Enferm Bras 2022;21(3):359-69

doi: 10.33233/eb.v21i3.4879

RELATO DE EXPERIÊNCIA

A experiência da implantacão do projeto “Acolhendo quem acolhe” em uma maternidade escola

 

Ana Paula Machado Fortes de Araujo*, Liniker Scolfild Rodrigues da Silva**, Mirele Pacheco de Freitas, M.Sc.***, Duana Gabrielle de Lemos Costa, M.Sc.***, Tatianne Cavalcanti Frank, M.Sc.****, Emanuela Batista Ferreira e Pereira, D.Sc.*****

 

*Centro Universitário Redentor, Recife, PE, **Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças/Universidade de Pernambuco (FENSG/UPE), Recife, PE, ***Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, ****Universidade Estadual de Maringá (UEM), Enfermeira Obstetra e Parteira Urbana pela DeMáter - Parto Domiciliar Planejado, Recife, PE, *****Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE

 

Recebido em 23 de agosto de 2021; Aceito em 12 de fevereiro de 2022.

Correspondência: Emanuela Batista Ferreira e Pereira, Rua Arnóbio Marquês, 310, 50100-130 Recife PE

 

Ana Paula Machado Fortes de Araujo: apnurse2009@gmail.com

Liniker Scolfild Rodrigues da Silva: liniker_14@hotmail.com  

Mirele Pacheco de Freitas: mirelepf@gmail.com

Duana Gabrielle de Lemos Costa: duana_gabrielle@hotmail.com  

Tatianne Cavalcanti Frank: tatiannefrank@yahoo.com.br

Emanuela Batista Ferreira e Pereira: emanuela.pereira@upe.br

 

Resumo

Objetivo: Descrever a implementação do projeto “Acolhendo quem Acolhe” da Universidade de Pernambuco, no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros em Recife/PE. Métodos: Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo do tipo relato de experiência desenvolvido a partir da vivência das ações realizadas pelo Projeto de Extensão Acolhendo quem Acolhe, no período de junho a dezembro de 2015, realizado no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, na cidade do Recife, PE. As etapas envolvidas na realização das atividades consistiram em: diretrizes, sensibilização profissional, estruturação e execução/acolhimento. Resultados: Verificou-se a vivência dos alunos extensionistas voltada para a sua atuação profissional através da responsabilidade de orientar os acompanhantes sobre seus direitos durante o atendimento hospitalar, contribuindo para uma vivência mais consciente do processo de parto e nascimento, bem como oportunizou aos acadêmicos um contato precoce com ações baseadas nos preceitos da humanização. Conclusão: Verificou-se que os momentos vividos pelos estudantes possibilitaram conhecer, compreender e identificar a transformação da realidade. Contudo, alguns profissionais ainda se encontram resistentes acerca da aceitação do acompanhante durante o trabalho de parto, e na presença dos alunos extensionistas. Sendo esse o maior impasse encontrado, a superação dele se dá mediante a construção coletiva através do diálogo.

Palavras-chave: saúde da mulher; estudantes; parto humanizado; assistência integral à saúde; relações comunidade-instituição.

 

Abstract

The experience of implementing the project “Welcoming those who welcome” in a maternity school

Objective: Describing the implementation of the project “Welcoming those who welcome” at the University of Pernambuco, at the Amaury de Medeiros Integrated Health Center in Recife/PE. Methods: This is a qualitative, descriptive study, developed from the experience of the actions conducted by the Extension Project Welcoming those who welcome, from June to December 2015, held at the Integrated Health Center Amaury de Medeiros, in the city of Recife, PE. The steps involved in conduction of the activities consisted of guidelines, professional awareness, structuring and execution/reception. Results: It was verified the experience of extensionist students focused on their professional performance through the responsibility to guide companions about their rights during hospital care. Contributing to a more conscious experience of the birth and birth process, as well as providing students with an early contact with actions based on the precepts of humanization. Conclusion: The moments experienced by the students made possible to know, understand and identify the transformation of reality. However, some professionals are still resistant about the acceptance of the companion during labor, and in the presence of extension students. This being the biggest impasse found, overcoming it takes place through collective construction through dialogue.

Keywords: women’s health, students; humanizing birth process; comprehensive health care; community-institution relations.

 

Resumen

La experiencia de implementar el proyecto acogiendo a quienes acogen en una escuela de maternidad

Objetivo: Describir la implementación del proyecto Acogiendo a quienes acogen en la Universidad de Pernambuco, en el Centro Integrado de Salud Amaury de Medeiros en Recife/PE. Métodos: Se trata de un estudio cualitativo, descriptivo del tipo relato de experiencia, desarrollado a partir de la experiencia de las acciones realizadas por el Proyecto de Extensión Acogiendo a quienes acogen, de junio a diciembre de 2015, realizado en el Centro Integrado de Salud Amaury de Medeiros, en la ciudad de Recife, PE. Los pasos involucrados en la realización de las actividades consistieron en: lineamientos, sensibilización profesional, estructuración y ejecución/recepción. Resultados: Se verificó la experiencia de los estudiantes extensionistas enfocados en su desempeño profesional a través de la responsabilidad de orientar a los acompañantes sobre sus derechos durante la atención hospitalaria. Contribuir a una experiencia más consciente del proceso de parto y nacimiento, así como brindar a los estudiantes un contacto temprano con acciones basadas en los preceptos de la humanización. Conclusión: Se encontró que los momentos vividos por los estudiantes permitieron conocer, comprender e identificar la transformación de la realidad. Sin embargo, algunos profesionales aún se resisten a la aceptación del acompañante durante el trabajo de parto y en presencia de los estudiantes de extensión. Siendo este el mayor impasse encontrado, su superación se realiza a través de la construcción colectiva a través del diálogo.

Palabras-clave: salud de la mujer; estudiantes; parto humanizado; atención integral de salud; relaciones comunidad-institución.

 

Introdução

 

Apesar dos esforços nas últimas décadas para melhorar a qualidade da atenção obstétrica nos serviços públicos de saúde no Brasil, ainda se está muito aquém do desejado. Em 2018, o Brasil apresentou uma Razão de Mortalidade Materna (RMM) de 59,1 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, enquanto no ano anterior era de 64,5 [1]. Os elevados índices de cesarianas, corresponderam a 55,4% no ano de 2016. Na rede privada essa taxa chega a 84% e na pública a 40%, valores muito superiores aos 15% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ocupando assim o país o segundo lugar do mundo a realizar cesáreas [2].

Para a transformação deste cenário, o Ministério da Saúde (MS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), sugerem a adoção de práticas baseadas em evidências científicas, respeitando à fisiologia do parto e nascimento e redução das intervenções desnecessárias neste momento. Entre as ações estabelecidas para este fim está a inserção do acompanhante no trabalho de parto, parto e pós-parto, de acordo com a Lei do Acompanhante de 11.108 de abril de 2005.

Entretanto, a inserção do acompanhante enfrenta ao longo dos anos diversas barreiras, como a deficiência no quadro de funcionários, resistência pelos gestores em função dos custos gerados pela presença do acompanhante, inadequação da estrutura física, crença de que os acompanhantes atrapalham o trabalho da equipe, reduzida aceitação pelos profissionais, evidenciando assim a necessidade de aperfeiçoamento nos serviços de saúde [3].

Neste momento de pandemia que estamos enfrentando, houve a restrição de acompanhantes, sob a alegação da diminuição da propagação do vírus, mas a OMS recomendou que mesmo durante a pandemia seja garantido o direito a acompanhante às gestantes e às parturientes [4].

Apesar desta realidade, muitos avanços têm ocorrido, levando as instituições a um grande desafio em buscar seguir e cumprir a lei, visto que os benefícios da presença dos acompanhantes vão os poucos sendo incorporados pela instituição.

Para assegurar a presença do acompanhante de livre escolha da mulher, é fundamental que ocorra a fiscalização dos órgãos responsáveis nas instituições de saúde vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou à saúde suplementar, bem como mudanças na formação dos profissionais para a assistência ao parto. No debate atual sobre as políticas públicas na atenção ao parto, é indispensável a garantia desse direito, que historicamente tem sido pauta do movimento de mulheres [5].

A compreensão do parto enquanto evento fisiológico é fundamental para a mudança no modelo de atenção. A implantação de ações que favoreçam esta prática poderá levar a um aumento no conhecimento e informação, estimulando o empoderamento da mulher e família para a vivência de um parto com mais autonomia.

Desta forma, este trabalho se propõe a descrever a implementação de um projeto extensionista de educação em saúde em que acadêmicos da área de saúde a afins realizavam orientações aos acompanhantes de parturientes admitidas no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM) em Recife/Pernambuco (PE), denominado projeto Acolhendo quem Acolhe.

Nessa perspectiva, o presente estudo tem como objetivo descrever a implementação do projeto Acolhendo quem Acolhe da Universidade de Pernambuco (UPE), no CISAM em Recife/PE.

 

Métodos

 

Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo do tipo relato de experiência, desenvolvido a partir da vivência das ações realizadas pelo Projeto de Extensão Acolhendo quem Acolhe da UPE, realizado no CISAM, na cidade de Recife, no estado de PE. O desenvolvimento ocorreu no período de junho a dezembro de 2015, com um grupo de 56 alunos extensionistas dentre os seguintes cursos de graduação: medicina, enfermagem, fisioterapia, serviço social, saúde coletiva, psicologia e terapia ocupacional da UPE ou outras Instituições de Ensino Superior (IES) da Região Metropolitana que envolvem o cuidado à saúde da mulher, que é ofertada em geral entre quinto e sexto período.

Para contribuição na execução, o projeto contou com o apoio do Grupo CEFAPP (Centro de Formação, Aperfeiçoamento e Pesquisa) de Recife/PE, que disponibilizou docentes e alunos da Capacitação em Parteria Urbana (enfermeiros obstetras, médicos obstetras, médicos de saúde da família e comunidade que realizavam a capacitação).

Para a implementação do projeto foi necessária a divisão das atividades por etapas, que foram independentes e articuladas no quesito realização e aconteceram concomitantemente para que se pudesse dar base e andamento na execução, porém, para fins de compreensão foram aqui explicitadas separadamente como etapas.

Na etapa diretrizes, foi elaborado plano de ação e estabelecimento de cronograma de execução pelos Coordenadores do Projeto e docentes e alunos da Capacitação em Parteria Urbana do Grupo CEFAPP. Para a definição de preceitos quanto ao acolhimento dos acompanhantes foram realizadas reuniões com representantes da Diretoria Médica, Coordenação de Enfermagem, Coordenação do Serviço Social e Coordenação do Serviço de Apoio do CISAM. A partir disso, ficaram estabelecidas as diretrizes para a adequação das normas e rotinas referentes a permanência do acompanhante e do fluxo do acolhimento, bem como as orientações diárias realizadas pela Equipe do Serviço Social do hospital, ajustes para melhoria das ações e rotinas do CISAM, como por exemplo: local das orientações, vestimenta e identificação, abordagem, comunicação, encaminhamentos, instruções etc.

Na etapa sensibilização profissional, foram programados momentos de sensibilizações com os profissionais de saúde do CISAM referente a importância do acolhimento e do papel do acompanhante no trabalho de parto, parto e pós-parto, buscando envolver todos os plantões e em diversos horários. Entretanto, frente as adequações físicas pela qual a instituição estava passando, esta etapa foi cumprida parcialmente, entretanto o projeto foi apresentado para os profissionais dos diversos setores para que estes tomassem conhecimento da inserção e presença dos acadêmicos e os objetivos do projeto.

Na etapa estruturação, seguindo os requisitos para projetos extensionistas estabelecidos pela UPE, foi aberto o edital de inscrições no projeto e a seleção dos acadêmicos. As vagas foram destinadas para graduandos de Medicina, Enfermagem e Saúde Coletiva da UPE e dos cursos de Medicina, Enfermagem, Psicologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Fisioterapia de outros Institutos de Ensino Superior (IES) da Região Metropolitana do Recife, que tinham a disponibilidade de cumprir a carga horária do projeto e interesse em desenvolver as atividades dele. A seleção se deu por currículo, disponibilidade e entrevista seguindo esta sequência e com caráter eliminatório em cada fase.

Os acadêmicos selecionados assinaram o Termo de Responsabilidade e Compromisso com o projeto e logo após os candidatos selecionados passaram por um treinamento e sensibilização em 29 e 30 de julho de 2015 no Grupo CEFAPP, com carga horária de 16 horas, com questões que abordam sobre a fisiologia do parto e nascimento, as principais patologias envolvidas na gestação e como podem interferir no parto, o papel do acompanhante, lei do acompanhante e as ações e rotinas já desenvolvidas no CISAM.

Os alunos foram capacitados também para uma escuta aberta e sensível, para estarem atentos aos diferentes contextos e demandas individuais dos acompanhantes, lembrando de que se trata de um momento que é sempre cercado de dúvidas, medos e incertezas.

 

Resultados

 

Realizou-se a imersão dos acadêmicos por sete dias com um acompanhamento in loco com suporte dos profissionais do Grupo CEFAPP e do CISAM, com o intuito de contribuir para a adaptação dos alunos no acolhimento dos acompanhantes na primeira semana de execução do projeto. Contaram também com o apoio de cinco supervisores neste primeiro momento para orientação quanto a abordagem aos acompanhantes e gestantes, bem como as orientações essenciais e os encaminhamentos necessários como as demandas do serviço e informações pertinentes para as gestantes e acompanhantes em parceria com o Serviço Social do CISAM.

O projeto foi concluído em 17 de dezembro de 2015, totalizando quatro meses (total 20 semanas) e com carga horária correspondente a todas as atividades de 172 horas. Essa iniciativa se deu através da Lei do acompanhante (lei 11.108 de abril de 2005) e por saber que infelizmente muitas mulheres e seus acompanhantes desconheciam a referida lei. Ao mesmo tempo foram orientados quanto às questões fisiológicas do parto para que não houvesse uma internação desnecessária que, muitas vezes, vai de encontro com o respeito e autonomia da mulher, o que gerou um melhor esclarecimento e empoderamento das usuárias assistidas pelo projeto.

Na etapa execução/acolhimentos, os alunos permaneceram no espaço/ambiente da triagem obstétrica do CISAM, devidamente identificados, em forma de plantão (das 07 às 13h, das 13h às 19h), exceto aos finais de semana (sábado e domingo) que ficou estabelecido em forma de plantão por doze horas, quinzenalmente para cada participante.

O acolhimento dos acompanhantes constou de orientações sobre direitos e deveres dos acompanhantes, de acordo com a chegada deles, retirando dúvidas quanto a permanência destes, como poderiam colaborar com o trabalho de parto, parto e pós-parto, orientações breves quanto a fisiologia do parto e possíveis procedimentos. Esta atividade foi individual ou com um grupo de acompanhantes realizada na própria sala de espera.

Os alunos participantes também apresentaram os ambientes/infraestrutura da instituição para promover a ambientação dos acompanhantes e fizeram-se ponte entre o acompanhante e profissionais, ou acompanhante e instituição e até acompanhante e outros familiares da mulher, utilizando-se de linguagem acessível e postura acolhedora.

Quanto aos alunos extensionistas pôde-se verificar a vivência dos mesmos voltada para a sua atuação profissional através da responsabilidade de orientar os acompanhantes sobre seus direitos, durante o atendimento hospitalar. Os momentos vividos por eles possibilitaram conhecer, compreender e identificar a transformação da realidade.

Por outra perspectiva, alguns profissionais ainda se encontram resistentes na aceitação do acompanhante durante o trabalho de parto, e na presença dos alunos extensionistas. Sendo esse o maior impasse encontrado, a superação dele se dar mediante a construção coletiva através do diálogo. Contudo, verificou-se que as orientações ocorridas no setor da triagem obstétrica a partir de abordagens coletivas e individuais, duraram em média 25 minutos, e que foram realizadas cerca de 750 orientações, abrangendo 1.640 acompanhantes e gestantes, contribuindo para uma vivência mais consciente do processo de parto e nascimento, bem como está sendo oportunizado aos acadêmicos um contato precoce com ações baseadas nos preceitos da humanização.

Por fim, pode-se verificar que com a presença do projeto algumas transformações de grande relevância para o CISAM, tais como: maior integração entre gestantes, puérperas e profissionais em saúde; relato de satisfação da parturiente, diminuição da ansiedade e da solidão; contribuição para o crescimento pessoal e profissional dos alunos extensionistas, consolidando um espaço para a definição dos futuros profissionais; e uma maior interação entre a comunidade acadêmica e a comunidade civil.

 

Discussão

 

O modelo predominante do cuidado, durante o parto, em muitos lugares do mundo, permite ao profissional de saúde controlar o processo de parto, poder expor mulheres grávidas aparentemente saudáveis a intervenções médicas desnecessárias que interferem no processo fisiológico do parto [6].

Em contrapartida, as diretrizes nacionais acerca da assistência ao parto normal recomendam a presença do acompanhante durante o parto e nascimento, sendo esta uma ação convergente à humanização da atenção à saúde neste momento [7].

Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), na rede própria ou na conveniada, são obrigados a permitir a presença de um acompanhante da parturiente durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. O acompanhante deve ser indicado pela própria parturiente [3].

Apesar de existir uma legislação específica que assegure a presença da pessoa de sua escolha, existe grande resistência por parte dos profissionais que assistem ao parto [8]. Além disso, estudos comprovam que esta Lei não vem sendo apreendida pela equipe de saúde e nem tampouco praticada [9]. Também foi evidenciada a falta da inserção do acompanhante durante o pré-natal e poucos têm conhecimento sobre o processo de trabalho de parto e parto e da existência da lei do acompanhante antes da internação [9].

Apesar do pouco conhecimento sobre a lei por maior parte dos acompanhantes, as experiências foram relatadas de forma positivas. Sobre o papel desempenhado pelos acompanhantes no processo de parto, foram citados: acalmar, estar presente, encorajar e transmitir força, distrair e proporcionar apoio [3]. O carinho, o apoio, a ajuda e a massagem foram percebidos pelas mulheres durante à experiência e destacados como atitudes facilitadoras do parto. O apoio emocional ajudou as parturientes a terem força para continuar [3].

O suporte emocional de um acompanhante, durante o parto, diminui a sensação de solidão, abandono e dor. Palavras carinhosas e de encorajamento efetivamente acalmam as mulheres, contribuindo para o surgimento de sentimentos positivos [6].

Deste modo, é necessária a inserção do(a) acompanhante no processo de gravidez cada vez mais cedo, desde o pré-natal até o pós-parto. A participação precoce do acompanhante apresenta reflexos positivos para a vivência do parto. Para efetivar esta prática é necessário um olhar atento dos profissionais de saúde que, apesar das dificuldades de ordem institucional, podem realizar atividades para acolher e estimular a mulher e seu acompanhante. Sugere-se que as consultas de pré-natal considerem a preparação tanto da parturiente quanto do acompanhante para o parto [10].

Os benefícios da presença do acompanhante são apontados por vários trabalhos, entre eles a Cochrane Library publicou um estudo em 2017, analisando 27 ensaios clínicos randomizados em diversos países, entre eles avaliaram o apoio à mulher por um acompanhante de sua rede social, práticas rotineiras e políticas no ambiente de nascimento que possam afetar a autonomia da mulher, a liberdade de movimento e a capacidade de lidar com o trabalho, incluindo: políticas sobre a presença de pessoas de apoio da própria mulher. Os resultados apontaram que as mulheres que tiveram suporte de acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, parto e pós-parto tiveram resultados mais satisfatórios em relação ao processo, melhor percepção da experiência, menor chance de ser submetida a uma cesariana, maior chance de vivenciar um parto normal e melhores resultados de Apgar do recém-nascido [11].

A busca constante de conhecimento e o avanço nesta temática não estão totalmente extenuados, o que é evidenciado pelo tempo já decorrido da implantação da lei do acompanhante e a presente precariedade quanto à institucionalização da família para o trabalho de parto e parto.

Considerando os fatores limitantes para o exercício das ações do projeto de extensão, podemos citar o espaço físico de acolhimento aos acompanhantes, assim como a dificuldade de executar uma escuta em local privativo e/ou com pouco ruído externo, no entanto as orientações foram transmitidas apesar destes fatores externos.

Observamos que a receptividade do(a) acompanhante ao extensionista a princípio era de algo novo, porém acolhedor, tendo em vista que a dinâmica e fluxo interno institucional é voltada para assistência da mulher e o(a) acompanhante por fim poderia ser afastado desse processo, e os extensionistas estavam no ambiente exclusivamente para acolher quem acolhe a mulher durante este momento.

 

Conclusão

 

A experiência de graduandos na participação desta atividade de extensão universitária trouxe resultados tanto para a formação acadêmica quanto para as ações de saúde com os acompanhantes das gestantes atendidas no CISAM. O projeto serviu para os alunos como fonte de possibilidades de contato com a realidade obstétrica, de desenvolver a escuta e realizar educação em saúde, o que certamente o fez refletir sobre sua prática e a forma como desenvolverá suas atividades profissionais.

Ao mesmo tempo o projeto contribuiu para uma maior redução das dúvidas, anseios e medos das mulheres gestantes e seus acompanhantes. Um dos principais aspectos do projeto foi o resgate da importância do acompanhante durante a internação, principalmente em caso de gestação de alto risco, trabalho parto, parto e puerpério.

Faz-se necessário, para melhoramento do projeto dessa natureza, uma maior integração dos profissionais de saúde que assistem essas mulheres quanto ao acolhimento dos acompanhantes.

 

Agradecimentos

Às mulheres e famílias que participaram do projeto, assim como aos acadêmicos extensionistas envolvidos, e ao CISAM por ter oportunizado a efetivação do Projeto de Extensão.

 

Conflitos de interesse

Não há conflito de interesse.

 

Fontes de financiamento

Não houve fonte de financiamento.

 

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Araujo APMF, Silva LSR; Frank TC; Coleta de dados: Araujo APMF, Silva LSR; Análise e interpretação dos dadosAraujo APMF, Silva LSR; Freitas MP, Costa DGL; Redação do manuscrito: Araujo APMF, Silva LSR; Freitas MP; Costa DGL, Frank TC, Pereira EBF; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Silva LSR, Frank TC, Pereira EBF

 

Referências

 

  1. Ministério da Saúde (BR). Brasil reduziu 8,4% a razão de mortalidade materna e investe em ações com foco na saúde da mulher. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Brasília (DF): MS;2020.
  2. Agência Senado. Especialistas apontam epidemia de cesarianas no Brasil. Senado Federal. [Internet]. [cited 2020 Jan 31]. Available from: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/especial-cidadania/especialistas-apontam-epidemia-de-cesarianas/especialistas-apontam-epidemia-de-cesarianas
  3. Souza SR, Gualda DM. The experience of women and their coaches with childbirth in a public maternity hospital. Texto Contexto Enferm 2016;25(1):e4080014. doi: 10.1590/0104-0707201600004080014 [Crossref]
  4. Cofen. Defensoria Pública busca garantir direito a acompanhante para gestantes no DF. [Internet]. 2020. [cited 2020 Jan 31]. Available from: http://www.cofen.gov.br/defensoria-publica-busca-garantir-direito-a-acompanhante-para-gestantes-no-df_81846.html
  5. Monguilhott JJ, Bruggemann OM, Freitas PF, d’Orsi E. Nascer no Brasil: a presença do acompanhante favorece a aplicação das boas práticas na atenção ao parto na região Sul. Rev Saúde Pública 2020;52. doi: 10.11606/S1518-8787.2018052006258 [Crossref]
  6. World Health Organization. Intrapartum care for a positive childbirth experience. [Internet]. 2018. [cited 2020 Jan 31]. Available from: https://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/
  7. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal: relatório de recomendação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2016.
  8. Maziero CP, Zani AV, Bernardy CC, Pontes GM, Lago MT, Pinto KR. The non-presence of companions at childbirth: vision of health professionals. Rev Fun Care Online 2020;12:531-6. doi: 10.9789/2175-5361.rpcfo.v12.8627 [Crossref]
  9. Souza M, Wall M, Thuler A, Freire M, Santos E. Experience of the parturient's assistant in the delivery process. Revista de Enfermagem UFPE online 2018;12(3):626-34. doi: 10.5205/1981-8963-v12i3a230979p626-634-2018 [Crossref]
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