Enferm Bras 2022;21(2):195-219
REVISÃO
Dialogando sobre práticas
integrativas e complementares para trabalhadores da saúde com fibromialgia
Rosana Henrique da Silva
André*, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente**, Keila
Magalhães André***
*Universidade Federal
Fluminense (UFF), Associação Fluminense de Amparo aos Cegos (AFAC),
**Universidade Federal Fluminense (UFF), ***Ministério da Saúde, Hospital
Federal do Andaraí, RJ
Recebido em 5 de agosto de
2021; aceito em 12 de março de 2022.
Correspondência: Rosana Henrique da Silva André, UFF,
Rua Passo da Pátria, 152-470, 24210-240 Niterói RJ
Rosana
Henrique da Silva André: rosanahenrique@yahoo.com.br
Geilsa Soraia Cavalcanti
Valente: geilsavalente@id.uff.br
Keila
Magalhães André: keyla_andre@hotmail.com
Resumo
Objetivos: Identificar na literatura quais
práticas integrativas e complementares são recomendadas aos trabalhadores de
saúde portadores de fibromialgia e analisar, diante do material encontrado, o
impacto da utilização dessas práticas na saúde do trabalhador. Métodos:
Revisão integrativa realizada nas bases de dados da Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde, Web of Science, Cumulative Index to Nursing and Allied
Health Literature, Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online via PubMed
e SciVerse Scopus. Selecionaram-se
artigos de maio de 2010 a junho de 2020. Resultados: Foram encontradas
13 publicações que identificaram positivamente a prática de exercícios
aeróbicos e de força, além da associação com a acupuntura, terapias individuais
e coletivas para a melhoria da saúde do trabalhador. Ficou evidente que a falta
de controle da dor e das restrições musculares traduz-se em afastamentos,
aposentadorias precoces e aumento de custos para a saúde pública e suplementar.
Conclusão: Exercícios e práticas complementares são seguras e apresentam
bons resultados. Utilizadas de maneira associadas, o trabalhador da saúde pode
ser beneficiado com esta forma de cuidar holística e individualizada.
Palavras-chave: fibromialgia; estilo de vida; pessoal
de saúde; terapias complementares.
Abstract
Dialoguing about integrative and complementary practices for health personel with fibromyalgia
Aims: To identify in the literature which integrative and
complementary practices are recommended for health workers with fibromyalgia
and analyze, based on the material found, the impact of the use of these
practices on the worker's health. Methods: Integrative review performed
in the databases Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences,
Web of Science, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature,
Medical Literature Analysis and Retrieval System Online via PubMed and SciVerse Scopus. Articles were selected from May 2010 to
June 2020. Results: 13 publications were found that positively
identified the practice of aerobic and strength exercises, as well as the
association with acupuncture, individual and collective therapies to improve
the health of the worker. It was evident that the lack of pain control and
muscle restrictions translate into leaves of absence, early retirements, and increased
costs for public and supplementary health care. Conclusion: Exercises
and complementary practices are safe and have good results. Used in an
associated way, the health worker can benefit from this form of holisthic and individualized care.
Keywords: fibromyalgia; life style; health personnel;
complementary therapies.
Resumen
Diálogo sobre las prácticas integradoras y
complementarias para el personal
de salud con fibromialgia
Objetivos: Identificar en
la literatura qué prácticas integradoras y complementarias se recomiendan a los trabajadores de la salud portadores de fibromialgia y analizar,
a partir del material encontrado, el
impacto de la utilización
de estas prácticas en la salud del
trabajador. Métodos: Revisión integradora realizada en las bases de datos de Latin American and Caribbean Literature on
Health Sciences, Web of Science, Cumulative Index to Nursing and Allied Health
Literature, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online via PubMed
y SciVerse Scopus. Se seleccionaron
artículos de mayo de 2010 a junio
de 2020. Resultados: Se encontraron 13 publicaciones que identificaron
positivamente la práctica
de ejercicios aeróbicos y de fuerza,
además de la asociación con la acupuntura, terapias individuales
y colectivas para la mejora de la salud
del trabajador. Resultó evidente que la falta de control del dolor
y las restricciones
musculares se traduce en
despidos, jubilaciones anticipadas
y aumento de los costes de la sanidad pública y
complementaria. Conclusión: Los ejercicios y las prácticas complementarias son
seguras y tienen buenos
resultados. Utilizado de manera asociada,
el trabajador de la salud puede
beneficiarse de esta forma de atención
holística e individualizada.
Palabras-clave: fibromialgia; estilo de vida; personal
de salud; terapias complementarias.
A
fibromialgia pode ser definida como uma síndrome dolorosa crônica, não
inflamatória, de etiologia desconhecida, que se manifesta no sistema
musculoesquelético, podendo apresentar sintomas em outros aparelhos, provocando
impacto negativo na qualidade de vida e atividades da vida diária dos seus
portadores [1].
Neste
contexto, compreende-se que a qualidade de vida é um conceito que traduz-se na percepção do indivíduo sobre sua inserção na
vida, seu bem-estar, não apenas físico, mas englobando os valores, as crenças e
culturas que o circundam, assim como o alcance de seus objetivos, suas
expectativas e suas preocupações [2]. Ou seja, a dor, as manifestações clínicas
da doença podem afastar seus portadores de atividades cotidianas, inclusive do
ambiente de trabalho, sendo este entendido como um espaço de interações e
interrelações humanas. Assim, a preocupação em caracterizar adequadamente a
doença, além das formas de diagnóstico e tratamento, tem sido alvo de pesquisas
diversas.
Em 2011
foi realizado o primeiro Estudo Epidemiológico Brasileiro de Fibromialgia (EpiFibro), publicado em 2017. O objetivo foi determinar
quantos pacientes ainda atendiam aos critérios do American College
of Rheumatology (ACR1990) e
American College of Rheumatology (ACR2010 em 2014); determinar a correlação
entre o impacto da fibromialgia medido pelo Questionário de Impacto da
Fibromialgia (FIQ) e pela Polysymptomatic Distress Scale (PDS) e descrever
dados sobre a avaliação de seguimento. Neste estudo foram incluídos pacientes
desde o ano de 2011, no qual uma coorte multicêntrica reuniu informações de
pacientes cadastrados entre 2013 e 2015. Foram examinados 810 pacientes, dentre
os quais 786 eram mulheres. Ao final do estudo, observou-se que 226 pacientes
mantiveram seguimento de monitoramento, enfatizando assim que a sua prevalência
é alta entre a população em geral e, no Brasil, é estimada em 2,5%,
principalmente no sexo feminino [3].
Neste
estudo transversal brasileiro, foram apresentados os Critérios Diagnósticos
Preliminares para Fibromialgia, de acordo com ACR2010, após duas décadas de
críticas, relacionadas a critérios de avaliação sintomática, dentre outros. Os
novos critérios excluíram a contagem de pontos sensíveis e enfatizaram a
associação de fadiga, distúrbios do sono, distúrbios cognitivos e sintomas
somáticos à dor crônica generalizada. Isto porque, anteriormente, a presença
dessas queixas era associada a sintomas depressivos e não caracterizados como
parte do conjunto de alterações provocadas pela presença da fibromialgia [3].
Em 2019,
numa cooperação com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um Grupo de Trabalho
da International Association
for the Study of Pain (IASPWorking)
desenvolveu e incluiu uma especificação na Classificação Internacional de
Doenças (CID-11). A fibromialgia foi descrita como dor primária crônica, para distinguí-la daquela que é secundária a uma doença
subjacente, fator importante para o diagnóstico da doença para fins de tratamento
adequado, assim como justificativa de afastamento de atividades laborais [4].
De acordo
com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de Dor Crônica do
Ministério da Saúde, o diagnóstico de fibromialgia deve ser considerado quando
houver 11 dos 18 locais esperados de pontos musculares dolorosos (regiões:
suboccipital, cervical lateral, ponto médio da borda superior do trapézio, supraescapular, junção condrocostal da segunda costela,
epicôndilo lateral, glútea laterossuperior, trocânter
maior e medial acima do joelho) e outras condições clínicas tais como doenças
reumáticas e distúrbios primários do sono [5].
A
síndrome da fadiga crônica, do cólon irritável ou bexiga irritável, cistite
intersticial e disfunção da articulação temporomandibular são transtornos que
comumente acompanham pacientes fibromiálgicos. Os
diagnósticos diferenciais que geralmente são considerados no espectro da
fibromialgia são as doenças somatoformes,
especialmente o distúrbio de somatização e distúrbio de dor, como definidos no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV). Do ponto de vista terapêutico,
raramente se caracteriza a fibromialgia como um problema puramente psicológico
ou orgânico [6].
A dor
generalizada é o sintoma mais proeminente da fibromialgia; mas também são
incluídos a fadiga, distúrbios do sono e rigidez. As doenças concomitantes e
comuns são depressão, síndrome da fadiga crônica, síndrome do intestino
irritável, enxaqueca e outros estados de dor. Compreende-se que sintomas como
esses possam afetar a capacidade funcional e a capacidade de trabalho e, para
tal, reflete-se principalmente sobre os profissionais da saúde [6].
Em se
tratando da dor como fator limitante para o trabalhador portador de
fibromialgia, cabe ressaltar a importância da redução da mesma para a melhoria
da qualidade laboral. Diante do exposto e da compreensão de que a qualidade de
vida possui diversas formas e facetas, de que esta insere-se em diversos
âmbitos para verificar aspectos de indivíduos e coletividade, é possível pensar
também no ambiente laboral.
No que
tange ao ambiente de trabalho, há o conceito de qualidade de vida no trabalho
(QVT), que é uma compreensão abrangente e comprometida nas condições de vida no
ambiente laboral, incluindo aspectos de bem-estar, garantia de saúde, de
segurança física, mental, social e capacitação para realizar as tarefas com
segurança e bom uso da energia pessoal. A qualidade de vida no trabalho é uma
construção que parte da percepção de que empresa e pessoas formam um todo, estrurando-se assim ações voltadas para o bem-estar e
segurança dos trabalhadores a fim de assegurar maior produtividade, qualidade
no trabalho em si, além de maior satisfação na vida familiar e pessoal [7].
Nesse
contexto, acredita-se que é possível lançar mão de práticas integrativas e
complementares, que minimizem a dor, visando melhor desempenho laboral e o
trabalhador da saúde precisa estar incluso nas políticas de atenção à saúde,
tanto no diagnóstico quanto nas opções terapêuticas, já que a dinâmica laboral
é exaustiva e existem aspectos relacionados a ergonomia, que favorecem o
aparecimento de fibromialgia, vivenciados por um dos autores no seu cotidiano
de trabalho.
As
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), denominadas pela OMS
como medicinas tradicionais e complementares, foram institucionalizadas no
Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), aprovada pela Portaria GM/MS nº
971, de 3 de maio de 2006 [8,9]. A PNPIC contempla diretrizes e
responsabilidades institucionais para a oferta de serviços e produtos de
homeopatia, medicina tradicional chinesa/acupuntura, plantas medicinais e
fitoterapia, além de constituir observatórios de medicina antroposófica (modelo
de atenção organizado de maneira transdisciplinar, buscando a integralidade do
cuidado) e termalismo social/crenoterapia (indicação e uso de águas minerais
com finalidade terapêutica, atuando de maneira complementar aos demais
tratamentos de saúde) [9].
Em março
de 2017, a PNPIC foi ampliada em 14 outras práticas a partir da publicação da
Portaria GM/MS nº 849/2017, a saber: arteterapia, ayurveda,
biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia,
quiropraxia, reflexoterapia, reiki,
shantala, terapia comunitária integrativa e yoga,
totalizando 19 práticas. Essas, por sua vez, ampliam as abordagens de cuidado e
as possibilidades terapêuticas para os usuários, garantindo uma maior
integralidade e resolutividade da atenção à saúde [10,11].
Diante de
toda esta contextualização sobre fibromialgia e a utilização de práticas
integrativas e complementares no tratamento e seguimento dos pacientes
questiona-se: quais as recomendações baseadas em evidências sobre práticas
integrativas e complementares ao trabalhador de saúde portador de fibromialgia?
Tendo como objetivos: identificar na literatura quais práticas integrativas e
complementares são recomendadas aos trabalhadores de saúde portadores de
fibromialgia e analisar, diante do material encontrado, o impacto da utilização
dessas terapias na saúde do trabalhador.
Trata-se
de uma revisão integrativa, elaborada a partir das seis etapas preconizadas:
identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; estabelecimento dos
critérios de inclusão e exclusão; leitura, organização e identificação dos
estudos selecionados; análise, interpretação e discussão dos resultados;
apresentação da síntese do conhecimento [12].
Esta
revisão adotou as recomendações do Checklist Preferred
Reporting Itens for Systematic
Reviews and Meta-Analyses
(PRISMA) [13].
Para a construção da pergunta de pesquisa, utilizou-se a
ferramenta PICO – onde “P” corresponde à
população (trabalhador de saúde com
fibromialgia); “I” à intervenção
(práticas integrativas e complementares); “C”
ao controle (recomendações e impacto); “O” ao
desfecho (qualidade de vida e
controle da dor). Foram incluídos estudos nacionais e
internacionais publicados
na íntegra, Guidelines, manuais, artigos de opinião,
estudos de caso, anais de eventos, dissertações, teses, revisões sistemáticas, metanálises e artigos originais que abordassem o tema.
Os
critérios de exclusão foram: publicações duplicadas, trabalhos de conclusão de
cursos, publicações anteriores a 2010 e aquelas que não estavam acessíveis como
texto completo para leitura.
A
estratégia de busca foi a pesquisa bibliográfica de artigos indexados na
Biblioteca Virtual de Saúde, nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Web of
Science (WOS), Cumulative Index to Nursing and
Allied Health Literature
(CINAHL), Medical Literature Analysis
and Retrieval System Online
via PubMed (Medline via Pubmed)
e SciVerse Scopus (Scopus). Foram
utilizadas, como fatores de busca, pesquisas nacionais e internacionais, com
recorte temporal de 2010 a 2020 e textos completos em inglês, português e
espanhol. Justifica-se a utilização deste recorte temporal por ser o período
que engloba a realização de estudos nacionais e internacionais de revisão de
critérios diagnósticos de fibromialgia.
Os
descritores (DeCs/ MeSh)
e/ou palavras-chaves utilizadas foram: “Fibromialgia”,
“Estilo de Vida”,
“Pessoal de Saúde”, “Terapias
Complementares” e suas variações em inglês
(“Fibromyalgia”, “Life Style”,
Health Personnel”, “Complementary
Therapies”) e espanhol (“Fibromialgia”, “Estilo de
Vida”, Personal de Salud”,
“Terapias Complementarias”), utilizando-se dos operadores booleanos “AND” e
“OR” (na BVS), para um maior refinamento da pesquisa. A coleta de dados foi
desenvolvida entre os meses de dezembro de 2020 a junho de 2021.
Inicialmente
realizou-se a busca nas bases de dados com os descritores associados
inicialmente em dupla e posteriormente em trio e quarteto. Observamos que
durante a associação em trio provocou redução expressiva dos achados,
principalmente com a utilização do descritor “Terapias Complementares”. Desta
forma, foram utilizados os descritores: “Fibromialgia”, “Estilo de Vida” e
“Trabalhadores da Saúde” juntos com o boleando “AND” e posteriormente,
“Fibromialgia associado a “Terapias Complementares”. A partir da seleção e do
cruzamento dos descritores, construiu-se um fluxograma PRISMA, apresentado na
figura 1.
Fonte:
Elaborado pelos autores conforme Guideline PRISMA,
2022 [13]
Figura 1 - Fluxograma da pesquisa com o
quantitativo (n) dos artigos encontrados e selecionados após busca em base de
dados, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2022
A coleta
dos dados foi realizada pelo pesquisador principal do estudo e o processo de
seleção foi realizado por pares, tendo como colaborador um pesquisador
doutorando em Ciências da Saúde. Este processo incluiu a leitura dos resumos de
91 produções encontradas individualmente, utilizando-se os mesmos critérios de
inclusão e exclusão. Após esta etapa, iniciou-se a leitura crítica de 42
estudos em sua íntegra, sendo excluídos 27 deles por não corresponderem à
questão norteadora.
Assim,
foram selecionados 13 estudos, dentre os quais 2 são Guidelines
escritos na Alemanha e nos Estados Unidos, 3 estudos nacionais e 10 estudos
internacionais: Alemanha (1), Itália (1), Suécia (2), Estados Unidos (4), China
(1), Finlândia (1). Destes, 6 foram publicados no período entre 2010 e 2011;
houve 1 publicação anual acerca do tema, que demonstra a preocupação na
descrição de métodos diagnósticos mais detalhados e eficazes, além de estudos
de campo com o uso de terapias complementares. Não houve restrição quanto ao
idioma de publicação.
A
presente revisão integrativa assegura os aspectos éticos, garantindo a autoria
dos artigos pesquisados utilizando para citações e referências dos autores as
normas estabelecidas por este períodico científico
(VANCOUVER). Por tratar-se de revisão integrativa de literatura não foi
utilizado método estatístico para avaliação da qualidade das publicações
encontradas.
Após a
seleção dos estudos que correspondiam à pesquisa realizada procedeu-se a
leitura crítico-reflexiva dos textos e análise temática segundo a proposta
metodológica de Bardin [14]. Os estudos foram organizados e categorizados
segundo as unidades de significação encontradas, sofrendo em seguida,
agrupamento de acordo com o enfoque abordado pelos respectivos autores, seguida
de avaliação por pares de cada estudo. A análise temática contribuiu para a
identificação de duas unidades temáticas: “Práticas integrativas e
complementares no manejo de trabalhadores de saúde com fibromialgia:
recomendações baseadas em evidências” e “Impacto do uso de terapias
complementares na saúde do trabalhador”, que serão apresentadas a seguir.
Para
facilitar a compreensão dos dados encontrados, foi elaborado um quadro com os
itens obtidos de cada estudo onde estão descritos nomes dos autores e ano da
publicação, país e idioma, nome do periódico, objetivo, método e principais
achados conforme consta na Figura 2.
Quadro 1 - Síntese dos estudos incluídos na
revisão integrativa. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2022 (ver PDF anexo)
Serão
apresentadas, a seguir, as áreas temáticas que emergiram a partir da seleção
dos artigos: Práticas integrativas e complementares no manejo de trabalhadores
de saúde com fibromialgia: recomendações baseadas em evidências e impacto do
uso de terapias complementares na saúde do trabalhador.
Práticas integrativas e
complementares no manejo de trabalhadores de saúde com fibromialgia:
recomendações baseadas em evidências
Observa-se
que as publicações até 2013 eram poucas e não recomendavam algumas práticas
integrativas para uso clínico devido ao baixo rigor metodológico dos estudos e
a baixa reprodutibilidade. Com o passar dos anos e o avanço de estudos
clínicos, comprovando que a fibromialgia é uma condição crônica, incapacitante
e excludente, que traz não só custos financeiros, mas trabalhistas e sociais,
vislumbra-se uma tendência a fortalecer as evidências sobre práticas
integrativas e complementares, reconhecendo que precisam de abordagem
multidisciplinar e associação com outras práticas quando analisadas
individualmente.
Assim,
esta unidade temática reuniu as publicações acerca das práticas integrativas e
complementares e as recomendações baseadas em estudos clínicos e revisões
sistemáticas. As publicações que compõem esta unidade referem-se aos estudos
sobre modalidades terapêuticas associadas a terapias não farmacológicas que
podem ser utilizadas como tratamento complementar para indivíduos com
fibromialgia. Foram incluídas 2 revisões integrativas (1 estudo brasileiro e 1
estudo italiano), 1 revisão sistemática chinesa e 2 Guidelines
(1 estudo alemão e 1 estudo americano), totalizando 5 achados [4,15,16,17,26].
Uma
revisão integrativa brasileira publicada em 2011 esclarece que muitos pacientes
não apresentam respostas satisfatórias à terapia farmacológica, além do
aparecimento de feitos colaterais a longo prazo. Desta forma, são apresentadas
alternativas não farmacológicas baseadas em evidências científicas, e são:
exercícios físicos, terapia cognitivo-comportamental, medicina alternativa e
complementar, acupuntura, dietoterapia, suplementos nutricionais e fitoterapia
[15].
Os
exercícios físicos têm como objetivos: melhorar ou manter seu condicionamento
físico, trazer bem-estar emocional, melhorar os sintomas da doença e trazer a
sensação de bem-estar. São recomendados desde exercícios simples, como, por
exemplo, limpar a poeira da casa, fazer caminhada; até a realização de
programas sem carga e sem grandes impactos para o aparelho locomotor, como a
dança, a natação e a hidroginástica [15].
Sobre as
terapias complementares, ainda acrescenta que a terapia
cognitivo-comportamental (TCC) se mostrou eficaz quando combinada com
exercícios aeróbicos, alongamento e educação familiar. Ainda inclui que a
medicina alternativa e complementar também contempla a medicina chinesa
(acupuntura), medicina naturopática, ayurvedica ou homeopatia, fitoterapia, suplementação
dietética, terapias energéticas, massagens, meditação e hipnoterapia [15].
No
entanto, também é apontado que pouco se sabe sobre a eficácia e a tolerância
das terapias alternativas e complementares na fibromialgia. Os estudos que
apresentam rigor metodológico e qualidade científica ainda são pouco discutidos
ou difundidos entre os reumatologistas, o que torna difícil a adesão à prática
clínica de recomendar terapias complementares [15].
Assim,
considerando que alguns dos sintomas clássicos da fibromialgia são a dor e a
fadiga, é comum que muitos portadores reduzam as atividades físicas diárias,
contudo, sugere-se que estes pacientes devem evitar comportamentos sedentários
por mais de 9 horas por dia e gastar pelo menos seis horas por dia em atividade
física de intensidade leve [27]. Exercícios aeróbicos e de força muscular
possuem efeitos benéficos.
O Colégio
Americano de Medicina Esportiva (ACM’s) também
confirma estas orientações a partir do Guideline
sobre Exercícios de Teste e de Prescrição, estabelecendo recomendações sobre as
atividades físicas de acordo com a frequência, nível do exercício, tempo e
tipo, traçando metas progressivas graduais para melhorar força e flexibilidade
do participante [26].
O
presente estudo então sugere que seja criado um programa individualizado, com
alternância entre os exercícios aeróbicos e de força, tratando o indivíduo de
acordo com a sua potencialidade, reduzindo a “rotinização” de atividades que
acaba por desestimular o participante com o passar do tempo e provocar o
abandono da execução das atividades.
Sobre as
demais práticas integrativas, em 2013 foi publicada uma revisão sistemática
sobre benefícios e segurança no uso da acupuntura no tratamento da
fibromialgia. O estudo realizou várias comparações de diferentes tipos de
acupuntura e as manifestações clínicas da doença [16]. Há provas de nível baixo
a moderado que, em comparação com a ausência de tratamento e terapia padrão, a
acupuntura melhora a dor e a rigidez. A acupuntura por estimulação elétrica é
provavelmente melhor do que a acupuntura manual para a redução e melhoria da
dor e rigidez, além de bem-estar global, sono e fadiga. O efeito dura até um
mês, mas não é mantido com seis meses de seguimento [16].
O
método
demonstra-se ser seguro nesta publicação. As pessoas com
fibromialgia podem
considerar a utilização exclusiva de
estimulação elétrica ou com exercício e
medicação. O pequeno tamanho da amostra e a escassez de
estudos para cada
comparação enfraquecem o nível de evidência
e as suas implicações clínicas. São
necessários estudos mais abrangentes [16].
Em 2017,
foi confeccionado um Guideline sobre Terapias
Alternativas e Complementares para a Síndrome de Fibromialgia, a partir da
revisão sistemática e metanálise de estudos clínicos.
As recomendações seguem o padrão: “Fortemente recomendado, recomendação em
aberto, sem recomendação positiva ou negativa e recomendação negativa” [17].
Foi elaborado um quadro ilustrativo para melhor compreensão das informações
encontradas para posterior análise, conforme Quadro 1.
Quadro 2 - Quadro sobre recomendações de
práticas integrativas baseadas em evidências
Os
achados encontram apoio na Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS [9], que reconhece estas opções terapêuticas enquanto
abordagem científica do conhecimento e estimula tanto a sua incorporação quanto
a capacitação de profissionais para que possam ser oferecidas no âmbito da
Estratégia de Saúde da Família (ESF). Além da implantação, há também a
necessidade de acompanhamento dos casos de usuários para identificar as
melhorias evidenciadas servindo como base para fortalecimento destas práticas
como opção terapêutica para este e outros tratamentos, inclusive no âmbito dos
cuidados paliativos.
A opção
pelas práticas integrativas deve ser feita em conjunto, a partir do diagnóstico
da doença, com a apresentação das possibilidades terapêuticas, e esclarecendo
que os melhores resultados são alcançados com a associação de terapias e a
prática de exercícios físicos. Outro fator importante é escolher as práticas
integrativas mais próximas ao estilo de vida do usuário, sabendo-se que ele é
profissional da saúde – cercado de todas as peculiaridades inerentes da
profissão exercida.
Ao
optante pelo uso dessas práticas associadas aos exercícios físicos deve ser
esclarecido que o intervalo entre os dias de práticas de atividades não pode
ultrapassar 48 horas para que sejam alcançados os objetivos de melhora da
flexibilidade, da redução da rigidez e da restrição muscular. Já quanto ao uso
de terapias meditativas, relaxamento, massagens, acupuntura, dentre as outras
opções terapêuticas, estas devem estar associadas ao uso de medicamentos,
quando necessário, para que haja controle da dor, da fadiga e dos sintomas de
depressão.
A
participação de grupos de ajuda e a execução de diários de qualidade de vida
também pode auxiliar no controle dos sintomas e dos efeitos das práticas
complementares.
Atualmente,
o SUS oferece, de forma integral e gratuita, 29 procedimentos de PICs à população. Os atendimentos começam na Atenção
Básica, considerada a principal porta de entrada para o sistema de saúde [28].
Segundo o portal saude.gov [20], as Práticas Integrativas e Complementares
estão presentes em quase 54% dos municípios brasileiros, distribuídos pelos 27
estados e Distrito Federal e todas as capitais brasileiras. O número de
municípios que ofertaram atendimentos individuais em PICs
foi de 3.024 (54%) estando presente em 100% das capitais. Por nível de omplexidade, a distribuição dos serviços está estabelecida
da seguinte forma: 78% na Atenção Básica, 18% na Média Complexidade e 4% na
Alta Complexidade [28].
Sobre as PICs ofertadas, mais de 1 milhão de atendimentos
concentra-se na Medicina Tradicional Chinesa, incluindo a acupuntura, 85 mil
fitoterapias, 13 mil homeopatias, 926 mil outras PICs
que não possuíam código próprio para registro, que com a publicação da Portaria
145/2017 passam a ter [28].
Impacto do uso de
terapias complementares na saúde do trabalhador
Esta
segunda unidade temática traz as publicações que destacam os sintomas
preditivos de afastamento do trabalho e mortalidade, os gastos em saúde e o
impacto das condições de trabalho sobre a qualidade de vida de trabalhadores em
saúde, mostrando que ações de prevenção e promoção em saúde contribuem
positivamente na vida desse grupo. Ela é composta de 2 publicações brasileiras,
3 americanas, 2 suecas e 1 finlandesa.
Em estudo
brasileiro realizado com dois grupos de pacientes, um portador de fibromialgia
com diagnóstico anterior de Lesão por Esforço Repetitivo/Doença Osteomuscular
Relacionada ao Trabalho (LER/DORT), e outro com diagnóstico apenas de
fibromialgia, buscou compreender, através de um estudo biográfico, as relações
entre as duas condições e o trabalho [18]. Os autores esboçam que a
coexistência de dois diagnósticos pode ser explicada pela ocorrência
concomitante e coincidente de duas entidades nosológicas
distintas: seja pelo desenvolvimento da fibromialgia a partir de uma forma de
apresentação “regional” da doença ou, em decorrência do mesmo agente
etiológico: a sobrecarga gerada pelo trabalho [18]. Os sintomas de LER/DORT
tendem a aparecer durante a jornada de trabalho, sendo aliviados durante o
repouso. Com o decorrer do tempo, a frequência do esforço durante a jornada
laboral ou os exercícios, observou-se o aparecimento de limitação funcional
[18].
No estudo
realizado, a limitação funcional das pacientes portadoras de fibromialgia com
história de sobrecarga ocupacional, ocasionou um período de afastamento, no
qual um dos sujeitos se aposentou e o outro retornou ao trabalho. Os autores
defendem o reconhecimento da fibromialgia como doença ocupacional, desde que fique
estabelecido o nexo causal com as condições de trabalho [18].
Em 2010,
um estudo analisou 3 condições clínicas para comparação das despesas de
assistência médica entre usuários segurados e não-usuários de medicina
complementar e alternativa no estado de Washington. As condições avaliadas
eram: dor nas costas, fibromialgia e sintomas de menopausa [19]. Os resultados
desta análise indicaram que entre os pacientes com dores nas costas,
fibromialgia, ou sintomas da menopausa, aqueles que usaram fornecedores de
terapias complementares para pelo menos parte dos seus cuidados tinham despesas
médias globais ligeiramente inferiores às correspondentes a pacientes
exclusivamente fornecedores convencionais. A maior diferença foi observada
entre os pacientes com a carga de doença mais pesada, que tende a ser a mais
cara [19].
Esta
análise indica que entre os pacientes segurados com sintomas que não utilizam a
terapia complementar, comparando pacientes que utilizam a terapia, aqueles que
utilizam as propostas alternativas terão despesas de seguro mais baixas do que
aqueles que não utilizam as metodologias alternativas e complementares. Os
resultados também confirmam as descobertas de outro estudo, sobre cuidados
primários, onde a utilização de prestadores de cuidados complementares estava
associada a custos mais baixos do que os prestadores convencionais de cuidados
primários, o que mais uma vez fortalece a política pública de oferta desse tipo
de prática de forma gratuita e universal à população.
Pode-se
inferir que a utilização de práticas complementares baseadas em evidências, sob
a intervenção multidisciplinar representa custos menores ao Serviço de Saúde
Suplementar e, por consequência, trazendo a recomendação para a realidade do
Sistema Único de Saúde (SUS), contribui para ensino, pesquisa e atividades de
prevenção e promoção de saúde.
Um estudo
de coorte, com o objetivo de avaliar se os sintomas de fibromialgia predizem
aposentadoria por invalidez ou mortalidade, relata que os sintomas associados à
fibromialgia estão fortemente correlacionados com a aposentadoria precoce por
invalidez e, problemas relacionados ao estilo de vida associados à alta carga
de sintomas e precisam de tratamento imediato para evitar aumento do risco de
mortalidade [23].
Este
estudo alerta, principalmente no tocante aos trabalhadores da saúde, para o
estilo de vida já sabidamente, sedentário, alimentação desregulada com
prevalência de comidas industrializadas e fast food, e carga horária de
trabalho semanal alta, sobre o risco de afastamentos prolongados e definitivos,
trazendo prejuízos à saúde do próprio trabalhador, assim como ao sistema
enquanto força de trabalho inativa.
Outro
estudo transversal, com o objetivo de examinar os sintomas de saúde física e mental
entre pessoas com fibromialgia por status de emprego e condições de trabalho,
observou que os empregados com fibromialgia tiveram um grau substancial de
modificação em suas carreiras e condições de trabalho. A maioria modificou seu
ambiente de trabalho para acomodar seus sintomas de fibromialgia e um terço
mudou de ocupação por causa da síndrome [21]. Ambos estudos apontam que o
início do tratamento deve ser realizado tão logo seja identificada a doença,
com o objetivo de reduzir danos provocados pela cronicidade, pelo afastamento
das atividades e até do convívio social, preservando assim a qualidade de vida
de indivíduos portadores de fibromialgia [21,23].
Um ensaio
clínico randomizado com 130 mulheres com fibromialgia, cujo objetivo foi
identificar os efeitos de exercícios de resistência progressiva sobre a força
muscular, estatus de saúde e controle da dor [22],
apontou que o exercício progressivo de resistência centrado na pessoa foi
considerado um modo de exercício viável para as mulheres, melhorando a força
muscular, o estado de saúde e a intensidade atual da dor quando avaliada
imediatamente após a intervenção.
Uma
revisão que analisou a prevalência e os fatores de risco para a dor lombar
crônica entre os enfermeiros, revisando a eficácia no tratamento da dor nos
exercícios de yoga e tai chi, para a população de enfermagem, aponta que as
estimativas de prevalência de dor lombar crônica entre enfermeiros variaram de
50% a 80%. Os fatores de risco associados incluíram estilo de vida e fatores
físicos, psicológicos, psicossociais e ocupacionais. Não foram identificados
estudos publicados que avaliassem ioga ou tai chi para enfermeiros com esse
perfil, somente na população em geral e sugerem que essas intervenções são
eficazes na redução da dor e da deficiência e podem melhorar os
fatores/processos preditivos da condição [23].
A dor lombar crônica para
trabalhadores da saúde é motivo para afastamentos
recorrentes, mudança de
função e retorno de licenças com
restrições físicas. Portanto, para a
população
da saúde, compreende-se que a recomendação de
exercícios físicos e trabalho
corpo e mente são benéficos, porém carecem de
publicações acerca do tema.
Uma
pesquisa analisou a circulação de citocinas entre pacientes com fibromialgia e
um grupo controle saudável para investigar os efeitos dos níveis das citocinas
após 15 semanas de exercícios de resistência progressiva ou terapias de
relaxamento [24]. Os resultados apontam que os elevados níveis plasmáticos de
várias citocinas apoiam a hipótese de que a inflamação crônica sistêmica pode
estar na base da fisiopatologia da fibromialgia, mesmo que a relação com as
variáveis clínicas seja menor. No entanto, 15 semanas de exercício de
resistência, não mostrou qualquer efeito anti-inflamatório nem sobre os
sintomas, nem clínico e funcional [24].
Desta
forma, compreende-se que o processo inflamatório provocado pela fibromialgia é
crônico, o uso de terapias sejam elas farmacológicas ou complementares deve ser
contínuo, para garantir a melhoria da condição física, do manejo da dor e da
possibilidade de retorno às atividades laborais.
Em 2020,
um estudo descritivo sobre as características sociodemográficas e ocupacionais
de trabalhadores de enfermagem afastados por distúrbios osteomusculares, identificou
2.761 afastamentos, dentre os quais 449 (16,26%) tinham esses distúrbios como
causa [25]. Verificou-se que os profissionais possuíam idade média de 48 anos e
não foi encontrada diferença estatística relacionada ao sexo. Quanto a
localização da dor, o estudo demonstrou que as principais queixas apontavam a
região do pescoço, ombros e lombar como as mais frequentes.
Também
foi identificado que 78 trabalhadores afastados apresentavam diagnóstico
psiquiátrico em conjunto, podendo destacar a depressão [23]. Um achado
importante neste estudo, refere-se ao grupo de trabalhadores de enfermagem
considerados os mais afetados: os pertencentes ao nível médio. Esses costumam
realizar as atividades de maior esforço físico, como, por exemplo, empurrar macas,
fazer mudança de decúbito, posicionamento no leito, banho no leito e,
atualmente, participação ativa na pronação e supinação nos pacientes acometidos
por COVID-19; comparando suas atividades aos demais profissionais de nível
superior.
Assim, a
prevalência da dor, dos distúrbios psiquiátricos e psicológicos é alta, mas
existem poucas evidências que demonstrem benefícios diretos ao trabalhador. Os
estudos apontam que a associação entre exercícios, terapias complementares, o
cuidado corpo e mente representam boa performance de resultados, principalmente
para as mulheres, tendo em vista que o público feminino na saúde ainda é
numericamente maior.
Para Luz
[29], o aumento da busca por medicinas alternativas nas sociedades ocidentais,
não somente por parte dos pacientes, mas também pelos profissionais de saúde, a
partir da segunda metade dos anos de 1970, atingindo o auge na década de 1980
[29], tem como fundamento a crise na saúde da sociedade atual, tanto sanitária
quanto médica, situando suas raízes socioeconômicas. Além disso, a própria
racionalidade médica em sua relação com a cultura contemporânea é considerada
como um dos pilares que explicam a busca por outras racionalidades
terapêuticas, que tenham como foco principal o sujeito doente e o seu cuidado
[29].
O
surgimento de antigos sistemas médicos, como a medicina tradicional chinesa e a
aiurvédica e a recosntrução
das medicinas populares no Brasil e em países latino-americanos nos grandes
centros urbanos estão situados no contexto dessas medicinas alternativas. Essas
se fundam numa racionalidade terapêutica, que além de considerar o sujeito
doente como centro do paradigma médico, considera a relação médico-paciente
como elemento essencial na terapêutica, com base numa medicina que se propõe a
despertar a autonomia do paciente, no que se refere à relação saúde-doença, em
vez da sua dependência, e se pauta na consolidação de uma medicina que tenha
como categoria central, a saúde e não a doença [29].
As
práticas integrativas trazem a contextualização do indivíduo não dissociado,
mas compreendendo que ele está integrado e é esta relação dinâmica entre corpo
e mente que precisa ser assistida, principalmente na presença de uma doença
crônica e limitante como a fibromialgia.
Além do impacto na vida, há que se
refletir no impacto nos custos de saúde, pois ações de promoção e de prevenção
produzem resultados favoráveis e reduzem a procura por internação e o
afastamento da vida laboral, reduzindo também os custos do governo com aposentadorias
precoces. Foram encontrados estudos voltados para a investigação na população
geral, porém existem poucas publicações voltadas para os trabalhadores da
saúde, que possuem exposição à fatores psíquicos, a atividades laborais
pesadas, durante muitas horas.
Os
estudos encontrados nesta unidade temática mostraram que a sobrecarga
ocupacional está diretamente ligada à limitação funcional provocada pelos
sintomas da fibromialgia. Além disso, foram encontradas afirmações acerca dos
custos tanto ao trabalhador devido ao afastamento de suas atividades, à
necessidade de busca por tratamento e readaptação da vida cotidiana, quanto ao
empregador que precisa lidar com as ausências contínuas e ao Estado pelo fator
preditivo de aposentadoria precoce.
Assim,
compreende-se que, quanto mais completo e melhor for diagnosticada a doença,
mais rápido pode ser o início do tratamento com o uso de práticas integrativas
e complementares, melhorando a condição física deste trabalhador e devolvendo-o
a suas atividades laborativas e o convívio social.
De todas
as publicações encontradas, observa-se que a recomendação preliminar é a
realização dos exercícios físicos aeróbicos e de força muscular elaborados de
forma individual, com intervalos regulares que não ultrapassem 48 horas entre
as atividades. Quanto ao uso das terapias, recomenda-se a associação entre elas
pois a monoterapia não demonstrou efeitos positivos em nenhum dos estudos
encontrados. A acupuntura, massagens, terapias individuais e coletivas,
homeopatia, uso de plantas medicinais e homeopatia também são recomendadas,
inclusive pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares e,
recentemente, oferecidas pela Rede de Atenção Básica do Sistema de Saúde.
Quanto ao
impacto na saúde, observou-se que os sintomas da fibromialgia provocam
limitação funcional relacionada a sobrecarga ocupacional, anualmente os custos
são altos relacionados à Saúde Suplementar e estudos comprovaram que indivíduos
que utilizaram mais práticas integrativas utilizaram menos o sistema de saúde.
Outro achado importante relacionado aos sintomas é que são preditivos de
aposentadoria precoce devido aos afastamentos e restrições provocadas pela
cronicidade da doença, porém as práticas integrativas e complementares já são
ofertadas na Rede Básica de Atenção à saúde atualmente.
Limitações do estudo
Os
estudos encontrados possuíam amostragem pequena, configurando uma necessidade
de pesquisas de campo com grandes grupos de trabalhadores, para fins de
definição mais clara dos sintomas, diagnóstico e um futuro reconhecimento como
doença associada ao trabalho.
O
presente artigo cumpriu com os objetivos estabelecidos, trazendo a comparação
entre estudos encontrados até 2020 e os resultados sobre o uso de terapias
complementares na época. Também trouxeram as últimas publicações sobre os avanços
na classificação, no diagnóstico, no tratamento e na abordagem de pacientes com
fibromialgia.
Ficou
evidente que o trabalhador da saúde pode ser beneficiado pelas práticas
alternativas principalmente por proporcionar bem-estar global, controle da dor
e melhora da capacidade muscular. Para a enfermagem, o grupo que mais se
beneficiaria seriam os profissionais de nível médio, técnicos de enfermagem,
que possuem carga de trabalho física maior determinada pelo próprio modelo de
assistência que está inserido; seguido pelos cuidadores de idosos.
Assim,
conclui-se que o diagnóstico detalhado e o direcionamento para as opções
terapêuticas de forma precoce possuem impacto positivo na saúde do trabalhador
e nas respostas clínicas do uso das práticas integrativas e complementares.
Desta forma, faz-se necessário que mais pesquisas sejam realizadas, para que
sejam arcabouço que fundamente a utilização desta forma de cuidar e que o grupo
de trabalhadores da saúde seja contemplado trazendo contribuições ao ensino, pesquisa
e prática de promoção de saúde e qualidade de vida laboral.
Conflitos
de interesse
Não há
conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Não há
financiamento.
Contribuições
dos autores
Concepção
e realização do estudo:
André RHS; Coleta de dados: André RHS; Análise e interpretação dos
dados, na redação da versão inicial e na revisão final crítica do manuscrito:
André RHS, Valente GSC, André KM