Enferm Bras 2022;21(2):110-25

doi: 10.33233/eb.v21i2.4947

ARTIGO ORIGINAL

Perfil de acadêmicos de enfermagem e de medicina de uma universidade pública

 

Sérgio Alves Dias Júnior, M.Sc.*, Evelise Aline Soares, D.Sc.*, Zélia Marilda Rodrigues Resck, D.Sc.*, Denismar Alves Nogueira, D.Sc.*, Cristiane Aparecida Silveira Monteiro, D.Sc.*, Fábio de Souza Terra, D.Sc.*

 

*Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)

 

Recebido em 1 de outubro de 2021; Aceito em 2 de março de 2022.

Correspondência: Sérgio Alves Dias Júnior, Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 Centro 37130-001 Alfenas MG

 

Sérgio Alves Dias Júnior: sergio.dias@unifal-mg.edu.br

Evelise Aline Soares: evelise.soares@unifal-mg.edu.br  

Zélia Marilda Rodrigues Resck: zelia.resk@unifal-mg.edu.br  

Denismar Alves Nogueira: denismar.nogueira@unifal-mg.edu.br  

Cristiane Aparecida Silveira Monteiro: cristiane.monteiro@unifal-mg.edu.br

Fábio de Souza Terra: fabio.terra@unifal-mg.edu.br

 

Resumo

Introdução: A conquista de uma vaga em um curso superior é um momento de grande realização, porém várias mudanças e dificuldades permeiam a trajetória acadêmica. Objetivo: Conhecer o perfil sociodemográfico, hábitos de vida, doença crônica e dados acadêmicos dos acadêmicos dos cursos de enfermagem e de medicina de uma universidade pública. Métodos: Estudo transversal, descritivo e quantitativo, desenvolvido de outubro a dezembro de 2020, com 272 acadêmicos. Após aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa, foi realizada a coleta de dados com aplicação de questionário com 34 questões pelo Google Forms. Foi utilizada análise descritiva das variáveis, por meio de frequência absoluta, relativa, medidas de tendência central e dispersão. Resultados: A maioria era do sexo feminino, até 22 anos de idade, solteiros(as), cor/etnia branca, católicos(as), não fumantes e não possuía doença crônica. Além disso, a maior parte dos participantes se identificavam e estavam satisfeitos com o curso, não possuíam dependência em disciplinas, mantinham-se financeiramente com ajuda da família e desenvolviam atividades extracurriculares. Conclusão: É importante o conhecimento do perfil dos acadêmicos dos cursos de enfermagem e de medicina para a elaboração de estratégias que beneficiem o aprendizado, o bem-estar e a sua manutenção na instituição de ensino superior.

Palavras-chave: Enfermagem; Medicina; estudantes; universidades.

 

Abstract

Profile of nursing and medicine students from a public university

Introduction: Winning a place in a higher education course is a time of great achievement, but several changes and difficulties permeate the academic trajectory. Objective: To know the sociodemographic profile, lifestyle, chronic disease and academic data of students from nursing and medicine courses at a public university. Methods: Cross-sectional, descriptive and quantitative study, developed from October to December 2020, with 272 students. After approval by the Research Ethics Committee, data collection was performed using a questionnaire with 34 questions using Google Forms. Descriptive analysis of variables was used, through absolute and relative frequency, measures of central tendency and dispersion. Results: The majority were female, up to 22 years of age, single, white color/ethnicity, Catholic, non-smokers and does not have a chronic disease. In addition, most participants identified themselves and were satisfied with the course, did not have dependence on subjects, supported themselves financially with the help of their family and developed extracurricular activities. Conclusion: It is important to know the profile of students in nursing and medicine courses for the development of strategies that benefit learning, well-being and maintenance in the higher education institution.

Keywords: Nursing; Medicine; students; universities.

 

Resumen

Perfil de los académicos de enfermería y medicina de una universidad pública

Introducción: Ganar un lugar en un curso de educación superior es una época de grandes logros, pero varios cambios y dificultades impregnan la trayectoria académica. Objetivo: Conocer el perfil sociodemográfico, estilo de vida, enfermedad crónica y datos académicos de estudiantes de cursos de enfermería y medicina de una universidad pública. Métodos: Estudio transversal, descriptivo y cuantitativo, desarrollado de octubre a diciembre de 2020, con 272 alumnos. Después de la aprobación del Comité de Ética en Investigación, la recolección de datos se realizó mediante un cuestionario con 34 preguntas utilizando Google Forms. Se utilizó análisis descriptivo de variables, mediante frecuencia absoluta y relativa, medidas de tendencia central y dispersión. Resultados: La mayoría eran mujeres, hasta los 22 años de edad, solteras, de color/etnia blanca, católicas, no fumadoras y no padecían una enfermedad crónica. Además, la mayoría de los participantes se identificaron y quedaron satisfechos con el curso, no tuvieron dependencia de las asignaturas, se sostuvieron económicamente con la ayuda de su familia y desarrollaron actividades extraescolares. Conclusión: Es importante conocer el perfil de los estudiantes de los cursos de enfermería y medicina para el desarrollo de estrategias que beneficien el aprendizaje, el bienestar y el mantenimiento en la institución de educación superior.

Palabras-clave: Enfermería; Medicina; estudiantes; universidades.

 

Introdução

 

A universidade é qualificada como sendo uma instituição na qual existe a indissociabilidade de três pilares: o ensino, a pesquisa e a extensão. Proporciona a formação de profissionais das mais distintas áreas de atuação por meio de sua pluridisciplinaridade [1].

A busca pela formação superior vem aumentando substancialmente, e a heterogeneidade entre os ingressantes tornou-se presente no âmbito da classe social, gênero, faixa etária, objetivos, dentre outros. Mediante a isso, as universidades vêm se aperfeiçoando para proporcionar não somente uma formação de qualidade, mas também aprimorar o processo complexo de ensino [2,3].

A concorrência por uma vaga em universidades vem se elevando em número de candidatos devido principalmente ao aumento da disponibilidade de vagas nas instituições. Este fato faz com que jovens almejem a formação superior para a qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho [4].

Em meio à tamanha disputa pela inserção no meio acadêmico, a conquista de uma vaga torna-se o início da realização de um sonho e a expectativa de novas experiências. Porém, concomitantemente a isso, dificuldades podem surgir no percurso, como o desconhecimento da rotina acadêmica e expectativas que não condizem com a realidade [5].

Assim, as vivências acadêmicas experienciadas pelos universitários tornam-se preditores que podem influenciar de forma direta no aproveitamento acadêmico, na permanência ou não dos discentes no curso ou até mesmo na instituição de ensino superior [5].

Diante do exposto, justifica-se a necessidade de realizar estudos para identificar o perfil dos acadêmicos de enfermagem e de medicina, visto que é de suma importância conhecer o contexto social e acadêmico, para um melhor planejamento de ações que beneficiem a população estudada. Além disso, os resultados encontrados nesta investigação podem trazer contribuições para o conhecimento científico e social, auxiliando a elaboração de estratégias que possam intervir no âmbito biopsicossocial dos acadêmicos.

Este estudo teve como objetivo conhecer o perfil sociodemográfico, hábitos de vida, doença crônica e dados acadêmicos dos acadêmicos dos cursos de enfermagem e de medicina.

 

Métodos

 

Estudo descritivo e transversal, com abordagem quantitativa, desenvolvido com acadêmicos dos cursos de enfermagem e de medicina de uma universidade pública do Sul de Minas Gerais.

Foram adotados os critérios de inclusão: possuir idade igual ou superior a 18 anos e estar cursando, independente do período, graduação em enfermagem ou em medicina, na respectiva universidade.

Realizou-se cálculo amostral, levando em consideração uma população finita de 174 acadêmicos dos cursos de enfermagem e 321 de medicina. Utilizou-se o pior cenário (prevalência de 50%), foi estipulado erro absoluto de 5% e coeficiente de confiança de 95%. Posteriormente à obtenção da amostra mínima necessária (217 participantes), foi realizada a estratificação, por curso e por ano do curso, para que a amostra pudesse ser representativa com relação à população. Cabe destacar que, este estudo obteve 272 participantes, ultrapassando a quantidade mínima estipulada pelo cálculo amostral, desta forma, a população foi representada fidedignamente.

Para coletar os dados, utilizou-se um questionário semiestruturado composto por 34 questões, desenvolvido pelos pesquisadores e fundamentado em literaturas nacionais e internacionais, para avaliar dados de caracterização sociodemográfica, hábitos de vida, doença crônica e dados acadêmicos.

Esse instrumento passou por um processo de refinamento, com avaliação de cinco juízes, visando a melhoria e/ou inclusão de novas questões. Em seguida, foi realizado um teste piloto, para verificar sua efetividade e aplicabilidade.

A coleta de dados foi realizada entre outubro e dezembro de 2020, por meio da utilização da plataforma Google Forms, na qual foram inseridas todas as questões que compunham o questionário. O convite para participação voluntária e o link de acesso foi enviado para todos os acadêmicos dos cursos de enfermagem e de medicina.

Ao acessar o formulário online, os participantes puderam ler na íntegra o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e lhes foi solicitada a concordância em participar voluntariamente do referido estudo. Posteriormente, foram apresentadas as questões do instrumento e, ao final do processo de preenchimento, as respostas foram enviadas ao pesquisador e ao e-mail do participante, juntamente com uma cópia do TCLE.

Os dados coletados foram digitados em planilha do MS-Excel, versão 2019, para a elaboração do banco de dados. Depois, foram transportados para o software IBM Statistical Package for the Social Science, versão 20.0, para a análise descritiva das variáveis, por meio de frequência absoluta e relativa das variáveis.

Com base na Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012, que trata de pesquisa envolvendo seres humanos, esta pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, conforme parecer nº 4.204.395 (CAAE Nº 31520920.8.0000.5142).

 

Resultados

 

Ao analisar o perfil sociodemográfico dos acadêmicos, verificou-se a predominância do sexo feminino (72,1%) e da identidade de gênero mulher cis (72,1%), orientação sexual heterossexual (79,4%), faixa etária de até 22 anos (48,9%) (média de 23,2; mediana de 23,0; desvio padrão de 3,758; mínimo de 18 e máximo de 47), estado civil solteiro(a) (93,4%), cor/etnia branca (71,0%), e crença religiosa católica (56,3%).

Além disso, 92,6% dos participantes eram originários de municípios distintos ao da localidade da universidade, 94,9% residiam no município de estudo durante as atividades letivas presenciais, 64,7% possuem residência própria na cidade de origem, 53,7% coabitam com amigo(s), 97,8% não possuem filhos, 53,3% possuíam renda familiar mensal de até R$ 4.000,00, e 96,0% não possuíam trabalho remunerado.

Com relação aos hábitos de vida, observou-se que a maioria não era tabagista. Houve o predomínio de participantes que consomem bebida alcoólica, sendo o maior percentual composto por usuários leves. A minoria dos participantes relatou utilizar drogas ilícitas, sendo a maconha a mais frequente. Obteve-se predominância de participantes que praticam atividade física e que dormem 8 ou mais horas por dia (Tabela I).

 

Tabela I - Distribuição dos acadêmicos de enfermagem e de medicina de acordo com as variáveis relacionadas aos hábitos de vida. Sul de Minas Gerais (n = 272)

 

Fonte: Do autor; *Somente acadêmicos que consumiam bebida alcoólica; **Somente acadêmicos que usavam drogas ilícitas. Houve mais de uma resposta por participante

 

Pouco mais de um quarto dos participantes possuíam doença crônica, sendo a asma e a ansiedade/depressão as mais frequentes. A maioria não utiliza medicamentos de uso diário, porém, os antidepressivos foram os mais frequentes dentre os acadêmicos que utilizam medicamentos (Tabela II).

 

Tabela II - Distribuição dos acadêmicos de enfermagem e de medicina de acordo com as variáveis relacionadas aos hábitos de vida. Sul de Minas Gerais (n = 272)

 

Fonte: Do autor; *Somente acadêmicos que possuíam doença crônica. Houve mais de uma resposta por participante; **Somente acadêmicos que faziam uso de medicamentos contínuos e/ou de uso diário. Houve mais de uma resposta por participante

 

Evidenciou-se também que a maioria dos participantes eram do curso de medicina, cursavam o segundo ano, ingressaram na universidade por meio do Sistema de Seleção Unificada – SISU (Ampla concorrência), se identificavam e estavam satisfeitos com o curso, e não possuíam outra graduação concluída (Tabela III).

 

Tabela III - Distribuição dos acadêmicos de enfermagem e de medicina de acordo com as variáveis relacionadas aos dados acadêmicos. Sul de Minas Gerais (n = 272)

 

Fonte: Do autor

 

Ainda com relação aos dados acadêmicos, obteve-se que a maioria dos participantes não cursava disciplina(s) com outra turma/curso, não possuíam dependência em disciplina(s), percorriam o trajeto entre residência e universidade caminhando, não recebiam assistência/auxílio da PRACE, mantinham-se financeiramente com ajuda da família, e realizavam atividades extracurriculares (Tabela IV).

 

Tabela IV - Distribuição dos acadêmicos de enfermagem e de medicina de acordo com as variáveis relacionadas aos dados acadêmicos. Sul de Minas Gerais (n = 272)

 

Fonte: Do autor; * Houve mais de uma resposta por participante

 

Discussão

 

No presente estudo, verificou-se a predominância do sexo feminino, identidade de gênero mulher cis, orientação sexual heterossexual, faixa etária de até 22 anos, estado civil solteiro(a), cor/etnia branca e crença religiosa católica.

Corroborando os dados obtidos, pesquisa realizada com acadêmicos em enfermagem de Portugal, identificou que 83,0% da amostra era composta por mulheres [6]. Em investigação realizada em Sergipe, foi encontrada predominância de participantes que declararam possuir identidade de gênero cis (98,1%) [7].

No que se refere à orientação sexual, estudo realizado com acadêmicos na cidade de Balneário Camboriú, encontrou que a maioria dos participantes se autodeclararam heterossexuais (82,7%), e alguns se afirmaram homossexuais (12,1%) [8]. Tais resultados se assemelham aos obtidos pelo presente estudo.

Com relação à variável faixa etária, pesquisa realizada no Irã, com acadêmicos da área da saúde, também identificou a predominância de idades entre 18 e 22 anos (72,2%) [9].

Na abordagem relacionada ao estado civil, a mesma pesquisa citada anteriormente, identificou que 92,3% dos acadêmicos eram solteiros [9]. E, corroborando esses dados, um inquérito desenvolvido com acadêmicos do Brasil e de Portugal, constatou que 94,1% possuíam o estado civil solteiro [10]. Estes resultados confirmam os dados obtidos neste estudo.

No âmbito da cor/raça, o Censo da Educação Superior identificou que o maior percentual de acadêmicos era de cor/raça branca (42,6%), e em seguida a parda (31,1%) [11].

No que se refere à crença religiosa, um estudo realizado em Belo Horizonte, obteve que 49,2% eram católicos e 41,9% evangélicos [12]. Contrapondo-se aos resultados do estudo apresentado anteriormente, pesquisa desenvolvida com acadêmicos do município de Uberlândia apontou elevado percentual de indivíduos sem religião (61,4%) [13].

Em investigação realizada com acadêmicos portugueses, verificou-se que em relação à mobilidade dos participantes, 72,0% tiveram que mudar de sua cidade de origem ao ingressarem na universidade. Além disso, constaram que a maioria dos participantes passou a coabitar com colegas/amigos [14]. Fatos que condizem com os resultados obtidos nesta pesquisa.

Quanto ao município de residência dos acadêmicos durante as atividades letivas presenciais, o inquérito, realizado na Universidade Federal de Sergipe, apontou que aproximadamente 38,0% dos acadêmicos residiam em munícipio fora do que estava localizada a instituição [15]. Tal resultado difere do baixo percentual identificado neste estudo (5,1%).

Referindo-se à variável número de filhos, uma pesquisa realizada com universitários do centro-oeste paulista identificou que 89,5% não possuíam filhos [16]. Esse estudo reafirma os dados encontrados nesta pesquisa.

Na abordagem relacionada ao tipo de moradia da residência de origem, as informações obtidas, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, mostraram que 66,4% dos domicílios brasileiros são próprios de algum dos moradores da residência [17].

Quanto a variável renda familiar mensal, estudo realizado em acadêmicos brasileiros e portugueses identificou que ocorria maior frequência de famílias que possuíam renda mensal entre quatro e dez salários mínimos [10]. Tal fato contrapõe-se aos dados obtidos na presente investigação, na qual a maioria dos participantes possuem renda de até quatro salários mínimos.

Quanto ao trabalho remunerado, uma pequena parcela dos acadêmicos conciliava estudo e trabalho (4,8%) em uma pesquisa realizada em São Paulo [18]. Esta informação coincide com as obtidas nesta investigação.

De acordo com um estudo realizado com estudantes universitários de Jequié na Bahia, foi apontado que o uso de bebidas alcoólicas era frequente nos integrantes da amostra (78,1%), além disso, também pode ser observado que 9,1% eram tabagistas [19].

Corroborando o alto índice de usuários de álcool demonstrado na presente pesquisa e no estudo citado anteriormente, uma investigação, com acadêmicos de cursos da área da saúde do município de Aracajú, descreveu em seus resultados que a frequência do consumo de bebida alcoólica foi de 80,7% [20].

Ainda na temática do uso de drogas ilícitas, um inquérito realizado no México identificou em sua amostra composta por acadêmicos de graduação, que 36,4% as utilizavam, sendo a maconha a mais utilizada (36,2%) [21], confirmando os dados deste estudo.

      No âmbito da prática de atividade física, estudo realizado com estudantes de ensino superior de Portugal, constatou que 52,5% realizavam atividades físicas. Além disso, apontaram que deste percentual, 46,3% realizavam tais atividades de duas a três vezes por semana [22]. Estes dados condizem com o que foi obtido na presente pesquisa.

Contrapondo-se aos resultados apresentados anteriormente, outra pesquisa realizada com estudantes de ensino superior do Piauí observou que a maioria dos participantes foi classificado como sedentário (71,6%) [23].

Em relação ao número de horas dormidas por dia, uma investigação realizada com acadêmicos de Portugal apontou que o maior índice de participantes relatou dormir de 6 a 7 horas por dia (41,1%), seguido pelos que dormem de 7 a 8 horas (36,6%) [22].

Na temática relacionada às doenças crônicas, estudo desenvolvido com universitários do Ceará, constatou que a minoria era possuidora de alguma doença crônica (13,7%). Os dados também indicaram que houve maior frequência de patologias relacionadas ao trato respiratório [24].

Em relação ao uso de medicamentos, um estudo realizado com acadêmicos da área da saúde de Montes Claros observou que 15,5% dos participantes faziam uso de antidepressivos de maneira contínua [25]. Tais resultados se assemelham aos obtidos neste estudo.

No que se refere à forma de ingresso na universidade, um inquérito realizado na Universidade Federal da Bahia identificou que 40,0% dos participantes ingressaram na referida instituição utilizando políticas de cotas [26]. Tais dados são contrários aos obtidos no presente estudo, os quais descrevem maior quantitativo de acadêmicos que ingressaram em vagas disponíveis pelo Sistema de Seleção Unificada na modalidade de ampla concorrência.

Em se tratando da identificação com o curso, um estudo realizado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco apontou que o principal motivo que leva os acadêmicos a permanecerem no curso é se identificarem com a área em questão [27]. E a presente pesquisa observou que a maioria dos participantes se identificam com o curso no qual estão inseridos.

E no âmbito da satisfação com o curso, um estudo bibliográfico encontrou bons índices de satisfação dos acadêmicos com os cursos. Destaca-se que o interesse do acadêmico e o envolvimento dos professores refletem de forma positiva para a elevação do índice de satisfação [28].

Quanto a variável graduação concluída, este estudo apontou que uma minoria de participantes (3,3%) havia concluído uma graduação anteriormente. Neste sentido, uma pesquisa qualitativa, observou que a segunda graduação foi motivada por realização profissional, melhor remuneração e maior reconhecimento [29].

Na temática relacionada às disciplinas, a presente pesquisa identificou que 18,8% realizavam uma ou mais com outra turma/curso. No decorrer da formação acadêmica, o processo de aproveitamento cognitivo depende de vários fatores, um dos principais é a competência social. Neste sentido, tal competência aprimora a relação existente entre acadêmicos, professores e gestores, fato que propicia a adaptação no ambiente de realização de disciplinas em outros cursos/turmas [30].

Com relação ao fato dos acadêmicos possuírem dependência em disciplinas, uma pesquisa desenvolvida com graduandos em enfermagem de Dourados identificou que 65,2% deles já tiveram alguma dependência em disciplina [31]. Tal fato não condiz com o que foi observado na presente pesquisa, na qual identificou que somente 17,3% possuíam alguma disciplina em dependência.

No que se refere ao trajeto realizado pelos acadêmicos entre a residência e a universidade, uma pesquisa realizada em universidades do Brasil e de Portugal, identificou que na análise da totalidade dos participantes, a maioria se deslocava utilizando carro/ônibus (37,1%). Porém, na avaliação dos acadêmicos somente da universidade brasileira identificou-se que o meio de locomoção mais frequente foi a pé/caminhando [10]. Fato este que corrobora os nossos resultados.

Este mesmo estudo observou que a análise somente dos acadêmicos brasileiros, apontou que atividades acadêmicas remuneradas ou bolsa de estudos (44,6%) era o principal recurso utilizado para a manutenção financeira [10]. No tocante desta variável, a presente pesquisa difere, pois identificou que a principal fonte para a manutenção financeira dos participantes era por meio da ajuda de familiares.

Na abordagem relacionada ao recebimento de alguma assistência/auxilio por meio da Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos e Estudantis, este estudo apontou que a minoria dos participantes era contemplada. Nesta temática, autores discorrem que as políticas de assistência estudantil são de fundamental importância para a manutenção dos estudantes nas universidades [32].

E, por fim, no tocante as atividades extracurriculares realizadas pelos acadêmicos, um estudo realizado em uma universidade pública do Estado de Santa Catarina, identificou que mais da metade dos acadêmicos participavam de atividades extracurriculares (75,6%) [33]. Resultado que confirma o obtido nesta pesquisa.

 

Conclusão

 

O conhecimento do perfil dos acadêmicos dos cursos de enfermagem e de medicina proporciona às instituições de ensino superior e aos professores a capacidade de desenvolver e de implementar estratégias voltadas aos acadêmicos. E, desta forma, o grau de aprendizado poderá ser elevado, o índice de evasão reduzido, e, até mesmo, novos apoios/auxílios financeiros ou não, poderão ser criados para propiciar a manutenção desta população nos respectivos cursos.

Esta pesquisa poderá trazer avanços no conhecimento científico voltado para a área da enfermagem, da medicina e, também, da educação, pois servirá como conteúdo para embasar o desenvolvimento de ações que proporcionem melhorias para os acadêmicos de enfermagem, de medicina, e também de demais cursos que compõem as instituições de ensino superior.

 

Conflitos de interesse

Os autores declaram que não houveram quaisquer conflitos de interesse neste artigo.

 

Fontes de financiamento

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

 

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Dias Júnior SA, Monteiro CAS, Terra FS; Coleta de dados: Dias Júnior SA, Monteiro CAS, Terra FS; Análise e interpretação dos dados: Dias Júnior SA, Soares EA, Resck ZMR, Nogueira DA, Monteiro CAS, Terra FS; Análise estatística: Dias Júnior AS, Nogueira DA, Monteiro CAS, Terra FS; Redação do manuscrito: Dias Júnior SA, Soares EA, Resck ZMR, Nogueira DA, Monteiro CAS, Terra FS; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Dias Júnior SA, Soares EA, Resck ZMR, Nogueira DA, Monteiro CAS, Terra FS.

 

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