Enferm
Bras 2021;20(6):764-82
ARTIGO ORIGINAL
Prevenção quaternária: percepções,
possibilidades e desafios na atenção primária à saúde
Aline Lemes de Souza*, Carine Vendruscolo,
D.Sc.**, Denise Antunes de Azambuja Zocche, D.Sc.**, Rosana Amora
Ascari, D.Sc.**, Karina Schopf***,
Bruna Pedroso Oliveira****
*Enfermeira, Estudante do Mestrado
Profissional em Enfermagem na Atenção Primária à Saúde pela Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC), campus de Chapecó, SC, **Enfermeira, Docente
do Departamento de Enfermagem e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), campus de Chapecó, SC,
***Enfermeira, Estudante do Mestrado Profissional em Enfermagem na Atenção
Primária à Saúde pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), campus
de Chapecó, SC, ****Estudante do curso de graduação em Enfermagem pela
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), campus de Chapecó, SC
Recebido em 15 de junho de 2021; aceito em 17 de dezembro
de 2021.
Correspondência: Aline Lemes de Souza, Rua Agostinho Onghero, 765 Centro 89855-000 Chapecó SC
Aline Lemes de Souza:
alinedbeth@hotmail.com
Carine
Vendruscolo: carine.vendruscolo@udesc.br
Denise Antunes de
Azambuja Zocche: denise.zocche@udesc.br
Rosana Amora Ascari:
rosana.ascari@udesc.br
Karina
Schopf: karinaschopf70@gmail.com
Bruna Pedroso Oliveira:
brunapedrosoliveira@gmail.com
Resumo
Introdução:
A prevenção quaternária tem se
demonstrado fundamental nos serviços de saúde,
principalmente na atenção
primária à saúde. O intento da
prevenção quaternária é proteger
indivíduos de
ações nocivas, desnecessárias. Assim,
consequentemente, estimula os
profissionais de saúde a repensar sobre as condutas empregadas
durante o
cuidado clínico, instigando no seu exercício
profissional, possibilidades para
a proteção das pessoas. Objetivo: Analisar as percepções, possibilidades
e desafios dos profissionais das equipes da atenção primária para o
desenvolvimento da prevenção quaternária. Métodos: Estudo de abordagem
qualitativa, do tipo pesquisa-ação, cujo cenário foi a atenção primária de um
município de pequeno porte localizado no Extremo Oeste de Santa Catarina. A
produção das informações aconteceu em setembro de 2020, através de encontro
dialógico remoto em plataforma digital. Foram selecionados para a amostra nove
integrantes de uma equipe multiprofissional. O tratamento das informações
seguiu as etapas da análise temática de conteúdo. Resultados: Os
profissionais de saúde reconhecem o conceito e a importância da prevenção
quaternária. A cultura dos profissionais e usuários sobre valorização de
práticas intervencionistas foi evidenciada como um dos desafios para a
aplicabilidade da prevenção quaternária. Por isso, consideram crucial a sua
incorporação no cotidiano de prática, sendo a educação permanente em saúde uma
estratégia para a transformação dessa cultura. Conclusão: Faz-se
necessária a inserção de práticas menos invasivas e que preservem a autonomia
dos indivíduos em relação à sua saúde, garantindo a qualidade nos serviços.
Nesse sentido, a prevenção quaternária precisa ser discutida e valorizada pelos
profissionais.
Palavras-chave: prevenção quaternária; medicalização;
atenção primária à saúde; medicina de família e comunidade; terapias
complementares.
Abstract
Quaternary
prevention: perceptions, possibilities and challenges in primary health care
Introduction: The
quaternary prevention is fundamental in the health services, mainly in the
primary health care. The objective of quaternary prevention is to protect
individuals from harmful and unnecessary actions. Thus, consequently, it
encourages health professionals to rethink the behaviors used during clinical
care, instigating possibilities for the protection of people in their
professional practice. Objective: Analyzing the perceptions,
possibilities and challenges of the primary health care professionals to the
development of the quaternary prevention. Methods: Study of qualitative
approach, of the research-action type, whose scenery was the primary care of a
small municipality located in the far west of Santa Catarina. The production of
information happened on September 2020, through dialogical and remote meeting
in a digital platform. Nine members of a multidisciplinary team were selected
for the sample. The information treatment followed the stages of the thematic
analysis of content. Results: The health professionals recognize the
concept and importance of quaternary prevention. The culture of professionals
and users about valuing interventionist practices was highlighted as one of the
challenges for the applicability of quaternary prevention. That is why they
consider crucial its incorporation in the daily practice, being the permanent
education in health a strategy to the transformation of this culture. Conclusion:
The insertion of less invasive practices is necessary, preserving the
individual autonomy in relation to his health, ensuring the quality on the
services. In this sense, the quaternary prevention needs to be discussed and
valued by the professionals.
Keywords:
quaternary prevention; medicalization; primary health care; family practice;
complementary therapies.
Resumen
Prevención cuaternaria:
percepciones, posibilidades y desafíos
en atención primaria de salud
Introducción: La prevención
cuaternaria ha sido mostrado un
concepto fundamental en los
servicios de salud,
especialmente en la atención primaria. La intención
de la prevención cuaternaria es proteger a las
personas de acciones dañinas
e innecesarias. Así, en consecuencia, incentiva a los profesionales de la salud a repensar los comportamientos utilizados
durante la atención
clínica, instigando posibilidades para la protección de las personas en su práctica profesional.
Objetivo: Analizar las
percepciones, posibilidades y retos de los profesionales que trabajan en los
equipos de atención primaria para el
desarrollo de la prevención cuaternaria. Métodos:
Estudio con enfoque cualitativo tipo investigación-acción,
cuyo ámbito fue la atención
primaria de un pequeño municipio ubicado en el Extremo Oeste de Santa
Catarina. La producción de información
sucedió en septiembre de 2020, a través de una reunión
dialógica remota en una plataforma digital. Para la muestra se seleccionaron
nueve miembros de un equipo multidisciplinario. El procesamiento de la información siguió los pasos del
análisis de contenido
temático. Resultados: Los profesionales de la salud reconocen
el concepto y la importancia de la prevención cuaternaria. La
cultura de los profesionales
y usuarios sobre la valoración de las prácticas intervencionistas, se destacó
como uno de los desafíos
para la aplicabilidad de la prevención cuaternaria.
Por eso, que se considera crucial su
incorporación a la práctica diaria, siendo la educación
permanente en salud una estrategia para la transformación de esta cultura. Conclusión:
Es necesario incluir prácticas
menos invasivas que preserven la
autonomía de las personas en relación a su
salud, asegurando la calidad de los
servicios. En este sentido la prevención cuaternaria
necesita ser discutida y valorada por los profesionales.
Palabras-clave: prevención cuaternaria;
medicalización; atención
primaria de salud; medicina familiar y comunitaria; terapias complementarias.
Na
Atenção Primária à Saúde (APS) o
cuidado que garanta a integralidade é primordial. Esse cuidado
acontece por
meio do planejamento e desenvolvimento de ações das
equipes de Estratégia Saúde
da Família (ESF), envolvendo a participação dos
profissionais que realizam
ações clínicas e prescrições. Tais
profissionais, também, são responsáveis
pelas principais estratégias promotoras da saúde,
detecção precoce e rastreio
de doenças, redução dos riscos ao resolver
problemas relacionados a saúde e
oferta de serviços para garantir o acompanhamento de baixo
risco, assim como o
tratamento e a reabilitação [1].
O planejamento das ações deve garantir a
qualidade de vida da população e ser fundamentado nos princípios e diretrizes
do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse sentido, vale lembrar, ainda, os
atributos essenciais da APS, como: serviço de primeiro contato como porta de
entrada; longitudinalidade; abrangência ou
integralidade; coordenação/organização do cuidado; orientação comunitária;
centralidade familiar, respeitando as crenças e culturas individuais e
coletivas [2].
Na ESF, o trabalho interdisciplinar
facilita a descentralização do cuidado, ajustando-o para formas mais integrais
e resolutivas. Ainda, o trabalho das equipes de saúde e das Redes de Atenção à
Saúde (RAS) influencia na situação de saúde de maneira individual e coletiva
[3,4]. Conforme a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), faz parte do
processo de trabalho dos profissionais de APS o planejamento e execução de
ações preventivas, considerando a utilização de demais racionalidades, como as
Práticas Integrativas e Complementares (PICS) [4].
As estratégias de cuidado têm a intenção
de prevenir o surgimento ou a permanência de doenças, complicações clínicas e
agravos, evitando intervenções desnecessárias e iatrogênicas, bem como compelir
o uso coerente de medicamentos [4]. Entretanto, práticas intervencionistas vêm
ganhando destaque através da utilização excessiva de exames, medicamentos e
procedimentos. A medicalização tem tornado as pessoas dependentes dos
profissionais e serviços de saúde, desapropriando-as do conhecimento sobre sua
própria saúde, com diminuição do manejo autônomo da maior parte das
dificuldades cotidianas - dores, adoecimentos, nascimentos e mortes -
provocando, com isso, iatrogenias [5] não apenas
clínicas, mas também, sociais e culturais [3].
Na década de 70, os níveis de prevenção
primária, secundária e terciária foram propostos por Leavell
e Clark [6], relacionando atividade médica e saúde pública, incluindo a
promoção da saúde. Entretanto, nessa mesma época, emergiram as críticas à
medicina institucionalizada, justificada pela ampla industrialização da saúde e
medicalização. Isso ocasionou diversas formas de iatrogêneses,
ou seja, o surgimento de doenças ocasionadas pela ação da medicina [7].
Diante disso, na década de 90, emanou o
conceito de Prevenção Quaternária (P4), proposto por Jamoulle,
um médico de família e comunidade belga, que, por meio de vários critérios,
reviu como administrar o excesso de ações relacionadas as intervenções e a
própria medicalização, tanto relacionada a busca de um diagnóstico, quanto ao
tratamento instituído durante o atendimento clínico. Essa proposta foi
oficializada pela World Organization of Family Doctors (WONCA) em 2003
[8].
O ideário da P4 partiu dos níveis de
prevenção primária, secundária e terciária, sendo considerada um quarto nível
de prevenção, com possibilidade de permear todos os demais [5]. Desta forma, o
propósito principal da P4 é proteger os indivíduos de intervenções inadequadas,
oferecendo alternativas eticamente aceitáveis, ou seja, identificar pessoas que
estão em risco de medicalização e intervenções excessivas ou desnecessárias, e
buscar ofertar alternativas preventivas e protetivas a essas condutas
profissionais. A P4 ficou conhecida, também, como "prevenção da
prevenção" [5,9].
Lamentavelmente, nos Estados Unidos,
práticas iatrogênicas continuam sendo a terceira causa de morte. Entre essas
causas estão as cirurgias desnecessárias, infecções hospitalares, erros
medicamentosos e efeitos colaterais ocasionados pelo uso de medicamentos [10].
Um estudo recente, publicado pela Universidade Manchester do Reino Unido,
analisou mais de 335 mil pessoas de diversos lugares do mundo. De acordo com os
dados publicados, 12% da população analisada manifestou iatrogenias
graves, ou seja, sequelas permanentes ou até mesmo, a morte, após ser submetida
a intervenção excessiva/inadequada. A maioria dos danos foi associado a
medicação, modalidade terapêutica empregada e procedimentos cirúrgicos. Do
total, cerca de 6% dos danos foram considerados evitáveis [11]. Com a
aplicabilidade da P4, essas iatrogenias poderiam ser
reduzidas ou até mesmo, evitadas.
Assim, a P4 faz jus a uma das premissas
éticas profissionais da saúde de, em primeiro lugar, não causar danos [12]. Na
APS, porta de entrada do sistema de saúde e para a inserção comunitária, todos
os profissionais podem auxiliar no processo de desmedicalização [13], inclusive
os profissionais que compõem os Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção
Básica (Nasf-AB), que atuam junto as equipes de Saúde
da Família (eSF) e equipes de Saúde Bucal (eSB). O Nasf-AB entre suas ações
realiza assistência direta aos usuários e, portanto, os profissionais também
são responsáveis por evitar as consequências do intervencionismo excessivo.
Evitar essas consequências ainda é um
dos desafios da APS brasileira, que representa, em grande medida, o modelo
biomédico, o que torna as práticas assistências fragmentadas, deixando as
pessoas cada vez mais subalternas do uso das tecnologias associadas à prevenção
[14]. Diante disso, é importante enfatizar que a P4 corrobora para a construção
de práticas aceitáveis, também conhecidas como "boas práticas" que
incidem sobre os outros tipos de prevenção [9].
Assim, a P4, além de necessária nos
serviços de saúde, também, exige conhecimento e habilidade profissional, já que
as principais causas iatrogênicas estão relacionadas com a ação/conduta no
cotidiano diário dos profissionais [5,15]. Para não realizar ou não indicar
ações preventivas duvidosas ou inapropriadas, os profissionais precisam
resistir às pressões intervencionistas da cultura atual. Esse propósito demanda
habilidades comunicativas, empatia e trabalho adicional, para fomentar
significância e consenso entre os indivíduos, acalmar medos e ressignificar
suas crenças, como aquela de "realizar exames para ver se está tudo
bem". Ao induzir a produção, sistematização e coletivização de saberes e
práticas profissionais, centrados em condutas éticas, pode-se contribuir para
evitar a medicalização excessiva, a qual pode ser utilizada como estratégia de
prevenção e cuidado, reduzindo possíveis danos [3].
Com base nesses pressupostos, emerge a
seguinte questão de pesquisa: quais as percepções, possibilidades e desafios
dos profissionais das equipes da atenção primária para a implementação da
prevenção quaternária? Logo, o objetivo do estudo foi analisar as percepções,
possibilidades e desafios dos profissionais das equipes da atenção primária
para o desenvolvimento da prevenção quaternária.
Trata-se de um estudo de abordagem
qualitativa, do tipo pesquisa-ação [16], realizado no mês de setembro de 2020,
cujo cenário foi a APS de um município de pequeno porte, localizado no Extremo
Oeste de Santa Catarina (SC). Foram incluídos profissionais de nível superior
das eSF, eSB e Nasf-AB, com pelo menos, seis meses de vínculo com a
instituição. Excluíram-se os profissionais que estavam afastados (férias,
atestados ou licenças) no momento da produção das informações. Participaram da
pesquisa nove profissionais: uma enfermeira, duas cirurgiãs dentistas, duas
médicas, uma fisioterapeuta, uma psicóloga, uma educadora física e uma
nutricionista.
Optou-se pela pesquisa-ação por permitir
a participação ativa dos sujeitos envolvidos, favorecendo a aprendizagem e
troca de conhecimento. Ainda, por estimular o planejamento, o desenvolvimento
colaborativo da equipe e a proposição de ações voltadas à solução de problemas
identificados no cotidiano de trabalho [16].
A produção das informações ocorreu
mediante um encontro remoto, tendo em vista a necessidade de isolamento social,
ocasionada pela pandemia da COVID-19. Foi utilizada a plataforma Microsoft Teams®. As etapas da pesquisa foram adaptadas seguindo a
seguinte ordem: 1) Coleta de dados; 2) Saber formal e informal; e 3)
Aprendizagem [16]. O encontro foi mediado por uma enfermeira pesquisadora, com
suporte bibliográfico e técnico para este tipo de abordagem.
Durante
o encontro remoto, a mediadora
utilizou perguntas disparadoras: 1) O que entendem sobre
prevenção? 2) Quais os
tipos de prevenção? 3) Já ouviram falar em P4? O
que significa? 4) Que ações
realizam na condição de equipe para a P4? As
questões estimularam o diálogo, a
identificação de potencialidades e problemas da equipe,
relacionados à
temática, além da proposição de
possíveis ações para qualificar a
atuação dos
profissionais no desenvolvimento da P4. Essas estratégias
também promoveram a
criatividade dos envolvidos, que participaram de forma proativa do
processo
pedagógico [17].
Como metodologia complementar,
utilizou-se o diário de campo, e o registro foi adaptado de Falkembach
[18] e organizado em três partes: a) descrição das observações, b)
interpretações do que foi observado, e c) conclusões preliminares, abordando os
desafios, as dúvidas e imprevistos ocorridos durante o encontro. Os depoimentos
dos participantes, durante os diálogos proporcionados pelos encontros, foram
gravados e transcritos, mantendo a originalidade das informações [19].
Todas as informações produzidas foram
analisadas de acordo com as etapas da análise temática de conteúdo [20]: 1) pré-análise (leitura na íntegra e transcrição das
informações prestadas pelos participantes); 2) exploração do material e
tratamento dos resultados obtidos (classificação das informações a partir da pré-análise); 3) interpretação (a partir da classificação
das informações, desvendar os principais conceitos implícitos, através da
discussão teórica). Emergiram as categorias temáticas: a) percepções dos
profissionais em relação à prevenção quaternária; b) possibilidades dos
profissionais para o desenvolvimento da prevenção quaternária e; c) desafios
dos profissionais para o desenvolvimento da prevenção quaternária.
Este estudo é um recorte de um projeto
matricial aprovado no Comitê de Ética em Pesquisas Envolvendo Seres Humanos
(CEPSH) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), sob parecer n°
3.375.951 de 06 de junho de 2019. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
foi apresentado e encaminhado para os participantes do estudo, que assinaram e
o devolveram, via e-mail, para as pesquisadoras. Com a finalidade de preservar
as identidades, utilizaram-se codinomes por meio da associação da letra D – de
depoimento, seguida da primeira letra da categoria profissional e sequência
numérica.
Percepções dos profissionais em relação
à prevenção quaternária
Os depoimentos dos participantes
apontaram para um ideário sobre a P4, condizendo com práticas preventivas de
quaisquer danos aos indivíduos, provocados por exames, medicamentos e
procedimentos desnecessários ou inadequados.
Prevenir danos aos pacientes, exames desnecessários,
medicamentos desnecessários. (DE8)
Prevenir [...] cirurgias desnecessárias. (DO9)
Evitar [...] qualquer tipo de prescrição que não seja
necessária no momento para o paciente, que não seja adequada. (DN4)
Para realizar tais ações preventivas e
evitar iatrogenias, referiram o importante trabalho
multiprofissional e o reconhecimento do indivíduo em seu modo de viver,
considerando suas singularidades no processo saúde-doença.
[...] ter esse cuidado mais perto do paciente, observar o
paciente na sua rotina, na sua vida diária, ir a campo [...] conhecer o
ambiente que o paciente vive [...]. (DF2)
[...] um olhar multiprofissional para esse paciente para
evitar que ele venha a ter uma complicação [...] uma nova cirurgia ou talvez
tenha uma nova sequela, ou dano irreversível. (DE8)
[...] eu acho que o coletivo tem muito a somar para os
pacientes ou futuros pacientes. Eu entendo que a prevenção é crucial para o
nosso trabalho. (DP1)
Para os profissionais, a medicalização excessiva,
sobretudo os psicotrópicos, além de causar danos, encarece o SUS, justificando
a necessidade da P4.
A maioria da população faz uso de medicação psiquiátrica,
de longa data, mais de dez anos, isso é uma falha [que justifica a prevenção
quaternária] porque essas pessoas, na grande maioria, não necessitariam
continuar usando essas medicações. Então, é um custo para o Sistema de Saúde
que está acontecendo e querendo ou não a gente está submetendo o paciente a um
uso de medicamento que vai causar efeitos colaterais, e não teria necessidade
de estar usando. (DM6)
Possibilidades dos profissionais para o
desenvolvimento da prevenção quaternária
Para os profissionais, uma das
possibilidades para o desenvolvimento da P4 é o trabalho em equipe, capacidade
e conhecimento técnico da equipe e a assistência integral aos indivíduos.
Um dos pontos fortes que a gente tem é a própria equipe
[...] todos nós profissionais somos bem capacitados, [...] visão voltada para o
paciente. Eu acho que isso é um ponto muito forte [...] essa união que a gente
tem [...]. (DF2)
A gente trabalha bem em conjunto, tem uma boa dinâmica,
facilita o trabalho. (DM6)
[...] é muito válido trocar uma ideia com um colega, no
caso, sobre um paciente, do que eu resolver tudo sozinha [...] facilita muito o
entendimento e a compreensão do que precisa ser percebido. (DP1)
[...] estamos ali para pensar como um todo em relação a
população [...] se defendermos algo que seja nosso, em equipe a gente pode ter
grandes conquistas, a gente pode chegar no objetivo principal. (DP1)
Apesar de considerarem falha a adesão
pela população, as Práticas Integrativas e Complementares (PICS) foram
consideradas importantes na APS e identificadas como uma das possibilidades
alternativas para os profissionais desenvolverem a P4.
Há uma falta, às vezes, de entendimento [da população]
[...] sobre essa questão das práticas [PICS] viria a somar de uma forma bem
positiva. (DP1)
[...] não tem nenhum malefício, o que a maioria das
medicações traz [...] quantos problemas de saúde a gente poderia estar
resolvendo ou amenizando com o Reiki [...] é uma estratégia [...] que vem ao
contrário da medicalização, do uso abusivo da medicação. (DF2)
[...] porque tudo isso [adesão às terapias] exige mais
participação do paciente [...]. (DF2)
Desafios dos profissionais em relação ao
desenvolvimento da prevenção quaternária
Em relação a não aplicabilidade da P4 na
prática, os participantes apontam como desafios o desconhecimento da gestão e
da população sobre o tema, bem como a influência de agentes políticos e os
aspectos culturais que envolvem a prática de medicalização excessiva.
[...] falta o entendimento da população e da própria
gestão. (DF2)
Existe [conhecimento da população em relação a P4], mas num
nível mínimo, são poucos pacientes que eu consigo de fato realizar uma [prática
de] prevenção quaternária. (DM6)
Não estamos conseguindo fazer a prevenção [...] porque
fatores externos estão influenciando [influência de agentes políticos]. (DO9)
Pela questão cultural, não ter a mesma linguagem de conduta
[...] a gente não tem muito apoio para fazer [...]. (DM6)
Além dos aspectos culturais, a própria
abordagem profissional, principalmente de especialistas, foi considerada como
agravante, nos casos de medicalização excessiva. Para os participantes, através
do relato das pessoas na vivência da prática, a linguagem utilizada durante a
abordagem especializada desestimula o envolvimento dos indivíduos no seu
processo de cura, gerando não só dependência medicamentosa, como falsa crença
na sua eternidade. Os participantes consideraram a falta de autoconhecimento e
autocuidado e o sobrediagnóstico, como meio de tornar
as pessoas dependentes do uso de medicação para situações que fazem parte da
vida, e que passam a ser compreendidas como doença, corroborando para que
surjam cada vez mais, ou novos problemas, que passam a ser vistos pelos
indivíduos, como de responsabilidade profissional.
Porque o médico que me prescreveu [a medicação] e disse que
é para o resto da vida [referindo-se à depoimentos de pessoas atendidas nos
serviços de saúde]. (DM6)
[...] muitos problemas físicos acabam por se tornar
problemas psicológicos, a pessoa não está a fim de fazer parte dessa cura.
(DO9)
Eu preciso do paciente para o tratamento, se não, ele não
vai nunca ser efetivo. (DP1)
Surgem problemas novos ou maiores [...]. (DN4)
Para os participantes, há um fácil
acesso da população a exames, consultas especializadas e medicamentos, fator
dificultador para o desenvolvimento da P4.
Fácil acesso a exames, tanto laboratorial como de imagem,
fácil acesso a especialistas, fácil acesso a medicações das mais variadas.
(DM6)
Ainda, em relação aos desafios de
desenvolver a P4, os profissionais revelaram a falta de autonomia profissional
na prática, que interfere diretamente, nas ações profissionais e na definição
das prioridades na assistência. Destacaram o excesso de especialização como um
problema para uma atenção integral.
[...] muitas vezes, a gente é questionado pelo próprio
paciente e pela gestão [...] às vezes encaminha para especialista [...] poderia
ser resolvido na Unidade Básica de Saúde, mas, então, em virtude dessa falta de
autonomia dos profissionais [...] a gente acaba sendo limitado. [...] Todos da
equipe têm um conhecimento muito grande [...] acabam não conseguindo colocar em
prática, acabam sendo barrados. (DE8)
É bem fácil a pessoa não aceitar a nossa conduta, vai num
médico, paga [particular], e consegue o que ela quer. (DM6)
[...] a pessoa sai do Posto [Unidade Básica de Saúde] e
resolve de outras formas [...] passando por cima do nosso conhecimento. (DO9)
Quem não aceita [as condutas], são dessa ideia de que:
"eu vou conseguir no especialista se eu quiser, eu vou conseguir fazer o
exame, eu vou conseguir medicação de outra forma" [...]. (DM6)
Os profissionais reconheceram a Educação
Permanente em Saúde (EPS), operacionalizada pelas reuniões de equipe e
discussão de casos, como ferramenta fundamental para o desenvolvimento da P4.
No entanto, consideraram as reuniões de equipe pouco resolutivas devido a
escassa frequência e falta de planejamento dos encontros. Esse déficit impede o
desenvolvimento de novas ações e estratégias pelas equipes.
[...] a importância das reuniões [...] a gente consegue
discutir, um determinado problema de saúde, que isso também é um modo de
prevenir [...] evitar um agravo. (DF2)
[...] a questão das reuniões de equipe é bem importante,
mas nunca foi feito de maneira satisfatória e no momento não existem [...].
(DM6)
Apesar das PICS serem identificadas
pelos participantes como um potencial recurso auxiliar na P4, ainda são
consideradas um desafio, já que há pouca adesão e resistência da população, que
tende a buscar por tratamentos com resultados imediatos.
[...] as pessoas são muito do medicamento [...] não confiam
muito no floral, embora tenha um efeito muito mais positivo, no meu ponto de
vista, [...] às vezes, a dor que o paciente tem é oriunda de um outro problema,
mais emocional. Ele [o floral] vem a somar muito positivamente nos tratamentos.
(DP1)
[...] a dificuldade de nós implantar as terapias é que ela
tem o efeito a longo prazo [...]. (DF2)
Se a saúde é vista como um bem de consumo, o medicamento é
visto como o próprio artigo de luxo e já a prevenção [...] o uso dos florais
[...] não é visto com o mesmo valor [...]. (DN4)
O conceito de Prevenção Quaternária (P4)
foi reconhecido pelos profissionais de saúde, bem como pode se evidenciar que
há compreensão sobre a importância da sua aplicabilidade na prática clínica da
APS. A P4 torna-se fundamental, principalmente quando inserida nos serviços
públicos de saúde [10], pois promove melhorias que interferem positivamente na
saúde da população, além de permitir o desenvolvimento de estratégias
preventivas em outros níveis, que podem contribuir para redução da
morbimortalidade [21].
A P4 propõe o estímulo reflexivo em
relação a medicina desnecessária, nos diversos cenários da prática. Para tanto,
são necessários processos dialógicos sobre situações problemáticas relacionadas
a falta de P4 na prática clínica, permitindo o aprimoramento de condutas
preventivas, com redução de danos provocados pelo próprio atendimento ou
conduta profissional [9,22]. Nesse sentido, ficou evidente que os profissionais
de saúde têm consciência sobre a importância do trabalho multiprofissional, e
as ações não devem ser focadas somente na condição de doença, mas respeitados
outros aspectos, individuais ou coletivos, como o ambiente no qual o indivíduo
está inserido, determinante no processo saúde-doença. O trabalho
multiprofissional amplia a visão desse processo, ao envolver profissionais de
diferentes núcleos de conhecimento, com habilidades e atitudes distintas e com
um propósito que ultrapassa o âmbito individual. Associado ao respeito às
condições familiares e socioambientais, isso gera favorecimento para o
desenvolvimento de ações que ultrapassam o modelo biomédico [3].
Os participantes se reconheceram como
detentores de um conhecimento científico capaz de resultar em boas práticas,
inclusive, como a visão holística em relação ao indivíduo. Para o
desenvolvimento da P4, acreditam que uma possibilidade é o compartilhamento de
saberes e a discussão de problemas relacionados a saúde individual ou coletiva,
buscando a resolutividade de maneira interdisciplinar. Cumpre destacar que, na
APS, é necessário reavaliar as condutas clínicas com periodicidade e, nessa
direção, ações colaborativas são essenciais. Isso demanda de habilidades e
competências dos profissionais para o trabalho em equipe. Dessa forma, para
além da multiprofissionalidade, é premente operar em
uma equipe interprofissional [5].
Os profissionais associaram a falta de
P4 no contexto clínico, ao encarecimento dos sistemas de saúde, principalmente,
quando ações intervencionistas acontecem de maneira equivocada. De certa forma,
para Depallens et al. [21], o uso
indiscriminado de tecnologias duras não tem gerado melhorias significativas nos
indicadores de morbimortalidade e, ainda, tem encarecido os custos em saúde,
com enfraquecimento do vínculo profissional-paciente. Nesse mesmo contexto, a
literatura [10,22] sinaliza que a redução de riscos por condutas desnecessárias
possibilita melhorias na gestão dos recursos públicos e na oferta dos serviços,
consequentemente, diminuindo custos supérfluos para os sistemas de saúde.
Contudo, no contexto clínico, favorável à redução de condutas desnecessárias,
está a Prática Baseada em Evidências (PBE) e o cuidado multiprofissional
oportuno, de acordo com as necessidades da pessoa que, além de opções para a
qualificação da prática, possibilitam a oferta da melhor evidência científica,
com redução de danos iatrogênicos, fortalecendo a relação profissional-paciente
[10,22].
Em relação às PICS, os profissionais
reconheceram que a sua utilização pode facilitar o desenvolvimento da P4, pois
além de promover o autocuidado, favorece a participação e o envolvimento do
indivíduo no seu processo de cura. As PICS, ainda, foram consideradas pelos
profissionais como terapias desmedicalizadoras, já
que sua utilização na prática não traz malefícios e pode ser indicada para
diversos problemas relacionados à saúde.
No contexto da APS, com a regulamentação
institucional e legitimação social, as PICS tiveram uma grande revalorização e
expansão nas últimas décadas [23]. Na P4, as PICS têm favorecido a sua
aplicabilidade e contribuído para a humanização do cuidado. Diferente dos
procedimentos diagnósticos e terapêuticos biomédicos, comumente adotados na
prática, as PICS contribuem no cuidado, reduzindo danos [24].
Metelski et
al. [14] et Ferraz et al. [23]
sugerem que as PICS propõem estratégias voltadas para a autonomia, por vezes,
desconstruindo o processo normativo imposto pelo modelo biologicista
e medicalizante das indústrias farmacêuticas. Diante
disso, na APS, as PICS ampliam o leque terapêutico, podendo ser utilizadas para
muitas queixas comuns. Todavia, é necessária a sua
indicação paralela ao cuidado convencional biomédico, com isso, favorecendo o
rompimento do monopólio tecnológico da farmacoterapia no cuidado terapêutico,
excessivamente medicalizadoras e causadoras de iatrogenias [14,25].
Os profissionais de saúde destacaram que
a falta de conhecimento sobre P4, tanto pela gestão, como pela população,
dificulta a sua aplicabilidade no cotidiano profissional, principalmente pela
interferência cultural, ainda muito voltada para a valorização da
medicalização.
Frente a cultura da medicalização, cabe
salientar que somente o trabalho em equipe multidisciplinar e
interprofissional, como principal estratégia de desenvolvimento da P4, é
insuficiente. Historicamente, a medicalização teve uma intensificação a partir
do século XXI, influenciada pelo grande desenvolvimento das biotecnologias, da
individualização e avaliação técnica das doenças e fatores de risco. Na APS, a
generalização das noções de adoecimento tem favorecido as práticas
intervencionistas, com alto potencial de danos [26].
Quanto às ações preventivas, observou-se
no discurso dos participantes, a falta de compreensão pela gestão sobre as
condutas preventivas adotadas por eles na prática. Nesse contexto, para Paiva et
al. [27] o poder executivo no âmbito das três esferas, tem um importante
papel na organização dos serviços de saúde, devendo participar da gestão do SUS
em consonância com as suas regulamentações específicas.
Em relação a facilidade de acesso a
exames, medicamentos e serviços especializados, os profissionais de saúde
apontaram este, ser um elemento dificultador da aplicabilidade da P4 na APS,
pois sinalizam para o estímulo a medicalização e ao mesmo tempo, um desestímulo
para o autocuidado. Sem dúvida, o fácil acesso a tecnologias diagnósticas
expandiu intensamente nas últimas décadas, porém seu uso indiscriminado nem
sempre traz benefícios, já que os achados não intencionais são um dos grandes
contribuintes do sobrediagnóstico e tratamentos
excessivos [5].
Os profissionais consideraram que não há
confluência entre as orientações da APS e do serviço especializado, no qual a
abordagem do indivíduo é mais focada na doença. Na prática clínica, principalmente
na área médica especializada, sobrediagnósticos ou
resultados falsos positivos não são questionáveis, porém, existe uma cobrança
maior em relação ao diagnóstico. Desta forma, há um favorecimento para a
solicitação adicional de testes diagnósticos, com expansão e generalizações das
doenças. Ainda, o grande avanço da ciência tecnológica, pela facilidade de
acesso e preferência cultural, tornou, de certa maneira, falho o processo de
investigação diagnóstica, fazendo com que o conhecimento médico passasse a ser
independente das experiências subjetivas dos indivíduos [28].
Outro desafio identificado pelos
profissionais de saúde, principalmente no atendimento especializado, foi a
abordagem reducionista das pessoas durante o atendimento clínico. Trata-se de
um fator contribuinte para dependência do uso de medicamentos por longos
períodos ou até mesmo, durante a vida toda. O sobrediagnóstico
potencializa o uso de medicamentos para situações que fazem parte da vivência
das pessoas, as quais passam a ser rotuladas como doença.
Notoriamente, a linguagem também tem
potencial iatrogênico, principalmente quando são utilizadas expressões como
verídicas. Um exemplo, é afirmar que uma doença não tem cura ou que o uso de um
medicamento é para a vida toda. Expressões como esta podem causar danos, uma
vez que servem de estímulo para alimentar uma condição clínica, que passa a ser
considerada como doença pelo indivíduo [14].
Certamente, a abordagem profissional tem
contribuído para a medicalização, seja pela pouca qualificação técnica,
desgaste profissional ou, até mesmo, pela desumanização da prática. Ao longo
dos anos, associado a influências da mídia e na crença de cura e prevenção
através de tecnologias duras, houve a mercantilização de doenças, criando uma
demanda que pressiona os profissionais e serviços de saúde para realização de
mais procedimentos, mais consultas, mais exames, mais medicamentos, muitas
vezes desnecessários [10,29].
É notória a preocupação dos
profissionais de saúde em relação a participação do indivíduo no seu processo
de cura. Eles reconhecem que se nem sempre há o envolvimento ideal no seu
tratamento. A falta de autonomia foi apontada como elemento dificultador para a
aplicabilidade da P4 na prática clínica. Por vezes, tanto a gestão como a
população não aceitam as condutas protetivas estabelecidas pelos profissionais,
fazendo com que problemas que poderiam ser solucionados na APS, sejam
referenciados para os serviços especializados.
No contexto da P4, promover a participação
do indivíduo no seu processo de saúde através do empoderamento educativo,
melhora a segurança dos cuidados, possibilitando a participação ativa e
mobilização para a promoção da saúde, com diminuição de riscos e danos [29]. O
empoderamento educativo possibilita aos pacientes além do autoconhecimento, o
autocuidado, e favorecendo a criação de habilidades necessárias para
responsabilização pelas decisões acerca de sua saúde. Ao empoderar os
indivíduos com informações de qualidade, consequentemente, melhoram-se o
vínculo profissional-paciente, produzindo resultados mais prudentes e
qualificados de saúde [30]. No entanto, no contexto da prática, a falta de
autonomia profissional pode estar relacionada a dificuldade em lidar com
incertezas e com sintomatologias inespecíficas, levando por vezes, pelo medo ou
preocupação, o indivíduo a tornar-se dependente do atendimento e o
profissional, prescritor de cuidados desnecessários [5,14].
A P4 requer a implementação constante da
educação profissional, com conteúdo voltados para a interprofissionalidade.
Nesse contexto, o uso de metodologias ativas como processo de
ensino-aprendizagem é essencial, pois além de favorecer a autonomia, permite
uma abordagem crítica em relação a situações/problemas da prática [21]. Nessa
direção, os profissionais de saúde reconheceram a EPS como uma possibilidade de
fomentar a aplicabilidade da P4 na prática clínica.
Como limitação do estudo cita-se que o
estudo não abordou os demais atores sociais envolvidos no cuidado, como o
indivíduo, a comunidade e o gestor, os quais, certamente, apresentam saberes
singulares às temáticas que envolvem a P4.
Os profissionais de saúde reconheceram o
conceito e a importância da P4 na sua prática clínica, e reconhecem que tal
ação tangencia outras que permeiam a APS. Eles demonstraram uma certa
responsabilização sobre as condutas empregadas na prática em relação aos danos
iatrogênicos. No contexto de suas práticas, a escassa utilização da P4 está
associada ao encarecimento dos serviços de saúde e a organização institucional,
tornando-se premente refletir sobre a existência de diversas formas de cuidado
à saúde, favoráveis para a aplicabilidade da P4, entre elas, as PICS. Nesse
cenário, a EPS, também, foi reconhecida como uma estratégia favorável,
possibilitando a interprofissionalidade, a qual
influência nas decisões da equipe sobre a P4.
Em
relação a aplicabilidade da P4, os
profissionais sinalizaram desafios, principalmente, frente à
cultura da
medicalização, presente tanto na
instituição quanto no ideário da
população. Há
pouco reconhecimento das ações preventivas empregadas na
prática clínica e uma
valorização expressiva de práticas
intervencionistas, como a realização de
exames, uso de medicamentos e encaminhamentos especializados,
interferindo,
principalmente, na falta de autonomia profissional. Para os
profissionais, no
atendimento especializado, tanto a abordagem reducionista como a
linguagem
utilizada, durante o atendimento, corroboram para a
medicalização e o sobrediagnóstico, tornando as pessoas cada vez mais
dependentes dos profissionais e serviços de saúde.
A P4, indubitavelmente, deve fazer parte
das políticas públicas e, tanto o apoio institucional como a forma de
organização dos serviços de saúde são essenciais ao favorecimento da sua
aplicabilidade. Para que haja uma maior responsabilização e conscientização
profissional em relação as condutas intervencionistas no cotidiano de prática,
há a necessidade de uma gestão democrática, com a participação ativa da equipe,
visando a construção colaborativa de estratégias e ações que garantam a
qualidade nos serviços ofertados.
Agradecimentos
Agradecemos a FAPESC e
UDESC, pois o trabalho originou-se do Macroprojeto "Prevenção Quaternária
na Atenção Primária: interfaces com as melhores práticas em saúde".
Conflitos de interesses
Não há conflito de
interesses
Fontes de
financiamento
Trabalho financiado com
recurso da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina
(FAPESC) e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Edital de Chamada
Pública FAPESC N° 027/2020 Apoio à Infraestrutura para Grupos de Pesquisa da
UDESC - Termo de Outorga N° 2021TR1006.
Contribuição de cada
autor
Concepção e desenho do
estudo/pesquisa:
Souza AL, Vendruscolo C; Análise e interpretação
dos dados: Souza AL, Vendruscolo C, Zocche DAA, Ascari RA, Schopf K,
Oliveira BP; Revisão final com participação crítica e intelectual no
manuscrito: Souza AL, Vendruscolo C, Zocche DAA, Ascari RA, Schopf K,
Oliveira BP