Enferm
Bras 2021;20(3);370-83
ARTIGO
ORIGINAL
Comparação
dos aspectos clínicos e mortalidade de mulheres com câncer de colo uterino no
Pará e no Brasil
Rafaela
Cristina Maciel Ferreira*, Raphaella Monike Teixeira de Sousa**, Renata Valentim Abreu***,
Vanessa Kelly Cardoso Estumano****, Thatiane Cristina
da Anunciação Athaíde*, Aline Maria Pereira Cruz
Ramos, D.Sc.*****, Lucrécia Aline Cabral Formigosa******, Renata Glaucia Barros da Silva Lopes, M.Sc.*******
*Enfermeira
residente em Oncologia no Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB)
pela Universidade Federal do Pará (UFPA), **Enfermeira pós-graduanda em
Oncologia na Universidade Federal do Pará, ***Enfermeira graduada pela
Universidade da Amazônia (UNAMA), ****Enfermeira oncologista pela UFPA,
*****Enfermeira, Faculdade de Enfermagem/UFPA e Núcleo de Pesquisa em
Oncologia/UFPA, ******Enfermeira Secretaria do Estado do Pará (SESPA), Enfermeira
oncologista Hospital Universitário João de Barros Barreto (UFPA),
*******Docente na Universidade da Amazônia, Enfermeira assistencial do Hospital
Universitário João de Barros Barreto, Unidade de Oncologia e Hematologia
Recebido
em 7 de abril de 2020; Aceito em 26 de maio de 2021.
Correspondência: Rafaela Cristina Maciel Ferreira, Rua
Silva Castro 151/301, Belém PA
Rafaela Cristina Maciel Ferreira:
rafaelamaciel.enf@gmail.com
Raphaella Monike
Teixeira de Sousa: raphamonike@hotmail.com
Renata Valentim Abreu: renatavalentim05@gmail.com
Vanessa Kelly Cardoso Estumano:
xvanessacardoso@hotmail.com
Thatiane Cristina da Anunciação Athaíde:
thatianeathaide@hotmail.com
Aline Maria Pereira Cruz Ramos: nurse.alinecruz@gmail.com
Lucrécia Aline Cabral Formigosa:
lucrecia_cabral@hotmail.com
Renata Glaucia Barros da Silva Lopes:
renatagbsilva@yahoo.com.br
Resumo
Objetivo: Analisar e comparar os aspectos
sociodemográficos, clínicos e a mortalidade de mulheres com câncer de colo
uterino (CCU) tratadas na rede pública do Pará e do Brasil. Métodos:
Estudo descritivo de corte transversal, retrospectivo com abordagem
quantitativa. Utilizaram-se dados secundários do Registro Hospitalar de Câncer,
os quais foram obtidos através do módulo integrador dos Registros Hospitalares de
Câncer e dados do Sistema de Informação de Mortalidade. O teste T-Student foi utilizado para comparar duas populações: Pará e
Brasil. Resultados: O perfil sociodemográfico das pacientes que
realizaram tratamento na rede pública do Pará caracteriza-se por mulheres na
faixa etária de 40 a 49 anos, com predomínio de mulheres de cor parda, ensino
fundamental incompleto e casadas. Os estadiamentos 2B e 3B foram os mais
frequentes, tipo histológico mais recorrente foi o carcinoma escamocelular, tratamento mais realizado foi a
quimioterapia e a radioterapia concomitantemente e o estado da doença ao final
do tratamento foi estabilização da doença. Conclusão: Apesar dos avanços
para o rastreamento e diagnóstico precoce do CCU, identificou-se que houve
similaridade na taxa de mortalidade do Pará e do Brasil, havendo tendência do
aumento da mortalidade no período de 2007 a 2017.
Palavras-chave: neoplasias do colo do útero; colo do
útero; mortalidade.
Abstract
Comparison of clinical aspects and
mortality of women with cervical cancer in Pará and Brazil
Objective: To analyze and compare the
sociodemographic, clinical and mortality aspects of women with cervical cancer
(CC) treated in the public system of Pará and Brazil. Methods:
Descriptive, cross-sectional, and retrospective study with a quantitative
approach. Secondary data from the Hospital Cancer Registry were used, which
were obtained through the integrating module of the Hospital Cancer Registries
and data from the Mortality Information System. The t-Student test was used to
compare two populations: Pará and Brazil. Results: The sociodemographic
profile of patients who underwent treatment in the public system of Pará is
characterized by women aged 40 to 49 years, with a predominance of women of
brown color, incomplete elementary school and married. Stages 2B and 3B were
the most frequent, the most recurrent histological type was squamous cell
carcinoma, the most frequent treatment was chemotherapy and radiotherapy
concomitantly, and the disease state at the end of treatment was stabilization
of the disease. Conclusion: Despite the advances in the screening and
early diagnosis of CC, it was identified that there was a similarity in the
mortality rate in Pará and Brazil, with a trend of increasing mortality in the
period from 2007 to 2017.
Keywords: cervical neoplasms; cervix;
mortality.
Resumen
Comparación de aspectos clínicos y mortalidad
de mujeres con cáncer de cuello uterino en Pará y Brasil
Objetivo: Analizar y
comparar los aspectos sociodemográficos, clínicos y
de mortalidad de mujeres con cáncer de cuello
uterino (CCU) atendidas en el
sistema público de Pará y Brasil. Métodos: Estudio
descriptivo, transversal, retrospectivo con abordaje cuantitativo.
Se utilizaron datos secundarios del Registro Hospitalario de Cáncer, que se obtuvieron a través del módulo
integrador de los Registros Hospitalarios
de Cáncer y datos del Sistema de Información de Mortalidad. Se utilizó la prueba T-Student
para comparar dos poblaciones: Pará y Brasil. Resultados:
El perfil sociodemográfico de los pacientes que se sometieron a tratamiento en el sistema público de Pará se
caracteriza por mujeres de 40 a 49 años, con predominio
de mujeres de color marrón,
primaria incompleta y casadas. Los estadios 2B y 3B fueron los más frecuentes, el tipo histológico
más recurrente fue el carcinoma de células escamosas, el
tratamiento más frecuente fue quimioterapia y radioterapia concomitantemente, y el estado patológico al final del
tratamiento fue la estabilización de la enfermedad. Conclusión: A pesar de los avances en el rastreo y diagnóstico precoz de CCU, se identificó que existía una similitud en la tasa
de mortalidad en Pará y
Brasil, con una tendencia de aumento de la mortalidad en
el período de 2007 a 2017.
Palabras-clave: neoplasias cervicales;
cuello uterino; mortalidad.
O câncer é considerado uma das principais causas de morte
no mundo, as estimativas indicaram que nos anos de 2014-2015 ocorreriam mais de
500 mil novos casos no Brasil, o que colocou o país com maior incidência de
câncer do mundo. A mortalidade desta doença é maior quando demoradas as
intervenções terapêuticas. Apesar dos avanços voltados para o controle do
câncer, os fatores de risco estão fortemente presentes na rotina da população
brasileira [1,2].
O câncer de colo do útero (CCU), denominado também de
câncer cervical é considerado um grande problema de saúde pública, sendo o
terceiro mais frequente na população feminina brasileira, ficando atrás somente
do câncer de mama e do câncer colorretal. Sua incidência é relativamente mais
alta em países subdesenvolvidos quando comparado aos países mais desenvolvidos,
cerca de 80% de óbitos em consequência do CCU ocorrem em países em
desenvolvimento [3,4]. O CCU é considerado curável quando detectado
precocemente, visto que a evolução das lesões precursoras até o câncer invasivo
demora em torno de 10 a 20 anos. Quando já em estágio avançado, as opções de
tratamento para o CCU são cirurgia, e radioterapia, associada ou não a
quimioterapia [5,6].
Um de seus principais fatores de risco é a infecção pelo
Papiloma Vírus Humano (HPV), infecção sexualmente transmissível que mais
acomete a população feminina. São registrados aproximadamente 157 mil casos por
ano no Brasil. Entretanto, apesar do seu elevado índice, o HPV não pode ser
considerado como o único fator para o desenvolvimento da doença [7].
Em consequência do alto índice de câncer cervical no
Brasil, o Ministério da Saúde desenvolveu o Programa de Combate ao Câncer de
Colo do Útero, no qual preconiza o rastreamento de lesões precursoras por meio
do exame citopatológico, denominado também de
Papanicolau e exame de citologia oncótica [8,9]. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomenda que no mínimo 80% da população feminina entre 25 e 64 anos e
com vida sexual ativa realizem o exame citopatológico
a cada três anos, após dois exames consecutivos negativos. O plano de
enfrentamento de doenças crônicas estabeleceu o escopo de 85% para a cobertura
do exame [10].
Entretanto, apesar dos avanços voltados para o rastreamento
precoce do câncer de colo do útero e da oferta gratuita do exame citopatológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o índice
da doença ainda é muito elevado no Brasil e, principalmente, no norte do país.
Diante do contexto, surgiram as seguintes inquietações: Qual o perfil
sociodemográfico e clínico de mulheres com câncer de colo uterino no Pará e no
Brasil? E qual a taxa de mortalidade dessas mulheres?
Ressalta-se a necessidade e relevância da realização deste
estudo, pois, conhecendo o perfil das mulheres acometidas pelo câncer do colo
do útero, estarão disponíveis novos subsídios visando o aprimoramento de
medidas de prevenção, rastreamento e de promoção à saúde da mulher. Dessa
forma, o estudo tem como objetivo analisar e comparar os aspectos
sociodemográficos, clínicos e a mortalidade de mulheres com câncer de colo
uterino tratadas na rede pública do Pará e do Brasil.
Estudo descritivo de corte transversal, retrospectivo com
abordagem quantitativa, realizado nos Serviços de Registro Hospitalar de Câncer
(RHC) em funcionamento no Pará, como a Unidade de Assistência de Alta
Complexidade em Oncologia (UNACON) de atendimento à população adulta, em Belém,
Pará, em um Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), em
Belém, e Hospital Referência em Oncologia no Baixo Amazonas, assim como nos RHCs do Brasil.
Incluiu-se neste estudo casos analíticos de mulheres
diagnosticadas com CCU, em todas as faixas etárias, com data da primeira
consulta nos estabelecimentos de saúde em janeiro de 2007 a dezembro de 2017.
Excluíram-se casos não analíticos e mulheres que não foram atendidas nos
estabelecimentos de saúde na data proposta.
Dados secundários do RHC, os quais foram obtidos através do
módulo integrador dos RHCs, e dados do Sistema de
Informação de Mortalidade (SIM) foram utilizados. Do RHC retiraram-se as
variáveis sociodemográficas (faixa etária, escolaridade, estado conjugal e raça
cor); e as variáveis clínicas (ano do diagnóstico, tipo histológico,
estadiamento TNM, primeiro tratamento recebido e o estado doença ao final do
primeiro tratamento); do SIM foram retirados os índices de mortalidade por CCU,
no período de 2007 a 2017. A pesquisa foi realizada no período de agosto a
setembro de 2019.
Todos os dados coletados foram tabulados no programa
Microsoft Excel ® para organização e análise detalhada, possibilitando uma
exposição fidedigna. Utilizou-se o teste t-Studentpara
comparar duas populações: Pará e Brasil. Para
testar a igualdade ou
equivalência das informações dessas duas
populações foi necessária a
estimação
dos parâmetros de cada uma delas, como a média e desvio
padrão, bem como a
forma da distribuição. Visto que o teste t-Student
pressupõe que as populações tenham distribuição normal, fez-se necessária a
verificação da normalidade das variáveis, realizada e confirmada através do
teste de Kolmogorov Smirnov.
Para o cálculo da taxa de mortalidade utilizou-se a
seguinte fórmula: taxa de mortalidade = nº de óbitos x 1.000/nº de habitantes.
Foram utilizados os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), sendo considerado para o Pará a população de 8.074.000,00 e 209.300.000
para o Brasil. O número de óbitos foi retirado do SIM.
Não foi necessária a apreciação ética por se tratar de um
estudo com dados de domínio público.
Conforme análise dos dados do RHC do Pará e do Brasil,
incluiu-se no estudo dados de 4.830 mulheres diagnosticadas com CCU no Pará e
132.574 no Brasil.
No que se refere aos dados sociodemográficos, observou-se
que no Pará houve prevalência da faixa etária de 40-49 anos com percentual de
13%, demonstrando superioridade frente aos dados do Brasil, no qual a faixa
etária predominante foi de 35-39 anos. Em estudo realizado em Pernambuco foi
possível identificar que a média da idade de mulheres diagnosticadas com CCU no
estado foi de 50,65 anos, diferente do que foi evidenciado nesta pesquisa [11].
De acordo com estudo encontrado na literatura, a gravidade das lesões cervicais
aumenta com a idade [12].
Acerca do nível da escolaridade, constatou-se que maior
frequência do ensino fundamental incompleto no estado do Pará com um percentual
de 44%, e no Brasil com o percentual de 34%, demonstrando equivalência.
Resultado aproximado foi encontrado por estudos nacionais no RHC do Brasil e do
Rio de Janeiro, no qual encontraram um percentual de escolaridade de 36% e 40%
respectivamente [13,14]. Este resultado pode estar relacionado supostamente ao
fato de que a baixa escolaridade associada ao perfil socioeconômico mais carente
e as barreiras de acesso aos serviços de saúde colaboram para o diagnóstico
tardio do CCU.
No que se refere ao estado conjugal, houve prevalência de
mulheres casadas, com 40% para o Pará e de 29% para o Brasil, demonstrando
novamente uma aproximação entre as frequências. Concordando com um estudo
realizado com idosas portadoras de CCU no estado do Maranhão, onde o percentual
foi de 45,6%. De acordo com estes pesquisadores, isso pode estar relacionado ao
fato de que mulheres casadas optam por não usar o preservativo, devido à
confiança que sentem por seus parceiros [15]. Corroborando com essa informação,
um estudo realizado no estado de Minas Gerais identificou a submissão feminina
à vontade do homem nas relações sexuais e ao não uso do preservativo [16].
No que se refere a variável ocupação, encontrou-se uma
dificuldade em classificar as ocupações, visto que a maioria dos dados não
possuía essa informação, demonstrando uma falha no preenchimento e/ou
processamento dos dados.
Em relação a raça/cor foi possível identificar que a maior
frequência foi para mulheres pardas com o percentual de 42% para o Pará e 41%
para o Brasil, entrando em concordância com o estudo realizado com idosas
portadoras de CCU no estado do Maranhão, com o percentual de 41,6% [15]. Vale
ressaltar que uma grande parte dos dados se encontrava sem essa informação,
demonstrando mais uma vez uma falha no momento do preenchimento ou
processamento dos dados.
No que se refere ao consumo de tabaco foi possível
identificar que a maioria das mulheres relatou nunca ter consumido,
representando o percentual de 34% no Brasil e 19% no Pará. Referente ao consumo
de álcool, o resultado foi o mesmo, porém, o percentual foi mais elevado, sendo
39% para o Pará e 31% para o Brasil. Este resultado vai de acordo com um estudo
realizado no Rio de Janeiro onde o percentual de mulheres que não eram
tabagistas foi de 94% [14].
Acerca do histórico de câncer na família a maior parte dos
dados encontrava-se sem esta informação, com o percentual de 69% no Pará e 59%
no Brasil. Em seguida, 19% das mulheres do estado do Pará e 24% do Brasil não
possuíam histórico de câncer familiar, contudo, tais informações seriam de
grande relevância para a assistência à saúde adequada.
Este estudo também possibilitou a identificação das
características referente ao perfil clínico das pacientes com variáveis
relevantes. No que se refere ao tipo histológico, no estado do Pará a maior
frequência se deu para o carcinoma escamocelular
(70%), acometendo 3,374 mulheres do estado; no comparativo nacional o carcinoma
escamocelular se mostrou frequente em 50% dos casos
do Brasil conforme demonstrado no gráfico 1.
Em estudo realizado em Florianópolis foi possível
identificar que o CCU foi o mais frequente entre mulheres em tratamento
oncológico para cânceres do trato genital, com um percentual de 78,97%,
identificou ainda que o carcinoma foi o mais predominante em 621 casos
(70,57%), seguido do adenocarcinoma, representado por 241 casos (27,39%).
Entrando em concordância com o presente estudo, visto que foi identificado que
o carcinoma escamocelular foi o tipo mais frequente
entre as mulheres com CCU no Pará [17].
Fonte: autores; dados extraídos de RHC, 2007-2017
Gráfico
1 – Percentual das
pacientes diagnosticadas com câncer de colo do útero, no Pará e no Brasil,
distinguindo pelos 8 maiores tipos histológicos no Pará, no período de 2007 a
2017
Em relação ao estadiamento tumoral (TNM) verificou-se que
os maiores percentuais se deram nos estadiamentos 2B (com invasão do
paramétrio) e 3B (tumor que se estende a parede pélvica ou hidronefrose, ou rim
não funcionante) com 28% e 19% respectivamente, no cenário nacional o estudo
possibilitou constatar que as maiores frequências se deram no tipo 3B (17%) e
99 (registro sem informação) (16%), a menor frequência se deu no tipo 4B (tumor
que invade a mucosa vesical ou retal) no Pará e no Brasil. Ressalta-se que
foram considerados nesta análise os 8 maiores tipos de estadiamento TNM, os
dados referentes a esta variável estão disponíveis no gráfico 1. Resultado
diferente foi encontrado em estudo realizado no Rio de Janeiro com 174 mulheres
diagnosticadas com CCU em que 114 (65,5%) apresentaram doença localmente
avançada no momento da avaliação inicial para definição da conduta de
tratamento [18].
Fonte: autores; dados extraídos de RHC, 2007-2017
Gráfico
2 – Percentual das
pacientes diagnosticadas com câncer de colo do útero, no Pará e no Brasil,
distinguindo pelos 8 maiores tipos de estadiamento TNM do Pará, no período de
2007 a 2017
Observa-se que analisar o tratamento aplicado a estas
mulheres é de fundamental relevância para este estudo, para caracterizar o tipo
de tratamento realizado nas mulheres no Pará e no Brasil e, assim, identificar
padrões e/ou discordâncias. Neste tocante, pode-se identificar que 6% das
mulheres no Pará não receberam nenhum tipo de tratamento, contudo este é o
menor índice identificado no estado, pois, no Pará, as mulheres realizaram
tratamento, com maior frequência para a quimioterapia e radioterapia
concomitantemente (39%), no entanto a maior frequência nacional se deu no
tratamento cirúrgico, responsável por 38% do tipo de tratamento aplicado. Este
resultado vai de acordo com o encontrado por estudos realizados no estado de
Pernambuco com um percentual de 68,88% e 72,72% respectivamente para o
tratamento de radioterapia associada à quimioterapia [11,19].
Ao final da análise, o estudo possibilitou constatar que ao
final do primeiro tratamento houve prevalência da estabilização da doença no
Pará (47%), e no Brasil (27%) sem evidência da doença e remissão completa,
podendo estar relacionado com a escolha certa do tratamento para cada caso,
possibilitando uma maior e melhor sobrevida para estas mulheres.
No período analisado nesta pesquisa, de 2007 a 2017, o
Pará, no início da amostra mostrava-se contrário aos dados nacionais, relativos
à taxa de crescimento anual de pacientes diagnosticadas com CCU, visto que em
2008 e 2009 demonstrava uma taxa de 17% e 11% respectivamente, enquanto que o
Brasil possuía uma taxa de 4%, porém, em 2010 o estado conseguiu reduzir a taxa
para 9% abaixo da taxa do Brasil que se mostrava com -2%, conseguindo
estabilizar nos anos seguintes até 2015, quando superou o Brasil (5%),
alcançando a taxa de 16%, progressivamente os números reduziram e em 2017 o
Pará com 2% de taxa de crescimento, caminhou contrário aos dados do Brasil, que
se encontrava com 8%, como demonstrado no gráfico 3.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes
da Silva (INCA), a estimativa do CCU para os anos de 2010 foi de 790, em 2012
foi de 810, 830 em 2014 e 820 em 2016 (INCA, 2010; INCA, 2012; INCA, 2014;
INCA, 2016). Contudo, em 2010 a taxa de crescimento do Pará estava muito abaixo
do estimado pelo INCA, visto que 249 (-9%) mulheres foram diagnosticadas com a
doença, porém em 2015 este dado elevou-se no estado com taxa de 16%,
representando o acometimento de 321 mulheres no estado.
Fonte: autores; dados extraídos de RHC, 2007-2017.
Gráfico
3 – Histórico da
taxa de crescimento anual de pacientes diagnosticadas com câncer de colo do
útero, no Pará e no Brasil, no período de 2007 a 2017
Referente à taxa de mortalidade dessas mulheres, foram
notificados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) 3.043 óbitos no Pará
e 58.874 no Brasil, no período de 2007 a 2017. A análise de dados possibilitou
identificar que a menor taxa relacionada ao CCU foi no ano de 2007 com o
percentual de 2,5% para o estado do Pará e 2,2% para os demais estados do
Brasil, e a maior taxa de mortalidade demonstrada foi no ano de 2017 em ambos,
com o percentual de 4,5% para o Pará e 3,1% para o Brasil, com isso,
observou-se um crescente no que diz respeito a este quesito em todos os anos
analisados, como demonstrado na tabela I no gráfico 4.
De acordo com estudo nacional cujo objetivo foi identificar
as desigualdades regionais na mortalidade por CCU, a análise das projeções de
mortalidade até o ano de 2030 constatou que haverá uma redução das taxas de
mortalidade pelo CCU, com destaque para a região Sul, e essa redução encontra
explicação na diminuição dos riscos para o desenvolvimento do CCU. Porém, as
regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores taxas na publicação, o que
pode indicar que a mortalidade está relacionada com as regiões mais pobres do
Brasil [20].
Tabela
I – Quantitativo e
percentual da taxa de mortalidade anual por câncer de colo do útero no Pará e
no Brasil, no período de 2007 a 2017
Fonte: autores; dados extraídos de RHC, 2007-2017
Fonte: autores; dados extraídos de RHC, 2007-2017.
Gráfico
4 – Taxa de
mortalidade de mulheres com câncer de colo do útero no Pará e no Brasil, no
período de 2007 a 2017
Assume-se que este trabalho possui limitações como a
utilização de dados secundários podendo haver lacunas das informações fornecidos
pelos sistemas analisados, porém, destaca-se a importância desses sistemas como
fontes de informações, permitindo caracterizar o perfil sociodemográfico,
clínico e a incidência da mortalidade, sendo dados fundamentais para
identificar o panorama dos casos de mulheres com CCU no Pará e no Brasil.
Apesar dos avanços voltados para o rastreamento e
diagnóstico precoce do CCU, identificou-se que houve similaridade na taxa de
mortalidade do Pará e do Brasil, havendo tendência do aumento da mortalidade no
período analisado.
Além disso, observou-se no Pará a prevalência de mulheres
com faixa etária de 40-49 anos, com predomínio da cor parda, com o ensino
fundamental incompleto e casadas. Os estadiamentos 2B e 3B foram os mais
frequentes, o tipo histológico mais recorrente foi o carcinoma escamocelular, a quimioterapia e a radioterapia
concomitantemente foram identificadas como o tratamento mais realizado, e a
doença estável como o estado ao final do tratamento.
Desta forma, sugerimos a realização de capacitação para os
profissionais responsáveis pelo preenchimento/processamento dos dados no
sistema visto que algumas informações se encontravam incompletas interferindo
assim na análise dos dados.
Além disso, o estudo incentiva outros autores a pesquisarem
as possíveis causas para o estadiamento avançado do CCU logo ao darem entrada
nos serviços de saúde, visando identificar os fatores que estejam interferindo
no diagnóstico precoce do CCU, além de apontar para a necessidade de se
reforçar as políticas de prevenção, adesão aos programas de rastreamento, a
qualidade do cuidado prestado e da acessibilidade ao sistema de saúde.