Enferm Bras
2022;21(3):359-69
RELATO
DE EXPERIÊNCIA
A
experiência da implantacão do projeto “Acolhendo quem
acolhe” em uma maternidade escola
Ana
Paula Machado Fortes de Araujo*, Liniker
Scolfild Rodrigues da Silva**, Mirele
Pacheco de Freitas, M.Sc.***, Duana
Gabrielle de Lemos Costa, M.Sc.***, Tatianne Cavalcanti Frank, M.Sc.****,
Emanuela Batista Ferreira e Pereira, D.Sc.*****
*Centro
Universitário Redentor, Recife, PE, **Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das
Graças/Universidade de Pernambuco (FENSG/UPE), Recife, PE, ***Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, ****Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Enfermeira Obstetra e Parteira Urbana pela DeMáter
- Parto Domiciliar Planejado, Recife, PE, *****Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), Recife, PE
Recebido
em 23 de agosto de 2021; Aceito em 12 de fevereiro de
2022.
Correspondência: Emanuela Batista Ferreira e Pereira,
Rua Arnóbio Marquês, 310, 50100-130 Recife PE
Ana
Paula Machado Fortes de Araujo: apnurse2009@gmail.com
Liniker Scolfild Rodrigues
da Silva: liniker_14@hotmail.com
Mirele Pacheco de Freitas: mirelepf@gmail.com
Duana Gabrielle de Lemos Costa:
duana_gabrielle@hotmail.com
Tatianne Cavalcanti Frank:
tatiannefrank@yahoo.com.br
Emanuela
Batista Ferreira e Pereira: emanuela.pereira@upe.br
Resumo
Objetivo: Descrever a implementação do projeto
“Acolhendo quem Acolhe” da Universidade de Pernambuco, no Centro Integrado de
Saúde Amaury de Medeiros em Recife/PE. Métodos: Trata-se de um estudo
qualitativo, descritivo do tipo relato de experiência desenvolvido a partir da
vivência das ações realizadas pelo Projeto de Extensão Acolhendo quem Acolhe,
no período de junho a dezembro de 2015, realizado no Centro Integrado de Saúde
Amaury de Medeiros, na cidade do Recife, PE. As etapas envolvidas na realização
das atividades consistiram em: diretrizes, sensibilização profissional,
estruturação e execução/acolhimento. Resultados: Verificou-se a vivência
dos alunos extensionistas voltada para a sua atuação profissional através da
responsabilidade de orientar os acompanhantes sobre seus direitos durante o
atendimento hospitalar, contribuindo para uma vivência mais consciente do
processo de parto e nascimento, bem como oportunizou aos acadêmicos um contato
precoce com ações baseadas nos preceitos da humanização. Conclusão:
Verificou-se que os momentos vividos pelos estudantes possibilitaram conhecer,
compreender e identificar a transformação da realidade. Contudo, alguns
profissionais ainda se encontram resistentes acerca da aceitação do
acompanhante durante o trabalho de parto, e na presença dos alunos extensionistas.
Sendo esse o maior impasse encontrado, a superação dele se dá mediante a
construção coletiva através do diálogo.
Palavras-chave: saúde da mulher; estudantes; parto
humanizado; assistência integral à saúde; relações comunidade-instituição.
Abstract
The experience of implementing the project “Welcoming
those who welcome” in a maternity school
Objective: Describing the implementation of
the project “Welcoming those who welcome” at the University of Pernambuco, at
the Amaury de Medeiros Integrated Health Center in Recife/PE. Methods:
This is a qualitative, descriptive study, developed from the experience of the
actions conducted by the Extension Project Welcoming those who welcome, from
June to December 2015, held at the Integrated Health Center Amaury de Medeiros,
in the city of Recife, PE. The steps involved in conduction of the activities
consisted of guidelines, professional awareness, structuring and
execution/reception. Results: It was verified the experience of
extensionist students focused on their professional performance through the
responsibility to guide companions about their rights during hospital care.
Contributing to a more conscious experience of the birth and birth process, as
well as providing students with an early contact with actions based on the
precepts of humanization. Conclusion: The moments experienced by the
students made possible to know, understand and identify the transformation of
reality. However, some professionals are still resistant about the acceptance
of the companion during labor, and in the presence of extension students. This
being the biggest impasse found, overcoming it takes place through collective
construction through dialogue.
Keywords: women’s health, students;
humanizing birth process; comprehensive health care; community-institution
relations.
Resumen
La
experiencia de implementar el proyecto
acogiendo a quienes acogen en una escuela
de maternidad
Objetivo: Describir la implementación del proyecto Acogiendo
a quienes acogen en la Universidad
de Pernambuco, en el Centro
Integrado de Salud Amaury de Medeiros en Recife/PE. Métodos: Se trata de un estudio cualitativo,
descriptivo del tipo relato
de experiencia, desarrollado a partir de la experiencia de las acciones realizadas por el Proyecto de Extensión Acogiendo a quienes acogen, de junio a diciembre de 2015, realizado en el Centro Integrado de Salud
Amaury de Medeiros, en la ciudad de Recife, PE. Los pasos
involucrados en la realización de las actividades consistieron en: lineamientos, sensibilización profesional, estructuración y ejecución/recepción. Resultados: Se verificó
la experiencia de los estudiantes extensionistas enfocados en
su desempeño profesional a través de la responsabilidad de orientar a los
acompañantes sobre sus derechos
durante la atención hospitalaria. Contribuir a una experiencia más consciente del proceso de
parto y nacimiento, así
como brindar a los estudiantes
un contacto temprano con acciones basadas
en los preceptos
de la humanización. Conclusión: Se encontró
que los momentos vividos por los
estudiantes permitieron conocer, comprender e identificar
la transformación de la realidad. Sin
embargo, algunos profesionales
aún se resisten a la aceptación del
acompañante durante el trabajo de parto y en presencia de los estudiantes de extensión. Siendo este el mayor impasse encontrado, su superación se realiza a través de la
construcción colectiva a
través del diálogo.
Palabras-clave: salud de la
mujer; estudiantes; parto
humanizado; atención integral de salud;
relaciones comunidad-institución.
Apesar
dos esforços nas últimas décadas para melhorar a qualidade da atenção
obstétrica nos serviços públicos de saúde no Brasil, ainda se está muito aquém
do desejado. Em 2018, o Brasil apresentou uma Razão de Mortalidade Materna
(RMM) de 59,1 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, enquanto no ano anterior
era de 64,5 [1]. Os elevados índices de cesarianas, corresponderam a 55,4% no
ano de 2016. Na rede privada essa taxa chega a 84% e na pública a 40%, valores
muito superiores aos 15% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
ocupando assim o país o segundo lugar do mundo a realizar cesáreas [2].
Para
a transformação deste cenário, o Ministério da Saúde (MS) e a Organização
Mundial de Saúde (OMS), sugerem a adoção de práticas baseadas em evidências
científicas, respeitando à fisiologia do parto e nascimento e redução das
intervenções desnecessárias neste momento. Entre as ações estabelecidas para
este fim está a inserção do acompanhante no trabalho de parto, parto e
pós-parto, de acordo com a Lei do Acompanhante de 11.108 de abril de 2005.
Entretanto,
a inserção do acompanhante enfrenta ao longo dos anos diversas barreiras, como
a deficiência no quadro de funcionários, resistência pelos gestores em função dos
custos gerados pela presença do acompanhante, inadequação da estrutura física,
crença de que os acompanhantes atrapalham o trabalho da equipe, reduzida
aceitação pelos profissionais, evidenciando assim a necessidade de
aperfeiçoamento nos serviços de saúde [3].
Neste
momento de pandemia que estamos enfrentando, houve a restrição de
acompanhantes, sob a alegação da diminuição da propagação do vírus, mas a OMS
recomendou que mesmo durante a pandemia seja garantido o direito a acompanhante
às gestantes e às parturientes [4].
Apesar
desta realidade, muitos avanços têm ocorrido, levando as instituições a um
grande desafio em buscar seguir e cumprir a lei, visto que os benefícios da
presença dos acompanhantes vão os poucos sendo incorporados pela instituição.
Para
assegurar a presença do acompanhante de livre escolha da mulher,
é fundamental
que ocorra a fiscalização dos órgãos
responsáveis nas instituições de saúde
vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou à
saúde suplementar, bem como mudanças
na formação dos profissionais para a assistência ao
parto. No debate atual
sobre as políticas públicas na atenção ao
parto, é indispensável a garantia
desse direito, que historicamente tem sido pauta do movimento de
mulheres [5].
A
compreensão do parto enquanto evento fisiológico é
fundamental para a mudança
no modelo de atenção. A implantação de
ações que favoreçam esta prática
poderá
levar a um aumento no conhecimento e informação,
estimulando o empoderamento da
mulher e família para a vivência de um parto com mais
autonomia.
Desta
forma, este trabalho se propõe a descrever a implementação de um projeto
extensionista de educação em saúde em que acadêmicos da área de saúde a afins
realizavam orientações aos acompanhantes de parturientes admitidas no Centro
Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM) em Recife/Pernambuco (PE),
denominado projeto Acolhendo quem Acolhe.
Nessa
perspectiva, o presente estudo tem como objetivo descrever a implementação do
projeto Acolhendo quem Acolhe da Universidade de Pernambuco (UPE), no CISAM em
Recife/PE.
Trata-se
de um estudo qualitativo, descritivo do tipo relato de experiência,
desenvolvido a partir da vivência das ações realizadas pelo Projeto de Extensão
Acolhendo quem Acolhe da UPE, realizado no CISAM, na cidade de Recife, no
estado de PE. O desenvolvimento ocorreu no período de junho a dezembro de 2015,
com um grupo de 56 alunos extensionistas dentre os seguintes cursos de
graduação: medicina, enfermagem, fisioterapia, serviço social, saúde coletiva,
psicologia e terapia ocupacional da UPE ou outras Instituições de Ensino
Superior (IES) da Região Metropolitana que envolvem o cuidado à saúde da
mulher, que é ofertada em geral entre quinto e sexto período.
Para
contribuição na execução, o projeto contou com o apoio do Grupo CEFAPP (Centro
de Formação, Aperfeiçoamento e Pesquisa) de Recife/PE, que disponibilizou
docentes e alunos da Capacitação em Parteria Urbana
(enfermeiros obstetras, médicos obstetras, médicos de saúde da família e
comunidade que realizavam a capacitação).
Para
a implementação do projeto foi necessária a divisão das atividades por etapas,
que foram independentes e articuladas no quesito realização e aconteceram
concomitantemente para que se pudesse dar base e andamento na execução, porém,
para fins de compreensão foram aqui explicitadas separadamente como etapas.
Na
etapa diretrizes, foi elaborado plano de ação e estabelecimento de cronograma
de execução pelos Coordenadores do Projeto e docentes e alunos da Capacitação
em Parteria Urbana do Grupo CEFAPP. Para a definição
de preceitos quanto ao acolhimento dos acompanhantes foram realizadas reuniões
com representantes da Diretoria Médica, Coordenação de Enfermagem, Coordenação
do Serviço Social e Coordenação do Serviço de Apoio do CISAM. A partir disso,
ficaram estabelecidas as diretrizes para a adequação das normas e rotinas
referentes a permanência do acompanhante e do fluxo do acolhimento, bem como as
orientações diárias realizadas pela Equipe do Serviço Social do hospital,
ajustes para melhoria das ações e rotinas do CISAM, como por exemplo: local das
orientações, vestimenta e identificação, abordagem, comunicação,
encaminhamentos, instruções etc.
Na
etapa sensibilização profissional, foram programados momentos de
sensibilizações com os profissionais de saúde do CISAM referente a importância
do acolhimento e do papel do acompanhante no trabalho de parto, parto e
pós-parto, buscando envolver todos os plantões e em diversos horários. Entretanto,
frente as adequações físicas pela qual a instituição estava passando, esta
etapa foi cumprida parcialmente, entretanto o projeto foi apresentado para os
profissionais dos diversos setores para que estes tomassem conhecimento da
inserção e presença dos acadêmicos e os objetivos do projeto.
Na
etapa estruturação, seguindo os requisitos para projetos extensionistas
estabelecidos pela UPE, foi aberto o edital de inscrições no projeto e a
seleção dos acadêmicos. As vagas foram destinadas para graduandos de Medicina,
Enfermagem e Saúde Coletiva da UPE e dos cursos de Medicina, Enfermagem,
Psicologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Fisioterapia de outros
Institutos de Ensino Superior (IES) da Região Metropolitana do Recife, que
tinham a disponibilidade de cumprir a carga horária do projeto e interesse em
desenvolver as atividades dele. A seleção se deu por currículo, disponibilidade
e entrevista seguindo esta sequência e com caráter eliminatório em cada fase.
Os
acadêmicos selecionados assinaram o Termo de Responsabilidade e Compromisso com
o projeto e logo após os candidatos selecionados passaram por um treinamento e
sensibilização em 29 e 30 de julho de 2015 no Grupo CEFAPP, com carga horária
de 16 horas, com questões que abordam sobre a fisiologia do parto e nascimento,
as principais patologias envolvidas na gestação e como podem interferir no
parto, o papel do acompanhante, lei do acompanhante e as ações e rotinas já
desenvolvidas no CISAM.
Os
alunos foram capacitados também para uma escuta aberta e sensível, para estarem
atentos aos diferentes contextos e demandas individuais dos acompanhantes,
lembrando de que se trata de um momento que é sempre cercado de dúvidas, medos
e incertezas.
Realizou-se
a imersão dos acadêmicos por sete dias com um acompanhamento in loco com
suporte dos profissionais do Grupo CEFAPP e do CISAM, com o intuito de
contribuir para a adaptação dos alunos no acolhimento dos acompanhantes na
primeira semana de execução do projeto. Contaram também com o apoio de cinco
supervisores neste primeiro momento para orientação quanto a abordagem aos
acompanhantes e gestantes, bem como as orientações essenciais e os
encaminhamentos necessários como as demandas do serviço e informações
pertinentes para as gestantes e acompanhantes em parceria com o Serviço Social
do CISAM.
O
projeto foi concluído em 17 de dezembro de 2015, totalizando quatro meses
(total 20 semanas) e com carga horária correspondente a todas as atividades de
172 horas. Essa iniciativa se deu através da Lei do acompanhante (lei 11.108 de
abril de 2005) e por saber que infelizmente muitas mulheres e seus
acompanhantes desconheciam a referida lei. Ao mesmo tempo foram orientados
quanto às questões fisiológicas do parto para que não houvesse uma internação
desnecessária que, muitas vezes, vai de encontro com o respeito e autonomia da
mulher, o que gerou um melhor esclarecimento e empoderamento das usuárias
assistidas pelo projeto.
Na
etapa execução/acolhimentos, os alunos permaneceram no espaço/ambiente da
triagem obstétrica do CISAM, devidamente identificados, em forma de plantão
(das 07 às 13h, das 13h às 19h), exceto aos finais de semana (sábado e domingo)
que ficou estabelecido em forma de plantão por doze horas, quinzenalmente para
cada participante.
O
acolhimento dos acompanhantes constou de orientações sobre direitos e deveres
dos acompanhantes, de acordo com a chegada deles, retirando dúvidas quanto a
permanência destes, como poderiam colaborar com o trabalho de parto, parto e
pós-parto, orientações breves quanto a fisiologia do parto e possíveis
procedimentos. Esta atividade foi individual ou com um grupo de acompanhantes
realizada na própria sala de espera.
Os
alunos participantes também apresentaram os ambientes/infraestrutura da
instituição para promover a ambientação dos acompanhantes e fizeram-se ponte
entre o acompanhante e profissionais, ou acompanhante e instituição e até
acompanhante e outros familiares da mulher, utilizando-se de linguagem
acessível e postura acolhedora.
Quanto
aos alunos extensionistas pôde-se verificar a vivência dos mesmos voltada para
a sua atuação profissional através da responsabilidade de orientar os
acompanhantes sobre seus direitos, durante o atendimento hospitalar. Os
momentos vividos por eles possibilitaram conhecer, compreender e identificar a
transformação da realidade.
Por
outra perspectiva, alguns profissionais ainda se encontram resistentes na
aceitação do acompanhante durante o trabalho de parto, e na presença dos alunos
extensionistas. Sendo esse o maior impasse encontrado, a superação dele se dar
mediante a construção coletiva através do diálogo. Contudo, verificou-se que as
orientações ocorridas no setor da triagem obstétrica a partir de abordagens
coletivas e individuais, duraram em média 25 minutos, e que foram realizadas
cerca de 750 orientações, abrangendo 1.640 acompanhantes e gestantes,
contribuindo para uma vivência mais consciente do processo de parto e
nascimento, bem como está sendo oportunizado aos acadêmicos um contato precoce
com ações baseadas nos preceitos da humanização.
Por
fim, pode-se verificar que com a presença do projeto algumas transformações de
grande relevância para o CISAM, tais como: maior integração entre gestantes,
puérperas e profissionais em saúde; relato de satisfação da parturiente,
diminuição da ansiedade e da solidão; contribuição para o crescimento pessoal e
profissional dos alunos extensionistas, consolidando um espaço para a definição
dos futuros profissionais; e uma maior interação entre a comunidade acadêmica e
a comunidade civil.
O
modelo predominante do cuidado, durante o parto, em muitos lugares do mundo,
permite ao profissional de saúde controlar o processo de parto, poder expor
mulheres grávidas aparentemente saudáveis a intervenções médicas desnecessárias
que interferem no processo fisiológico do parto [6].
Em
contrapartida, as diretrizes nacionais acerca da assistência ao parto normal
recomendam a presença do acompanhante durante o parto e nascimento, sendo esta uma ação convergente à humanização da atenção à saúde
neste momento [7].
Os
serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), na rede própria ou na
conveniada, são obrigados a permitir a presença de um acompanhante da
parturiente durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto
imediato. O acompanhante deve ser indicado pela própria parturiente [3].
Apesar
de existir uma legislação específica que assegure a presença da pessoa de sua
escolha, existe grande resistência por parte dos profissionais que assistem ao
parto [8]. Além disso, estudos comprovam que esta Lei não vem sendo apreendida
pela equipe de saúde e nem tampouco praticada [9]. Também foi evidenciada a
falta da inserção do acompanhante durante o pré-natal e poucos têm conhecimento
sobre o processo de trabalho de parto e parto e da existência da lei do
acompanhante antes da internação [9].
Apesar
do pouco conhecimento sobre a lei por maior parte dos acompanhantes, as
experiências foram relatadas de forma positivas. Sobre o papel desempenhado
pelos acompanhantes no processo de parto, foram citados: acalmar, estar
presente, encorajar e transmitir força, distrair e proporcionar apoio [3]. O
carinho, o apoio, a ajuda e a massagem foram percebidos
pelas mulheres durante à experiência e destacados como atitudes facilitadoras
do parto. O apoio emocional ajudou as parturientes a terem força para continuar
[3].
O
suporte emocional de um acompanhante, durante o parto, diminui a sensação de
solidão, abandono e dor. Palavras carinhosas e de encorajamento efetivamente
acalmam as mulheres, contribuindo para o surgimento de sentimentos positivos
[6].
Deste
modo, é necessária a inserção do(a) acompanhante no processo de gravidez cada
vez mais cedo, desde o pré-natal até o pós-parto. A participação precoce do
acompanhante apresenta reflexos positivos para a vivência do parto. Para
efetivar esta prática é necessário um olhar atento dos profissionais de saúde
que, apesar das dificuldades de ordem institucional, podem realizar atividades
para acolher e estimular a mulher e seu acompanhante. Sugere-se que as
consultas de pré-natal considerem a preparação tanto da parturiente quanto do
acompanhante para o parto [10].
Os
benefícios da presença do acompanhante são apontados por vários trabalhos,
entre eles a Cochrane Library publicou um estudo em 2017, analisando 27 ensaios
clínicos randomizados em diversos países, entre eles avaliaram o apoio à mulher
por um acompanhante de sua rede social, práticas rotineiras e políticas no
ambiente de nascimento que possam afetar a autonomia da mulher, a liberdade de
movimento e a capacidade de lidar com o trabalho, incluindo: políticas sobre a
presença de pessoas de apoio da própria mulher. Os resultados apontaram que as
mulheres que tiveram suporte de acompanhante de sua escolha durante o trabalho
de parto, parto e pós-parto tiveram resultados mais satisfatórios em relação ao
processo, melhor percepção da experiência, menor chance de ser submetida a uma
cesariana, maior chance de vivenciar um parto normal e melhores resultados de Apgar do recém-nascido [11].
A
busca constante de conhecimento e o avanço nesta temática não estão totalmente
extenuados, o que é evidenciado pelo tempo já decorrido da implantação da lei
do acompanhante e a presente precariedade quanto à institucionalização da
família para o trabalho de parto e parto.
Considerando
os fatores limitantes para o exercício das ações do projeto de extensão,
podemos citar o espaço físico de acolhimento aos acompanhantes, assim como a dificuldade
de executar uma escuta em local privativo e/ou com pouco ruído externo, no
entanto as orientações foram transmitidas apesar destes fatores externos.
Observamos
que a receptividade do(a) acompanhante ao extensionista a princípio era de algo
novo, porém acolhedor, tendo em vista que a dinâmica e fluxo interno
institucional é voltada para assistência da mulher e o(a) acompanhante por fim
poderia ser afastado desse processo, e os extensionistas estavam no ambiente
exclusivamente para acolher quem acolhe a mulher durante este momento.
A
experiência de graduandos na participação desta atividade de extensão
universitária trouxe resultados tanto para a formação acadêmica quanto para as
ações de saúde com os acompanhantes das gestantes atendidas no CISAM. O projeto
serviu para os alunos como fonte de possibilidades de contato com a realidade
obstétrica, de desenvolver a escuta e realizar educação em saúde, o que
certamente o fez refletir sobre sua prática e a forma como desenvolverá suas
atividades profissionais.
Ao
mesmo tempo o projeto contribuiu para uma maior redução das dúvidas, anseios e
medos das mulheres gestantes e seus acompanhantes. Um dos principais aspectos
do projeto foi o resgate da importância do acompanhante durante a internação,
principalmente em caso de gestação de alto risco, trabalho parto, parto e
puerpério.
Faz-se
necessário, para melhoramento do projeto dessa natureza, uma maior integração
dos profissionais de saúde que assistem essas mulheres quanto ao acolhimento
dos acompanhantes.
Agradecimentos
Às
mulheres e famílias que participaram do projeto, assim como aos acadêmicos
extensionistas envolvidos, e ao CISAM por ter oportunizado a efetivação do
Projeto de Extensão.
Conflitos
de interesse
Não
há conflito de interesse.
Fontes
de financiamento
Não
houve fonte de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Araujo APMF, Silva LSR; Frank TC; Coleta de dados:
Araujo APMF, Silva LSR; Análise e interpretação
dos dados: Araujo APMF, Silva LSR; Freitas
MP, Costa DGL; Redação do manuscrito: Araujo
APMF, Silva LSR; Freitas MP; Costa DGL, Frank TC, Pereira EBF; Revisão
crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Silva LSR,
Frank TC, Pereira EBF