Enferm Bras 2022;21(2):141-153
ARTIGO ORIGINAL
Vivência da equipe de
enfermagem no enfrentamento da COVID-19
Beatriz de Almeida Santos*,
Suelen Nunes Suave*, Fernanda Milani Magaldi, M.Sc.**,
Monise Moreno de Freitas, M.Sc.**,
Sara Rodrigues Rosado, D.Sc.**
*Graduanda em Enfermagem
pela Universidade São Judas Tadeu (USJT), São Paulo/SP, **Enfermeira, Docente
do Curso de Enfermagem da Universidade São Judas Tadeu (USJT), São Paulo/SP
Recebido em 19 de abril de
2021; Aceito em 22 de março de 2022.
Correspondência: Fernanda Milani Magaldi, Rua João
Antônio de Oliveira, 426/101 Rovigo, Mooca 03111-010
São Paulo SP
Beatriz de
Almeida Santos: beatrizalmeidasantos@hotmail.com
Suelen
Nunes Suave: suelenunes9823@outlook.com
Fernanda
Milani Magaldi: fernanda.magaldi@saojudas.br
Monise Moreno de Freitas:
monise_moreno@yahoo.com.br
Sara
Rodrigues Rosado: sara.rosado@saojudas.br
Resumo
Objetivo: Compreender e relatar a experiência da
equipe de enfermagem ao enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Métodos:
Estudo qualitativo descritivo e exploratório. Foram entrevistados 11 enfermeiros
e 5 técnicos de enfermagem. A coleta de dados foi realizada através de
entrevistas semiestruturadas e as narrativas analisadas na perspectiva de Janesick. Resultados: A análise das narrativas
possibilitou a elaboração de três categorias: Mudança da rotina de trabalho no
enfrentamento da pandemia da COVID-19; Desafios enfrentados na pandemia
COVID-19; e Novas perspectivas da equipe de enfermagem. Conclusão: A
mudança na rotina ocorreu, e certamente as pessoas terão novas perspectivas
após a pandemia. Acredita-se que este estudo contribua para o entendimento da
vivência da equipe de enfermagem em uma pandemia sem precedentes.
Palavras-chave: COVID-19; mudança organizacional;
pesquisa em avaliação de enfermagem.
Abstract
Nursing team experience in coping with COVID-19
Objective: Understand and report the nursing team experience
facing the pandemic of the coronavirus disease. Methods: Qualitative,
descriptive and exploratory study. 11 nurses and 5 nursing technicians were
interviewed. The data collect was done through semi-structured interviews and
analyzed narratives by the perspective of Janesick. Results:
The analyzed narratives made possible the elaboration of three categories: The
change of work routine in the fight against COVID 19 pandemic, challenges in
the COVID 19 pandemic; nursing team new perspectives. Conclusion: The
routine has changed, and certainly people will have new visions and
perspectives after the pandemic. This study contributes to the understanding of
the nursing team experience in a pandemic without precedents.
Keywords: COVID-19; organizational change; research in nursing
assessment.
Resumen
Vivencia del equipo de enfermería en el enfrentamiento
de COVID-19
Objetivo: Comprender y
relatar la experiencia del
equipo de enfermería al enfrentar la
pandemia del nuevo coronavirus. Métodos: Estudio
cualitativo descriptivo y exploratorio. Fueron
entrevistados 11 enfermeros y 5 técnicos de enfermería. La recolección de datos se llevó a cabo a través de
entrevistas semi-estructuradas y las
narrativas analizadas desde la
perspectiva de Janesick. Resultados: El análisis de las narrativas posibilitó la elaboración
de tres categorías: Cambio
de la rutina de trabajo en el enfrentamiento
de la pandemia del
COVID-19; Desafíos enfrentados en
la pandemia COVID-19; y Nuevas
perspectivas del equipo de enfermería.
Conclusión: El cambio en
la rutina ha ocurrido, y seguramente la gente tendrá nuevas perspectivas después de la pandemia. Se cree que este estudio contribuye a la comprensión de la vivencia del equipo de enfermería en una pandemia sin precedentes.
Palabras-clave: COVID-19; cambio organizacional; investigación
en evaluación de enfermería.
Ao final
do ano de 2019, chegaram à Organização Mundial da Saúde (OMS) relatos de uma
pneumonia de origem desconhecida na China [1]. Em março de 2020 ocorreu uma
disseminação para centenas países causando uma moléstia respiratória e milhares
de óbitos. Em razão da gravidade, da velocidade na disseminação e dificuldades
para contenção, a OMS declarou pandemia pelo novo coronavírus em onze de março
de 2020 [2]. No mundo todo o maior desafio continua concentrado em combater
essa doença designada COVID-19 (Corona Virus Disease 2019), causada pelo SARS-CoV-2.
Nesse
sentido, o desdobramento para a configuração de imunizantes contra o SARS-CoV-2
é fundamental para poder gerir a crise de saúde e conter a disseminação da
doença [3]. No entanto, as insuficiências na elaboração de um plano logístico
significativo para as administrações de vacinas fazem com que diminua a
capacidade de produção, afetando a população, principalmente em países
pró-pobres [4]. Portanto, o distanciamento social, o controle do ambiente e as
boas práticas de higiene são as medidas utilizadas para combater o novo
coronavírus. Resgatamos os princípios e hábitos de higiene concretizados por
Florence Nightingale durante a guerra da Crimeia
(1853-1856). Em seu livro “Notas sobre Enfermagem” (1860), Florence escreveu
que “toda enfermeira deve ter o cuidado de lavar suas mãos muito frequentemente
ao longo do dia. Se lavar o rosto, ainda melhor” [5] nesse contexto nota-se que
para se adequar ao atual cenário, a equipe de enfermagem precisou retomar a
adotar os escritos de Florence [6].
No mundo,
existem cerca de 28 milhões de trabalhadores de enfermagem, de acordo com o
relatório recente da OMS e do Conselho Internacional de Enfermeiros [7]. No
Brasil, há mais de 2 milhões de profissionais de enfermagem disseminados pelas
estruturas organizacionais dos serviços de saúde [8].
É notável
que a COVID-19 conduziu o mundo a uma nova realidade em que todos foram
obrigados a se adequar e criar estratégias de controle de danos, principalmente
o sistema de saúde, que sofreu inúmeras alterações, superlotações, escassez de
materiais, e, com relação aos profissionais de saúde que se depararam com um
desafio complexo de enfrentar um vírus que circulou o mundo, muitas vezes
tiveram jornadas exaustivas com desgastes fisiológicos e emocionais [9].
Nessa
circunstância foi fundamental que muitos lugares se adequassem, ensinando e
revisando as maneiras de paramentação e desparamentação.
A comunicação entre a equipe multiprofissional foi virtual quando possível e a
rotina mudou desde quando o profissional entrava no local de trabalho até o
momento em que se retirava, continuando em casa. A equipe de enfermagem se
destacou por estar diretamente ligada à prestação de cuidados, sofrendo
mudanças logo no começo. O planejamento alterou, a diversidade de profissionais
diminuiu, investimentos na promoção de autocuidado aumentaram [9]. Os
profissionais de enfermagem se expuseram mais a COVID-19. Assim como em outros
países, no Brasil, milhares de profissionais de saúde se ausentaram de suas
atividades laborais por terem se infectado e muitos morreram em decorrência da
doença [8]. É importante ressaltar que o acesso ao EPI ficou escasso, tornando
uma preocupação constante para a equipe de saúde [10].
Diante
desses fatos, observamos a importância dos instrumentos de avaliação dos
serviços de saúde por meio de seus colaboradores internos, visto que através
das experiências vividas por eles é que se terá o conhecimento a respeito de
como as pessoas agem, reagem e interagem em situações de mudança [11]. Neste
sentido, este estudo teve como objetivo compreender e relatar a experiência da
equipe de enfermagem ao enfrentar a pandemia do novo coronavírus no ano de
2020.
Trata-se
de uma pesquisa com desenho qualitativo, descritivo e exploratório. Com foco no
objeto de estudo no qual se pretende analisar de forma aprofundada em suas
peculiaridades e em experiências individuais.
Os
colaboradores para a pesquisa foram onze enfermeiros e cinco técnicos de
enfermagem com pelo menos um ano de atuação na unidade, uma vez que para a
seleção dos participantes de um estudo qualitativo é necessário que estejam
vivenciando o fenômeno sob investigação [13]. Como critérios de inclusão deste
estudo, adotou-se: enfermeiros e técnicos de enfermagem, com experiência na
assistência às pessoas com COVID-19 e com experiência na assistência pré-pandemia. O critério de exclusão utilizado foi
enfermeiro ou técnico de enfermagem que não possuísse experiência com pessoas
com COVID-19 ou não tivessem tido experiência prévia na assistência.
A coleta
de dados foi realizada durante os meses de setembro de 2020 a fevereiro de
2021, o primeiro contato com o profissional foi feito, através da carta
convite, por meio de conhecidos e redes sociais. A entrevista individual foi
agendada utilizando uma plataforma virtual de sua preferência. Neste momento,
foi lembrado sobre a importância de escolher um lugar que mantenha sigilo do
participante e que seja silencioso. A entrevista foi gravada por vídeo,
transcrita e será arquivada por cinco anos pelo pesquisador responsável e
posteriormente descartada. Durante a entrevista, foram utilizados dois
questionários, o primeiro contendo informações sociodemográficas, a fim de
caracterizar a amostra com questões como: idade, sexo e outras e o segundo com
questões norteadoras sobre assistência de enfermagem na pandemia COVID-19.
As
questões norteadoras da entrevista foram: 1) Você sentiu
alguma mudança na sua
rotina diária? Precisou alterar o turno do seu horário de
trabalho durante a
pandemia causada pelo novo coronavírus? 2) De alguma forma se
sentiu desafiado
pelo novo coronavírus? Descreva qual foi o maior desafio que
você profissional
enfermeiro(a), técnico(a) de enfermagem enfrentou durante a
pandemia. 3) Você
sentiu medo de ir trabalhar ou de poder contaminar um parente/amigo
próximo? 4)
Durante a pandemia você sentiu que não conseguiria dar
conta pela demanda
expressiva de casos de COVID-19? 5. Você precisou abrir
mão do término do seu
expediente para poder ajudar a sua equipe? 6) Como profissional de
saúde, teve
a percepção que o seu local de trabalho se adaptou
rapidamente às mudanças
impostas pelo coronavírus? 7) Você profissional que
vivenciou a pandemia, qual
foi a sua visão/ percepção do começo da
pandemia e qual é a sua visão/percepção
com a pandemia agora? 8) Quais mudanças acredita que irão
se manter após a
pandemia?
Os dados
deste estudo foram coletados e analisados simultaneamente, optando pelas fases
propostas por Janesick [12]. São elas: localizar na
experiência pessoal relatada, frases ou afirmativas relacionadas diretamente ao
fenômeno do estudo; interpretar os significados dessas frases ou temas centrais
como um leitor informado; obter a interpretação dos participantes, sempre que
possível; investigar os significados com o objetivo de verificar o que eles
revelam a respeito das características essenciais e recorrentes do fenômeno do
estudo; e elaborar prováveis definições ou afirmativas a respeito do fenômeno
com base nas características essenciais e recorrentes reveladas [12].
O projeto
foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos
(CEP) da Universidade São Judas Tadeu CAE 4.367.830. Após aprovação no comitê
de ética, o TCLE foi explicado e assinado.
Foram
entrevistados dezesseis profissionais de enfermagem, onze enfermeiros e cinco
técnicos de enfermagem. Sendo dois do sexo masculino (12,5%) e quatorze do sexo
feminino (87,5%). A distribuição nos setores de atuação (público ou privado)
mostrou que seis dos entrevistados atuam na rede pública de saúde (37,5%) e dez
na rede privada (62,5%). A faixa etária apresentou idades entre 23 e 50 anos e
a média de idade de 36 anos, considerando o local em que os entrevistados
residem se concentra na cidade de São Paulo e grande São Paulo.
A análise
das narrativas possibilitou a elaboração de três categorias: Mudança da rotina
de trabalho no enfrentamento da pandemia da COVID-19; Desafios enfrentados na
pandemia COVID-19 e Novas perspectivas da equipe de enfermagem, as quais são observadas
a seguir:
Mudança da rotina de
trabalho no enfrentamento da pandemia da COVID-19
Os
enfermeiros são profissionais essenciais que asseguram os cuidados na linha de
frente da COVID-19, uma doença contemporânea, desafiadora que necessita de
tempo, entendimento, conhecimento para criar experiências, vivências e assim
combatê-la.
“Me senti desafiado,
pois no começo da pandemia não tínhamos total conhecimento sobre o que estava
acontecendo. Estávamos aprendendo todos os dias, cada vez era uma experiência
nova que servia para compreendermos melhor e melhorar o próximo atendimento”.
E4
Borges et
al. [14] identificaram os desafios relacionados ao trabalho, as buscas por
maiores informações, a procura por conhecimento, novos investimentos e
evidências científicas pelos enfermeiros de seu estudo durante a pandemia
causada pelo novo coronavírus para enfrentar as novas condições impostas pela
COVID-19.
A
sobrecarga de trabalho se tornou um fator determinante na mudança de rotina dos
entrevistados, comprovando que o aumento na demanda de casos fez com que o
atendimento fosse realizado com desfalques na equipe.
“A demanda aumentou, os
colaboradores estavam se contaminando e acabaram se afastando, ou seja,
tínhamos que atender um número maior de pacientes com uma equipe menor”. Te1
Um grande
fator foi a contaminação dos próprios profissionais que atuavam diretamente na
assistência de pacientes diagnosticados com a COVID-19. Foi possível associar o
aumento da demanda e consequentemente o aumento do tempo de trabalho, com um
risco maior de infecção em razão da não realização da higiene correta das mãos
[15].
É notório
nos estudos dessa análise que a alta demanda e os mínimos recursos foram
grandes fatores que sobrecarregam os profissionais, que em muitos casos,
pressionados pelo tempo, precisaram transferir os enfermos para terem o suporte
necessário à sua moléstia.
“Em um certo momento a
demanda ficou extremamente grande e tínhamos que pensar em soluções. A demanda
era alta e os aparelhos não eram suficientes, uma das soluções foi pronar os pacientes para aguardarem os respiradores. Com o
tempo conseguimos transferir para uma unidade que continuasse o tratamento e
desse o suporte necessário, mas era angustiante trabalhar vendo o relógio
passar e suplicando para não chegar ninguém, porque se chegasse não teríamos
recursos para lidar com o paciente”. E7
Autores
colocam que os problemas de gerenciamento impactam diretamente na qualidade
assistencial, falta de recursos, escassez de respiradores mecânicos e estrutura
física tornou a realidade dos profissionais ainda mais complexa e foi
necessário desenvolver estratégias para o combate A COVID-19 [16].
Em muitos
acontecimentos foram observadas novas contratações de emergência e
remanejamento dos profissionais da saúde para outros setores que estavam
necessitando de auxílio. Nesse caso foi sentida a falta de experiência dos
entrevistados por esses novos contratados e remanejados, que em muitas
situações, precisam realizar tarefas fora do seu habitual cotidiano.
“Sim, teve um momento em
que eu estava na UTI e era o único enfermeiro com mais experiência, tinham
profissionais que nunca haviam passado pela UTI. Então nesse momento pensei que
não daria conta....” E4
A
literatura aborda que a diminuição de colaboradores em razão da contaminação, o
aumento da demanda e a insuficiência estrutural resulta em uma situação
emergencial de contratação de novos profissionais de saúde ou mudanças de
setores. Se notam novos problemas, tais como: a inexperiência, o
desconhecimento de regras e protocolos institucionais e a necessidade de
capacitação profissional [15].
O medo
foi um fator limitante na mudança de rotina dos entrevistados. Foi observada a
angústia dos participantes em ir para o trabalho e serem alvo de discriminação,
violências por meio da população pelo medo do contágio.
“Tinha muito medo,
inclusive de andar de uniforme no transporte público, pois a população foi bem
cruel com os profissionais de saúde. O hospital disponibilizou um local para
nos trocarmos, mas a situação foi se agravando e acabou tendo que
disponibilizar o estacionamento para os profissionais irem de carro. Tive medo
de contaminar meus pais” E10.
A
recorrência de agressões de todos os tipos contra os profissionais da saúde
dentro e fora de suas instituições vem sendo notada no mundo. Em vista disso, o
medo da equipe de saúde em ser avistados nas ruas, supera o orgulho que
deveriam sentir por estarem fazendo um trabalho extraordinário em tempos de
coronavírus [17].
Ainda
sobre o medo, foi observada a preocupação dos entrevistados da área da enfermagem
pela falta dos EPIs necessários para assistir o paciente de forma efetiva, e o
aflito em colocar a saúde da equipe em risco.
“O medo maior foi de
quando eu ou a equipe chegasse para trabalhar, e não tivesse o equipamento
necessário para atendermos o paciente. Por conta da falta de insumos, o que foi
um fato que aconteceu... Quem providencia os insumos é o enfermeiro, então esse
era o meu maior medo porque eu não estaria colocando em risco apenas minha
saúde somente, e sim da equipe porque se eu não conseguisse material para a
equipe, eles iriam ficar suscetíveis à doença” E1
Estudo
aborda que a escassez dos insumos são origens de preocupações para a equipe de
enfermagem que precisa enfrentar a angústia do adoecimento não só de si, mas de
sua equipe [18]. Essa escassez, a falta ou a má qualidade dos EPIs já se
tornaram fontes de denúncias ao Conselho Federal de Enfermagem no Brasil,
intensificando as inquietações por parte da população e principalmente dos
profissionais da enfermagem que continuam zelando por compromissos éticos e
cuidados de enfermagem efetivos [19].
Em
contrapartida alguns entrevistados ressaltaram inúmeras outras moléstias tão
fatais quanto a COVID-19 e não sentiram medo de ir trabalhar, porém grande
parte dos entrevistados sentiram medo de contaminar um ente querido.
“Medo de trabalhar não
tive, pois acredito que todos os dias estamos sujeitos a contrair outras
patologias tão mortais quanto ao coronavírus, mas medo de contaminar outras
pessoas eu tive. Principalmente meu filho que infelizmente acabou se
contaminando junto comigo e chegou até ficar internado”. E4
A
preocupação de transmitir essa doença a um ente da família se manifesta nesse
período de desconhecimento sobre essa doença [14].
Desafios enfrentados na
pandemia COVID-19
A falta
de EPIs foi visivelmente exposta pelos entrevistados e, para o ambiente de
trabalho se adequar às novas medidas impostas, foi necessário tempo.
“Meu local de trabalho
não se adequou perfeitamente as mudanças, tivemos muita dificuldade com relação
aos EPIs no início da pandemia, pois não tivemos a quantidade necessária de
materiais de proteção e demorou um tempo para se adequar e ter o necessário
para todos trabalharem com segurança e ainda hoje temos uma escassez, não
chegamos a ficar sem o material, mas precisamos nos adequar com o que tínhamos.
Já na parte estrutural a instituição se adequou perfeitamente”. Te2
A
vivência nos setores públicos e privados de saúde do Brasil e do mundo precisou
se preparar e adequar rapidamente à nova realidade imposta pela pandemia. A
desigualdade dos setores como sempre permaneceu exacerbada, muitas pessoas
precisaram de acesso ao judiciário para conseguirem atendimento do SUS,
colocando todo o princípio de universalidade em questão [20]. Equipamentos de
proteção individual, na maioria das vezes, não são suficientes ou adequados
para uso seguro. No Conselho Internacional de Enfermeiros a grande quantidade
de óbitos de enfermeiros por Covid-19 está relacionada à falta de EPI [19].
Ainda nos
desafios, enfatizamos a adequação e a estruturação do local de trabalho que em
muitos casos as descrições dos entrevistados mostraram que foi necessário
realizar adaptações nas instituições para assistirem os pacientes de forma
eficaz.
“Foi se adequando com o decorrer do tempo,
optaram por fazer uma tenda fora do hospital para realizar a triagem dos
pacientes suspeitos e após a triagem esses pacientes eram conduzidos ao
hospital de campanha que foi montado para auxiliar nos tratamentos de pacientes
infectados pelo coronavírus”. Te5
“Todos os setores,
estruturas bem adeptas, não teve falta de materiais e nem de equipamentos para
a equipe, realmente a logística foi muito bem-feita, tivemos um suporte
significativo pela instituição...”. E9
Autores
colocam que os serviços essenciais dentro dos hospitais, como funcionamento
apropriado das instituições hospitalares, limpeza, vigilância, realizados sob
inspeção da gestão de qualidade traz benefícios para a instituição, em tempos
atuais, com os desafios advindo da COVID-19 a incrementação de tais serviços de
forma iminente e eficiente se tornam ainda mais relevantes [21].
Novas perspectivas da
equipe de enfermagem
As
perspectivas mais abordadas para o futuro estão relacionadas à confiabilidade
da população em relação à ciência e pesquisa do país, o uso de EPIs e a
higienização das mãos mesmo após a pandemia.
"Espero que tenha
muito empenho físico, psicológico e verbal para a ciência e pesquisa brasileira.
Em relação ao isolamento, acredito que não vamos seguir tudo, mas sinto que o
uso de máscara por profissionais de saúde e higiene das mãos para todos se
mantém”. E8
A ciência
se destacou, ganhando visibilidade e confiança. Segundo pesquisa do IDEIA Big
Data mostra que 76% dos brasileiros demonstram interesse em informações de
cientistas e pesquisadores. Nota que as pessoas estão mais atentas a qualquer
achado científico relacionado a medicamentos ou imunizantes da COVID-19 [22].
Durante a
pesquisa diversos entrevistados relataram acreditar que medidas de higiene,
como lavagem adequada das mãos e uso de máscaras, irão se manter entre os
profissionais de saúde, pois existem ocorrências de pacientes contaminados, com
outros tipos de vírus de grande transmissibilidade, chegarem ao pronto socorro
e apenas, após análise clínica e laboratorial, os profissionais de saúde
ficarem cientes do risco.
“Com certeza a
paramentação, sem sombra de dúvidas! Agora nós vamos atender toda a emergência
pelo menos com uma máscara comum, coisa que não fazíamos, teremos um cuidado
maior para não se contaminar, não só com a COVID, mas também com todas as
outras doenças”. E1
“Acredito que a máscara
se tornará obrigatória em diversas situações, e que irá permanecer durante todo
atendimento para aquele determinado paciente, pois não é apenas COVID que pode
ser transmissível, existem diversas outras doenças como tuberculose entre
outras. E a conscientização da população em relação aos cuidados como o uso do
álcool em gel”. Te3
“Acredito que por um
tempo a questão da lavagem das mãos, uso do álcool em gel e máscara irá
continuar sim”. E5
Frente a
capacidade de contaminação da COVID-19, diversos estudos afloram efeitos e os
modos de combate ao novo coronavírus, mostrando a evolução no contágio das
equipes de saúde em razão da cultura da higienização inadequada das mãos, se
tornando um fator significativo para o aumento na contaminação dos funcionários
[23]. A utilização de máscaras minimiza a transmissão do aerossol, pois pode
conter a propagação de moléstias respiratórias, inclusive o novo coronavírus,
contudo, não garante proteção suficiente caso não esteja associada a
higienização correta das mãos [24].
O
presente estudo permitiu descrever vivências de uma amostra da equipe de
enfermagem que enfrentou a COVID-19. O cenário da pandemia é um marco na vida
de todos que vivenciaram a difícil experiência de um momento histórico no
mundo. Vem desafiando a todos profissionais da saúde, pela insegurança, pelas
evidências na escassez de materiais de proteção e pelos ambientes de saúde que
necessitam se adequar e se estruturar com o decorrer da evolução da doença no
mundo. A mudança na rotina de fato ocorreu, e certamente as pessoas terão novas
perspectivas após a pandemia.
Acredita-se
que este estudo possa contribuir para o entendimento da vivência da equipe de
enfermagem em uma pandemia sem precedentes, no âmbito dos desafios enfrentados,
mudanças de rotina e novas perspectivas pós-pandemia.
Conflitos
de interesse
Não há
conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Não houve
fonte de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Santos BA, Suave SN, Magaldi FM; Coleta de dados: Santos BA,
Suave SN, Magaldi FM; Análise e interpretação dos dados: Santos BA,
Suave SN, Magaldi FM, Rosado SR, Freitas MM; Redação do manuscrito: Santos
BA, Suave SN, Magaldi FM; Revisão crítica do manuscrito quanto ao
conteúdo intelectual importante: Santos BA, Suave SN, Magaldi FM,
Rosado SR, Freitas MM