Enferm
Bras 2021;20(6):750-63
ARTIGO ORIGINAL
Uso do blog como ferramenta de educação
em saúde para pais e familiares de crianças
Sara Rodrigues Rosado, D.Sc.*,
Adriana Gomes Mateus Leite**, Cibele Dias Evangelista Braga**, Claudirene Milagres Araújo, M.Sc.***,
Patrícia Eliza Miranda Dupim***, Samara Macedo
Cordeiro, D.Sc.****, Camille Graziele
da Silva Alves*****
*Enfermeira, Docente do Curso de
Enfermagem da Universidade São Judas Tadeu (USJT), São Paulo, SP, **Graduada em
Enfermagem pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH),
Belo Horizonte, MG, ***Enfermeira, Docente do Curso de Enfermagem do UniBH, Belo Horizonte, MG, ****Enfermeira, Docente do Curso
de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São
Paulo, SP, *****Enfermeira pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de
São Paulo, São Paulo, SP
Recebido em 19 de abril de 2021; Aceito
em 2 de novembro de 2021.
Correspondência: Sara Rodrigues Rosado, Rua Jaci, 90/72
Chácara Inglesa 04140-080 São Paulo SP
Sara Rodrigues Rosado:
sara.rrosado@hotmail.com
Adriana Gomes Mateus
Leite: adrianaleitemateus@gmail.com
Cibele Dias Evangelista
Braga: cibelediasev@hotmail.com
Claudirene Milagres Araújo:
claudirene.araujo@prof.unibh.br
Patrícia Eliza Miranda Dupim: patríciaelizamiranda@gmail.com
Samara Macedo Cordeiro:
samaramacedocordeiro@yahoo.com.br
Camille Graziele da Silva Alves: camille.grazz@gmail.com
Resumo
Objetivo: Descrever a experiência da elaboração
de um blog como ferramenta de comunicação em saúde para mães, pais e familiares
cuidadores de crianças no seu primeiro ano de vida. Métodos: Estudo
descritivo, do tipo relato de experiência sobre a elaboração de uma ferramenta
de educação em saúde online. Para sua elaboração e desenvolvimento, foram
contempladas sete etapas: diagnóstico situacional; revisão de literatura;
elaboração e construção do blog; validação de conteúdo; publicidade e
divulgação do blog; atualização das postagens e interação com os internautas;
análise das participações. Resultados: O blog foi dividido em postagens,
seguindo as temáticas sobre aleitamento materno, higiene, vacinação, introdução
de alimentos e etapas do desenvolvimento da criança. Conclusão: O blog
favorece o desenvolvimento de habilidades para os cuidados com o bebê por
contemplar informações com qualidade, ilustrações e linguagem simples, sanar
dúvidas através de fórum e promover autonomia dos pais nos cuidados do seu bebê.
Palavras-chave: blogs; criança; educação em saúde;
pais.
Abstract
Use of the blog
as a health education tool for children's parents and families
Objective:
Describe the experience of creating a blog as a health communication tool for
mothers, fathers and family caregivers of children in their first year of life.
Methods: This is a descriptive, experience-based study about the
development of an online health education tool. For its elaboration and
development, seven stages were contemplated: situational diagnosis; literature
review; elaboration and construction of the Blog; content validation;
advertising and dissemination of the blog; update of posts and interaction with
Internet users; analysis of participations. Results: The blog was
divided into posts following the themes of breastfeeding, hygiene, vaccination,
food introduction and stages of the development of the child. Conclusion:
The blog favors the development of abilities for the care of the baby for
contemplating information with quality, illustrations and simple language, to
solve doubts through forum, to promote autonomy of the parents in the care of
their baby.
Keywords:
blogs; child; health education; parents.
Resumen
Uso del blog
como herramienta de educación
para la salud para padres y
familias de niños
Objetivo: Describir la experiencia de crear un blog como herramienta de comunicación de salud para
madres, padres y cuidadores familiares de niños en su primer año
de vida. Métodos: Estudio descriptivo,
relato de experiencia sobre el desarrollo
de una herramienta de educación
en salud. Para su elaboración y desarrollo se contemplaron siete etapas: diagnóstico situacional; revisión
de literatura; elaboración y construcción
del blog; validación de contenido; publicidad y difusión de blogs; actualización
de publicaciones e interacción
con usuarios de Internet; análisis de participaciones. Resultados:
El blog se dividió en
posts, siguiendo los temas
de lactancia materna, higiene, vacunación,
introducción de alimentos y etapas del desarrollo infantil. Conclusión: El blog favorece el
desarrollo de habilidades para el
cuidado del bebé al brindar información
de calidad, ilustraciones y
lenguaje sencillo, resolviendo dudas a través de un foro y promoviendo la autonomía de los padres en el
cuidado de su bebé.
Palabras-clave: blogs; niño;
educación para la salud; padres.
Em meados do século XX, após a segunda
Guerra Mundial, a sociedade contemporânea passa por um processo de transição de
Sociedade Industrial para a era das transformações tecnológicas, com aumento
exponencial da produção e do uso de informações, bem como das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) [1].
A cada ano, o acesso à internet vem se
modificando, na medida em que os computadores vão perdendo espaço por contas de
suas versões e formatos. Em contrapartida, além de vantagens, como banda larga
móvel, o celular, de forma prática e versátil, vem ganhando cada vez mais
espaço e adeptos em diferentes faixas etárias, pois além de serem multitarefas,
são mais fáceis de manusear e possuem custo mais acessível à população [2]. Em
função disso, o brasileiro está cada vez mais conectado a redes sociais por
meio deste aparelho portátil e prático.
A partir desses levantamentos, cabe
ressaltar as novas demandas criadas e incorporadas no dia a dia da sociedade
para facilitar e maximizar o tempo, assim como a crescente demanda por
aplicativos relacionados à área da saúde. Abre-se um leque de possibilidades
para implementar ações de promoção, prevenção e cuidados a agravos a saúde.
Quando comparados os custos de recursos educacionais, esse tipo de tecnologia
móvel pode-se mostrar uma ferramenta bem útil, embora ainda seja preciso
avaliar seu custo-benefício x custo-eficiência a longo prazo [3].
Levando-se em conta as tendências da
vida moderna, procura-se, de maneira prática e inteligente, usar a internet
como ferramenta para acompanhar o crescimento e desenvolvimento do bebê. Assim,
por meio do blog, como um instrumento de comunicação, é possível orientar os
pais desde cuidados mais simples, como o banho, até fases do desenvolvimento da
criança, como o psicomotor.
O blog é uma página na Web,
caracterizada como recurso pedagógico e como estratégia educativa, que deve ser
atualizada frequentemente através de mensagens, “posts”, que se constituem por
textos e imagens [4]. Através do blog se torna possível interagir com os pais e
os familiares, utilizando uma diversidade de materiais e de informações
científicas para conhecimento e esclarecimento de possíveis dúvidas e
comportamentos, além de proporcionar uma assistência diária e sem a necessidade
de sair de casa.
Dessa
forma, compreende-se que a
temática escolhida se torna de extrema relevância,
principalmente no que se
refere às ações de saúde voltadas para a
promoção e a prevenção em saúde
materna infantil, sobre os cuidados durante a gestação e
a puericultura no
primeiro ano de desenvolvimento da criança.
Este estudo tem como objetivo descrever
a experiência da elaboração de uma ferramenta de comunicação em saúde, o blog,
para mães, pais e familiares cuidadores de crianças no seu primeiro ano de
vida.
Estudo
descritivo, do tipo relato de
experiência de acadêmicas de enfermagem sobre a
elaboração de uma ferramenta de
educação em saúde online (blog) sobre
promoção de saúde, prevenção de
agravos e
cuidados no primeiro ano de vida da criança.
O
blog nomeado “O primeiro ano do bebê”
foi desenvolvido por duas alunas do 5º período do curso de
Enfermagem de uma escola
privada de Belo Horizonte/MG, durante o ano de 2016, como parte do
Trabalho
Interdisciplinar de Graduação que abordou como tema
“O uso do blog como
ferramenta de comunicação na prevenção de
doenças e promoção da saúde”. A
divulgação alcançou duas
instituições de saúde de Belo Horizonte/MG, com
intuito de atrair o público-alvo: mães, pais,
familiares/cuidadores de crianças
no primeiro ano de vida.
Para determinar o público-alvo que se
planejava alcançar foram seguidas as seguintes etapas: identificação do
público-alvo: a quem as informações se destinam e os canais mais apropriados
para alcançá-las; determinação da mensagem; determinação do veículo: escolha do
melhor meio de comunicação, que neste caso se tratou da ferramenta blogger [5].
A ferramenta de pesquisa (blog) foi
elaborada na plataforma gratuita blogger e o seu processo de elaboração e
desenvolvimento contemplou as seguintes etapas:
1ª Etapa – diagnóstico situacional:
através da prática clínica das autoras e das demandas elencadas pelos pais da
criança durante a sala de espera da Unidade Básica de Saúde, observou-se a
necessidade da elaboração de material educativo para esse público.
2ª Etapa – foi realizada uma revisão de
literatura sobre a temática na Biblioteca Virtual Saúde em Saúde (BVS) e na Scientific Electronic
Library Online (Scielo),
utilizando os
descritores controlados e não controlados: “aleitamento
materno”,
“desenvolvimento do bebê”,
“imunização”, “puericultura” e
busca manual de
revistas sobre a temática e manuais do Ministério da
Saúde.
3ª Etapa – elaboração e construção da
página do blog, com o endereço eletrônico: oprimeiroanodobebe.blogspot.com.br e
do conteúdo das postagens – realizada de forma clara e objetiva, com conteúdo
fundamentado na literatura científica, apresentando linguagem acessível ao
público alvo, com layout e design conforme recomendações metodológicas [6].
4ª Etapa – validação de conteúdo: A
validação do conteúdo a ser postado no blog, foi realizado pelas docentes do
curso que possuem experiência clínica e em pesquisa com o público-alvo. Todos
os conteúdos foram avaliados e validados previamente.
5ª Etapa – publicidade e divulgação do
blog para população de estudo: foram confeccionados cartões de divulgação com
tamanho padrão ao cartão de visita e banners informativos divulgando o nome e o
endereço eletrônico do blog, divulgação oral na sala de espera da Unidade
Básica de Saúde e sala de vacinação das duas instituições de saúde de Belo
Horizonte/MG e pelo canal Youtube.
6ª Etapa – atualização das postagens bem
como a interação com os internautas através do fórum virtual.
7ª Etapa – análise da participação dos
internautas através de dados estatísticos coletados pela plataforma blogger.
No total, foram publicados 24 posts no
período de abril a junho de 2016. Participaram do fórum 3.806 internautas, com
13 mensagens postadas, sendo o maior público constituído por mães. O post com
maior interação virtual e visitação foi referente ao depoimento de uma das
integrantes do blog.
Linguagem, ilustrações, layout e design
A linguagem coloquial foi o tipo
utilizado para elaboração das postagens, com vocabulários coerentes sem uso de
termos científicos, favorecendo o entendimento de todos os internautas. Os
textos foram estruturados, atentando para qualidade e veracidade das
informações preconizadas pelo Ministério da Saúde, em acordo com manuais
vigentes. Mesmo que haja limitações de leitura do público-alvo, este pode
desfrutar também de vídeos elaborados, gravados e postados pelas pesquisadoras.
As ilustrações usadas enfatizam e
caracterizam os conteúdos das páginas, tornando as postagens mais atrativas e
agradáveis à visitação dos internautas [6]. Para o blog, foram selecionadas
ilustrações e fotografias retiradas do Google, com boa definição, qualidade e
devidamente referenciadas.
O Blog “O primeiro ano do bebê”
Na elaboração do conteúdo, o blog foi
dividido em postagens, seguindo as temáticas elencadas pelos criadores e
orientadora do projeto durante reuniões em sala de aula. Nessas postagens,
foram abordados temas sobre aleitamento materno (produção de leite e seu
fornecimento), higiene (tipos de banho, banho de balde e cuidados com o coto
umbilical), vacinação, introdução de alimentos e etapas do desenvolvimento da
criança.
A primeira postagem foi sobre a
apresentação das pesquisadoras criadoras do blog e orientadora, bem como os
objetivos do projeto. A postagem “Quem somos” foi iniciada com um emocionante
depoimento de uma das integrantes do blog, que, aos 19 anos de idade e 36
semanas de gestação, teve eclampsia, ficando entre a vida e a morte e,
consequentemente, com a perda do filho, reconstruiu todos seus projetos. Uma
História real, de angústias, medos e incertezas que aproximam os leitores e os
levam a fazerem uma inflexão dos próprios problemas através dessa vivência
trágica do cotidiano.
A segunda postagem do blog teve como
tema “Produção do aleitamento materno” (Figura 1) e preparação do organismo da
gestante. A terceira postagem abordou questões relacionadas a amamentação,
como: porque amamentar; colostro, preparação do ambiente; posicionamento do
bebê e da mãe (Figura 2); pega; ingurgitamento mamário, refluxos e cólicas;
mamilos doloridos; benefícios da amamentação para a mãe e o bebê; e duração das
mamadas.
São inúmeras as evidências sobre a
importância do aleitamento materno para o desenvolvimento do bebê e em relação
à diminuição da mortalidade infantil no Brasil por causas evitáveis [7]. Uma
pesquisa realizada em 2020 pelo ENANI – Estudo Nacional de Alimentação e
Nutrição Infantil avaliou os indicadores de aleitamento materno no Brasil e
comparou com outras pesquisas de representatividade nacional, trazendo um
panorama desses indicadores no decorrer de um período de 34 anos e sua
evolução. Concluiu-se que a prevalência do aleitamento materno exclusivo entre
crianças com idade inferior a 4 meses passou de 4,7% para 60,0% e prevalência
do aleitamento materno exclusivo entre os menores de 6 meses teve um aumento de
2,9% em 1986 para 45,7% em 2020 o que corresponde a um incremento de cerca de
1,2% ao ano [7]. São dados que colaboraram para a significativa redução da
mortalidade infantil no país, com a redução da taxa de óbito entre crianças
menores de 5 anos de 191.505, em 1990, para 51.226, em 2015 [8].
Fonte: Blog “O primeiro
ano do bebê”, 2018.
Figura 1 – Postagem “Produção do leite
materno” do blog “O primeiro ano do bebê”
O Aleitamento Materno Exclusivo (AME) do
ponto de vista nutricional é o mais adequado, por ser rico em nutrientes essenciais
para o desenvolvimento e crescimento infantil, devendo ser exclusivo até os
primeiros seis meses de vida e, após esse período, conjuntamente com a
alimentação complementar, sendo que a continuidade da amamentação, até os dois
anos de idade ou mais, é o mais recomendado [9].
Apesar de encararmos um momento de
crescimento nos índices do AME no país, ainda nos deparamos com um quadro heterogênico
em diferentes regiões do país. Em uma pesquisa nacional, realizada em 2008, foi
encontrada uma prevalência de 41% de AME em menores de seis meses no país, com predomínio
na região norte que apresentou maior prevalência dessa prática (45,9%), seguida
da região centro-oeste (45%), sul (43,9%) e sudeste (39,4%), enquanto a região
nordeste apresentou a pior situação (37%) [9].
Como reflexo desses dados sobre a AME,
destaca-se um estudo realizado com 50 duplas mãe/recém-nascido de uma
maternidade pública do estado de São Paulo, que identificou como os principais
problemas relacionados à amamentação: má posição, que dificulta a pega adequada
e causa traumas mamilares, e mamadas pouco eficientes, resultando no não
esvaziamento completo da mama, gerando baixa produção do leite e refletindo
negativamente no crescimento do bebê [10].
Os enfermeiros, dotados de qualificação
técnica e científica, exercem um papel fundamental diante dessa preocupante
realidade, pois esses profissionais são responsáveis por elencar intervenções
que busquem a melhoria desses indicadores, investindo seu tempo em educação e promoção
em saúde. Uma boa prática de amamentação baseada em informação qualificada,
além de uma rede de apoio sólida que inclui profissionais de saúde influencia
na duração da amamentação e favorece experiências positivas para a nutriz.
Fonte: Blog “O primeiro
ano do bebê”, 2018.
Figura 2 – Postagem “Amamentação: posição e
pega” do blog “O primeiro ano do bebê”
A quarta postagem abordou a temática
sobre refluxo gastroesofágico (RGE), que é caracterizado pelo retorno do
conteúdo do estômago para o esôfago e outras áreas, como a boca. De acordo com
Puccini e Berretin-Félix [11], o refluxo acomete
aproximadamente 25% dos bebês, sendo o segundo maior problema de afecções mais
prevalentes das doenças do trato digestivo. A irritabilidade e o choro excessivo
são motivos frequentes de consulta médica do lactente com menos de três meses.
É um evento comum nos primeiros meses de vida que, na maioria das vezes, não
causa sintomas graves e está ligada à regurgitação, também conhecida como
“golfada”.
Classificado como fisiológico, funcional
e patológico, o RGE mais comum entre lactentes é o fisiológico. No período
pós-prandial, o esfíncter do esôfago (válvula), que faz a passagem do leite
para o estômago, fica mais tempo relaxado, propiciando o retorno do alimento
que foi ingerido. A alimentação e a posição também influenciam no RGE e esse
tende a diminuir de acordo com o desenvolvimento da criança (maturidade
gastrointestinal) e a ingestão de alimentos sólidos [12].
No manejo do tratamento do RGE, o mais
importante é tranquilizar os pais quanto ao diagnóstico e ao tratamento,
devendo o profissional de saúde ter uma compreensão ampla do ambiente e
contexto familiar para as devidas orientações. Medidas simples, como elevação
da cabeceira do berço, posição do bebê em decúbito dorsal, colocar o bebê para
arrotar várias vezes durante a mamada, mantê-lo ereto cerca de 20 minutos e
evitar usar fraldas apertadas e elásticos que pressionem o estômago, podem
prevenir o RGE ou melhorar sua condição [12].
Conhecida há mais de um século, as
cólicas em lactentes foi tema da quinta postagem. As cólicas se referem à dor
espasmódica e abdominal aguda de início súbito, choro intenso, agudo, forte e
estridente. Com frequência, ocorrem acúmulo e eliminação de gases, quando o
alimento ingerido fica retido em algum ponto do intestino, não atingindo seu
destino como produto da digestão. A flora intestinal age sobre a lactose,
gerando os famosos gases. As partículas geradas destes gases, deslocam-se e se
chocam, fazendo pressão nas alças intestinais e alterando o peristaltismo, o
que irá provocar dor/cólicas [13].
Embora múltiplos fatores contribuam para
o surgimento da cólica em lactentes, os profissionais de saúde podem auxiliar
no cuidado direto e indireto do RN, transmitindo carinho e confiança, e
contribuindo para melhor interação entre mãe e filho. Atualmente, existem
vários estudos que comprovam a importância da dieta materna na redução de
cólicas nos recém-nascidos, pois acredita-se que produtos industrializados,
condimentados, derivados do leite de vaca, café e chocolate podem estar
diretamente relacionados ao aparecimento das cólicas [13].
A sexta postagem abordou a temática
sobre as etapas e tipos de banho, como preparar o banho, cuidados com o coto
umbilical e banho de “ofurô”. O banho se caracteriza como um momento importante
na vida do bebê e, antes de iniciá-lo, deve-se ter em mãos todo o material
necessário, como banheira, gaze, sabonete neutro, roupa, fralda limpa, toalha e
água morna (temperatura corporal) [14].
O banho deve ser rápido e a temperatura
ideal da água pode ser testada com o antebraço de um adulto na água. Além
disso, a quantidade de água depositada na banheira deve ser moderada e a
higienização deve ser iniciada pela face, pescoço, mãos e genitais. Ao término
do banho, deve-se enxugar o bebê com delicadeza, principalmente nas regiões de
pregas e na região perineal. A realização do curativo do coto umbilical deve
ser feita logo após o banho para prevenir infecções, favorecer a cicatrização e
sua mumificação [15].
O coto umbilical deve ser limpo e seco
diariamente, com uso de cotonete ou algodão e álcool 70%, em toda a volta do
coto, sempre da base para ponta. Imediatamente após a limpeza, pode-se observar
hiperemia transitória da pele, o que não apresenta risco de proliferação de micro-organismos.
É importante que se posicione o coto umbilical acima da fralda, de forma que o
local fique sempre seco [15].
A técnica do banho de ofurô (Figura 3)
foi desenvolvida por uma enfermeira obstetra em 1997 na Holanda, com finalidade
de relaxamento e analgesia, diminuindo os choros, as insônias e as cólicas.
Consiste na imersão do bebê em um balde com água aquecida (36,5 a 37°C), até a
altura dos ombros, em padrão flexor, simulando a sensação do útero materno
[14]. Além disso, o ambiente deve ser calmo, arejado e sem luminosidade
excessiva, e o procedimento pode ser realizado até o sexto mês de vida do bebê.
Fonte: Blog “O primeiro
ano do bebê”, 2018.
Figura 3 – Postagem sobre banho de ofurô ou
banho de balde do blog “O primeiro ano do bebê”
A sétima postagem abordou a triagem
neonatal, que é um programa de rastreamento que visa identificar distúrbios e
doenças no recém-nascido. Assim, esse post apresentou assuntos relevantes como
triagem auditiva (teste da orelhinha), reflexo do olho vermelho (teste do
olhinho), triagem cardíaca (teste do coraçãozinho), teste do frênulo lingual (teste da linguinha), dando ênfase ao teste
do pezinho.
O Teste do Pezinho (TP) faz parte do
Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) e possibilita diagnóstico sobre
seis patologias: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, fibrose cística,
hiperplasia adrenal congênita, deficiência de biotinidase
e hemoglobinopatias [16]. O teste é realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
nas unidades básica de saúde (UBS) entre o terceiro e quinto de vida do bebê. A
técnica de coleta consiste na punção da região plantar do calcanhar para
coletar gotas de sangue do bebê [17].
A oitava postagem abordou a imunização e
o calendário vacinal de zero a 12 meses, com a finalidade de orientar os pais e
cuidadores sobre as vacinas recomendadas por idade, bem como seus efeitos
adversos. A vacinação é um meio de proteção de suma importância e contribui
para a redução de doenças imunopreveníveis. Pensando
nisso, em 1973, o Ministério da Saúde lançou o Programa Nacional de Imunizações
(PNI), ofertando vacinas com objetivo de diminuir o número de hospitalizações e
reduzir a mortalidade infantil [17].
O calendário de imunização está
regulamentado pela Portaria nº 1.498, de 19 de julho de 2013 e destaca a
necessidade da administração das vacinas BCG, hepatite B, pentavalente,
poliomielite, rotavírus humano, meningocócica C, pneumocócica 10 valente,
tríplice viral, tetraviral e febre amarela no
primeiro ano de vida do bebê [17]. Os bebês que não estão em dia com o
calendário vacinal são mais propensos a adquirir enfermidades, podendo trazer
prejuízos à sua saúde, sequelas ou até mesmo o óbito.
A alimentação complementar foi o tema
elencado na nona postagem. A partir do sexto mês, cerca de 70% das necessidades
de ferro e zinco do lactente devem ser supridas por meio da alimentação
complementar. A alimentação adequada favorece o crescimento, desenvolvimento e
a inclusão de bons hábitos alimentares para a vida adulta, e sua deficiência
poderá acarretar o aparecimento de várias patologias como anemia, desnutrição,
obesidade e infecção [18].
A última postagem do blog falou sobre as
etapas do desenvolvimento de zero a 12 meses para orientar os pais e cuidadores
sobre desenvolvimento do bebê, de acordo com a idade e especialmente sobre suas
habilidades. O desenvolvimento infantil é parte fundamental do desenvolvimento
humano, principalmente no primeiro ano de vida, pois, nessa fase, são
estabelecidas as capacidades sensoriais iniciais, reflexos, habilidades
motoras, desenvolvimento motor, desenvolvimento cognitivo e linguagem [19].
Além disso, o desenvolvimento infantil
se dá à medida que o bebê vai crescendo e se desenvolvendo, de acordo com os
meios onde vive e os estímulos recebidos. Cabe aos pais e familiares esse
importante papel no desenvolvimento do bebê, estimulando-o e motivando-o em
cada etapa de vida. A identificação de problemas precocemente, tais como atraso
na fala, alterações relacionais, dificuldade no aprendizado e agressividade,
são fundamentais para uma intervenção bem sucedida e
um melhor prognóstico para essas crianças [19].
O blog favorece o desenvolvimento de
habilidades para os cuidados com o bebê, por contemplar informações com
qualidade, ilustrações, linguagem simples e possibilitar um ambiente seguro
para sanar dúvidas promovendo a autonomia dos pais nos cuidados do seu bebê.
Esta abordagem também pode beneficiar os
profissionais da saúde, pois oferece a oportunidade de reelaborar a sua forma
de práticar educação em saúde. Devemos considerar que
nos tempos atuais a sociedade constrói uma relação cada vez mais estreita com
as plataformas digitais e precisamos nos adaptar a este novo cenário repensando
formas de alcançar este público que cada vez mais busca online respostas para
suas dúvidas. A interação entre profissionais e pais de forma presencial deve
ser sempre valorizada, mas temos a oportunidade de atrelar mecanismos e
difundir informações seguras com embasamento científico por
ferramentas que geram interesse nesta geração como um blog.
O processo educativo realizado pelos
enfermeiros deve ser desenvolvido de forma continuada e cabe aos profissionais
procurar com afinco se familiarizar aos novos mecanismos tecnológicos que estão
ao nosso alcance e podem nos auxiliar neste processo
complexo de educação em saúde. O blog se mostrou uma estratégia facilitadora
para o aprofundamento de conhecimentos sobre os cuidados com o bebê pelos pais
e familiares, porque torna possível reforçar informações que foram passadas
durante a consulta de enfermagem e trazer respostas a dúvidas que possam surgir
no dia a dia.
Destaca-se, como limitação do estudo, a
possível falta de acessibilidade virtual de alguns pais, seja por desconhecer
ou por ter dificuldade de acesso à ferramenta, ao dispositivo eletrônico
(celular) e à internet.
Conflitos de interesse
Não há conflito de
interesse
Fonte de financiamento
Não há financiamento
(financiamento próprio dos autores)
Contribuição de cada
autor
Concepção do manuscrito: Leite AGM, Braga CDE; Coleta
de dados: Leite AGM, Braga CDE; Análise e interpretação dos dados: Rosado
SR; Redação do manuscrito: Leite AGM, Braga CDE, Rosado SR, Araújo CM, Dupim PEM, Cordeiro SM, Alves CGS; Validação do conteúdo
do blog: Araújo CM; Revisão final: Leite AGM, Braga CDE, Rosado SR, Araújo
CM, Dupim PEM, Cordeiro SM, Alves CGS