Enferm Bras 2022;21(4):388-99

doi: 10.33233/eb.v21i4.4946

ARTIGO ORIGINAL

Ressignificação da territorialização na Estratégia Saúde da Família diante do distanciamento social provocado pela COVID-19

 

Andreza Amanda de Araújo*, Wanessa Nathally de Santana Silva**, Chardsongeicyca Maria Correia da Silva Melo***, Kátia Carola Santos Silva****, Mariana Boulitreau Siqueira Campos Barros, M.Sc.*****, Estela Maria Leite Meirelles Monteiro, D.Sc.******, Débora Morgana Soares Oliveira do Ó*******, José Ronaldo Vasconcelos Nunes********

 

*Enfermeira residente do Programa de Residência Multiprofissional de Interiorização à Saúde, Centro Acadêmico de Vitoria (UFPE-CAV), Vitória de Santo Antão, PE, *Residência Multiprofissional de Interiorização à Saúde, Centro Acadêmico de Vitoria (UFPE-CAV), Vitória de Santo Antão, PE, ***Enfermeira residente do Programa de Residência Multiprofissional e Saúde da Família do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), Recife, PE, ****Enfermeira especialista em Enfermagem do Trabalho pela Faculdade UniBF- Santa Catarina, SC, Enfermeira assistencial do Hospital São Camilo, SC, *****Professora Adjunto, Núcleo de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória (UFPE/CAV), Docente do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação de Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), *******Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública/PPGSP do Instituto Aggeu Magalhães/IAM, Fundação Oswaldo Cruz/Fiocruz, Professora Substituta do Núcleo de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico de Vitória (UFPE/CAV), ********Professor Assistente do curso de Bacharelado em Saúde Coletiva no Centro Acadêmico de Vitória, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE/CAV)

 

Recebido em 1 de outubro de 2021; Aceito em 18 de julho de 2022.

Correspondência: Andreza Amanda de Araújo, Rua Antonio Quintino de Melo, 82 Cruzeiro 55660-000 Bezerros PE, Brasil

 

Andreza Amanda de Araújo: andreza.amanda2015@hotmail.com  

Wanessa Nathally de Santana Silva: wanessa.nataly@hotmail.com  

Chardsongeicyca Maria Correia da Silva Melo: geicyca.silva@hotmail.com  

Kátia Carola Santos Silva: katia_carola@hotmail.com  

Mariana Boulitreau Siqueira Campos Barros: marianabscbarros@gmail.com  

Estela Maria Leite Meirelles Monteiro: estelameirellesufpe@gmail.com

Débora Morgana Soares Oliveira do Ó: deboramenf98@gmail.com  

José Ronaldo Vasconcelos Nunes: jose.rvnunes@ufpe.br

 

Resumo

Introdução: O novo coronavírus ressignificou os cuidados primários e desafiou as estratégias de territorialização para um atendimento integral e equânime. Objetivo: Compreender, a partir de uma concepção teórica, a ressignificação do território pelos profissionais da Atenção Primária à Saúde em contexto do distanciamento social provocado pela pandemia da COVID-19. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado com profissionais da Atenção Primária em Saúde, que atuaram no contexto da COVID-19 no ano de 2020. A coleta de dados ocorreu online, mediante formulário elaborado no Google Forms contendo questões subjetivas quanto às percepções e experiências sobre o processo de territorialização. Resultados: Percebe-se a reinvenção de novas estratégias de continuidade do cuidado e manutenção do vínculo com a comunidade, evidenciando-se a importância da dimensão sanitária e cultural do território para o processo saúde-doença. Conclusão: O estudo proporciona maneiras distintas de construir o processo de trabalho da atenção primária em tempos de pandemia, na tentativa de continuar garantindo um atendimento sistemático, integral e humanizado para toda a população.

Palavras-chave: atenção primária à saúde; isolamento social; COVID-19; território sociocultural.

 

Abstract

Resignification of territorialization in the Family Health Strategy in view of the social distancing caused by COVID-19

Introduction: The new coronavirus redefined primary care and challenged territorialization strategies for comprehensive and equitable care. Objective: To understand, from a theoretical conception, the redefinition of the territory by professionals of Primary Health Care in the context of social distancing caused by the COVID-19 pandemic. Methods: This is a descriptive study with a qualitative approach, carried out with professionals in Primary Health Care, who worked in the context of COVID-19 in 2020. Data collection took place online, using a form created in Google forms containing subjective questions regarding perceptions and experiences about the territorialization process. Results: The reinvention of new strategies for continuity of care and maintenance of the bond with the community is noticed, highlighting the importance of the health and cultural dimension of the territory for the health-disease process. Conclusion: The study provides different ways to build the primary care work process in times of pandemic, in an attempt to continue ensuring systematic, comprehensive and humanized care for the entire population.

Keywords: primary health care; social isolation; COVID-19; sociocultural territory.

 

Resumen

Resignificación de territorialización en la Estrategia Salud de la Familia ante el distanciamiento social provocado por COVID-19

Introducción: El nuevo coronavirus redefinió la atención primaria y desafió las estrategias de territorialización para una atención integral y equitativa. Objetivo: Comprender, desde una concepción teórica, la redefinición del territorio por parte de los profesionales de la Atención Primaria de Salud en el contexto del distanciamiento social provocado por la pandemia COVID-19. Métodos: Se trata de un estudio descriptivo con enfoque cualitativo, realizado con profesionales de Atención Primaria de Salud, que trabajaron en el contexto del COVID-19 en 2020. La recolección de datos se realizó en línea, utilizando un formulario creado en Google forms que contiene preguntas subjetivas sobre percepciones y experiencias sobre el proceso de territorialización. Resultados: Se advierte la reinvención de nuevas estrategias de continuidad asistencial y mantenimiento del vínculo con la comunidad, destacando la importancia de la dimensión sanitaria y cultural del territorio para el proceso salud-enfermedad. Conclusión: El estudio brinda distintas formas de construir el proceso de trabajo de la atención primaria en tiempos de pandemia, en un intento por seguir asegurando una atención sistemática, integral y humanizada para toda la población.

Palabras-clave: atención primaria de salud; aislamiento social; COVID-19; territorio sociocultural.

 

Introdução

 

O Brasil e o mundo vêm enfrentando um enorme desafio que é o controle da dispersão do SARS-CoV-2, o novo coronavírus originado em Wuhan, na China, que rapidamente tornou-se pandemia por sua alta capacidade de transmissibilidade e pela disseminação em todos os países do mundo [1]. O primeiro caso no Brasil foi notificado em 26 de fevereiro no estado de São Paulo, sendo o primeiro óbito registrado em 16 de março no mesmo estado. O país, em 30 de setembro de 2021, já possui 21.427.073 casos confirmados da COVID-19 e 596.749 óbitos [2].

Diante da gravidade desse contexto e da necessidade de reorganização dos serviços para uma demanda extremamente nova, a ênfase hegemônica, dos investimentos da saúde pública foi direcionada, em sua maioria, a média e alta complexidade, com ações voltadas para a ampliação do número de leitos hospitalares e respiradores pulmonares [3].

É ordinário que a atenção especializada precise de estrutura adequada para atender os casos graves de COVID-19, entretanto, a Atenção Primária à Saúde (APS) é responsável por ofertar um atendimento territorializado, promovendo a diretriz da longitudinalidade e a coordenação do cuidado em todos os níveis de atenção. Além de atuar na redução da propagação do vírus com base no diagnóstico precoce, acompanhamento e monitoramento individual e familiar [4,5].

Entretanto, o processo de trabalho sofreu modificações em decorrência do distanciamento social tendo em vista que o vínculo com a comunidade, os fluxos assistenciais, além da interrelação com os membros da equipe foram comprometidos, por isso é necessário o desenvolvimento de novas formas para realizar as ações e serviços para a população adscrita à Unidade Básica de Saúde (UBS) [6].

O reconhecimento dos serviços aos diferentes perfis do território é fundamental para identificação dos cidadãos e agravos de saúde, visto que o processo de territorialização está relacionado às condições sociais de vida e saúde da população, desse modo, a dinamicidade do território leva as unidades de saúde a se adequarem às mudanças sofridas pela sociedade [7].

      Tendo em vista o cenário do distanciamento social, questiona-se como os profissionais de saúde estão se reinventando no processo de trabalho diante da pandemia por COVID-19. Assim, o objetivo do estudo foi compreender, a partir de uma concepção teórica, a ressignificação do território pelos profissionais da APS em contexto do distanciamento social provocado pela pandemia da COVID-19.

 

Métodos

 

Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado com profissionais da Atenção Primária à Saúde que atuaram no contexto da COVID-19 em serviços das regiões Norte, Nordeste, Sul e Centro-oeste do Brasil, no período de junho a julho de 2020.

A amostragem foi do tipo não aleatória por critério de intencionalidade, visto que a escolha de trabalhar com uma amostra intencional não probabilística é baseada na proposta de participação espontânea dos profissionais na composição final da amostra de 31 participantes. Os pesquisadores adotaram a técnica de corte cronológico para levantamento do tamanho amostral, estando o formulário programado para receber respostas por até 15 dias, quando foi verificada a saturação dos dados [8].

Foram inclusos no estudo os profissionais que estavam atuando na APS durante o período de distanciamento social. Aqueles que se encontravam afastados em decorrência de relações trabalhistas e os que responderam aos formulários com dados incoerentes ou incompletos foram excluídos.

Para o recrutamento dos indivíduos participantes foi enviado um e-card convite aos grupos nas redes sociais (Instagram e Facebook) e aplicativos de mensagens (Whatsapp e Messenger) que já integram os autores do estudo, contemplando profissionais que atuam nos cuidados primários à saúde.

A coleta dos dados foi realizada através de dados primários via formulário estruturado online (Googleforms®) elaborado pelos autores, com embasamento teórico das dimensões territoriais de Haesbert e Limoned, contendo questões objetivas referentes ao perfil sociodemográfico e profissional, além das subjetivas que buscavam identificar às percepções e experiências sobre o processo de territorialização em tempo de pandemia, por exemplo: Como você descreveria o processo de territorialização em tempos de isolamento social? Como você percebe as subjetividades ou a identidade social (cultura) de seu território no atual contexto de isolamento? Como está sendo organizada e estruturada a participação comunitária no atual contexto de isolamento social?

Para a análise descritiva do perfil dos profissionais, foi calculado o teste de normalidade de Shapiro-Wilk para as variáveis quantitativas que obteve distribuição não normal (p-valor < 0,05).

A análise dos dados qualitativos foi amparada no Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) que resgata as representações sociais, inseridas nos depoimentos de um indivíduo durante a sua vida social. As expressões semelhantes de determinada população são agrupadas em categorias, onde estão associados os conteúdos dos depoimentos similares enquadrados nas divergentes opiniões, formando assim o depoimento síntese [9].

Os discursos foram organizados por meio do software DSCsoft 2.0 utilizando a versão demonstrativa por meio do método do DSC. O DSC foi colocado a partir da utilização das figuras metodológicas, como a ancoragem, ideia central, expressão – chave e o discurso do sujeito coletivo propriamente dito [10].

A perspectiva teórica utilizada para discussão dos resultados qualitativos do estudo foi a de Haesbert e Limoned, visto que, para esses autores o território possui dimensões que condicionam a dinâmica da população em diferentes contextos, podendo ser jurídico-política, ambiental, sanitária, cultural e/ou econômica [11].

No estudo foram abordadas duas dimensões, a sanitária, que faz referência aos determinantes sociais do processo saúde-doença, e a dimensão culturalista, caracterizada pela subjetividade ou identidade social da população, pois estão intimamente relacionados com a dinamicidade do território, sendo a compreensão das mudanças sofridas no processo de trabalho da APS associado ao segmento cultural e as práticas sanitárias da população, de fundamental importância no atual contexto da pandemia.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob CAAE N°: 31894820.7.0000.5208, através do parecer nº 4.045.726. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi apresentado através do formulário online, no qual o participante declarou seu desejo de participar.

 

Resultados

 

De acordo com as características sociodemográficas dos trinta e um participantes, demonstrou-se uma maior frequência de profissionais do sexo feminino, 77,42% (24), e da área de enfermagem, 32,3%, (10), estado civil solteiro 48,39 % (15) e 77,42% (24) atuam na região nordeste do país.A mediana da idade é de 30 anos com amplitude interquartil de 14. Para anos de formação a mediana foi de 2 anos com amplitude interquartil de 12 anos.

A partir do processo de análise do discurso dos profissionais, as perguntas deram origem a quatro discursos. A primeira pergunta estruturada em dois discursos, e as outras perguntas cada uma deram origem a uma categoria temática (Quadro 1).

 

Quadro 1 - DSC sobre o processo de territorialização em tempo de pandemia dos profissionais da APS, Brasil, 2020

 

Fonte: Araújo AA, 2020

 

Discussão

 

Os discursos dos profissionais evidenciam a utilização do território não apenas como ferramenta administrativa, ao considerar sua dimensão jurídico-política, mas que agrega em seu contexto a dimensão cultural. A complexidade da delimitação territorial compreende ainda singularidades socioespaciais, que determinam a dimensão sanitária. Esta dimensão é comprometida pela ocorrência de iniquidades sociais, que demarcam uma fragilidade em relação aos determinantes sociais da saúde, principalmente os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade baseados em Dahlgren e Whitehead [12].

A ocorrência da pandemia da COVID-19 apresenta repercussões as mais variadas para a população adscrita em um determinado território. Entre as iniquidades estabelecidas a partir dos macrodeterminantes, também emerge em meio a dimensão culturalista uma descrença oriunda do imaginário dos indivíduos, em relação a circulação e contágio por um novo vírus, que impõe medidas sanitárias, diante de sua realidade marcada por extrema carência aos direitos elementares, como habitação, saneamento, água.

Ao analisar a dimensão sanitária presente nos discursos é nítido que a população apresenta dificuldade no acesso à saúde, e na implementação das medidas impostas pelas autoridades sanitárias, em decorrência da desigualdade socioeconômica. Um estudo realizado no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), em Arapiraca/AL, relatou que com a pandemia a vulnerabilidade social se intensificou principalmente na população que já subsistiam em condições precárias, em decorrência das consequências que este evento de saúde pública provocou nas esferas da saúde e da economia [13].

Como a APS possui enfoque no território e comunidade, este nível de atenção à saúde exerce um importante papel na rede de cuidados, atuando na redução da mortalidade e das desigualdades da população, principalmente através da intersetorialidade entre as organizações e movimentos de proteção social [14].

No entanto, devido à pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada transmissibilidade, o cenário em algumas regiões do Brasil evidencia uma realidade baseada em ações pontuais, limitadas às UBS devido à falta de suporte necessário, como relatados pelos profissionais no DSC 3: a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), como as máscaras, refletindo na dificuldade no acesso da população, tendo em vista que a falta desses equipamentos perpetua a insegurança por parte da população em receber os profissionais em suas residências e por parte dos profissionais, por serem susceptíveis à infecção.

Cabe salientar que a visão focalizada sobre os cuidados primários à saúde, somados a grande rotatividade de profissionais e as condições de trabalho deterioradas, são consequências diretas do processo previsível à promulgação da Emenda Constitucional do teto de gastos (EC 95) [15].

Superar os desafios e fazer cumprir os princípios e diretrizes do SUS em um território vivo em contexto de pandemia, conduz os profissionais à reinvenção no processo de trabalho, e, para este contexto, a tecnologia de comunicação e informação surge como uma ferramenta de integração aos indivíduos e populações que têm assegurado o acesso a esses dispositivos. Uma série de artigos sobre problemas comuns na APS trazem orientações de como realizar as consultas remotamente através de ligações e vídeos por telefone, além de instruções para o acompanhamento de pacientes com COVID-19 [16]. O que corrobora o estudo em questão, pois profissionais em meio às adversidades tentaram superar os desafios e reinventar novas formas de assegurar o cuidado, mediante telefone móvel, como verificado no relato dos profissionais, que afirmaram desenvolver essa estratégia para a realização de cadastro das famílias pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) (DSC 3) e a participação da comunidade, através das tecnologias virtuais disponíveis (DSC 4). O estudo compactua com uma pesquisa realizada na Escola Bahiana de Medicina e Saúde em Salvador que destacou o uso do telefone como o meio de comunicação entre os preceptores e residentes da APS para proporcionar longitudinalidade do cuidado em meio à pandemia [17].

Com relação à participação da comunidade, um ensaio realizado com este público para o enfretamento da COVID-19 mostrou que para alcançar um controle na propagação do vírus, o envolvimento da comunidade faz-se necessário para colocar em prática as medidas sanitárias recomendadas pelo Ministério da Saúde, como o distanciamento social, isolamento de casos suspeitos e/ou confirmados, além da utilização da máscara e higienização das mãos [18].

Outra estratégia importante para reduzir a propagação do vírus mencionado no DSC 2 é a educação popular, entretanto, cabe indagar a forma que ela é realizada, tendo em vista que transcende uma simples palestra ou brincadeira, como demostrado em estudo desenvolvido com 639 participantes no Sul de Santa Catarina, detalhe importante que pode refletir na ineficácia das ações pontuadas pelos profissionais participantes do estudo [19].

A realização da avaliação dessas ações no território pode ser opção para alcançar o fortalecimento da afirmação das singularidades e da participação social, tendo em vista que as informações levantadas possibilitam as potencialidades e fragilidades das atividades que estão sendo realizadas durante esse processo pandêmico, para assim fortalecê-las ou melhorá-las, como evidenciado na utilização de um “mapeamento de processo” realizado em algumas comunidades do Rio de Janeiro [20].

Reconhecer a importância de identificar as mudanças associadas ao processo cultural e práticas sanitárias na dinamicidade do trabalho no território, facilita a implementação de novas e/ou reinvenção das ações, permitindo que posteriormente os profissionais de saúde usufruam desses aprendizados adquiridos, além de propiciar a modernização do processo de trabalho e a capacidade de enfrentamento das crises sanitárias.

 

Conclusão

 

Percebe-se a reinvenção de novas estratégias para continuidade do cuidado e manutenção do vínculo com a comunidade, evidenciando-se a necessidade de uma compreensão da comunidade adscrita a partir do processo de territorialização em que está inserida. Em contexto de distanciamento social diante da elevada transmissibilidade do SARS-CoV-2 a dimensão sanitária apresenta íntima relação com a dimensão econômica e cultural, repercutindo no processo saúde – doença, visto que as mudanças requeridas com a adesão às medidas sanitárias não dependem apenas da consciência e da vontade da população em concretizá-las, pois também está diretamente relacionado com os determinantes sociais de saúde.

A instabilidade estabelecida na dimensão sanitária frente à pandemia concorre para agravar as estratégias de enfrentamento diante da precariedade do investimento e de políticas públicas voltadas à prevenção e controle da doença. Diante desta realidade, os profissionais que atuam na APS são desafiados a propor adaptação e mudanças no processo de trabalho, para assegurar o acolhimento e a longitudinalidade da assistência, que ao requerer o uso de dispositivos tecnológicos de comunicação e informação, ainda constitui uma medida exclusiva para aqueles que não detêm o acesso a esses tipos de dispositivos, frente aos inúmeros desafios para lutar pela própria subsistência e de seus familiares. Portanto, a qualidade e a continuidade do cuidado só podem ser realizadas com a presença de recursos adequados que promovam a segurança dos pacientes e profissionais.

Diante destas limitações, o estudo proporciona maneiras distintas de construir o processo de trabalho da APS em tempos de pandemia, na tentativa de continuar garantindo um atendimento sistemático, integral e humanizado para toda a população.

 

Conflitos de interesse

Não há conflito de interesse.

 

Fontes de financiamento

Próprio dos autores.

 

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Kátia CSS, Barros MBSC; Coleta de dados: Araújo AA, Silva WNS; Análise e interpretação dos dados: Kátia CSS, Barros MBSC, Melo CMCS; Redação do manuscrito: Araújo AA; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Nunes JRV, Do Ó DMSO, Monteiro EMLM.

 

Referências

 

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