Enferm Bras
2022;21(3):318-32
REVISÃO
Humanização
no cuidado na UTI adulto
Raisa Silva dos Santos*, Layna
Pereira Amorim, Larissa Lessa dos Santos*, Luana Valentim Monteiro, M.Sc.**, Grace Kelly da Silva Dourado***, Rachel da Silva Serejo Cardoso**
*Enfermeira,
Universidade Estácio de Sá (UNESA), **Docente da Faculdade de Enfermagem UNESA,
***Docente na Faculdade Multivix Serra
Recebido
em 5 de abril de 2021; Aceito em 3 de Abril de 2022
Correspondência: Raisa Silva
dos Santos, Rua Carbureto, 86 A, 26183840 Belford Roxo, Rio de Janeiro
Raisa Silva dos Santos: silvaaissar@gmail.com
Layna Pereira Amorim: layna_amorim@hotmail.com
Larissa
Lessa dos Santos: larissalessaa@hotmail.com
Luana
Valentim Monteiro: luanavalentimufrj@gmail.com
Grace
Kelly da Silva Dourado: gracekdourado@gmail.com
Rachel
da Silva Serejo Cardoso: rachelserejo@gmail.com
Resumo
Introdução: A Unidade de Terapia Intensiva Adulto
é um setor definido pelo monitoramento constante e cuidados mais complexos de
uma equipe especializada composta por profissionais de diferentes áreas, devido
ao agravo dos pacientes hospitalizados. Objetivo: Identificar
estratégias em prol da aplicabilidade do cuidado humanizado de Enfermagem na
literatura científica analisando como é implementado na Unidade de Terapia
Intensiva Adulto. Métodos: Estudo com abordagem qualitativa/integrativa,
tendo como base de dados a Biblioteca Virtual de Saúde usando os Descritores em
Ciências da Saúde: Humanização da Assistência; Cuidados Críticos; Enfermagem.
Selecionados artigos completos, disponíveis, em língua portuguesa, inglesa e
espanhola entre 2016 e 2021. Ao fim da aplicação, foram selecionados 10 artigos
para produção do conteúdo. Resultados: Na análise de dados observou-se
maneiras de proporcionar o cuidado humanizado ao paciente na Unidade de Terapia
Intensiva Adulto e a importância da equipe ao apoio à família como parte do
cuidado prestado. Conclusão: A humanização não deve ter apenas o
paciente como foco, mas também os familiares que sofrem no processo de
internação e os profissionais de saúde, que, por serem protagonistas desse
processo, necessitam de reconhecimento e valorização do trabalho.
Palavras-chave: humanização da assistência; cuidados
críticos; Enfermagem.
Abstract
Humanization in care in the adult ICU
Introduction: The Adult
Intensive Care Unit is a sector defined by constant monitoring and more complex
care by a specialized team composed of professionals from different areas, due
to the aggravation of the patients hospitalized there. Objective: To
identify strategies for the applicability of humanized nursing care in the
scientific literature, analyzing how it is implemented in the Adult Intensive
Care Unit. Methods: Study with a qualitative/integrative approach, using
the Virtual Health Library as a database using the Health Sciences Descriptors:
Humanization of Assistance; Critical Care; Nursing. Complete articles were
selected, available in Portuguese, English and Spanish between 2016 and 2021.
At the end of the application, 10 articles emerged for content production. Results:
In the data analysis, ways of providing humanized care to the patient in the
Adult Intensive Care Unit and the importance of the team in supporting the
family as part of the care provided were observed. Conclusion:
Humanization should not only focus on the patient, but also on family members
who suffer in the hospitalization process and health professionals, who, as
they are protagonists of this process, need recognition and appreciation of
their work.
Keywords: humanization of assistance;
critical care; Nursing.
Resumen
Humanización en la atención en
la UCI de adultos
Introducción: La Unidad de
Cuidados Intensivos de Adultos es un sector definido
por el seguimiento
constante y la atención más
compleja por parte de un
equipo especializado integrado por profesionales de
diferentes áreas, debido al agravamiento
de los pacientes allí
hospitalizados. Objetivo: Identificar estrategias
para la aplicabilidad del cuidado de enfermería
humanizado en la literatura
científica, analizando cómo
se implementa en la Unidad de Cuidados Intensivos de Adultos. Métodos: Estudio con enfoque cualitativo/integrador, utilizando la
Biblioteca Virtual en Salud
como base de datos utilizando los
Descriptores de Ciencias de
la Salud: Humanización de la Atención; Cuidado crítico; Enfermería.
Se seleccionaron artículos completos, disponibles en portugués, inglés y español entre 2016 y 2021. Al final de la
aplicación, surgieron 10
artículos para la producción
de contenido. Resultados: En
el análisis de los datos se observaron
formas de brindar un cuidado humanizado al paciente en la Unidad
de Cuidados Intensivos de Adultos y la importancia del equipo en el apoyo
a la familia como parte del cuidado brindado. Conclusión:
La humanización no debe centrarse solo en el paciente, sino también en los familiares que sufren en el
proceso de hospitalización
y en los profesionales de la salud, quienes, como
protagonistas de ese proceso,
necesitan reconocimiento y valorización de su trabajo.
Palabras-clave: humanización de la asistencia; cuidado crítico; Enfermería.
A
Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) é um ambiente que com frequência é
considerado altamente estressante pelos pacientes, seus familiares e pela
equipe de saúde que atua no setor. O medo e a tensão estão relacionados com o
estado clínico dos clientes, que exigem cuidados de alta complexidade e
densidade tecnológica [1].
A
humanização é um ato imprescindível na UTI, é preciso cuidar do cliente como um
todo e não apenas direcionar a atenção para o foco do problema. O profissional
necessita avaliar inclusive a rede de apoio do paciente, preservando as
esperanças e criando vínculo para melhorar a qualidade do atendimento [1].
A
família é vista como um grande auxiliador na redução de sintomas de estresse,
ansiedade e depressão provocados pela enfermidade crítica e períodos de
internação prolongada na UTI. Uma boa interação entre o familiar e a equipe de
saúde traz grandes resultados para o cliente. Desse modo, é primordial que a
família esteja totalmente incluída no processo de cuidar de seu ente querido
[1].
Nesse
sentido, é importante que a equipe multiprofissional de saúde oferte momentos
para esclarecer as dúvidas dos familiares, preferencialmente antes da entrada
na UTI, pois acolher as emoções, tensões, medos e incertezas antes da visita ao
seu familiar hospitalizado, pode proporcionar um melhor entendimento do cuidado
prestado ao seu ente querido [2,3].
O
trabalho em equipe multiprofissional é reconhecido como uma das estratégias
utilizadas pelas instituições de saúde, com o objetivo de se atingirem a
prática do cuidado humanizado. Trata-se de promover, no cotidiano do trabalho
em saúde, a circulação de saberes de diversas categorias profissionais
envolvidas no processo de saúde e doença do cliente e da família [4].
Nesse
sentido, enfatiza-se a importância do reconhecimento e valorização dos saberes
construídos pelos profissionais de saúde no cotidiano de trabalho. Com isso,
infere-se que não existem ações isoladas para se promover o cuidado humanizado,
mas sim ações que perpassam por todas as esferas que as constroem [5,6].
A
motivação da pesquisa teve início através do interesse de acadêmicas de
enfermagem do 8º e 10º período, da graduação de enfermagem, da Universidade
Estácio de Sá, com intuito de analisar como é realizada a promoção do cuidado
humanizado de enfermagem em um setor de alta complexidade como a UTI Adulto.
A
questão norteadora foi construída de forma clara e específica, acoplada a um
raciocínio teórico, adicionando teorias e entendimentos já absorvidos pelos
discentes. Desta forma explorará publicações científicas sobre o cuidado
humanizado de enfermagem na Unidade de Terapia intensiva adulto.
A
pergunta norteadora que irá direcionar a pesquisa: Quais são as estratégias
utilizadas para a implementação da humanização do cuidado de enfermagem na
Unidade de Terapia Intensiva Adulto?
Na
tentativa de responder a mesma, surgiu o seguinte objetivo: Identificar
estratégias em prol da aplicabilidade do cuidado humanizado de Enfermagem e
analisar como o mesmo é implementado na Unidade de Terapia Intensiva Adulto.
Este
trabalho justifica-se tendo em vista que, no Brasil, a assistência em saúde
pública necessita ser mais humanizada e empática. No que tange a Unidade de
Terapia Intensiva, os cuidados são específicos e a mão de obra deve ser
especializada. Entretanto, práticas de humanização da assistência de enfermagem
proporcionam um ambiente mais agradável para quem cuida e para quem recebe o
cuidado. Desse modo, o estudo possui concordância de caráter social e
acadêmica, pois cita diretamente a atuação do enfermeiro, englobando os cuidados
com pacientes críticos e seus familiares, sendo capaz de fornecer conhecimento
através de lacunas para a humanização do cuidado. A pesquisa é de grande valia
para a sociedade, pois um atendimento humanizado resgata o respeito à vida,
estabelece vínculo e proporciona acolhimento.
O
objetivo da pesquisa é identificar práticas utilizadas pela equipe de
enfermagem com intuito de prestar maior assistência ao paciente internado na
UTI.
Trata-se
de um estudo de abordagem qualitativa, do tipo revisão integrativa da
literatura. Segundo Ganong (1987), a revisão
integrativa propõe o estabelecimento de critérios bem definidos sobre a coleta
de dados, análise e apresentação dos resultados, a partir de um protocolo de
pesquisa previamente elaborado e validado.
Para
a construção do artigo abordaram-se as seis etapas que são: a identificação do
tema e seleção da hipótese, estabelecimento da estratégia de pesquisa,
definição e coleta de dados, análise dos dados coletados, interpretação e
apresentação dos resultados, onde será abordada a humanização na Unidade de
Terapia Intensiva Adulto. A revisão do processo baseou-se nas recomendações da
lista de conferência Preferred Reporting
Items for Systematic
Reviews Meta-andAnalyses
(PRISMA).
Fonte:
Os autores
Figura
1 - Fluxograma de
informação com as diferentes fases de uma revisão sistemática
Segundo
Santos, a prática baseada em evidência sugere que as dificuldades apresentadas
no ensino, pesquisa ou na prática assistencial sejam transformados e em seguida
organizados utilizando a estratégia PICO. Que é o acrônimo para Paciente,
Problema ou População, Intervenção e Contexto [7].
Quadro
1 - Componentes da
pergunta de pesquisa, seguindo-se o anagrama de PICO.
Fonte:
autores
A
estratégia de identificação e seleção dos artigos originou-se através da busca
da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), com acesso as seguintes bases de dados
eletrônicas: a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS) e Banco de Dados em Enfermagem (BDENF). A busca pelos periódicos teve
início no mês de agosto de 2020, os materiais que contivessem em seu resumo os
descritores em ciências da saúde (DeCS): Humanização
da Assistência; Cuidados Críticos; Enfermagem e com o uso do boleador "and". Foram adotados os seguintes critérios de
inclusão para seleção dos artigos: materiais completos, disponíveis, em língua
portuguesa, inglesa e espanhola entre 2016 e 2021. Os critérios de exclusão
foram os artigos duplicados, incompletos e que não atendiam a proposta do
presente estudo.
A
pré-seleção de artigos foi feita pela leitura preliminar de títulos e resumos.
Os estudos pré-selecionados foram lidos na íntegra para seleção final dos artigos
para análise. Esta fase está representada na figura 1.
Os
10 artigos selecionados foram tabelados individualmente, por título, autores,
ano de publicação, periódico, objetivos, métodos, nível de evidência e
considerações finais. A partir de então iniciou a análise bibliométrica destes
que foram agrupados por similaridade sob forma de categorias.
Fonte:
Autores
Figura
2 - Fluxograma da
seleção de estudos sobre a humanização e UTI adulto entre 2016 a 2021
Assim,
emergiram 10 artigos nas bases de dados pesquisadas através das estratégias de
busca (figura 1), os quais procederam-se à leitura minuciosa para a construção
do conteúdo, destacando aqueles que responderam ao objetivo proposto pelo
estudo, com intuito de organizar os dados.
Os
resultados apresentados mostram a importância da humanização realizada por
profissionais nas Unidades de Terapia Intensiva e os benefícios observados por
pacientes e familiares, sendo descritos no Quadro 1.
Quadro
2 - Características
dos artigos analisados no período de 2016 a 2020
Fonte:
Autores
Após
análise dos artigos elencados foram construídas 3 categorias, de acordo com a
temática de humanização na UTI Adulto.
Categoria
1: Humanização na assistência de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva
Adulto
A
Unidade de Terapia Intensiva Adulto é o local responsável por aumentar as
chances dos pacientes para que o mesmo tenha suporte e condições de evoluir
para condições estáveis, propiciando sua recuperação. Os profissionais de
enfermagem são fundamentais para que isso aconteça de forma satisfatória [2].
A
arte de cuidar dos pacientes está implícita na prática profissional do
enfermeiro. É possível notar que essa prática sofre modificações ao passar do
tempo, uma vez que as demandas dos pacientes são diferentes. Apesar das
mudanças significativas com os avanços tecnológicos nas unidades de terapia
intensiva, os atos humanos dos enfermeiros necessitam estar presentes e são
indispensáveis em sua atuação [3].
A
Política Nacional de Humanização (PNH) foi criada em 2004, com o intuito de
estabelecer um modelo assistencial de qualidade durante o atendimento aos
clientes. A PNH é abrangida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o qual dispõe
sobre a obrigação ética, estética e política [4].
O
foco principal dessa estratégia não é a técnica propriamente dita, mas um
conjunto de ações voltadas para a integralidade e subjetividade do cuidado,
redução de procedimentos invasivos, empatia pelo paciente e a valorização do
quadro clínico apresentado por cada indivíduo [4].
A
PNH contribui para a inovação e evolução da organização do cuidado. Para
assegurar que a mesma será implementada na UTI, é preciso entender que
humanização vai muito além do cuidado direto com o cliente, mas também envolve:
o ambiente em que o mesmo está inserido, necessidades fisiológicas e
psicológicas, expectativas do usuário e da sua rede de apoio [5].
A
humanização visa o atendimento de excelência, o uso adequado dos manejos
disponíveis, redução de riscos para os clientes e elevação do grau de
contentamento dos clientes e familiares. O que contribui sensivelmente para a
elevação do padrão da assistência [6].
Caracteriza-se
a qualidade em Enfermagem como um conjunto de ações desenvolvidas pelo
profissional, com conhecimento, habilidade, humanidade e competência,
objetivando o atendimento das necessidades e expectativas de cada cliente.
Influencia-se e interfere-se, por diversos fatores, na qualidade da assistência
de Enfermagem, como a formação profissional, o número de profissionais
disponíveis, o mercado de trabalho, a legislação vigente, as políticas, a
estrutura e a organização das instituições [6].
A
equipe deve desenvolver estratégias que englobam a oferta de atendimento de
qualidade, sendo possível através dos avanços tecnológicos articulados,
proporcionando maior acolhimento, melhorando o ambiente de cuidado e,
principalmente, as condições de trabalho para que os profissionais sejam
capazes de atuar de forma mais satisfatória [3].
O
enfermeiro deve observar as expressões corporais do paciente. Portanto, é
necessário realizar o reconhecimento da linguagem verbal e não verbal, de forma
a identificar os sentimentos do paciente e construir uma relação mais afetiva.
Deve-se priorizar o sujeito e a qualidade de trabalho que fará com que o
atendimento tenha mais valor, melhorando o vínculo interpessoal baseado no
respeito e confiança [8].
Onde
há o reconhecimento do cuidado expresso na resposta ao chamado, gestão da dor,
conforto físico, preservação da dignidade e suporte emocional, é possível
observar há um grande nível de satisfação por parte dos usuários do serviço e
com isso, ascensão no padrão do atendimento [8].
Estudos
apontam que o comprometimento multidisciplinar se faz necessário para elevar o
desempenho dessas práticas. Porém, para que seja bem executada é necessário ter
boas condições de trabalho e valorização dos profissionais por meio da gestão e
dentro da equipe [9].
Categoria
2: Entraves do cuidado na Unidade de Terapia Intensiva Adulto
O
despreparo para a implementação da humanização é uma realidade enfrentada pelos
profissionais de saúde, podendo ocorrer por diversos motivos, como por exemplo:
ausência da abordagem dessa temática nos currículos e falta de treinamento nas
instituições para que os mesmos se sintam mais confiantes ao realizar suas
funções. Alguns hospitais também encontram resistência para realizar a
implementação da Política Nacional de Humanização devido à dificuldade de
aceitação das mudanças [9].
Essa
área de atuação é cercada de sentimentos difíceis, enfrentamento de óbitos,
insalubridade, ruídos constantes e estresse da rotina de trabalho. Esse cenário
deve ser observado e manejado com cautela pelos cargos superiores, pois a linha
de frente da assistência sofre com a desumanização, sobrecarga e
desvalorização, o que pode ser um fator contribuinte para a diminuição de
empatia por parte dos mesmos [9].
O
uso de tecnologia dura proporciona maior possibilidade de resgatar o paciente
que apresenta estado grave, pois a mesma contribui para o atendimento imediato
e proporciona base de segurança aos profissionais de saúde. Entretanto, essa
tecnologia afasta o profissional do paciente, tornando o cuidado mecanicista
[10].
Alguns
profissionais de enfermagem expressam sentimento de impotência diante de
algumas situações, sobrecarga emocional e até mesmo transtornos mentais como
depressão. Por isso, a importância de lembrar o papel de cada um dentro da
equipe, mostrar que os pacientes possuem a necessidade do cuidado diferenciado
e ratificar que os mesmos são capazes de fornecer auxílio que contribuirá para
a melhoria do quadro [8].
Quando
o usuário se encontra acordado, o local torna-se estressante, podendo gerar
tensão e medo da morte, o que dificulta a ação da equipe. Em outro viés, quando
o mesmo está sedado e inconsciente, a integração se torna um pouco mais
difícil. Para ambos os casos é indicado o toque terapêutico e manter sempre a
voz tranquila perto dos pacientes [11].
Categoria
3: Estratégias utilizadas para realização da assistência humanizada na UTI
Adulto
A
arte de cuidar do outro é uma prática profissional do enfermeiro, a qual foi se
modificando ao passar do tempo, uma vez que as demandas dos pacientes são diferentes
em qualquer nível de atenção. Apesar das mudanças vertiginosas dos avanços
biotecnológicos nas Unidades de Terapia Intensiva, os atos humanos do
enfermeiro ainda estão presentes [3].
O
bom relacionamento, respeito e valorização entre a própria equipe é um fator
importante para desempenhar a humanização. Ações que começam com o próprio
círculo de profissionais são mais fáceis de serem propagadas. Quando isso não
ocorre, a humanização não tem força para ser desempenhada com excelência. Os mesmos
precisam ter sensibilidade entre eles e depois transferir esse sentimento e
orientação para o processo de cuidar [9].
A
base para um serviço humanizado é o compromisso profissional. Na UTI, deve-se
explorar todos as situações que os clientes sejam capazes de se comunicar,
como: através do diálogo, escrita ou até mesmo promovendo espaço para que os
mesmos possam pensar e tomar uma decisão [4].
É
inquestionável a importância da tecnologia na alta complexidade. No entanto, o
estudo de Silva e Ferreira (2013) esclarece que existe uma interface entre a
objetividade e a subjetividade no cuidado do enfermeiro que atua em terapia
intensiva, logo, o mesmo utiliza a tecnologia para complementar à assistência,
sendo que esta última exige aplicação maior de conhecimentos para reconhecer as
necessidades e particularidades do paciente [11].
As
tecnologias usadas podem ser divididas em três tipos: as tecnologias leves, que
são baseadas na comunicação e no acolhimento, podem acontecer em qualquer lugar
e a qualquer hora, visando à qualidade do cuidado, objetivando o
estabelecimento de vínculos e a autonomia; as tecnologias leve e duras, que se
referem aos saberes estruturados que operam na área da saúde como a
epidemiologia, a clínica, dentre outras; as tecnologias duras, representadas
pelos equipamentos e máquinas, os materiais concretos que ocupam o ambiente
hospitalar para o ato do cuidado em saúde e na enfermagem [10].
A
comunicação entre a equipe e os familiares é uma prática necessária para
garantir a eficácia e a continuidade dos cuidados e por vezes não é realizada
de maneira adequada. A escuta ativa é de grande valia nesse cenário e uma forma
mais simples de detectar e auxiliar com os sentimentos, esclarecer dúvidas e
orientar quanto ao anseio que os mesmos possam estar sentindo [10].
Em
pacientes entubados e não responsivos, também têm necessidade de comunicação.
Estudos apontam que a audição muitas vezes é mantida nesses casos. Logo,
devemos falar com o paciente, pedir permissão para fazer os procedimentos e não
apenas desenvolver a tarefa. É preciso pensar que o cliente tem o direito de
ser respeitado e a promoção da humanização é diferencial no atendimento. Por
esse mesmo motivo, deve-se tomar cuidado com os assuntos conversados próximo ao
leito dos usuários [4].
A
comunicação também é eficaz quando se trata dos familiares. A família é
fundamental para o paciente e os mesmos devem estar cientes sobre o quadro
clínico, alterações ou necessidade de tratamentos. A escuta ativa e a criação
de vínculo com essas pessoas é uma forma de humanizar
de forma mais abrangente a assistência [4].
A
higiene e o conforto são atos valiosos realizados pela enfermagem, pois não
constituem apenas práticas rotineiras, mas, por entrarem em um nível
intersubjetivo e muito pessoal, tornam-se o cuidado mais humanizado. Tem
objetivo de proporcionar satisfação, bem-estar e adaptabilidade ao novo
contexto em que o paciente se encontra [3].
A
percepção do paciente é influenciada pelo relacionamento interpessoal com a
equipe de saúde, pelas necessidades atendidas e pelas expectativas alcançadas
durante o processo de hospitalização. O enfermeiro deve ajudá-lo a
compreender e viver a doença, em um ambiente como o de terapia intensiva, de
forma que permita a expressão de emoções e facilite a compreensão, a confiança
e a espiritualidade [8].
É
importante ressaltar que ações de cuidado como o atendimento oportuno ao
chamado, identificação de necessidades, manejo da dor, conforto físico,
administração oportuna do tratamento e compreensão, empatia e escuta ativa
durante a expressão de sentimentos fortalecem o suporte físico, emocional e
preserva a dignidade do paciente, refletindo um cuidado especialista
reflexivo-crítico [8].
É
válido lembrar que o profissional deve ter uma visão holística sobre o
paciente, avaliá-lo com um todo e não focar apenas no problema que o fez estar
nesse setor. É preciso traçar cuidados que sejam capazes de abranger e melhorar
todos os achados clínicos. Trata-se de um olhar sistêmico e integral sobre o
atendimento centralizado no paciente [5].
A
revisão dos cuidados deve ocorrer desde o processo formativo até o processo de
trabalho dos profissionais da enfermagem é relevante, com intuito de
desenvolver habilidades que possam facilitar o processo de interação dos mesmos
com os pacientes e seus familiares. Da mesma forma, acredita-se que a
efetivação da humanização do cuidado também diretamente ligada com todos os
profissionais da equipe, para então, ser possível buscar a assistência
integral, tendo foco na humanização do cuidado [2].
Com
base nos artigos analisados, identificou-se que humanizar o cuidado vai além do
uso de altas tecnologias, ferramentas de trabalho ou tratamento de doenças.
Humanizar está atrelado ao olhar o sujeito e ouvi-lo, de modo a atender suas
demandas de forma empática.
Observou-se
na literatura que a equipe de enfermagem ainda possui grandes desafios durante
o processo de trabalho que podem influenciar neste cuidado humanizado, como a
carga horária exaustiva, lotação dos serviços, atrasos de salários e outros.
Assim, enfatiza-se a necessidade de criação de estratégias de melhoria em prol
das condições de trabalho desta categoria profissional, pois certamente irá
influenciar positivamente na prestação da assistência.
Conflitos
de interesse
Não
há ou conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Não
houve recebimento financeiro.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Santos RS, Amorim LP, Monteiro LV; Coleta de dados: Santos LL,
Monteiro LV; Análise e interpretação dos dados: Santos RS, Amorim LP,
Santos LL; Análise estatística: Dourado GKS, Cardoso RSS; Redação do
manuscrito: Santos RS, Amorim LP, Santos LL; Revisão crítica do
manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Monteiro LV, Dourado
GKS, Cardoso RSS.