Enferm Bras 2021;20(4):564-596
REVISÃO
Síndrome
de Williams-Beuren: análise de comunicações
científicas como contribuição para o cuidado
Ana
Lúcia Fernandes Farias Ricci Marques*, Zaida Aurora Sperli
Geraldes Soler**
*Biomédica
e Enfermeira, mestranda do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em
Enfermagem – Mestrado Acadêmico da Faculdade de Medicina de São José do Rio
Preto/ SP (FAMERP, **Obstetriz, enfermeira, mestre, doutora e livre-docente em
enfermagem obstétrica, docente e orientadora de graduação e pós-graduação de
enfermagem da FAMERP, Orientadora
Recebido
em 20 de agosto de 2021; Aceito em 31 de agosto de
2021.
Correspondência: Ana Lúcia Fernandes Farias Ricci, Av.
Luciano Lopes de Carvalho, 1070, 15450-000 Onda Verde SP
Ana Lúcia Fernandes Farias Ricci Marques:
anariccimarques@gmail.com
Zaida Aurora Sperli Geraldes
Soler: zaidaaurora@gmail.com
Resumo
Introdução: A Síndrome de Williams-Beuren (SWB) ou Síndrome de Williams (SW) é uma doença
genética rara, descrita em 1961/1962, ainda pouco conhecida e subdiagnosticada,
responsável por distúrbios e deficiências progressivos, em diversas áreas do
desenvolvimento, incluindo a cognitiva, motora e comportamental. Objetivo:
Analisar fontes bibliográficas científicas publicadas no Brasil, sobre
sentimentos e necessidades de familiares cuidadores e crianças com Síndrome de
Williams-Beuren. Métodos: Trata-se de estudo
descritivo, de base bibliográfica, junto ao Google Acadêmico e Biblioteca
Virtual de Saúde da rede Bireme, no formato de artigos, livros, dissertações e
teses, identificando ocorrências progressivas no desenvolvimento
neuropsicomotor de crianças com a Síndrome de Williams-Beuren,
que subsidiem um cuidado adequado. Para cada comunicação científica foi feita
uma resenha/sinopse crítica do material bibliográfico selecionado. Resultados:
Foram analisadas 49 publicações, sendo 30 artigos, cinco livros, nove
dissertações de mestrado e cinco teses de doutorado, com abordagem específica
de características de desenvolvimento, agravos à saúde, necessidades e medidas
de intervenção para melhor qualidade de vida a afetados pela SWB. Conclusão:
Os dados obtidos permitem afirmar que são necessários esforços em conjunto de
pesquisadores, profissionais, especialistas da equipe de saúde preparados para
atender tais crianças e pais/cuidadores, para melhorar a assistência e o
cuidado aos acometidos por doenças raras.
Palavras-chave: Síndrome de Williams; doenças raras;
crianças com deficiência.
Abstract
Williams-Beuren
Syndrome: analysis of scientific communications as a contribution to care
Introduction: Williams-Beuren Syndrome (WBS) or Williams Syndrome (WS) is a rare
genetic disease, described in 1961/1962, still poorly known and underdiagnosed,
responsible for progressive disorders and deficiencies, in several areas of
development, including the cognitive, motor and
behavioral. Objective: To analyze literature published in Brazil about
feelings and needs of family caregivers and children with Williams-Beuren Syndrome. Methods: This is a review in Google
Academic and Virtual Health Library of the Bireme network, in the form of
articles, books, dissertations and theses, identifying progressive occurrences
in the neuropsychomotor development of children with
Williams-Beuren Syndrome, that subsidize proper care.
For each scientific communication, a review/critical synopsis of the selected
bibliographic material was made. Results: 39 publications were analyzed,
26 articles, five books, four master's theses and four doctoral theses, with a
specific approach to development characteristics, health problems, needs and
intervention measures for better quality of life for those affected by SWB. Conclusion:
The data obtained allow us to affirm that joint efforts are needed by
researchers, professionals, specialists from the health team prepared to care
for such children and parents/caregivers, to improve assistance and care for
those affected by rare diseases.
Keywords: Williams Syndrome; rare diseases;
children with disabilities.
Resumen
Síndrome
de Williams-Beuren: análisis
de la comunicación
científica como contribución al cuidado
Introducción: El Síndrome de Williams Beuren
(SWB) o Síndrome de Williams (SW) es una enfermedad
genética rara, descrita en 1961/1962, aún poco conocida e infradiagnosticada, responsable
de los trastornos progresivos y deficiencias en varias
áreas del desarrollo, incluidas las cognitivas, motoras
y conductuales. Objetivo: Analizar
fuentes bibliográficas científicas publicadas en Brasil sobre sentimientos y necesidades de cuidadores familiares y niños
con síndrome de Williams-Beuren.
Métodos: Se trata de un estudio
de base bibliográfica con Google Académico y
Biblioteca Virtual en Salud
de la red Bireme, en forma de artículos, libros, disertaciones y tesis,
identificando ocurrencias progresivas
en el desarrollo
neuropsicomotor de niños con
Síndrome de Williams-Beuren, que subvencionan
la atención adecuada. Para cada comunicación
científica se realizó una revisión
/ sinopsis crítica del
material bibliográfico seleccionado. Resultados:
Se analizaron 39 publicaciones,
26 artículos, cinco libros, cuatro
tesis de maestría y cuatro tesis doctorales,
con un abordaje
específico de las características del
desarrollo, problemas de salud,
necesidades y medidas de intervención
para una mejor calidad de
vida de los afectados por
SW. Conclusión: Los datos
obtenidos permiten afirmar
que es necesario un esfuerzo conjunto de investigadores, profesionales,
especialistas del equipo de salud
preparados para atender a este tipo de niños y
padres/cuidadores, para mejorar la
atención y el cuidado de los afectados por enfermedades raras.
Palabras-clave: Síndrome de Williams; enfermedades raras; niños con discapacidades.
Como biomédica, enfermeira e mãe de um filho diagnosticado
com Síndrome de Williams-Beuren (SWB), hoje já
adolescente, busco neste estudo apresentar as intervenções que realizei, tendo
que me “inventar e reinventar” para dar o máximo para o melhor desenvolvimento
neuropsicomotor e de qualidade de vida para meu filho. Ao longo do tempo fui
observando, estudando e aprendendo os diferentes contextos que envolvem o
cuidado a crianças com doenças raras, considerando além dos sinais e sintomas
que apresentam, seus sentimentos e necessidades [1].
O Ministério da Saúde do Brasil define como doenças raras
aquelas que afetam até 65 pessoas de cada 100.000 indivíduos, sendo causadas
por fatores genéticos (80%), ambientais, infecciosos e imunológicos, principalmente.
Existindo entre 6000 a 8000 tipos diferentes.
Geralmente são crônicas, progressivas, incapacitantes, às vezes degenerativas,
provocando alterações físicas, mentais, comportamentais e sensoriais. O
tratamento de pacientes acometidos por doenças raras requer acompanhamento
multiprofissional, incluindo geneticista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo,
nutricionista, psicólogo, entre outros, visando aliviar os sintomas ou retardar
seu aparecimento. Supõe-se que que apenas 10% dessas doenças exigem tratamento
medicamentoso específico e geralmente é de alto custo [2].
A SWB, conhecida simplesmente como Síndrome de Williams
(SW), é uma desordem genética rara, estimando-se que um indivíduo nasça
portador entre 1/7.500 e 1/20.000 e frequentemente não é diagnosticada. Foi
descrita pela primeira vez em 1960 pelo médico cardiologista neozelandês John C
P Williams. Em 1961, cardiopediatra alemão observou
outras características que complementaram o diagnóstico da síndrome e a doença
passou a ser conhecida como Síndrome de Williams-Beuren
[3].
O diagnóstico genético da SWB é confirmado pela
hibridização fluorescente in situ (FISH), análise cromossômica
por microarray (CMA) ou por hibridização
genômica comparativa (CGH-array). É causada por uma
microdeleção no braço longo do cromossomo 7, na região 7q11.23, que engloba de
26 a 43 genes, levando à perda de 20-25 genes. As manifestações clínicas do
doente associam-se diretamente aos tipos de genes deletados, com fenótipo
característico de fácies dismórficas, comprometimento
multiorgânico e complicadores clínicos, afetando o desenvolvimento cognitivo,
comportamental, motor, anomalias físicas, como a malformação cardíaca e
problemas do trato renal, com pontos fortes em certas habilidades sociais e de
linguagem [4].
O nascimento de uma criança com deficiência transforma a
família e as mães sentem-se compelidas a mudar sua vida pessoal e profissional,
para irem em busca de tratamentos para seus filhos. Entender como se dá a
relação entre mães e seus filhos deficientes é fundamental para o
desenvolvimento de estratégias que viabilizem maior qualidade de vida para toda
a família. Também ouvir a família, em especial a mãe, geralmente a principal
cuidadora, no sentido de ajudar outras mães e famílias nas mesmas condições
[5,6,7].
A chegada de um novo membro à família já produz muitas
mudanças no grupo familiar, nos aspectos emocionais, físicos, comportamentais,
sociais e econômicos, que ficam ressaltados no caso de crianças com
necessidades especiais. Cuidar dessa criança reflete-se também na vida do
casal, com desafios que podem levar a insatisfações, divergências de opinião,
discussões e atritos [8].
São limitadas as pesquisas sobre suporte familiar a pais de
crianças com deficiências, mas alguns pesquisadores de diferentes segmentos do
desenvolvimento infantil têm criado programas específicos de treinamento de
pais. O objetivo é capacitá-los, melhorando o processo de superação, aceitação
e inclusão dessa criança com síndrome genética e deficiência cognitiva [9,10,11,12].
Ante o exposto, o objetivo deste estudo é
analisar publicações científicas sobre manifestações clínicas, sentimentos,
necessidades e cuidados a crianças com Síndrome de Williams-Beuren.
O
estudo é descritivo, bibliográfico, de análise de
comunicações científicas, no formato de artigos,
livros, dissertações de
mestrado e teses. O roteiro metodológico para a
execução do estudo consistiu na
identificação da questão da pesquisa, busca na
literatura, categorização e avaliação
dos estudos obtidos, interpretação dos resultados e
síntese do conhecimento.
Para nortear a busca bibliográfica partiu-se do questionamento
sobre as
manifestações clínicas dos portadores de SWB,
assim como seus sentimentos e
necessidades e de seus familiares cuidadores, com vistas a contribuir
para
melhores cuidados, no transcorrer de seu desenvolvimento cognitivo e
neuropsicomotor.
A busca bibliográfica foi realizada junto à Biblioteca
Virtual de Saúde (BVS) da Bireme, organismo internacional especializado que faz
parte da OPAS/OMS; na base de dados Lilacs, que é o
mais importante e abrangente índice da literatura científica e técnica da
América Latina e Caribe; no Scielo, que é uma
biblioteca digital de livre acesso e modelo cooperativo de publicação digital
de periódicos científicos brasileiros e no Google Acadêmico, considerado nos
últimos anos como uma base de dados bem organizada e com maior repertório de
publicações científicas online.
Os livros que compuseram a bibliografia analisada foram
sugeridos em eventos sobre portadores de doenças raras e divulgados em redes de
pais de crianças com síndrome de William-Beuren Foram
selecionadas publicações diretamente relacionadas ao objetivo do estudo, em
forma de cinco livros comprados em eventos científicos sobre SWB, dissertações
de mestrado e artigos científicos, disponíveis na íntegra As dissertações e
teses foram analisadas principalmente pelos resumos, discussão e conclusões; os
livros foram lidos e criticamente analisados e os artigos científicos da mesma
forma. Os artigos foram buscados a partir dos anos de 1960 até 2021,
utilizando-se os descritores: Síndrome de Williams; Síndrome de Williams-Beuren; Doenças Raras; Crianças com Deficiência. Para a
extração das informações, utilizou-se instrumento de coleta de dados que
denominamos de resenha, contendo variáveis relacionadas à introdução e
objetivo, características metodológicas, resultados e conclusões.
Foram obtidas 49 publicações que atendiam ao objetivo do
estudo, sendo 30 (61,22%) artigos, correspondendo a sete (23,33%) que abordam
aspectos dos sentimentos dos pais de crianças com a SWB e 23 (76,67%) artigos
que se referem a aspectos de agravos à saúde, de desenvolvimento neuropsico motor, de situação clínica e de cuidados a
portadores da SWB; cinco (10,20%) livros e 14 (28,57%) trabalhos de
pós-graduação stricto sensu, sendo nove (64,29%) dissertações de mestrado e
cinco (35,71%) teses de doutorado. Todas as publicações estão apresentadas em
forma de sinopse, com citação de número da referência bibliográfica, no ano de
publicação.
Artigos
No Quadro 1 estão os sete artigos, em síntese, que se
referem a publicações que abordam sentimentos e necessidades de pais de
portadores da SWB. Todas as publicações são de autores nacionais e em
português, publicadas entre 2012 e 2019.
Quadro
1 - Artigos que
abordam sentimentos dos pais de crianças com Síndrome de Williams-Beuren, segundo ano, título e pontos principais
Nos Quadros 2 e 3 estão descritos em síntese, os 23 artigos
publicados entre 1998 e 2019, que abordam aspectos de desenvolvimento e agravos
de doente com SWB.
Quadro
2 - Artigos que
abordam características de desenvolvimento neuropsicomotor e manifestações
clínicas de crianças e adolescentes com SWB (1998-2010)
Quadro
3 - Artigos que
abordam características de desenvolvimento neuropsicomotor e manifestações
clínicas de crianças e adolescentes com SWB (2011-2019)
Livros
Os cinco livros analisados neste estudo bibliográfico estão
apresentados a seguir, de forma descritiva, em sinopse, com registro do título
e citação do número que corresponde à referência bibliográfica completa.
Livro
1: 2010 [36] - O filho eterno:
é um relato autobiográfico do autor, expondo os medos, as dificuldades, as
incertezas e até algumas vitórias em se ter e criar um filho com Síndrome de
Down. Ao saber o diagnóstico o pai tem pensamentos egoístas e cheios de
crueldade: (...) o filho ter uma complicação e morrer; pensou muito em
abandonar a esposa e apagar essa passagem da sua vida (...); “esquecer” o
problema do filho... cai em si quando a diretora da escola comunica que ele
deverá ir para uma escola específica para crianças como ele; fica arrasado e
vem a notícia que sua esposa está grávida novamente. O livro surge do pânico de
ter outro filho igual ao irmão...aproximação do filho leva à aceitação, mas
ainda tenta moldar o filho a seu gosto.
Livro
2 - 2018 [37] - Mães raras, essas mulheres fortes: A autora é engenheira e narra a
história de sete mães de crianças com doenças raras que conheceu pelo Brasil e
se tornaram referência para outras mães. Entrou nesse “mundo” quando foi
convidada por uma amiga a participar da cerimônia de fundação da Associação
Brasileira de Síndrome de Ehlers-Danlos e
Hipermobilidade, a SED Brasil e reconheceu em si vários sinais e
características, diagnóstico confirmado depois. Então, decidiu que aquele
universo de doenças raras faria parte de sua vida. “Tocada”, escreveu “mães
raras” como ela diz, e decidiu contar suas histórias, entrevistando-as e
acompanhando o dia a dia de cada uma, constatando como é difícil a trajetória
de uma mãe rara, considerando: Os encontros e desencontros dentro da família:
por causa do filho doente, casamentos são melhorados ou desfeitos; pais que vão
embora, se tornam apenas provedores; as idas e vindas a hospitais, clínicas e
especialistas, exames dolorosos, enfim, um verdadeiro calvário; A busca
incessante pelo diagnóstico: muitas vezes tardio, errado, culminando no
agravamento da doença, com sofrimento e, até morte prematura; O medo do
diagnóstico e a incerteza do futuro: o que fazer? Procurar viver um dia de cada
vez, se preparar para o luto; sofrer, chorar, renovar as esperanças, se
questionar... Até quando? A falta de credibilidade: muitas vezes essas mães são
tidas como depressivas e loucas, vendo doença onde não existe; O despreparo dos
profissionais: muitas vezes são antiéticos e insensíveis, como no caso de uma
mãe, quando engravidou pela segunda vez e os médicos queriam que ela abortasse,
já que tinha 75% de chance do bebê ter
mucopolissacaridose como o irmão.
Mas também destaca sentimentos comuns em todas essas
histórias dessas mães raras: oferecem dedicação quase exclusiva, abrindo mão de
sua própria vida, deixando de lado suas profissões e buscar sustento em
trabalhos diversos; mesmo precisando de ajuda, ajudam outras mães; criaram
institutos ou blogs para que outras mães fossem ouvidas; tiveram coragem e
garra para persistir, para buscar o melhor para seus filhos, não aceitando um
não como resposta e seguir em frente apesar dos obstáculos; tiveram
resiliência... capazes de aguentar o que a vida lhe impôs, mesmo fraca fica
forte, tem medo e coragem ao mesmo tempo, sente culpa- e ao mesmo tempo se dá
alforria. É uma verdadeira camaleoa; possui muito amor, um amor ágape, pela
simbiose entre mãe & filho.
Livro
3 – 2019 [38] - Mãe coragem:
convivendo com a Síndrome de Williams: Conta a trajetória de vida de Jô Nunes,
que participou do livro “Mães raras”, em busca do diagnóstico de sua filha J,
com Sindrome de Williams. Falando sobre sua situação
espera ajudar outras mulheres, mas, mais do que isso, dá uma lição de vida, de
força, de determinação e fé. Num mundo egoísta e preconceituoso, mostra como dar a volta por cima e conseguir proporcionar um tratamento
adequado e digno para sua filha. Enfrentou muitas barreiras, desde o
nascimento, notando que sua filha era “diferente”, mas não acreditaram nela.
Acharam que estava com depressão e até rejeitando a filha, que chorava muito.
Ninguém suportava ficar ao lado dela e Jô teve que enfrentar tudo sozinha.
(...) muitos pediatras disseram que era só manhã, quando tinha cólicas renais;
com um mês de vida teve a primeira pneumonia de repetição, uma por mês; depois
meningite; confusa, sem orientação, vagueava pelos postinhos e hospitais;
praticamente morou em hospitais e UTIs; até meningite a filha teve. Vivia em
consultas e exames, mas nada de concreto surgia. Numa dessas passagens por um
hospital, enquanto aguardava ser chamada, J, que era hiperativa, se cansou de
esperar e resolveu dar um show. Pegou uma revista, enrolou e fingiu ser um
microfone e começou a cantar. Foi quando passaram por ela dois homens de jaleco
branco e apontaram para ela, dizendo em inglês: Williams Syndrome!
Riram e seguiram seu caminho. Jô ficou desesperada e foi atrás deles,
segurou-os pelo braço e gritou: alguém fala inglês aqui? e um rapaz traduziu a
conversa. Então Jô soube que precisava consultar um geneticista. Indicaram um
geneticista muito famoso, mas infelizmente ele achou que Jô precisava de
tratamento e orientou a família a levá-la para um tratamento psiquiátrico. Com
medo de ser internada, Jô se calou por sete anos, mas sozinha buscava o
diagnóstico para sua filha. Durante esse tempo, as pessoas do seu meio diziam
que ela era hipocondríaca, que precisava se tratar. Finalmente ela conseguiu
agendar uma consulta para outro geneticista no Instituto da Criança, mas a fila
era de 3 anos e todos os dias, antes e depois do trabalho ela passava por lá,
para saber se tinha surgido uma vaga. Numa dessas ocasiões, levou a filha
consigo. Enquanto aguardava, percebeu que uma mulher oriental ficou encarando J
e ela perguntou: Mãe, ela tem Síndrome de Williams? Jô conta que começou a
chorar muito e disse que há muito tempo estava tentando provar isso. Muita
falta de informação fez com que Jô visse sua filha passar por sofrimento e
preconceito, principalmente na escola. Lutou e luta pelo direito à inclusão e
acesso ao diagnóstico.
Livro
4 – 2020 [39] - Sou a mãe dela:
A autora narra a trajetória de vida ao lado de sua filha diagnosticada ainda no
útero, com uma malformação óssea. Aos cinco meses de gravidez, se viu perdida
após uma consulta de rotina do pré-natal. No ultrassom, a primeira descoberta:
“pé torto congênito”, os pés não estavam se desenvolvendo como o esperado. A
cada consulta e exame, novas suspeitas apareciam: tíbia da perna direita
encurtada e malformação da mão direita. Relata que enfrentou o desconhecido
relacionado à patologia da filha. Foram anos entre cirurgias e consultas
médicas para tratar a hemimelia fibular da sua filha,
uma deformidade ortopédica, congênita e rara, que a criança nasce sem a fíbula
e pode afetar uma ou as duas pernas. A ausência da fíbula prejudica o
equilíbrio e o crescimento da perna afetada e exige tratamento cirúrgico de
alongamento ósseo. No caso, a filha da autora nasceu sem a fíbula da perna
direita, além do pé torto congênito esquerdo, falta de dedos nos pés (dois no lado
direito e um no esquerdo) e a mão direita com dois dedos (o polegar é mais
largo, porque apesar de ter a aparência de um dedo, na verdade são dois
colados). Enfrentou o preconceito e se blindou com a armadura de mãe para
conter os comentários que surgiam. Ao todo, foram 15 anos de luta, com quatro
cirurgias corretivas e seis alongamentos ósseos. A última cirurgia ocorreu em
2013, com a reconstrução do pé direito, durando 10 horas. Atualmente, a filha
da autora está cursando a faculdade de medicina, na Escola Paulista de
Medicina.
Livro
5 – 2021 [40] - Sou fã do Enzo.com:
A autora, por meio do olhar, tanto de mãe como de educadora e pesquisadora,
descreve situações diárias, do período da infância (do nascimento até os 12
anos de idade), especificamente de seu filho Enzo, uma criança diagnosticada
com SW, mas, sobretudo, focando nas potencialidades verificadas ao longo do seu
desenvolvimento, oportunizando acesso sobre a SW, com fundamentações teóricas e
buscando “humanizar” a definição de deficiência a partir do compartilhamento de
informações. O livro também aborda aspectos como: diagnóstico e principais
características clínicas, comportamentais e o processo de inclusão escolar. Diz
que seu livro não tem a finalidade de ser um guia ou manual, uma vez que cada
ser é único em seu desenvolvimento e há de se considerar o meio em que está
inserido. Uma das lições aprendidas pela autora nesses anos é de que na busca
por respostas, a descoberta, muitas vezes, é por “tentativa e erro”. Contudo,
que as informações possam contribuir, em especial, com as famílias que venham a
se identificar com as situações relatadas e com a formação continuada de
profissionais, principalmente da educação.
Dissertações
de mestrado
Estão apresentadas de forma descritiva as nove
dissertações de mestrado com abordagem de cuidados, sentimentos e necessidades
de filho SWB e de sua mãe/cuidadores. A maioria foi escrita por autores
nacionais, 7 (77,78%) defendidas principalmente em São Paulo, sendo 3 (42,86%)
na Universidade Presbiteriana Mackenzie, 1 (14,28%) na Faculdade de Medicina da
USP Programa de Pediatria e 1 (14,28%) no Programa de Estudos Pós-Graduados em
Fonoaudiologia, PUC-SP. Duas dissertações são de Portugal, na área de Educação.
Desenvolvimento
e aplicação de programa de orientações para manejo comportamental de crianças e
adolescentes com SWB em sala de aula.
Mestrado Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, SP, 2011 [41]
O
objetivo foi desenvolver e avaliar a eficácia de um guia de orientação para
professores sobre estratégias de manejo dos comportamentos de desatenção e
hiperatividade em crianças e adolescentes com Síndrome de Williams. A amostra
foi composta por 10 participantes, cinco são crianças com diagnóstico clínico e
citogenético-molecular de Síndrome de Williams com indicadores de desatenção e
hiperatividade, conforme avaliação padronizada com uso do Inventário dos
Comportamentos de Crianças e Adolescentes de 6 a 18 anos (CBCL/6 18). Os cinco
participantes restantes foram seus respectivos professores Os instrumentos de
coleta de dados foram: a) Inventário de comportamentos para crianças e
adolescentes entre 06 e 18 anos. Formulário para professores (TRF 6/18), b)
Escala de Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade de Benczik: Versão de Professores; c) Questionário para
verificar o conhecimento do professor sobre conhecimentos gerais da Síndrome de
Williams; d) Guia de orientações a professores para manejo comportamental de
crianças e adolescentes com Síndrome de Williams em sala de aula. O estudo foi
desenvolvido em três fases: Fase I: avaliação inicial mediante uso dos
instrumentos acima; Fase II: implementação do guia de orientações a professores
para manejo comportamental das crianças e adolescentes em sala de aula com
duração de quatro meses e acompanhamento quinzenal junto ao professor da
aplicação do guia e, Fase III: avaliação final de padrões comportamentais de
desatenção e hiperatividade/impulsividade. Os principais resultados mostraram
caso a caso que todas as crianças, com exceção da criança número 4, diminuíram
os problemas de comportamento conforme a escala Benczik.
Já estes mesmos resultados não se verificaram com a mesma estabilidade em todas
as crianças mediante aplicação do TRF/6-18. As estratégias do guia parecem ter
sido seguidas adequadamente pelos professores de três das cinco crianças, sendo
justificado que a impossibilidade de cumprimento de outras estratégias deu-se
pela rigidez da rotina escolar e cronograma de aulas, a falta de tempo, falta
de material pedagógico adequado às necessidades específicas de escolarização da
criança e falta de apoio familiar, dentre outros. Conclui-se que o guia de
orientações desenvolvido pode ser uma tentativa de manejo de contingências de
baixo custo que pode ser utilizada pelos professores de acordo com as
orientações estabelecidas, destacando sua viabilidade na amostra envolvida.
Grupo
de suporte familiar e treino de práticas parentais e habilidades sociais para
pais de crianças e adolescentes com Síndrome de Williams. Mestrado Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil, 2011 [42]
Assim
o presente trabalho se propôs a desenvolver, implementar e avaliar a eficácia
de um programa de suporte familiar, treino de práticas parentais e habilidades
sociais para pais de crianças e adolescentes com SW. Para isso, foram avaliados
problemas de comportamento (Adult Self-Report (ASR)) e indicadores de saúde mental como estresse
(ISSL), ansiedade (Inventário de Ansiedade Beck), depressão (Inventário de
Depressão Beck), além de estilos parentais (Inventário de Estilos Parentais),
habilidades sociais (IHS), percepção de Suporte Familiar (IPSF) e qualidade de
vida (WHOQOL-bref) no grupo de pais. Após isso, houve
a implementação de um grupo de suporte familiar, treino de práticas parentais e
habilidades sociais para pais com sete encontros semanais que trataram de cada
um dos temas avaliados. Então, foi constituído um espaço de discussão onde cada
um dos temas foi tratado pelo grupo. Após isso, houve nova aplicação desses instrumentos
para avaliar mudanças nos indicadores. Participaram desse processo inicialmente
treze pais dos quais oito concluíram todo o processo. Os dados dos instrumentos
foram analisados por meio de suas padronizações e comparados antes e após a
intervenção. Como resultados, observaram-se, nos indicadores de saúde mental,
presença de sinais de ansiedade e depressão além de características de estresse
na fase de resistência, com sintomatologia psicológica. Com relação às
características de práticas parentais, habilidades sociais e qualidade de vida
no grupo de pais, foi possível observar que alguns pais demonstraram prática de
monitoria positiva como abaixo da média e práticas de punição inconsistente com
estilo parental de risco. Quanto aos índices de habilidades sociais,
observou-se que quase metade dos participantes apresentaram um repertório para
as habilidades sociais abaixo da média ou muito deficitário. Referente a
relação de presença de problemas de comportamento indicado pelo ASR, há
indicadores de problemas associados à ansiedade/depressão e isolamento, além de
alguns indicativos de comportamento agressivo. De modo geral, após a
intervenção, índices em muitas áreas avaliadas apresentaram redução.
Demonstrando, assim, eficácia do programa de suporte familiar, treino de
práticas parentais e habilidades sociais para pais de crianças com SWB.
O
estresse em crianças e adolescentes com síndrome de Williams-Beuren no contexto escolar. Mestrado Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo Programa de Pediatria, São Paulo, SP, Brasil, 2012
[43]
Objetivo: Determinar os níveis de estresse em crianças
e adolescentes com SWB e comparar com o grupo controle; verificar o nível de
estresse entre crianças e adolescentes com SWB que frequentam escola de
inclusão e escola especial; correlacionar o nível de estresse em crianças e
adolescentes com SWB com coeficiente de inteligência (QI) e caracterizar os
tipos de reações de estresse em crianças e adolescentes com SWB. A amostra foi
composta por 40 crianças e adolescentes com idade entre 7 e 18 anos cujo
diagnóstico genético-molecular foi positivo para SWB e 40 crianças e
adolescentes sem a síndrome para grupo controle, pareados por idade e por sexo.
Os instrumentos para avaliação de níveis (normal, alerta, resistência e
exaustão) e tipos de reações (físicas, psicológicas, psicológicas com
componente depressivo e psicofisiológicas) de estresse foram: Escala de Stress
Infantil (ESI) e Inventário de Sintomas de Stress para Adulto
de Lipp (aplicado apenas para o grupo controle com
mais de 14 anos de idade). A avaliação de QI foi obtida pelos instrumentos de
Escala de Inteligência para Crianças (WISC) e Escala de Inteligência para
Adulto (WAIS). Os índices elevados de estresse foram encontrados em 50% dos
pacientes com SWB e em 28,6% do grupo controle, cuja diferença foi
estatisticamente significante (p < 0,001). O nível de estresse total nos
pacientes com SWB (alerta 13; resistência 6; exaustão 1) e no grupo controle
(alerta 3; resistência 5). Em relação ao tipo da escola, os índices elevados de
estresse foram mais frequentes em 69,2% das 13 que frequentaram escola especial
do que 40,7% das 27 pacientes que estudaram em escola de inclusão, sem
diferença estatisticamente significante. Os pacientes com QI< 60
apresentaram maior índice de estresse em comparação aos pacientes com QI >
60 e < 89 sem diferença estatisticamente significante. Os tipos de reações
ao estresse nos pacientes com SWB físicas (57%) e psicológicas com componente
depressivo (67%) foram mais frequentes, enquanto no grupo controle não houve
diferença. As crianças e adolescentes com SWB apresentaram índices elevados de
estresse indiferente do tipo de escola que frequentavam. O presente estudo
alerta sobre os prejuízos físicos e emocionais que o estresse pode causar às
crianças e adolescentes com SWB, que podem interferir nas relações sociais, atividades
de vida diária e desempenho acadêmico. Futuras pesquisas sobre estresse na SWB
se fazem necessárias.
Indicadores
de saúde mental e estilos parentais: uma comparação entre grupo de pais de
crianças e adolescentes com síndrome de Williams e grupo de pais de crianças e
adolescentes com queixas de desatenção e hiperatividade. Mestrado Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil, 2012 [44]
O
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) exibe um padrão
persistente de desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade. É caracterizada
por agitação motora, dificuldade ou relutância para realizar tarefas que
requerem esforço e concentração; apesar da ausência de deficiência intelectual,
o transtorno pode levar à incapacidade social, fracasso escolar e dificuldades
nas relações familiares. De acordo com a literatura, há maior prevalência de
problemas relacionados à saúde mental e práticas inadequadas de estilo parental
em pais de crianças com deficiência intelectual. Assim, este estudo tem por
objetivo avaliar indicadores de saúde mental e práticas de estilo parental em
pais de crianças e adolescentes com SWB e deficiência intelectual, e
compará-los com um grupo de pais de crianças com TDAH (sem deficiência
intelectual). Foi utilizado um método descritivo correlacional; a amostra foi
composta por 30 pais de crianças com TDAH e 24 pais de crianças com SWB. Os instrumentos de coleta de
dados foram: Parenting Style Inventory (PSI), Family
Support Perception Inventory (FSPI), Adult Self-Report 18-59 (ASR), World
Health Organization Quality of Life (WHOQL-bref).
Os resultados mostram que
apesar do índice positivo de práticas parentais adequadas por parte dos pais de
ambos os grupos, foi observada a utilização de práticas negativas, incluindo
negligência e maus-tratos físicos. O grupo de pais (TDAH) apresenta percepção
deficiente do suporte familiar e da qualidade de vida na área de relações
sociais. Ambos os grupos apresentaram índices clínicos ou limítrofes de
ansiedade, depressão e queixas somáticas, sendo esse índice maior para os pais
(TDAH). Portanto, verificou-se a necessidade de criação de programas de apoio
que enfoquem a dinâmica e o funcionamento dessas famílias, a fim de promover a
saúde mental, qualidade de vida e práticas parentais adequadas.
Sentir,
pensar e agir na relação: um programa de promoção de competências sociais
aplicado a uma criança com Síndrome de Williams. Mestrado Instituto Politécnico de
Castelo Branco Escola Superior de Educação. Coimbra, Portugal. 2012 [45]
Trata-se
um estudo de caso, participando uma criança com SWB, organizado como uma
pesquisa-ação, com vistas à promoção ajuda na realidade estudada. A criança
apresentava perfil pragmático peculiar com a existência de aspectos
facilitadores e perturbadores da interação social e níveis baixos de
envolvimento na interação com os seus pares em contexto de recreio. Para
colmatar estas dificuldades foi elaborado o programa de promoção de
competências sociais Sentir, Pensar e Agir na Relação, o qual foi
especificamente elaborado para o contexto desta investigação. Afigurou-se como
sendo um programa flexível cujos objetivos se centraram na facilitação do
reconhecimento e desenvolvimento das competências sociais da criança e do seu
relacionamento interpessoal, pela criação de um ambiente de interações
positivas. Depois da aplicação deste programa verificou-se que a criança
apresentou melhoras, na medida em que o seu perfil pragmático passou a ser
caracterizado por um maior número de aspectos facilitadores da interação social
e pela diminuição dos aspetos perturbadores. Almejava-se que a criança
investigada melhorasse a qualidade das relações interpessoais e que seu
processo de inclusão possa ser potencializado.
Síndrome
Williams no Ensino Regular Inclusão e interação de um aluno com Síndrome de
Williams numa turma de 1.º ciclo do ensino regular. Mestrado, Instituto Superior de
Ciências Educativas Departamento de Educação Lisboa, Portugal, 2014 [46]
Trata-se
de estudo de caso descritivo, qualitativo, referente a uma criança do sexo
feminino, com nove anos, refugiada da Somália, com diagnóstico genético da
Síndrome de Williams-Beuren (SWB). O objetivo
principal foi analisar a interação/inclusão entre a criança portadora de SW e
os seus pares. Foram realizadas pesquisas bibliográficas, observação
naturalista (com uso de instrumento para registro das observações) em
diferentes contextos (sala de aula, recreio e refeitório); análise do processo
individual da aluna, realizadas entrevistas com os pais, professores da unidade
de multideficiência e professora titular de turma,
além de um teste sociométrico à turma do regular. Os
resultados permitem dizer que os entrevistados consideraram que a aluna estava
integrada/incluída na classe regular, e na escola. Um ponto positivo era que a
criança era aceita e muito protegida e solicitada pelos seus colegas. O estudo
pode servir para todos os intervenientes no cotidiano de crianças com SWB e também para outras pesquisas nesse enfoque.
O
aluno com deficiência causada pela Síndrome de Williams na escola comum:
processos inclusivos pelas falas daqueles que os vivenciam. Mestrado Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, 2014 [47]
Este
estudo buscou entender como vem se dando o processo de inclusão do aluno com
deficiência causada pela Síndrome de Williams no contexto da escola comum.
Abordagem qualitativa a partir da perspectiva metodológica das narrativas, pois
esta utiliza como fontes de informação sujeitos, em relatos escritos ou
falados, cujas experiências de vida estejam diretamente relacionadas com o tema
de estudo. Para alcance dos objetivos propostos, apresentamos este estudo à luz
da teoria sócio-histórica, pois esta compreende o sujeito como produtor de
conhecimento e cultura, ao mesmo tempo em que já nasce imerso em uma história e
cultura que lhe é anterior... Como resultados das escutas realizadas em campo,
as narrativas dos sujeitos envolvidos nesse estudo nos direcionaram a reflexões
acerca da inclusão escolar e do papel do professor no processo, bem como os
modos de utilização do diagnóstico clínico pelos profissionais da educação e os
processos de aprendizagem do aluno com deficiência causada pela Síndrome de
Williams. Esta pesquisa demonstrou que, apesar de muitos profissionais buscarem
a inovação da prática, muitos outros desafios, como a formação de professores,
permeiam esse processo na luta pela implementação de uma educação
verdadeiramente inclusiva.
Avaliação
do potencial de aprendizagem em crianças com Síndrome de Williams -Beuren.
Mestrado, Programa de Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia, PUC-SP, São
Paulo, Brasil, 2014 [48]
O
objetivo da pesquisa foi verificar o potencial de aprendizagem de três crianças
com síndrome de Williams-Beuren e contribuir para seu
acesso ao currículo escolar. Pesquisa exploratória, qualitativa, tipo estudo de
caso, cadastradas na Associação Brasileira de Síndrome de Williams (ABSW). Foi
realizada sessão assistida, composta de três fases: fase inicial sem ajuda do
avaliador (pré-teste); fase de mediação (com ajuda) e fase de manutenção, sem
ajuda (pós-teste). Foram utilizados dois instrumentos de avaliação: o Token
Test e o Teste de Audibilização. Realizou-se
comparação das avaliações antes e depois da fase de mediação, relacionando com
a tabela das funções cognitivas de Feuerstein. As
crianças investigadas apresentaram melhora de desempenho das tarefas após a
fase de mediação, o que denota que possuem potencial de aprendizagem que pode
ser estimulado. A avaliação assistida foi considerada um instrumento eficaz
para identificar as funções cognitivas deficientes e o potencial de aprendizado
dos sujeitos, contribuindo para a intervenção e o acesso ao currículo escolar.
Avaliação
comportamental e programa de treinamento de pais de indivíduos com síndrome de
Williams. Mestrado, Universidade
Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina. Programa em Ciências da Saúde,
Minas Gerais, Brasil, 2015 [49]
O
objetivo foi caracterizar os problemas comportamentais mais frequentes em uma amostra
de indivíduos com SW e verificar a viabilidade de intervenções no formato de
treinamento de pais. Para isto, foram realizados dois estudos. O primeiro
estudo investigou problemas de comportamento mais frequentes em uma amostra de
23 indivíduos, com idades de seis a 34 anos. Os dados foram levantados a partir
do inventário de comportamento para crianças e adolescentes (CBCL 6/18 anos) e
da análise do relato dos pais durante a anamnese. O resultado demonstrou
problemas de pensamento, ansiedade, problemas atencionais e sociais como os
mais frequentes na amostra. Esse resultado é semelhante ao de outros estudos na
literatura. Além da avaliação, foi realizado um estudo exploratório de
intervenção, com uma série de casos de pais que participaram do treinamento de
pais (TP) para indivíduos com SW. Os participantes deste estudo foram divididos
em dois grupos. Um grupo de pais, de sete indivíduos com SW, que realizaram TP
e um grupo controle constituído por pais de indivíduos com deficiência
intelectual, sem participar de TP. Os pais de indivíduos com SW participaram de
atendimentos individuais. No grupo de comparação os pais responderam o
instrumento CBCL (6/18 anos) em dois momentos, com o intervalo de oito semanas
entre as entrevistas, sem atendimento em TP. Foram obtidas as diferenças
(escore T) entre o pré e o pós-teste, no índice do
total de problemas do CBCL (6/18 anos) e os dados foram comparados entre
grupos. Além disso, uma análise entre juízes sobre os efeitos da intervenção no
comportamento alvo foi realizada. E, por fim, uma análise de uma escala de
satisfação do consumidor, Escala de Satisfação dos Pacientes com Serviço de
Saúde Mental (SATIS-BR), foi respondida pelos pais que participaram do TP. Os
resultados apontaram para uma mudança no comportamento em maior parte dos
indivíduos com SW, com redução de sintomas no CBCL e satisfação dos pais que
participaram da intervenção.
Teses
de doutorado
A
seguir, estão descritas em síntese, com número de citação da referência
bibliográfica, as cinco teses de doutorado analisadas neste estudo, sobre
acometidos por Williams-Beuren. Todos os doutorados
foram realizados em universidades paulistas, sendo 2 (40%) na Faculdade de
Medicina da USP/SP e os restantes no Instituto de Biociências de Botucatu,
Universidade Presbiteriana Mackenzie e Escola Paulista de Medicina,
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Caracterização
do fenótipo comportamental e de linguagem na síndrome de Williams-Beuren.
Doutorado, Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de
Botucatu, São Paulo, Brasil, 2010 [50]
O
objetivo deste estudo foi caracterizar o fenótipo comportamental e da linguagem
na SWB. A casuística foi formada por 40 indivíduos com diagnóstico da SWB,
positivos para a deleção do gene da elastina na região cromossômica 7q11.23,
sendo 30 falantes do português do Brasil e 10 falantes do português de Portugal.
Também foram avaliados 30 indivíduos controles falantes do português do Brasil
e 10 falantes do português de Portugal. Para responder ao objetivo, a pesquisa
foi dividida em 3 estudos. Estudo 1 teve como objetivo investigar problemas
comportamentais de crianças e adolescentes com a SWB, identificados pelos pais
e correlacioná-los ao desempenho intelectual e de linguagem. No estudo 2, o
objetivo foi caracterizar o perfil da fluência da fala em indivíduos com a SWB
na situação de narrativa, comparando-os com indivíduos com desenvolvimento
típico de linguagem e idade mental. O objetivo do estudo 3 foi comparar o
desempenho de indivíduos com SWB com controles semelhantes por idade mental e
cronológica em tarefas auditivas e visuais, além de investigar o perfil de
habilidades auditivas comparadas às visuais. Foi
aplicado o inventário comportamental Child Behavior Checklist (CBCL/6-18 anos), provas e testes de
linguagem para o estudo 1. Foram aplicadas tarefas em situação de narrativa,
com apresentação de figura de ação e figuras sequenciais para análise da
fluência no estudo 2. O Teste Illinois de Habilidades Psicolinguísticas foi
utilizado no estudo 3. Os resultados dos estudos mostraram: problemas de
atenção e com contato social foram os mais referidos pelos pais dos indivíduos
com SWB; os problemas comportamentais identificados pelos pais estão mais
diretamente relacionados ao desempenho da linguagem (estudo 1); a fluência da
fala mostrou diferenças significantes, principalmente paras as disfluências comuns da fala e pausas com frequência; mais
elevada para o grupo SWB em relação aos controles; não foram encontradas
diferenças estatisticamente significantes entre a fluência da fala do grupo com
a SWB do Brasil quando comparada a Portugal (estudo 2).; quanto ao desempenho
no ITPA os resultados mostraram diferenças estatisticamente significantes entre
o grupo com SWB e controles por idade mental e cronológica para todas as
tarefas auditivas e visuais; o grupo com a SWB apresentou desempenho semelhante
entre habilidades auditivas e visuais (memória sequencial e closura);
e desempenho superior para habilidades visuais em relação às auditivas
(recepção e associação). Os achados sugerem que os comportamentos
predominantes, identificados pelos pais de indivíduos com a SWB apresentam
correlação com o desempenho na linguagem (estudo 1). Sugere-se que a frequência
aumentada das disfluências apresentadas pelos
indivíduos com a SWB do Brasil e de Portugal, na situação de narrativa, pode
estar relacionada às dificuldades na elaboração e organização da linguagem
(estudo 2). Sugerem ainda que tanto as habilidades auditivas quanto as visuais estão prejudicadas na SWB, quando o ITPA foi
analisado (estudo 3).
Avaliação
do funcionamento cognitivo de pacientes com SWB. Doutorado, Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2011 [51]
Foram
estudados 31 pacientes com diagnóstico de SWB com idades entre 9 e 26 anos. Nos
objetivos foram avaliados a capacidade cognitiva, o QI (Quociente de
Inteligência) de execução, verbal e total, a frequência de déficits visuo-espaciais, traços autistas e os resultados
encontrados com os moleculares. Os testes utilizados foram: WISC-III, WAIS-III,
Figuras complexas de Rey e Escala de Traços Autísticos
(ATA). O QI total variou de 51 a 86 (mediana de 63): 22 com deficiência mental
leve, 4 com deficiência mental moderada; 4 limítrofes. Todos os pacientes
apresentaram déficit visuo-espacial. A frequência de
traços autistas foi encontrada em 13/31 pacientes (41,94%) com predomínio no
sexo masculino (10M:3F). Não foi encontrada correlação entre a presença de
traços autísticos e tamanho da deleção. O estudo
reforça a importância da avaliação sistemática da função cognitiva em pacientes
com SWB e alerta para a presença da alta frequência de traços autísticos, como achados preliminares e sugerindo novos
estudos.
Produção
e avaliação de vídeo documental como recurso de orientação para pais e
cuidadores de crianças e adolescentes com Síndrome de Williams-Beuren.
Doutorado Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, Brasil, 2015 [52]
O
objetivo foi produzir e avaliar um vídeo informativo de orientação para pais e
cuidadores sobre o manejo comportamental de pessoas com síndrome de Williams-Beuren. Consideraram-se os padrões comportamentais,
emocionais e cognitivos, além da influência do meio ambiente e o déficit
intelectual. Conhecendo os sintomas, é possível auxiliar no diagnóstico precoce
e melhor manejo do cuidado e na qualidade de vida. A avaliação do vídeo foi
feita por 46 juízes que responderam a dez questões objetivas sobre seu conteúdo
e desenvolvimento. Os juízes foram: três profissionais que atuam na área, oito
alunos de graduação, 11 formados em psicologia e 24 pais/cuidadores de
pacientes com SWB. Em oito das 10 questões de avaliação houve 100% de aprovação
dos juízes, revelando que o vídeo cumpriu seu principal objetivo de contribuir
científica e socialmente, para informar e orientar pais/cuidadores de pessoas
com SWB. Então, o vídeo tem orientações relevantes e atende às necessidades de
informação do público-alvo, com uma proposta de fácil entendimento.
Análise
do comportamento adaptativo na Síndrome de Williams-Beuren,
Síndrome de Down e Transtorno do Espectro Autista. Doutorado, Escola Paulista de
Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil.
2015 [53]
Os
objetivos deste estudo foram: 1) analisar os artigos que avaliaram o CA na SWB,
SD e TEA e assim compreender quais são as áreas de maiores potencialidades e
dificuldades nos principais domínios do CA para cada diagnóstico; 2a) Comparar
os domínios do CA entre Desenvolvimento Típico (DT), WBS, DS e TEA para
determinar o perfil do CA em cada transtorno do neurodesenvolvimento e b)
avaliar o efeito do Quociente de Inteligência (QI) e do Nível Socioeconômico
(NSE) no CA. Os resultados demonstraram que o desempenho no CA dos grupos com
diagnóstico (SWB, SD, e TEA) foram inferiores ao
desempenho do grupo TD; o grupo com SWB apresentou melhor desempenho que o
grupo com SD no domínio da comunicação; adolescentes com SWB também foram
melhor que o grupo com TEA no domínio da socialização; o QI apresentou ser um
importante fator confundidor. Foi possível concluir
que é possível construir um perfil do CA para as SWB, SD e TEA, mas os
diferentes perfis comportamentais em cada síndrome, bem como o efeito do QI e
outros possíveis fatores de confusão sobre o desempenho da CA ainda merecem
mais investigação para estabelecer um perfil único do CA para cada síndrome.
Análise
do Comportamento Adaptativo na Síndrome de Williams-Beuren,
Síndrome de Down e Transtorno do Espectro Autista. Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil, 2020 [54]
Estudo
sobre a funcionalidade das vias auditivas periférica e central em indivíduos
com SW. Estudo de caso-controle em 17 indivíduos com SW (Grupo Estudo - GE),
sendo sete do sexo feminino e 10 do sexo masculino, com faixa etária entre sete
e 17 anos, quociente de inteligência médio de 54,53 e sem comprometimento de
orelha média, e 17 indivíduos com desenvolvimento típico (Grupo Controle - GC)
sem comprometimento audiológico, pareados por sexo e
idade cronológica aos indivíduos do GE. No que se refere à avaliação audiológica, os indivíduos foram submetidos aos seguintes
procedimentos: medidas de imitância acústica,
audiometria tonal e vocal, pesquisa de limiar de desconforto, emissões otoacústicas transientes, potencial evocado auditivo de
tronco encefálico com estímulo clique, e potencial evocado auditivo de longa
latência com estímulo tone burst.
A análise dos dados foi realizada por meio de análise estatística descritiva e
inferencial, com testes paramétricos e não paramétricos, sendo valor de p
<0,05 estatisticamente significativo. Observou-se perda auditiva
neurossensorial em 35% dos indivíduos do GE, principalmente de grau leve e nas
frequências acima de 3 kHz. As emissões otoacústicas
transientes estiveram ausentes em mais de 41,2% dos indivíduos do GE, essa
ausência não teve associação com a presença de perda auditiva; dentre os
indivíduos que apresentaram respostas presentes, estas tiveram menor relação
sinal/ruído em comparação às respostas obtidas no GC. Os reflexos acústicos
estiveram presentes em mais de 64,71% dos pacientes do GE (variando de acordo
com a frequência avaliada), no entanto, observou-se limiar aumentado para o GE
em comparação ao GC. No que tange à pesquisa do limiar de desconforto,
observou-se que o GE apresentou menor limiar em comparação ao GC; apesar disto,
a hiperacusia foi observada em menos de 30% dos indivíduos. As respostas dos
potenciais evocados auditivos de tronco encefálico não evidenciaram diferenças
entre os grupos. Quanto aos potenciais evocados auditivos de longa latência,
observou-se aumento da latência dos componentes P1, N1 e P3 e diminuição da
amplitude de P2-N2 e N2-P3, em comparação ao GC. Indivíduos com SW apresentaram
comprometimento da funcionalidade coclear, bem como disfunção dos mecanismos
dos reflexos acústicos que pode estar associada com a hipersensibilidade
auditiva. Quanto as vias auditivas centrais, embora não fosse identificado
comprometimento retrococlear
específico para a
síndrome, observou-se diminuição da velocidade de
processamento dos sons, menor
ativação neuronal para decodificação e
discriminação dos estímulos acústicos.
Discussão
Doenças
raras e filhos com deficiência: uma reflexão no Brasil
A mulher que quer ser mãe, desde a infância idealiza os
filhos que um dia poderá ter, vislumbrando as melhores características físicas
e de cognição. Ao engravidar, o casal só pede que a criança seja perfeita,
forte e com saúde. Ao descobrir que sua criança tem alguma deficiência, vem a
questão da culpa, da própria mulher que busca entender o que pode ter
acontecido e de todos que perguntam se alguma coisa foi feita, aconteceu na
gravidez, como os profissionais de saúde, a família/amigos/conhecidos...
então... a culpa é sua! Ou, para consolar, dizem que pode ser de outra pessoa
invejosa, ou que me desejou o mal; de um “trabalho” ou “macumba”; culpa de
alguma coisa que eu fiz no passado ou em vidas passadas.
Então,
a mãe merece! A mãe busca consolo, apoio, ajuda e
são comuns as frases de efeito: “Deus não dá
nada que você não pode carregar”;
“essas crianças só vêm para pessoas muito
especiais”; “a lã não pesa para o
carneiro”; “Deus escolheu você”;
“é sua cruz”; “você escolheu isso antes
de
nascer”. Ou seja: é um presente! O acolhimento que as
mães precisam geralmente
vem de outras mães na mesma situação, quando em
salas de espera de terapias
conversam sobre experiências com médicos, tratamentos,
familiares, escolas e
sociedade: frustrações, solidão, conquistas,
sentimentos, preconceitos,
tratamentos, marido, outros filhos, passeios, vida cotidiana.
São essas
mulheres, com filhos com menos, igual ou mais deficiências, que
se fortalecem e
tornam possível emergir do luto pelo filho idealizado e morto,
gestando e
parindo o filho que precisa cuidar [55].
Em termos de definição, ainda não há um consenso único
sobre doenças raras. No âmbito dos sistemas de saúde, tem-se como base o
critério da prevalência ou do número de pessoas por elas afetadas. Na União
Europeia, o termo “doença rara” inclui aquelas que afetam menos de 5 em cada
10.000 pessoas, nos EUA se refere a doenças que afetam menos de 200.000 pessoas
no país e, no Brasil, aquelas que afetam até 65 pessoas em cada 100.000
indivíduos. Estima-se entre seis a oito mil agravos à
saúde catalogados como doenças raras, sendo cerca de 80% de origem genética. A
maioria dos estudos é de natureza quantitativa, mas urge a realização de
estudos qualitativos neste contexto, de forma que respondam às necessidades
sociais e individuais da comunidade. Também no Brasil é necessário desenvolver
pesquisas qualitativas, que abordem as condições genéticas raras; as vivências;
as interações pessoais, familiares, profissionais e organizacionais, perante os
modos próprios e efetivos de cuidar. Ainda, considerar a complexidade das
doenças genéticas raras, que podem se apresentar de forma degenerativa e
cronicamente debilitantes, afetando as capacidades físicas, mentais, sensoriais
e comportamentais da pessoa adoecida e sua família. Os estudos qualitativos são
essenciais, pois podem revelar os sentimentos e necessidades dos doentes e de
seus familiares cuidadores, embasando melhores práticas profissionais, bem como
ações políticas e governamentais que lhes ofereçam apoio na doença rara [55].
Pouca atenção é dada em nosso meio para as doenças raras.
Desde os tempos remotos, as pessoas acometidas por doenças raras eram
consideradas assustadoras, “monstruosas”, “aberrações”. Até hoje, de alguma
forma, são discriminadas, desrespeitadas, sofrem maus tratos, violação de
honra, transgressão de direitos ou ultraje à sua dignidade. No Brasil o uso da
categoria “doenças raras” começou no ano de 2009, com a organização do I Congresso
Brasileiro de Doenças Raras e logo após com a articulação do grupo de trabalho
para a construção da Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com
Doenças Raras. Tais doenças são crônicas, acarretam deficiências variadas, têm
grande morbimortalidade e a maioria tem etiologia genética. Ter política
voltada apenas ao tratamento é insuficiente e, pior, nem isso, pois muitas
medicações ainda não foram agregadas ao SUS. São muitas as dificuldades
enfrentadas pela família de crianças diagnosticadas com algum tipo de doença
genética, tendo um itinerário de percurso alongado até o diagnóstico e
implementação de tratamento. Mesmo que não haja um tratamento específico para a
maior parte das doenças raras genéticas, a implantação de cuidados adequados pode
melhorar a qualidade de vida dos doentes e família [56].
As doenças raras são caracterizadas pela diversidade de
sinais e sintomas que variam, não apenas entre as diferentes doenças, mas
também entre os pacientes acometidos da mesma doença. Como já mencionado, cerca
de 80% são causadas por fatores genéticos, e o restante por fatores ambientais,
infecciosos e imunológicos, entre outros. Em geral são crônicas, progressivas e
incapacitantes, podendo ser também degenerativas causando alterações físicas,
mentais, comportamentais e sensoriais. O tratamento/cuidado, frequentemente
requer acompanhamento multiprofissional por geneticista, fisioterapeuta,
fonoaudiólogo, nutricionista e psicólogo, entre outros, visando aliviar os
sintomas ou retardar seu aparecimento. Para grande parte não existe tratamento
efetivo, estimando-se que apenas 10% possuem algum tratamento medicamentoso,
geralmente de alto custo [56].
O luto dos pais, mais especialmente das mães, é estudado no
meio científico? O luto do doente de doença rara, como ocorre? A criança ou o
jovem terá que lidar com sua terminalidade, cabendo aos profissionais de saúde
a tarefa difícil de apoio, de suporte, de acolhimento, de uso de medidas
paliativas de conforto e ético-humanísticas!
O Williams e a mãe/pais/famílias no foco dos sentimentos e necessidades
As manifestações clínicas na SWB revelam algumas
características faciais típicas, deficiência intelectual leve, moderada ou
assimétrica, com déficits acentuados nas áreas de psicomotricidade, integração visuo-espacial, capacidade de atenção reduzida, concentração,
e preservação relativa de outras (linguagem e musicalidade). Os doentes têm
personalidade amigável, hipercalcemia ocasional na infância e vasculopatia com estenose aórtica supra valvar. Seu
quociente de inteligência médio (QI) é de 55 a 60 pontos, mas pode variar entre
40 e 100 pontos. Em relação às características de conduta, as pessoas com SW
tendem a um alto grau de ansiedade, fobias específicas
e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), que podem afetar
negativamente sua qualidade de vida (QR), particularmente em adultos. Os pais
os percebem como ativos, de bom humor, bem equilibrados, tímidos, muito
amigáveis e vigorosos. Precisam da intervenção de vários especialistas clínicos
e educacionais ao longo de sua vida. No entanto, pouco se sabe sobre o impacto
produzido por essa deficiência em seu ambiente imediato, especialmente nas
famílias [58].
A questão odontológica também deve ser valorizada nos
doentes com SWB, pelo risco de problemas de dentição produzirem uma endocardite,
agravando o quadro clínico. A qualidade de vida destes pacientes passa pelo
conhecimento acerca da saúde geral e deve estar associada aos exames médicos,
cuidados dentários periódicos, além de uma dieta apropriada [59].
É de se esperar que os sintomas clínicos nos indivíduos com
SWB tenham repercussão negativa na sua qualidade de vida. Vale lembrar que a
qualidade de vida é mensurada a partir da subjetividade do indivíduo avaliado.
Então, é possível que os adolescentes com SWB podem apresentar uma distorção da
realidade para o fator positivo/otimista, tais como: são sempre alegres e
sorridentes, mas tais fatores são associados à deficiência intelectual [60].
O perfil cognitivo e linguístico característico da Síndrome
de Williams-Beuren
se mostra particularmente
relevante para a discussão acerca da possibilidade de haver
preservação
seletiva de determinadas funções linguísticas. A
explicitação da relação entre
aspectos genéticos, comportamentais e neuro-funcionais pode
indicar um caminho
promissor para o entendimento da relação
mente-cérebro, tanto para o
desenvolvimento típico como o atípico, sendo o quadro de
SW uma fonte
privilegiada para esse tipo de investigação na
neurociência cognitiva. O
funcionamento neural na SWB, além dos aspectos comportamentais,
mostra as áreas
de pesquisa que devem ser mais profundamente realizadas. Devem buscar
maior
detalhamento das funções cognitivas que subjazem à
função linguística e sua
relação com outros domínios cognitivos, como a
pragmática, a emoção, a cognição
social, e mais notavelmente, a cognição viso espacial,
comprovadamente
comprometida na síndrome [61].
As
redes de apoio
As associações de pacientes são um exemplo de grupos
biossociais, já que sua constituição é motivada por questões biológicas comuns,
como no caso das doenças raras. Por vezes estão inscritas no movimento social
em saúde. Como os pacientes ainda têm dificuldade em garantir acesso a
tratamento pelo SUS, as associações de pacientes com doenças raras tecem,
através das redes sociais virtuais, o acesso a tratamento. O foco destas
associações é, na maior parte dos casos, o acesso a medicamentos, em detrimento
da implantação efetiva da Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com
Doenças Raras. Sabe-se que o diagnóstico das doenças raras é demorado pela
falta de conhecimento dos profissionais de saúde sobre estas condições, que
estão agravadas no Brasil pela pouca disponibilidade de exames complementares
específicos. Os pacientes assistidos integralmente nos serviços públicos de
saúde necessitam de uma rede informal entre médicos e pesquisadores para terem
acesso às tecnologias para diagnóstico. Assim, é comum que as associações
complementem essa rede ao conectarem pacientes e pesquisadores. Já os pacientes
da rede privada asseguram alguns testes por meio do seguro saúde, entendido
como garantia de direitos. Via de regra, o tratamento medicamentoso para
doenças raras de etiologia genética não é coberto pelos planos de saúde,
recaindo para o Estado arcar com esta despesa, já que nem as famílias com maior
poder aquisitivo conseguem garantir seu acesso a tais tratamentos. As
associações de pacientes têm características distintas, determinadas pelos
objetivos de seus gestores, o que, sem dúvida, influencia o movimento social como
um todo. Observa-se que um aspecto que conecta as Associações é a esperança
depositada na cura, na melhoria da qualidade de vida [62].
São muitos os benefícios do associativismo, não são apenas
pragmáticos, mas psicológicos, com busca de resultado na melhor qualidade de
vida. Uma jovem com Síndrome de Williams, cuja mãe lutou por mais de uma década
pelo diagnóstico e maneira de cuidar melhor de sua filha, dá vários conselhos,
como: a) aos pais- “não mimem seus filhos; acredite em seu filho, o futuro dele
será o que você correr hoje; lembre-se seu filho tem deficiência, mas não é
incapaz; b) aos professores “quando você receber uma pessoa com qualquer
deficiência não tenha medo, não somos ETs, somos seres humanos iguais a vocês,
não tenham medo de perguntar para nós ou nossas mães as suas dúvidas; não somos
um transtorno e sim uma pessoa que tem direito de cidadão de estudar”... [63].
Principalmente
a relação mãe/filho com doenças raras ou
complexas permite entender os sentimentos que se misturam como
positivos e
negativos na relação, de superação, de
aceitação, de negação, de tragédia
pessoal ou dádiva. A revista eletrônica americana Complex
Child, escrita por mães e para as mães de crianças
ditas complexas, reúne desde 2008 um importante acervo. As construções maternas
de felicidade parecem agrupar-se em torno das ideias de dádiva e legado. A
noção de dádiva está associada a ganhos originados na existência e no cuidado
da criança complexa, já a ideia de legado é referida principalmente a uma
criança ou jovem falecido. A vida da criança complexa é eternizada na família
de formas variadas e criativas: entendimento que ao morrer deixa um legado que
deve ser levado adiante por elas; sentem que devem testemunhar e não há
testemunho sem experiência e nem experiência sem narração; buscam ajuda mútua e
a oportunidade de suporte favorece o estabelecimento de fortes laços; ser mãe
de uma criança complexa envolve lutas constantes por acesso à assistência,
equipamentos e insumos, além dos direitos básicos. Ao enfatizar a existência
dessas batalhas concretas do cotidiano, destaca-se os aspectos de luta das
mulheres contra a violência simbólica veiculada na cultura contemporânea.
Encontrar a própria voz e descobrir-se forte é também encarado como uma dádiva
que advém do cuidado de uma criança complexa. Fazer circular o conhecimento
adquirido ganha um significado de homenagem ao filho e tomam dimensões que
seriam inimagináveis antes da popularização das plataformas digitais,
produzindo redes e alianças valorizadoras da intersubjetividade [64].
A análise cuidadosa das comunicações científicas sobre
doenças raras e particularmente a manifestações, sentimentos e necessidades de
mães e filhos, no foco da doença de Williams Beuren
permitiu destacar as possibilidades de melhor qualidade de vida (QV) com os
cuidados adequados. Também, que é preciso pesquisas com melhor qualidade
metodológica, sobre aspectos neuropsicossociais de
crescimento, desenvolvimento e agravos à saúde, considerando tanto a situação
dos pacientes quanto de suas mães cuidadoras, para potencialização da QV e de
possibilidades de autonomia e independência.
Os dados obtidos permitem concluir que ainda há um longo
caminho a percorrer para mudar a realidade brasileira no cuidado aos portadores
de doenças raras. São necessários esforços em conjunto de pesquisadores,
profissionais especialistas da equipe de saúde, preparados para atender tais
crianças e mães/pais/cuidadores, para melhorar a assistência e o cuidado aos
acometidos por doenças raras.
Financiamento
Este artigo é parte da dissertação de mestrado intitulada
SIC (segundo informação da consulente): História de Vida de uma mãe de
Williams, defesa em 1 de setembro de 2021. A autora recebeu bolsa de demanda
social da CAPES, de mestrado, no período de setembro de 2019 a junho de 2021