Enferm Bras 2022;21(2):220-234
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Projeto de intervenção
sobre trabalho de parto e parto
Ítalo Roger Ferreira
Torres*, Liniker Scolfild
Rodrigues da Silva**, Gianna Ribeiro Carvalho***, Thicianne da Silva Roque****, Eliana Lessa Cordeiro, M.Sc.*****, Emanuela Batista Ferreira e Pereira, D.Sc.*****
*Especialista em
Enfermagem Obstétrica, Rede Cegonha pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Belo Horizonte, MG, **Especialista em Enfermagem Obstétrica na
modalidade Residência pela Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças/Universidade
de Pernambuco (FENSG/UPE), Recife, PE, ***Especialista em Gestão em Saúde pela
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, MA, ****Doutoranda em
Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Carreiros, RS,
*****Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE
Recebido em 15 de agosto de
2021; Aceito em 2 de fevereiro de 2022.
Correspondência: Emanuela Batista Ferreira e Pereira,
Rua Arnóbio Marquês, 310, 50100-130 Recife PE
Ítalo
Roger Ferreira Torres: italoroger17@hotmail.com
Liniker Scolfild
Rodrigues da Silva: liniker_14@hotmail.com
Gianna Ribeiro Carvalho:
gianna_ribeiro12@hotmail.com
Thicianne da Silva Roque:
roquethicianne@gmail.com
Eliana
Lessa Cordeiro: elianalessa18@hotmail.com
Emanuela
Batista Ferreira e Pereira: emanuela.pereira@upe.br
Resumo
Objetivo: Relatar a elaboração e apresentação de
um Projeto de Intervenção em saúde às gestantes e seus acompanhantes sobre o
processo do trabalho de parto e parto. Métodos: Trata-se de um estudo
qualitativo, descritivo do tipo relato de experiência, desenvolvido a partir da
vivência de um enfermeiro pós-graduando em Enfermagem Obstétrica. Resultados:
Dentre as etapas de elaboração, foram necessárias oficinas e encontros
sistemáticos com enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde e do Centro de Parto
Normal, bem como com as gestantes e seus acompanhantes, sobre: rotina
institucional e ações educativas a respeito do processo de trabalho de parto e
parto. A partir destes encontros, foi possível elaborar e propor um Projeto de
Intervenção para o enfermeiro utilizar nos serviços de saúde nas ações
educativas para as gestantes e seus acompanhantes sobre o processo do trabalho
de parto e parto. Conclusão: Espera-se que a elaboração deste Projeto de
Intervenção possa contribuir para a melhoria da qualidade da assistência às
gestantes e parturientes, e seus acompanhantes, potencializando uma prática de
intervenção em enfermagem holística, integrada e humanizada nos espaços de
cuidado em saúde.
Palavras-chave: gestantes; trabalho de parto; parto;
orientação; enfermagem.
Abstract
Intervention project on labor and birth
Objective: Reporting the making and presentation of a Health
Intervention Project to pregnant women and their companions on the process of
labor and birth. Methods: This is a qualitative, descriptive study of
the type of experience report, developed from the experience of a post-graduate
nurse in Obstetric Nursing. Results: Among the stages of elaboration,
workshops and systematic meetings with nurses from the Basic Health Units and
the Normal Delivery Center were necessary, as well as with pregnant women and
their companions, about institutional routine and educational actions regarding
the labor and delivery process. From these meetings, it was possible to
elaborate and propose an Intervention Project for nurses to use in health
services in educational actions for pregnant women and their companions related
to the process of labor and delivery. Conclusion: It is expected that the
elaboration of this Intervention Project can contribute to improving the
quality of care for pregnant women and parturients,
and their companions, enhancing a practice of intervention in holistic,
integrated and humanized nursing in health care spaces.
Keywords: pregnant women, labor, obstetric, parturition, orientation,
nursing.
Resumen
Proyecto de intervención
en trabajo de parto y parto
Objetivo: Informar sobre la
preparación y presentación
de un Proyecto de Intervención en Salud a mujeres embarazadas y sus acompañantes
acerca del proceso de trabajo de parto y parto. Métodos: Se trata de un estudio cualitativo
y descriptivo del tipo
relato de experiencia, desarrollado a partir de la experiencia de una enfermera
de postgrado en Enfermería Obstétrica. Resultados: Entre las etapas de elaboración, fueron necesarios talleres y reuniones sistemáticas
con enfermeras de las Unidades Básicas de Salud y del Centro normal de parto, así
como con mujeres embarazadas y sus acompañantes,
acerca de: acciones institucionales
rutinarias y educativas respecto
al proceso de trabajo de
parto y parto. A partir de estos encuentros,
se pudo elaborar y proponer
un Proyecto de Intervención para que las enfermeras lo utilicen
en los servicios
de salud en acciones educativas para mujeres embarazadas y sus acompañantes
relativo al proceso de trabajo
de parto y parto. Conclusión: Se espera que la elaboración de este Proyecto de Intervención pueda contribuir a mejorar la calidad de la
atención a las mujeres embarazadas y parturientas, y sus acompañantes,
potenciando una práctica de intervención
en enfermería holística,
integrada y humanizada en espacios
de atención de salud.
Palabras-clave: mujeres embarazadas;
trabajo de parto; parto; orientación;
enfermería.
O
nascimento é um evento natural e um fenômeno mobilizador, que envolve inúmeros
significados culturais e sociais. A assistência ao parto sofreu grandes
mudanças ao longo do tempo [1]. Desse modo, foram instauradas as boas práticas
de atenção ao parto e ao nascimento, nas quais se destaca a da melhoria da
saúde por meio da redução da mortalidade materno-infantil [2].
A
caderneta da gestante apresenta várias orientações, que vão desde o processo
gestacional, mudanças corporais e emocionais durante a gravidez, trabalho de
parto, parto e puerpério, cuidados com o recém-nascido (RN) e amamentação [3].
Historicamente,
o parto era considerado um evento natural e feminino, de caráter íntimo e
privado. Com os avanços da medicina e particularmente da obstetrícia, o parto
começou a se tornar um evento médico, deixando de ser íntimo para ser público,
com a entrada de novos atores sociais [4,5]. Estudos afirmam que,
frequentemente, o médico define a conduta a seguir nos processos do parto sem
diálogo com as gestantes e parturientes, estabelecendo-se uma relação de poder
[6].
Em
contrapartida a isso, surge a humanização na atenção à saúde da mulher, que
implica promoção, reconhecimento e respeito aos direitos humanos, incluindo os
eventos da gestação, parto e nascimento, de forma a colocar a mulher como
protagonista destes eventos [2].
Pimentel
e Oliveira-Filho [1] concordam que a mulher nem sempre está bem-informada no
momento do parto. No âmbito dos serviços de saúde pública, relatam que é comum
que as mulheres desconheçam os recursos analgésicos e os métodos não
farmacológicos para alívio da dor.
O
processo de nascimento é uma experiência que deve ser vivenciada entre as
mulheres e seus familiares; é historicamente um evento natural, de caráter
íntimo e privado, e que vem sendo um processo repensado e reformulado,
principalmente devido às mudanças significativas na área da medicina. Destaca-se
a figura do profissional de enfermagem como indispensável para o alcance de um
parto fundamentado na humanização, com intuito de resgatar a autonomia da
mulher [7].
“A
humanização do parto passa não apenas por medidas governamentais, que assegurem
legalmente os direitos das gestantes, mas perpassa também o comportamento e o
comprometimento dos profissionais responsáveis” pelo cuidado à mulher e bebê
nesta etapa de vida [8].
Na
perspectiva de um modelo de assistência humanizada, a atuação do enfermeiro
obstétrico centra-se na fisiologia do parto, respeitando as necessidades e o
protagonismo feminino, em detrimento da objetificação do corpo da mulher às
intervenções biomédicas [9]. Nesse sentido, dentre os profissionais que atuam
na atenção ao parto, os enfermeiros têm se destacado por seu engajamento e
comprometimento com um cuidado humanizado pautado nas boas práticas [10,11].
Contudo, é preciso que outros profissionais que assistem a parturiente também
possam repensar o modelo obstétrico e, com isso, assumam as boas práticas como
possibilidade de transformação do processo de parturição [12].
Além
disso, em um parto dito humanizado, faz-se amplo uso de medidas não
farmacológicas para alívio da dor, fazendo também uso das evidências científicas,
mas sem se renunciar a outros saberes populares e/ou culturais, que propiciam
satisfação, qualidade e participação da mulher e seus familiares durante o
parto [9].
Ressalta-se
a importância do aconselhamento da gestante pela equipe de saúde, partilhando
informações sobre as especificidades de cada parto, sem desconsiderar as suas
necessidades socioeconômicas e culturais, elencando aspectos educacionais e
informativos acerca do processo, para que a mulher se sinta protagonista [13].
Com isso,
entende-se que os pressupostos da humanização do parto sinalizam a necessidade
de uma nova postura dos profissionais de saúde. As relações entre profissional
e usuário aparecem como questão cerne do cuidado, sendo necessário considerar a
forma como os indivíduos são abordados e tratados, bem como a maneira como as
suas dúvidas são esclarecidas e/ou como são ouvidas as suas demandas [14].
Estar em
companhia de alguém que partilha a emoção do seu parto é um modo de enfrentar
com mais força as pressões advindas de lógicas burocráticas, tecnocráticas e
impessoais comuns em atendimentos hospitalares. A presença do acompanhante é um
vínculo com o antes do hospital, que ajuda a situar o parto como história de
vida. Junto, oferece a gestante a segurança de contar com o apoio de alguém que
desfruta de maior liberdade para que, caso necessário, seja solicitada a
presença da equipe de enfermagem, sendo também uma proteção em eventuais
situações de violência [15].
Dessa
forma, acredita-se que as mulheres e seus acompanhantes, diante das práticas
educativas propostas no Projeto de Intervenção (PI), poderão beneficiar-se em
sua autonomia, autocuidado e segurança no ciclo gravídico-puerperal,
favorecendo o empoderamento das boas práticas na saúde da mulher. Nessa
proposta educativa, a inserção da família durante todo o processo torna-se um
agente potencializador de apoio biopsicossocial à mulher. Acredita-se também
que estas boas práticas em saúde poderão oferecer impactos positivos nos
indicadores de morbidade e mortalidade materna e infantil no município.
Diante do
exposto, este artigo tem por objetivo relatar a elaboração e apresentação de um
PI em saúde às gestantes e seus acompanhantes sobre o processo do trabalho de
parto e parto.
Trata-se
de um estudo qualitativo, descritivo do tipo relato de experiência,
desenvolvido a partir da vivência de um enfermeiro pós-graduando em Enfermagem
Obstétrica, que identifica em sua prática de assistência de enfermagem a mulher
neste ciclo de vida a importância de se construir e utilizar um PI pelo
Enfermeiro.
Este PI
foi realizado no município de Buriticupu/MA, que está localizado na região
Oeste do estado, no período de maio a dezembro de 2019. O público-alvo foram
gestantes e seus respectivos acompanhantes atendidos nas Unidades Básicas de
Saúde (UBS) do município, bem como enfermeiros que compõe a Equipe de Saúde da
Família (ESF) das UBS e do Centro de Parto Normal (CPN). Vale ressaltar que das
21 UBS do município, os encontros aconteceram em 3 unidades (neste estudo
denominadas de UBS 1, UBS 2 e UBS 3), todas localizadas na sede deste
município. Os critérios de inclusão foram: gestantes com o seu respectivo
acompanhante de sua livre escolha que são acompanhadas pela área adscrita do local
do estudo, bem como enfermeiros que compõe as EFS e o CPN. Já os de exclusão:
gestantes sem acompanhante, gestantes de alto risco e/ou que possuíam alguma
deficiência que comprometesse o trabalho de parto e parto, enfermeiros das ESF
e CPN que estiverem de férias ou afastado do serviço por questões
administrativas. A elaboração do PI surge a partir da necessidade de resolução
de um problema, e trata-se de uma sugestão a ser realizada [16]. Foi utilizado
como referencial teórico a proposta de ação a partir da leitura da realidade,
considerando o contexto, dividindo-se em três etapas: diagnóstico situacional;
busca de parcerias; e apresentação.
Participaram
do PI, 217 gestantes cadastradas no Sistema de Informação do Pré-natal
(SISPRENATAL) do município de Buriticupu/MA, seus respectivos acompanhantes e
todos os enfermeiros das UBS 1, 2 e 3 e os enfermeiros do CPN, em todos os
encontros em oficinas e ações educativas sobre o trabalho de parto dentro das
instituições de saúde.
Fez-se
necessário realizar um planejamento quanto a organização frente ao PI proposto,
do qual foi divido nas seguintes etapas:
Etapa 1: diagnóstico
situacional
Primeiramente
foi realizado um diagnóstico situacional no CPN observando-se que as mulheres
admitidas não haviam recebido as orientações necessárias sobre trabalho de
parto e parto durante o pré-natal, e não relataram estratégias recomendadas
pelo Ministério da Saúde (MS) [4] como rodas de conversas que orientam e
desmistificam mitos e dúvidas sobre a temática, além do desconhecimento sobre a
lei que garante a presença do acompanhante durante todo trabalho de parto e
parto [17].
Etapa 2: busca de
parceiras
Na busca
por parcerias para propor ações estratégicas em saúde do PI fez-se necessário,
apresentar a realidade encontrada (diagnóstico situacional) para as
coordenações do CPN, Atenção Básica (AB) e da Saúde da Mulher. No entanto, do
encontro entre estas representações da gestão, surgiu a proposta de
apresentação e discussão com a secretaria de saúde municipal, ressaltando que
em todas estas etapas houve total apoio e parceria para a construção do PI
necessário.
Etapa 3: apresentação
Nesta
etapa, houve a apresentação do PI para os enfermeiros da AB do município, e
estes como agentes de articulação concordaram em realizar encontros educativos
e oficinas sistemáticas com as gestantes cadastradas nas suas UBS’s e seus respectivos acompanhantes. Todos os
participantes receberam as informações necessárias e aceitaram participar como
agentes ativos do processo de elaboração e apresentação do PI.
O roteiro
dos encontros sistemáticos e planejados discutiu temáticas imprescindíveis
apontadas pela literatura científica brasileira que se discutem sobre as boas
práticas e intervenções em saúde que norteiam a assistência pré-natal nas UBS,
que vão além da consulta pré-natal à gestante e seu acompanhante [18]. Outro
aspecto é o do direito de escolha de um acompanhante em todo o período
gravídico puerperal garantido por lei Federal, assim como a visita de ambos ao
local indicado para o parto, para conhecerem o ambiente e serem orientados.
Outras
temáticas foram trabalhadas tais como: sinais e sintomas do trabalho de parto,
os métodos não farmacológicos para alívio da dor, as posições para o trabalho
de parto, a lei do acompanhante e a importância dele em todo o processo do
trabalho de parto.
Estes
encontros também contribuíram para a organização de um fluxo que facilita as
consultas e as ações educativas deste público-alvo, como as frequências destes,
por trimestre gestacional, propostas pelo MS [19]. Primeiramente o encontro
acontece com as gestantes do primeiro trimestre, depois com as do segundo
trimestre e, por último, as do terceiro trimestre, e por
fim a visita ao local indicado para o parto, juntamente com o acompanhante.
A partir
desta organização segue-se com a proposta de:
No
momento da consulta de pré-natal realizar a abordagem sobre a participação da
gestante e seu acompanhante no PI, sistematicamente nos grupos, captados por
Agentes Comunitários de Saúde (ACS) durante visitas domiciliares com entrega de
convites, confeccionados individualmente um para a gestante e outro para o
acompanhante, valorizando a importância de suas participações nos encontros.
Caso as
UBS tenham o matriciamento da equipe do Núcleo de
Apoio à Saúde da Família (NASF), estes deverão ser convidados a contribuir com
as ações estratégicas em saúde, visto que possuem uma equipe multiprofissional
em saúde, composto por psicólogos, nutricionistas, educador físico, assistente
social e fisioterapeutas dentre outros [20,21].
As
gestantes e acompanhantes das UBS deverão ter a escolha de turnos, para os
encontros que mais se adequem a sua realidade individual e familiar [22].
As
visitas ao centro de parto deverão ser no terceiro trimestre de preferência em
grupos (média de 9 pessoas) tornando-se rica as trocas entre estes, gestantes,
acompanhantes e equipe de saúde, além de favorecer a aproximação com o ambiente
desconhecido.
O PI
deverá também ser apresentado para a coordenação do CPN e aos enfermeiros que
lá trabalham, para que possam conhecer e contribuir com o acolhimento e
continuidade da promoção e assistência de enfermagem as gestantes e seus
acompanhantes que futuramente serão admitidas na instituição de referência ao
parto.
Neste
sentido, é imprescindível avaliar sistematicamente o PI pelos integrantes
envolvidos para que haja a continuidade deste no município.
Nas
últimas décadas, tem-se observado mudanças nos determinantes sociais e na
organização dos serviços de saúde no Brasil. Na atenção ao parto e nascimento,
essas modificações têm sido permitidas por meio da implementação de políticas e
programas, como é o caso da Política de Humanização. Contudo, ainda persistem
desafios substanciais, especialmente porque há baixa adesão dos profissionais
de saúde às estratégias que poderiam modificar o modelo obstétrico vigente,
tais como as boas práticas de atenção ao parto e nascimento [23].
Antigamente,
a assistência ao parto e nascimento era vivenciada no domicílio, com a ajuda de
uma parteira, mulher de confiança da família [24]. Apesar das tentativas
nacionais e internacionais de propor um novo modo de atenção ao parto e ao nascimento,
o modelo de intervenção hegemônico centrado na fragmentação e na verticalização
das ações profissionais permanece enraizado nas instituições de saúde,
especialmente no ambiente hospitalar. Constata-se que prevalece, ainda, a
cultura de medicalização da atenção obstétrica, fazendo com que sejam impostos
procedimentos invasivos convenientes aos profissionais [18,25,26].
Em
contrapartida ao modelo intervencionista, surge o modelo denominado como
humanizado, que retoma uma assistência respeitosa com a fisiologia do parto, em
que as intervenções são pautadas em critérios cientificamente comprovados,
considerando os aspectos culturais, sociais e a autonomia da mulher [27].
A
humanização do parto compreende um conjunto de práticas e atitudes pautadas no
diálogo, empatia e acolhimento; o fornecimento de orientações; a valorização da
singularidade da parturiente; a realização de procedimentos comprovadamente
benéficos à saúde materno-infantil e a constante atualização profissional. O
protagonismo da mulher, o respeito aos seus direitos e o comprometimento dos
profissionais de saúde constituem os alicerces para a humanização do parto.
Com isso,
pode-se dizer que a humanização do parto diz respeito, principalmente, à
assistência prestada pelo profissional, respeitando os aspectos fisiológicos,
sociais e culturais do parto e nascimento, oferecendo suporte à mulher e a
família. Então, surge a presença do acompanhante, que além de proporcionar o
cuidado, contribui para diminuir a solidão das mulheres. Esta afirmativa pode
ser reafirmada por outros estudos que comprovam que a experiência paterna no
nascimento favorece o companheirismo, solidariedade, afeto e carinho entre os
envolvidos [28].
A
presença do acompanhante é um exemplo de prática que se tornou desencorajada
com o tempo. Neste contexto, vivenciar as sensações próprias do trabalho de
parto torna-se mais difícil quando a mulher não está acompanhada [29].
As
mulheres valorizam muito a presença de um acompanhante durante todo o período
de trabalho de parto, parto e pós-parto, especialmente de um familiar, pois a
presença do acompanhante promove confiança e segurança durante todo o processo,
além de ser uma fonte de apoio e força, capaz de amenizar a dor e a sensação de
solidão e gerar bem-estar emocional e físico. Além disso, o cuidado
proporcionado pelos acompanhantes contribui para a humanização do parto e
nascimento, como também traz conforto, calma e segurança, aliviando a tensão
das parturientes.
As
puérperas valorizaram muito o acompanhante como um familiar, pois a presença
desse agente interfere diretamente na desconstrução do sentimento de solidão e
desamparo das mulheres no momento do parto, e até mesmo antes dele, sendo ele
importante fonte de cuidados físicos e apoio emocional, o que contribui
positivamente no processo, permitindo assim uma integração na assistência da
enfermagem obstétrica, atendendo esse público de maneira holística e contribuindo
para a humanização do parto e nascimento [30].
O direito
ao acompanhante já estava previsto no Programa de Humanização no Pré-Natal e
Nascimento, lançado em 2000, antes da publicação da lei do acompanhante, e,
atualmente, é também reforçado nas diretrizes da Rede Cegonha, política de
atenção à saúde da mulher, instituída em 2011 [30].
As
discussões sobre a importância de garantir à parturiente a presença de um
acompanhante estão amparadas por estudos experimentais e revisões sistemáticas,
realizados em diferentes países a partir da década de 1980, que apresentam os
efeitos benéficos do apoio durante o trabalho de parto [30].
Para além do acompanhamento no momento
do parto, entende-se a importância das orientações sobre o direito ao acompanhante
durante todo o ciclo gravídico-puerperal - o que inclui o período pré-natal.
Consultas de pré-natal com a presença de acompanhante representam um momento de
fortalecimento de vínculos entre equipe de saúde, gestante e acompanhante, além
de representarem uma oportunidade de capacitação para o parto. Adicionalmente,
tem-se verificado que contar com a presença de acompanhante durante o pré-natal
é fator preditivo para a gestante também estar acompanhada durante o parto,
indicando a importância de se estimular e viabilizar o acompanhamento desde o
início do cuidado e não apenas no momento do nascimento da criança [31].
Portanto, tanto o profissional quanto o acompanhante devem estar aptos a
informar, aliviar a tensão, atender às necessidades da parturiente e facilitar
a interação entre esta, sua família e a equipe de saúde.
Apesar de
o Brasil apresentar aumento na proporção de gestantes com pelo menos sete
consultas de pré-natal e parto assistido por profissionais de saúde, ainda há
necessidade de aprimorar a qualidade dessas consultas e o cuidado no parto e
pós-parto [32,33]. A presença de acompanhantes no ciclo gravídico-puerperal
pode, além de ser uma intervenção segura e de baixo custo, melhorar a qualidade
do cuidado oferecido à mulher e à criança [24,34].
Na
análise sobre o recebimento de orientações no acompanhamento pré-natal,
verificou-se baixa frequência da orientação da(o) profissional de saúde sobre a
possibilidade de a gestante visitar a maternidade onde ocorrerá o parto. Um estudo
nacional sobre a atenção pré-natal e ao parto, a partir de dados da pesquisa
“Nascer no Brasil” de 2011/2012, reforça a importância dessa e de outras
orientações: mulheres informadas durante o pré-natal e que realizaram a
vinculação à maternidade durante o acompanhamento podem levar vantagem na
presença de acompanhante durante toda a internação para o parto [35].
Algumas
atividades podem ser orientadas as parturientes e acompanhantes durante o
pré-natal. Essas ajudam as parturientes a manejar e atenuar a dor do trabalho
de parto e parto, pois são métodos simples, sem equipamentos sofisticados para
o seu uso. Embora nem todos os métodos sejam eficazes no alívio da dor, esses
métodos podem contribuir na redução do nível de estresse como a deambulação,
incentivar a livre escolha de posição, utilização de bola suíça, exercício
respiratório e de relaxamento, uso de banhos no chuveiro com água morna,
massagens, além de estimular sentimentos positivos durante o trabalho de parto.
Desta
maneira, verifica-se que o apoio emocional procedente do acompanhamento provoca
reações benéficas com relação ao tempo de trabalho de parto [36]. Entretanto,
faz-se necessário que o acompanhante seja apto a prestar essa assistência,
entendendo o desenvolvimento do parto e atuando junto à equipe de saúde na
promoção de apoio à parturiente [37].
Dentre os
fatores que dificultaram e/ou limitaram a não adesão de 100% das mulheres nas
orientações durante a gestação, identificou-se o grande número de gestantes
cadastradas no município (678), atrelado ao curto espaço de tempo para
intervenção e o pouco interesse por parte dos enfermeiros da Estratégia Saúde
da Família (ESF) em realizar os encontros para orientações das gestantes de
suas áreas. Além disso, a gestão municipal não demonstrou tanto interesse em
apoiar o PI, o que desmotivou o engajamento da rede de assistência ao
pré-natal, parto e pós-parto. Ainda assim, o projeto teve continuidade com a
colaboração de alguns enfermeiros que estavam engajados e acreditados em mudar
a realidade local.
A
elaboração deste PI contribuiu para a melhoria da qualidade dos cuidados
prestados às gestantes, parturientes, e seus acompanhantes, potencializando uma
prática de intervenção em enfermagem holística, integrada e humanizada nos
espaços de cuidado em saúde. Fortalecendo assim, as redes de atenção em saúde.
Reconheceu-se,
pelas participantes, a importância de se ter conhecimento sobre os assuntos
abordados nas rodas de conversas para ter maior autonomia sobre o seu corpo
nesse período tão intenso, para necessidade de se construírem práticas de
trabalho em saúde considerando os anseios das gestantes, incentivando para o
cuidado de si mesma e do seu bebê, enaltecendo o empoderamento e a autonomia
das mulheres envolvidas e escolha dos acompanhantes. Com isso, a mulher retorna
a seu papel de sujeito ativo e o pré-natal como um excelente momento de troca
entre o profissional e a paciente.
Conflitos
de interesse
Não há
conflito de interesse.
Fontes
de financiamento
Não houve
fonte de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Torres IRF, Silva LSR, Carvalho GR, Roque TS, Cordeiro EL; Coleta de dados:
Torres IRF; Análise e interpretação dos dados: Torres IRF, Silva LSR,
Carvalho GR, Roque TS, Cordeiro EL; Análise estatística: Não houve; Redação
do manuscrito: Torres IRF, Silva LSR, Carvalho GR, Roque TS, Cordeiro EL,
Pereira EMBF; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual
importante: Silva LSR, Pereira EBF.
Referências