Enferm Bras
2022;21(3):344-58
REVISÃO
Cuidados
de enfermagem direcionados às complicações pós-confecção de estoma de
eliminação intestinal
Kewellyn Ferreira da Silva*, Dígina
da Silva Ferreira**, Milena Souza de Lima***, Roberto Bezerra da Silva, D.Sc.****, Emanuela Batista Ferreira e Pereira, D.Sc.*****, Fernanda da Mata Vasconcelos Silva******
*Enfermeiro,
Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), Recife, PE, **Discente do
Curso de Bacharel em Enfermagem pela Faculdade Estácio de Sá, Recife, PE,
***Enfermeira, Universidade Paulista (UNIP), Recife, PE, ****Enfermeiro,
Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP), Recife, PE, *****Enfermeira,
Universidade de Pernambuco (UPE), Recife, PE, ******Enfermeira, Doutoranda em
Enfermagem pela Universidade de Pernambuco (UPE), Recife, PE
Recebido
em 16 de agosto de 2021; Aceito em 4 de fevereiro de
2022.
Correspondência: Fernanda da Mata Vasconcelos Silva,
Rua Vicente do Rego Monteiro,292, Cordeiro 50630-710 Recife PE
Kewellyn Ferreira da Silva: kewellyn.enf@gmail.com
Dígina da Silva Ferreira:
diginasilva@hotmail.com
Milena
Souza de Lima: milena755souza@gmail.com
Roberto
Bezerra da Silva: bizerro_r@hotmail.com
Emanuela
Batista Ferreira e Pereira: emanuela.pereira@upe.br
Fernanda da Mata Vasconcelos Silva:
nandadamata34@gmail.com
Resumo
Objetivo:
Descrever os cuidados de enfermagem
direcionados às complicações
pós-confecção de estoma de
eliminação intestinal. Métodos:
Revisão integrativa de literatura realizada nas bases de dados da Lilacs, Medline e BDENF, através do cruzamento dos descritores
para responder à pergunta condutora. Foram considerados como critérios de
inclusão: ser artigo original, publicado em português, disponível na integra e
publicado entre 2015-2020. O recorte temporal foi realizado para garantir
atualização dos dados. Resultados: Foram encontrados 1.115 artigos nas
três bases de dados pesquisadas, ficando na amostra final sete publicações que
abordavam o tema proposto. As publicações enquadraram-se no recorte temporal de
2015-2020: nos anos 2015 (14,28%), 2016 (14,28%), 2019 (42,85%) e 2020
(28,59%). Os anos de 2017 e 2018 não apresentaram resultados elegíveis para
compor a amostra. A BDENF abrangeu 57,14% e a Lilacs
42,85% das publicações, enquanto a Medline não apresentou resultados que
atendessem aos objetivos do estudo. Conclusão: A educação em saúde
voltada ao autocuidado e a prevenção de complicações secundárias às cirurgias
de confecção de estoma de eliminação intestinal são de suma importância para
que seja conferida ao paciente uma assistência integral e livre de danos.
Palavras-chave: estomia;
complicações pós-operatórias; cuidados de enfermagem.
Abstract
Nursing care directed to complications after the
confection of intestinal elimination stoma
Objective: To describe the nursing care
directed towards complications after the creation of an intestinal elimination
stoma. Methods: Integrative Literature Review performed in Databases
Lilacs, Medline e BDENF, by crossing the descriptors to answer the leading
question. The inclusion criteria were: to be an original article, published in
Portuguese, available in full and published between 2015-2020. The time frame
was performed to ensure data update. Results: 1,115 articles were found
in the three databases surveyed, with seven publications that addressed the
proposed topic in the final sample. The publications fell within the 2015-2020 time frame: in the years 2015 (14.28%), 2016
(14.28%), 2019 (42.85%) and 2020 (28.59%). The years 2017 and 2018 did not
present eligible results to compose the sample. BDENF covered 57.14% and Lilacs
42.85% of the publications, while Medline did not present results that met the
objectives of the study. Conclusion: Health education aimed at self-care
and the prevention of complications secondary to surgeries for the confection
of an intestinal elimination stoma are of paramount importance so that the
patient can be provided with comprehensive and harm-free care.
Keywords: ostomy; postoperative
complications; nursing care.
Resumen
Atención de enfermería dirigida a las complicaciones posteriores a la confección
del estoma de eliminación
intestinal
Objetivo: Describir los cuidados de enfermería
dirigidos a las complicaciones
posteriores a la creación de un estoma de eliminación intestinal. Métodos: Revisión
integrativa de literatura realizada en bases de datos Lilacs, Medline e BDENF,
cruzando los descriptores
para responder a la pregunta principal. Los criterios de inclusión fueron: ser un artículo original,
publicado en portugués, disponible íntegramente y
publicado entre 2015-2020. El marco de tiempo se realizó para garantizar la actualización de los datos. Resultados: Se encontraron 1,115 artículos en las tres bases de datos encuestadas, con siete publicaciones
que abordaron el tema propuesto en la
muestra final. Las publicaciones se ubicaron dentro del marco temporal 2015-2020: en los años 2015 (14,28%), 2016
(14,28%), 2019 (42,85%) y 2020 (28,59%). Los años
2017 y 2018 no presentaron resultados elegibles para componer la muestra. BDENF cubrió el 57,14% y Lilacs el 42,85% de las publicaciones, mientras que Medline no presentó
resultados que cumplieran con
los objetivos del estudio. Conclusión: La educación en salud
orientada al autocuidado y la prevención
de complicaciones secundarias a las
cirugías para la confección de un estoma de eliminación intestinal es de suma importancia
para que el paciente pueda recibir una atención integral y
libre de daños.
Palabras-clave: estomía; complicaciones
posoperatorias; atención de
enfermería.
A
palavra estoma tem origem grega e significa “abertura de uma boca artificial”
[1]. De acordo com a literatura, podemos utilizar o termo estomia
ou ostomia. Utilizaremos neste estudo as palavras estomas e estomia,
devido às recomendações da Associação Brasileira de Ostomizados
da (ABRASO), por ser o termo utilizado na língua portuguesa. Os estomas de
eliminação, portanto, podem ser classificados em Colostomia (abertura de uma
boca artificial para comunicar o intestino grosso) e Ileostomia
(abertura de uma boca artificial para comunicar o intestino delgado) [2].
Sua
confecção pode ser temporária ou definitiva a depender do quadro clínico do
paciente. Os temporários são quando permitem a reconstrução do trato intestinal
e o estoma é desfeito. Em casos em que se torna inviável o reestabelecimento do
fluxo intestinal a confecção do estoma é realizada de forma definitiva [3]. Os
cânceres de cólon e reto, diverticulites, doenças inflamatórias do intestino,
doença de Crohn, megacólon
e traumas são as principais condições clínicas que predispõe a confecção de um
estoma de eliminação intestinal [4].
O
câncer colorretal, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), aparece como
o terceiro tipo de neoplasia mais frequente na população brasileira. Estima-se
que 18% a 35% de pessoas que tiveram câncer colorretal possuem estomas
intestinais temporárias ou permanentes como tratamento. No âmbito mundial, a
patologia apresenta o mesmo nível de incidência [4].
De
acordo com a United Ostomy Associations
of America (UOAA), mais de
750 mil estomizados e 120 mil novas estomias foram realizadas em 2013 nos Estados Unidos [5].
Segundo a ABRASO, no ano de 2007, no Brasil foram registradas 33.864 pessoas
portadores de estoma [2]. Apesar do alto índice de confecção de estomias, tal procedimento apresenta complicações
potenciais que na maioria das vezes são subestimadas. Estudos demonstram
índices de complicações variáveis entre 21 e 60% dos casos [6].
O
sucesso cirúrgico depende de vários fatores como avaliação perioperatória,
demarcação correta da incisão no abdome, técnica cirúrgica adequada e manuseio
adequado dos dispositivos. As principais complicações relacionadas aos estomas
incluem a adaptação inadequada da placa, dermatite, necrose, retração,
prolapso, estenose, fístula, hérnia e abcessos, todos localizados na região periestomal. Podem ainda ocorrer complicações secundárias
as manifestações sistêmicas, psicológicas, emocionais e físicas, relacionadas
aos processos de fechamento dos mesmos [3].
A
adaptação do paciente a nova condição é complexa, pois afetará seu contexto
vital e sua vida em sociedade. Observa-se que as grandes dificuldades
enfrentadas pelos pacientes estão na prática do autocuidado, assim como nos
cuidados diários com a bolsa coletora, os vazamentos, o odor desagradável, a
presença dos gases intestinais e as alergias de pele, dentre outros motivos
[1]. Diante o exposto percebe-se que a atuação da enfermagem é imprescindível
durante todo perioperatório, com ações de avalição e
condutas educativas para saúde e manejo desta complexa situação clínica [7].
Através
de uma assistência sistematizada, individual, holística e integrada o
enfermeiro pode influenciar positivamente no processo de reabilitação do
indivíduo estomizado com o objetivo de prevenir
algumas das complicações e promover conforto e segurança. As ações de educação
em saúde, voltadas ao paciente e seus familiares, são estratégias
indispensáveis e fundamentais para uma assistência ampliada [7].
O
autocuidado desenvolvido pelo paciente permite uma maior independência e
autonomia e tem papel significativo na adaptação fisiológica, psicológica e
social de si próprio e para sua família no processo de viver com um estoma, o
que contribui de forma efetiva na qualidade de vida de todos os envolvidos [3].
As ações de promoção à saúde desenvolvida pelos enfermeiros estão relacionadas
com a capacidade de ensinar ações benéficas à sua saúde e qualidade de vida,
através de uma linguagem acessível às diferentes vivências dos indivíduos e
grau de escolaridade e quaisquer necessidades educacionais especiais [7].
As
complicações relacionadas ao estoma de eliminação acarretam um impacto negativo
cotidiano da pessoa estomizada, principalmente no que
se refere à manutenção do autocuidado e bem-estar. Além disso, a ocorrência
desses eventos pode causar maior tempo de internação, maiores gastos e maiores
riscos para a reabilitação plena do paciente estomizado
[8].
As
complicações em estomas ocorrem por diversas causas que se desenvolvem a partir
da própria confecção ou durante a convivência com o estoma. O reconhecimento
das características de normalidade de estoma é uma condição fundamental para
avaliação de possíveis complicações por parte dos enfermeiros, pacientes e
familiares. O estoma deve ser rosado a vermelho vivo, úmido, brilhoso, ter
protrusão suficiente para a saída do efluente com segurança e apresentar-se
insensível a dor por não apresentar terminações nervosas [4,8].
A
prática clínica, nos últimos anos, tem pautado suas decisões em evidências
científicas. Neste estudo, sintetizaremos as evidências encontradas em inúmeros
estudos sobre os cuidados de enfermagem direcionados às complicações
pós-confecção de estoma de eliminação intestinal.
A
possibilidade de fornecer subsídios para que o enfermeiro possa refletir sobre
sua prática profissional e sobre a necessidade de uma intervenção especializada
em estomaterapia no pré-operatório, através de ações
educativas em saúde, visa o bem-estar e um processo de reabilitação adequado,
que traga qualidade de vida para as pessoas que convivem com um estoma
intestinal otimizando, desta forma, a assistência prestada a este grupo
específico de pacientes.
Outro
fator que justifica a realização deste estudo é o fato de que algumas
complicações poderiam ser evitadas se o cuidado sistematizado de enfermagem
fosse bem realizado, como, por exemplo, escolha do local da confecção do
estoma, educação em saúde voltada ao autocuidado realizada antes do ato
cirúrgico, demarcação realizada por estomaterapeuta.
Em
vista disso, o objetivo deste estudo foi estimular a reflexão dos profissionais
de enfermagem frente à temática do paciente estomizado
e suas potenciais complicações.
Trata-se
de uma revisão integrativa da literatura. Pautada na prática baseada em
evidências, este tipo de revisão busca solucionar os problemas através dos
resultados encontrados nas publicações científicas de maior relevância.
Envolverá as seguintes etapas: definição do problema de pesquisa, pesquisa nas
bases e bancos de dados científicos, avaliação crítica das evidências
encontradas e a discussão dos resultados obtidos [9]. Tal prática encoraja a
assistência à saúde pautada em conhecimento científico.
Após
elaborar a questão norteadora e o objetivo da pesquisa, foi realizado o
levantamento dos dados, que ocorreu entre os meses de maio e junho de 2021 nas
Bases de Dados da Lilacs (Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline (Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online) e BDENF (Base de dados
bibliográficas especializada na área de Enfermagem), através do cruzamento dos
descritores “Estomia”, “Complicações
pós-operatórias”, “Cuidados de enfermagem”, oriundos da base de Descritores em
Ciências da Saúde (DecS).
Para
seleção dos artigos, foi utilizado como critérios
de inclusão: ser artigo
original, publicado em português, disponível na
íntegra. Para garantir a
atualização dos dados realizou-se um recorte temporal de
cinco anos (2015-2020) como limite para aceite da
publicação na composição da amostra. Como
critérios de exclusão: foram desconsideradas as teses,
dissertações, estudos de revisão, editorial, assim como as publicações
repetidas em mais de uma base de dados e as que não responderam à pergunta
condutora do estudo (Figura 1).
Fonte:
Autoras, 2021.
Figura
1 - Fluxograma do
processo de seleção do estudo
Referencial
teórico
Estoma
de eliminação intestinal
Alguns
processos patológicos impedem a passagem fisiológica das fezes pelo intestino
ou reto, sendo necessária a abertura de uma boca artificial na parede do abdome
denominado estoma. Os estomas intestinais são realizados em alças com
mobilidade e comprimento adequados, que facilitam a sua exteriorização através
da parede abdominal [10].
Ao
analisar a estrutura anatômica intestinal evidencia-se que o sigmoide e o
transverso são extensões intestinais habitualmente móveis, o cólon ascendente e
o descendente fixos e o ceco pode ser fixo, parcialmente móvel ou completamente
livre. Por conta deste contexto anatômico, os estomas intestinais mais comuns
são feitos no íleo (ileostomia) e nos cólons
(colostomia) transverso e sigmoide. O estoma é indolor pois não apresenta
terminação nervosa [11].
A
depender da patologia apresentada, os estomas podem ser confeccionados em
caráter temporário ou definitivo. O temporário é confeccionado nas situações de
trauma abdominal com perfuração intestinal, ou em função da necessidade de
proteção de uma anastomose intestinal mais distante da derivação, uma vez que
seu fechamento se dará em curto intervalo de tempo. O definitivo geralmente
acontece em decorrência de um câncer no qual foi impossível restaurar a
evacuação pela via fisiológica [8].
Tecnicamente
as ileostomias e colostomias podem ser confeccionadas
como terminais ou em alça. O local para confecção de um estoma é determinado
pela patologia do paciente e pelo seu quadro clínico geral. As ileostomias terminais geralmente são criadas por
decorrência após colectomia total abdominal de
urgência ou proctocolectomia total na retocolite ulcerativa, na polipose
adenomatosa familiar e na situação de cânceres sincrônicos do reto inferior e
do ceco. As ileostomias em alças são confeccionadas
para proteção de anastomoses ileoanal, coloanal ou colorretal, na Doença de Crohn,
nos casos raros de sepse abdominal por perfuração ileocecal e nas situações de
doença perianal [8,10].
As
colostomias terminais geralmente são criadas nos casos de amputação
abdominoperineal do reto e após operação de Hartmann. Já as colostomias em alça
servem para proteção de anastomoses coloanal ou
colorretal, no tratamento inicial da obstrução do cólon esquerdo, no tratamento
da perfuração do reto extra peritoneal, no tratamento paliativo da neoplasia
obstrutiva do cólon e nos processos infecciosos perineais graves [8,10].
Complicações
pós-confecção de estoma de eliminação intestinal
É
significativo o quantitativo de pessoas com estomias
que apresentam uma ou mais complicações relacionadas ao estoma ao longo da sua
vida. Tal fato repercute na capacidade individual para o autocuidado e conduz a
problemas sociais e psicológicos, elevando o índice de morbidade e dos custos
de saúde associados a tais complicações [6].
A
incidência de complicações associadas ao estoma e à pele periestomal
pode chegar aos 84% [12]. Nesse caso, conhecer os fatores que contribuem para o
desenvolvimento dessas complicações ajuda na identificação daqueles que estão
em maior risco de as desenvolver. As complicações do estoma e da pele periestomal têm repercussões muito significativas, ao nível
pessoal, social e econômico. Também acarretam impactos na qualidade de vida
refletindo num isolamento social ou aumento do tempo de internamento [13].
Geralmente,
o procedimento cirúrgico que culmina com a confecção de um estoma intestinal é
potencialmente acompanhado de complicações, que na maioria das vezes não são
registradas. As principais complicações relacionadas aos estomas surgem da
inadequada localização do mesmo, estando também associadas a outros fatores de
ordem mais geral, inerentes ao paciente, como por exemplo, idade avançada,
fragilidade da musculatura abdominal, aumento de peso corporal no pós-operatório.
E outras, inerentes ao estoma e pele ao redor deste que incluem necrose
isquêmica, retração, prolapso e estenose do estoma, fístula, hérnia, abscesso e
dermatite periestomal [4,13].
Dentre
os fatores clínicos que predispõe às
complicações pós-confecção de estoma
de
eliminação intestinal estão as patologias de base
(neoplasia ou doença
inflamatória intestinal), história anterior de diabetes,
tabagismo, doenças
musculoesqueléticas e cardíacas. O uso contínuo de
anti-inflamatórios não esteroides
e níveis inferiores pré-operatórios de albumina
também são fatores
condicionantes para complicações
pós-operatórias [4,6,8].
Já
os fatores relacionados com o tratamento, incluem o tipo e o posicionamento do
estoma (lado esquerdo ou no flanco abdominal), a presença de mais de um estoma
e a distância da cicatriz umbilical. Os fatores que mais acarretam complicações
são os relacionados com a abordagem cirúrgica. A altura, o formato e o tamanho
da estomia podem condicionar a aderência dos
dispositivos coletores à pele, potenciando complicações pelo contato com os
fluidos eliminados. O tipo de efluentes eliminados através da ileostomia pode também potenciar as referidas complicações
da pele periestomal [4,6,8].
A
idade, o sexo feminino e o índice de massa corporal (IMC) superior a 25 kg/m2
são os fatores condicionantes a complicações pós-confecção de estoma de
eliminação intestinal no âmbito dos fatores sociodemográficos. A idade avançada
proporciona um aumento da sensibilidade da pele aos dispositivos coletores,
efluentes e fricção dos dispositivos provocados pela diminuição das camadas
celulares de queratina da epiderme. A maior prevalência de complicações nas
mulheres pode relacionar-se com uma maior fraqueza na musculatura abdominal bem
como uma possível associação cruzada com a obesidade [4,6,8].
A
ausência de marcação pré-operatória do local do estoma, de informações
pré-operatória, acompanhamento de um estomaterapeuta
no perioperatório e a falta de acompanhamento após a
alta hospitalar são fatores relacionados aos processos de saúde que também
estão associados ao surgimento de complicações pós-confecção de estoma de
eliminação intestinal. Além disso, o tipo de dispositivo utilizado também
condiciona como fator de risco para as complicações periestomais.
Neste sentido é primordial um acompanhamento regular de um enfermeiro
experiente e conhecedor desta área de atenção e dos materiais existentes [6].
A
identificação dos fatores de risco que predispõe
às complicações pós-confecção
de estoma de eliminação intestinal é importante na
medida em que permite ao
enfermeiro traçar um perfil da pessoa com maior vulnerabilidade
para o
desenvolvimento de complicações. Ao reconhecer
precocemente os indicadores, o
enfermeiro pode atuar de forma antecipatória, definindo um plano
de intervenção
sensível a esta problemática, que lhe permita evitar o
seu desenvolvimento ou detectar
precocemente caso ocorra [10].
Cuidados
de enfermagem direcionados às complicações pós-confecção de estoma de
eliminação intestinal
A
assistência de enfermagem ao estomizado deve ocorrer
no período perioperatório da confecção do estoma de eliminação
(pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório) e possibilitar além da
recuperação fisiológica, a retomada das atividades cotidianas com qualidade de
vida [10].
Na
fase pré-operatória o enfermeiro deve, através de uma consulta sistematizada,
realizar um histórico de enfermagem do paciente identificando fatores de riscos
potenciais para futuras complicações pós-confecção de estoma de eliminação
intestinal e elencar suas expectativas com relação ao processo cirúrgico. O
histórico deverá elencar questões sobre conhecimento do indivíduo acerca do
diagnóstico e suas perspectivas, investigação dos antecedentes pessoais e
familiares, hábitos de vida, alterações de eliminação intestinal, antecedentes
de alergias medicamentosas, além de avaliar a condição física para esportes e
trabalho [7].
Ainda
no pré-operatório deve dar-se ênfase ao ensino do autocuidado, tal técnica
minimiza a ansiedade relacionada ao procedimento, evita futuras complicações e
possibilita uma maior adesão do paciente com os cuidados direcionados ao
estoma. Outro aspecto importante que deve ser realizado nesta fase é a
demarcação do local que o estoma será implantado. Deve-se verificar o tipo de
estoma a ser realizado, pois este fator possibilita saber o segmento do intestino
a ser exteriorizado para determinar o quadrante abdominal onde será implantado
o estoma. Na ileostomia em alça ou terminal, o estoma
deve ser localizado no quadrante inferior direito e na colostomia de cólon
descendente ou sigmoide, o estoma deve ser localizado no quadrante inferior
esquerdo. Esse procedimento deve ser realizado pelo cirurgião ou enfermeiro estomaterapeuta [7].
A
fase intraoperatória deve ser caracterizada pela confecção de um estoma
tecnicamente adequado, na qual haverá participação do cirurgião e do enfermeiro
estomaterapeuta que já havia realizado a demarcação
na fase anterior. É função do enfermeiro realizar uma visita prévia ao centro
cirúrgico para avaliar a padronização dos instrumentais e aparelhos que serão
utilizados no intraoperatório e no pós-operatório imediato, além da avaliação
do estoma confeccionado em relação à demarcação prévia e do estado geral do
paciente antes do encaminhamento ao serviço de recuperação pós-anestésica [14].
No
pós-operatório é necessário observar e avaliar condições do estoma, observar as
eliminações do estoma, avaliar adaptação da bolsa coletora, realizar a primeira
troca do sistema coletor a fim de ensinar ações específicas do autocuidado ao
paciente. Após avaliar o aprendizado pelo paciente e familiar deve-se fornecer
equipamentos e encaminhar à Unidade básica de saúde ou ao Programa dos Ostomizados mantido pelo Sistema Único de Saúde [14,15].
Foram
encontrados 1.115 artigos nas três bases de dados pesquisadas. Com a aplicação
dos critérios de exclusão e leitura dos capítulos delas, ficaram na amostra
final sete publicações que abordavam o tema proposto.
As
publicações enquadraram-se no recorte temporal de 2015-2020: nos anos 2015
(14,28%), 2016 (14,28%), 2019 (42,85%) e 2020 (28,59%). Os anos de 2017 e 2018
não apresentaram resultados elegíveis para compor a amostra. A BDENF abrangeu
57,14% e a Lillacs 42,85% das publicações, enquanto a
Medline não apresentou resultados que atendessem aos objetivos do estudo.
Para
fins didáticos os dados foram tabulados e categorizados por autor, ano, título,
objetivo (Tabela I).
Tabela
I - Descrição dos
artigos da amostra
Fonte:
Autoras, 2021.
A
tabela II apresenta os cuidados de enfermagem direcionados às complicações
pós-confecção de estomia de eliminação intestinal que
foram elencados nos estudos selecionados para a amostra.
Tabela
II - Síntese dos
estudos selecionados para a amostra
Fonte:
Autoras, 2021.
A
confecção de um estoma objetiva viabilizar o trânsito intestinal
reestabelecendo a saúde do indivíduo, porém a eliminação involuntária de
dejetos provoca constrangimento e desconforto com repercussões físicas, psicológicas
e emocionais.
Frente
à complexidade do tratamento e da reabilitação do estomizado,
o enfermeiro estomaterapeuta
é o profissional
habilitado para o planejamento, implementação e
avaliação do cuidado ao
paciente. O estudo demonstrou que a educação em
saúde voltada ao autocuidado e
a prevenção de complicações
secundárias às cirurgias de confecção de
estoma de
eliminação intestinal são de suma
importância para que seja conferida ao
paciente uma assistência integral e livre de danos.
Através
do desenvolvimento de ações educativas em saúde, o enfermeiro sensibiliza o
paciente e a família para adesão a boas práticas de autocuidado, minimizando as
chances de complicações pós-operatórias.
Conflitos
de interesse
Não
houve conflitos de interesse
Fontes
de financiamento
Financiamento
próprio
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Silva KFS, Ferreira DF, Lima MS, Silva FMVS; Coleta de dados: Silva KFS,
Ferreira DF, Lima MS, Silva RBS; Análise e interpretação dos dados:
Silva KFS, Ferreira DF, Lima MS, Pereira EBFP, Silva FMVS; Redação do
manuscrito: Silva KFS, Ferreira DF, Lima MS, Silva RBS, Silva FMVS; Revisão
crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Pereira
EBFP, Silva FMVS, Silva RBS.