ARTIGO
ORIGINAL
Utilização
do telessaúde na educação permanente pelos
enfermeiros da Estratégia da Saúde da Família
Denilien Brown, Esp*, Luciane Bisognin Ceretta, D. Sc.**, Maria Tereza Soratto,
M.Sc.***
*Enfermeira,
Especialista em Gestão da Atenção Básica de Saúde, Universidade do Extremo Sul
de Santa Catarina (UNESC), Criciúma/SC, **Enfermeira, Mestre em Enfermagem
UNESC, ***Enfermeira, Mestre em Educação UNESC
Recebido em 11 de
setembro de 2017; aceito em 8 de janeiro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Maria Tereza Soratto, UNESC, Av. Universitária, 1105,
Curso de Enfermagem, Bloco S, Bairro Universitário, 88806-000 Criciúma SC,
E-mail: Denilien Brown: denilibrown@yahoo.com.br;
Luciane Bisognin Ceretta:
luk@unesc.net; Maria Tereza Soratto: guiga@unesc.net.
Artigo
Baseado em
Monografia de Pós-graduação
Especialização em Gestão da Atenção
Básica de Saúde
Resumo
Estudo com objetivo
de identificar os desafios enfrentados pelas enfermeiras da Estratégia Saúde da
Família para utilização do Programa Telessaúde. Pesquisa
de abordagem qualitativa, descritiva, exploratória e de campo. Aplicou-se
entrevista semiestruturada com seis enfermeiras da Estratégia Saúde da Família
em um município do litoral norte do Rio Grande do Sul. A análise dos dados foi
realizada a partir da análise de conteúdo, segundo Minayo.
A principal dificuldade citada pelas enfermeiras para a utilização do Telessaúde foi relacionada à falta de tempo, a cultura dos
profissionais que interfere na adesão para a utilização de recursos de educação
à distância e a falta de capacitação para o uso do programa. O Telessaúde é primordialmente utilizado pelas enfermeiras
para a organização de palestras, como material de apoio e para a capacitação da
equipe, porém a adesão ao programa não ocorre de forma integral pela equipe
multiprofissional da ESF. O Programa Telessaúde abre
novas possibilidades de atenção à saúde, sendo necessário que a equipe
multiprofissional se aproprie desta tecnologia de forma integral objetivando a
qualificação da assistência com a utilização de recursos tecnológicos.
Sugere-se capacitação das equipes, tornando o programa uma ferramenta de uso
multiprofissional, diário e contínuo na sua totalidade.
Palavras-chave:
enfermagem,
educação em saúde, educação
continuada, tecnologia da informação, estratégia
saúde da família.
Abstract
Use of telehealth on permanent education by
nurses of the Family Health Strategy
Study aiming to identify the challenges faced by nurses of the Family
Health Strategy for using Telehealth Program. This is
a qualitative, descriptive, exploratory approach and field research. A
semi-structured interview was applied to six nurses of the Family Health
Strategy in a city in the North coast of Rio Grande do Sul.
Data analysis was carried out from the analysis of content, according to Minayo. The main difficulty cited by nurses for Telehealth utilization was related to lack of time, the
culture of the professionals who interferes with the membership for the use of
distance education resources and the lack of training for the use of the
program. The Telehealth is primarily used by nurses
to the Organization of lectures, as support material and to the training of the
team, and adherence to the program occurs fully by the multidisciplinary team
of the family health strategy. The Telehealth Program
opens new possibilities for health care, being necessary for the
multiprofessional team to take ownership of this technology fully in order to
qualify the assistance with the use of technological resources. It was suggested
training of teams, making the program a tool for multidisciplinary use, daily
and continuous in its entirety.
Key-words: Nursing,
health education, education, continuing, information technology, Family Health
Strategy.
Resumen
Uso de la
telesalud en educación permanente por personal
de enfermería de la Estrategia de Salud de la Familia
Estudio con
el objetivo de identificar los desafíos que enfrentan las enfermeras
del Estrategia de Salud Familiar para el uso del programa de telesalud. Investigación de enfoque cualitativo,
exploratorio, descriptivo y
de campo. Se aplicó una entrevista semiestructurada a seis enfermeras
de Estrategia de Salud
Familiar en un municipio de la
costa norte de Rio Grande do Sul. Análisis de datos se llevó a cabo a partir del análisis
de contenido, segundo Minayo.
La principal dificultad citada por las enfermeras para utilización de telesalud se relacionó con falta de tiempo, la
cultura de los profesionales
que interfiere con la calidad de miembro
para el uso de recursos de educación
a distancia y la falta de capacitación
para el uso del programa.
La telesalud es utilizada
principalmente por las enfermeras
para la organización de
conferencias, como material de apoyo y la formación del
equipo, y la adhesión al
programa se produce completamente por el equipo multidisciplinario del Estrategia de Salud Familiar. El programa de telesalud
abre nuevas posibilidades
para el cuidado de la salud, siendo
necesario para el equipo de
multiprofesional a tomar posesión
de esta tecnología completamente para recibir la asistencia
con el uso de recursos
tecnológicos. Se sugiere la formación de equipos, haciendo del programa una herramienta para
uso multidisciplinario, diaria
y continua en su totalidad.
Palabras-clave: Enfermería,
educación en salud, educación continua, tecnología de la
información, estrategia de salud familiar.
A Educação Permanente
(EP) em Saúde configura a Educação em Serviço, caracteriza-se como uma
estratégia a fim de transformar as práticas de saúde. Ela é realizada a partir
dos problemas encontrados na realidade de cada contexto regional e leva em
consideração a experiência e o pré-conhecimento de
cada profissional. Os processos de educação permanente deverão ser pautados nas
necessidades daquelas populações adscritos, por isso é tão importante a
problematização dos processos de trabalho e isso se garante com a educação
permanente [1,3].
Tendo
o Sistema Único
de Saúde (SUS) como o modelo vigente de saúde no Brasil,
vários movimentos de
fortalecimento deste sistema foram iniciados a fim de alcançar
as diretrizes do
SUS. Para tanto, a própria Constituição Federal de
1988, define que ao SUS
compete ordenar a formação de recursos humanos na
área de saúde [1,3]. Iniciar
esta estratégia de Educação Permanente na
Atenção Básica à Saúde (ABS)
é
condição fundamental para a consolidação de
mudanças no modelo de atenção à
saúde, pois é lá que o usuário terá
seu primeiro contato com a saúde, é nesta
esfera que cada vez mais este setor deverá ser fortalecido para
ser resolutivo
e eficiente.
A Política Nacional
de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) e a Política Nacional de Humanização
aprovadas e instituídas no Brasil em 2003/2004 fomentaram a reorientação da
formação dos profissionais em saúde. As Diretrizes Curriculares Nacionais
propostas pelo Ministério da Educação em 2001, buscou a construção de um perfil
de profissional que contemplasse às necessidades da população, o sistema de
saúde vigente no país, o trabalho em equipe e a atenção integral à saúde [4].
Outra ação criada
pelo Ministério da Saúde foi o Telessaúde Brasil
Redes na Atenção Básica, componente do Programa de Requalificação das Unidades
Básicas de Saúde (UBS), instituído pela Portaria nº 2.554 de 28 de outubro de
2011. O objetivo principal desta ferramenta é potencializar a qualificação da
Atenção Básica/Estratégia de Saúde da Família, estimulando o uso das
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para
atividades à distância relacionadas à saúde. O Telessaúde
pode possibilitar a interação entre profissionais de saúde, bem como o acesso
remoto a recursos de apoio educacional, clínicos e diagnósticos [5].
Telessaúde é uma ferramenta de
articulação entre a atenção especializada e a atenção básica, pois estimula uma
nova forma de comunicação entre esses pontos de atenção. A ampliação do diálogo
entre os pontos de Atenção Especializada e Atenção Básica é essencial para
aumentar a resolutividade da Atenção Básica e qualificar o acesso do usuário
aos serviços especializados. O Telessaúde ainda é
pouco explorado pelas equipes sendo uma grande ferramenta para o movimento de
mudança proposta para qualificação do cuidado na Atenção Básica (AB) e melhoria
do acesso à Atenção Especializada (AE) no SUS [5].
A Educação Permanente
em Saúde (EPS) é um dispositivo capaz de aproximar o cotidiano do profissional
do SUS e as necessidades da população. Desenvolve a reflexão crítica dos
profissionais no processo de trabalho ao ponto que compreendam a complexidade
da realidade dinâmica que é o serviço saúde. Desenvolver ferramentas que agucem
a EPS nas equipes multidisciplinares é uma estratégia essencial para a melhoria
da assistência e para o crescimento profissional do trabalhador da saúde.
A saúde é um processo de trabalho que está
sempre em transformação, o profissional deverá estar sempre em movimento de
aprendizagem. O conhecimento se constrói a partir da problematização da
realidade, da articulação com a teoria e a prática, do diálogo da equipe, da
troca de saberes. A construção do saber é coletiva, crítica e desenvolvida no
contexto social. O programa Telessaúde Brasil Redes
surge para fomentar a questão da EPS dentro das equipes da ESF. É uma
ferramenta inovadora para o aprendizado e crescimento profissional.
Os avanços
tecnológicos modificaram as formas de processamento, disseminação,
armazenamento e recuperação de informações. Neste sentido o Telessaúde
aparece como equalizadora de demandas que podem proporcionar novas formas de
transmissão de conhecimentos e cuidados em saúde, auxiliando na melhoria da
atenção à saúde e contribuindo para a diminuição dos índices de mortalidade e
morbidade, gerando intervenções mais arrojadas e rápidas, evitando grandes
deslocamentos para grandes centros urbanos e possibilitando o acesso aos
cuidados da saúde em localidades remotas [6].
Percebe-se que muitos
municípios adotaram este programa e estão cadastrados para a utilização da
ferramenta, mas ainda é pouco utilizado na sua integralidade pela equipe
multiprofissional. Atualmente ainda ocorrem nas equipes da ESF capacitações
pontuais, reuniões para informes e não movimentos de EPS. As coordenações da
ESF devem avaliar as temáticas a partir da necessidade e percepção de suas
próprias equipes para a realização de capacitações e reuniões. O termo
“educação continuada” também é fortemente confundido com EPS pela própria
gestão e equipe multiprofissional. Considera-se que a equipe multiprofissional
nem sempre utiliza esta ferramenta tecnológica em toda a sua capacidade, e o
Programa Telessaúde pode dar subsídios a Educação
Permanente em Saúde realizada na ESF.
Nesta perspectiva,
este estudo teve por objetivo identificar de que forma o Telessaúde
é utilizado na Educação Permanente pelos enfermeiros da Estratégia da Saúde da
Família (ESF).
Pesquisa de abordagem
qualitativa, descritiva, exploratória e de campo. Aplicou-se entrevista
semiestruturada com seis enfermeiras da Estratégia da Saúde da Família de um
município do litoral norte do Rio Grande do Sul. Utilizaram-se como critérios de
inclusão dos participantes da pesquisa: enfermeiros atuantes na ESF; aceitação
para participar da Pesquisa segundo Resolução 510/2016[7] e assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Na entrevista
questionaram-se os profissionais sobre a capacitação recebida relacionada à
utilização do Telessaúde; facilidades e dificuldades
para a utilização do programa; como o Telessaúde é
utilizado na Educação Permanente pelos enfermeiros da Estratégia da Saúde da
Família (ESF); a adesão da equipe multiprofissional na utilização do Telessaúde; o Programa Telessaúde
e a qualificação da assistência na ESF; além de sugestão sobre a temática.
A aplicação do
instrumento de coleta de dados foi realizada por uma das enfermeiras
pesquisadoras, ocorrendo no horário de trabalho, individualmente, com a duração
de 30 a 40 minutos; em ambiente adequado para garantir a privacidade das
informações e o bem-estar do profissional.
A
análise e
interpretação dos dados qualitativos foram organizadas a
partir da análise de
conteúdo com a categorização dos dados,
através da ordenação, classificação
e
análise final dos dados pesquisados, de acordo com Minayo
[8]. Na ordenação dos dados faz-se um mapeamento de todos os dados obtidos no
trabalho de campo, com a transcrição de gravações, releitura de material,
organização dos relatos. Em seguida na classificação dos dados realiza-se a
leitura exaustiva e repetida dos textos, estabelecendo interrogações para
identificar o que surge de relevante, estabelecendo as categorias específicas.
E na análise final articulam-se os dados e os referenciais teóricos da
pesquisa, respondendo às questões da pesquisa com base em seus objetivos [8].
Um
dos procedimentos
mais úteis para a investigação qualitativa
é a formulação e organização dos
dados em categorias [9]. Categoria refere-se a um conceito que abrange
elementos ou aspectos com características comuns ou que se
relacionam entre si,
são estabelecidas para classificar os eventos. Categorizar
é agrupar elementos,
ideias ou expressões em torno de um conceito [8,9].
De acordo com a
Resolução 510/2016, os participantes devem ser esclarecidos sobre a natureza da
pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o
incômodo que esta possa lhes acarretar, na medida de sua compreensão e
respeitados em suas singularidades [7]. Na pesquisa utilizou-se um termo de
consentimento livre e esclarecido, informando aos participantes da pesquisa os
objetivos, métodos, direito de desistir da mesma e sigilo em relação à
pesquisa. Para preservar o sigilo e o anonimato dos participantes da pesquisa,
de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras da Resolução 510/2016[7],
utilizou-se indicador alfanumérico (E de Enfermeiro - E1 a E6). A pesquisa foi aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNESC pelo Projeto nº 1.343.003/2015.
Perfil
dos enfermeiros atuantes na ESF
Em relação ao perfil
das enfermeiras, todas eram do sexo feminino, a idade variou de 29 a 34 anos,
tendo como média 31 anos. O tempo de atuação como
enfermeira de ESF variou de 1 a 7 anos; tendo como média 3,5
anos de trabalho. As especializações das enfermeiras foram em Saúde da Família
(E2); Auditoria em Saúde (E4); Urgência e Emergência (E1, E3 e E5); Educação
Permanente em Saúde (E6); Nefrologia e Trauma (E3).
Capacitação dos
profissionais relacionados à utilização do Telessaúde
Em relação à
capacitação dos profissionais sobre a utilização do Telessaúde,
os enfermeiros E2; E3 e E6 não foram capacitados, o que pode interferir
diretamente na utilização desta ferramenta.
E2
– “Não tive nenhuma capacitação para o uso do programa, apenas quem teve foi o
médico da unidade”.
E3
– “Não tive nenhum tipo de capacitação para a utilização desta ferramenta. A
meu ver há certa carência em relação às capacitações realizadas entre as
equipes para utilização do Telessaúde. Muitos
profissionais não utilizam esta ferramenta, muitas vezes porque não receberam
nenhuma instrução técnica de como funciona o serviço”.
E6
– “Não possuo capacitação”.
Os enfermeiros E1; E4
e E5 receberam capacitação sobre Telessaúde, e o
enfermeiro E4 ainda recebeu feedback da equipe técnica
do programa.
E1
– “Tive uma capacitação em 2013. O resto da equipe não possui capacitação”.
E4
– “Foi realizada capacitação para a equipe e após o Telessaúde
entrou em contato várias vezes para saber como estávamos com o sistema e se já
havia equipamentos tecnológicos para o uso”.
E5
– “Tive uma capacitação em 2013, quando este programa foi lançado nas ESFs do nosso município”.
A capacitação dos
profissionais de saúde de APS/ESF é realizada pelos coordenadores e monitores
de campo (equipe técnica do Telessaúde) e tem como
objetivo desenvolver as competências e habilidades necessárias para a
utilização dos recursos disponibilizados pelo programa [10].
Conforme o Manual
Instrutivo do Telessaúde lançado pelo Ministério da
Saúde em 2012, todos os municípios deverão receber, via secretaria ou
coordenadoria estadual de saúde, um comunicado referente à necessidade de
capacitação e onde será dada a possibilidade do município escalonar a saída dos
profissionais em turnos e datas diferentes, conforme as opções do cronograma
para aquela região, de modo a não afetar a dinâmica de trabalho das equipes de
saúde. Profissionais não capacitados não poderão usar o projeto e terão que
aguardar por outras fases de capacitação ou por capacitação à distância, via webconferência de acompanhamento. O manual sugere ainda
priorizar os profissionais de nível superior na primeira fase, alocando os
demais profissionais nas fases seguintes ou durante a visitação técnica [10].
As
principais facilidades para a utilização do programa
Para os enfermeiros
entrevistados, a principal facilidade para a utilização do Telessaúde
está relacionada à conectividade e comunicação (E1; E2; E3), realização de
encaminhamentos (E4; E5; E6), além da possibilidade de utilização do programa
em capacitações, como material de apoio e palestras (E4).
E1
– “A conectividade”.
E2
– “A principal facilidade do programa é sem dúvida a comunicação, o Doutor da
minha unidade sempre é muito bem atendido pela equipe do Telessaúde,
sempre estão disponíveis para a discussão de casos. E agora com o WhatsApp ficou ainda mais fácil a
comunicação rápida e eficiente”.
E3
– “A principal facilidade é a conectividade para o uso do sistema Telessaúde”.
E4
– “Capacitações, materiais de apoio, palestras, encaminhamentos
especializados”.
E5
– “Atualização de encaminhamentos para a real necessidade”.
E6
– “Atualização de encaminhamentos para avaliar a real necessidade”.
O Telessaúde
é uma ferramenta de articulação entre a atenção especializada (AE) e a atenção
básica (AB), que provoca uma nova forma de comunicação entre esses pontos de
atenção. A ampliação do diálogo entre os pontos de Atenção Especializada e
Atenção Básica aumenta a resolutividade da Atenção Básica e qualifica o acesso
do usuário aos serviços especializados. Esta ferramenta tem potencial para
promover mudanças no processo de trabalho das equipes de Atenção Especializada,
pois exige que a equipe desse ponto de atenção realize outras atividades. Entre
elas, teleconsultoria, telediagnóstico, apoio
matricial, reuniões, discussão de casos, apoio à regulação, desenvolvimento de
protocolos e diretrizes e definição compartilhada de fluxos. Saindo do modelo
tradicional (ambulatorial), realizando apenas consulta para usuários e estando
isolado do restante da rede de serviços, esse ponto de atenção pode passar a se
comprometer com o cuidado integral e em rede e não só com sua responsabilidade
específica em cada caso, exercendo também funções que apoiam a clínica na
atenção básica e a gestão das ações e serviços de saúde [5].
A teleconsultoria
é um espaço de diálogo caracterizado pela comunicação eletrônica ou por
telefone, no qual os profissionais podem tirar dúvidas e discutir casos;
utilizadas como apoio diagnóstico por meio de exames que permitam a realização
do telediagnóstico. Esses contatos quando feitos por meio eletrônico ou
telefônico podem ser síncronos (no momento do cuidado) e assíncronos (em
momentos fora da consulta) [5]. As tecnologias da informação aplicadas à
educação potencializam a disseminação global do conhecimento, provocando o
intercâmbio com o resto do mundo, conduzindo a individualização de seu acesso e
aprendizado, através dos fluxos que determinam onde, quando, quem e como
utilizá-los [1].
As
principais dificuldades para a utilização do Programa
Por depender da
mudança no processo de trabalho, suporte continuado (ex:
financiamento, treinamento para profissionais de APS/ESF, disponibilidade de
especialistas treinados e equipe técnica para manutenção), o sucesso na
implantação destes serviços requer planejamento adequado e sua qualidade deve
estar em permanente avaliação [10].
O tempo indisponível
para a utilização do Telessaúde foi a principal
dificuldade citada pelos enfermeiros E1; E2; E4; E5:
E1
– “Tempo indisponível”.
E2
– “Creio que para mim, a principal dificuldade é a falta de tempo para utilizar
essa ferramenta na sua totalidade”.
E4
– “Tempo insuficiente, com a demanda grande de atendimentos e com poucos
funcionários torna-se pouco o uso do Programa”.
E5
– “Falta de tempo hábil para utilização das ferramentas que o programa possui”.
Para o enfermeiro E3
a cultura dos profissionais foi citada como principal dificuldade da utilização
da ferramenta tecnológica: E3 – “As principais dificuldades estão relacionadas
com a cultura de alguns profissionais de saúde no uso de tecnologias e das
conectividades”.
A
revolução
tecnológica no último quarto do século XX
privilegiou os processos e a inovação
contínua dos produtos, sendo a matéria-prima fundamental
a informação e o
conhecimento e operando sobre a produção de
articulações, redes e fluxos entre
as atividades e as organizações. Neste cenário, as
organizações requerem o
desenvolvimento da capacidade de flexibilidade e adaptabilidade das
transformações, assim como da formação de
alianças em áreas específicas de
ação
[1].
A falta de
capacitação para o uso do Telessaúde foi considerado
pelo enfermeiro E6 a principal dificuldade para a utilização do programa: E6 –
“Falta de capacitação”.
De maio a setembro de
2014, foi realizada uma pesquisa nacional de avaliação do programa Telessaúde, realizada pela Ouvidoria do Ministério da Saúde
com o objetivo de verificar a implantação e utilização do Programa Telessaúde Brasil Redes. A pesquisa foi realizada por meio
de inquérito telefônico operacionalizado pelos atendentes do Disque Saúde 136,
para um público alvo de 119.108 profissionais de saúde de 19.906 Unidades
Básicas de Saúde. Foram entrevistados 17.365 profissionais de saúde, destes
8.408 relataram conhecer o Telessaúde (48,4%). Dentre
os profissionais, os médicos e enfermeiros são os profissionais que mais conhecem
o programa. Contudo, nos questionamentos sobre a utilização, verificou-se que
dos profissionais que conhecem o programa apenas 40% o utilizam no seu dia a
dia. É notório que o Programa sente a necessidade de métodos que ajudem a
divulgar suas ações, como também capacitar um maior número de profissionais
[11].
A tele-educação vem
auxiliando neste aspecto através dos seus vários métodos de ensino à distância.
Um deles vem ganhando destaque na área da saúde, que é o curso autoinstrucional. Este curso é um modelo de ensino à
distância que vem se popularizando nos últimos anos. Ele se diferencia dos
demais, pois garante autonomia e independência do
aluno através de um material autoexplicativo, objetivo e simples, de forma que
o aluno saiba conduzir o curso, permitindo que os alunos possam se matricular
de forma independente e a qualquer momento, ficando livre para cursar o
material disponível de acordo com a sua disponibilidade de tempo. O curso
disponibiliza de forma acessível uma unidade com uma visão geral sobre o
Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes, e também
possui outras unidades ensinando a utilizar o serviço de Teleconsultoria,
formando Teleconsultores e Telerreguladores
para atuarem nos mais diversos Núcleos pelo Brasil. Os
trabalhadores da saúde podem acessar o site do ambiente virtual de
aprendizagem, se cadastrarem de forma independente, e ter acesso aos materiais
do curso. Como um dos objetivos do Programa é o de capacitar um maior número de
trabalhadores da saúde, a criação de um curso autoinstrucional
se torna uma importante estratégia para este fim [11].
O curso autoinstrucional em telessaúde
permite que os trabalhadores de saúde adquiram maiores conhecimentos sobre o
Programa, sejam capacitados para utilizarem o serviço de teleconsultoria,
e possam atuar como teleconsultores e telerreguladores, através de um material didático e
interativo que foi criado para facilitar o aprendizado dos alunos [11].
A
utilização do telessaúde na educação permanente pelos
enfermeiros da Estratégia da Saúde da Família (ESF)
Os serviços de saúde
são impulsionados a buscar continuamente informação e conhecimento. A educação
é uma temática constante dos debates da área da saúde, pois é o alicerce para a
construção dos saberes. Com o aceleramento de inovações tecnológicas, várias
mudanças ocorreram no âmbito social, cultural e econômico trazendo mudanças
também nas formas de adquirir o conhecimento e a educação [12].
A Educação Permanente
em Saúde (EPS) é um dispositivo essencial que deve ser ativado nas equipes da
estratégia de saúde da família, pois possibilita o real desenvolvimento das
diretrizes preconizadas no SUS. Neste enfoque questionaram-se as enfermeiras
sobre a utilização do Telessaúde na Educação
Permanente na Estratégia da Saúde da Família (ESF).
Os enfermeiros E3; E4
e E5 utilizam o Telessaúde como ferramenta para a
Educação Permanente em Saúde através das webs palestras e dos materiais de
apoio disponíveis no programa para a contínua capacitação e atualização da
equipe:
E3
– “É utilizado principalmente através da web palestras”.
E4
– “Através dos materiais de apoio”.
E5
– “Quando possível é assistido as Web palestras e utilizado algumas informações
para as capacitações da equipe”.
O aprendizado através
de recursos tecnológicos, em particular na atualização profissional, atingiu
grande desenvolvimento nas últimas décadas, permitindo a flexibilidade e
acessibilidade ao conhecimento e à informação, superando problemas de distância
e de acesso a bibliografias e potencializando a circulação de dados e o
desenvolvimento de debates [1].
O Telessaúde
não é utilizado como ferramenta na Educação Permanente, segundo o relato dos
enfermeiros E1; E2 e E6:
E1
– “Não vem sendo usado para esse fim de educação permanente”.
E2;
E6 – “Não é utilizado desta maneira”.
O Telessaúde
tem potencial para facilitar o acesso aos serviços do sistema de saúde,
aumentar a qualidade e contribuir para a formação profissional. No entanto, o
seu potencial ainda não foi bem compreendido e a sua incorporação tem sido
lenta [5,13].
As novas tecnologias
de informação e comunicação têm contribuído para o crescimento e a
credibilidade da Educação a Distância (EAD). A EAD é uma importante ferramenta
e estratégia para a educação permanente diante das novas tecnologias, sendo uma
inovação pedagógica na educação. Este modelo pedagógico possibilita uma análise
crítica da prática, permitindo refletir e problematizar as formas de prestação
da assistência à saúde [14].
A
adesão da equipe multiprofissional na utilização do Telessaúde
Segundo os
enfermeiros a adesão do Telessaúde ocorre mais por
parte dos médicos, mas os enfermeiros E5 e E6 utilizam-no conjuntamente com o
médico da ESF:
E1
– “A médica da minha unidade é quem mais utiliza esta ferramenta para a
discussão de casos de encaminhamentos para a especialidade”.
E2
– “É utilizado pelo médico da minha unidade, eu particularmente nunca utilizo”.
E5
– “Eu e o médico da minha unidade utilizamos para reavaliar encaminhamentos”.
E6
– “Apenas eu e a médica da minha unidade utilizamos para avaliar a real
necessidade de encaminhar um paciente para a especialidade”.
O enfermeiro E3 e E4
ressaltaram a pouca adesão ao Telessaúde pela equipe
multiprofissional:
E3
– “Em minha opinião, a adesão da equipe multiprofissional na utilização do Telessaúde ainda é pouca, principalmente da parte médica,
penso que muitos serviços oferecidos pelo serviço não são utilizados”.
E4
– “Pouca adesão, devido ao tempo como citei anteriormente”.
É importante que as
equipes da ESF junto com a gestão municipal tenha o entendimento do programa e
seus benefícios para a qualidade da atenção, tornando possível uma maior adesão
do programa na sua integridade. Os resultados esperados com a adesão do telessaúde será a melhoria da qualidade do atendimento na
Atenção Básica no Sistema Único de Saúde (SUS), com resultados positivos na
resolubilidade do nível primário de atenção; expressiva redução de custos e do
tempo de deslocamentos; fixação dos profissionais de saúde nos locais de
difícil acesso; melhor agilidade no atendimento prestado; otimização
dos recursos dentro do sistema como um todo, beneficiando, dessa forma,
aproximadamente 10 milhões de usuários do SUS [10].
O
programa telessaúde e a qualificação da assistência
na ESF
O programa Telessaúde melhora a qualidade da assistência na ESF, com
discussão dos casos clínicos, otimização do tempo
entre a consulta médica, o diagnóstico, tratamento, análise e classificação
adequada para o encaminhamento do paciente para especialidade.
E1
– “Melhora na questão da real indicação de encaminhamentos para a
especialidade. São discutidos os casos e analisado a melhor indicação de
tratamento e ou encaminhamento”.
E2
– “Melhora a qualidade da assistência, pois o médico pode tirar dúvidas em
relação à conduta necessária para cada paciente, discutindo casos e vendo a
real necessidade dos encaminhamentos para a especialidade”.
E3
– “Qualifica o trabalho da equipe e o serviço prestado à população. Otimiza o tempo entre a consulta do paciente e o fechamento
do diagnóstico médico”.
E4
– “Facilita os encaminhamentos aos especialistas através da discussão de casos
clínicos com os médicos”.
E5
– “É importante para classificar encaminhamentos, sendo desnecessário o gasto
com aqueles que não precisam mais”.
E6
– “O programa é bom para avaliar encaminhamentos, são discutidos os casos
clínicos para classificar a necessidade do paciente”.
O emprego da EAD no
Programa Nacional de Telessaúde tem um papel
fundamental no atendimento em saúde, a partir do momento que proporciona ao
profissional um novo conceito de educação e assistência, garantindo, assim, o
intercâmbio de conhecimentos entre as instituições de ensino e os
trabalhadores. O programa aumenta a resolutividade do serviço na atenção
básica, reduzindo os encaminhamentos para os grandes centros urbanos,
contribuindo assim para uma maior agilidade no atendimento e a melhoria da
qualidade da assistência prestada na atenção básica no Sistema Único de Saúde
[14].
Sugestão
sobre a pesquisa: Utilização do Telessaúde na
educação permanente pelos enfermeiros da Estratégia da Saúde da Família
As sugestões sobre a
pesquisa foram relacionadas à busca de solução para efetivamente utilizar o
programa em toda a sua capacidade, com objetivo de qualificar a assistência à
saúde da população, sendo importante que toda a equipe multiprofissional
utilize o Telessaúde, a partir de capacitação:
E1
– “Sugiro que através deste estudo seja criado soluções para uma melhor
utilização do programa no seu todo”.
E2
– “Sugiro que com esta pesquisa, esta ferramenta possa ser mais bem utilizada,
não só pelo médico e sim por toda a equipe multidisciplinar”.
E3
– “Sugiro que seja difundido ainda mais informações sobre o uso e a
resolutividade que o Telessaúde tem para oferecer
tanto para os profissionais quanto para a população”.
E5
– “Sugiro que através desta pesquisa, seja utilizado mais o programa, para
aperfeiçoar o atendimento das ESF’s”.
E6
– “Sugiro que através desta pesquisa, sejam implantados novos treinamentos para
as equipes de ESF, para que assim possamos melhorar ainda mais a assistência à
população”.
O
enfermeiro E4 não ofereceu sugestões: E4 – “Pesquisa bem elaborada, nada a
sugerir”.
Uma estratégia para a
divulgação do programa e da própria atividade é a capacitação através da
tele-educação. O tele-educação proporciona atividades educacionais ministrados
à distância por meios de tecnologias da informação e comunicação. É uma
atividade educacional que utiliza as ferramentas tecnológicas como meio para
apoiar a formação de trabalhadores do SUS, de acordo com a Política Nacional de
Educação Permanente em Saúde. Por exemplo, são ofertados cursos, módulos
educacionais, web aulas/palestras em modalidade à distância [5].
Poucos estudos de boa
qualidade metodológica avaliaram o impacto destas tecnologias nos desfechos
clínicos, mas evidências têm demonstrado boa acurácia na maioria dos exames,
redução do número de encaminhamentos, aumento da satisfação dos pacientes e
redução dos custos. Por depender da mudança no processo de trabalho, suporte
continuado (ex: financiamento, treinamento para
profissionais de APS/ESF, disponibilidade de especialistas treinados e equipe
técnica para manutenção), o sucesso na implantação destes serviços requer
planejamento adequado e sua qualidade deve estar em permanente avaliação. É
importante salientar que a criação de serviços de tele-diagnósticos
não terá efeito se o tratamento não for disponibilizado para o paciente.
Portanto, projetos nesta área devem ser pensados no contexto de uma rede de
cuidado e não em substituição a ela [10].
Observa-se ainda
insuficiente a produção científica voltada para inserção dos saberes e práticas
de Telessaúde na esfera do SUS com o enfoque da Saúde
Coletiva, sendo uma das lacunas a serem superadas. A literatura produzida a
partir das experiências de Telessaúde no Brasil, em
sua grande maioria, vincula-se ao pensamento da Clínica. Esta constatação fica
mais evidente ao se buscar produção científica dedicada ao tema da avaliação de
iniciativas de Telessaúde [15].
A principal
facilidade citada pelas enfermeiras entrevistadas para a utilização do Telessaúde está relacionada à conectividade e comunicação,
realização de encaminhamentos e a possibilidade de utilização do programa em
capacitações, como material de apoio e palestras. Já a principal dificuldade
citada pelas enfermeiras foi relacionada à falta de tempo disponível para a
utilização do Telessaúde, a cultura dos profissionais
que interfere na adesão para a utilização de recursos de educação à distância e
a falta de capacitação para o uso do programa. O Telessaúde
é primordialmente utilizado pelas enfermeiras para a organização de palestras,
como material de apoio e para a capacitação da equipe, porém a adesão ao
programa não ocorre de forma integral pela equipe multiprofissional das ESFs.
Na percepção das
enfermeiras, o programa Telessaúde proporciona
melhoria na qualidade da assistência na ESF, sendo necessário que a equipe
utilize o programa em toda a sua capacidade. Desta forma sugere-se a
sensibilização e capacitação das equipes, tornando o programa uma ferramenta de
uso multiprofissional, diário e contínuo na sua totalidade. Como limitação do
estudo considera-se o número limitado de profissionais participantes da
pesquisa.
O Programa Telessaúde pode dar subsídios a Educação Permanente em
Saúde realizada na ESF sendo considerada uma ferramenta de articulação entre a
atenção especializada e a atenção básica. Considera-se que o Programa Telessaúde abre novas possibilidades de atenção a saúde,
sendo necessário que a equipe multiprofissional se aproprie desta tecnologia de
forma integral objetivando a qualificação da assistência com a utilização de
recursos tecnológicos.