ARTIGO
ORIGINAL
Atividade
lúdica no processo educacional ao paciente estomizado
Nataly
da Silva Gonçalves*, Iago Vieira Gomes**, Fernanda Caroline Florêncio***, Ilana Brito Ferraz de Souza **** Solange Queiroga Serrano, D.Sc.*****
*Enfermeira,
Residente em Oncologia do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), Instituto de
Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), **Enfermeiro, Mestrando
em Enfermagem pela Universidade Estadual de Pernambuco (UPE) e Universidade
Estadual da Paraíba (UFPB), ***Enfermeira Especialista em urgência e
emergência/UTI, com Residência em Traumato-ortopedia
pelo Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco
(CAV/UFPE), ****Enfermeira com Residência em Enfermagem Cirúrgica, pelo Centro
Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco (CAV/UFPE),
*****Enfermeira, Professora Adjunta do Centro Acadêmico de Vitória da
Universidade Federal de Pernambuco (CAV/UFPE), Coordenadora Pedagógica do
Programa de Residência Uniprofissional de Enfermagem
do Hospital Getúlio Vargas (CAV/UFPE/HGV-SES) Vitória de Santo Antão, PE
Recebido
em 13 de junho de 2021; aceito em 26 de junho de 2021.
Correspondência: Nataly da
Silva Gonçalves, Avenida Doutor Carlito Didier Pita, Pitanga, 485, 55200-000
Pesqueira PE
Nataly da Silva Gonçalves:
natalys.goncalves@hotmail.com
Solange Queiroga Serrano: solange.queiroga@ufpe.br
Iago Vieira Gomes: iagovgomes@hotmail.com
Fernanda Caroline Florêncio:
fernandaflorencio.enf@gmail.com
Ilana Brito Ferraz de Souza:
ferrazilana@hotmail.com
Resumo
Introdução: A estomia
intestinal é um procedimento cirúrgico que liga o meio interno ao externo da
parede abdominal. Pacientes submetidos a esse procedimento necessitam de
orientações sobre sua nova condição de vida. Objetivo: Avaliar o
entendimento adquirido pelo paciente estomizado após
a aplicação de uma atividade lúdica como ferramenta de orientações de
enfermagem. Métodos: Trata-se de um estudo qualitativo, realizado na
clínica cirúrgica de um hospital público. Aplicou-se entrevista semiestruturada
aos participantes, para avaliar jogo educacional com orientações de enfermagem
ao paciente estomizado. Resultados: Dos sete
pacientes inclusos, quatro eram do sexo masculino, com faixa etária de 22 a 49
anos. Dos depoimentos analisados surgiram três classes temáticas: Conhecimento
do paciente sobre estomia; Aprendizagem vinculada ao
jogo educativo e Dificuldades apresentadas pelos pacientes estomizados,
na aplicação do jogo educacional. As orientações em saúde por intermédio da
atividade lúdica, é uma fonte enriquecedora que incentiva o autocuidado de
maneira adequada aos pacientes com estoma intestinal. A atividade lúdica
forneceu orientações ao paciente para os cuidados com seu estoma intestinal no
intuído de prevenir complicações. Conclusão: As orientações da
enfermagem fornecidas por intermédio da atividade lúdica podem ser
caracterizadas como uma ferramenta efetiva no estímulo do autocuidado a
paciente estomizados.
Palavras-chave: estomia;
educação em saúde; cuidados de enfermagem.
Abstract
Fun activity in the educational
process for the stomized patient
Introduction: Intestinal
ostomy is a surgical procedure that connects the internal to the external
environment of the abdominal wall. Patients who undergo this procedure need
guidance about their new life condition. Objective: To assess the
understanding acquired by the ostomy patient after applying a playful activity
as a tool for nursing guidance. Methods: This is a qualitative study, carried
out in the surgical clinic of a public hospital. A semi-structured interview
was applied to the participants to evaluate an educational game with nursing
guidelines for the ostomy patient. Results: Seven patients were
included, four were male, aged between 22 and 49 years. From the analyzed
testimonies, three thematic classes emerged: Patient's knowledge about ostomy;
Learning linked to the educational game and Difficulties presented by ostomy
patients in the application of the educational game. Results: Health
guidance through play activities is an enriching source that encourages proper
self-care for patients with intestinal stoma. The playful activity provided
guidelines for the patient to take care of their intestinal stoma to prevent
complications. Conclusion: The nursing guidelines provided through the
playful activity can be characterized as an effective tool in stimulating
self-care for ostomized patients.
Keywords: ostomy; health education; nursing
care.
Resumen
Actividad lúdica en el proceso educativo del paciente con estoma
Introducción: La ostomía intestinal es un procedimiento quirúrgico que conecta el
ambiente interno con el
externo de la pared
abdominal. Los pacientes que se someten a este procedimiento necesitan orientación sobre su nueva condición de vida. Objetivo:
Evaluar la comprensión adquirida por el
paciente con estoma después
de implementación de una actividad
lúdica como herramienta de orientación
de enfermería. Métodos: Se trata de un estudio cualitativo,
realizado en la clínica quirúrgica de un hospital
público. Se aplicó una entrevista semiestructurada
a los participantes para evaluar
un juego educativo con pautas de enfermería para el paciente ostomizado. Resultados: De los siete pacientes incluidos, cuatro eran varones, con
edades comprendidas entre los 22 y los 49 años. De los testimonios
analizados surgieron tres clases temáticas: Conocimiento del paciente sobre ostomía; Aprendizajes vinculados
al juego educativo y Dificultades
que presentan los pacientes
ostomizados en la aplicación del juego educativo. Resultados: La orientación
en salud a través de actividades lúdicas es una fuente enriquecedora que fomenta el
cuidado personal adecuado
de los pacientes con estoma
intestinal. La actividad lúdica brindó
pautas para que el paciente cuidara su estoma intestinal con el fin de prevenir complicaciones. Conclusión:
Las orientaciones de enfermería proporcionadas a través de la
actividad lúdica se pueden
caracterizar como una herramienta eficaz para
estimular el autocuidado de los
pacientes ostomizados.
Palabras-clave: estoma; educación
para la salud; cuidados de enfermería.
A estomia é um procedimento
cirúrgico que tem como finalidade a confecção de um orifício, que liga o meio
interno e externo da parede abdominal. Os indivíduos submetidos a esse
procedimento sofrem um grande impacto fisiológico, social e emocional, em
decorrência da mudança no estilo de vida, e da perda da sua capacidade do
controle digestivo [1].
Estes pacientes necessitam de informações quanto ao
autocuidado perante a sua nova condição de vida. A atividade lúdica é
caracterizada como um meio efetivo, que incentiva o indivíduo a compreender o
seu processo de saúde e adoecimento, de modo dinâmico e resolutivo. O ensino ao
cliente cirúrgico se dá por meio do desenvolvimento das suas habilidades técnicas
e cognitivas, e possibilita que seja capaz de se autocuidar
e se adequar ao seu novo estilo de vida [2].
A atividade lúdica é um dos presumíveis mediadores do
sistema de ensino e aprendizagem ao paciente, no qual a sua metodologia
apresenta os parâmetros necessários para despertar a atenção e a curiosidade de
forma intencional nos indivíduos que buscam compreender a sua patologia. A
equipe de enfermagem deve atuar como facilitadora desse processo educativo ao
incentivar a relatar os seus receios e dificuldades com relação ao estoma
digestivo [2].
A Teoria do Autocuidado de Dorothea Orem tem como
finalidade a construção do conhecimento, baseada em uma metodologia filosófica,
que tem como característica a subdivisão em autocuidar,
déficit do autocuidado e sistemas de enfermagem. O autocuidar
faz referência as ações executadas pelo próprio sujeito, o paciente é capaz de
realizar todas as suas atividades sem necessitar de auxílio, divergindo-se do
déficit do autocuidado, que é descrito como uma pequena limitação, que
impossibilita que o indivíduo consiga realizar todas as suas atividades sem
ajuda [1].
Os cuidados com a estomia
digestiva vão desde sua limpeza até precauções dietéticas, pois seu manuseio
inadequado pode resultar em agravos sistêmicos e locais, e colocar em risco o
bem-estar e a saúde do indivíduo. A maioria das informações referentes ao
estoma são prestadas pelo enfermeiro durante a estadia do cliente na unidade
hospitalar, portanto, esse profissional não será só responsável por prestar uma
assistência de qualidade, mas por educar e orientar o paciente estomizado [3].
O pós-operatório é marcado por momentos de dúvidas e
receios quanto a melhor forma de higienizar o estoma; do procedimento para
troca da bolsa coletora e sobre as restrições alimentares. A maioria enxerga a
bolsa como um dispositivo estranho que modifica o seu estado fisiológico e
resulta em danos ao seu meio estético. Tal fato infringe o que a sociedade dita
como “normal”, que resulta em baixa autoestima, isolamento social e perda da
motivação em realizar as atividades que antes eram prazerosas [3].
A ausência de conhecimento específico na realização dos
cuidados com a ostomia, gera complicações ao paciente [4]. Diante do exposto,
ressalta-se a importância da educação em saúde como ferramenta preventiva, mas
gerou o questionamento das autoras se a atividade lúdica é capaz de aperfeiçoar
o nível de instrução dos estomizados?
O estudo tem como objetivo avaliar o entendimento adquirido
pelo paciente estomizado após a aplicação de um jogo
de cartas, como ferramenta de orientações de enfermagem.
Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, de
abordagem qualitativa, realizado na clínica cirúrgica de um hospital público da
cidade do Recife, Pernambuco, no período de fevereiro a dezembro de 2020. A
população do estudo foi constituída por sete pacientes, cuja idade variou entre
22 e 49 anos, residentes da capital e do interior do estado. Os critérios de
inclusão foram pacientes de até 50 anos, de ambos os sexos, com estomas
digestivos de eliminação e que estivessem internados na clínica cirúrgica.
Foram excluídos analfabetos, que não apresentavam um bom discernimento
cognitivo, e que não era capazes de realizar o seu próprio cuidado.
A amostra foi constituída de maneira intencional, com o seu
término baseado na saturação amostral, que se dá a partir do momento em que há
uma repetição nas falas [5]. O anonimato dos pacientes foi respeitado,
utilizando a letra E seguido de números consecutivos, de acordo com a ordem da
coleta. Foi aplicada uma atividade educativa, com o intuito de orientar o
paciente nos cuidados a estomia intestinal, que
consistiu em um jogo de cartas para possibilitar a aprendizagem do paciente por
meio de perguntas indagadoras, que questionou o sujeito sobre sua forma correta
de manuseio e manutenção.
O jogo educativo foi elaborado pelos pesquisadores, que
inclui especialistas na área cirúrgica, e ele possuía 30 cartas, estilo
baralho, que foram divididas em três grupos. O primeiro recebeu o nome de
indagador, por conter cartas indagadoras, que apresentavam questionamentos com
relação ao estoma digestivo. O segundo, nomeado de sorte, incluía respostas
corretas das mensagens indagadoras. Por fim, o último grupo, intitulado de
inexato, continham as fichas que apresentavam argumentação errônea em relação
ao questionamento da mensagem escrita.
Para cada peça indagadora que foi apresentada ao paciente,
uma mensagem de sorte e uma inexata foram ofertadas, ficando a seu critério a
escolha da carta que melhor se adequava às perguntas. Imediatamente após o
jogo, foi realizada a avaliação da atividade lúdica, por intermédio de uma
entrevista semiestruturada, realizada em um ambiente arejado, reservado e
tranquilo, gravada em aparelho digital, de acordo com as seguintes questões: 1)
O que você entende sobre estomia?; 2) As informações obtidas no jogo serviram para o seu
melhor entendimento? 3) O jogo facilitou o seu entendimento, quanto aos
cuidados que se deve ter com o estoma intestinal?
Os depoimentos foram transcritos na íntegra, no mesmo dia
da realização da entrevista para diminuir um possível viés de recordação. Todas
as informações coletadas em relação à interpretação da pesquisa foram
correlacionadas ao referencial teórico de Dorothea Orem e ao objetivo do
estudo. Em seguida, avaliou-se pela análise de conteúdo na modalidade temática
transversal [6].
A pesquisa atendeu às exigências da Resolução no 466/2012,
do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sob o parecer de nº
3.985.201.
Dos sete pacientes que participaram da
pesquisa, quatro eram do sexo masculino (57,14%); todos de nacionalidade
brasileira, com faixa etária entre 22 e 49 anos; seis eram pardos (85,71%) e um
branco de acordo com autodeclaração de cor/raça; dois casados, três em união
estável e dois solteiros.
Após o depoimento obtido por intermédio da entrevista,
surgiram três classes temáticas: 1) Conhecimento do paciente sobre estomia; 2) Aprendizagem vinculada ao jogo educativo e 3)
Dificuldades encontradas pelos pacientes, durante a realização do jogo de
cartas.
Conhecimento
do paciente sobre a estomia
Essa categoria representou o conhecimento que foi adquirido
pelo paciente, na qual foi possível identificar que, após a aplicação do jogo
de cartas, o paciente conseguiu compreender o que seria um estoma. O estoma
intestinal é destacado pelos pacientes como a protusão intestinal para fora do
abdome que liga o meio interno e externo da parede abdominal.
O
que eu consegui entender é quando o intestino fica entre a parte interna e
externa da barriga {dúvida}(E1).
É
quando se coloca o intestino para fora e fica essa parte rosa aqui fora, dentro
do saco (E2).
É
quando se coloca o intestino para fora e fica essa parte rosa aqui fora, dentro
do saco (E3).
É
essa cirurgia que eu fiz onde o intestino fica na bolsa, isso daqui né (E5).
Que
na mente eu não estava entendendo nada. Aprendi hoje com a senhora (E7).
Aprendizagem
vinculada ao jogo educativo
Essa classe representou as vantagens que foram obtidas após
a aplicação do jogo. Quando questionados sobre os benefícios que o jogo
educativo foi capaz de proporcionar, identificou-se nas falas que antes da
aplicação do jogo havia uma ausência de conhecimento acerca de fatores
nutricionais e alimentares.
Ele
(jogo) me proporcionou, principalmente, as comidas (conhecimento) porque eu
comia umas e outras, mas com medo. Eu não sabia o que era bom para mim e o que
não era, e agora sei (E7).
Foi
bom. Ninguém tinha me ensinado nada, e quando eu comer, aqui tem alho?
{ansiosa} (E5).
Nesta casuística, alguns participantes demostraram a
importância da educação em saúde como ferramenta de orientação e estímulo no autocuidar, de acordo com suas falas:
Foi
bom; eu aprendi a cuidar da minha cirurgia e conheci esse saco. Eu não tinha
tocado nele assim, sem está colado na minha barriga (E3).
Aprender
a usar, a colocar, limpar (E6).
No relato de um paciente foi possível identificar a omissão
perante as orientações em saúde que devem ser fornecidas ao paciente que foi
submetido a colocação de estoma intestinal.
Pelo
que eu consegui entender... eu consegui aprender, pois aqui eles não dão muita
informação; não explicaram quase nada sobre isso (E1).
Dificuldades
encontradas na atividade lúdica
Esta categoria temática representou as dificuldades que os
pacientes tiveram para compreender a atividade lúdica que foi aplicada. De
acordo com um paciente, a dificuldade esteve associada à incompreensão da
linguagem utilizada, referindo que:
Tem
palavra que eu não entendi (E2).
Todavia, a maioria dos pacientes mostrou-se satisfeita com
o conteúdo abordado, e alegaram que, após a aplicação do jogo, algumas dúvidas
foram esclarecidas, e que o assunto em questão foi aplicado com clareza.
Olhe,
pelo que me passou e pelo que aprendi, eu não tive muita dificuldade, não; deu
para aprender tranquilamente (E1).
Nenhuma,
foi tudo bem claro; a senhora soube explicar muito bem (E7).
Não
tive, mas era bom levar para casa, o jogo, para lembrar (E4).
Não
tive nenhuma dificuldade. Foi bom; eu aprendi a mexer no saco, porque eu estava
com medo de dá um negócio aqui, mas ele pode ficar mais dias .... (E3).
O estoma intestinal é um procedimento cirúrgico que
necessita do preparo do paciente, para que ele consiga se adequar a sua nova
circunstância de vida. A ausência do conhecimento sobre a forma correta de
manuseio, resulta em erros, que pode pôr em risco o bem-estar do indivíduo. A
forma como o profissional lida com as situações e a sobrecarga de funções
diárias podem ser fatores que estimulam a omissão de algumas orientações
importantes para o processo de construção do seu conhecimento [1].
Na primeira casuística observou-se que após a aplicação do
jogo educativo, os pacientes obtiveram o entendimento de que o estoma consiste
na exteriorização da alça intestinal, logo, na pesquisa clínica, realizada por
Silva, 87,50% dos participantes não sabiam o que era um estoma intestinal,
mesmo após a realização do procedimento cirúrgico e a confecção do mesmo,
ressaltando a ausência de informações durante o pré e
pós-operatório do paciente [7].
A atividade lúdica é algo inovador, que vem sendo utilizado
na educação em saúde como uma ferramenta que facilita a aprendizagem e o
conhecimento do paciente acerca de um determinado assunto. Educar os pacientes estomizados é um processo que demanda tempo, recursos
humanos e financeiros ao estabelecimento de saúde. O domínio do assunto por
parte do cliente é um fator que será construído mediante a coleta de
informações, e o entendimento do sujeito perante a sua nova condição de vida
[8].
Em um relato citado pelo entrevistado E7, na categoria
aprendizagem vinculada ao jogo educativo, pode-se identificar a falta de
orientação perante a sua nova condição de vida e as mudanças nutricionais,
físicas, fisiológicas e psicológicas que iriam ocorrer após a realização do
estoma intestinal, o que não diverge muito do estudo realizado por Silva, no
qual foi possível observar que 93,7% dos pacientes que realizaram o estoma
intestinal não receberam orientações em saúde sobre a sua nova condição de
vida, e os cuidados e limitações imposta por ela [7]. O enfermeiro pode instruí-lo
e dialogar a respeito do seu processo de aceitação, sexualidade, prevenção de
complicações, nutrição, espiritualidade e questões sociais, de modo a
esclarecer dúvidas e facilitar o processo de adesão ao tratamento [8].
O receio sobre os alimentos que podem ou não ser consumidos
pelo estomizado foi alvo de incertezas e
questionamentos durante a aplicação do jogo e na entrevista. Alguns são mais
indicados que outros quando se trata da prevenção de possíveis complicações
intestinais, como alho, ovo, feijão, crustáceos e frutos do mar, que podem
resultar na formação de gases e constranger o paciente, que, muitas vezes,
preferem parar de se alimentar em público. A quantidade das comidas também pode
interferir no funcionamento intestinal e no aspecto das fezes [1].
Os pacientes com estomas intestinais conseguem levar uma
vida normal, porém, deve-se ter alguns cuidados em relação a alimentos que
podem acarretar problemas intestinais, como diarreia, constipação e gases, os
quais podem ocasionar um desconforto ao paciente. A perda de peso é uma
situação bastante comum, por isso a busca por um nutricionista que adeque o
estado nutricional desse paciente deve ser considerado um fator primordial no
tratamento [11].
Abrangendo ainda a segunda categoria, foi possível
identificar, na fala dos entrevistados, o quanto é importante o conhecimento do
paciente sobre o seu próprio corpo humano, e como isso interfere no autocuidar e na prevenção de complicações na região do
estoma, complicações essas que podem ser descritas por queimaduras ocasionadas
pelo extravasamento do conteúdo intestinal, além de outros possíveis danos
decorrentes do manuseio inadequado do estoma.
Outro estudo também relata a importância de meios
inovadores e tecnológicos, para desenvolver o autocuidar
e fornecer orientações em saúde ao paciente estomizado,
auxiliando o paciente no seu processo de saúde e adoecimento, por meio de uma
metodologia dinâmica e interativa de aprendizagem [9].
Considera-se a teoria de Orem, ao
ser aplicada ao paciente estomizado, como uma
ferramenta facilitadora do processo de enfermagem ao se levar em consideração
que abrange ações resultantes de um planejamento, baseado na possibilidade do
indivíduo atingir o nível máximo de autocuidar, para
se tornar independente perante as suas eventuais modificações de vida [1].
É função do profissional de enfermagem identificar os
momentos de fragilidade, que, por muitas vezes, podem interferir e dificultar a
percepção do sujeito sobre a forma apropriada de se autocuidar.
A educação em saúde é um método em que deve submergir todos os conceitos
necessários, para que o paciente consiga alcançar seus objetivos, com relação
ao desempenho do cuidar [10].
O contato físico com a bolsa coletora também foi um fator
que despertou a curiosidade do entrevistado E3 e E6. Durante a aplicação do
jogo, orientações sobre como manusear e limpar a bolsa coletora corretamente
foram fornecidas, explicando a importância do uso da técnica correta para
prevenir possível danos a pele e ao intestino do paciente. Em um estudo
realizado por Carvalho é possível ver a importância do conhecimento sobre os
artigos médicos e a técnica correta de manuseá-lo, para a prevenção de danos ao
estoma e a pele perístoma [12]. Já nas pesquisas de Silva, quando os pacientes
foram questionados sobre estarem cientes a respeito dos danos decorrentes do
manejo inadequado do estoma, apenas 18,7% dos entrevistados disseram que
estavam cientes dos danos que podem ocorrer ao executar as técnicas do autocuidar de forma inadequada [7].
A equipe de enfermagem deve ficar atenta as necessidades
físicas e psicológicas desses pacientes. Alguns fatores devem ser abordados
pelo profissional, como a forma correta da fixação da bolsa, seu relacionamento
interpessoal incluindo as relações sexuais, tempo de permanência da colostomia,
alimentação, técnicas preventivas e cuidados com a mucosa do estoma. Caso o
enfermeiro identifique a necessidade de um acompanhamento psicológico, o
paciente deverá ser encaminhado para um atendimento especializado [13].
Neste estudo foi possível identificar a omissão de
informações quanto ao estímulo para o autocuidado do paciente pelos
profissionais de saúde antes ou após o procedimento. Na omissão do direito de
saber sobre seu próprio processo de adoecimento e as circunstâncias clínicas,
pode haver prejuízo no entendimento e no desempenho do autocuidado. Para
reverter esta situação, faz-se necessário que seja orientado sobre o que deve e
como deve ser feito em relação aos cuidados com o estoma [12].
Em um estudo realizado por Carvalho, é possível identificar
as dificuldades vivenciadas pelos pacientes e profissionais de saúde, após a
realização do estoma intestinal, devido a falta de
conhecimento acerca do assunto, bem como do processo de adequação a bolsa e o
manuseio do estoma. Observou-se que os profissionais participantes desse estudo
passavam informações erradas ou desconheciam os cuidados com o estoma [7],
corroborando a presente pesquisa, já que a ausência de informações foi algo
presente na fala dos entrevistados.
Muitos pacientes se sentem incapazes de cuidar do seu
estoma intestinal, porém a necessidade do desenvolvimento da sua capacidade
técnica e cognitiva desperta nesse indivíduo a preocupação e a curiosidade de
executar corretamente o autocuidado. Para facilitar o processo de adesão, cabe
ao enfermeiro, promover uma atividade prática e dinâmica, que facilite o
entendimento e tranquilize o paciente e a sua rede sociofamiliar sobre o
procedimento cirúrgico. As orientações de enfermagem se constituem como uma
ferramenta potencializadora para a prevenção de complicações e a assimilação do
paciente a respeito da estomia [14].
Quando questionados sobre as dificuldades que foram
encontradas durante a realização do jogo, é possível ver o quanto os fatores
culturais e o nível de escolaridade do paciente podem vir a interferir na
aprendizagem e interpretação da atividade lúdica aplicada. O não conhecimento
da anatomia humana básica e a utilização de apelidos que são atribuídos ao
corpo humano contribuem para um pensamento limitado, que pode impedir a
explanação do assunto.
O paciente deve ser orientado sobre a forma correta de
manusear a bolsa coletora presente no estoma, sobre o seu tempo de duração e
como deve ser feito o seu posicionamento e a limpeza. A decisão das condutas
que serão adotadas durante a realização do autocuidado deve partir da união das
experiências profissionais e das necessidades do paciente. A comunicação
deve-se fazer presente, em todo o momento da assistência, e o paciente não deve
ser visto apenas como um ouvinte, mas como uma pessoa que pode contribuir para
o bom desenvolvimento dos procedimentos adotados [15].
O estudo apresentou algumas limitações, segundo o relato de
um entrevistado, a linguagem do texto descrito nas cartas, forma de difícil
compreensão, dificultando o entendimento do paciente sobre a estomia intestinal. O quantitativo baixo de pacientes com o
estoma intestinal, que se encontraram internos no setor de referência, também
foi um fator limitante da pesquisa.
A oferta de cartilha educativa é algo que pode favorecer a
melhor compreensão do paciente e ser utilizado como um guia nesse processo
educativo. A atividade lúdica imposta associada a uma ferramenta escrita e com
gravuras pode diminuir os vieses de recordação, conforme relatado por um
paciente da necessidade de se ter um guia para ser levado para casa. Portanto,
o presente jogo de cartas, apresentado como método de estímulo ao autocuidar, traz assuntos que irão fazer parte do cotidiano
dos pacientes com estomas intestinais, demostrando aos pacientes como interagir
da forma correta com o seu corpo.
A atividade lúdica aplicada neste estudo foi capaz de
fornecer orientações importantes e contribuir na melhoria dos cuidados com o
estoma intestinal. O atendimento ao paciente estomizado
deve ser estabelecido por meio do desenvolvimento de estratégias em saúde, que
englobem um planejamento terapêutico sistematizado e eficaz.
Os pacientes com estomas intestinais necessitam de
orientações sobre a forma correta de se autocuidar. A
atividade lúdica aplicada se mostrou uma ferramenta apta e facilitadora do
processo de aprendizagem e compreensão do paciente, que ressalta a importância
que o autocuidado pode trazer não só para o estado físico do paciente, mas
também para o seu psicológico.
Foi possível observar que a ausência de informações em
saúde é algo que se encontra presente no dia a dia hospitalar, de modo que a
carência de orientações que deveriam ser oferecidas ao paciente estomizado é uma circunstância agravante do seu estado
clínico, que pode repercutir em complicações sistêmicas e locais, colocando em
risco o seu bem-estar físico e metal.