maneira de viver, pensar, agir e sentir [5].
Com o constante e crescente processo de
envelhecimento da população, a sexualidade na terceira idade também sofreu
modificações, mostrando que o idoso é um gerador de novas facetas sexuais. O
conhecimento relacionado a mesma ganhou evidência em nossa sociedade
contemporânea devido às mudanças dos padrões sociais e no que diz respeito às
individualidades e peculiaridades de cada pessoa [6].
À vista disso, a sexualidade deve ser
entendida como fator fundamental em qualquer época da vida, sendo ímpar a cada
pessoa. Ela remete diversos sentimentos físicos e emocionais e é construída ao
longo da vida, sofrendo influência do meio histórico, social e cultural, de
acordo com os aspectos individuais e psicológicos de cada um. Não diz respeito
somente aos órgãos genitais e se apresenta de diversas formas, sendo versátil e
indo além da necessidade fisiológica, representando o desejo. Porém, notam-se
dificuldades de aceitação da sexualidade durante o processo de envelhecimento,
as quais são resultantes, principalmente, da inexistência de informação e da
convicção de que a sexualidade está reduzida aos órgãos genitais e à
reprodução. A educação da atual geração de idosos foi repressora e restritiva,
sem espaço para conversas entre pais e filhos ou para se falar sobre o assunto
[7].
Nesse contexto, a sexualidade na velhice
se torna um tema insuficientemente estudado, que pode ser descrita como o
resultado das incontáveis metamorfoses socioculturais incentivadas pelo
conhecimento científico e espiritual e que ao decorrer do processo histórico
social tradicional e dos tempos atuais compreenderam e deram nova formulação
aos conceitos de sexualidade e suas diversidades, de forma que a mesma esteve
sempre vista como uma atividade aceita e, ao mesmo tempo, censurável. Logo,
sentir desejo e ser idoso, numa sociedade que cultua a beleza e a jovialidade
de forma exagerada, é extremamente maçante e significa enfrentar diariamente
grandes batalhas e juízo de valores preconcebidos pela sociedade [8].
Durante o processo histórico, ergueu-se
a crença de que a sexualidade do idoso deveria partir da masculinidade. Logo,
as mudanças durante o processo de envelhecimento trariam consigo a diminuição
ou até mesmo a cessação do desejo sexual e, ao se desafiar essa ideia, o
indivíduo padeceria com as dificuldades e até mesmo com o desgosto que o peso
dos anos propõe ao corpo físico [9].
Dessa maneira, o ato sexual fica
restrito em uma escala de tempo, deixando implícito que os idosos devem ser
insexuados, pois o intuito principal é a procriação. Os períodos da vida
humana, ao longo da história, delimitam a expressão da sexualidade, alegando o
serviço do controle social e da hierarquização dos papeis da sociedade atual,
deixando claro que o idoso deve se comportar de maneira íntegra, sem vida
sexual ativa e passa a atuar em prol do meio em que vive com certa censura.
Além disso, foi construído o conceito de que o envelhecimento e a sexualidade
devem ser vistos pela ótica heterossexual, renunciando assim as diferentes
vertentes da sexualidade no processo de envelhecimento [10].
A modernidade traz consigo diversas
maneiras da população idosa se reinventar, inclusive nas práticas sexuais. Por
vezes, o preconceito e a complexidade de se criar medidas profiláticas em meio
a esse público, especialmente no que se refere ao uso da camisinha, acaba sendo
um complicador, pois observa-se que existem poucas campanhas voltadas para a
terceira idade. Dessa forma, traz à tona a questão de que os mesmos estão mais
propensos a práticas de sexo inseguro e consequentemente à contaminação pelas
infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e
HIV/AIDS [11].
A desmistificação do sexo associado aos
avanços na indústria farmacêutica e da medicina permitiram o prolongamento da
vida sexual ativa. Com isso, a possibilidade de um idoso se contaminar é real e
continuar a renegar a sexualidade nessa população significa exposição a doenças
e uma assistência quebrada e ineficaz [11].
Diante disso, o interesse pela temática de
estudo surge das discussões acadêmicas diante dos fatos amplamente divulgados
na literatura. Nesse contexto, debatia-se sobre sexualidade, preconceitos e
conhecimentos acerca do assunto. Desse modo, questiona-se: “Como a sexualidade
é vista e vivenciada na terceira idade?”. Com vistas a respondê-la, o presente
estudo tem como objetivo descrever de que forma a sexualidade é compreendida e
vivenciada pelos idosos do Distrito Federal-DF?”. Esta pesquisa mostra-se
relevante, uma vez que se propõe discutir sobre um assunto ainda estigmatizado
para a população como um todo.
Trata-se de um estudo transversal,
descritivo de abordagem quantitativa, que avaliou a maneira como a sexualidade
é retratada e vivenciada na terceira idade. Foi realizado com os idosos do
Distrito Federal (DF) e a coleta de dados ocorreu entre os dias 02/08/2020 e
31/08/2020.
Os critérios de inclusão adotados foram:
pessoas com faixa etária superior a 60 anos de idade de ambos os sexos, que
aceitaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e ser domiciliado
no DF. Quanto aos critérios de exclusão, foram excluídos os participantes que
não se enquadraram na faixa etária e que não responderam todas as perguntas dos
questionários.
Os participantes receberam um link para
responderem o questionário, através dos WhatsApp pessoais, o formulário foi
também aplicado nos idosos que frequentavam o laboratório em que a pesquisadora
trabalhava. Ao abrir o link, é apresentado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) para participar da pesquisa de forma anônima e voluntária,
contendo a informação do Comitê de Ética quanto aos riscos, objetivos e
privacidade da pesquisa.
Foram realizadas entrevistas com a
aplicação de dois instrumentos de pesquisa. Uma para conhecer os aspectos
sociodemográficos, econômicos e educacionais e o outro foi um instrumento
específico sobre sexualidade, na qual as perguntas abordaram as práticas, a
frequência, os desejos, dentre outras. Os dados foram coletados por meio de um instrumento
elaborado pelos autores a qual foi reformulado para a aquisição das informações
necessárias [7].
A realização da coleta de dados
efetuou-se pelo Google Forms, uma ferramenta online
do Google utilizada para a realização de formulários, na qual suas respostas
foram colocadas em uma planilha e os dados convertidos para Excel.
A população de idosos do DF é de 346
mil, que constitui a amostra da pesquisa e para ter 95% de confiança nos
resultados da mesma precisaríamos de 384 respostas, mas tivemos no total 411
[3].
A Organização dos dados adquiridos foi
realizada utilizando o software Microsoft Excel 2010®, pertencente o Pacote
Microsoft Office 2010® for Windows®. Foram desenvolvidas tabelas explicativas
para análise descritiva com o cálculo dos percentuais e médias.
Os procedimentos adotados nesta pesquisa
obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme
Resolução nº.466/12 do Conselho Nacional de Saúde com aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa do UniCEUB sob protocolo CAAE nº
33810420.0.0000.0023 e Número do Parecer: 4.169.049.
Na tabela I é apresentado o perfil
sociodemográfico dos idosos entrevistados.
Tabela I - Distribuição das variáveis
sociodemográficas dos idosos do Distrito Federal, 2020 (n = 411)
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020.
Participaram do estudo 411 idosos, sendo
maior preponderância da variável sexo masculino
representando (53,77%) e feminino com 46,23%. Uma pesquisa realizada no Paraná
obteve resultados semelhantes quanto à predominância da participação masculina,
onde os autores destacam que a sexualidade ainda é cercada de tabus, onde o
mesmo é fruto de uma educação rigorosa e repressora, a qual deve partir somente
dos homens e não das mulheres, onde as mesmas teriam apenas o papel de
reprodução [12].
Em relação à faixa etária, foi analisada
uma predominância da idade entre 70 e 79 anos, somando 165 participantes
(40,15%). Quanto ao estado civil, prevalece o estado de solteiro, com 160
(38,93%), seguido de 122 divorciado (a) (29,68%), 80 casados (19,46%) e 49
viúvos (11,92%), portanto a grande maioria dos participantes viviam sem
companheiro fixo. Durante uma pesquisa realizada no estado da Paraíba
constatou-se que o quantitativo de idosos solteiros pode ser justificado devido
à dificuldade em encontrar um parceiro na mesma faixa. A idade e o
descontentamento com relacionamentos pregressos fazem com que os mesmos
priorizem sua independência [13].
Em relação à escolaridade, 196
entrevistados alegaram ter 9 ou mais anos de estudo, representando (47,69%),
seguido de 161 entrevistados que estudaram de 5 a 8 anos, representando
(39,17%). Conforme um estudo realizado em Brasília, o número de idosos que
ingressam na universidade tem demonstrado bastante expressividade, inclusive na
região centro-oeste, relacionam isso à criação do Estatuto de Idoso, que deve
garantir à pessoa idosa proteção da vida, de saúde, juntamente com políticas
públicas que devem promover um envelhecimento saudável, com qualidade de vida,
educação e dignidade [14,15].
Quanto à variável religião, predominou
que 185 idosos (45,01%) são evangélicos, seguido de católicos (15,57%),
espíritas (10,22%) e 101 (4,62%) não possuem religião.
Quando indagados sobre “se sentem à
vontade para falar sobre sexualidade”, conforme demonstrado na Figura 1, 328
respondentes (79,81% da população) declararam se sentir à vontade para falar
sobre sexualidade.
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020.
Figura 1 - Distribuição percentual e quantitativa
dos idosos entrevistados em relação a se sentirem à vontade para falar sobre
sexualidade
Adicionalmente, foram observados três
desvios relevantes em relação às informações sociodemográficas:
Nos desvios 1.1 e 1.3, referentes às
variáveis “idosos que possuem entre 1 e 4 anos de estudo” e “idosos que
declararam possuir outra religião (exclui-se católica, evangélica, espírita e
não possuir)”, os idosos se demonstraram menos à vontade para falar sobre
sexualidade.
Constatou-se, em uma pesquisa realizada
na cidade de Montes Claros/MG, que os idosos declaram que a moralidade cristã
ainda é um fator significativo na vida dos idosos, a mesma tem grande
influência no comportamento sexual, pois estabelece regras e cria tabus [16].
Ao longo de um estudo feito no estado da Bahia, os autores constataram que a
sexualidade tem que ser tratada e abordada como algo comum, com o intuito de
incitar práticas saudáveis de viver essa sexualidade, para que todo idoso possa
ter o prazer de expor seu comportamento sexual [17].
Ao serem questionados se “acreditavam
que era importante ter conhecimento sobre sexualidade”, conforme é possível
observar na Figura 2, 293 respondentes (71,29% da população) declararam achar
importante que os idosos tenham conhecimento sobre sexualidade.
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020
Figura 2 - Distribuição percentual e
quantitativa dos idosos entrevistados em relação à importância do conhecimento
sobre sexualidade
Foram observados quatro desvios
relevantes em relação às informações sociodemográficas:
O desvio 2.1 mostra que idosos com menos
escolaridade (máximo de 4 anos, incluindo aqueles que nunca estudaram)
declararam não ser importante conhecimento sobre sexualidade.
Já nos desvios 2.2, 2.3 e 2.4,
relacionado às variáveis escolaridade, estado civil e religião, evidencia-se
que “Idosos com 9 ou mais anos de escolaridade”, “Idosos casados atualmente ou
viúvos” e “Idosos que pertencem à religião católica ou outras religiões
(excluem-se evangélica, espírita e não possuir)”, declararam julgar importante
os conhecimentos sobre sexualidade.
O estudo determinou que as amostras
estudadas julgaram como importante o conhecimento sobre a sexualidade. Na mesma
direção, a pesquisa realizada no município de Recife/PE, constatou também que
os idosos consideram importante tal conhecimento. Vale destacar que essa
confirmação significa que os idosos estão cada vez mais interessados no assunto
e solidifica que a falta de informação sobre o comportamento sexual no
envelhecimento é fruto de uma educação preconceituosa que se baseia em modelos
normativos e repressivos [18].
Quando indagados sobre se “teriam
desejos sexuais atualmente”, conforme demonstrado na figura 3, 295 respondentes
(71,78% da população) declararam possuir desejos sexuais nos dias atuais.
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020
Figura 3 - Distribuição percentual e quantitativa
dos idosos entrevistados em relação a terem desejo sexual nos dias atuais
Complementarmente, foram observados
quatro desvios relevantes em relação às informações sociodemográficas:
Podemos observar nos desvios 3.1, 3.2 e
3.4, referentes às variáveis estado civil, grau de instrução e religião,
evidenciou que os “idosos viúvos”, “idosos que possuem até 4 anos de estudos,
incluindo aqueles que nunca estudaram” e “idosos que declararam pertencer à
religião espírita” possuem menos desejo sexual nos dias atuais.
Já no desvio 1.3, idosos que possuem 9
ou mais anos de estudos demonstraram possuir mais desejo sexual na atualidade.
No decorrer dos anos, o desejo, o amor,
a euforia e o carinho continuam presentes e são fundamentais na terceira idade,
pois proporcionam satisfação e entusiasmo. A convicção de que envelhecimento e
a falta de atividade sexual estão inevitavelmente ligados, infelizmente, de
algum modo, exacerba a ignorância e o preconceito acerca da sexualidade da
pessoa idosa, levando a um declínio na qualidade de vida dessa população.
Devido à insciência e à imposição cultural, muitos idosos que ainda possuem
desejo sexual às vezes se sentem constrangidos e envergonhados, simplesmente
por cogitarem possuir prazer. Essas condutas criadas pela sociedade restringem
o comportamento sexual aos jovens, logo, os idosos são vítimas de preconceitos,
o que prejudica a sua qualidade de vida [19].
Quando questionados “sobre a vida sexual
ativa”, conforme demonstrado na figura 4, 251 respondentes (61,07% da
população) declararam possuir a vida sexual ativa.
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020.
Figura 4 - Distribuição percentual e
quantitativa dos idosos entrevistados em relação à atividade sexual
Nesse sentido, foram observados quatro
desvios relevantes em relação às informações sociodemográficas:
Nos desvios 4.1, 4.3 e 4.4, referentes
às variáveis: estado civil, escolaridade e religião, foi observado que “idosos
cujo estado civil é separado/divorciado”, “idosos que possuem até 4 anos de
estudo, incluindo aqueles que nunca estudaram” e “idosos que declararam possuir
outras religiões (excluem-se católicos, espíritas, evangélicos e ateus)” têm a
vida sexual menos ativa.
Já no desvio 4.2, idosos cujo estado
civil é casado demonstraram ter a vida sexual mais ativa, 57 pessoas declararam
ser ativos sexualmente.
Assumir que o sexo se mantém na fase do
envelhecimento implica pensar que os idosos também estão expostos às doenças
relacionadas ao sexo desprotegido. Em uma pesquisa realizada com um grupo de
convivências em Trindade/GO, observaram que os idosos não se identificam nessa
situação de fragilidade, trazendo à tona a discussão do mito de que pessoas da
terceira idade são seres assexuados [20]. A sociedade e os próprios
profissionais de saúde raramente acreditam que pessoas da terceira idade possa
ser atingidos por ISTs, pois os consideram como
sexualmente inativos deixando de detectar precocemente a doença [21].
Quando questionados sobre a forma mais
utilizada para a prática sexual, conforme na figura 5, 133 respondentes
(32,36%) declararam que a forma de estimulação sexual mais utilizada é a
penetração.
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020
Figura 5 - Distribuição percentual e
quantitativa dos idosos entrevistados em relação à forma mais utilizada para
estimulação
Embora as mulheres demonstrem ter vida
sexual ativa, as mudanças fisiológicas decorrentes do envelhecimento acabam
limitando o ato sexual. As, mulheres compreendem as mudanças sexuais devido à
idade, mas é com a chegada da menopausa e suas modificações que surgem os
primeiros problemas. O ressecamento e a dispareunia
são os motivos mais citados, causando dor e atrapalhando a atividade sexual,
promovendo o desinteresse e a redução do comportamento sexual. O processo de
envelhecimento e seus efeitos não podem ser driblados, mas podem dar-se de
maneira mais serena e saudável, desde que as mulheres com maior idade estejam
cientes e prontas para as mudanças corporais [22].
Em relação ao questionamento sobre a
“frequência de atividade sexual”, é possível observar na figura 6 que 150
respondentes (36,50%) declararam que sua frequência sexual é semanal.
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020
Figura 6 - Distribuição percentual e
quantitativa dos idosos entrevistados em relação à frequência das relações
sexuais
Grande parte dos idosos são
absolutamente capazes de ter relações sexuais e sentirem prazer, embora o ato
em si seja designado por uma excitação mais lenta, porém satisfatória. Embora o
corpo tenha sofrido modificações, o desejo sexual manteve-se intacto.
Infelizmente, a sociedade considera que os idosos são seres assexuados, por compartilharem
de um pensamento arcaico. No entanto, os dados do presente estudo revelam o
antagonismo a tais opiniões errôneas quanto à sexualidade na terceira idade
[23].
Quando questionados sobre a “mudança
sexual da juventude para a velhice”, conforme figura 7, observa-se que apesar
da pouca diferença entre os percentuais, a maior preponderância foi de 211
respondentes (51,34%) que declararam encarar como pior a mudança sexual da
juventude para a velhice.
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020
Figura 7 - Distribuição percentual e quantitativa
dos idosos entrevistados em relação à mudança sexual da juventude para a
velhice
Os elementos culturais influenciam no
modo de enxergar o envelhecimento, logo, interfere na forma como o idoso vai se
estabelecer nesse meio. As mudanças fisiológicas influenciam diretamente na
resposta sexual do idoso, levando esses idosos a expressarem a relação por
outros meios que não seja a penetração. As mudanças fisiológicas atrapalham e
limitam a função sexual, fazendo com que os idosos tenham uma visão negativa
dessa fase da vida [10].
A sexualidade é muito mais do que o ato
em si, diz respeito a uma função humana com dimensão social e psicológica, que
não é determinada apenas pelo instinto. Embora o sexo se manifeste de maneiras
diferentes em cada fase da vida, ele tem um comportamento duradouro e
habilidades progressivas desde o nascimento até a morte, o que mostra que o
desejo sexual permanece o mesmo e o desejo de intimidade e afeto persiste nos
anos posteriores [24].
Quando abordados sobre a importância do
sexo, como é possível observar na figura 8, 239 respondentes (58,15%)
declararam considerar o sexo muito importante.
Fonte: Produção dos autores
do estudo, 2020
Figura 8 - Distribuição percentual e
quantitativa dos idosos entrevistados em relação à importância do sexo
Como observado nesta pesquisa, o sexo é
um elemento de grande importância, podendo ser expressado através dos gestos,
conversas e atitudes, sendo ímpar a cada indivíduo. Em conformidade com a
pesquisa realizada no estado da Paraíba, os idosos confirmaram que o ato é
importante, comprovando que a continuidade da vida sexual garante o bem-estar
físico e psicológico, além de ajuda a reduzir problemas de saúde mental e físicos
que estão relacionados com o envelhecimento [13].
Em virtude dos fatos mencionados de que
a sexualidade continua sendo parte integrante da qualidade de vida dos idosos,
uma compreensão por parte dos próprios idosos e pelos profissionais de saúde
pode contribuir para futuras pesquisas, ações de educação em saúde, assim como
para as políticas públicas voltadas à população idosa que aumenta com a
longevidade.
Os dados obtidos validaram as hipóteses
levantadas, pois inicialmente acreditava-se que os idosos teriam vida sexual
ativa. Foi observado também que, diferente do que a população pensa, os idosos,
em sua maioria, têm menos medo de expressar sua sexualidade na atualidade.
Considerando tal cenário, percebe-se que a capacidade de se demonstrar
sexualmente não é perdida ao longo do tempo, ela apenas se modifica, visto que
grande parte dos idosos continua com a vida sexual ativa.
Falar sobre a sexualidade na terceira
idade ainda é um tabu para a sociedade. A ideia de que a prática sexual é mais
vivida durante a flor da idade e que com o passar dos anos se torne
impraticável pelos idosos, equivocadamente faz parte do pensamento de boa parte
da sociedade.
Apesar do histórico cultural que se
envolve simbolicamente no preconceito e exclusão, os dados sobre a epidemia de
HIV/AIDS e outras ISTs têm ganhado bastante
notoriedade e isso se explica pelo fato de que até mesmo os profissionais de
saúde se esquivam da ideia de que são pessoas que ainda possuem vida sexual
ativa, deixando a desejar nas promoções de saúde para essa população
específica, alimentando nessas pessoas uma imagem de que são isentos dos
cuidados na hora da prática sexual.
Sendo assim, é notória a percepção dos
idosos sobre a sexualidade possuir algumas limitações, desde a jovialidade até
a atualidade. Entretanto, os idosos possuem vida sexual ativa, necessitando que
os profissionais de saúde ajam de maneira multiplicadora do conhecimento de
práticas seguras no cuidado e que promovam a saúde junto à sexualidade da
população idosa. Cabe salientar que, para que haja mudanças das ideias
pré-formadas e discussões sobre diversos aspectos inerentes a sexualidade e o
ato sexual no envelhecimento, mais pesquisas precisam ser desenvolvidas, a fim
de prestar um atendimento humanizado, com visão holística e livre de
preconceitos.
Potencial conflito de
interesse
Não há conflito de
interesse
Fontes de financiamento
Não houve fontes de
financiamento
Contribuição dos autores
Concepção e desenho da
pesquisa:
Lima AC, Pegoraro VA; Coleta de dados: Lima
AC; Análise e interpretação dos dados: Lima AC, Alves JAR, Ferreira BM,
Silva TP, Santos BMP, Reis RC, Pegoraro VA; Redação
do manuscrito: Lima AC, Alves JAR, Ferreira BM, Silva TP, Santos BMP, Reis
RC, Pegoraro VA